A Nickelodeon tem mais que se explodir – Kamp Koral e outras histórias.

A

Não, esse título não é sincero. É que eu não quis colocar um palavrão no título, porque vai que aparece na busca de uma pessoa querendo ler coisas boas sobre um desenho fofo. Mas se explodir não é bem o que eu queria dizer. A expressão que eu realmente quero usar é outra.

É mais um a Nickelodeon tem mais é que se foder. Estúdio de merda, O ápice dos patifes. Bando de filho da puta.

Olá, como vocês estão? Meu nome é Izzombie, o homem dentro da chaminé, e no texto de hoje, o que vocês vão ver é uma denúncia escrita por uma pessoa (eu) indignada com o estúdio de animação e canal de televisão: Nickelodeon. Com o qual eu estou atualmente puto, por causa do spin-off de Spongebob Squarepants que eles anunciaram, chamado Kamp Koral. Que foi a gota que transbordou o copo de uma história longa de canalhices que esse estúdio cometeu em sua história. Uma delas já ganhou o próprio texto no passado.

Mas antes de sair listando podre desse canal de televisão. Eu quero falar um pouco sobre um valor que eu defendo fortemente. Que pra mim é uma virtude que devemos lutar pra preservar e manter, em qualquer mídia, mas em especial na área da animação que é a autoralidade. Essa é a palavra mágica do texto de hoje.

Autoralidade é uma palavra derivada da palavra autoral. E uma obra autoral na linguagem coloquial, é uma obra em que as ideias de seu autor prevalecem numa obra. Em que temos uma pessoa, ou um time de pessoas, contando uma história que é delas. E que se fosse outra pessoa ou outra mente, contaria outra história. Pessoas que tem uma história pra contar e seu esforço é fazer com que essa história seja contada.

Na indústria do entretenimento existe um conflito tão velho quanto a indústria em si, que é a guerra entre produtores e autores. Em que um autor quer contar uma história, e um produtor quer modificar essa história de maneira que o produtor otimize seu lucro, ou seja uma história que venda mais. As vezes ao custo de elementos importantes da história.

Orson Welles, um diretor famoso pelas brigas que tinha com produtores e seu gênio difícil. Seu filme Citizen Kane foi eleito o maior filme de todos os tempos, ao ponto de virar essencialmente um meme a esse ponto, e é famoso por ser o único filme da história a receber carta-branca de uma grande produtora, com nem a mínima interferência de produção, e o resultado fala por si só.

Produtores que por serem as pessoas pagando pelos filmes, e as pessoas recebendo os lucros, usam seu poder de donos da história, e transformam diretores em meros robôs. E desincentivam o trabalho criativo. A velha batalha que fez a Disney considerar o Rian Johnson um erro e fez eles recorrerem ao J. J. Abrams pra fazer um filme de Star Wars dirigido pelo reddit.

Na esquerda um cara que dá Ted Talk sobre como prender a atenção da audiência sem ter escrito historia nenhuma, na direita um dos maiores diretores de cinema vivos. Famosos por suas ideias conflitantes sobre que rumos a franquia Star Wars devia ter seguido.

E essa é uma batalha que foi travada incontáveis vezes no passado, está sendo travada no presente e será travada incontáveis vezes no futuro. E em todas elas, o Dentro da Chaminé sempre está do lado do autor. Sempre! O autor menos talentoso do mundo, o mais vulgar e cretino autor do mundo vale mais que o mais talentoso dos engravatados.

E essa é a moral do filme Ed Wood do Tim Burton.

E é por isso que o Zack Snyder pode fazer o pior filme do mundo (e se derem dinheiro pra ele, ele vai, tenho certeza), e eu ainda vou defender ele acima de qualquer Irmãos Russo que tenha por aí, que se aliam ao maior e mais tóxico mastrodonte da indústria fazem o filme de maior bilheteria da história e depois vem acusar diretor que precisa de 10 anos para conseguir financiamento de elitista. Não importa o quão palatáveis os filmes deles sejam, na batalha entre produtor contra autor eles jogam do lado de lá.

Tem que ser muito patife pra transformar as críticas do Scorsese sobre os rumos que a indústria está tomando e transformar em uma questão de Nova York vs Ohio.

Autoralidade é algo pelo qual vale a pena se lutar, pois autor é que nem caixa de supermercado, sempre que um pode ser substituído por um robô, a substituição é feita sem pensar duas vezes.

Mas ela vale mais a pena de se lutar na animação. Pois na animação ela é mais ameaçada do que a média.

Para começar, porque no mundo da animação, fazer um trabalho autoral não é um direito. É um privilégio, que entrou em vigor recentemente, nos anos 1990. Não inteiramente graças a ele, pois ele não foi o primeiro, mas com muitos méritos dados ao Fred Seibert, um produtor que valorizava a animação autoral e usou seu poder e influência para aumentar a produção de animação autoral no Cartoon Network.

O Cartoon Network foi relevantíssimo para a transição de desenhos que eram feitos por autores, em vez de serem feitos por empresas. Eles divulgavam muito a imagem do criador dos desenhos, e passavam entrevistas com eles em seus intervalos. E eles colocavam na abertura de todos os seus desenhos o nome do criador do desenho, que é algo que não era a norma nos anos 1980, mas se tornou a norma nos anos 1990.

O Cartoon Network ajudou a popularizar, mas eles não foram os primeiros…. Eu na verdade inclusive não sei quem foi o primeiro, eu vou precisar de mais tempo pra terminar essa parte da pesquisa. Das animações em meu repertório atualmente eu acho que Smurfs é o primeiro, mas é bem possível que tenham tido pontos fora da curva antes. Reforço, eu não concluí essa parte da pesquisa. Enfim, Os Smurfs creditaram seu criador Peyo nos créditos iniciais em 1981, mas isso era derivado da fama e popularidade do Peyo preceder a série animada. Afinal ele enquanto cartunista era conhecido e popular e como autor de quadrinhos, ele assinava seus trabalhos, e portanto era conhecido.

Na mesma lógica o nome do Hergé aparecia nos créditos iniciais do desenho do Tintin.

Mas saindo do espectro de adaptações de quadrinhos europeus com autores populares. Eu acho que talvez o primeiro tenha sido Alvin and the Chipminks de 1983. Que não colocou o “created by” na abertura nas cinco primeiras temporadas, mas incluiu na sexta temporada, em 1989. Marcando bem a transição de épocas.

E se teve outro além de Alvin, certamente não é nada maior que The Simpsons, que incluía a frase Created by Matt Groening em seus créditos iniciais. Matt Groening também era cartunista, mas os Simpsons não eram uma história em quadrinho. É diferente dos Smurfs.

Mas enfim, um dos pioneiros nesse levante de autoralidade de animação que existiu nos anos 1990, e um dos mais importante foi justamente a Nickelodeon, o grande tema do texto. Que em 1991 estreou simultaneamente três séries animadas exclusivas deles, e os três primeiros Nicktoons, todos contendo o nome dos autores nos créditos iniciais, isso não era a norma ainda.

Eram essas séries: Doug, criado por Jim Jinkins. Ren & Stimpy criado por John Kricfaulsi. E Rugrats criado por Arlene Klasky, Gabor Csupo e Paul German.

Vamos falar sobre esses três últimos

Não muito sobre o Paul German na real…. Absolutamente nada contra ele. Respeito muito. Mas é que eu realmente quero falar de Arlene Klasky e Gabor Csupo.

Porque Arlene Klasky e Gaor Csupo são duas pessoas que em 1982 fundaram um estúdio de animação chamado Klasky Csupo. O Klasky Csupo fez seu debut no mundo das séries produzindo as três primeiras temporadas dos Simpsons (lembra, eu mencionei eles ali em cima, como pioneiros em autoralidade). E após os Simpsons eles fecharam uma aliança com a Nickelodeon para produzir séries animadas para o canal que foi de onde a Nick tirou metade de seus nicktoons clássicos.

Da parceria da Nickelodeon com a Klasky Csupo saíram Rugrats, Aaahh!!! Real Monsters, The Wild Thornberries, Rocket Power, As Told By Ginger e All Grown Up.

Desses o único que não foi uma criação direta da dupla que fundou o estúdio foi As Told By Ginger, que é da autoria de Emily Kapnek. E aí não só é a Klasky Csupo se destacando por dar espaço pra autoras mulheres, o que era raro pra caralho antes dos anos 2010 (e agora é só incomum), o que não é de se suspeitar, visto que a Arlene Klasky é uma autora mulher que calha de ser a dona do estúdio. Enfim. Emily roteirizou mais da metade dos episódios de Ginger, dublou personagens, compôs a musica de abertura e era visivelmente uma autora com muito controle criativo da própria obra. Pois a Klarky Csupo valoriza isso.

Fora da Nickelodeon a Klasky Csupo também produziu a série Duckman, inclusive, que também dava um grau de liberdade alto pra seu criador Everett Peck.

Enfim, onde eu quero chegar, é que a Klasky Csupo fez, muito pelo crescimento da autoralidade na área da animação. Muito mesmo. E sua parceria com a Nickelodeon foi parte fundamental disso, e ao mesmo tempo que a Nickelodeon deu poder pra Klasky Csupo ser um dos líderes dessa onda que rolou nos anos 1990. A Klasky Csupo deu prestígio pra Nick se firmar como um dos maiores polos de autoralidade da época.

E a Nick até hoje se vende na memória de ter sido um polo de autoralidade. Com o slogan Creator-Driven Kids Inspired, que eles colocam no seu canal do youtube.

Enfim o que eu quero que vocês tirem dessa introdução? Dois pontos.

1- Ter o autor no centro de uma série animada, os assim chamados Creator Driven Cartoon são um fenômeno que tem três décadas, o que é relativamente pouco tempo em um esquema que dura 70 anos.

2- Entre os pioneiros dessa onda, estava em destaque a Nickelodeon, e o estúdio Klasky Csupo, ambos em uma parceria benéfica para a carreira de ambos e também para firmar Creator Driven Cartoons nos EUA.

Isso, está estabelecido? Ótimo, mas agora vocês devem estar se pensando porque eu ressalto a importância da Nickelodeon em dar um pontapé inicial da onda de autoralidade que veio nos anos 1990, se esse texto é pra criticar a Nick? Bem, primeiro é porque tem mesmo em críticas (aliás, principalmente em críticas) deve-se dar o mérito a quem tem mérito. Mas o real motivo é pra avisar como essa parceria acabou.

Em 2006 os produtores cancelaram a parceria no argumento de que cansaram do estilo do estúdio e nada mais. Todas as produções de projetos que a Klasky Csupo tinha com a Nick foram cancelados, inclusive o spin-off de Rugrats que tinha acabado de estrear e não fez mais que uma temporada, e 26 pilotos planejados para novas séries não foram nenhum concluído. Nessa época o CEO da Klasky Csupo largou o estúdio, e o estúdio parou produção de séries por anos.

Até retomar com Robosplat 10 anos depois do fim da parceria com a Nick, em uma websérie que pode ser vista no canal de youtube exclusivo deles.

Enfim, uma parceria de sucesso sólida que a Nick cancelou por capricho. Porque cansou de ter a parceria, e jogou um parceiro a quem eles deviam muito se seu sucesso para a inatividade por uma década.

O que é um exemplo de como a Nickelodeon faz negócios.

Como a Nickelodeon faz negócios?


Qual é o ciclo da vida de uma série da Nickelodeon? A Nick faz uma parceria em prol de uma série de televisão, oferecendo liberdade criativa. A série faz um desenho nos seus moldes. A Nick dá pitaco a respeito de não gostar a direção da série, rola um atrito entre a Nick e os criadores,e o atrito é resolvido com a Nick cancelando o show e inviabilizando os planos futuros para o show.

Eu falei aqui que a Klasky Csupo foi simplesmente abandonada porque a Nick enjoou do estúdio, mas junto de Rugrats estreou Doug também. O contrato inicial por Doug, com o estúdio Jumbo Pictures foi o de 65 episódios. Porém no episódio 52, a Nick decidiu que Doug simplesmente não valia a pena de se manter. E vendeu a série pra Disney.

Na Disney Doug ganhou uma vida de menos prestígio, já que equipe e público concordam que o auge da série são os episódios da Nickelodeon, mas ganhou um desfecho e um filme, e provou pra Nick que Doug era um desenho incrivelmente rentável, algo que o estúdio não confiou.

Mas vamos falar de Angry Beavers.

Angry Beavers foi um desenho com um constante conflito entre seu criador Mitch Schauer e a Nickelodeon, imortalizado pelo incidente em que a Nickelodeon brigou por que o desenho fez um personagem dizer “Shut up!”(cala a boca) no primeiro episódio, e a Nick colocou um beep de palavrão em cima da palavra, para censurá-la. E desse primeiro passo em diante, o desenho consistiu de inúmeras brigas sobre se o conteúdo do desenho podia ou não podia ser veiculado, até o derradeiro cancelamento que é a história mais infame do desenho.

Quando Mitch Schauer se cansou de brigar, ele resolveu finalizar a série com um episódio final chamado Bye Bye Beavers, em que os personagens descobrem que eles são um desenho sendo cancelado, e lamentam juntos tudo o que não viverão. Com algumas piadas internas sobre brigas específicas com a Nickelodeon, e uma lavagem de roupa suja, o episódio era pra representar Mitch Schauer eutanasiando o próprio desenho por não querer mais trabalhar com a Nick.

Mas o autor tem o desejo de matar a obra nos próprios termos? Claro que não.

Bye Bye Beavers nunca foi finalizado e nunca foi ao ar, o episódio foi interrompido e cancelado durante a produção. Por desrespeitar duas regras importantes.

Regra Número 1: Um desenho da Nickelodeon nunca pode fazer piada de metalinguagem e reconhecer que é um desenho. Nem ideia do motivo por trás dessa regra.

Regra Número 2: Um desenho da Nickelodeon nunca pode reconhecer ou deixar claro que um de seus episódios é o episódio final. Para essa eu sei o motivo. Pois se isso acontecer vai estragar as reprises em ordem aleatória ad infinitum que a Nick pretende por os episódios.

Então dar um fechamento e um senso de conclusão ao público era literalmente proibido. O último episódio de Angry Beavers nunca foi veículado, mas scipts e detalhes foram intensamente vazados na internet. E o estúdio que fazia Angry Beavers, que era o mesmo estúdio que fez Alvin and the Chipminks listado mais acima, encerrou atividades e fechou, por perder seu maior parceiro.

Eu mencionei acima, mas reforço, o que rolou com Hey Arnold tem seu próprio texto.

E eu acho interessante olhar pro que rolou com My Life as a Teenage Robot, justamente porque foi um exemplo muito mais de boa do que o que rolou com Angry Beavers.

My Life as a Teenage Robot tinha a faca e o queijo na mão. A série era criada por Rob Renzetti, o terceiro mosqueteiro do trio Genndy Tartakovsky, CraigMcCracken e Rob Renzetti, três colegas de classe da Calarts (faculdade de artes da California de alto prestígio), que estagiaram juntos no começo de suas carreiras e que se ajudaram em todos seus projetos iniciais como grandes amigos. Tartakovsky fez Dexter’s Lab e McCracken fez Powerpuff Girls, e Renzetti fez My Life as a Teenage Robot, então porque só o terceiro deu errado? Poderia ser porque foi o único produzido pela Nickelodeon?

My Life as a Teenage Robot, mantinha o mesmo equilíbrio entre ser uma série de ação, luta e batalha e abraçar a feminilidade de sua heroína que Powerpuff Girls ou Kim Possible dois sucessos da época tinham. Ela era produzida por Fred Seibert que tabém era o homem por trás de Dexter e Powerpuff Girls, e era uma série que acidentalmente se tornou popular no nicho lgbt, por focar em luta por ter identidade respeitada, e no desejo de Jenny de ser tratada como menina e não como máquina, em especial sendo chamada pelo seu nome. O que rimou muito com assuntos de pessoas trans, embora o Renzetti tenha declarado que ele não pensou nessa rima na época.

Pois bem. My Life as a Teenage Robot não fez uma audiência significativa, e foi cancelado para seu espaço no canal ser substituído com reprises de Spongebob que fazia muito mais sucesso, sua terceira temporada foi exibida num canal separado que a Nick tinha na época chamada Nicktoons, então sequer exibiram a temporada final no canal. O desenho acabou sem nenhum tipo de fechamento. E Rob Renzetti nunca mais trabalhou pra Nickelodeon na vida.

Ele foi ajudar o McCracken a fazer Foster’s Home for Imaginary Friends, depois foi ajudar a Lauren Faust a fazer My Little Pony Friendship is Magic, depois foi ajudar Gravity Falls e agoa tá ajudando Ducktales. Então não houve briga nem nada, só uma ligeira má vontade com um show subestimado, e um notório não retorno dele pra Nick.

E eu podia passar o texto inteiro listando exemplos. Falar da Nickelodeon ter barrado o Grand Finale de Invader Zim. Falar dos cinco cancelamentos que Fairly OddParents teve por não fazer tanto sucesso quanto Spongebob, falar dos inúmeros projetos que a Nick mandou o Butch Hartman fazer em paralelo a Fairly OddParents só pra ver eles sendo cancelados. Falar da briga com o pessoal de Legend of Korra em relação ao final da série em que duas garotas ficaram juntas, o episódio não só foi obrigado a deixar ambíguo o status de casal das garotas, como os próprios criadores vazaram o episódio com antecedência na internet com medo da Nick não transmitir o episódio. Falar sobre como o criador de Loud House foi pego no Me Too e afastado do canal por assédio sexual, e então reforçando a ideia de que o autor não é dono do produto, em fez de cancelar a série por isso, eles só mudaram o showrunner e continuaram produzindo episódios como se nada tivesse acontecido (e aproveitaram o afastamento dele pra liberar uns spin-offs). Podia falar sobre como Rocko’s Modern Life foi cancelado pois a Nick achava que os roteiristas já tinham chegado no auge e que eles deviam parar no topo antes de decair. Ou dos episódios finais de ChalkZone que a Nick demorou três anos pra exibir depois de seu cancelamento.

Mas tudo isso ia demorar tempo demais e repetir os mesmos pontos. Na Nick, cancelamentos são feitos por capricho, a série não precisa ter feito nada errado, só precisa não ter feito certo o suficiente. A Nick some com os episódios, sem exibi-los. E sabota qualquer tentativa de finalizar a série, pois ela é contra fechamento, que atrapalha reprise. Os autores são substituíveis podem ser trocados, e não levam a série com eles quando vão embora. Butch Hartman já comentou que as vezes ele tem vontade de comprar Danny Phantom da Nick só pra terminar a série.

E o mais importante é. Cancelamentos muitas vezes caem na conta de “sua série é boa, mas não dá o dinheiro de Spongebob. E bem, tá na hora de falarmos do desenho que nunca foi cancelado em vinte e dois anos.

Spongebob Squarepants:

A menina dos olhos da Nickelodeon. O desenho de maior sucesso da história do estúdio. Uma das animações da maior sucesso da história. Uma mina de ouro incomparável. Como é que a Nick negocia com eles em particular?

Bom, não é como se a Nick não tivesse tido seus vários desentendimentos com Stephen Hillenburg. É mais que sendo Spongebob Squarepants o desenho chefe do canal, a Nickelodeon não pode simplesmente cancelar nada.

Hillenburg era famoso por ser teimoso, e logo de cara, antes da série ser aprovada a Nick só queria aprovar se o protagonista Spongebob fosse uma criança, E Hillenburg não cedeu o pé. Nem a Nick. Eles conseguiram se acertar em um meio termo em que o Spongebob teria a eterna necessidade de tirar a carta de motorista, que ele nunca tirava, e isso garantia uma maneira de fazer ter vários episódios sobre ele na escola. E com isso o Hillenburg conseguiu manter o personagem adulto.

Ao longo desses vinte anos, Hillenburg também inúmeras vezes rejeitou ideias de crossovers e de spin-offs. Ele explicitou em diversos momentos que era contrário a existência de qualquer uma das duas coisas. Tem fã que exagera e fala que era uma regra absoluta de ódio aos spin-offs, quando era só algo que ele de fato rejeitou. E declarou publicamente não querer.

As palavras exatas dele foram “Vai chegar um momento em que vão querer fazer uma versão bebê de Spongebob e quando isso acontecer eu caio fora.”

Enfim. Em 2018 Stephen Hillenburg faleceu devido a um aneurisma com o qual ele lutou por um ano, uma situação triste. Uma comoção enorme por vários pontos que eu pude observar por um cartunista que mostra o quão querido e amado ele foi por ter feito um desenho tão importante pra muita gente.

Agora, sabe quem não ficou triste? A Nickelodeon, que no contexto da morte de Hillenburg mostrou de maneira muito pouco discreta que só estava esperando o Hillenburg morrer, e poucos meses após seu falecimento, começou a trabalhar no Spin-Off do Spogebob criança. Sem nem esperar o corpo esfriar.

Pois bem, essa notícia foi recebida com grande desgosto de quem sabia que Hillenburg era contra Spin-offs. O já mencionado aqui o Rob Renzetti, ex-autor da Nickelodeon, falei dele agora há pouco, fez um tweet questionando a ideia de se fazer esse spin-off.

Mas quem realmente se manifestou contra Kamp Koral, foi um sujeito chamado Paul Tibitt. E vocês me perguntam que é Paul Tibbit?

Paul Tibbit é um do roteiristas e diretores de Spongebob Squarepants desde sua primeira temporada. Quando Stephen Hillenburg resolveu diminuir seu envolvimento na série, ele deixou Tibbit no comando como novo showrunner, alegando que de todos ali, Tibbit era quem melhor entendia ele. E Tibbit é um dos poucos profissionais que trabalharam com Spongebob que manteve um laço de amizade real com Hillenburg, ao ponto de ter visitado ele ao longo de sua doença, e ir continuado ver o amigo quando esse sequer conseguia falar mais de tão avançada que estava sua situação.

E esse sentimento de passagem de bastão foi simbolizado inclusive, pelo personagem do Papagaio Potty, que era dublado pelo Hillenburg, mas quando ele se afastou da série, ele deixou para Paul Tibbit ser o novo dublador do personagem também. Pois bem, Tibbit deixou de ser o showrunner de Spongebob lá por volta de 2015. Quando o novo showrunner se tornou Vincent Waller, que cuida até hoje.

Pois bem, introduzido esse personagem, Paul Tibbit meteu um tweet criticando Kamp Koral como um golpe de ganância do estúdio passando por cima dos desejos de Hillenburg.

E é aí que o bagulho fica tenso, pois a Nickelodeon não ficou em silêncio. Danny Giovanni que coordena os scripts de Kamp Koral. Respondeu que Hillenburg sabia sobre o Spin-off e o aprovou, tanto que o Spin-off foi baseado em uma cena do terceiro filme, e o Hillenburg esteve vivo durante parte da produção do filme. E o cara simplesmente acusa o Tibbit de ter passado simplesmente tempo demais longe da produção de Spongebob para entender o que está rolando.

Assim reforço, longe da produção, mas perto o suficiente do Hillenburg, um amigo do qual ele ajudou a cuidar conforme sua doença avançava.

Agora o louco é que o Giovanni falou isso em maio de 2020, quando em fevereiro ele havia negado qualquer conhecimento sobre o Hillenburg estar ou não informado.

Todas essas contradições foram expostas e Giovanni apagou o comentário que fez contra Paul Tibbit fez uma nova declaração, admitindo que mentiu, que até onde ele sabe Hillenburg não tinha a menor ideia sobre os planos de spin-off, e que ele mentiu para proteger quem trabalhava em Kamp Koral.

Então aqui as três declarações.

Depois disso Vincent Waller tweetou falando que Hillenburg se estivesse vivo estaria orgulhoso do spin-off, e bem. Ele fala com uma certeza suspeita que pessoas com mais credibilidade não tem. E a internet entrou em um grande debate se dava pra ter certeza se ele sabia ou não sabia, aprovava ou não aprovava, mas vamos lá.

Ele faleceu em novembro de 2018.

O anúncio oficial foi feito em junho de 2019.

O spin-off supostamente foi decidido em uma reunião na Nickelodeon que supostamente ocorreu em outubro de 2018. Quando Hillenburg já era um doente terminal. Não existe a menor chance de alguém que foi nessa reunião ter imaginado que Hillenburg viveria para ver o que acontecia. O timing é muito óbvio. E essa reunião foi feita pouco depois de um sujeito chamado Brian Robbins, ser promovido a presidente da Nickelodeon. Brian Robbins virou presidente da Nick depois que ele já sabia da situação de saúde de Hillenburg. E Brian Robbins declarou que a franquia Spongebob ia ser o universo Marvel da Nickelodeon.

O que Robbins disse. Artigo completo aqui.
O que Hillenburg disse.
Artigo completo aqui.

E seis meses depois de sua morte eles fizeram o projeto público.

Não é ambíguo nem disfarçado. Os planos começaram a ser feitos com ele vivo, pelo mesmo motivo que um abutre começa a seguir um animal cambaleando. Eles estavam esperando ele morrer, e já faziam com ele vivo os planos que seriam posto em prática assim que morresse.

E calma lá tem mais questões.

Pois tem gente que ficou na defensiva, alegando que o spin-off certamente teria uma proposta diferente e nova, por exemplo, tentar fazer uma versão mais infantil de Spongebob para outro público-alvo.

Mas não! Vincent Waller alegou que eles não estão mudando o público-alvo nem estão mudando o estilo do show. Só estão mudando o cenário.

…e a idade dos personagens.

Lembram ali em cima de porque o Spongebob precisa de um subplot para tirar a carta de motorista? Lembram de qual foi o primeiro conflito com a Nickelodeon?

E agora a professora de direção dele é a instrutora normal do acampamento de verão onde o Bob Esponja passa a infância.

É um show com os mesmos personagens, os mesmos dubladores, a mesma equipe de produção que toca as temporadas atuais, o mesmo estilo de humor, só que agora o Spongebob é criança. A Nick conseguiu, demorou 22 anos, mas eles conseguiram mudar o desenho pra ser o que eles queriam que fosse desde o princípio.

Outro ponto, é que tem gente que levanta o ponto de que quando Hillenburg disse que pra ele não fazia sentido dar um spin-off, pois o show era sobre o Spongebob seus amigos, e dar uma aventura só pro Patrick não faria sentido, que o que está sendo feito em Kamp Koral não contradizia isso. O que é um bom ponto, mas olha, isso tudo não vai parar em Kamp Koral, vai só começar com Kamp Koral. Pois o The Patrick Star Show já foi anunciado.

Por isso lembrem-se, sempre que você comprar uma briga com uma empresa, você tem um tempo de vida limitado e a empresa não necessariamente. Pois a empresa sempre pode esperar você morrer. E os mortos não reclamam.

E se a perspectiva dos autores começarem a morrer ser uma boa notícia pra Nickelodeon otimizar seus lucros não te assusta, então eu não sei o que dizer, pois isso é horrível para todas as relações emissora-autor futuras.

Enfim. Estamos em uma época complicada, em que as companhias estão cada vez mais interessadas em parecer respeitosas as profissionais, e cada vez menos respeitando a mortalidade de pessoas envolvidas em franquias que eles querem que seja imortais.

Todo mundo viu que para fazer o episódio IX de Star Wars só faltaram amarrar cordinhas no cadáver da Carrie Fisher, Não havia nenhum motivo pra colocá-la no filme, e não terem matado a personagem da Princesa Leia, e o resultado final foi bem mal lido pelo público.

Mas como os Animaniacs apontaram bem na sua canção de reboot, mexer com os mortos não é um impedimento de quem trabalha com franquia.

A Nickelodeon nunca teve uma relação boa com seus autores, nunca foi uma aliada deles, e a má gestão da Nickelodeon acabou destruindo alguns bons e autorais estúdios de animação. E eles fazem isso tem 30 anos, mas agora eles passaram da linha. Pois agora eles ativamente esperaram, agouraram e monetizaram a morte do artista que mais ajudou o estúdio a crescer.

E a Nick tem mais é que se foder. Esse canal é podre.

Os outros canais estão de mãos limpas? Obviamente não. O Cartoon Network tem seus podres, e a Disney definitivamente também. Mas agora, enquanto esperamos Kamp Koral estrear eu acho importante dizer: A Nickelodeon tem mais que se foder!

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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