Top18 Melhores Diabos da Ficção – Pactos com o Diabo.

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Bom dia, meus queridos leitores! Espero que esteja tudo bem com vocês e que estejam todos tendo um bom dia. Hoje vamos falar sobre o Diabo!

Ele mesmo, o arqui-inimigo de toda a humanidade, o que é na real uma extensão dele ser o arqui-inimigo de Deus. Escrevemos sobre ele faz milênios, e milênios. Ele é uma entidade notória nas religiões abraâmicas, e pela influência delas e pela capacidade delas de ter praticantes em todos os cantos do planeta, muita gente pensa muito no Diabo.

E nisso a gente coloca ele em muitas histórias. Naturalmente o Diabo tem sua dose de aparições em adaptações da Bíblia e em histórias explicitamente sobre Jesus Cristo, mas não é dessas que eu estou falando. A gente escreve muitas histórias individuais sobre a luta do homem contra o Diabo. Ele é um dos grandes e mais usados personagens de domínio público que existem e é onipresente, aparecendo de historinhas da Turma da Mônica até no filme de Tenacious D.

Aliás, antes de mais nada eu quero fazer dar o básico de satisfação. Eu não sou uma pessoa religiosa, eu sou ateu. Por consequência disso, eu não acredito no Diabo. E eu faço nesse blog aqui, faz quase dez anos um trabalho sobre analisar o poder da ficção. Mas eu não tenho particular interesse no take de “A Bíblia é só mais uma história de ficção”, pois a importância que o livro tem na sociedade e a maneira como esse livro movem pessoas vão muito além do escopo do que está ao alcance do maior dos Best-Sellers. Assim como eu enfatizei no meu texto sobre as maiores inimizades da ficção. Meu interesse em analisar interpretações fictícias de personagens bíblicos, não pretende deixar implícito que textos religiosos, caso não sejam verdade, passam a ser ficção da mesma maneira que Transformers é ficção. Não tenho interesse nessa perspectiva.

Então, eu não tenho pros fins desse texto aqui real interesse no Diabo Bíblico, naquele que tentou Jesus no deserto, ou que fez a aposta com Deus pra torturar Jó, ou na serpente que tentou Eva a comer o fruto. Mas eu tenho interesse em como autores escrevendo histórias fora da bíblia, com a intenção de serem universalmente consideradas pura ficção sem uma religião por trás, usam esse personagem e a maneira como ele é entendido. Como roteiristas e romancistas veem essa entidade na hora de transformá-las em um personagem, meu foco é esse.

Até por que cá entre nós, tem muita gente no mundo que entende só o que quer da Bíblia, e algumas delas potencialmente são contadoras de história e a compreensão delas é de meu interesse mesmo quando torta. Especialmente se for torta. Em que ponto ela é torta? Como ficou torta? Isso é um objeto de estudo.

E já que eu estou no momento “antes de mais nada”. Eu também quero antes de retomar meu ponto, lembrá-los que esse blog é financiado pelos seus leitores. Afinal, eu não vendi a alma para o Diabo. Então pra quem quiser ajudar a apoiar o trabalho que eu ponho nesses textos, peço que verifiquem a campanha de financiamento coletivo no apoia.se desse blog. Eu não ofereço muitas recompensas para os apoiadores, mas as vezes ofereço enquetes em que podem decidir o tema do próximo texto e esse aqui foi escolhido pelos apoiadores. É o que eu consigo oferecer.

Quem não quiser fazer um apoio mensal, mas quiser ajudar o Dentro da Chaminé mesmo assim, pode fazer um pix de qualquer valor pra chave franciscoizzo@gmail.com que vai ganhar não só minha gratidão, como ser igualmente homenageado abaixo.

Esse texto é escrito em homenagem a todos os que já me apoiam. Essa galera maneira. Esse blog não seria a mesma coisa sem vocês, espero que gostem do texto que escolheram! 

E esse texto é sobre o Diabo!

Mas qual Diabo? Pois se a gente olhar, a gente tem vários arquétipos de que tipo de atitudes e podemos esperar do Príncipe das Trevas na hora de vê-lo antagonizar uma história de ficção.

Temos o guardião do Inferno! Que tortura os pecadores. Esse próprio arquétipo pode passar por diversas abordagens distintas, por ser parte de como vai ser a construção de mundo desse lugarzinho chamado inferno, do qual muita gente caga de medo, e temos tantas perspectivas diferentes do que esperar dele. Podemos ver o Diabo como o nosso torturador particular, ou como uma autoridade burocrática.

O guardião do inferno é maligno, é digno de ser a personificação do mal pelo sadismo que ele demonstra com o ambiente horrível que é o inferno. Mas ser o cara que pune os pecadores pode ser retratado como um mero emprego, uma responsabilidade dele designada por Deus, e portanto é o arquétipo com mais possibilidade de mostrar o Diabo humanizado ou um diabo que não seja verdadeiramente maligno.

Outro arquétipo que temos é o do pai do filho do Diabo, popularmente conhecido como o anticristo. Esse quer destruir o mundo num apocalipse, e sonha em quando planeta Terra vai ser somente fogo, morte, quatro cavaleiros espalhando miséria e dor. E pra isso acontecer ele tem que comer alguém. Ou seja: ele tem que engravidar uma mulher mortal pra que ela dê a luz ao filho humano do Diabo que vai destruir a humanidade.

Dependendo da história pode ficar delimitado que o anticristo é a única maneira de o Diabo em si acessar o plano dos mortais, que ele precisa de seu filho na Terra pra ter acesso à Terra. Outros não. Geralmente historias do anti-cristo tem a presença intimidadora do Diabo sondando tudo, mas ele em si aparece muito pouco, caso apareça. Ele não pega o filho no colo. Sua influência se vê em cultistas, satanistas e no próprio anticristo.

E temos o Diabo possuindo pessoas. E esses não são minha especialidade, vi muito pouco filme de exorcista do mundo. Só o famoso The Exorcist, mas é, eles fazem muito isso. Só não conheço detalhes.

Foi o Raul Seixas que dividiu todos os diabos em somente dois, na sua música Rock do Diabo, em que ele disse:

Existem dois diabos, só que um parou na pista. Um deles é o do toque o outro é aquele do Exorcista.”

Pois é, o arquétipo que estamos procurando aqui é o Diabo que dá o toque, enquanto Freud explica as coisas. Essa figura que aparenta poder caminhar entre os mortais com facilidade, disfarçado de humano, indistinguível de outra pessoa normal, com uma língua afiada que cochicha ideias para os mortais e convence eles a tomarem as mais condenáveis decisões de sua vida. Mais vezes do que não, por intermédio de um acordo formal. Um contrato ou um pacto por assim dizer. Que pode ou não ser vender a alma, mas geralmente é.

Esse é o tema do texto e o tipo de Diabo que eu vou priorizar nessa lista, o que compra almas. O que corrompe pessoas. E o que embora possam ter lá na casa deles um tridente e alguns poderes, tem na sua maior arma sua língua e sua lógica.

Esses são a mais pura maldade, e a definição do mal. Mas eles não demonstram isso com labaredas, tortura e doenças. Eles demonstram isso afastando a humanidade do bem. Sussurrando aos humanos valores que o façam dar as costas pro que realmente importa. Eles oferecem tentação.

E pra cada herói incorruptível, existem tantos e tantos e tantos humanos com o coração fraco.

Nós somos criaturas fracas, e os aproveitadores predam na gente.

O Diabo tem muitos nomes, Lúcifer, Satanás, Bafomé, Belzebu…. Aparentemente a Bíblia descreve ele como “O Enganador”. E aparentemente, dependendo de quais textos a pessoa considera canônico em sua religião, e como interpreta esses textos esses vários nomes podem representar vários demônios diferentes ou um só. Mas para além disso, quando está na terra comprando almas, ele costuma vir com um nome humano. Um nome espertinho, com um trocadilho sutil indicando que o Diabo não quer realmente esconder sua identidade.

O Diabo é orgulhoso e narcisista, ele ama se gabar e se mostrar pro ser humano, pois ele é esperto e manipulador. E a real pergunta é: mas pode o ser humano ser mais esperto que ele?

Porque o ser humano pode resistir a ele. Não fazer um acordo, não ouvir a tentação, não vender a alma. Mas o ser humano as vezes acha que pode aceitar o acordo, usufruir dos benefícios do acordo, e na hora de pagar o preço dar uma malandragem e passar a perna no Diabo.

E alguém consegue passar a perna no Diabo? Somos mais espertos que o Diabo? Olha um número muito grande de personagens fictícios tentaram a sorte. Alguns escreveram histórias sobre quem passou a perna no Diabo.

Mas a grande maioria dessas histórias terminam com o ser humano sendo posto em seu devido lugar, cabe a Deus pôr o Diabo em seu lugar e a nós em não fazermos o bendito pacto. Não mexer com forças que não entendemos direito. Porque depois não tem volta.

Ele não vai voltar de mãos vazias.

No arquétipo desse sujeito que aborda a gente e oferece a tentação ele pode ir pra muitos rumos. Ele pode ser realmente preso as próprias regras, não podendo ele próprio desobedecer o próprio contrato. Ou não, ou ele pode deliberadamente desobedecer as regras. Ele pode sentir simpatia pela sua vítima. Ou ódio. Ou as vezes somente a mais profunda indiferença. Ele pode fazer isso só por diversão, ou pode ser o jeito dele de desafiar Deus, destruindo a bondade humana pra provar um ponto maior.

Ele pode ser bom? Hipoteticamente pode. Se a história quiser ou propor a ideia de que a Bíblia é uma batalha escrita pelos vencedores ou realmente vender a ideia de rebeldia contra as normas divinas.. Mas é bem difícil. Ele costuma ser é a maldade encarnada.

E eu quero analisar os diversos caminhos diferentes em que uma história pode ir quando um humano fraco e vulnerável dá de cara com a tentação e tem que proteger sua alma diante da influência dessa figura poderosa sem moral. Então escolhi 18 personagens que tentaram um humano ao pecado, para ver como eles retrataram essa tentação, e como retrataram a nossa fraqueza humana diante uma oferta dessas.

Pois histórias de pacto com o Diabo tem o Diabo como a grande atração, mas são sobre o coração humano.

Antes de começar, regras, regras são o que mais importa.

1- Eu vou listar tanto enganadores que são literalmente O Enganador, o de facto Diabo que deve ser interpretado pelos leitores como exatamente aquele que tentou Cristo no Deserto. Quanto personagens que não são literalmente o Diabo. Sejam eles outras entidades sobrenaturais que oferecem contatos aos mortais. E humanos comuns, que coloquem outros personagens nessa situação diante um contrato e o convite à corrupção também são elegíveis pra essa lista.

2- Porém não darei os exemplos retirados de literais textos religiosos e suas respectivas adaptações, seja a Bíblia ou qualquer outro. A serpente que deu a maçã pra Eva não é elegível.

3- Muita gente ficou de fora, e as menções honrosas são essas figuras ilustrando o texto aqui, que também fazem parte da conversa, mesmo fora dos 18 principais.

Dito isso, nesse texto vão ter duas menções honrosas de verdade. Pois tem de fato muito personagem sobre o qual eu quero falar.

Menção Honrosa 1: Babidi (Dragon Ball).
Alvo: Dabura.

Em seu arco final de Dragon Ball, Toriyama adicionou um elemento novo pra dinâmica: magia. Personagens que não são necessariamente guerreiros, mas um feiticeiro maligno usando magia pra fazer maldades. Incluindo criar uma criatura feita de pura maldade. E esse feiticeiro era fraco, mas esperto e manipulador. Ele podia ver a maldade no coração das pessoas, e alimentar essa maldade com aquilo que elas queriam pra em troca manipular a pessoa e fazê-la se tornar um escravo.

Babidi é a versão de Dragon Ball desse diabo enganador, que não é marcante o suficiente pra aparecer na lista de verdade, mas merece uma menção, pois pra gente ver que ele é bom mesmo, a gente vê que ele conseguiu manipular, seduzir e transformar em escravo Dabura, o Rei do Inferno. E bem, Dabura é feito pra ser visivelmente identificável como o mais próximo que aquele mundo tem do Diabo.

Em um mangá posterior, Sand Land, o Toriyama literalmente reutiliza o design do Dabura pra fazer o Lúcifer, o Rei do Inferno.

Então o Babidi é tão bom em ser um enganador, que ele seduziu o Diabo em pessoa, e porra, isso tem valor. É uma boa maneira de deixar claro que não existe alguém além do alcance desse filha da puta. O que é interessante, pois ele estava lá justamente pra seduzir um dos protagonistas e corromper alguém que acreditávamos estar no caminho da redenção.

Bom trabalho Babidi.

Menção Honrosa 2: Bo Peep (Toy Story).
Alvo: Woody.

Então. Tem essa interpretação por aí, de que a Bo Peep, Betty na dublagem brasileira, representaria a figura do Diabo em Toy Story 4. Não é a interpretação mais profunda do mundo, mas me agrada, então vamos fazer uma tangente da Bo Peep estar tentando o Woody pra se voltar contra Deus.

E não é nenhum segredo. O quarto filme oficializou que as crianças dão vida aos brinquedos. Bonney dá forma e vida ao Forky, e é daí que vem a devoção dos brinquedos as crianças. Eles leem seus livros com o lore deles como se fosse sagrado, vivem pra atender o desejo pré-concebido do criador, pra seguirem as palavras de quem lhes deu vida.

E Bo se rebelou contra tudo isso, criou esse conceito de liberdade que envolve abandonar toda a devoção, ao livro sagrado, ao seu propósito original e às crianças. Bo era originalmente uma pastora, mas ela inverte o seu vestido, usando ele ao avesso como se fosse uma capa, fazendo seu uniforme de anti-pastora. E convence Woody a desobedecer esses princípios todos em troca de uma vida de liberdade.

Ponto bõnus pra ovelha de três cabeças dela. Cérberos? Cérberos não tá na Bíblia, ele tá no Tártaro, o inferno da mitologia grega…. Mas já vi jogarem ele como o cachorro do Diabo…. Então sei lá.

Nada profundo. Mas agora que anunciaram Toy Story 5, entamos todos esperando o meme se realizar e o Woddy subir aos céus pra matar Deus!

Podemos começar a lista de verdade.

18º Lugar: Davy Jones (Pirates of the Caribbean).
Alvo: Jack Sparrow.

Os marinheiros possuem essa expressão chamada “O Baú de Davy Jones” pra representar o fundo do mar, e a ideia de que tudo aquilo que afunda se torna propriedade dessa entidade chamada Davy Jones. Usava-se de eufemismo pra falar que alguém que havia morrido agora estava no Baú de Davy Jones. A figura do Davy Jones em si nunca recebeu uma lenda própria de quem era antes de começar a tomar as coisas no fundo do mar, tinha lendas menores aqui e ali, mas nada grande. Embora consistentemente marcassem Jones como um homem maligno, gananciosos e cruel.

E pra fins de trocadilhos, como que o o Bob Esponja fez, locker pode ser traduzido tanto pra baú quanto pra armário.

E aí os produtores de Pirates of the Caribbean, olharam isso, e decidiram que o Davy Jones ia ser o Diabo dos mares. Uma figura encarregada com a responsabilidade de guiar os mortos e proteger os purgatório, que negligenciou suas responsabilidades, e em vez de guiar os mortos, ele oferece a eles uma segunda chance na vida em troca da servidão deles. Oferecendo acordos sobrenaturais com aqueles que estão com medo da morte.

Toda sua tripulação é composta por gente que na hora de morrer fraquejou e preferiu viver em servidão para não ir pro outro lado. Mas não são só os mortos que podem acabar em servidão com ele. Afinal ele fez um acordo com Jack Sparrow.

Ele deu ao Jack Sparrow seu amado navio, Pérola Negra, pra que Jack fosse o capitão dele por 13 anos, e no fim desses 13 anos Jack começaria um período de 100 anos servindo Jones. Jack não conseguiu usufruir do barco por todo esse tempo, devido ao motim e tal, mas 13 anos depois, Jones queria a parte dele, começando um longo processo de dois filmes bem grandes de Jack tentando dar um jeito de sair de sua dívida com o Diabo dos Mares.

Jack chega a pagar a dívida morrendo e ressuscitando, mas não é o suficiente pra Jones, e ele termina precisando matar Jones, e achando um novo homem pra cumprir as responsabilidades de Jones, pra poder se livrar da dívida terrível.

Com o controle do Kraken, sua tripulação de condenados, e sua extrema crueldade, Jones foi bem vendido como a criatura mais temível dos mares com quem absolutamente ninguém quer estar em dívida. Sendo a coisa mais carismática dos filmes 2 e 3 da franquia.

17º Lugar: Ryuk (Death Note):
Alvo: Light Yagami.

Ryuk é um Deus da morte que num surto de tédio, resolveu ir zoar o mundo dos mortais. Ele não tem uma opção muito grande de pactos que ele pode fazer, ele não pode realizar desejos, mas ele pode fazer dois pactos. Em troca de possuir um Death Note e se tornar capaz de manipular a morte, o humano que receber o Death Note será amaldiçoado com infelicidade.

É bem sutil esse pacto. Até porque o Light questiona ele, e afirma que será a exceção da regra. Mas sim, Light foi devidamente informado que o caderno jamais faria ele ser feliz, e dito e feito, ele passou o mangá inteiro agindo como se tivesse mordido uma fruta podre. Eternamente insatisfeito com tudo. Incapaz de ver valor na presença de sua esposa, sua família e vamos nem entrar no fato de que ele jamais fez um amigo.

Tudo em troca de massagem no ego.

O segundo pacto, Light não fez, é o de trocar 50% de sua expectativa de vida pelos olhos de um Deus da Morte, pra matar com eficiência. Light condenada os outros a fazer esse acordo e a servirem a ele.

Light passa o mangá inteiro achando que ele manipula Ryuk, que ele pode fazer Ryuk obedecê-lo e que ele é inteligente o suficiente pra não pagar o preço do seu uso do Death Note.

Toda uma construção pra que no final a hierarquia seja esfregada na cara de Light, que Ryuk é uma entidade de outro mundo que lhe concedeu poderes extraordinários e ele um mero humano que não entende quem ele é. Uma formiga com a qual um Deus brincou, e a quem Ryuk não deve nada.

Ryuk não odeia a humanidade, nem gosta, ele sente a mais profunda indiferença, e só esperava que Light conseguisse distrair ele por uns anos, e Light serviu pra isso, e foi jogado no lixo assim que ele se tornou incapaz de distrair Ryuk por mais tempo.

16º Lugar: Os Investidores (Venture Bros).
Alvo: O Soberano.

No mundo de Venture Bros temos muita gente poderosa, triunfando no mundo da super-vilania, do super-heroísmo, da super-ciência, muitos “supers”por aí vivendo o auge do que se espera de um sucesso num universo de aventuras. E um número muito grande deles deve seu sucesso a um empurrãozinho que receberam no começo da carreira. Um investimento, como podemos chamar. Oferecido por esses três homens chamados coletivamente de Os Investidores que oferecem sobrenaturalmente os recursos pra qualquer um subir na vida, por um preço.

Muita coisa é notória neles. O primeiro é que eles são construídos pro expectador levá-los extremamente a sério, e sem vê-los como fonte de humor, nessa série que é primariamente uma comédia.

A segunda, é que nesse mundo de aventura em que o máximo possível de personagens quer se vestir com collant colorido, máscaras, se dar nomes espalhafatosos, e tentar escapar da burocracia da vida da adulta que é inescapável. Os Investidores usam terno, gravata e um apelido que é somente a mais pura burocracia adulta. Eles não são vilões que montaram uma persona pra não se sentir parte de um sistema. Eles são o próprio sistema.

A terceira, em um mundo em que tantos personagens têm super-poderes, os poderes dos Investidores sempre soam particularmente não-naturais e de fora daquele universo em que tudo já vale. Uma existência sinistra por trás do sucesso dos personagens.

E eles morrem de medo de pagar o preço.

Detalhes da maioria dos contratos não costumam ser dados, em especial do contrato que permitiu ao Soberano, um zé-ninguém com poder de mudar de forma, chegar à posição de líder da Guilda de Intenções Calamitosas, a organização de vilania organizada que está no centro da série. O Soberano morre de medo de pagar o preço e arma um plano mirabolante pra matar os investidores.

E fracassa, como qualquer um que cospe pra cima fracassa.

Essa presença de poder tornar qualquer homem o homem mais poderoso do mundo, e aí o homem mais poderoso do mundo vai passar o resto da vida temendo eles, é um bom lembrete do que realmente significa ser poderoso, que histórias com o Diabo sempre nos lembram.

Na aparição final deles, em que eles são mortos pelo seu quarto irmão, é revelado que seus nomes são Lips, Caecius e Skiron, nomes de deuses gregos que representam os ventos. Sugerindo que eles possam ser de fato deuses da mitologia grega corrompidos. Quando questionado sobre, um dos autores de Venture Bros completou com “ou astronautas”, querendo não deixar a resposta de qual a natureza das divindades desse mundo clara. Mas tudo sugere que eles são divindades que em algum momento deram as costas pra sua missão original e começaram a fazer esses pactos e explorar a vulnerabilidade de gente ambiciosa demais.

Eu adoro o nome deles. “Os Investidores”. Eu adoro essa noção, de que o Diabo é um cara bom de investimento. Que o que ele faz é investir em gente. Boa analogia.

15º Lugar: Mr. Le Bail (Ready or Not).
Alvo: Família Le Domas.

Eu comecei com três equivalentes-ao-diabo-naquele-universo, mas aqui temos o verdadeiro. Usando o nome falso de Mr. Le Bail, que nada mais é que um anagrama de Belial. Um dos vários nomes de demônios, que pode ser um dos demônios em particular do inferno ou o Diabo em pessoa, a depender de interpretações.

E Mr. Le Bail é um diabo que está por trás de um Jogo da Morte, a gente não vê muitos diabos criando esses jogos, pois tantos deles são fabricações do capitalismo, e a gente não associa o Diabo como um agente ativo no capitalismo. Embora devêssemos.

Mr. Le Bail encontrou um cidadão chamado Victor Le Domas na época da Guerra Civil Estadunidense, e se tornou um grande parceiro de apostas dele. Os dois eram grande fãs de jogos e apostas, e Le Bail desafia Victor a entender o segredo de uma caixa que ele possuia, prometendo que se Victor solucionasse o enigma, Le Bail iria financiar qualquer empreendimento que ele quisesse começar.

Victor soluciona, e começa uma empresa de impressão pra fazer jogos de cartas que é um sucesso imenso e se expande pra se tornar um império de jogos que vende cartas, jogos de tabuleiro, itens esportivos, e é dono de times esportivos também. Um verdadeiro império financiado por Le Bail, que deu o primeiro passo pra esse homem ambicioso começar seu império do zero.

Mr. Le Bail pede somente uma coisa em troca. Que o espirito de jogador nunca suma da família. Então A condição pra família é que todo mundo que for entrar na família, via casamento, seja oferecido esse desafio. A pessoa tentando entrar na família vai ter que usando a caixa mágica dada a Victor por Le Bail, pra selecionar aleatoriamente um jogo, e eles deverão jogar esse jogo. E não importa que ganhe ou perca, desde que joguem de verdade. Pode ser Xadrez, Banco Imobiliário, Ping Pong, qualquer coisa.

….ou pode ser “Esconde-esconde”, e de vez em quando, só as vezes, raras vezes, a caixa mágica vai escolher esconde-esconde. E aí o jogo é com regras não-tradicionais. E o jogo será que todos os membros da família Le Domas, devem caçar sua nova adição, e matá-la em um ritual satânico antes do amanhecer, ou do contrário, todos com o sobrenome vão morrer.

O interessante é que a família não só é uma família de satanistas devotos. Como eles compram a retórica de que eles tem controle algum sobre suas vidas.

Victor sabia que a caixa era mágica e amaldiçoada, e portanto, se ele solucionou o enigma, ele solucionou que Le Bail era o diabo, e condenou seus descendentes em troca de ser rico e poderoso. E a família acredita que a fortuna deles é deles, e não um presente do diabo que eles passaram 160 anos pagando de volta com sacrifício humano.

Eles acreditam que esse ritual e esse eventual sacrifício é o preço que a ralé paga pra ser parte da elite. Que eles fazem os pobres jogarem um jogo da morte, pra serem parte da elite. Mas é o Diabo que faz ELES jogarem o jogo da morte pra permitir que eles sejam a elite.

Um bom jogo da morte sempre vem com essa síndrome de classe média. Gente que opera o jogo que acha que organiza o jogo. Que são os donos do jogo, mas são só jogadores com ligeiras vantagens, tão aptos a serem mortos pelo líder do jogo quanto os demais jogadores. Peças no tabuleiro com vantagens, mas igualmente peças.

Ao final, a protagonista Grace sobrevive e Mr. Le Bail aparece diante de seus olhos pra parabenizar a jogadora que superou a família Le Domas. Ela ignora o Diabo com repulsa e é isso. Os méritos de ser uma campeã não afetam a ela, e por isso ela consegue antagonizar o Diabo, sem ser vulnerável a ele. Diferente dos Le Domas, que queriam muito brincar de império, e acharam que o Diabo não brincou de império usando eles.

Quem não viu Ready or Not, é um grande filme, recomendo.

14º Lugar: Audrey II (Little Shop of Horrors).
Alvo: Seymour.

Audrey II é uma planta carnívora, que pode falar, pode mover seus cipós como tentáculos, pode transformar uma floriculturazinha em um sucesso nacional, mas ela não pode conseguir sozinha as pessoas de quem ela se alimenta. Então ela precisa de Seymour, o tímido e fraco funcionário da floricultura e ela promete a ele tudo o que ele mais sonhou em troca de Seymour se tornar um assassino que a alimenta de pessoas.

Num filme escrito pra ser interpretado racionalmente, Audrey II iria querer comer o máximo de pessoas possíveis e ia instruir Seymour a não escolher alvos pessoais. Mas Little Shop of Horrors é uma tragédia de Seymour lutando contra a corrupção que Audrey II lhe tenta. Ele começa matando seus inimigos, escala pra matar sua figura paterna, atenciosa, porém rigorosa, e sabemos que o objetivo final de Audrey II, é fazer Seymour lhe entregar a sua amada.

Essa planta quer tirar o pior de Seymour, ela é um agente do mais puro mal, e sua gula podemos ver que não é uma questão de uma espécie querendo sobreviver, mas de gula mesmo. Dos excessos. Sempre disposto a racionalizar um motivo pra Seymour cometer um crime um pouco mais pesado do que o anterior, em troca de sucesso, fortuna e fama.

Felizmente Seymour se volta contra Audrey e detém a planta. Esse conseguiu deter a tempo antes da crush morrer.

13º Lugar: Leeland Gaunt (Needfull Things).
Alvo: Habitantes de Castle Rock.

Esse talvez seja mais famoso pela paródia que Rick and Morty fez dele do que pelo filme e sua adaptação pra filme da obra de Stephen King, Needfull Things. Na história um visitante misterioso chamado Leeland Gaunt (sem trocadilhos aqui), abre uma loja de antiguidades em Castle Rock, no Maine, onde ele vende itens feito sob medida pra ser a coisa que cada habitante mais deseja ter no mundo, e em troca ele aceita um preço muito baixo como sendo metade do valor, e a outra metade é que o comprador faça uma pequena maldade na cidade.

Como por exemplo, vender o card de baseball pra uma criança em troca de alguns centavos e de que ele suje as roupas no varal de uma outra moradora.

Um destrói propriedade, outro espalha cartões denunciando crimes, outro mata um cachorro e de repente a cidade está toda prestes a se atacar, com Gaunt manipulando tudo. Sempre que ele manda alguém fazer uma maldade como pagamento pra esses itens tão valiosos, ele escreve o nome deles num caderninho, indicando uma alma que ele corrompeu pro mal.

É fascinante esse poder dele, de sabendo exatamente como levar cada pessoa ao limite, por saber o que as afeta, ele pode aos poucos, sutilmente destruir o pacto social e trazer o inferno a uma cidade inteira.

Leeland Gaunt é tratado no filme como sendo literalmente o Diabo, e não sei se no livro ele era somente um demônio, mas ele ficou fantástico.

A versão de Rick and Morty causa menos caos, só tortura pessoas com itens amaldiçoados, então quando eu vi o filme foi uma surpresa grande ver a maneira como a cidade inteira foi pro saco.

Eventualmente os moradores percebem que estão sendo manipulados, e expulsam o Diabo da cidade que só vai embora, supostamente pra outra cidade, pra fazer de novo. Então uma vitória bem pouco vitoriosa. Mas os sobreviventes conseguiram expulsar o Diabo ao menos.

12º Lugar: Makima (Chainsawman)
Alvo: Denji.

Makima é só um dentre inúmeros diabos que existem em Chainsawman, todos com o poder de oferecer contratos a seres humanos em que eles oferecem seus poderes e serviços em troca de sacrifícios desproporcionais desses humanos. E a Makima aparenta ser relativamente interessada em fazer o bem, mas não é uma exceção de fato, e ela opera com crueldade, convencendo seres humanos a agirem contra seus próprios interesses.

Seu principal alvo é o protagonista Denji, com quem ela não faz um contrato de diabo, ironicamente. Ela faz com ele na real um contrato normal, contratando ele pra trabalhar pra ela no serviço público que ela administra. Mas mesmo ela não oferecendo a ele o literal contrato com o diabo que está em seu poder oferecer, ela oferece pra ele uma cilada igual.

Tirando vantagem da falta de afeto que Denji recebeu na vida, e da sua vulnerabilidade econômica, ela convence Denji a considerar a vida de perigo e poucos direitos que ele vive, um paraíso, e a recusar oportunidades de realmente viver uma vida digna, em prol de continuar trabalhando pra ela.

E ela monta pequenas felicidades pro Denji pra destruí-las e mantê-lo traumatizado e dependente dela pra sempre. Manipulando-o pra se tornar um cachorro sem vontade própria.

Mas claro, tudo pelo bem da humanidade, já que ela aparentemente trabalha pelo bem da humanidade, mesmo se não for pelo bem de nenhum ser humano individual. Recomendo meu texto falando sobre o que torna a Makima fascinante.

11º Lugar: Dr. Facilier (The Princess and the Frog).
Alvos: Tiana e Naveen.

Para falar desse antes temos que antes falar de uma prática muito escrota que muitas pessoas fazem na hora de se retratar religiões não-cristãs, mas em especial a Disney faz. Que é a de querer forçar a perspectiva de que entidades ligadas ao mundo dos mortos em outras religiões são o equivalente ao Diabo e agem como tal.

No Brasil fazem muito isso com Exu e é parte de um plano de enfraquecer religiões de matriz africana, e é uma bosta.

A gente viu no que eles transformaram o Hades como alguém que faz acordos desonestos pra roubar as almas dos mortais.

No caso de The Princess and the Frog, eles deram umas desculpas. Por exemplo, o Dr. Facilier não é o literal Barão Samedi, o guardião dos mortos do vudu haitiano. Ele é só um praticante de vudu que se veste de cosplay de Barão Samedi sem motivo, mas é humano. A associação ainda está lá, mas Facilier não é uma divindade, é só uma pessoa.

Dito isso, Facilier fez um acordo vendendo a própria alma, em troca de poderes pra entidades vudus, mas elas não aparecem no filme então nenhuma entidade específica foi deixada implícita ser o Diabo… ele não vendeu a alma pro Barão Samedi, vendeu pros ambíguos “amigos do outro lado”, pra não acusar nenhuma entidade específica.

….mas a Disney mesmo assim, com todas essas desculpas, fez uma grande associação dos Ioas do vudu ao diabo. E cá entre nós, esse tipo de coisa tem muito racismo no motivo pelo qual recebem esse tratamento. Então a escolha de fazer o Dr. Facilier agir com maneirismos do Diabo é algo que precisa ser devidamente criticado. Especialmente em um filme que foi feito tanto pra tentar fazer a Disney fingir que não é racista.

Isso sendo dito, o personagem ainda é um dos vilões mais interessantes da Disney justamente por isso. Por ser um mero humano, um golpista, que consegue agir, como o Diabo agiria, explorando os maiores desejos de cada personagem pra conseguir exatamente o que ele quer.

As cenas dele tentando Naveen e Lawrence é maravilhosa, mas boa mesmo é a cena em que ele tenta Tiana, e a convida a abandonar Naveen pra morte e dar as costas a ele em troca de realizar seu maior sonho.

Eu acho que The Princess and the Frog brinca muito com as convenções da Disney sobre o que significa pedir desejos pra estrelas, e essa entidade sobrenatural que pode realizar o sonho de qualquer um é um personagem que brinca muito com isso. Como se ele fosse uma grande corrupção da estrela dos desejos. Ele pode dar a Tiana tudo o que ela sempre quis, e tudo o que ele pede em troca é que ela feche os olhos pra morte de Naveen.

No começo do filme Naveen caiu na tentação e fez um acordo com o Diabo, mas Tiana resiste a tentação, e escolhe o amor ao sucesso, e manda Dr. Facilier diretamente pro inferno.

Queria que a Disney experimentasse esse tipo de personagem de novo, sem usar racismo em religiões de matriz africana da próxima vez. Pois o arquétipo do Diabo combina tanto com filmes Disney, sempre sobre desejos. Do Facilier, ao Hades à Ursula, isso tem tudo a ver com vilão Disney.

10º Lugar: Mr. Scratch (The Devil and Daniel Webster).
Alvo: Jabez Stone.

Outro caso em que temos o Diabo tradicional em pessoa, adotando o apelido de Mr. Scratch, em referência ao termo Old Scratch, um eufemismo usado pra se referir ao Diabo antigamente. Essa aparição do Diabo no Brasil certamente é mais famosa pela paródia que ela recebeu em The Simpsons, onde Homer vende a alma ao diabo em troca de uma rosquinha.

E é justo que seja famoso pela paródia, pois o conto e o filme original são pura paixão patriota e defesa do patriotismo.

Na história, Jabez Stone era um fazendeiro honesto e gentil que estava passando por maus bocados e prestes a perder a fazenda, e vende a alma ao Diabo, em troca de sete anos de fortuna, dinheiro e sorte, onde Mr. Scratch lhe prometeu tudo o que o dinheiro podia comprar.

Com sua fortuna e sucesso, Stone vira uma pessoa mais e mais escrota com o passar do tempo, transformando seus amigos em empregados explorados, desmerecendo sua esposa em prol da amante que Mr. Scratch lhe enviou do inferno, e sendo a vergonha local. Quando passam os sete anos, vem a hora dele ter medo, e surge o político da vida real que de fato existiu Daniel Webster limpar a barra dele.

E Webster desafia o Diabo a um julgamento pela alma de Stone, esperando que ao ver Webster lutar por ele, Stone se redimisse. Webster luta pelo fato de que Stone como um estadunidense não deve ser tomado pelo Diabo, pois os EUA lutam pelos seus. E aí que vem a parte interessante, que faz Mr. Scratch conquistar seu lugar na lista, pois o Diabo pra tentar vencer o julgamento contra Webster tenta abalar o patriotismo de Webster.

Quando Webster exige que o juri seja formado somente por estadunidenses, Scratch convoca o juri das condenados, trazendo os fantasmas de alguns dos mais crueis e perversos criminosos da história do país, incluindo o traidor da pátria Benedict Arnold, e chama o juiz que condenou as bruxas de Salem pra ser o juiz. Scratch queria fazer Webster admitir que essas pessoas também eram os EUA pelo qual ele luta.

Incluindo Stede Bonnet o pirata, hoje famoso pela série Our Flag Means Death, que o retrata em luz positiva, e fanfica uma história de amor entre ele e o Barba Negra.

Além de se afirmar a si próprio um estadunidense, afinal, um país que foi fundado com base na escravidão e no genocídio foi fundado pelo Diabo, e ele afirma isso.

O filme é fraco, mas eu aprecio a maneira como ele desafiou as crenças de Webster. E a ideia do Diabo que vai a julgamento com seu juri de almas penadas é do cacete.

Em 1997, fizeram aquele filme The Devil’s Advocate, em que o Al Pacino é o Diabo coordenando uma firma de advogados de defesa pra soltar todos os criminosos do mundo e causar o mal da terna dando vereditos de inocente por aí. E isso era um reflexo do quanto o veredito de inocente ao OJ traumatizou os Estados Unidos, na mesma época saiu o Liar Liar do Jim Carrey também denunciando advogados de defesa como fábricas de vereditos de inocente pros maiores larápios do mundo…. Mas isso é bobagem de um país assustado. O Diabo é um promotor.

Quem acertou foi o Ariano Suassuna. Num julgamento, o Diabo está do lado da acusação.

E o Mr. Scratch foi o campeão de levar seu alvo a julgamento pra cobrar que ele tinha absoluto direito aquela alma depois de ter cumprido sua parte do acordo.

9º Lugar: Bill Cipher (Gravity Falls).
Alvo: Mabel Pines.

Bill Cipher é um habitante de uma outra dimensão chamada Reino do Pesadelo, habitada por demônios, por caos e por destruição. E ele quer vir para a nossa dimensão, pra foder com todo mundo e causar mal inimaginável. O ruim pra ele e bom pra nós, é que ele não tem uma forma corpórea que possa vir pra cá usar sua magia indiscriminadamente. O bom pra ele e ruim pra nós, é que ele ainda consegue conversar com os humanos através de sonhos e projeções astrais e possessão corporal.

E se ele pode conversar ele pode fazer acordos, e se ele pode fazer acordos, ele pode prometer pros humanos tudo o que seus pobres corações vulneráveis quiser, desde que esses humanos ajudem Bill a vir pro nosso mundo.

Ao longo da série Bill tapeia muitos personagens em pactos canalhas, Stanford, Gideon e Dipper sendo suas vítimas em episódios específicos. Mas a sua grande vítima é Mabel. Quando ele possui o corpo de um amigo viajante do tempo de Mabel, e permite que ela desabafe seu desejo de que as férias não acabem, Bill acha a oportunidade pra mentir pra ela e convencê-la a deixar que ele abra um portal dimensional que destruirá o mundo.

O maior dos trapaceiros. Bill é a criatura menos confiável do mundo, mas ele sempre dá um jeito de empurrar os personagens a confiarem nele. Ele não joga justo, e todo acordo com ele é uma cilada. Mas as pessoas fazem mesmo assim.

Bill é derrotado ao final por um acordo seu, ele faz um acordo com o maior trapaceiro de Gravity Falls, Stanley Pines, e com isso a gente achou aqui um golpista tão bom de golpe que meteu um golpe no Diabo. Sob um grande sacrifício. Sacrificando sua mente pra destruir o Diabo. Foi bem pensado e catártico.

É muito difícil fazer um aperto de mãos ser o maior erro do Diabo, mas aqui um golpista meteu golpe do maior dos golpistas.

Figura assustadora. Aprecio muito. E tem tudo o que o Diabo tem. Veio do inferno. É feito de somente maldade. E é um enganador de primeira, um trapaceiro e um larápio.

Quer ver que maldade ele está planejando depois que o desenho acabou? Tá se envolvendo em criptomoeda.

8º Lugar: Mr. Nick (The Imaginarium of Dr. Parnassus).
Alvo: Dr. Parnassus.

Eu simplesmente amo o Diabo interpretado pelo Tom Waits. E uma versão relativamente diferente, apesar de aqui ele ser pra ser interpretado como o literal Diabo.

Na história o Diabo, chamado de Mr. Nick fez um pacto com o Dr. Parnassus. Ele deu ao Dr. Parnassus a imortalidade, mas quando o Dr. Parnassus tivesse um filho ou filha deveria entregá-la ao Mr.Nick em seu aniversário de 16 anos. Os séculos passam e Parnassus eventualmente tem uma filha chamada Valentina, e o aniversário de 16 anos dela está chegando. Então Mr. Nick vem falar com Parnassus.

Pra se gabar? Pra torturá-lo? Não! Pra oferecer uma aposta, em que se Parnassus ganhar ele salva a filha dele. Eles iam jogar um jogo em que o primeiro a corromper cinco almas e mandá-las pro caminho da ignorância venceria, e quem vencesse ficava com Valentina.

No meio do filme porém, Valentina descobre o segredo do pai e seus pactos e se revolta e tenta ir até o Diabo, mas Mr. Nick tenta convencê-la a não se entregar pro Diabo, e oferece uma aposta nova pra ele recuperar Valentina.

A real é que o Mr. Nick não joga pra ganhar. Nem pra perder. Ele não liga de verdade pra tirar Valentina de Parnassus, ele só liga pra que Parnassus esteja constantemente vulnerável o suficiente pra querer fazer uma nova aposta. Ele quer que o jogo jamais acabe.

O filme retrata o Diabo como um viciado de apostas que deu a sorte grande, de ter dado a imortalidade pra alguém tão viciado quanto ele. No fim nenhum dos dois consegue Valentina, uma vez que Parnassus vence a aposta, mas ela abandona o pai pra nunca mais vê-lo. Mas os dois certamente vão achar uma nova coisa pra apostar sem ela.

E volta pro que eu digo. A gente as vezes interpreta as ações do Diabo como se fossem muito pessoais, mas o mais interessante é quando ele não liga o suficiente pra gente, ele usa a gente de peão pois quem ele quer machucar é outro cara, é Deus. Ele nos tortura, mas ele não liga, então ganhar ou perder uma alma, ou perder uma aposta foda-se.

E de brinde terceirizou seu trabalho, fazendo Parnassus corromper as pessoas. Mas se ele não conseguisse corrompê-las, tanto faz.

Não é sobre ganhar. É sobre jogar. E essa versão acertou isso em cheio! Ótimo filme, recomendo de coração.

7º Lugar: Kyuubei (Puella Magia Madoka Magica).
Alvo: Madoka Kaname.

Madoka Magica é diretamente inspirado em Faust do Goethe, e por isso, Kyuubei é diretamente inspirado em Mefistófeles, a versão do Diabo que fez o mais famoso pacto com o Diabo da história.

Aqui o pacto com o Diabo é adaptado pra ser o pacto de conversão de uma garota mágica, e o acordo que ela faz com o animalzinho mágico pra virar uma super-heroina é retratado como uma venda da alma.

Afinal quando elas viram garotas mágicas, elas tem um desejo realizado, e gente, esse desejo tem twists. Elas vendem a alma por um desejo, e agora elas tem que enfrentar as forças do mal. Não é um bom negócio, e elas sofrem com isso. E alguns diriam que mas esse sofrimento trás amadurecimento, mas não é verdade.

Kyuubei é um alien, e seu objetivo é usar o sofrimento das garotas mágicas pela merda que elas são manipuladas a fazer, como fonte de energia pra salvar o universo da entropia ou algo assim, não importa. Ele é um alien, indiferente ao sofrimento humano, que vê a gente só como fonte de energia pra um bem maior. E ele é absolutamente obcecado em fazer Madoka fazer um pacto com ele.

E ela só faz no último episódio.

E felizmente ela presta atenção o suficiente, pra fazer um pacto que destrua o ciclo e faça monstros como Kyuubei parem de predar em garotas vulneráveis pelo resto da existência.

Sob um grande sacrifício pessoal de deixar de ser uma pessoa.

É um preço pesado, mas Madoka fez o acordo sob medida pra destruir o Diabo. Bom pra ela. Digo, aí outro tipo de Diabo surge na terra pra brincar com ela, mas aí é no filme. Vejam o filme, é bom;

6º Lugar: Harry Makito (Tricks Dedicated to Witches).
Alvo: Várias Mulheres.

Harry Makito é só um humano normal do século XXI, a única coisa excepcional nele é um talento grande como um famoso mágico de palco, mas nada sobrenatural, só espelhos e fumaças em uma profissão muito cool.

Um dia ele volta no tempo pra idade média, e se vê diante da inquisição, onde mulheres eram queimadas na fogueira por acusação de serem bruxas, quando a única coisa que elas fizeram foi sair do lugar designado pra elas pela sociedade patriarcal.

Eu gosto dessa ideia, pois é algo que a gente as vezes ignora, com a popularização de histórias de bruxas e feiticeiros como pessoas que nasceram com magia e podem ser pessoas boas se usarem pro bem. Mas por muito tempo, bruxas, em especial as que a galera pôs na fogueira na vida real, tinham sua mitologia em volta de um suposto pacto com o Diabo. Mulheres que fizeram pactos com o Diabo pra receber seus poderes. Então por trás de várias bruxas famosas têm implícita uma conexão delas com o Diabo e a ideia de que elas venderam a própria alma, adoram Satanás e negaram Deus.

E bem, nesse mangá existe uma sugestão de que a correlação pode ser inversa. Afinal, se a igreja quisesse me matar a todo custo, eu talvez também quisesse me afiliar aos inimigos da igreja. Se o representante de Deus na Terra comprou essa briga comigo, o que me impediria de contrariar Deus?

Hoje a gente lembra do que foi a Caça as Bruxas na vida real, e a dose absurda de misoginia que ela existiu e quer recuperar o símbolo da bruxa como grande símbolo do feminismo. Mas eu aprecio quando na recuperação desse símbolo eles parem e se perguntam o que eles vão fazer com a parte do Diabo, pois as Bruxas e o Diabo estão conectados. Ele será ressignificado também? Acho interessante histórias que incluem essa parte.

Pois é o que Makito faz, Makito resolve destruir a inquisição, e vestindo a carapuça de um inimigo da igreja, que empodera as bruxas, ele vestiu a carapuça do Diabo, e usou seus dons de ilusionismo pra permitir que as mulheres que ele salva ganhem o rótulo de bruxas e se orgulhem dele.

Então o pacto que ele faz não é sobrenatural, ele é só um humano normal, exceto por ter viajado no tempo. Mas ele sussurra coisas pra essas mulheres. Ele ensina umas coisas pra elas, que algumas tem religião que até hoje não aceita, em relação as visões dele com gênero e sexualidade.

Grande personagem, esse mangá merecia ter durado mais. Nem sequer apresentaram a quinta bruxa pra gente, que eles prometeram no capítulo 1. Absurdo.

5º Lugar: O Homem de Preto (LOST).
Alvo: Benjamin Linus.

O fenômeno LOST foi engraçado. Galera passou anos jurando que a série seria uma série científica, racional sem explicações espirituais até o fim. De que na guerra Homem de Ciência Vs Homem de Fé, o homem de ciência ganharia de lavada.

E aí na última temporada Deus e o Diabo apareceram na ilha.

Digo, não literalmente Deus e o Diabo, mas…. Próximos o bastante. Jacob, é o guardião imortal da ilha, uma figura com muitos poderes, que incluem um certo nível de onisciência, e a capacidade de dar a imortalidade pros outros. Jacob queria proteger a ilha, pois a ilha é a chave pra vida no Planeta Terra, e o centro espiritual do mundo. E ele queria guiar a humanidade pra fazer o bem.

E o seu rival, jamais nomeado, chamado popularmente pelos fãs e produtores da série de Homem de Preto, é o inimigo de Jacob, que quer provar pra Jacob que a humanidade é podre, gananciosa, incapaz de fazer o bem ao longo prazo. Que a ilha não merece ser protegida, e ele quer escapar da ilha pra espalhar o mal pro mundo.

O Homem de Preto está completamente preso àquela ilha, e é o único personagem da série que nasceu e morreu na ilha, sem nunca ter passado um único dia fora da ilha em seus séculos de vida. E ele queria tanto. Então quando Jacob trazia pessoas pra ilha pra guiá-las a fazer o bem, o Homem de Preto corrompia essas pessoas.

As vezes ele tomava a forma da icônica fumaça preta pra matar gente. Mas o que ele mais fazia é tomar a forma dos falecidos pra manipular, mentir, convencer pessoas a fazerem merda, e criar a discórdia. E desde a primeira temporada, ele é uma figura muito mais presente, manipuladora e capaz de influenciar diretamente os sobreviventes, do que Jacob.

Na última temporada, ele consegue convencer Benjamin Linus, o vilão da série em um processo de redenção que está prestes a dar uma marcha ré, a matar Jacob. Ele explora toda a insatisfação de Ben com seu Deus, todos os sacrifícios que ele fez por seu Deus sem ser devidamente recompensado, e convence Ben a matar aquele que ele jurou proteger.

Ben após ceder a tentação e a manipulação, mata Jacob e imediatamente se arrepende, mas cabe a ele só sentir a culpa agora, a merda já foi feita. E o Diabo venceu.

Exceto que o plano de Jacob era escolher um dos sobreviventes pra ser seu substituto e assumir o cargo de Deus quando ele partisse, e o novo Deus consegue impedir o Homem de Preto de escapar.

Mas minha cena favorita é quando Charles Widmore e sua assistente Zoe encontram o Homem de Preto. Widmore instrui ela a não trocar uma única palavra com o Diabo, ciente do seu poder de persuasão e manipulação que podem tentar qualquer um. Ao ouvir Widmore dar essa instrução, ele mata Zoe na hora, pois se ela não ia falar com ele, ela era inútil pra ele.

E é isso, todos nessa lista se qualificam, mas eu acho que o Homem de Preto é o mais grave nessa ideia de que se você pode conversar, você pode manipular, você pode mentir, você pode enganar, você pode tentar, você pode corromper, e você tem o seu poder ali pra ser usado pro mal. E isso é o que o Diabo tem de mais assustador, que ele só precisa se comunicar, que pronto, fodeu!

4º Lugar: Rumpelstiltskin (Rumpelstiltskin).
Alvo: A filha do moleiro.

Rumpelstiltskin é meu conto de fadas favorito. Lástima que seja logo esse que a Disney não adaptou num musical de princesas e canções. Eu amo essa história.

A história é sobre esse dia em que o moleiro por nenhum motivo aceitável resolveu mentir que sua filha tinha o poder de transformar palha e ouro, o que ela obviamente não tinha. Mas o rei ouviu essa história e gostou. E pegou a menina, trancou num quarto cheio de palha e ordenou que ela transformasse em um cheio de ouro ou morreria pela mentira.

E bem, a menina chorou de medo do quanto ela tava fodida, até aparecer no quarto um duende que disse que ele faria a transformação pra ela. Em troca do anel dela. A menina troca o anel, e o duende transforma toda a palha em ouro em uma noite só.

No dia seguinte o rei fica impressionado e faz o que qualquer um faria nessa situação, tranca a menina num quarto maior com ainda mais palha na expectativa de receber ainda mais ouro. E o duende vem ajudar ela de novo. Mas agora ele não quer o anel, quer o colar dela, o colar que foi um presente de sua mãe falecida, e uma lembrança preciosa. A menina não tem escolha, ela faz a troca pra não morrer e o duende transforma a palha em ouro.

O rei vê isso, e o filha da puta faz de novo! Pois ele tinha aparentemente três quartos com palha no castelo. É muita palha. E bem, agora a menina deu o anel, deu o colar, ela não tem mais nada pra oferecer ao duende, mas o duende sugere que ela ofereça a ele seu primeiro filho, no dia em que ela tiver um, que pode ser o futuro distante. A menina aceita o acordo e o duende faz tudo de novo.

Agora o rei ficou feliz, que enfim acabou a palha no castelo e ficou só ouro, e ele se casa com a menina. E olhem só, ela vira a rainha, e ela engravida do príncipe, e agora, o duende volta pra cobrar a dívida, ele quer o bebê. E a Rainha agora quer voltar atrás e não entregar o bebê ao duende. Eles batem uma aposta, o duende deu a Rainha três dias pra descobrir o nome verdadeiro dele e se descobrisse ela ficaria com o bebê. E bem, o nome era Rumpelstiltskin, ela descobre, e fica com o bebê.

E aqui temos o famoso caso em que o Diabo pede não pela pessoa fazendo o acordo, mas pelo filho da pessoa. É nessas que o Kenny de South Park e o protagonista de Reaper se foderam. E narrativamente falando é um bom jeito de fazer o personagem achar que não está oferecendo nada, pois não se imagina tendo o filho, mas aí, os planos mudam e o malandro sabia.

Rumpelstiltskin não é literalmente o Diabo, mas ele tanto poderia ser, que existem releituras que mudam os nomes dos personagens que mudam o duende pro Diabo. E tem gente que ilustra ele desse jeito.

Mas em teoria é pra ser um duende, uma criatura mágica e maligna. E bem, em teoria é pra ser alguém com um nome verdadeiro muito definido e fixo, que não é “Satã”. É Rumpelstiltskin. Mas as rimas estão lá, e ele se tornou o grande enganador do mundo dos contos de fada.

Ele aparece em Shrek 4 só pra fazer um pacto do Diabo com Shrek. É isso que ele faz. Aperta mãos, cobra o preço, rouba almas e sequestra bebês.

Em um grupo cheio de bruxas, monstros e dragões, eu acho Rumpelstiltskin o mais assustador e sinistro vilão de contos de fada que existe. E acho que muito vem de suas rimas com o Diabo.

3º Lugar: Louis Cypher (Angel’s Heart).
Alvo: Johnny Favorite.

Angel’s Heart é um excelente filme, em que o Diabo, disfarçado no nome de Louis Cypher e interpretado pelo Robert De Niro, contrata um detetive particular pra achar a localização do humano que vendeu a alma pro Diabo, mas depois simplesmente desapareceu. Um humano pensou num plano elaborado pra passar a perna no Diabo, ao ponto que o Diabo precisou contratar um detetive particular.

Ou será que o Diabo não foi tapeado? Pois conforme o Detetive investiga o paradeiro de Johnny Favorite, mais e mais estranhas as coisas vão ficando. E eu não quero dar spoiler desse filme, eu quero falar que Louis Cypher é um dos mais manipuladores e mais enfáticos em reforçar uma coisa: ninguém passa a perna no Diabo! Ninguém escapa sem pagar o preço! Todo mundo eventualmente tem que pagar sua dívida.

Uma presença sinistra que está em tipo, menos de quinze minutos no filme, mas cada segundo de Louis Cypher a gente sente.

Além do nome, uma obvia brincadeira com Lúcifer. Bem feita. Meu favorito de todos os nomes-humanos do Diabo.

Recomendo o filme de coração. Sem trocadilhos.

2º Lugar: Mefistófeles (Faust).
Alvo: Fausto.

Ok gente! Esse rolê que estamos vendo aqui, do Diabo vindo seduzir um mortal a vender a alma e a sacrificar algo de muito valor por seus desejos. Quem codificou a maneira como esse tipo de história funciona foi Mefistófeles, o Diabo pra quem Fausto vendeu a alma.

Quase todo personagem dessa lista tem inspiração no Mefistófeles, ele é o rei dos pactos. O Kyuubei de Madoka Magica é o mais diretamente inspirado em Mefistófeles aqui, pois o anime todo é inspirado em Faust. Mas todos os outros são também.

Dentre os personagens que não apareceram nessa lista, o Mephisto da Marvel é tão escancaradamente inspirado em Mefistófeles, visto o nome parecido, que no filme de Ghost Rider, aquele com o Nicholas Cage, o personagem é chamado de Mefistófeles, como o demônio original.

Mas Mefistófeles não é escrito na maioria das versões da lenda como se ele fosse Satanás em pessoa. E sim um aliado dele. E apesar desse nome não existir em nenhum tipo de texto bíblico, a palavra entrou pro imaginário popular de nomes-de-demônio tanto quanto os nomes que de fato existem em textos sagrados. Faust é, em influência no imaginário uma das maiores fanfics sobre como o inferno funciona, mas ainda perde pro Inferno de Dante.

O pacto em si que ele faz com Fausto é algo com muitas variáveis, pois essa história foi contada e recontada várias vezes. Mas o que todo mundo concorda é que Fausto era um acadêmico que vendeu a alma por muito conhecimento. Sabedoria. Ele sofre com a escolha. E se ele consegue ir pro céu ou está condenado ao inferno depende da versão e de quem contou ela.

Mas é. Mefistófeles é o grande símbolo do pacto com o Diabo e inclusive o segundo lugar é até um lugar baixo pra colocar ele, mas é que eu realmente acho que o primeiro lugar tem uma presença tão poderosa que supera até mesmo o cara que dominou esse tropo por séculos.

1º Lugar: Black Phillip (The Witch).
Alvo: Thomasin.

Ok, vamos lá, eu vou contar o final do filme agora, então fiquem preparados.

Lá vai:

Em 2015 saiu esse filme sobre uma jovem puritana durante a colonização dos Estados Unidos, chamada Thomasin, que é confundida com uma bruxa por sua família, após o desaparecimento do seu irmãozinho enquanto ela cuidava dele. O incidente trás muita coisa a tona, inclusive a misoginia que existia na casa dela, e todas as inseguranças de seu pai. Enquanto tenta negar ser uma bruxa, mas também lutar por respeito e dignidade na própria casa as tensões escalam, até chegar em violência e assassinato.

Ninguém acreditou que ela não havia feito um pacto com o Diabo. Ninguém confiou nela, e quando somente ela sobreviveu e todos estavam mortos, ela se vira para o bode da família, Black Phillip, e conversa com ele como se ele fosse o Diabo, e o bode responde!

E o bode faz a Thomasin, chorando e devastada com a maneira como quase foi morta pelo seu próprio pai, uma pergunta muito simples.

Gostarias de viver com prazer?”

Ao responder que sim, o bode guia Thomasin a assinar seu nome em um livro, e ao avisar que ela não sabe escrever seu nome, Black Phillip então a ajuda a escrever seu nome e selar o contrato. Thomasin após assinar caminha nua até uma fogueira onde outras mulheres nuas estão dançando e voando, e se junta a elas, e começa a gargalhar.

Eu elogiei muito Thomasin no meu texto sobre os bruxos que merecem ser mais famosos que Harry Potter, chamei ela de a Bruxa definitiva. E como as bruxas, são originalmente mulheres que venderam a alma ao Diabo, uma Bruxa definitiva não poderia ter menos que um dos melhores Diabos da história da ficção.

Eu gosto que a maioria dos que eu trouxe aqui, surgem na forma de seres humanos, bem-vestidos, elegantes, acessíveis, que abordam o protagonista, sendo bons de papo e de lábia enrolam ele na fala até eles cederem.

Mas aqui, ele está disfarçado de bode, literalmente o animal mais associado ao Diabo que existe, a literal cabeça de Bafomé, e tá lá um bode preto, falando sussurrando coisas nos ouvidos das crianças daquela família. A Thomashin nota e verbaliza o quão suspeito e medonho ela acha que é ter seus irmãozinhos alegando conversar com um bode preto e que isso pode ser o Diabo.

Mas aquela família só vê o que quer ver, e eles não queriam ver o Diabo na obvia corrupção dos caçulas da família tanto quanto queria ver o Diabo em uma jovem virando mulher. Então o Diabo podia estar lá, só observando.

E ele sabia quem ele queria. Quem ali ele poderia seduzir, pois quando sobram só Thomasin e seu pai, é o bode que mata o pai da moça. E então espera que ela vá até ele tentar falar com ele. Ele não aborda ela, ele sabe que ela desistiu de tudo, que ela entendeu tudo e que ela vai vir voluntariamente.

É um Diabo sinistro e assustador, pelo controle que ele tem daquela situação mesmo que ele passe o filme inteiro agindo como um animal de estimação que não faz é nada.

E aí vem a pergunta, eu amo a pergunta que ele faz pra Thomasin.

Como depois de sofrer abuso, violência, e ser desconsiderada de tantas formas, de estar sofrendo, assustada e traumatizada, ele oferece a ela a única coisa que ela jamais teve na vida: prazer. Uma vida deliciosa. E quem no mundo não quer isso.

Como culpar Thomasin por querer uma vida de prazeres depois da merda pelo qual ela passou?

Como culpar qualquer uma dessas pessoas por terem sido fracas? Digo, elas tem responsabilidade por suas escolhas claro, e algumas fazem coisas horríveis graças ao acordo que fizeram com o Diabo. Mas é visível que o mais mau-caráter a ter feito o pacto ainda é uma vítima, manipulada e usada por uma criatura que tem muito mais poder do que aquele que aceitou o acordo.

E eu acho essa dinâmica fascinante.

Como eu disse lá em cima eu não acredito no Diabo, mas eu acredito muito em pactos com o Diabo. No sentido de que eu acredito na capacidade de pessoas vulneráveis, em momentos de fraqueza, se envolverem em buracos dos quais não são capazes de sair depois, manipuladas por pessoas no poder, que vivem de predar na fraqueza alheia.

Em um momento, procurando emprego, eu fui no que eu acreditava que seria uma dinâmica de grupo em um processo seletivo, mas era, na verdade, uma palestra me oferecendo pra ser vendedor de um produto em um esquema de pirâmide. E bem, eu não entrei no esquema, mas antes de eu ir embora eu vi gente assinando o papel que os golpistas ofereciam entrando.

E eu penso pra caralho em como eu não disse nada, e não gritei que era golpe pra todo mundo que tava ali na palestra. Penso muito em como eu poderia ter me portado diferente naquele dia, e se as pessoas que tavam entrando naquele golpe naquele dia, conseguiram escapar da cilada, ou estão fodidas e endividadas….

….ou pior, viraram golpistas também, e estão deliberadamente manipulando gente desempregada a fazer más escolhas, pois dependem disso.

O mundo é cheio de manipuladores, que exploram pessoas e fazem elas se juntarem a cultos, a golpes prometendo dinheiro fácil e a grupos nazistas. Gente que sabe falar o que as pessoas querem ouvir, sabe vender uma visão de mundo absurda e sabe explorar as frustrações e inseguranças. Isso é o que mais temos no mundo hoje.

American History X (1998)

Então a figura de um homem de terno falando o que o protagonista quer ouvir, prometendo fortuna e convencendo ele a aceitar um acordo que não deve ser aceito, como a marca do mal absoluto, da entidade que corrompe a humanidade, eu acho fantástica.

Em especial por isso. Pois o Diabo pode praticar o mal abertamente na forma humana que ele não é percebido facilmente, ninguém pensa duas vezes nesse homem bem vestido cometendo atrocidades. Não parece algo não-humano. Essas crueldades são normalizadas e ajudam o Diabo a se esconder na multidão.

O inimigo máximo da humanidade, e mesmo assim tanta figura de poder na humanidade emula ele, e criamos uma sociedade que reforça tantos dos seus valores. Que loucura. E a ficção explora muito bem isso. O terror que é a nossa própria vulnerabilidade a soluções fáceis.

E esses são os 18 que mais me marcaram. Mas vocês podem continuar a conversa falando dos favoritos de vocês nos comentários.

E também falar se tem interesse em outros arquétipos de Diabos, como o pai do anti-cristo, o chefe do inferno ou o das possessões. Para eu saber se tem interesse em mais textos sobre… Talvez um texto sobre aqueles que jogaram xadrez com a Morte.

Mas por hoje é só, e nos vemos texto que vem.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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