Pleasantville – os filmes deveriam datar mais.

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Tem uma coisa que as pessoas falam as vezes sobre algum filme ou alguma série que elas acham que estão fazendo um elogio, mas não é um elogio tão bom quanto parece. Elas falam assim: “Nossa, você tem que ver The Truman Show, é um filme de 25 anos atrás, mas parece que foi feito hoje, é super atual, não envelheceu nada.”. E bem, é verdade tudo isso. É verdade que The Truman Show parece ainda mais relevante para a plateia de hoje em dia do que pra plateia de 1998, e é verdade que isso é um excelente motivo para se recomendar e assistir o filme, e que isso torna assistir o filme uma boa experiência. Tudo verdade…

…mas isso não é bom.

O motivo pelo qual The Truman Show envelheceu bem, é porque o filme fez uma crítica a um problema social, e o problema não melhorou, ele só piorou. Ele piorou exponencialmente em grande contraste de ter tido um filme de sucesso denunciando e deixando as pessoas cientes do problema. Apontar o dedo não ajudou em nada, e a gente piorou enquanto sociedade, por isso o filme envelheceu bem.

Quando alguém fala: “Essa crítica ao nazismo filmada nos anos 40 continua super atual”, isso significa que a humanidade é um fracasso colossal que fracassou em transformar nazismo em história do passado.

E eu não quero que os filmes que saiam hoje em dia se tornem clássicos atemporais. Não, foda-se isso. Se daqui a 30 anos o jovem negro namorando uma branca assistir Get Out e pensar que aquilo foi familiar demais, isso significa que a sociedade é uma desgraça imensa e que o único erro do Thanos foi não estalar o dedo sete vezes.

Essa ficha me caiu lá em 2017. Eu tava querendo ver filmes ganhadores de Oscar, então fui ver o vencedor do Oscar de 2015, Spotlight. E é um filme sobre a investigação que denunciou a maneira como o Vaticano acobertou sistematicamente a pedofilia por décadas, em uma ação que rendeu à equipe jornalística um Pulitzer em 2003. Foi um escândalo, todo mundo ficou indignado e nada aconteceu. Aí doze anos depois de nada acontecer fizeram um filme para lembrar dessas pessoas, dessa denúncia do quão grave era essa denúncia. O filme ganhou um prêmio, e de novo nada aconteceu. E eu fico triste de pensar que o filme Spotlight eram necessários 12 anos depois dessa denuncia, e de que talvez ele siga necessário daqui a 12 anos. Ele é necessário, pois nada está sendo feito. Não, foda-se, filme tem que datar.

A experiência de ver filme de 40 anos atrás deveria ser a experiência de ver pessoas terem problemas que não temos. E quando não é assim é ruim.

Enfim, para elaborar mais nessa ideia, eu quero falar hoje de Pleasantville, um filme não tão conhecido protagonizado por Tobey Maguire e Reese Witherspoon, ambos antes de estourarem em seus papeis mais famosos. O filme não fala sobre o que eu disse diretamente, mas ele fala sobre nostalgia e sobre como olhamos para a televisão do passado, e como a distância das décadas entre expectador e obra funcionam. Além disso, o filme fala de conservadorismo, conflitos geracionais, revolução e do não conformismo. É um filme com muito a dizer e não é um filme muito conhecido, e por isso quero jogar os holofotes nesse filme e pegar o que ele tem a dizer.

Antes de me aprofundar nesse filme, quero me aprofundar na campanha de financiamento coletivo desse blog. O Dentro da Chaminé é financiado por seus leitores, e por isso eu uso um espaço dos textos para convidá-los a se tornar parte dos apoiadores do blog, contribuindo mensalmente com o valor que acharem justo e podendo se juntar aos demais apoiadores no nosso chat. A ajuda é muito apreciada, e é uma motivação imensa pro trabalho que eu coloco nesses textos. Se não for o caso de fazer contribuições mensais, também pode-se apoiar o blog fazendo um pix de qualquer valor para a chave franciscoizzo@gmail.com que você vai igualmente ter a minha gratidão e entrar na lista de agradecimentos.

Pois esse texto e todos os outros são em homenagem aos meus apoiadores, os verdadeiros heróis desse blog. Eu não tenho palavras para descrever quanta diferença vocês fazem, e eu espero que gostem do texto.

Um texto sobre Pleasantville. Um filme que eu não tinha realmente ouvido falar até assistir, não é muito famoso, uma pena, então espero que esse texto também motive alguém a ir assistir o filme antes de vir ler e tomar alguns spoilers. Mas eu garanto, vale a pena. Dou minha palavra de ex-indicador de filmes profissional que é uma profissão que eu gostaria que ainda existisse.

Recapitulando, o filme é a história de David e Jennifer dois irmãos adolescentes que são transportados para dentro da televisão por um controle remoto mágico e ficam presos no mundo de Pleasantville, uma sitcon fictícia dos anos 1950, passada em uma cidadezinha agradável onde todos são felizes, éticos e ensinam os bons valores estadunidenses.

David era um jovem frustrado. Ele não era popular na escola, se sentia deslocado entre seus pares, se senta frustrado pela falta de perspectiva de um futuro em uma economia entrando em colapso, vendo notícias do aquecimento global, e em sua vida familiar, e a sua mãe está tendo problemas com o novo namorado e gritando isso ao telefone pra casa toda ouvir. David escapa do seu cotidiano que ele odeia assistindo Pleasantville na televisão, um show que ele é fascinado, ele tinha todos os detalhes da série decorados de tanto rever, pois de fato, era uma vida que não tinha nenhuma imperfeição que a própria vida tinha.

Jennifer era o oposto do irmão, ela era popular, ajustada e feliz com a sua vida.. Ela erar um tanto fútil e ela nunca tinha assistido Pleasantville na vida.

Quando os dois são transportados para a televisão, previsivelmente David adora estar vivendo um mundo onde ele sabe como viver, e Jennifer odeia estar substituindo uma vida em que ela estava investida por aquela abominação em preto-e-branco.

E isso é importante, os personagens podem ver que eles estão em preto-e-branco, esse é um ponto importante.

Isso é importante pois em determinado momento Jennifer se cansa de viver uma vida perfeitinha fora de sua zona de conforto, e transa com o menino bonito da escola, ensinando pra ele o conceito de sexo, pois não existe sexo em Pleasantville.. Quando ela faz isso, uma única rosa em um arbusto se colore e aí já vemos em que direção o filme quer ir.

O cara que Jennifer pegou conta a novidade pros demais rapazes que contam pras meninas e bum, toda a escola descobre que sexo existe e começa a praticar esse conhecimento adquirido. Com isso a cidade vai gradativamente ganhando mais cor e gradativamente perdendo sua perfeição, o que é simbolizado pelo time de basquete não sendo mais capaz de ganhar jogos.

E por um tempo é isso que rola. Os jovens começam a transar, as coisas começam a se colorir, e a perfeição começa a se fragmentar conforme a experiência sexual colore o mundo. O auge isso acontece quando a mãe-televisiva de Jennifer descobre a masturbação e esse conhecimento fez com que uma árvore pegasse fogo, e o conceito de incêndio surgisse naquele mundo.

E esse podia perfeitamente ser o filme inteiro. Uma sociedade casta descobrindo a liberdade sexual e trazendo prazeres, e perigos, ao mundo. Isso seria o suficiente pra fazer um filme interessante, mas o filme se recusa a parar aí.

O problema de Pleasantville não é que o conceito de sexo não existia. Esse era um dos problemas, e o primeiro com o qual Jennifer fez algo a respeito, mas esse não foi sequer o primeiro problema que ela notou. Antes de notar que nenhum pinto ali nunca tinha tido uma ereção na vida, ela notou que todos os livros das bibliotecas estavam em branco. O que obvio que estavam, pois esse tipo de série não costuma mostrar seus personagens lendo, ou falando sobre literatura, a biblioteca existia, pois precisava existir esteticamente, mas os roteiristas não criaram personagens leitores.

E aí Jennifer resolve que ela queria ensinar pra seus novos amigos algumas histórias que ela conhecia, e ela ensina Adventures of Huckleberry Finn para um bando de jovens curiosos por nunca terem sido expostos à literatura. E Adventures of Huckleberry Finn é um livro que significa muito pouco pra gente aqui no Brasil, mas tem um motivo para esse livro ter sido usado e não é difícil pro expectador estadunidense entender esse motivo.

Adventures of Huckleberry Finn conta a história de Huckeberry Finn atravessando o Missouri em uma jangada, na companhia de um escravo em fuga chamado Jim. Finn fugia de seu pai abusivo, Jim fugia de ser vendido e os dois se conectam na viagem. O livro, assim como muitas obras do século XIX, retratou a amizade de uma criança branca com um homem negro, mas não conseguiu evitar o uso de estereótipos negros e de uma linguagem racista, o que faz com que o debate se o livro é racista ou anti-racista seja um debate acadêmico até hoje. Eu não tenho opinião nesse debate, pois eu não li o livro, mas tendo a acreditar que o uso de linguagem racista de fato seja um problema grande. O ponto é que é um livro cuja polêmica o precede. E acima de tudo é um livro proibido em muitas escolas. Algumas cidades não possuem o livro em biblioteca pública nenhuma e sempre que uma escola põe o livro no material de leitura, vem os pais furiosos que os professores estão dando livros impróprios pros filhos.

Matéria completa aqui.

Huckeberry Finn começou a ser proibido assim que foi lançado, o livro é de 1884 e em 1885 já tinham bibliotecas banindo o livro. Nos anos 1880 o problema do livro era o protagonista cometendo imoralidades (e dependendo da biblioteca, não devolver o Jim pra sua mestra era parte das imoralidades), e falando com um palavreado vulgar e chulo. Em 2022, o problema do livro é o seu uso constante da palavra “nigger”, e de como é difícil passar o livro sem debater o uso da palavra com os alunos. Nos anos 1990, a American Library Association colocou o livro em quinto lugar no ranking dos 100 livros mais proibidos dos EUA.

E é esse o livro que Jennifer ensina pros jovens de Pleasantville. Ela tenta puxar de memória os acontecimentos do livro, mas conforme ela vai citando as passagens, as palavras de Mark Twain surgem nas páginas em branco como mágica.

Jennifer incentiva David a fazer a mesma coisa e David então trás para a existência o livro Catcher in the Rye (O Apanhador no Campo de Centeio), esse sim o primeiro do ranking, oficialmente o livro mais proibido em bibliotecas dos EUA. Proibido por conter prostituição, sexualidade e menores de idade bebendo. Na reta final do filme, vão mencionar o livro Moby Dick como um dos livros ao qual os jovens de Pleasantville ganharam acesso, e Moby Dick também é um livro proibido em algumas escolas do Texas por “ir contra os valores da comunidade”.

Em determinado momento na metade do filme Jennifer vai se envolver com um livro escrito por D. H. Lawrence, autor inglês cujo livro mais famoso Lady Chatterley’s Lover, foi censurado nos EUA em 1929 e só conseguiu permissão legal para ser publicado em 1959. O livro conta a história do relacionamento entre um homem da classe trabalhadora e uma mulher da alta classe com descrições sexuais que nunca tinham sido publicadas nos EUA até então. E é isso. Todos os livros mencionados nesse filme são livros censurados. Cada um deles foi censurado por um motivo diferente, mas ao mesmo tempo todos eles foram censurados pelo mesmo motivo: por não serem adequados aos valores da comunidade estadunidense.

Enfim, existe uma questão problemática em se passar Adventures of Huckleberry Finn para jovens sem querer fazer a aula sobre o livro ser uma aula sobre racismo usando a própria linguagem do Mark Twain como exemplo, mas ao colocar o livro lado a lado de Catcher in the Rye fica claro que o que os dois tem em comum, é serem proibidos por seu protagonista pouco sanitizado, que xinga, fala vulgaridades, fala de sexo, e se porta de uma maneira pensando muito pouco em serem personagens exemplares. Mesmo motivo pelo qual outros livros não mencionados em Pleasantville, como Of Mice and Men, One Flew Over the Cucko’s Nest, e, para completar com um exemplo bem recente The Hunger Games, comumente se encontram proibidos em algumas bibliotecas ou escolas ao longo do país, um gigantesco “protejam nossas crianças”. E a mentalidade de que obras devem ser sanitizadas e exemplares e bonitas pro consumo saudável é exatamente o que Pleasantville combate. Esse momento de David e Jennifer ensinando os livros proibidos pros colegas de sala é o exemplo mais simbólico disso.

Embora eu não queira fazer vista grossa pra como Adventures of Huckleberry Finn é criticado até hoje por sua abordagem racial. Mas eu também não quero fazer vista grossa nem sequer pra como Pleasantville aborda raça, eu quero voltar pra esse ponto mais pra frente no texto.

E agora vem a parte interessante, pois agora David e Jennifer encheram os livros da biblioteca e os jovens foram todos ler, e algumas pessoas que não ficaram coloridas após aprender sobre sexo, ficaram coloridas ao começar a ler.

Aliás, importante reforçar. As pessoas e coisas foram gradativamente ficando coloridas após sexo ser introduzido na cidade, mas a relação não é de causa de efeito direta. Em que as pessoas preto-e-branco representavam os virgens, e os coloridos os que transavam. Tem gente que se coloriu com sexo, gente que se coloriu com literatura e gente que vai se colorir com outras coisas. E os objetos que vão ficando mais coloridos vão variando também. O David e a Jennifer não escolhem o que vai ficar colorido. É um fenômeno, rola aos poucos e com cada um rola de um jeito.

Esse figurante em particular sem colorido enquanto os de trás estão em preto-e-branco não é pra ser lido como um indicativo de que os dois ali não transaram. Mas o único colorido ser quem faz as perguntas questionadoras é o que indica que esse já fez a transformação mental necessária pra se colorir.

Pois o que realmente colore os jovens não é transar ou ler. É sair do próprio script, é se tornar um indivíduo. Jennifer, por exemplo, era extremamente sexualmente ativa na sua vida anterior e em Pleasantville, mas isso não coloriu ela. Pois ela transava pelo mesmo motivo que os jovens de Pleasantville não transavam. Pois ela seguia o conformismo de seu tempo. A sua vida sexual ativa era parte do que mantinha ela uma pessoa adequada e encaixada em sua rede social, e é algo que permitia que ela nunca questionasse nada a sua volta e achasse tudo normal, pois ela segue o padrão. É quando Jennifer desiste de um encontro para estudar, pois ela percebe que ela tem uma segunda chance em Pleasantville que ela fica colorida.

Da mesma forma, David, que era objetivamente fascinado por Pleasantville e projetava neles uma sociedade ideal, fica colorido só quando ele soca um cidadão de Pleasantville para defender sua mãe-fictícia. Mostrando que os ideais dele e da cidade não se alinhavam mais.

Para se colorir você tem que mudar, e o filme retrata bem o processo gradual que existe entre você começar a notar mudanças no mundo, começar a simpatizar e se atrair pelas mudanças no mundo e começar a realmente ser parte das mudanças no mundo.

Mas estou indo pra frente, o importante agora é que mais jovens estão se colorindo com a biblioteca, e agora os adultos estão notando. E olha que louco: os adultos estão mais incomodados com a biblioteca, onde eles estão lendo livros de gente falando de putaria, do que eles estão putos com a putaria em si. Quase como se o ato, quando em um vácuo, não fosse um problema tão grande. Quase como se o problema fosse eles serem capazes de contextualizar e dar significado pro ato, vendo-o sob uma perspectiva cultural.

Agora, quem são essas pessoas putas? Bom, meu instinto era falar homens brancos, e acho que o de outras pessoas que viram o filme pensaram no mesmo grupo social. Mas brancos não é um bom elemento de distinção, pois não tem ninguém não-branco em Pleasantville, e esse assunto nunca é abordado. E eu tenho opiniões quanto a isso, que eu falarei mais pra frente, sobre o quanto esse filme fala sobre raça de maneira estranha, por não ter um elenco racialmente diverso. Enfim, o grupo que se incomoda são os Maridos. Homens casados e devidamente ajustados na sociedade por serem pais de família.

O dono da lanchonete que serve como o grande exemplo de “nem todos os homens”, era um homem solteiro. A convivência com David fez ele perceber que ele não se sentia realizado em seu trabalho. E que ele não tinha nada pra se sentir realizado. David apresenta a ele o mundo das pinturas, e apresenta a ele quadros coloridos que não existem em Pleasantville e isso dá pra ele uma perspectiva inédita de vida. E bem, pra encurtar a história, a mãe-fictícia de David e Jennifer posa para uma de suas pinturas, eles se tornam amantes e os dois se tornam os adultos aliados desse movimento juvenil.

Pra ser preciso, eles se tornam os personagens adultos que podemos ver e acompanhar para entender que a mudança começou com os jovens, mas se expandiu pros adultos também. No final do filme, no tribunal, vemos várias adultas coloridas assistindo o julgamento.

Tem essa mulher aí atrás da Betty, claramente não é uma adolescente.

Enfim. Temos esse grupo social dos maridos. Os maridos, sem uma esposa cozinhando, com as roupas manchadas, estão vendo a perfeição de suas vidas domésticas serem derrubadas, e eles debatem sobre isso enquanto se abrigam do primeiro dia de chuva da história de Pleasantville. Agora chove na cidade, agora as esposas não esperam o marido com um jantar pronto, agora os jovens leem, agora tem gente comprando camas de casal, e tem pessoas que não veem mais realização pessoal no trabalho. A cidade está mudando e os maridos sentem que eles são as grandes vítimas da situação. Eles vivem um estilo de vida confortável e conveniente, e agora que outras pessoas estão expandindo suas visões eles estão com menos conforto e conveniência e lançam um movimento para parar isso.

E o movimento é explicitamente feito para fazer o expectador lembrar da segregação que ocorria nos EUA e que ocorreu até a segunda metade do século XX, que obviamente ocorria na época que Pleasantville retrata. Com o termo “pessoas de cor” passando a ser usado pelos cidadãos em preto-e-branco para se referir aos coloridos. É pouco sutil o quanto eles querem fazer você lembrar dos supremacistas brancos, mesmo que as vítimas também sejam brancas.

….pelo amor de Deus, o arrombado que incita a violência contra as pessoas coloridas no filme literalmente chama Whitey.

Pois é, e frisando: a comunidade ainda em preto-e-branco, que acho importante frisar, é liderada pelos maridos, mas tem várias mulheres e jovens participando, inclusive jovens que transaram, como o cara com quem Jennifer transou no começo do filme aparece queimando os livros subversivos dela. O movimento anti-cor, pega muita gente, mesmo que a gente pense “pô, mas nem era pra eles acharem isso”, mesmo assim, eles compraram a retórica dos maridos e entraram no movimento de reforçar valores que tornavam Pleasantville “perfeita”.

O rapaz com quem Jennifer transa não se colore, ele fica com a combinação de que ele pode desfrutar dos prazeres da vida, e condená-los ao mesmo tempo para ser parte da classe dominante. O que é irônico, mas não é pouco verossímil

E eles criam uma série de regras, dizendo o que é proibido e o que não é proibido que servem essencialmente para afastar as pessoas da música, da arte, da literatura e do sexo. Outras regras obrigavam os cidadãos a não naturalizarem as mudanças na natureza que simbolizavam essa mudança social (como a chuva). E a regra final, uma diretriz de que a educação nas escolas deve passar a ser moldada para ignorar todas as mudanças sociais que ocorreram, falando que ela deve frisar “a continuidade e não a mudança.”

Porque claro que eles usam a escola como um espaço para proibir essas mudanças, não é a toa de que é das escolas e bibliotecas que esses livros que eu mencionei são proibidos, mas nunca da loja normal.

Em resposta a isso, o dono da lanchonete e David pintam uma grande intervenção artística de cunho político no muro da cidade.

Crime pelo qual eles vão a julgamento, no primeiro julgamento de Pleasantville. No julgamento David faz com que os preto-e-brancos admitirem seus sentimentos negativos, sua raiva, sua tristeza e seu desconforto, eles reconheçam que eles são parte das imperfeições de Pleasantville e fiquem coloridos. Terminando de colorir a cidade os fazendo admitirem que eles podem estar putos e incomodados com as mudanças que David e Jennifer trouxeram, mas elas não vão voltar ao normal.

O filme acaba com David voltando pra casa após a cidade inteira ficar colorida sem nada em preto-e-branco. Jennifer decide ficar em Pleasantville, pois ela acha que a vida que ela construiu ali ainda dá tempo pra ela fazer faculdade e que seu estilo de vida promiscuo faz com que seja tarde demais no mundo real. Falo sobre essa decisão da Jennifer daqui a pouco.

E uma vez de volta pra casa, David agora tem a maturidade pra consolar a sua mãe, a mulher cuja vida pessoal cagada era um problema pra ele e de quem ele escapava vendo série dos anos 1950 na televisão. Sua mãe desabafa falando que ela não sabe como sua vida deu tão errado se ela tomou as decisões corretas, e viveu do jeito que ela tinha que ter vivido. David explica que não existe um jeito correto de viver e que não tem uma maneira definida de como as coisas devem ser, e isso consola ela.

Ok, o filme é isso.

David e Jennifer são transportados para um mundo que é a idealização nostálgica do que foram os anos 1950, mas Jennifer que quer ter experiências além dessa nostalgia, transforma essa comunidade em uma versão relativamente mais próxima que realmente foram os anos 1950. E um dos grandes méritos do filme é não caminhar pros rumos do anacronismo. David e Jennifer não ensinam sobre os Beatles ou Stephen King pras pessoas de Pleasantville. Sexo adolescente, rock’n’roll, J. D. Sallinger, feminismo, eram coisas que eram parte da vida nos anos 1950, embora sejam elementos que alguns possam querer desassociar da memória nostálgica dela, mas ao incorporar isso na memória da década os irmãos expuseram também a outra face da vida ali, a segregação racial, o conservadorismo, o machismo e a perseguição contra literatura considerada subversiva… Nem o sexo adolescente, nem o feminismo, nem o rock, nem o racismo, nem o machismo e nem o conservadorismo foram embora, todos são parte dos anos 2020 ainda. Essas coisas fizeram parte dos anos 1950, ajudaram a definir a década, mas não são exclusivos dela.

De certa forma toda essa ideia de colorir o que estava em preto e branco, e de preencher com palavras um papel em branco, reforça justamente que David e Jennifer deixaram o que estava invisível visível, em vez de criar algo novo.

O filme também é muito bom em mostrar o quanto as coisas são conectadas. O filme é muito sobre sexo, mas ao mesmo tempo, não é nada sobre sexo. O sexo é onipresente no filme enquanto um interesse adolescente e como um ato de não-conformidade. Mas ele também é só a porta de entrada para jogar os personagens em um mundo de parar de ir com a maré. A castidade é a primeira coisa que os jovens são tentados a quebrar, mas depois de quebrar, a vida é mais que isso, agora eles podem ler os livros proibidos, ouvir a música proibida, refletir a vida, questionar o trabalho, refletir porque certas proibições existem. Tal como na bíblia, existe um fruto proibido na cidade e comê-lo trás o conhecimento, o senso de vergonha e a expulsão do paraíso. E o paralelo com a bíblia é escancarado na sua cara quando David vai ao Caminho dos Amantes e a menina que o paquera dá pra ele uma maçã colhida ali para comer. Quando ele come a maçã, começa a chover na cidade inteira. E quando David ensina sua paquera a desfrutar a chuva, ela fica colorida.

Tudo está conectado, depois que uma coisa te tira da Matrix, você está fora da Matrix e tem acesso a muita coisa que você não tinha. Eu falei no meu texto de American Rage que os anos 1990 foram a grande década de filmes com a temática de se libertar de uma vida falsa vendida pelo consumismo, e optar por uma vida genuína com liberdade de pensamento. E se eu tivesse visto esse filme na época que escrevi o texto eu mencionaria ele, pois ele super é parte desse sentimento da década.

Ao mesmo tempo, tudo estar conectado é importante para hoje a gente entender como tem elementos que caminham lado a lado nos discursos conservadores, e como alguns assuntos parecem completamente separados, mas dividem o mesmo campo de batalha. Como eu mencionei, Huckeberry Finn é um livro proibido por conter uso de palavras pejorativas e racistas, mas aí quando o livro é proibido, ele é proibido pelas mesmas pessoas que proíbem Of Mice and Men e Catcher in the Rye, e a gente vê que os conservadores que caçam o livro, caçam um pacote básico em que as acusações quanto a cada um individualmente não é a mesma, mas quando você vê todos os livros que eles apontaram o dedo, eles têm elementos em comum Tem grupos que se incomodam muito com Huckleberry Finn e essas pessoas não estão incomodadas com o racismo.

Sabe, é preciso entender que quando uma igreja promove um evento que envolve botar fogo em livros de Harry Potter e de Twilight, isso não deve ser entendido como a Igreja Católica abraçando a causa trans. Por mais que Harry Potter tenha mais que se foder. A imagem da igreja colocando fogo em livros que tiram as crianças dos valores estadunidenses é uma imagem forte, uma imagem comum nos EUA, do passado ao presente, e Pleasantville faz uso forte dessa imagem e do que realmente motiva esse tipo de relação com a literatura.

Materia completa aqui.

Existem grupos que gritam protejam nossas crianças, alegando estar protegendo a inocência infantil dos danos de serem expostas a conteúdo sexual, e com essa bandeira levantada, fecham museus, tentam criminalizar música. E tem uma galera progressista que está mordendo uma isca enorme de “mas temos que deixar o mundo bom pra criança” pra dividir a trincheira com gente altamente conservadora, só ver o discurso de banir fetiches da parada gay.

Discurso de “tirar fanart sexual das minhas redes sociais” eventualmente tende a acabar em ataque contra comunidades lgbt. Não caiam nessa armadilha. Tá rolando uma onda mais puritana de vilanização do sexo atualmente, e ela termina com livro sendo proibidos em escola, e com gente chamando representatividade lgbt de “sexualização” e pedindo censura. Não mordam essa isca.

Link para a matéria aqui.

Nesse mundo é importantíssimo saber com quem dividimos nossas trincheiras, especialmente na hora de gritar “protejam nossas crianças”. As vezes uma galera bem intencionada promove figuras nefastas achando que uma batalha específica está muito separada de uma guerra maior.

Enfim…. agora vamos falar da parte que mais me interessa. Eu falei aqui que esse papo de “protejam nossas crianças” termina com um bando de conservador conseguindo foder com as Paradas do Orgulho Gay… cadê os gays de Pleasantville?

Esse meme conservador sendo reapropriado no twitter so reforça como o filme por sua opção estética tinha a faca e o queijo na mão para entrar em questões lgbt. E não entrou.

Aparentemente em um filme muito focado do discurso de pessoas descobrindo que elas podem nadar contra a maré, se levantando contra a conformidade, ninguém ali descobriu que quer transar com alguém do mesmo gênero… ninguém questionou a própria performance de gênero, nenhum homem questionou ou experimentou com alguns desvios da norma de masculinidade.

Os assuntos se encaixam tão bem, que eu já vi um vídeo interpretando o filme sobre uma perspectiva lgbt no youtube. Apontando a importância do arco-íris para combater o conservadorismo da cidade, apontando toda a noção de se descobrir, e especialmente apontando a maneira como a vida em preto e branco é a vida em um binarismo, mas a vida em cores é a vida em um espectro. E essas leituras só provam o quanto os temas estão conectados o suficiente, para soar estranho que ninguém tenha entrado diretamente no assunto. Que nenhum rapaz tenha ficado colorido ao beijar outro rapaz.

Ninguém descobriu drogas, ninguém descobriu nem sequer álcool. No começo do filme a comunidade de Pleasantville era completamente branca, e no fim do filme também. As mudanças do David não trouxeram diversidade racial pro mundo.

E agora sim é a parte do texto que eu falo mal disso. Eu acho particularmente baixo emprestar tão diretamente simbolismos do que foi a segregação racial para criar choque na gente, em um filme sem nenhum tipo de diversidade racial. O paralelo é indiscreto e existe como uma mudança de tom, para fazer a gente perceber que o clima ficou pesado. Estava divertido, mas a situação vai escalar em violência. Achei de mal gosto. Aí alguém pode vir e me falar: “Mas eram os anos 1950, não tinha negros nas sitcons dessa época”, mas justamente, não tinham pessoas não-brancas, nem sexualidade, nem cultura. Mas a branquitude de Pleasantville não foi desafiada pelo filme, pois o filme não foi por aí. O filme quis abordar racismo, mas não queria ter uma pauta racial real. Não quis que a nova Pleasantville tivesse pessoas negras.

Como eu falei no meu texto sobre o poder da ficção. A gente nota o poder de naturalização dos filmes pelo que eles escolhem falar, e também pelo que eles escolhem não falar. E acreditem, era uma escolha, em Hollywood se nenhum figurante tem um determinado tom de pele, é porque isso tava escrito na hora de chamar figurantes. Várias coisas que eram ditas em Pleasantville foram diretamente questionadas. Mas outras não foram. No começo do filme David disse “Não existem sem-tetos em Pleasantville”, e no fim do filme, de fato, nenhuma noção de classes sociais nem questionamentos sobre riqueza e pobreza vieram pra cidade. No começo do filme o pai-fictício de David naturaliza a ideia de meninas saem com meninos, e isso não é questionado.

Agora, isso não torna o filme ruim, torna o filme incompleto. O filme trabalha vários assuntos e é até impressionante o quão dinâmico ele é, mudando de tom e escalando a situação rapidamente. O desconforto de ter que viver em outro mundo vira a tensão de que o mundo vai entrar em colapso se sair do script, o que vira a tensão de ver o mundo se colorir, a descoberta das artes, a resistência dos maridos que rapidamente escala para violência, ataques, simbologia da segregação, charges políticas e termina em um julgamento. O filme nunca fica muito tempo preso no mesmo lugar ou no mesmo conflito, mas ao mesmo tempo amarra todos os seus conflitos em um tema maior de não conformidade. E o filme amarra muito bem o que ele mostra, e por isso ele é um bom filme. Mas justamente por ir além, e tenta abranger muita coisa, que ele soa incompleto. Soa como se tivesse alcançado várias coisas, e isso enfatizasse que não alcançou tudo.

Que conste eu acho que esse filme é bem do bom, e eu aponto o que faltou no filme justamente, pois achei bom.

Pois enquanto eu via, foi quando eu tive um pensamento, e isso eu pensei já vendo os créditos do filme. Eu pensei: “Esse filme se fosse produzido hoje seria bem diferente.”, e nessa hora me caiu a ficha. pois eu acho necessário eu ter esse sentimento. Era fundamental esse ser o sentimento que o filme me causou. Pois esse sentimento é na verdade o ponto de tudo.

A série-de-televisão-do-mundo-do-filme Pleasantville foi produzida nos anos 1950, e representava uma visão que ignorou e apagou um monte de aspectos da realidade que eles consideravam “desagradáveis” para criar um sentimento de perfeição. O filme Pleasantville foi produzido nos anos 1990, e é sobre como ao olhar pra trás 40 anos depois, se notam que muitos desses aspectos não são realmente desagradáveis, e propôs uma vida menos focada em ser perfeita e mais focada em ser completa. E agora eu, olho pra esse filme dos anos 1990, da perspectiva dos anos 2020, 30 anos no futuro, e vejo que a vida completa deles ignoram vários elementos que 30 anos atrás a indústria do entretenimento achava elementos desagradáveis. Como a inclusão de minorias.

O filme era sobre tornar elementos da sociedade que estavam invisíveis na mídia da época e na narrativa nostálgica do que constituía uma boa comunidade, e torná-los visíveis. Mas justamente porque o filme era sobre isso, que os elementos que continuaram invisíveis depois disso tudo chamam a atenção.

David e Jennifer achavam que Pleasantville estava colorida o suficiente no fim do filme, pois o filme também evita olhar pra aquilo que eles não precisam, e pros contextos sociais do presente nos anos 1990. Pois tinham cineastas dos anos 1990 que ainda deixavam alguns aspectos sociais invisíveis na hora de se pensar em uma boa comunidade. Mas 30 anos depois, eu acho que o filme não está colorido o suficiente, e que isso torna a experiência metalinguística, e que esse efeito é bom pra mensagem do filme.

Um filme de 30 anos atrás precisa soar estranho, para a gente sentir que os nossos avanços foram avanços reais. No começo do filme, as pessoas falam do medo da AIDS, e do quanto essa doença ainda iria se espalhar mais. Essa frase data o filme, uma vez que hoje a AIDS é uma doença com a qual a medicina aprendeu a lidar, e deixou de ser a sentença de morte que era na época. E isso nos dá perspectiva de aonde chegamos. Perspectiva importante de se ter agora que enfrentamos uma nova doença mortal deixando o mundo em pandemia.

Eu comentei lá em cima. A frase da Jennifer falando que ela tinha sido promiscua demais para ir pra faculdade, me soou tão estranha. No sentido de “sério que eles meteram essa?”. Curiosamente a Reese Witherspoon explodiu poucos anos depois justamente interpretando uma personagem que prova que apesar de ela ser super sexualizada, fútil, e menosprezada pelos seus pares por isso, ela podia entrar e se graduar em Harvard.

E é a ironia imensa de Pleasantville educar o seu expectador a ver entretenimento com a dose de cinismo que faz o filme soar incompleto, que me deixou fascinado.

Me passou a impressão de que era possível fazer uma sequência, em que dois irmãos dos anos 2020 são teletransportados para dentro do filme Pleasantville de 1998, e colorem o mundo nas áreas que David e Jennifer não coloriram. E sabe o que me faz pensar? Que esse filme que eu acabei de sugerir poderia soar super datado em 2062, e que o expectador do futuro vai achar que temos perspectivas erradas, datadas ou incompletas sobre uma série de pautas sociais.

E por que isso é possível? Pois o filme tenta ser otimista.

Quando a gente vê um filme pessimista, esses filmes… filmes tipo Chinatown, em que o criminoso triunfa, as vítimas se fodem, o sistema falha e o mundo continua a girar, pois não tem nada para se fazer, esses filmes tendem a envelhecer bem. Pois de fato, os anos passam e as coisas continuam ruins. E ver esses filmes é que nem levar três socos seguidos. Primeiro você leva um soco que “caralho, esse tipo de gente tem muito poder”, depois você leva um segundo soco de “Porra é mesmo, passaram 50 anos e esse tipo de gente ainda tem muito poder”, e aí você reflete mais e leva um terceiro soco que é “Nossa, mas fizeram um filme denunciando, todo mundo viu, todo mundo se emocionou e nada foi feito, pois esse tipo de gente ainda está no poder.”

Mas quando o filme é mais otimista, é mais fácil a gente com o passar do tempo ver o quão diferentes são as nossas propostas de soluções com as propostas de antigamente. Temos um final feliz e pensamos “esse final não é feliz, essa gente é tudo problemática, pau no cu de tudo isso.” e esse contraste nos ajuda a quebrar uma noção de que no passado as coisas estavam melhores. No passado a gente naturalizava muita coisa medonha.

Isso não significa que não podemos julgar o que envelhece mau, especialmente no departamento do que passava como flerte. Tá liberado descer a lenha em Love Actually.

Pensar que o Batman usar sua fortuna para financiar violência contra o cidadão marginaizado, é um pensamento que mostra principalmente o quanto a nossa ciência do papel da divisão de classes na situação de Gotham City tem ou deveria ter na construção de mundo do Batman mudou com o tempo. A nostalgia nos incentiva a tentar falar “Mas o Batman faz filantropia aqui e ali, e tem códigos de honra e redimiu X vilões”, mas esse tipo de defesa é perder o ponto, de que em 1939, nossa relação com pessoas como Bruce Wayne é diferente de 2022.

E é bom que seja. Se o Batman tivesse sido um herói que envelheceu bem que nem o vinho, a implicação disso seria de que nos anos 1930 nossas ideias de justiça e combatem ao crime eram as mesmas de 2022, e é bom poder ter esse espelho do que mudou. De que discursos funcionavam bem pra caralho sem precisar ir muito longe, mas hoje eles precisam ser muito melhor justificados, pois somos uma sociedade diferente.

A nostalgia nos incentiva a ver o passado como algo melhor, por ser mais simples, por não ter os problemas do presente, por ser uma época em que ninguém pensava nas coisas tensas e desesperadoras nas quais pensamos hoje. Mas isso acontece, pois o entretenimento esconde os pensamentos do presente para torná-lo comerciável. E nós distorcemos discussões que sempre estiveram no mundo como se fossem discussões só do “presente” para valorizarmos mais o passado, onde essas discussões são invisibilizadas.

Daqui a 50 anos a J. K. Rowling vai ter uma legião de defensores falando que transfobia não era uma pauta real da época dela que é uma pauta que inventaram depois que ela morreu e que ela foi só uma mulher do seu tempo…. que nem a gente faz com o racismo do Monteiro Lobato hoje.

E é por isso que uma obra datar é também importante. Para nos servir de espelho do quanto mudou. Um filme em que o herói mete um discurso em que ele fala uma merda enorme, e isso passa como discurso de herói, trás à tona o quanto a gente mudou, e por que é importante manter essas mudanças, pois elas não eram o senso comum, elas precisaram ser implantadas, e assim como elas vieram, elas podem ser tiradas.

Os Simpsons tem vários episódios que envelheceram mal em suas mensagens e morais. Mas por durar 30 anos e sempre repetirem o senso comum do presente, a série na real acabou sem querer se tornando uma verdadeira capsula do tempo do quanto o senso comum está mudando.

Sabem, a galera adora falar “O Mel Brooks não conseguiria fazer um filme hoje em dia.”. Mas assim, o Jordan Peele não conseguiria fazer um filme em 1974. Cada anos produz seus filmes no tom do próprio ano. Toda década fez filmes que só conseguiriam ser produzidos na própria década. E ver os podres do passado é um exercício importante.

O mundo tá cheio de pessoas que querem refazer o mundo que nem Pleasantville era, sem sexo, sem livros, sem feminismo, sem arte…. geralmente pessoas que afirmam que alguma época do passado tinham valores melhores e mais decentes do presente, e que falam de reviver elementos do passado, você encontra muitas delas na cena política atual do Brasil, em posições de poder.

Mas o mundo também tá cheio de gente que querem refazer o mundo que nem Pleasantville se tornou no fim do filme. Com sexo, com cultura, com feminismo, mas aqui está o limite e não precisa ir mais longe nem incluir ninguém que ficou de fora do filme.

E eu acho interessante. Acho que o filme é um caso raríssimo em que a parte do filme que te faz pensar “É… nos anos 1990 não dava para esperar muito mais”, é a parte que reforça e recontextualiza a mensagem central do filme. Devemos colorir as Pleasantvilles que assistimos. Tanto as Pleasantvilles do começo do filme quanto as do fim do filme.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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