Como a cultura pop relaciona nome, identidade e respeito

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Olá, esse texto não será sobre nenhuma obra específica e sim uma noção geral de que valores a cultura pop tradicional presume que o seu publico entenda facilmente sem precisar ser explicado e explora em várias narrativas. Então eu vou citar coisa pra cacete, e bem, tem sempre o lance dos spoilers. Existe um bom Spoiler de Steven Universe no meio do texto que talvez seja grave, mas aí também imagino que boa parte do meu público esteja familiarizado com Steven, mas fica o aviso.

De outras séries existem leves spoilers, que eu analisei bem e julguei inofensivos e que na moral, tem muita experiência não estragada se você levar esses, mas como a polícia do spoiler de fato passa um pente fino nas coisas, sou obrigado a dizer que pra todas as obras de ficção listadas abaixo, existem spoilers:

Tendo passado por esses protocolos eu quero começar o texto de hoje falando um pouquinho de One Piece.

Em Junho de 2020, em pleno arco de Wano, foi introduzido esse personagem chamado Yamato que chegou já incrivelmente popular e atualmente é um dos personagens que o fandom especula se vai ou não se juntar ao Bando do Chapéu de Palha, porém ao lado do carisma estrondoso dele, de entrar nos trending topics do twitter só por ter uma imagem oficial do personagem colorida, veio também uma polêmica grande. A de seu gênero.

Pois apesar de ouvirmos por semanas que ele era o filho de Kaidou, com o aspecto masculino da palavra filho muito bem enfatizado e antes dele relevar seu rosto, sem deixar nenhum traço de ambiguidade (algo não garantido na maneira como a língua japonesa não tem a necessidade de reforçar o gênero das pessoas das quais falamos, mas explicitamente reforçou para o Yamato), quando ele enfim aparece, vemos que sua aparência era essa.

Pois é! Pegou muita gente de surpresa. No começo do mesmo arco, lá em agosto de 2018 o Oda nos havia apresentado Kiku, uma mulher trans assumida e que fugia de qualquer estereótipo, caricatura ou galhofa de outros personagens que quebravam os padrões de gênero como Mr.2 Bon Kurei ou Ivankov, que apesar de estarem entre os personagens mais carismáticos, inspiradores e divertidos do Oda, passam longe de tentarem ser personagens identificáveis ou que aproximem o leitor de discussões sobre variância de gênero. Porém a Kiku não, ela foi uma mulher trans que não era um personagem primariamente cômico. E enquanto foi relativamente ““““fácil”””” pro fandom entender que Kiku era uma mulher trans, e, portanto, deveria ser tratada como uma mulher (embora tenhamos canalhas por todo o lado, e tenhamos tido uma edit-wars em relação a pronomes também na wikia de One Piece, foi fácil porque a gente venceu fácil a guerra), quando chegou o Yamato o fandom teve uma relação bem diferente com o assunto.

A caixinha de texto do Oda chamando o Yamato de “filha do Kaidou”, e a explicação oficial por trás do personagem se chamar no gênero masculino, parecendo ser menos uma não-identificação com o gênero que lhe foi designado ao nascer e mais uma imitação de um homem que ele admira e a crença de que ser homem era necessário para emular seu ídolo, tudo isso serviu de combustível pro pra uma parte grande do fandom negar que o Yamato seja um homem trans, e portanto pra parte do fandom se recusar a se referir a ele como um homem, usando os pronomes adequados.

Trecho de uma discussão do Reddit onde Yamato é tratado como mulher ao longo da discussão.

E essa recusa em tratar o Yamato como homem, apesar de Yamato tratar a si mesmo como homem, e de Luffy (seu aliado) tratar Yamato como homem, e de Kaidou (seu pai e inimigo) tratar Yamato como homem me chamou a atenção. Pois pra essa parcela do fandom parecia muito importante se referir ao Yamato como a caixa de texto se refere ao Yamato. Uma maneira de priorizar quem ele é na teoria e diferenciar de quem ele é na prática. E essa insistência, que é derivada da transfobia, e quanto a isso não existe nenhuma ilusão, me chamou muito a atenção. Estou faz meses pensando nisso.

Esse texto não vai ser pra explicar por que o Yamato é um homem trans, até porque não me sinto confortável batendo esse martelo, embora eu pessoalmente acredite que provavelmente seja o caso. Esse texto nem vai ser exatamente sobre One Piece, isso é só um ponto de partida para desencadear o resto do pensamento, e um exemplo recorrente pelo resto do texto.

Agora o que esse texto poderia ser é uma análise sobre o que torna a Kiku mais fácil de aceitar que o Yamato. E falar sobre a necessidade de um púbico cis de exigir uma comprovação de que um personagem é trans acima de qualquer sombra de dúvida, antes de tratar o personagem pelos pronomes que ele quer ser tratado. Poderia também falar sobre o fenômeno do Culto à Waifu, em que aceitar o gênero de Kiku nos permite que ela seja nossa waifu, porém aceitar o gênero do Yamato faria o fandom perder uma waifu. Eu adoraria falar sobre isso, mas infelizmente não me sinto qualificado para me aprofundar para além do que acabei de falar nesse parágrafo. Precisaria de ajuda.

Uma das versões da Kiku nos gacha de One Piece: One Piece Treasure Cruise, onde ela oferece comida ao jogador. E olha, eu não me iludo por um minuto, eu imagino que o Yamato vá receber tratamento de waifu pelo Gacha quando seu personagem sair.

Mas eu não fiquei alheio não ao processo em que a demanda de uma parcela do fandom em fazer propositalmente misgendering no Yamato, passou forte por uma racionalização de “não é um personagem trans de verdade.”, e uma análise de passagens na obra que tentassem quebrar a legitimidade de quem interpretasse que o personagem era um homem trans.

Aqui, um fã no reddit acusa Yamato de roubo de identidade, e aponta que ele não se “vestir de homem” nega que ele se veja como homem.

E assim, eu pessoalmente acho que existe algo na maneira como o personagem foi abordado, em especial o fato de que o personagem deixou implícito sim que seu gênero foi uma escolha e que ele escolheu ser homem por um capricho e não por uma identificação pessoal. E eu acho que isso é um ponto de partida interessante e válido para debates sobre representatividade trans da mídia, e sobre uma série de falácias que podem surgir quando escritores cis descrevem variância de gênero na mídia, que poderiam iniciar várias análises aprofundadas com como o Oda trabalha variância de gênero. Mas não foi esse tipo de debate que essa parte do fandom realmente levantou.

Isso não é realmente um debate de “podia ter se informado melhor antes de escrever”, isso é não só acusar Yamato de ser mulher, como se der mulher perturbada e louca, o que já trás outras conotações sexistas e uma longa história de mulheres loucas fictícias.

Eles queriam ao máximo racionalizar a não-necessidade de tratar Yamato no masculino, quando Yamato explicitamente usa pronomes masculinos para se referir a si mesmo. Sob o argumento de que respeito aos pronomes é algo que a gente exige que façam com pessoas trans, e se Yamato não for trans, esse respeito se torna desnecessário.

Sim, de fato muita mulher cis usa o pronome masculino “boku” por uma gama de motivos grande. Mas o pronome ainda é masculino, e os motivos dessa gama grande de motivos todos dialogam com papel de gênero, expressão de gênero e questionamento de normas de gênero. O pronome é claramente masculino. Isso não é uma prova de que ninguém é trans, mas também não deve ser tratado como se não fosse Yamato se referindo com pronomes masculinos.

O que é uma grande rima do que aconteceu no fandom de Hunter X Hunter anos atrás, onde a wikia do mangá sofreu muito tempo de edit wars, em relação ao gênero da personagem Alluka. Em que uma parcela do fandom se recusou, e se recusa até hoje a reconhecer a que Alluka seja uma personagem trans, e que, portanto, deva ser referida por pronomes femininos.

Culminando nesse texto de 22 páginas explicando para além de qualquer sombra de dúvida porque a personagem deve ser referida no gênero feminino e é isso aí.

Enfim. Aonde eu quero chegar? Eu não vim aqui para ditar regras de como poder dizer se um personagem que quebre normas de gênero pode ser identificado como trans ou não. Eu sou cis demais para sentir que tenho algo sólido a agregar nesse tipo de debate, eu poderia repetir o que gente mais entendida que eu disse que eu concorde, mas não acho que isso deveria ser o centro do texto de hoje, somente o ponto de partida. Eu prefiro no lugar disso, propor uma ideia diferente.

O que eu quero propor é anular o argumento de que esses personagens “não são trans de verdade” como racionalização barata, propondo o argumento de que mesmo se Yamato e Alluka não fossem personagens trans. Mesmo se viesse uma nota oficial no mangá One Piece assinada pelo Oda falando “Esse personagem sob nenhuma interpretação possível deve ser considerado transgênero, pois eu disse assim.”, mesmo assim, ainda deveríamos nos referir ao Yamato no masculino. Pois, embora o ponto exato do espectro em que Yamato se encontra está de fato com margens para interpretação, os seus pronomes não estão. Eles são explicitamente masculinos. E não existe debate sobre a identidade de gênero que altere a expressão de gênero desses personagens.

E chamar um personagem pela maneira como um personagem quer ser chamado é uma questão de respeito ao personagem. Simples assim.

Esse respeito não é um respeito que reservamos somente às pessoas trans, muito pelo contrário. Na prática é uma coisa que as pessoas aplicam a todo mundo por default, e é no caso das pessoas trans, que pela transfobia, começaram a racionalizar motivos para não o fazer. Mas todo mundo tem o direito de ser tratado nos termos em que quer ser tratado, e se você for cis, você provavelmente será com poucos problemas. Pessoas cis e trans ambos fazem expressão de gênero e esperam ser tratados da maneira apropriada, o fato dessa expectativa não ser quebrada para 99% das pessoas cis, não significa que essa lógica não se aplica a elas, só que a sociedade não tem nada contra pessoas cis.

Esse é um direito associado a luta das pessoas trans, por não receberem por default, o que é um absurdo que não aconteça. Pois todo mundo merece ter a própria identidade respeitada igualmente, e já são, e é só passar cinco minutos olhando pro mundo e vemos que a gente entende isso facilmente. Então qualquer uma das interpretações (que são canalhas) de Yamato não ser tecnicamente trans não realmente deveria ser usada como pretexto para chamá-lo no feminino, pois ele ainda é uma pessoa cujos pronomes são masculinos.

No texto japonês, o Luffy explicitamente usa o kanji de “homem” pra se referir ao Yamato.

Assim como no caso de Alluka, o mangá deixou claro que chamá-la no feminino era um sinal de que o personagem a respeitava enquanto pessoa, e chamá-la no masculino era um sinal de que não, que a via como uma coisa desumanizada. E isso é explicito no mangá, e, portanto, se aplica ao fã também, é uma questão de demonstrar respeito ao personagem.

Esse texto também não é para ensinar isso pra ninguém. Mas por um motivo: ensinar não é bem a palavra. Eu não preciso ensinar isso pra ninguém POIS TODO MUNDO JÁ SABE DISSO.

Esse texto e agora vou finalmente parar de falar sobre o que esse texto não é e explicar sobre o que ele é. Esse texto é para lembrá-los de que a cultura pop sempre usou o fato de um personagem insistir em ter um ponto específico da sua identidade reconhecida, como um parâmetro para entendermos se está sendo ou não respeitado pelos demais personagens. A luta pela própria identidade é uma luta clássica da ficção. E a luta por uma identidade é o feijão com arroz de um número enorme de arcos de personagem. E afirmação de identidade está de uma forma ou de outra no cerne de algumas das mais populares histórias que conhecemos. Pois um mundo que não te vê pelo que você é de verdade é um conflito comum e identificável com a qual as pessoas tem uma facilidade de se projetar nessa luta. E essa afirmação do seu ser, esse desejo de ser a si mesmo e a vitória que é conseguir ser a si mesmo, sério, metade da cultura pop é sobre isso.

Isso pode ser o nome do personagem, seu título, algum status dele, ou mesmo sua ocupação. Não importa. A luta de um personagem pelo reconhecimento de sua identidade, está em mais obras do que sou capaz de listar, mas vou fazer um esforço para listar um monte delas. No final de uma história, quando um personagem começa a chamar o outro pela maneira que queria ser chamado, é um sinal de progresso, sinal de uma amizade brotando, do desenvolvimento de personagem engatando, ou de uma vitória pessoal do personagem. E que qualquer personagem tem o direito de ser a pessoa que quer ser, e fã nenhum nunca teve dificuldade em enxergar isso, até personagens trans começarem a ganhar mais espaço na mídia mainstream.

Dá para comer essa bola, mas essa cena é o único momento em que Zeff e Sanji chamam um ao outro pelo nome, quebrando a barreira de grosseria e insulto que disfarçava o amor que eles tinham durante todas suas interações.

Aí do dia pra noite o público passou a ter que reaprender o beabá da caracterização de personagem.

Nome e identidade.

Se tem uma coisa que existe em grande quantidade no mundo são personagens que rejeitam o nome que eles receberam ao nascer e preferem ser chamados por outro nome, adquirido em outro contexto. Isso pode ser o nome completo ou só parte dele.

Em One Piece: Portgas D. Ace foi batizado de Gol D. Ace pela sua mãe quando nasceu, porém ele nunca reconheceu em si mesmo o sobrenome Gol, pelo desprezo absoluto que ele tem a seu pai, e adotou para si mesmo o sobrenome Portgas, de sua mãe. Sobrenome pelo qual ele é reconhecido pela sua família, por seus amigos e inimigos. Por outro lado Sanji que também abandonou o sobrenome de seu pai, não colocou um novo sobrenome no lugar e decidiu ser somente Sanji, e fica indignado quando seu cartaz de recompensa o chama por um sobrenome que ele não reconhece como o dele. E temos Franky que não parou somente no sobrenome, ele fugiu de casa e ao formar uma família nos Tom Workers substitui seu nome Cutty Flam pelo apelido Franky que seu rival Iceburg lhe dá.

Tudo bem que Franky só abandonou seu nome de batismo de maneira definitiva quando ele precisa de fato ficar incógnito e fraudar sua morte. Mas o fato de que quando ele fez isso ele seguiu usando o nome Franky, o nome dado por um homem com quem ele passou oito anos brigado lhe deu mostra como não importa o quão azeda sua relação com Iceburg estivesse, ele não deixou de ver Iceburg como família, pois deu ao Iceburg o poder de rebatizá-lo.

E quando a CP9 insiste em se referir a ele como Cutty Flam tem o peso de uma ferida sendo aberta nele. Hoje os inimigos dele que sabem seu nome real sabem que ele está vivo, mas ele mantém o nome que Iceburg lhe deu, ele nunca voltou a ser Cutty Flam, pois ele não tem motivo para ter outro nome, e ninguém que não queira vê-lo executado tem motivos para chamá-lo de qualquer coisa que não seja Franky.

E o mais importante, NÓS o chamamos de Franky, ninguém fala sobre Cutty Flam ou Gol D. Ace em nenhum fórum de One Piece. Você não entra em um único subreddit em que o fã esteja falando sobre o Cutty Flam.

Por outro lado, tanto Goku quanto Superman são alienígenas que vieram ainda bebês para a Terra e foram adotados e rebatizados aqui. Goku se apresenta aos demais como Son Goku, não como Kakarotto, e apesar dele nunca pedir pra Vegeta parar de chamá-lo de Kakarotto, é visível que ele não reconhece aquele nome como seu. Assim como para Superman Kal-El é um nome para ser usado somente em contextos muito especiais, mas o nome que ele toma como seu e o nome pelo qual seus amigos o chamam é Clark.

No desenho Young Justice, Superboy, que nasceu sem um nome de verdade, permite que sua então amiga, Miss Martian, o batizasse de Conner por ser seu nome favorito, e então escolheu o sobrenome Kent para homenagear o seu falecido amigo Kent Nelson. E esse passa a ser seu nome baseado no fato de que ele escolheu que fosse. Enfim, também válido dizer que esse episódio se passa dois episódios antes de Superboy e Miss Martian se tornarem oficialmente um casal, e ele ter permitido que Miss Martian o batizasse é um sinal claro de quanta confiança e intimidade ele dava a ela.

Ainda em Young Justice, Miss Martian anglicaniza seu nome marciano de M’gann para Megan sobre o pretexto de se passar como uma terráquea, porém isso vinha lado a lado dela querer emular a vida da protagonista de uma sitcon que ela gostava chamada Hello Megan, e querer viver a vida da personagem. Ao longo da série, conforme ela vai recebendo aceitação dos seus amigos ela vai gradativamente perdendo a necessidade de escapar e de ser Megan, e isso se mostra não só dela oficialmente voltando a se referir a si mesma como M’gann, como ela diminuindo cada vez mais o quanto ela usa sua mudança de forma para se assemelhar a de Megan. Enfim, ela nunca chega a ter aversão ao nome M’gann ou nada sequer parecido, mas ela abertamente queria se ver como Megan como parte de querer se ver como terráquea. Porém o importante é ver que embora todo mundo saiba que a Miss Martian faz isso desde a primeira temporada, é uma decisão dela continuar fazendo, e se ela quer parecer com a Marciana Branca que ela nasceu sendo, com a Marciana Verde que ela queria ser ou com a personagem de sitcon onde ela projeta uma persona terráquea ideal, isso tudo é retratado como uma questão pessoal dela com ela mesma, ela é como ela se sente bem sendo, e pros amigos dela é tudo o que importa é que ela esteja confortável e que eles a apoiem.

M’gann se apresenta para pessoas que não tem a menor dificuldade em entender cultura ou termos marcianos.

Na terceira temporada Young Justice introduz a personagem Violet, que por uma questão do que ela na época acreditou ser amnésia, afirmou não conseguir reconhecer a si mesma como a mulher que era antes da amnésia, Por isso ela ignora o nome que ela é informada que um dia foi seu e se rebatiza como Violet, nome sugerido pela pessoa que ela namoraria pouco tempo depois, tal qual Superboy fez, e adota o sobrenome Harper, por ser o sobrenome da família que a acolheu após ela firmar sua nova identidade.

E fechando Young Justice, na terceira temporada, o clone de Roy Harper se autobatiza de William, para desassociar a sua vida da vida da pessoa de quem ele foi clonado. E se firmar como uma pessoa diferente de Roy especialmente agora que ele e Roy faziam parte um da vida do outro. Mostrando que o ato de definir o próprio nome é constantemente colocado em prática e respeitado em Young Justice.

Em Black Lagoon, como discutido com mais detalhes no meu texto sobre a obra, o assalariado Rokuro Okajima é apelidado de Rock pelos piratas que o sequestram e tinham dificuldade com o nome japonês. Quando ele decide que ia dar completamente as costas ao Japão, ele adota esse apelido Rock como seu novo nome oficial e descarta Rokuro Okajima que passa a ser declarado oficialmente morto e Rock se torna um gangster tailandês. Desde que ele se tornou Rock ele só usou o seu nome de Rokuro Okajima uma única vez, quando voltou ao Japão e flertou com a ideia de fingir que ele ainda era uma pessoa normal.

No filme subestimadíssimo que é Monsters vs Aliens, Susan é rebatizada de Ginormica por motivos de publicidade quando ela se torna um monstro e é capturada e posteriormente usada para combater os aliens que invadiam a terra. Para a surpresa de todos, ser um monstro empodera ela a um ponto em que ela prefere ser um monstro e decide que ela simplesmente não quer nem precisa retomar a vida que ela perdeu. Quando o alien central transforma ela em uma humana de volta, ela escolhe voltar a ser um monstro e no momento em que ela escolhe que ela quer ser um monstro pelo nome da vida, ela não aceita que o vilão do filme a chame de Susan e frisa que seu nome é Ginormica. Susan é o nome do ser humano, mas ela é um monstro, e ser um monstro é o que ela ama ser e o que ressignifcou sua vida.

Em Steven Universe, Steven tenta fazer entender que apesar dele ser a mesma pedra que a Pink Diamond, e sob certos aspectos ser a mesma alma, ele não é a mesma pessoa, e se esforçar a fazer que entendam isso é forçar os demais a aceitarem seu nome: Steven. E da mesma forma, antes de virar o Steven, a Pink mudou seu nome para Rose Quartz para refazer sua vida em outros termos em outra série de hierarquias em outra cultura, e ao deixar tudo pra trás, deixou seu nome também.

Na segunda temporada de Infinity Train, a protagonista demora a temporada inteira para poder batizar a si mesma, rejeitando os nomes que deram para ela, e se permitindo ser chamada de M.T só pela praticidade de terem do que chamá-la, sem reconhecer isso como um nome. Mas é só no último episódio que ela enfim aceita um nome para si mesma e fala qual é seu nome para se apresentar para um novo amigo, como um sinal de que ela depois dessa temporada achou sua identidade definitiva, pois finalmente estava em paz no lugar onde ela queria estar.

No exemplo de uma série ruim, pois isso é uma coisa que todo mundo faz, os bons e os ruins. Na série Heroes, o personagem Sylar rebatizou a si mesmo quando descobriu que ele podia ser especial, e não precisava ser o mundano relojoeiro Gabriel Gray, nome que seus inimigos usam contra ele para diminuí-lo e tirar dele seu orgulho de ser especial. Sempre que Sylar perde seu desejo de ser mais que uma pessoa normal, ele recupera o nome Gabriel Gray, tornando o nome que ele usa um reflexo claro da pessoa que ele é.

A grande maioria desses exemplos, passam por um processo figurado de morte e ressurreição. Em que uma versão do personagem morreu para outra renascer, e no renascimento veio um rebatismo, em que a nova pessoa que se ergueu foi nomeada de novo. E isso é importante, pois somos bebês quando nascemos, não temos noção de nada, estamos chorando, com fome, e muito confusos quando somos colocados no mundo, então dependemos de adultos nos colocando no mundo nos termos deles em nossos primeiros anos de vida. Mas em uma ressurreição, o personagem revive nos próprios termos, ele se redesenha, ele tem esse poder.

Cutty Flam morreu atropelado pelo trem para Franky renascer. Rokuro Okajima morreu no mar da Tailândia para Rock renascer. Susan Murphy foi esmagada por um meteoro para Ginormica renascer. E Gabrielle morreu pra Violet Harper renascer. Diamante Rosa foi publicamente morta, para que ela pudesse ser Rose Quartz, e Rose Quartz também morreu no processo de literalmente dar a luz à Steven.

Anakin Skywalker morreu na lava para Darth Vader renascer.

Rose Bukater tirou vantagem de ser uma sobrevivente de uma tragédia que matou centenas, para reescrever sua identidade e cortar laços com sua família, se registrando como Rose Dawson ao chegar em Nova York, e deixar sua antiga identidade morrer na tragédia do Titanic.

Não é por coincidência que esses personagens as vezes renascem com poderes e habilidades que eles não tinham antes. Seja um literal super poder como Sylar, um corpo robótico como o de Franky, ou seja a os talentos escondidos de Rock se aflorando, que não eram incentivados em vida. Eles deram as costas a uma identidade desempoderadora, em que eles eram marcados pelas suas limitações, e em um contexto no qual foram colocados e se reergueram como a pessoa que eles queriam ser. Se reergueram e se reescreveram por escolha. E seu novo nome é reflexo disso.

Essas histórias são sobre personagens que de fato substituíram o nome dado ao nascerem por outro nome para chamarem de seu. Mas existem também personagens que assumem um nome falso ao longo de uma história. Um que não serve para servir como novo nome, e sim para ser uma identidade que esse personagem entende como uma identidade falsa, que permite que ele se encaixe em um território onde não se encaixaria sozinho. Para viver uma vida que ele não conseguiria viver de outra forma.

Don Draper é um caso interessante em que ele roubou a identidade de outro homem pra refazer a própria vida e refez, e viveu o resto da vida nela, sem o desejo nenhum de voltar.

Uma história em que um personagem não renasça sob um novo nome, e sim deliberadamente minta sobre um nome falso para poder infiltrar-se em um grupo inevitavelmente culmina em um ponto em que as pessoas cuja confiança foi conquistada é abalada quando a mentira é exposta. Diante da mentira exposta esse personagem tem dois caminhos possíveis.

1-) Corrigir essa mentira, fazendo os entes queridos conquistados durante a jornada o admirarem por quem é de verdade. Forçando os demais personagens a entenderem quem é a pessoa de verdade e aceitarem a nova perspectiva que eles têm dessa pessoa como a definitiva.

2-) Tornar-se a máscara, e não querendo transformar a vida que viveu até então em uma mentira, esse personagem de fato passa a personificar a identidade que ele criou como a própria. Caso isso aconteça, a obra provavelmente vai fazer algum rito simbólico para marcar que o personagem está renascendo, e desse ponto em diante vira o exemplo do renascimento.

Em School of Rock Após a revelação da mentira, as crianças seguem chamando Dewey de Mr. S…. acho que a única cena delas reconhecendo o nome verdadeiro dele sendo Dewey é elas falando sobre a mentira dele sem ele presente. No final ele era pra elas o professor que ele foi por aqueles meses, não quem a polícia disse que ele era.

Para o primeiro exemplo vamos falar de Mulan. O desenho, pois eu não me dei ao trabalho de ver o remake live-action, foda-se demais essa bomba anunciada.

No filme Disney, Mulan, mente seu nome e seu gênero, para poder entrar no exército chinês e poupar seu pai idoso do fardo de ir para a guerra. Uma vez no exército, sob a identidade de Ping, Mulan luta com os valores de masculinidade como força e agressividade que se esperam de um homem, mas ela se destaca como um bom soldado por ser inteligente e criativa, e ser capaz de pensar fora da caixa em situações de pressão. O que são características que o filme enquadra como uma faceta de feminilidade que o sexismo chinês oprime e não deixa aflorar em seu conservadorismo.

Quando enfim descobrem que Mulan é uma mulher, Shang o capitão do exército se recusa a executá-la como manda o protocolo afirmando que um deve a vida ao outro e agora eles estão quites, se referindo ao fato de que ele teria morrido em batalha se não fosse por Mulan. Mas apesar de estarem quites, eles não estavam de boa, por saber que Mulan era uma mulher, e o desafio de Mulan, era fazer os amigos de Ping se tornarem amigos de Mulan também.

E fazer a China entender que eles só puderam se defender dos hunos, pois Ping demonstrava os traços não convencionais de solução de problemas que eles desincentivaram nela por ser mulher a vida inteira, permitindo que ela fosse aceita por ser quem ela é, o que ela não era no começo do filme. É interessante pensar que mesmo vestida de homem e tentando agir que nem homem, o que destacou Ping no exército e fez ele ganhar a admiração de seus pares foram seus traços não masculinos, de preferir criatividade à força-bruta.

Inclusive vou escrever aqui algo que o mundo não está preparado pra ler: Apesar do romance entre Mulan e Shang ser implícito fortemente, ele nunca é texto, nem Mulan nem Shang nunca declaram gostar um do outro nem sequer em privado. Eles mal ficam vermelhos na presença um do outro. O único sinal de crush real vem no fim do filme quando Shang gagueja para devolver o capacete pra Mulan. E no final do filme eles não se casam nem beijam. Embora estejamos condicionados a crer que é um filme que no final eles vão ficar juntos, e que eles são um casal, se alguém quiser interpretar que no final eles vão ser só amigos, não tem nada no filme que contradiga essa interpretação.

Aonde eu quero chegar? Nisso mesmo, o climax desses personagens não foi um casamento, um beijo, ou um relacionamento, foi o Chang querendo passar tempo com Mulan sendo ela mesma, visitando-a em sua casa e vendo-a como em seu cotidiano…. E é claro, que o relacionamento está muito implícito, mas se ele fosse o ponto do final ele seria explícito. É de Disney que estamos falando. Eles não nos poupariam de um casamento e um beijo sem a necessidade. No final Mulan foi aceita a nível mais que profissional, a nível pessoal por uma autoridade do exército chinês, pela pessoa que ela é de verdade, ela conquistou isso. No começo do filme fica claro que Mulan nunca seria aceita por quem ela é fora de sua casa, e Shang querendo se aproximar dela provou o contrário, e isso não precisa ser romântico pra ter valor.

Pro exemplo do outro caso temos Rango.

Em Rango, um camaleão sem nome com ambições de ator, se vê perdido numa cidade no deserto. Em que por não ter uma identidade, ele cria a identidade mais conveniente para si mesmo, simbolizada pelo nome que ele inventa sobre si mesmo: Rango. Rango era um atirador corajoso e uma lenda. E o filme é sobre o processo dele com o passar do filme se tornar a lenda que ele mentiu que era até que Rango deixasse de ser seu nome falso e se tornasse seu nome verdadeiro. Essa mudança ocorre quando ele percebe que a cidade onde ele estava não era uma onde ele estava de passagem, mas é onde ele iria ficar, então a pessoa que ele mentiu que era deveria virar ele mesmo.

Ao final do filme o camaleão sem uma real identidade havia virado uma pessoa de verdade, personificando exatamente a pessoa que ele alegou ser.

Algumas histórias inclusive incluem o ato de remover o nome de uma pessoa, como um ato de violência, por remover dela também a sua identidade, isso pode ser feito por meios mágicos, como foi com Sen to Chihiro no Kamikakushi (Viagem de Chihiro) mas as vezes pode ser feito sem eles. Roubar o nome de alguém é sempre um ato de violência, pois é um ato contra a percepção de si mesmo, e se isso for feito por meios sobrenaturais, a violência fica literal, como em Chainsawman, onde eliminar a existência do nome de um demônio, elimina a existência desse demônio junto, ele não existe se não tiver nome.

Theon sofreu uma série de torturas físicas e violências físicas nas mãos de Ramsay, incluindo sua castração, e o fato de Ramsay ter mudado o nome de Theon para ele não ser Theon é a o símbolo maior dessa violência, mais do que qualquer cicatriz.

O quão conectado um nome é da identidade do personagem é tão claro na perspectiva de todo o fandom, que dar dois nomes a um personagem tem o poder de deixar implícito identidades. E isso em nenhum momento ficou mais claro do que no fenômeno que foi a série Breaking Bad, em que não é incomum os fãs discutirem qual foi o momento exato em que Walt se tornou Heisenberg. Quando eu pessoalmente acho fútil tentar buscar uma virada oficial de chave do pai de família passivo pro rei do tráfico de drogas. Foi mais que um processo gradual, foi algo que sempre esteve dentro dele, ele nunca virou Heisenberg, tanto quanto ele sempre teve aquelas trevas dentro de si, ele sempre foi um Heisenberg sem a chance de aflorar. E até o final, no auge de Heisenberg ele seguiu sendo Walter White, pois um nunca deixou de ser o outro.

Mas tem um nicho de fãs que fala quase como se fosse uma segunda personalidade que tomou conta. Outro caso que acontece muito isso é Death Note, em que a cena do olho de Light mudando conforme ele perde as memórias do Death Note, fazem muitos fãs acharem que o Kira é quase uma entidade que habita o Light e que eventualmente vai substituir o Light. E é o poder do segundo nome que ajuda o fã a procurar uma segunda pessoa.

Curiosamente tanto Light quanto Walter White são dois personagens guiados por um ego tão grande, que apesar de adotarem um segundo nome para manter anonimato, ele tem rancor desse anonimato, por terem um orgulho em se revelar pras pessoas. E isso é uma marca dos personagens que se escondem atrás de um nome falso, o orgulho de poder se gabar de sua vitória sob sua identidade verdadeira. O orgulho de colocar a si mesmo no holofote e quebrar esse anonimato. E para isso o nome verdadeiro tem valor, quanto mais necessário o anonimato, maior o prazer em quebrá-lo quando o personagem se sente devidamente protegido dos riscos.

Após iludir Polyphemus com um nome falso, Odisseus se gaba na segurança de seu navio seu nome verdadeiro.

Inclusive a marca mais clara de um personagem com múltiplas personalidades é a recusa de uma personalidade responder pelo nome da outra, firmando sempre seu nome. Quando em pessoas de verdade com transtornos de múltiplas personalidades, não é tão incomum assim personalidades que não tenham nomes e nunca sejam nomeadas, quanto personalidades que tenham nomes, mas respondam ao nome da, por assim dizer, personalidade principal, por ser mais conveniente. Mas esse tipo de cenário soa estranho em uma história. Um nome novo é uma maneira de firmar claramente que existe uma outra identidade e uma outra pessoa ali.

Cada personalidade com o próprio nome, pra se distinguir.

Como os personagens se chamam entre si.

Mas o importante aqui é entender que os fãs entendem isso, e os fãs entendem especialmente que quando um personagem chama o outro por um nome que ele descartou isso tem um significado, um significado negativo. Nenhum personagem quer ser chamado por um nome abandonado, e chamar assim é deliberadamente provocá-lo para incomodá-lo ou enfurecê-lo, independente se quem está chamando é herói ou vilão e se quem está sendo chamado é herói ou vilão.

Aliás não só isso. A maneira como um personagem chama o outro na ficção sempre diz muito sobre a relação dos dois. Sempre podemos analisar o grau de intimidade entre dois personagens com base nos termos em que eles se tratam.

O ato de revelar um nome que estava sendo guardado como segredo, dando a permissão para que esse nome passe a ser usado, é comumente usado como um sinal de que a relação entre dois personagens evoluiu significantemente.

Até essa cena, Platinum exigia ser tratada somente como “Senhorita”, e esse momento marcou quando ela parou de tratar Diamond e Pearl como seus empregados e passou a tratá-los como seus amigos.

Não sei vocês, mas na minha vida real tem alguns amigos pra quem eu tenho mais de um nome. E quando eu encontro eles em um evento social eu posso chamar ele de qualquer coisa entre uma lista de mais de um apelido ou mesmo o nome verdadeiro e isso pra mim é bem normal. Pensar que o Carlos (essa pessoa não existe), também pode ser o Cacá ou o Cavanhaque (eu não chamo ninguém por esses apelidos) e eu posso intercalar entre esses três nomes na mesma conversa.

Na ficção não! Cada personagem tem um jeito de chamar outro personagem e vai sempre chamá-lo desse jeito, e qualquer mudança de nome carrega significado. Se o Vegeta falar qualquer nome que não seja Kakarotto, isso definitivamente vai ser uma mudança de personagem significativa. Assim como Toph sempre vai chamar Aang de “Dedos Leves”, e se chamar ele de Aang na cara dele, é sinal de que o tom da conversa mudou drásticamente.

O momento em que Sawyer passa a chamar Hurley de Hugo, carregou significado a respeito do progresso da amizade deles. Foi um sinal de que Sawyer respeitava Hurley e a maneira como ele se ofendia com os apelidos de Sawyer, e parou de fazer depois que a amizade deles floresceu. Os apelidos de Sawyer não estavam todos em pé de igualdade. O “Sardenta” que ele designou a Kate nunca foi embora, pois ela parte do flerte deles. Personagens e Jack, Locke, Ben, etc, o Sawyer não ia abandonar as farpas, mas Hugo era um cara que o Sawyer queria tratar bem, e que não queria um apelido, e Sawyer depois de três temporadas deixou de dar um.

Dessa cena em diante nunca mais não foi Hugo, e as cenas entre Hurley e Sawyer ficaram significantemente mais amistosas.

Jenny luta para que sua criadora, a Dra Wakeman a veja como uma filha e não como uma criação, e quando a Dra Wakeman se refere a ela como uma filha, e vai gradualmente tratando Jenny mais como humana e menos como robô, são consideradas pequenas vitórias para ela (embora ser chamada de Jenny já é algo bem mais difícil dela conseguir, e que ela claramente quer).

E quando um personagem em Steven Universe passa a chamar Steven de Steven, é um dos passos mais significativos para indicar que o personagem agora é um aliado e não um inimigo.

Nick Wilde chama Judy Hopps de “Cenouras” em toda cena do filme Zootopia, exceto em uma. Quando ele vê ela levando esporro do chefe e decide que ele iria ajudá-la a resolver o caso. Na frente do chefe de polícia ele faz questão de chamá-la de “Policial Hopps” para respeitar um cargo de autoridade que seus colegas não respeitavam.

Isso tanto é uma marca primária de respeito e de uma conexão positiva entre o personagem tratando o outro como ele quer ser tratado, que é muito comum vilões que trocaram o nome terem o herói se recusando a reconhece-lo pelo nome que adotou, se recusando a dar esse traço de respeito a um personagem vilanesco e rebaixando o vilão a uma pessoa que eles tentam deixar de ser.

Quando Harry Potter chama Voldemort de Tom, é um claro ato de desrespeito ao nome Voldemort, e ao poder que ele carrega, preferindo falar com o bruxo que vive debaixo dessa manta de poder. Precisamente o mestiço que herdou o nome do pai trouxa que Voldemort odeia ser e cuja existência Voldemort quer reescrever. E Harry nega a Voldemort esse poder.

Esse é o mesmo motivo pelo qual Luke chama Vader de Anakin em Return of the Jedi. Para não reconhecer Darth Vader como a pessoa que ele é. Finn de Adventure Time faz a mesma coisa frequentemente chamando o Ice King de Simon, um nome que ele não reconhece como seu. Literalmente, pois ele esqueceu que esse nome é dele.

E o oposto existe, vilões fazem isso para demonstrar hostilidade o tempo todo, Agente Smith em Matrix sendo o exemplo mais notório de alguém que deliberadamente chama o protagonista por um nome que não existe mais.

E toda cena em que um agente do governo se recusa a chamar um personagem de X-Men pelo seu nome mutante.

Então tudo isso para falar que como um personagem nomeia a si mesmo, é uma marca de como esse personagem estabelece a sua identidade. E a maneira como os personagens se chamam entre si é uma maneira de frisar se um personagem respeita a identidade do outro ou não ou pra frisar de dois personagens estão em bons termos ou não.

O fato de que Indiana Jones prefere ter o nome do cachorro ao nome do pai diz tudo o que a gente precisa saber sobre como ele vê a própria família.

Mesmo quando não é uma questão de identidade, é o simples ato de fazer questão de ser cuzão com outro personagem. No começo de Avengers Tony Stark se frustra com Pepper chamar Phil Coulson pelo nome, pois humanizava um homem por quem ele não queria demonstrar respeito, por motivos de ego e ciúmes. No final do filme ele explicitamente se refere a Phil por nome para nos mostrar o respeito que ele tinha pelo personagem.

Mas é só pra nome que isso funciona? Como o exemplo da Judy Hopps acima nos mostra, não. É pra qualquer coisa que defina o personagem em sua identidade.

Títulos, Status e Ocupações:

Vocês não acham fascinante que existe todo esse jargão do Capitão Jack Sparrow constantemente insistir em ser chamado de Capitão Jack Sparrow, mesmo que a palavra capitão deixe implícito a existência de um navio, e durante boa parte da franquia o Black Pearl não está com ele? De fato em sua primeira cena ele não tem nem navio, nem tripulação, nem braço-direito, mas ele já está insistindo que ele é um capitão.

E isso é inseparável do fato de que o maior objetivo de Jack nos filmes é seguir se mantendo no status de capitão do Black Pearl,e ser o capitão do Black Pearl é o maior motivo de orgulho e a identidade do pirata, que ele quer projetar em sua persona mesmo quando ele não tem navio ou tripulação.

Isso é porque isso não é uma questão de mero nome, é uma questão de identidade, e as vezes a identidade do personagem está em outras palavras que não só seu nome. Está em toda a maneira em que o personagem se apresenta.

Em Hunter X Hunter, o Rei das Chimera Ants, um personagem fascinante do qual falei bastante aqui, foi batizado de Meruem por sua mãe, mas seus subordinados não sabiam seu nome e só o chamavam de Rei. Para as formigas, seu título era tudo o que era necessário, pois a extensão de sua identidade para ele era a extensão de seu título. Mas o Rei estava se humanizando e querendo gerar uma identidade para além de ser um Rei, ele queria também ser um amigo de Komugi, um jogador de gungi e se humanizar, e ele precisava de um nome que não fosse um título pra isso.

E vocês já notaram a tendência das princesas Disney agora negarem que são princesas, e especificarem que esse título não é o que elas são. Muito embora algumas tecnicalidades permitam que a gente atribua o status de Princesa à Moana (especialmente o fato dela ser a filha de um estadista que governa o povo dela de maneira vitalícia e passa seu título hereditariamente), ela não é uma, pois ela disse que não era, e a gente respeita isso.

Eu sou um particular fã do caso dos trigêmeos Quagmire de A Series of Unfortunate Events que são constantemente chamados de gêmeos, por serem somente dois, o terceiro irmão, Quigley, tendo morrido em um incêndio criminoso, porém é justamente para não apagar a existência do irmão falecido que Isadora e Duncan insistem constantemente em ser referidos como trigêmeos sempre, desejo que raramente é respeitado pelos adultos desinteressados na identidade deles.

O desinteresse em reconhecê-los como trigêmeos é colocado em equivalência com o desinteresse em lembrar seus nomes.

E eu te garanto que a maioria das obras sobre animais antropomórficos incluem uma cena de alguém especificando a própria espécie, que foi confundida por uma similar. Não confundir espécies aparentemente é algo muito importante para os animais.

Aliás nem precisa ser sobre animais antropomórficos, basta ter um animal falante que a cena da espécie confundida é eterna.

Feito por Fra Stiller

O livro infantil The Bear that Wasn’t escrito em 1946 sobre um urso que é considerado um humano pelos humanos e forçado a trabalha em uma fábrica, é um que cada ano que passa eu acho que ele devia ser mais conhecido e mais lido pelas crianças, pois é uma maravilha.

Os Blanks em The World’s End, filme subestimadíssimo já analisado aqui nos primórdios do blog, tinham um problema em ser vistos como robôs, pois deixava implícito que eles eram escravos, recusando a nomenclatura. E os aliados dos Blanks também tinham aversão a essa nomenclatura.

Em vez de um título, também pode ser uma profissão, ou mesmo uma descrição da profissão. Pode ser qualquer coisa, pois algo é sempre claro. Quando um personagem está se definindo, ele gosta de controlar as palavras que ele usa, e geralmente nem todo sinônimo tem o mesmo peso, independente do que o personagem esteja definindo sobre si mesmo.

Até mesmo os parentescos dos personagens são reescritos por nada além do poder de suas palavras e de quem eles consideram parentes, e quem eles não consideram parentes.

Claro que a insistência em ser referido pelos seus títulos muitas vezes serve para deixar o personagem mais hostil, arrogante ou menos simpático aos nossos olhos, por exigir ser visto pelo seu status perante aqueles que deveriam ser seus iguais. A identidade apresentada por um personagem, visa causar a distinção desses personagens, porém dependendo a hierarquia ou ausência delas em um ambiente, essa distinção não é bem-vinda.

Mas é contextual. Especialmente se é a diferença entre um personagem exigindo ser atribuído por um título onde não é a hora nem o lugar, em comparação a um personagem desejando ser reconhecido por um título que tecnicamente não tem, ou que por tecnicalidades, poder usar esse título é uma luta.

Mas herói ou vilão, simpático ou antipático, isso tudo frisa, que para um personagem fictício dos mais diversos tipos de história, a maneira como eles são referidos é importantíssima. E que isso é um senso comum tão grande que eles confiam que o público vai entender o poder de se referir as pessoas nos termos dela, afinal é uma etiqueta básica no mundo que tem significado quando cumprida e quando quebrada.

Ok, o que todos esses exemplos nos provam?

A Identidade dos Personagens:

Ah, você vai estudar ficção e logo se depara com um número de especialistas que adoram cunhar que “só existem 7 histórias nesse mundo” ou que só existem 11, ou que só existem 5, 8, 3, sei lá que número, e vem com um monde de molde onde supostamente a gente poderia encaixar todas as histórias do mundo.

E isso é um exercício criativo interessante, primeiro pra te acostumar a ver todas as histórias pela sua grande essência e a enxergar padrões, mas a real é que eu acho essas listas uma bosta.

Enfim, se um dia me mandassem fazer uma lista dessas, eu não sei quantos tipos de história eu diria que existem no mundo, mas eu diria que certamente mais da metade das histórias seriam do mesmo tipo, e esse tipo é: “Herói descobre quem é e aonde pertence.”

Seja o protagonista se reinventando, seguindo seu destino, contrariando seu destino, mudando ou ficando o mesmo, descobrindo quem é a verdadeira família, ou construindo a própria família melhor que a que ele tinha, o protagonista de uma história normalmente precisa para realizar seja lá o que precisa realizar olhar para dentro de si. Superar barreiras internas e precisa saber quem é, o que quer, e qual é o seu lugar. Ele precisa soltar a âncora que o impede de ser quem ele acredita que ele é, e se libertar.

E se olharmos os grandes personagens icônicos da Cultura Pop, são precisamente personagens completamente no controle de sua identidade, que reforçam pra nós que eles são exatamente quem eles querem ser.

Que tem domínio sobre a própria narrativa e sobre a própria persona.

Ou mesmo aqueles que se recusam a ser identificados pelos seus próprios motivos, a recusa de firmar um nome ou uma identidade também é parte de formar a própria identidade.

E a ficção é pra celebrar isso. Um número imenso de histórias nos lembra que não estamos presos aos nossos laços familiares se escolhermos não estar.

Não estamos presos ao nosso nome se escolhermos não estar.

Não estamos presos a nossa origem.

Não estamos presos ao lugar onde nascemos se escolhermos não estar.

Não estamos presos a nossa biologia.

Não estamos presos a nenhuma tradição e não temos que fazer nada só porque é como as coisas são feitas..

E também temos o poder de lutar para não estarmos presos ao nosso passado.

E o nosso futuro não é determinado por nossa origem, nem por nada que nos foi imposto, somente por nossas escolhas.

Ninguém pode nos obrigar a ser o que não queremos ser, e a cultura pop sempre foi uma grande celebração desse otimismo, ela sempre cultivou e empoderou o personagem que quer ser ele mesmo independente de seja lá que força externa queira convencê-lo de que ele não pode. Em diversos gêneros, em diversas mídias e para diversos públicos, esse tipo de mensagem e esse tipo de história nunca realmente estão ausentes. Pois ser a si mesmo é um sonho universal.

E é por isso que o escapismo funciona tão bem. Dentro de um livro, as pessoas podem imaginar alguém que conseguiu se livrar das amarras que o leitor tem na realidade e ser exatamente quem escolheu ser.

Um ponto-chave do carisma de Katniss Everdeen é como ela simultaneamente é espontânea e age motivada por emoção sem pensar melhor, ela também está constantemente no controle ou tentando manter controle da própria imagem e narrativa, sendo vista como ela quer ser vista e gerando significado a aceitações para decisões que ela tomou no calor do momento.
Reflection é comumente lembrada como uma das músicas mais identificáveis da Disney, e não só por mulheres que falharam em ser femininas o suficiente, mas por todo mundo que sentia que estava escondendo uma parte de si mesmo do mundo. E um número absurdo de pessoas se identificam com isso.

E nós admiramos os personagens que fazem isso. Nós os amamos por terem feito isso, e nós nos investimos na identidade que eles escolheram.

Agência, poder de escolha, ter o controle sobre a própria vida e sobre si próprio, essas são as qualidades que respeitamos. Histórias são sobre agência, sobre personagens tomando decisões e sendo punidos ou recompensados por essas decisões.

Quando Max que foi escravizado para ser um doador de sangue rebela e escapa, mas depois escolhe alguém que ele respeita, e decide doar sangue para essa pessoa, o corpo dele está sendo usado pelo mesmo propósito que os vilões queriam usar, mas aqui era a escolha de Max, ele teve agência em um processo, e ele lutou para poder fazer essa escolha, e isso dá valor e catarse a cena. E nesse processo ele se desobjetifica, dizendo também seu nome para Furiosa, o que marca que eles são amigos, pois Max disse seu nome, algo que ele não queria dar a Furiosa por não confiar nela.

E vou falar, mesmo quando não é o personagem que define a si mesmo, e mesmo quando o final da história é sobre ele aceitando uma identidade que lhe foi designada, o consenso do personagem em aceitar essa identidade e tomá-la para si sempre é mostrado e enfatizado. Ele tem que aceitar aquela identidade.

Agora vamos lá, dei um monte de exemplo de personagens que reescreveram sua identidade, seu nome, sua família, seu lugar, seus títulos, seu trabalho e sua vida inteira, mas o um elemento que nenhum desses personagens precisou afirmar era seu gênero. Esse assunto em particular do gênero é um que tentaram esquivar de mostrar na cultura pop por muito tempo.

E aí chegamos nos tempos atuais, onde as narrativas contadas por grupos LGBT+ estão enfim ganhando espaços que não costumavam ganhar alguns anos atrás, e dentre eles, narrativas com personagens trans sendo humanizados estão ganhando uma exposição que ainda está engatinhando, mas que também é sem precedentes na mídia.

Em 2014 Laverne Cox se tornou a primeira pessoa trans assumida a ser nomeada a um Primetime Emmy Awards

Portas estão começando a se abrir para certos tipos de narrativas e personagens ganharem os holofotes, e meu desejo é que uma vez abertas elas não fechem nunca mais.

E é aí que de repente, em resposta desse perfil de personagem ficando menos incomum em obras mainstream, vem esse fenômeno de lutar contra a identidade de um personagem. E de ignorar tudo que eu descrevi acima, para buscar fontes que provem o que um personagem é, independente de como ele se manifestou. E de um personagem supostamente carismático. E toda a clássica narrativa de “seja quem você realmente é, independente de quem você foi definido.” é negada pelos fãs, que acham importante que eles definam quem os personagens podem ser, com base em que pessoas eles não aceitam na vida real. Gerando longos debates entre os fãs sobre se pode considerar o personagem trans ou não.

E eu volto ao exemplo do Yamato, fazendo o texto completar o círculo, pois One Piece é um fandom que eu acompanho de perto tem muito tempo. E em exemplos como o Yamato em One Piece e a Alluka em Hunter X Hunter eu vejo a pataquada na minha cara, muito perto de mim. Mas tenho certeza de que em várias obras que eu não acompanho e não frequento os fóruns, essa guerra de pronomes também existe forte pela maneira como o fandom fala sobre ou reconhece um personagem trans de obras que eu não conheço.

A legião de fãs armados de todas as tecnicalidades que tem a sua disposição para poderem insistir e “provar” que a Poison não é trans, não é brincadeira.

E o que me encuca, é justamente, o Yamato é um personagem incrivelmente popular, cujo carisma tem se mostrado notável apesar dele ter aparecido pela primeira vez muito recentemente e podermos até agora contar nos dedos as coisas que ele fez. Então o fã, mesmo o fã transfóbico não tem motivo nenhum para ter antipatia pelo Yamato, pra não estar do lado dele, para tratar ele como o Agente Smith trata o Neo. Mas de repente A maneira como ele retrata a si mesmo perde completamente o valor perante uma tecnicalidade aos olhos do fã.

O fã racionaliza que a identidade de gênero de Yamato é ambígua, e olha… de fato tem elementos ambíguos. E eu acho que de verdade, a gente vai ver daqui pra frente também muito personagem com uma identidade de gênero ambígua. Um futuro lotado de personagens cuja identidade de gênero vão entrar em áreas cinzas. E por vários motivos.

Muitas obras vão evitar dar rótulos claros, justamente por querer pegar pessoas dentro de todo um guarda-chuva, e falar de maneira mais aberta e geral para um grupo diverso de pessoas com identidades muito únicas. Então a diretora de Tomboy já falou que evitou explicitar que a protagonista era um menino trans, uma menina lésbica ou uma mera tomboy como o título aponta, justamente para que as pessoas de todos os grupos pudessem se projetar no filme e se ver identificar no personagem protagonista, independente de quem seja.

Ao mesmo tempo que escritores cis vão escrever mais personagens trans conforme formos desestigmizando e normalizando as pessoas trans, e isso é inevitável. E mesmo que algumas pessoas achem que os cis não deveriam escrever histórias sobre trans por não ter vivência e que eles deviam escrever personagens sobre o que eles estão qualificados a falar, bem, seus personagens-derivados-de-sua-vivência ainda vão ter que interagir com o mundo, e tem pessoas trans no mundo, sempre teve. Pessoas trans inevitavelmente estarão presentes em histórias que não são sobre elas, por ainda fazerem parte do mundo, conforme deixarem de ser invisibilizadas.

E personagens trans escritos por cis, potencialmente podem vir com informação mal pesquisada, falaciosa e ignorante que pode deixar confuso ou ambíguo se o personagem é de fato trans, ou uma pessoa cis fazendo crossdressing, ou entrando em um personagem, ou as vezes retratar sua não-conformidade de gênero como o personagem não sendo ele mesmo e precisando aprender a ser ele mesmo. Isso é um problema atual da cultura pop, vai ser por um tempo, e a solução para esse problema não está em negar a identidade do personagem e se recusar a reconhecê-lo como quem ele alega ser. Nessas horas a gente briga com o autor, briga com a obra, mas não caga no personagem.

Também teremos personagens de gênero ambíguo pois apesar de muitas obras evitarem colocar personagens LGBT+ por qualquer motivo de censura, medo de causar polêmica ou preconceito assumido por parte dos produtores, ainda sim, os personagens vão ser caracterizados com traços e marcas reconhecíveis e associados a comunidade LGBT+ (o assim chamado queer coding) para criar essa associação na nossa cabeça pelo subtexto da obra, mesmo que essa associação seja desmentida no cânon.

E com isso vários personagens ficam em um lugar estranho onde não sabemos exatamente como ver eles, e por isso eu digo que no caso de dúvida, como é que o personagem quer ser visto deve ser levado em consideração. Eu ia falar que esse era o fator de desempate, mas não seria verdade, esse é o fator primário, não é pra nem deixar empatar, a gente já considera esse fator logo de cara. Os personagens são quem se definem, não o narrador e não o databook. Eles podem não ter livre arbítrio por serem fictícios, mas eles são retratados como pessoas com agência para determinar quem eles são. E personagens lidando com não-conformidade de gênero tem a própria palavra como tão válida quanto a de qualquer personagem cis que mudou de nome.

Porque olha, vou falar, mesmo que uma pessoa possa achar o conceito de fluidez de gênero muito confuso e não genuinamente não consiga entender do que o Loki tá falando na tirinha. A atitude do Thor nessa tirinha não se aplica. Não é nada confusa e fácilimo de entender o que o Thor está fazendo.

Pois no fim de tudo, histórias são sobre personagens definindo quem são. Descobrindo quem são. Exigindo o direito de ser quem são, e sendo eles mesmos. A referência definitiva, sempre é o personagem. Pois é esse o tipo de história que queremos acompanhar, histórias de pessoas que são elas mesmas. E pessoas que estão dispostas a lutar, e não recuar pelo direito de seguirem sendo elas mesmas. E que se elas não se encaixam no mundo, elas vão mudar o mundo até o mundo virar um em que elas se encaixem.

Isso funciona assim desde sempre, por isso fica aqui o alerta, de que no futuro próximo, essa relação básica com a identidade de qualquer personagem tentará ser questionada. E os filhos da puta estão tão paranoicos quanto a isso que um personagem que tenta ser a si mesmo será acusado de ser político. Isso não é verdade, poderia ser, que não teria problema se fosse, mas não é! Se pegar todos os exemplos que eu coletei ao longo do texto, a gente explora um número muito grande de enviesamentos políticos diferentes e todos tinham isso em comum. Qualquer lado político pode contar uma história sobre alguém lutando para ser reconhecido como aquilo que se vê.

Porém o ato de se recusar a reconhecer que alguns personagens definem quem são, isso é uma recusa com um enviesamento político claro. De rejeitar respeito a personagens fictícios que pareçam seres humanos que o cuzão em questão não respeita na vida real.

A cultura pop está mudando. Mas isso não deve mudar. O personagem deve continuar sendo a referência máxima para explicar pro público quem ele é.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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