Game of Thrones – Top 17 Reis Targaryen

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NOTA DO DENTRO DA CHAMINÉ: Tem mais de um ano, um grande amigo meu, Vitor Camargo, que tem um blog de esportes, chamado Two Minute Warning, fez um pacto comigo. De que eu escreveria um texto para ser publicado no blog dele, e ele escreveria um texto para ser publicado no meu. O texto que eu escrevi no blog dele, contando como foi a minha experiência como um odiador de esportes, assistindo a temporada da NBA pode ser lido aqui. E aqui está a recíproca, uma análise longa e detalhada sobre como analisar um bom rei em literatura de fantasia.

Segue o texto:

Embora as vezes possa parecer que já tenha se passado duas (ou cinco, ou vinte) décadas desde então, não faz nem um ano e meio que a série Game of Thrones encerrou sua oitava temporada com um dos mais decepcionantes finais da história da televisão.

Enquanto uma série de história forçadas, clichês exagerados e personagens inconsistentes enterravam qualquer semelhança de desenvolvimento rumo a colocar Brandon the Broken no Trono de Ferro – aliás, nem isso, já que o Trono de Ferro foi derretido por um dragão tomado por um súbito ataque de simbolismo – através de uma lógica que nem os próprios criadores da série conseguiram explicar em suas (inúmeras, incontáveis) tentativas desde então, de repente uma das séries mais polarizadoras da história tinha finalmente encontrado um ponto de consenso onde todos poderiam concordar: que o final da série fora absolutamente péssimo. E, embora Game of Thrones tenha sido uma das séries (talvez A série) mais assistidas, discutidas, comentadas, lembradas e acompanhadas passo a passo e que se tem notícia, seu horrendo final pareceu ter jogado ela num limbo de esquecimento surpreendente. Desde aquele fatídico 19 de maio, de repente ninguém mais tinha interesse em lembrar a série, como se fosse algo feio que as pessoas preferiam evitar. Nem mesmo rir do quão ruim foi a oitava temporada durou muito tempo, porque não foi ruim da mesma forma que filmes como The Room ou Birdemic são, o tipo tão ruim que ainda consegue nos divertir e fazer rir, de alguma forma doentia; foi um ruim desconfortável, vergonhoso, do tipo que não da para olhar por muito tempo sem se sentir mal.

Mesmo sendo um fã dos livros que há muito detestava o que a série se tornara após o fim do material-base ao final da quarta temporada, eu também acabei sendo afetado por essa situação, e logo percebi não ter sido um único. Um amigo meu com quem conversei um pouco depois, também fã dos livros e crítico da série, disse que o mesmo aconteceu a ele; que o gosto deixado na boca pelo fim de Game of Thrones foi tão ruim, mas tão ruim, que até discutir a série de livros perdeu a graça – uma situação que, sem dúvida, é bastante agravada pelo fato de que estamos chegando na marca de dez anos desde o lançamento do último livro da série, A Dance With Dragons, sem sequer alguma perspectiva de quando teremos o próximo volume.

Entre esses fatores, eu acabei também me desligando da minha paixão por Game of Thrones. Onde antes eu sempre estava relendo alguma parte dos livros ou mergulhando no seu enorme lore expandido em momentos de tédio, até isso pareceu perder a graça. Por quase um ano, os livros de A Song of Ice and Fire ficaram ganhando poeira na minha prateleira… até essa pandemia, quando o excesso de tempo livre me levou a começar a escrever meu próprio épico de fantasia, uma história que eu vinha maturando faz 10 anos e que, é claro, foi bastante influenciada por Game of Thrones. Assim, em busca de inspiração, eu voltei a repassar os livros de ASOIAF em busca de ideias ou conceitos, e quando percebi tinha relido os cinco livros em menos de dez dias e me lembrado que, caramba, A Song of Ice and Fire continuava muito bom! Nada a ver com aquela série (A-Série-Que-Não-Pode-Ser-Nomeada) da HBO, que tinha afetado negativamente tanta gente ao ponto. E, simples assim, minha paixão pela obra de George RR Martin estava restaurada.

E, como eu estava em dívida com o Izzo, o humilde dono desse blog, por um acordo no qual ele escreveria um texto para o meu blog e em troca eu escreveria um para o dele, eu decidi fazer desse texto pendente um texto sobre Game of Thrones (os livros, não a série; chamar de Game of Thrones é simplesmente mais sonoro do que “A Song of Ice and Fire”, e é assim que chamarei daqui para frente). E não sobre os livros e a história principal, mas sim sobre a parte que eu mais gosto de GoT: o lore. A imensidão do universo criado por Martin, sua complexidade, os detalhes em um nível quase obsessivo e a riqueza da construção são o que, a meu ver, colocam Game of Thrones um patamar acima da grande maioria das obras de fantasia que existe (e sim, Senhor dos Anéis ainda é o parâmetro máximo nisso).

E, dentro desse rico lore, eu escolhi falar sobre os Targaryen, uma das famílias mais interessantes da série – uma opinião que pelo visto Martin partilha, já que foram lançados uns três livros separados sobre os Targaryen desde A Dança dos Dragões, e que também deve receber um spin off na televisão em breve. E, para deixar o Izzo ainda mais pistola de ter cedido esse espaço para mim, decidi apelar também para um dos recursos que ele mais odeia nessa vida: listas e rankings.

Alguém aí pediu um ranking classificando todos os dezessete reis Targaryen de Westeros, do pior para o melhor? Espero que sim.

Os reis Targaryen

Muito bem, então vamos falar sobre reis.

Embora o tema geral de Game of Thrones seja a aquisição de poder por quaisquer meios e isso não seja limitado apenas a reis e rainhas, é inegável que a figura do rei é o símbolo máximo de poder em Westeros, ao redor do qual todos os outros gravitam. Não é à toa que o próprio nome do primeiro livro e da série da TV falam em um jogo dos tronos. Mas, se vamos falar em rankings, em melhores e piores, primeiro precisamos começar na pergunta: o que faz um bom rei?

Embora Game of Thrones não ofereça realmente uma resposta concreta para isso, o que os livros fazem é fugir com muita maestria de uma série de clichês que normalmente dominam o gênero. Um deles, já debatido nesse mesmo blog, é a ideia de que um bom rei é o rei de direito. Nós vemos isso em obras como Rei Leão (com Simba) ou mesmo Senhor dos Anéis (com Aragorn): a solução para os problemas do reino é a volta do seu rei legítimo ao poder, que devolve a paz e prosperidade sobre seus domínios. GoT, é claro, não tem nada a ver com isso: o que importa é a pessoa, não sua legitimidade. Ainda assim, a legitimidade tem seus benefícios: propaganda, controle da narrativa e do povo, a facilidade em conseguir aliados e recursos. É uma estrada de dois gumes. Robert Baratheon ser um rei morfético não tem a ver com sua legitimidade, e sim seu desinteresse em governar e a sua personalidade insaciável. Mas, ao mesmo tempo, existe um motivo para Robert, e não Ned Stark ou Jon Arryn, ter tomado a coroa após a morte de Aerys II Targaryen: como a avó de Robert era uma Targaryen, a princesa Rhaelle Targaryen, isso fazia muito mais fácil para Robert construir um argumento e uma narrativa que sustentasse sua imagem de rei seguindo a linhagem real iniciada com Aegon I Targaryen, dando a ele a legitimidade necessária aos olhos das pessoas comuns que Ned ou Jon não teriam.

Outro clichê comum do bom rei é o da “boa pessoa”. O bom rei é bom por ser uma pessoa bondosa, enquanto o rei ruim é um ser humano mau por natureza. A velha dicotomia do herói e vilão. Mas também não é o caso em Westeros: tivemos bons seres humanos que deram péssimos reis, como por exemplo Aenys I ou Baelor I; e, embora a dinastia Targaryen não tenha tantos bons exemplos de “pessoas horríveis que foram bons reis”, é fácil encontrar exemplos anteriores à Conquista de Aegon (Harwyn Hoare, por exemplo). O mesmo é verdade expandindo o conceito de “rei” para “governante”: Ryam Redwyne foi um lendário cavaleiro, famoso por seu cavalheirismo, honra e valor, mas acabou se tornando um dos piores Mãos do Rei de todos os tempos. Em contraste, Tywin Lannister – um gigantesco filho da puta – está entre os mais celebrados Mãos que Westeros já conheceu… ao contrário do seu pai, um homem amigável, gentil e generoso, que foi um péssimo lorde e cujo desmando durante o seu governo teve que ser desfeito pelo filho uma vez que esse assumiu o poder (e até antes, na verdade). Ainda que seja difícil falar em pessoas boas e más de forma absoluta em GoT, uma série de livros marcada pela humanidade e complexidade dos seus personagens que tendem muito mais para o “cinza” que o “preto ou branco”, não é difícil ver como esse clichê é jogado pela janela, assim como Brandon Stark foi.

Mas isso não responde à pergunta original: o que faz um bom rei? A resposta óbvia seria a inteligência, que é claro que é um fator importante, mas inteligência é algo que aparece de muitas maneiras. Aerys I era um homem muito inteligente, um estudioso e erudito, mas isso não se traduziu em ele ser necessariamente um bom rei dado seu desinteresse e talvez a falta de habilidades mais “práticas” associadas à sua mente. Abaixando alguns níveis, Samwell Tarly é mais inteligente do que Jon Snow, mas será que alguém acha que Tarly daria um Senhor Comandante melhor do que o Bastardo de Winterfell? Eu duvido. Então ao invés de falar sobre o que faz um bom rei ou líder, então, vamos mudar a pergunta: o que um bom rei faz? E aí começamos a encontrar mais fios em comum para seguir. Inteligência, sim, mas mais do que isso é o simples bom senso, entender e pesar as consequências de cada ação e ato antes de fazer. Boa capacidade política, também, é fundamental para se navegar as complexidades da vida política, e um bom manejo do caráter humano – entendendo como cada pessoa reage a diferentes incentivos – é outro aspecto fundamental para qualquer bom líder.

E, como ninguém é capaz de lidar com tudo sozinho, é de extrema importância para um rei se cercar das pessoas certas, que lhes darão os conselhos e informações necessários. Reconhecer as próprias limitações e empoderar as pessoas corretas nas funções corretas – ou seja, exatamente o oposto do que Cersei Lannister fez como Rainha Regente – geralmente leva a bons resultados. E isso muitas vezes não depende necessariamente de um indivíduo particularmente sábio; eu não tenho a inteligência ou capacidade de Renly Baratheon em alta conta, mas acredito que teria sido um rei muito bom se tivesse sobrevivido justamente por se mostrar aberto a escutar e empoderar as pessoas certas ao seu redor.

Outro ponto interessante a se considerar é: um bom rei leva a um bom reinado, ou ter um bom reinado que leva alguém a ser um bom rei? A resposta certa, nas palavras de Minerva McGonnagol, é que um círculo não tem princípio; ser um bom rei e ter um bom reinado são simbióticos demais para se isolar um do outro. Só que um bom reinado é muito mais fácil de se avaliar do que um bom rei, e por isso vai servir como uma importante proxy para essa lista. Então se você quer entender melhor os critérios totalmente arbitrários que foram usados nessa coluna, isso talvez ajuste.

Paz e prosperidade é um bom lugar para começar; é quando pouca gente morre, as pessoas estão felizes e bem alimentadas, e geralmente sinal de uma liderança competente. Às vezes, no entanto, guerras são inevitáveis, e muitas vezes não são culpa do governante; e é aí que entra nossa capacidade de discernimento. Qual foi o papel do rei em iniciar ou terminar uma guerra? Qual foram as consequências, ganhos e perdas do conflito? As vezes uma guerra pode ser positiva ou negativa para Westeros, e um rei ganha ou perde pontos de acordo. E ai já emendamos outro fator chave, que é o nível de dificuldade da tarefa enfrentada. Um rei que pega o reino durante uma era de paz, prosperidade e riqueza vai ter uma tarefa muito mais fácil pela frente do que um que pega um reino fragmentado e destruído pela guerra. E se esses dois reis entregam resultados semelhantes, é difícil dizer que o segundo não teve muito mais mérito para chegar nesse ponto do que o primeiro. O mesmo pode ser dito de fatores imprevistos durante um governo: nem um rei pode controlar situações como um inverno brutal, um desastre natural ou mesmo a ação de forças ou pessoas além do seu controle, mas ele PODE controlar como vai ser sua resposta e reação a isso.

E, é claro, existe a questão do legado. Assim como um rei herda uma situação de quem veio antes, ele vai deixar algo para quem vier depois. E, como muitas vezes certos atos e ações demoram anos e até décadas para gerar consequências e resultados, é injusto julgar a qualidade de um reinado olhando apenas para o que aconteceu durante seus anos; muito pelo contrário, precisamos olhar para as sementes que foram plantadas durante aqueles anos e como elas vieram a afetar posteriormente o reino.

Por fim, um último ponto importante para se ter em mente nessa lista: eu fiz o possível para me ater principalmente ao que os dezessete reis Targaryen fizeram após serem coroados reis (ou no mínimo se tornarem governantes), e não antes. E o principal motivo disso é porque senão Aegon I receberia um mérito pela Conquista que, a meu ver, não envolve ser um bom rei ou não; como Daeron I mostrou, uma coisa é conquistar, outra coisa é manter suas conquistas. Quero saber quem foi o melhor REI, não o melhor soldado. Então estamos considerando o começo do reinado de Aegon no momento que ele foi coroado rei oficialmente em Oldtown, e nada antes. E embora em alguns casos seja impossível dissociar completamente o rei em questão do que ele fez antes da sua subida ao trono propriamente dito (notavelmente Viserys II), nós vamos tentar manter esse aspecto ao mínimo possível durante a lista.

(Vale destacar, também, que a lista só vai incluir os 17 reis oficiais da dinastia Targaryen em Westeros, não incluindo pretendentes que nunca chegaram a governar de fato como Daenerys Targaryen, seu irmão Viserys, ou Rhaenyra Targaryen)

Vamos a isto? Vamos a isto.

#17. Aegon IV Targaryen
Aegon, o Indigno
Reinado: 172 – 184 AC

Aegon IV ficou conhecido para a história como Aegon o Indigno, e é difícil reclamar do apelido… a não ser, talvez, que ele pega leve demais com o pior monarca que a dinastia Targaryen conheceu.

Se pegarmos todos os pontos já discutidos do que fazem um bom rei e um bom reinado, Aegon IV é o único que consegue atingir o negativo em absolutamente TODOS os quesitos. Seus anos de reinado foram marcados por desmando, crescimento da corrupção e gestão incompetente. Duas tentativas de guerras contra Dorne acabaram em desastre e mortes. Suas ações causaram a morte do irmão, Aemon o Cavaleiro do Dragão, a quem ele fez o possível para destruir a imagem. E seu legado foram cinco gerações de guerra civil nas mãos do seu filho bastardo, Daemon Blackfyre, e seus descendentes.

Um hedonista incapaz de enxergar além do próprio nariz, Aegon praticamente governou por 12 anos em função dos seus próprios prazeres, muitas vezes sexuais. Ele trocava de amantes como trocava de roupa, fossem as mulheres nobres ou plebeias, princesas ou prostitutas, e esse excesso de luxúria vinha com consequências. A criminalidade e corrupção em Porto Real cresceram exponencialmente no seu reinado, uma vez que Aegon começou a usar a patrulha da cidade não para seu propósito original de proteção e manutenção da ordem, mas sim para satisfazer seus próprios apetites, muitas vezes através de estupros – e esse é só um dos exemplos. As pessoas capazes que serviram seu pai, Viserys II, durante seu governo foram sistematicamente substituídas por aduladores e corruptos, que conseguiram seus cargos devidos a bajulação ou a prestar aos reis serviços dos quais ele gostava. O tesouro real também sofreu as consequências, com a vez mais famosa vez sendo quando Aegon deu a Lorde Butterwell um inestimável ovo de dragão em troca de dormir com suas três filhas virgens. Cada vez mais os parasitas e aproveitadores ocupavam posições de destaque no reino, enquanto senhores nobres eram alienados e cresciam descontentes com o Trono de Ferro.

Mas, talvez acima de tudo, o pior do reinado de Aegon IV teve a ver com a questão da sucessão. Conforme as ações do rei foram ficando cada vez piores e desmedidas, sua principal oposição apareceu na figura do seu filho, Daeron, que não aceitava o desmando voluntário do seu pai em função do próprio prazer. Se não fosse por Daeron, o reinado de Aegon IV poderia ter sido ainda pior e mais desastroso, mas para o monarca isso passou a se tornar um obstáculo – e um que ele tentou remover a qualquer custo. Aegon tinha dado a lendária espada de aço valiriano de Aegon o Conquistador, Blackfyre, para seu filho bastardo Daemon Waters, no que muitos acreditavam ter sido um gesto próximo a nomear Daemon seu herdeiro. E, conforme Daeron foi ganhando cada vez mais influência e se tornando um obstáculo cada vez maior ao seu desgoverno, Aegon passou a ameaçar deserdar Daeron em favor de Daemon. Mais ou menos no mesmo período, começaram a surgir rumores de que Daeron não seria filho do rei, mas sim um bastardo do seu irmão, Aemon; boatos esses que, segundo o Grande Maestre Keith, começaram com o próprio Aegon, e só se intensificaram após a morte do Cavaleiro do Dragão.

Aegon, no entanto, nunca formalmente deserdou Daeron, e o motivo é simples: isso teria significado guerra civil. Muitos grandes senhores, descontentes com o governo corrupto de Aegon, começaram a se unir ao redor de Daeron, liderados por seu cunhado, príncipe Maron Martell, de Dorne. Esses senhores poderosos teriam certamente se levantado contra Aegon, e o reino sangraria. Ainda assim, Aegon estava decidido a tentar contornar a vontade do seu herdeiro, iniciando duas novas guerras contra Dorne que, pela sua própria incompetência, sequer chegaram a começar de fato, mas ainda acabaram em morte e ridículo para o rei. Incapaz de subjugar Dorne ou efetivamente tirar Daeron do seu caminho, Aegon se voltou novamente para seus prazeres até sua morte, morbidamente obeso, seus membros apodrecendo de dentro para fora, incapaz até de se levantar.

Mas, como simplesmente morrer não seria suficiente, Aegon ainda teve tempo de cometer seu último ato de desmando: no leito de morte, Aegon legitimou todos os seus filhos bastardos, dando a Daemon Blackfyre a justificativa decisiva para, a seu tempo, iniciar sua rebelião, a primeira de cinco guerras civis que ameaçariam Westeros e a maior ameaça que a Casa Targaryen conheceria até Robert Baratheon. Com esse último ato, a guerra civil que Aegon IV não se atrevera a começar durante seu reino foi apenas adiada por mais uma temporada, e o horror e desmando do governo de Aegon continuariam a pairar sobre Westeros por mais cento e cinquenta anos.

#16. Maegor I Targaryen
Maegor, o Cruel

Reinado: 42 – 48 AC

Outro rei com um apelido que faz jus ao seu governo, os problemas com o reinado de Maegor tiveram início mesmo antes do reinado em si começar. Isso se deve aos inúmeros problemas causados pelo príncipe ainda no reinado de seu irmão, Aenys I, e que levaram ao exílio de Maegor para Essos, mas também por Maegor não ter direito ao trono que ocupava: quando da morte de Aenys, Maegor era apenas o quarto na linha de sucessão, uma vez que pela lei de Westeros os três filhos de Aenys possuíam primazia sobre o seu irmão. No entanto, assim que Aenys morreu, a Rainha Visenya não coroou o mais velho dos filhos de Aenys, Aegon Targaryen, e ao invés disso buscou o filho no exílio e colocou a coroa na sua cabeça.

Em outras palavras, além do conflito aberto entre o Trono de Ferro e a Fé Militante – a Fé Militante que continuaria a ser o grande inimigo de Maegor até sua morte – agora o reino tinha que lidar com o princípio de uma guerra civil, pois Aegon tinha avançado com sua própria pretensão ao trono que fora do seu pai. Maegor acabou por matar seu sobrinho Aegon durante a Batalha sobre o Olho de Deus, mas os outros filhos de Aenys, Viserys e Jaehaerys, continuavam vivos e se opondo ao reinado de Maegor, apoiados pelo crescente número de lordes descontentes com o rei.

Ao contrário de Aegon IV, o único que consegue ficar abaixo dele nessa lista, Maegor não era exatamente descontrolado na busca pelos próprios prazeres. Suas falhas vinham da sua tendência à crueldade e violência. Em sua busca pelo herdeiro homem que nunca teve, Maegor tomava diversas esposas e até mesmo viúva dos inimigos que matava, em busca de uma mulher fértil que pudesse lhe gerar um filho. E quando isso falhava, as consequências eram terríveis, levando (entre outros) à extinção da Casa Harroway com as execuções de todos os seus membros ainda vivos após a amante do rei, Alys Harroway, dar à luz a um filho natimorto.

E, enquanto isso, seguia a batalha entre a Casa Targaryen e a Fé dos Sete. Após um Julgamento de Sete entre Maegor e o capitão dos Filhos do Guerreiro deixar o rei desacordado por um mês, Maegor acordou e, em vingança, queimou todo o septo de Porto Real nas costas de Balerion, com todos os fiéis dentro. Quando isso não foi suficiente para acabar com a revolta da Fé, Maegor se lançou em mais uma campanha sangrenta contra os fiéis, assassinando indiscriminadamente civis pelo reino enquanto pagava recompensas pela morte de seus inimigos. Até o grande feito do seu reinado, a construção da Fortaleza Vermelha, acabou em sangue quando Maegor assassinou todos os construtores que trabalharam na empreitada para que não revelassem seus segredos.

Mas, felizmente, o desmando de Maegor teve consequências; abandonado pelos aliados enquanto os seus opositores se erguiam ao redor dos sobrinhos, Maegor foi ficando cada vez mais isolado, especialmente após a morte da mãe. Nem o seu assassinato de Viserys, segundo filho de Aenys, deu resultado – pelo contrário, apenas endureceu a resistência de Westeros contra seu governo, solidificada em torno da pretensão do terceiro filho de Aenys, Jaehaerys. Eventualmente, até a própria Guarda Real abandonou Maegor, que morreu sozinho e abandonado no Trono de Ferro, após um suposto suicídio.

Maegor e Aegon IV tem uma briga boa para ser último dessa lista, mas Maegor escapa da lanterna por um motivo simples: legado. Por maior que tenha sido o caos, a tragédia e o horror do seu reinado, pelo menos eles tiveram pouco impacto após a sua morte. Na verdade, pode-se argumentar o contrário: que Maegor ter sido um tirano tão grande ajudou a unificar o reino ao redor de Jaehaerys, permitindo ao Conciliador iniciar seu reinado com muito mais apoio do que Aenys ou Maegor. E ainda que eu não vá dar qualquer crédito a Maegor por isso, pelo menos os horrorores do seu reinado ficaram limitados a esses seis anos, enquanto os desmandos de Aegon IV continuaram gerando frutos por mais quase duzentos.

#15. Aerys II Targaryen
O Rei Louco
Reinado: 262 – 283 AC

Eu sei exatamente o que você está pensando nesse momento. “Sério, décimo quinto? O rei conhecido como o Rei Louco, que literalmente causou o fim da dinastia Targaryen, não é o primeiro colocado na lista dos piores reis Targaryen de todos os tempos?”. Pois pode apostar que sim; Aerys entra apenas como o TERCEIRO pior rei Targaryen de toda a dinastia nessa lista.

O caso CONTRA Aerys é bastante simples: o mais louco de todos os reis Targaryen, Aerys era um paranoico esquizofrênico que via inimigos em cada sombra, um homem cruel que estuprava a própria irmã/esposa e queimava seus inimigos sem julgamento, alguém que alienava seus aliados enquanto dava cada vez mais espaço e poder para bajuladores e puxa-sacos que lhe dissessem o quão bom ele era em comparação com Tywin Lannister, sua Mão do Rei e amigo de infância. Embora Tywin tivesse dado ao rei estabilidade e prosperidade, Aerys sentia tamanha inveja do amigo que fazia de tudo para minar sua fama e autoridade, mesmo que às custas do bem do reino. Nós sabemos bem que Tywin não era nenhum santo, mas tudo que Aerys aprontou para cima dele foi de uma mesquinharia única, e o reino pagou por isso. No fim, tamanha era a crueldade de Aerys que metade do reino se levantou contra ele quando Aerys assassinou Rickard e Brandon Stark sem julgamento, e exigiu que Jon Arryn matasse seus protegidos, Ned e Robert.

Então, se um rei chamado de Rei Louco, que causou o fim da dinastia Targaryen e fez tudo isso descrito acima, como ele não está em último?

Porque, no fim do dia, existe algo de bom dentro do seu reinado – algo que nem Maegor nem Aegon IV podem dizer dos seus anos de terror. O começo do reinado de Aerys, na verdade, foi bastante próspero; ainda que herdando uma boa situação do seu pai, Jaehaerys II, os primeiros anos após sua coroação foram de paz e prosperidade, enquanto o carisma e energia do rei ainda falavam mais alto do que sua inconsistência, crueldade e loucura. E embora possa ser dito que os méritos desse sucesso sejam muito mais de Tywin Lannister, a Mão do Rei, do que do próprio rei, capacitar as pessoas certas também é um fator importante em um reinado. E vale lembrar que a nomeação de Tywin não foi uma nomeação das mais populares ou óbvias quando aconteceu; muitos julgavam Tywin (então com 20 anos) jovem demais, inexperiente demais, enquanto outros criticavam os métodos usados pelo herdeiro de Casterly Rock durante as revoltas Reyne/Tarbeck – e, ainda assim, a nomeação ousada de Aerys acabou sendo seu maior sucesso e o segredo por trás de quinze anos de paz e prosperidade para os Sete Reinos.

É verdade que esse sucesso inicial não apaga todos os horrores perpetrados por Aerys e seus asseclas, especialmente após o Desafio de Duskendale que elevou a loucura de Aerys a novos níveis. Esse é o mesmo rei que pretendia matar meio milhão de pessoas em Porto Real após a derrota no Tridente com fogovivo, e só não conseguiu pela intervenção de Jaime Lannister. É possível argumentar que os pontos baixos de Aerys foram mais baixos do que qualquer outro, até mesmo Maegor e Aegon IV, mas os poucos altos do seu reinado ainda superam qualquer coisa que os dois abaixo dele na lista fizeram. E, no fim, isso conta para alguma coisa.

#14. Aegon II
Aegon, o Velho
Reinado: 129 – 131 AC

É duro ficar tão baixo nessa lista reinando apenas por dois anos, mas é o que acontece quando são dois anos da maior guerra civil que Westeros já viveu, uma que viu a extinção de Casas nobres, uma devastação sem precedentes, e assassinatos e crueldades em massa de ambos os lados.

A verdade é que Aegon nem era para ser rei: o herdeiro oficial de seu pai, Viserys I, era a meia-irmã de Aegon, Rhaenyra. Mas Viserys nem tinha esfriado após sua morte quando, se aproveitando da ausência de Rhaenyra, a rainha Alicent Hightower (mãe de Aegon) e o conselho real coroaram Aegon em seu lugar. Se Aegon foi participante ativo em usurpar o trono da irmã (mais sobre isso quando falarmos de Viserys I) ou apenas um peão útil dentro das conspirações de outras pessoas (notavelmente a rainha Alicent, seu pai – e mão do rei – e o Senhor Comandante da Guarda Real, Criston Cole), não é possível dizer, mas o fato é que sua coroação deu início a uma guerra civil entre os Targaryen. O reino se dividiu entre os apoiadores de Aegon, os “verdes”, e os apoiadores de Rhaenyra, os “negros”, e todos os lados sangraram… e arderam, uma vez que ambos os lados tinham dragões e não tinham medo de usá-los.

Durante os dois anos que Aegon II esteve no poder, a Dança dos Dragões (como foi conhecida essa guerra civil) trouxe morte e destruição para Westeros. E, para piorar, mesmo durante esse cenário de guerra Aegon dificilmente teve um papel determinante. A governança do reino ficou em grande medida para seu avô e Mão, Otto Hightower, enquanto seu irmão Aemond Targaryen foi o principal general dos verdes. A maior contribuição de Aegon durante a luta foi seu dragão, Sunfyre, e mesmo isso foi breve; após a batalha em Rook’s Rest, Sunfyre ficou gravemente ferido e seu cavaleiro também, tirando essas peças do jogo por um bom tempo. Enquanto Aegon se recuperava, Aemond se tornou o rei de Westeros em tudo menos nome.

E, após a morte de Aemond nas mãos de Daemon Targaryen, líder dos negros, Aegon pouco (ou nada) fez que ajudasse a sua própria causa, mais alienando aliados com sua crueldade e teimosia do que ganhando alguma vantagem prática no conflito. Mesmo após ter capturado e dado Rhaenyra de comer para seu dragão, a violência e falta de habilidade política do rei fez com que as forças em campo dos negros (liderados por Kermit Tully e Rodrik Dustin, e depois Cregan Stark) continuassem lutando mesmo após a morte de sua rainha, eventualmente vencendo a guerra no campo de batalha e selando o destino de Aegon. E, mesmo com suas forças derrotadas e dois exércitos inimigos marchando sobre Porto Real, Aegon não só não se recusou a fazer a paz como ainda pretendia assassinar ou pelo menos mutilar o filho de Rhaenyra, Aegon o Jovem, como “aviso” para seus inimigos. Tudo isso levou a Aegon II a acabar sendo assassinado pelas mãos de seus próprios aliados, Larrys Strong e Corlys Velaryon, antes que o rei causasse mais dano ao reino.

A única coisa a ser dita a favor de Aegon II, e que coloca ele um patamar acima de Maegor, Aerys II e Aegon IV, é que talvez a Dança dos Dragões fosse inevitável quando Aegon assumiu o poder – e, portanto, os desastres do seu reino vieram mais de sua inabilidade de lidar com a situação do que das ações diretas do próprio governante. Ainda assim, um reinado marcado por guerra, morte e destruição, e que ainda deixou um legado de destruir boa parte do poder da Casa Targaryen com a morte dos seus dragões, faz dele o quarto pior rei Targaryen de todos.

#13. Aenys I Targaryen
Reinado: 37 – 42 AC

Ao contrário dos Targaryen colocados abaixo dele nessa lista, que tiveram reinados desastrosos devido à sua maldade, crueldade, loucura e incompetência, Aenys não era nada disso. Um homem amigável, tranquilo e de boa índole, o problema de Aenys era mais simples: fraqueza.

Durante o reinado de seu pai, Aegon o Conquistador, o que ainda eram sete reinos muito díspares se mantiveram em relativa paz e harmonia devido à força, habilidade e carisma do seu monarca. Mas, com Aegon morto e o fraco Aenys no trono, as coisas mudaram rapidamente. Lordes e plebeus em igual medida, descontentes com a nova ordem após a Conquista, se revoltaram contra o Trono de Ferro e Aenys. No coração dessa revolta estava a Fé, que denunciava as práticas incestuosas dos Targaryen e via os reis-dragão como abominações. Mesmo os nobres que não estavam abertamente em revolta contra o Trono de Ferro pouco fizeram para ajudar o recém-coroado Aenys.

Em tudo isso, Aenys foi pego de surpresa, esperando um reino pacífico como foi o do seu pai. Seu irmão Maegor, no começou, conseguiu ajudar o despreparado rei com alguns desses problemas, como quando resolveu por conta própria uma tentativa de golpe no Vale de Arryn, mas o comportamento cada vez mais errático do irmão acabou forçando o monarca a exilá-lo. O problema é que, sem Maegor, Aenys simplesmente não sabia como lidar com tantas revoltas e problemas no seu reino; as respostas do rei foram erráticas e inconsistentes, e falharam espetacularmente em resolver todos os problemas. A situação só piorou quando seus filhos passaram a serem eles mesmos alvos da Fé, o que só aumentou a inquietação do rei e realçou sua incapacidade de tomar decisões firmes e eficientes.

Aenys não teve um reinado tão intencionalmente abusivo como o de outros que vem atrás nessa lista, e talvez o conflito entre a Fé e os Targaryen fosse em algum nível inevitável após a morte de Aegon, mas a inércia e incapacidade de lidar com essa questão (e as demais que surgiram no seu reinado) apenas serviram para aprofundar ainda mais os problemas de Westeros, pavimentando o caminho para seu irmão Maegor iniciar seu reinado de terror.

#12. Baelor I
Baelor, o Abençoado
Reinado: 161 – 171 AC

Uma coisa muito interessante em Game of Thrones, quando falamos de bons reis e maus reis, é como a percepção dos personagens muitas vezes não condiz com a realidade. Baelor o Abençoado talvez seja o melhor exemplo disso. O rei-septão é amado pelo povo comum e parte da nobreza menos esclarecida, amplamente celebrado como um grande rei e recordado com saudade: puro, justo e bondoso. No entanto, quando você passa essa impressão inicial, você percebe que as pessoas entendidas do assunto – pessoas que leram, se informaram, estudaram, e formaram uma opinião séria a respeito – tem uma visão completamente oposta do Abençoado Baelor: um rei imprevisível, inconsistente, que fechava os olhos para as consequências de seus atos… e talvez até com um toque de crueldade escondida por baixo da piedade. Tyrion Lannister chega ao ponto de sugerir que, se for verdade o boato de que Baelor acabou morto por seu sucessor, Viserys II, o futuro monarca não fez nada além de um grande bem ao reino por poupá-lo de mais das loucuras de Baelor.

O reinado de Baelor começou bem o suficiente. Apesar de considerado um rei fraco por muitos (como Eustace Osgrey), a primeira ação de Baelor como rei foi percorrer todo o caminho até Dorne a pé para fazer a paz com os dorneses após as guerras do seu irmão, Daeron I. Baelor não só foi bem-sucedido nessa jornada (salvando seu primo, Aemon, no processo), como a paz que ele forjou com Dorne através da diplomacia e não do derramamento de sangue lançou as bases para sua entrada pacífica nos Sete Reinos, uma geração depois. Entre isso e a competente liderança da Mão do Rei, Viserys Targaryen, durante o tempo que Baelor passou em Dorne e depois se recuperando, os primeiros anos do reinado do rei-septão foram bastante positivos.

O problema é que a experiência de quase-morte de Baelor em Dorne, nas mãos dos Wyl, pareceu ter afetado o cérebro do jovem rei. Ao invés de se ocupar das preocupações terrenas de um rei, Baelor decidiu se dedicar às questões espirituais de um septão. Sua primeira providência ao voltar a Porto Real foi desfazer seu casamento com a irmã Daena e prender ela e as suas duas outras irmãs, Elaena e Rhaena, em um castelo separado do resto para que ele não se sentisse tentado a ter relações carnais com elas. Não só esse foi um ato de enorme crueldade por parte de Baelor com suas inocentes irmãs, mas também se provou um extremamente custoso para Westeros no longo prazo; foi nesse castelo que sua ex-esposa, Daena a Desafiadora, se relacionou e eventualmente deu à luz a um filho bastardo do seu primo, Aegon (futuro Aegon IV), que iria a seu tempo se transformar no pretendente, Daemon Blackfyre. Nas palavras de Jaime Lannister, “o reino teria ficado mais bem servido se [Baelor] tivesse fechado os olhos e dormido com a irmã”, e a decisão de Baelor de evitar a esposa e os contatos carnais (desprivando assim o reino de um herdeiro) acabou no longo prazo levando às terríveis Rebeliões Blackfyre.

Mas esse foi apenas o começo do reinado controverso de Baelor. Enquanto Viserys fazia o possível como Mão para temperar as loucuras do sobrinho e manter a boa governança no reino, Baelor seguia de ideia em ideia, e todas motivadas por suas supostas visões dos Sete deuses. Algumas, como a construção do Grande Septo de Baelor, foram inofensivas, mas infelizmente foram minoria. Baelor despejou milhares de prostitutas com suas famílias nas ruas, promoveu o uso de cinturões de castidade, queimou livros que contradissessem suas visões religiosas, e frequentemente esvaziava os cofres reais para gestos aleatórios de caridade ou para dar a bajuladores que se aproveitavam do excesso de piedade do rei. Ao invés dos competentes conselhos de Viserys, Baelor começou cada vez mais a ouvir o Alto Septão e outras figuras religiosas que frequentemente não tinham o bem-estar do reino em primeiro lugar, e cargos políticos começaram a ser preenchidos pelo mesmo critério.

Essa sequência de medidas controversas logo gerou insatisfação ao redor dos Sete Reinos, tanto entre o povo comum (em menor grau) mas principalmente entre os nobres. Seria um exagero dizer que Westeros estava perto de uma revolta, mas cada vez mais crescia o descontentamento com o comportamento errático rei, e as preocupações com os rumos dos sete reinos acabavam por alienar o Trono de Ferro de muitos dos seus aliados. Apesar disso, Baelor seguia fechando os olhos para os problemas que ele mesmo criava, e assim pulava de loucura em loucura. E sua morte em171 AC, após um jejum prolongado seguindo o nascimento do bastardo de Daena, pode ter sido salvadora para o reino: Baelor estava convencido de que sua missão sagrada dada pelos Sete era converter todos os não-crentes do reino para a Fé, e se Baelor seguisse em frente com seus projetos (ignorando novamente o clamor em contrário da sua Mão, conselho, e dos nobres do reino) isso teria significado guerra civil.

Mesmo que tenha algo de positivo para se dizer sobre o reinado de Baelor – seus atos de piedade, a paz com Dorne, e até um período de relativa estabilidade – o saldo acaba sendo muito mais negativo do que positivo por conta da loucura de Baelor e o descaso que ele mostrou com seus súditos terrenos em função de suas crenças divinas, deixando um reino dividido e endividado. E, através dessas ações, foram plantadas as sementes das Rebeliões Blackfyre que levariam a cinco gerações de fogo e sangue em Westeros.

#11. Daeron I
O Jovem Dragão
Reinado: 157 – 161 AC

Outro dos reis favoritos dentro do imaginário popular, o Jovem Dragão teve um dos reinados mais curtos entre todos os Targeryan; apenas quatro anos se passaram entre sua coroação e sua morte em Dorne.

Apesar de ter assumido o trono com apenas 14 anos, seu gênio e carisma precoces fizeram com que uma regência fosse dispensada durante a minoridade de Daeron. Auxiliado por seu tio Viserys como Mão do Rei, o Jovem Dragão começou seu reinado mostrando firmeza, capacidade e eficiência, impressionando positivamente seus súditos. Na verdade, o governo do reino em si continuaria sendo um ponto positivo no reinado de Daeron até sua morte, graças ao empoderamento que deu ao seu tio Viserys para continuar governando em seu nome, no que Maester Yandel chamou de “negligência benévola” do rei.

Mas Daeron logo se lançaria no que se provaria sua glória e sua perdição: a conquista de Dorne. Um general brilhante, Daeron contou com o auxílio de seu primo Alyn Velaryon para conceber um plano de guerra que anularia muitas das estratégias de guerrilha dornesas que deram trabalho para seus ancestrais; Velaryon usou sua frota para conquistar o rio que cruza Dorne e dividir a região em duas, impedindo a movimentação de tropas e recursos por parte dos dorneses, enquanto dois exércitos reais (um deles liderado pelo próprio Daren) invadiam Dorne por terra. Seguindo uma série de vitórias, Daeron atingiu Sunspear e conseguiu a submissão da Casa Martell, vencendo assim a guerra e conquistando Dorne oficialmente.

No entanto, a conquista de Daeron se provou tanto sangrenta como efêmera. Segundo Benjen Stark, dez mil soldados do Trono de Ferro morreram durante a conquista, e outros cinquenta mil morreriam nos anos seguintes enquanto Daeron lutava para manter Dorne sob seu domínio. Após Dorne entrar em rebelião aberta depois da morte de Lorde Tyrell em Sandstone, Daeron foi forçado a retornar a Dorne e, embora ele e Lorde Alyn tenham conseguido derrotar os dornenses no campo de batalha, Daeron acabou morto à traição, atacado sob uma bandeira de paz em uma armadilha quando supostamente se preparava para negociar uma nova rendição de Dorne. A morte do Jovem Dragão efetivamente apagou sua conquista, e Dorne voltaria a ser uma região independente até o reinado do homônimo Daeron II.

Então embora em termos de governo o reinado de Daeron tenha sido bastante positivo e próspero graças à liderança sóbria e calculista de Viserys, é difícil não olhar torto para um reinado que se baseou enormemente em uma única conquista militar, que custou entre cinquenta e sessenta mil vidas só do lado de Daeron, e durou dois anos antes de ser completamente revertida .Daeron tinha potencial, inteligência, charme e imaginação para ser um grande rei, mas suas próprias ambições fizeram do seu reinado apenas o 11º melhor da dinastia Targaryen, e um marcado por guerras e morte.

#10. Aerys I Targaryen
Reinado: 209 – 221 AC

Segundo minha avaliação, Aerys é a linha que separam os maus reis dos bons reis. Ele é, de certa forma, o rei que mais se aproxima da mediocridade, embora provavelmente caindo para o lado positivo dessa fina linha. Daqui para frente, todos os reis dessa lista são os que eu considero os bons reis de Westeros.

De certa forma, Aerys pode ser considerado também o mais irrelevante dos reis Targaryen. Talvez por nunca ter esperado que chegaria ao cargo – Aerys era apenas o quarto na linha de sucessão do seu pai, Daeron II, atrás do seu irmão Baelor e seus sobrinhos Matarys e Valarr – e ter sido obrigado a assumir a coroa após as repentinas mortes de Daeron, Matarys e Valarr durante a Grande Praga da Primavera, mas Aerys nunca teve qualquer interesse no trono que ocupava. De fato, a própria instrução que George Martin passou para o desenhista Amok fazer o retrato de Aerys I foi que o rei sequer teria a coroa na cabeça, “como se tivesse esquecido de coloca-la”; no desenho final de Amok, a coroa real descansa em uma pilha de livros próxima ao rei. Esse desinteresse fez com que pouquíssimo do que aconteceu no seu reino tivesse de fato a mão do rei, uma vez que Aerys preferia muito mais ficar nos seus livros e estudos do que governando.

Semelhante a Daeron I, no entanto, essa negligência não teve um resultado ruim para o reino porque pelo menos o rei capacitou as pessoas certas para cuidar do governo na sua “ausência”. No caso, apesar dos protestos de seu irmão mais novo Maekar, Aerys acabou tomando a decisão correta de nomear seu tio Brynden Rivers para o cargo de Mão do Rei. Rivers se provou um governante extremamente capaz, que conseguiu contornar os (não poucos) problemas que surgiram no reino durante seu governo e ainda de controlar mais duas rebeliões (mais disso daqui a pouco). Mesmo que os méritos de Aerys sejam mínimos, eles pelo menos existem, e apesar de recordado com pouquíssima saudade ou admiração (não sem razão) pelo menos os anos de seu reinado levaram Westeros para frente, e não para trás.

O que é muito diferente de dizer que seu reinado foi pacífico ou sem problemas, é claro. Ainda assim, é difícil realmente culpar Aerys pela grande maioria deles, uma vez que estavam além do seu controle. Aerys assumiu o trono durante uma grande peste que matou boa parte do reino, e embora isso tenha causado muita morte, dor e sofrimento durante os primeiros anos do reinado, não é como se Aerys tivesse criado ou expandido a praga por desgoverno ou negligência. Pelo contrário, as ações de Rivers – por mais impopulares que fossem – ajudaram a controlar sua propagação e estabilizar a situação antes que ela piorasse. O mesmo é verdade da grande seca que durou um ano, pouco depois; por mais que os cidadãos comuns culpassem o rei e sua Mão pela seca e o sofrimento que dela derivava, Aerys e Rivers fizeram o que podiam para lidar com uma situação que não controlavam. As consequências desses eventos podiam gerar inquietação e até revolta em boa parte da população, que culpavam ou desprezavam seus governantes, mas não necessariamente com justiça; a única parte que o Trono de Ferro controlava desses males era a sua resposta a eles, e essa foi provada eficiente dentro do possível.

O reino de Aerys também foi marcado por guerras, embora nenhuma causada pelo seu governante, e sim pelos fantasmas do passado. A Segunda e Terceiras Rebeliões Blackfyre, lideradas por Aegor Rivers e os filhos de Daemon Blackfyre, aconteceram durante o reinado de Aerys, assim como a insurreição de Dagon Grayjoy, que se aproveitou da situação caótica entre seca, peste e rebeliões para retomar o Costume Antigo das ilhas de ferro e sair saqueando a costa pedregosa. Mas, novamente para o mérito de Aerys e daqueles que ele colocou no poder, todas essas situações foram eficientemente controladas: a Segunda Rebelião Blackfyre foi derrotada antes de sequer começar graças às ações de Brynden Rivers, a Terceira Rebelião Blackfyre acabou como uma vitória decisiva para o Trono de Ferro sob as lideranças de Makar e seu filho Aegon, e também a sanha de Dagon Grayjoy eventualmente acabou nas mãos “dos dragões” (nas palavras de Victarion Greyjoy).

Os doze anos do governo de Aerys foram turbulentos, sem dúvida, e talvez um rei mais envolvido e enérgico pudesse ter oferecido resultados melhores para esses problemas externos. Mas a negligência de Aerys fez mais bem do que mal aos Sete Reinos, e por isso e sua irrelevância enquanto indivíduo ele se torna o divisor de águas dessa lista.

#9. Maekar I Targaryen
Reinado: 221 – 233 AC

Eu sei que a minha própria regra era a de considerar apenas o que um rei fez após sua coroação, e não antes, mas é difícil não dar pelo menos um pouco de crédito a Maekar por ser uma fonte de estabilidade em tempos conturbados. Desde o reinado de seu pai, Daeron II (mais à frente nessa lista), quando junto com seu irmão Baelor (e seu tio, Brynden Rivers) foi um dos comandantes responsáveis por derrotar a rebelião de Daemon Blackfyre na Batalha do Capim Vermelho; passando pelo reinado de seu irmão Aerys, quando apesar de afastado do Trono de Ferro devido às suas diferenças com Rivers, a Mão do Rei, Maekar foi uma das principais lideranças em derrotar a terceira Rebelião Blackfyre junto do seu filho Aegon; até chegar na sua própria coroação improvável.

E embora Maekar fosse uma pessoa complicada, ainda mais depois da morte acidental do seu irmão Baelor pelas suas próprias mãos, seu reinado foi um período de relativamente paz e tranquilidade. Apesar das diferenças que Maekar tinha com Brynden Rivers, o rei foi sábio e sensato o suficiente para colocar suas rixas pessoais de lado e manter o extremamente competente Rivers como Mão do Rei pelo bem do reino, algo que conta pontos a seu favor e deve ter contribuído para seu reinado tranquilo.

Embora sem grande brilho ou grandes realizações, foi um bom governo para o inesperado monarca: pacífico, prospero e sem grandes conflitos. Se não fosse a própria personalidade de Maekar e seu forte desejo de romper com o passado, poderia ser lembrado ainda mais favoravelmente.

#8. Aegon III Targaryen
O Rei Quebrado
Reinado: 131 – 157 AC

Outro rei que tinha pouco ou nenhum interesse no cargo que ocupava, deixava a maior parte do dia-a-dia do governo para sua Mão e seu conselho, e fazia poucos esforços individualmente – embora Aegon, ao contrário de Aerys, tivesse motivos legítimos para isso. Filho de Rhaenyra Targaryen, Aegon cresceu em meio à guerra civil da Dança dos Dragões e, nas semanas finais da guerra, não só viu sua mãe ser comida viva pelo dragão do tio Aegon II como depois foi prisioneiro e torturado pelos apoiadores reais, antes de ser liberado e coroado segundo a morte do predecessor. Durante a guerra, ele perdeu sua mãe, pai, irmão (supostamente), seu dragão e sua infância… e de repente, com 11 anos, o garoto foi coroado, encarregado do fardo de governar um reino devastado e dividido, em meio a uma forte disputa por poder por parte de diversos lordes que se diziam seus amigos. Você pode culpar Aegon III por ter se tornado um rei soturno, depressivo e que preferia ficar sozinho do que com toda a fanfarra da corte? Eu certamente não.

Durante a minoridade de Aegon, o reino foi governado (de forma bastante turbulenta) por seus regentes, muitos dos quais (principalmente Unwin Peake) se aproveitaram da situação para tentar ganhar poder e influência nesse vácuo de poder que se apresentou. Uma vez na sua maioridade, no entanto, Aegon III saiu de seu isolamento para assumir o poder, substituir o governo por homens da sua confiança (ajudados e eventualmente liderados pelo irmão, Viserys), colocar as bases do resto do seu governo… e, feito isso, basicamente se isolou de novo e voltou para suas próprias lamentações. Oh, well.

E, no fundo, funcionou; principalmente porque Viserys (por todas as referências possíveis) foi um dos melhores e mais hábeis Mão do Rei que já passaram pelos Sete Reinos. Como eu disse antes, negligência por parte do rei no seu próprio governo não necessariamente é algo de ruim, desde que você coloque as pessoas certas – competentes, leais, com os mesmos ideias e objetivos que os seus – para ficar no seu lugar. E embora você possa argumentar que nesse caso o mérito é muito menor (e diz menos sobre a pessoa em si) do que se o monarca fizer essas coisas pessoalmente, vale destacar que nos dois momentos críticos do seu reinado, quando foi necessário que Aegon III tomasse as rédeas de uma situação, ele o fez: primeiro na Primavera Lysena, quando ele e Viserys se recusaram a ceder ao jogo de poder dos regentes e protegeram sua cunhada (Larra Rogare) até conseguir reverter a situação em seu favor; e depois quando atingiu a maioridade, imediatamente despindo todo o conselho e os regentes do seu poder obtido às custas do trono para instalar o novo conselho que reinaria em paz e prosperidade pelos próximos anos. Talvez Aegon não tivesse o interesse ou a vontade de se impor mais regularmente, mas quando o fez, ele mandou bem.

E também tem o seguinte: considere o nível de dificuldade da tarefa de Aegon. Ele assumiu o trono seguindo uma TERRÍVEL guerra civil que deixou os Sete Reinos divididos e destroçados, com sua Casa perdendo sua principal fonte de poder (seus dragões), e apenas ele (antes de descobrir que Viserys ainda estava vivo) sobrando na linhagem Targaryen pelo lado masculino – o que por sua vez fez dele alvo de todo tipo de aproveitador tentando subir ao poder. E, nos vinte e seis anos de seu reinado, ele conseguiu unificar novamente Westeros ao redor de um único rei, curou as feridas deixadas pela sua mãe e seu tio, ajudou os Sete Reinos a se recuperarem seguindo a Dança dos Dragões, se preocupou em melhorar a qualidade de vida dos pobres que mais sofreram com a guerra, e deu a Westeros paz e harmonia em abundância. Talvez sua personalidade soturna e pouco convidativa fizesse dele um rei pouco querido, especialmente pelas massas, o que explica sua reputação e mesmo o seu reinado ser frequentemente descrito como “melancólico”. Mas pense de novo em como Aegon pegou o reino aos 11 anos de idade, e como entregou na sua morte. Aegon III, o Rei Quebrado, foi um rei muito melhor do que recebe crédito (e muito melhor do que seus filhos mais famosos e queridos, Daeron I e Baelor).

#7. Viserys I Targaryen
O Jovem Rei
Reinado: 103 – 129 AC

Durante os vinte e seis anos do reinado de Viserys I Targaryen, os Sete Reinos viveram seu período de maior paz, prosperidade e riqueza. Igualmente, sob Viserys a Casa Targeryen viveu o auge do seu poder, com maior apoio do que nunca na manutenção do Trono de Ferro, numerosos membros da família e, acima de tudo, muitos e muitos dragões. Então como o rei que presidiu sobre esses anos dourados da dinastia Targaryen acaba em apenas SÉTIMO lugar nessa lista dos melhores reis?

Bem, em primeiro lugar porque nenhum rei herdou uma situação tão favorável para começar seu reinado quanto Viserys; de seu predecessor e avô, Jaehaerys I (que ainda vai aparecer na lista), Viserys recebeu um reino pacífico e unido, um tesouro cheio de ouro, medidas de saneamento e infraestrutura que viriam a dar muitos frutos positivos ao longo do seu governo, e o caminho das pedras para um reino próspero. Obviamente que uma coisa é herdar uma situação favorável e outra é saber aproveitar e construir em cima desse bom começo, e não quero insinuar de modo algum que Viserys não teve méritos em colher os frutos deixados pelo avô. Viserys era um homem competente e amigável, que conseguiu unir opositores e inimigos ao seu redor, e aproveitar a boa situação que se encontrou. Nenhum reinado tão pacífico e próspero dura 26 anos dessa maneira sem competência por trás.

No entanto, o que derruba Viserys é simples: legado. Se a Dança dos Dragões do reinado de Aegon II foi a mais terrível guerra civil já vista em Westeros e marcou uma queda enorme no poder e prestígio da Casa Targaryen, foi no governo de Viserys que as sementes da Dança nasceram e germinaram para finalmente eclodir após sua morte.

Se Daeron I e mesmo Aegon III são exemplos de como a negligência de um rei pode ser benévola para com seu povo desde que feita capacitando as pessoas certas na hora certa, Viserys é um exemplo de quando essa negligência acaba sendo espetacularmente tóxica. Embora sua Mão durante boa parte do reinado, Otto Hightower, fosse um administrador competente (e o próprio Viserys estivesse frequentemente envolvido no governo do reino em si, ao invés de apenas delegar como fizeram Aegon e Daeron), o nobre da Campina também aproveitava da sua posição para conspirar e avançar suas próprias pretenções políticas para cima do rei, algo pelo qual ou Viserys não foi capaz de enxergar, ou simplesmente não quis. Na verdade, Viserys fechou os olhos espetacularmente para as crescentes tensões entre sua filha e herdeira, Rhaenyra, e sua segunda esposa, Alicent Hightower, que queria coroar seu filho Aegon no lugar da enteada; conforme a corte e o reino se agrupavam com cada vez mais força em facções rivais (para não falar inimigas), o rei foi empurrando com a barriga a situação sem fazer nada de fato até que a guerra civil chegou no seu estopim. E quando Viserys morreu, como QUALQUER UM poderia ter previsto, sua rainha Alicent e a Mão (e pai da rainha) Otto Hightower ignoraram completamente o desejo do rei para colocar as próprias ambições em primeiro lugar, e coroar o Targaryen do seu próprio sangue, Aegon, dando início à Dança dos Dragões.

Sobre os motivos que começaram a crise de sucessão, Viserys nomeou Rhaenyra sua herdeira quando, após a morte da esposa e sem filhos homens, o rei quis evitar que o trono passasse para seu problemático irmão, Daemon Targaryen. O problema é que isso contrariava as diretrizes do Grande Conselho de Jaehaerys, que determinavam que o trono sempre deveria ser transmitido por linhagem masculina; de fato, muitos dos que se declararam por Aegon durante a Dança dos Dragões argumentou que estava fazendo isso para defender os costumes ândalos de linhagem masculina e que Aegon seria o herdeiro legítimo pelas leis de Westeros. E, mesmo quando Aegon nasceu da sua segunda mulher, Viserys se recusou a alterar suas determinações e manteve Rhaenyra como sua herdeira, embora tivesse um herdeiro masculino direto para herdar o Trono de Ferro.

Deveria Viserys ter engolido Daemon como seu herdeiro, ao invés de nomear Rhaenyra? Ou então ter nomeado Aegon como novo herdeiro quando este nasceu? Ou, em último caso, uma vez decidido de vez por Rhaenyra mesmo com seus novos filhos o mínimo que Viserys deveria ter feito seria coibir o poder da esposa e os partidários de Aegon na sua corte… ao invés de, sabe, manter o avô de Aegon como Mão do Rei e todo o conselho composto de partidários da rainha? Não sei dizer qual deles, mas ao não fazer nenhum deles e ignorar todos os sinais, Viserys condenou o reino à Dança dos Dragões e toda a morte e destruição que daí adveio.

#6. Jaehaerys II Targaryen
Reinado: 259 – 262 AC

Outro exemplo de como a percepção que o povo e os ignorantes tem dos reis não necessariamente corresponde à realidade. Mas, ao contrário de Baelor e Daeron I, não é o caso de um mau rei sendo bem lembrado, e sim o oposto.

Considerado fraco por muitos (em parte por não ser um guerreiro, ao contrário dos irmãos Duncan e Daeron, e mesmo seu pai Aegon V), aqueles próximos a Jaehaerys sabem melhor – e um desses era o lendário Barristan Selmy, que tinha uma opinião mais favorável do monarca. E não é para menos. Jaehaerys assumiu o trono repentinamente após a Tragédia de Summerhall que matou seu pai, e em um cenário muito difícil não só pelo quão inesperado foi essa mudança, mas pelo contexto: com a Guerra dos Reis das Nove Moedas no horizonte se preparando para chegar em Westeros, um governo repentinamente vazio após as mortes de Duncan e Aegon, e a insatisfação de parte dos nobres dos reinos com o governo do seu pai, a tarefa era hercúlea e um rei fraco teria rapidamente sucumbido à situação.

Mas não foi o que aconteceu com Jaehaerys. Apesar da tragédia pessoal recente, Jaehaerys não perdeu tempo em convocar todos os conselheiros à sua disposição para traçar um plano de campanha para a guerra. Sabiamente, Jaehaerys optou por não esperar que a guerra chegasse em Westeros, e ao invés disso mobilizou suas forças para ir encontrar os rebeldes nos Degraus sob o comando de sua Mão, Ormund Baratheon (o rei queria ir ele mesmo conduzir a campanha, mas Lorde Baratheon argumentou corretamente que seria um risco dada a saúde frágil do rei e sua falta de familiaridade com os rigores de uma campanha militar). Quando Barristan Selmy matou Maelys Blackfyre, o Monstruoso, a ameaça dos Reis das Nove Moedas sobre Westeros foi eliminada, e a iniciativa rápida e decisiva de Jaehaerys, validada.

O resto do reinado de Jaehaerys II foi bastante curto, durando apenas três anos antes que o enfermo rei falecesse de uma doença súbita, mas esses anos foram marcados por paz (após o fim da guerra), tranquilidade e um reinado inteligente e sensato. Jaehaerys eliminou a ameaça Blackfyre, tornou a unir ao Trono de Ferro algumas Casas nobres que estavam descontentes com o reinado de Aegon, e no pouco tempo que teve se mostrou um rei inteligente, eficiente e sábio. Não consigo colocar um rei que governou só três anos mais alto do que isso, mas talvez o rei mais subestimado da história dos Sete Reinos.

#5. Aegon V Targaryen
Aegon, o Improvável
Reinado: 233 – 259 AC

De longe o rei mais difícil de se avaliar nessa lista. Embora um monarca com uma lista de “prós” de fazer inveja a muitos outros da lista, também é um cujo reinado foi marcado por uma série de problemas e insatisfação… embora, ao mesmo tempo, seja possível questionar o quanto desses problemas realmente foram culpa de Aegon.

No fundo, acho que sua avaliação do reinado de Aegon depende como você enxerga um simples fato: seu projeto de governo. A organização social feudal de Westeros funciona de forma extremamente elitista, explorando a grande massa da população em favor de uns poucos privilegiados com títulos de nobreza. Aegon, que cresceu entre os plebeus enquanto escudeiro do cavaleiro andante Ser Duncan, o Alto, era muito ciente das dificuldades que esse sistema impunha sobre os menos favorecidos, e uma vez coroado estava determinado a mudar essa situação. Indo muito além dos simples gestos de caridade aleatórios (bem-intencionados, mas no fundo ineficazes) de Baelor, Aegon propôs reformas e leis que efetivamente ampliavam os direitos e condições dos plebeus e melhoravam diretamente suas situações de vida. Tirando talvez o #1 dessa lista, nenhum rei Targaryen fez mais pelo povo comum (a vasta, VASTA maioria dos habitantes de Westeros) do que Aegon, e no seu reinado essas pessoas tiveram uma melhora gritante de qualidade de vida.

Só que o outro lado da moeda é que, ampliando os direitos dos plebeus, Aegon ganhou a inimizade de muitos nobres do reino, que tiveram que abrir mão dos seus privilégios para isso. É a velha história: para o privilegiado, igualdade parece opressão. Apesar do gigantesco abismo social existente entre a nobreza e o povo de Westeros, mesmo assim os nobres denunciaram Aegon como um tirano quando ele tentou tirar um pouquiiiinho desses privilégios para melhorar a vida de terceiros. A ideia e visão de Aegon eram excelentes e extremamente progressistas para Westeros, mas também criaram uma oposição forte entre muitos nobres dos Sete Reinos, o que por sua vez impediu que Aegon fizesse as suas reformas e mudanças com a amplitude e eficiência que teria desejado. Sem dragões para impor essas reforças na marra ou apoio político suficiente, Aegon acabou precisando deixar sua visão incompleta.

O problema é que Aegon teve a antevisão desse problema e se preparou adequadamente, mas não teve sucesso por causa de fatores “externos”. Com a ajuda de sua rainha, Betha Blackwood, Aegon planejou uma série de casamentos vantajosos para seus herdeiros: Duncan, o príncipe de Pedra do Dragão, deveria ter se casado com a filha de Lorde Lyonel Baratheon; Jaehaerys, o segundo filho, com Celia Tully, filha de Lorde Tully; Daeron, o mais moço, com Olenna Redwyne (sim, AQUELA Olenna), filha do lorde da Árvore; e sua filha Shaera com Luthor Tyrell, lorde de Highgarden. Pensados politicamente, eram casamentos brilhantemente arquitetados que colocaria três das casas mais poderosas de Westeros (e mais a casa com a maior frota do reino) ao seu lado, dando a Aegon o poder político que ele precisava para passar suas reformas impopulares e finalmente dar forma à sua visão de um Westeros mais justo e equitativo.

No entanto, os planos de Aegon não deram certo por uma série de fatores. Um deles era que Aegon casara com Betha Blackwood por amor, o que não era um problema já que Aegon – o quarto filho do quarto filho do rei Daeron II – estava tão abaixo na linha sucessória a ponto de não fazer diferença; no entanto, quando Aegon subiu ao poder, os seus filhos decidiram seguir o exemplo dos seus pais ao invés das suas ordens, rejeitando os casamentos arranjados e decidindo seguir seu coração na hora de escolher seus cônjuges. Contra os desejos de seus pais, Príncipe Duncan se casou com uma plebeia, Jeyne, o que ofendeu tanto a Casa Baratheon que levou esta a declarar o fim da sua lealdade ao Trono de Ferro e iniciar uma curta, mas sangrenta, rebelião; igualmente contrariando o bom senso, o bem do reino e os desejos de seus pais, Shaera e Jaehaerys casaram em segredo um com o outro, enquanto Daeron (possivelmente homossexual) terminou seu noivado mas nunca voltou a se casar. Ao invés de criar alianças muito próximas com quatro das maiores, mais ricas e poderosas casas dos Sete Reinos, a teimosia e ações independentes dos filhos de Aegon lhe geraram “inimigos amargos onde se poderiam ter feito bons aliados”, nas palavras de Maester Yandel. Ainda assim, mesmo que tenham impedido um governo mais estável e tranquilo, e poupado muita insatisfação e revolta com as medidas de Aegon, eu tenho dificuldade em culpar o monarca por isso devido às circunstâncias extremamente únicas envolvendo sua ascensão ao poder.

Tirando os problemas causados por esses dois fatores, os noivados quebrados dos seus filhos e a impopularidade entre os nobres das suas reformas por igualdade, o reinado de Aegon foi bastante positivo. Aegon conseguiu lidar com grande eficácia com um terrível e longo inverno logo no começo de seu reinado, e embora suas ações para salvar a população da fome tenham sido impopulares (novamente) com nobres, é difícil negar que salvaram muitas vidas inocentes. Quando problemas internos apareceram em Westeros, Aegon foi igualmente eficiente em resolvê-los: A revolta de Lyonel Baratheon foi rapidamente contida com a renúncia ao trono do príncipe Duncan, o casamento da princesa Rhaelle com o herdeiro de Lorde Lyonel (Ormund Baratheon, que depois seria Mão de Jaehaerys II) e um julgamento por combate; da mesma forma, Aegon lidou muito bem com a Quarta Rebelião Blackfyre, eliminando rapidamente a ameaça de Daemon III Blackfyre e expulsando a Companhia Dourada de Westeros; e mesmo enviando seus soldados para restaurar a ordem no oeste quando o governo fraco de Tytos Lannister ameaçava descambar em caos total. Aegon também deixou um projeto de campanha antes da sua morte sobre como lidar com a ameaça dos Reis das Nove Moedas, projeto esse que Jaehaerys eventualmente usaria para dar um fim à guerra.

No fim, eu acabo dando crédito extra a Aegon pelo seu projeto em favor do povo de Westeros e os avanços que conseguiu nessa frente; e, ao mesmo tempo, imagino um outro cenário no qual os filhos de Aegon teriam casado com quem seus pais lhes arranjaram, Aegon teria conseguido solidificar sua base política o suficiente para ir até o fim com suas reformas, e seu reinado teria mudado radicalmente a face dos Sete Reinos em uma direção muito mais moderna, favorável e progressista. Ainda assim, Aegon V, o Improvável, fez o suficiente para lhe render o quinto lugar nessa lista.

#4. Viserys II Targaryen
Reinado: 171 – 172 AC

E chegou a hora de quebrar a regra que eu mesmo criei para esse texto, mas Viserys II Targaryen é uma exceção que não pode ser ignorada.

Se fosse para cumprir o prometido e se ater estritamente ao que cada rei fez após sua coroação, Viserys não estaria tão alto; o monarca ficou apenas um ano no poder antes de morrer subitamente, possivelmente envenenado por seu filho e sucessor, Aegon IV (que não está em último nessa lista à toa). Mas, nas palavras de Tyrion Lannister, “Viserys pode ter reinado por um ano, mas governou por quinze enquanto Daeron guerreava e Baelor rezava”. Esse número, na verdade, provavelmente se aproxima mais de vinte (ou mais), já que Viserys também foi Mão de seu irmão Aegon III durante uma parte do seu reinado.

E, sob qualquer ótica, Viserys foi uma das Mãos do Rei mais competentes e capazes que os Sete Reinos já viram, rivalizando com nomes como Barth e Tywin Lannister. Eu realmente não quero fazer o argumento para todos os reis dessa lista que antes serviram como Mão do Rei ou que tiveram boas atuações em outros cargos, mas Viserys é um caso à parte. Considere os três reis que Viserys serviu como Mão, e você vai ver o que eu me refiro: Aegon III e seus filhos, Daeron I e Baelor I, eram três reis notavelmente avessos a governar o reino, se dedicando ao invés disso a outras preferências. Aegon, irmão de Viserys, era notavelmente melancólico e desinteressado, alguém que se trancava em solidão por dias e semanas à fio enquanto delegava o governo do reino para outros; após a morte de Aegon, Viserys seguiu sendo Mão de Daeron (que passou a grande maioria do seu governo em guerra contra Dorne, enquanto Viserys cuidava do reino) e depois de Baelor (que notavelmente só se interessava por assuntos espirituais e, como já citado, só aparecia no governo para fazer besteira). Não são poucos os que acreditam que as loucuras de Baelor teriam sido muito piores e prejudiciais ao reino se não fosse por Viserys, e é inegável que durante esses três reinados Viserys foi a fonte de estabilidade e eficiência que manteve os Sete Reinos à tona.

Então eu estou do lado de Tyrion aqui; quando o Grande Maester Keith escreveu seu “Vida de Quatro Reis”, ele cometeu um erro monumental ao não fazer de cinco reis incluindo Viserys, alguém que fez tanto pelo reino como governante quanto qualquer outro a passar pela corte Targaryen. O seu reinado de fato só ter durado um ano é a única coisa que impede o brilhante Viserys II de se juntar aos três próximos nomes dessa lista, que para mim estão em um nível completamente separado dos demais, mas se pegarmos apenas o que cada um dos reis fez pelo bem, paz e progresso do reino enquanto governante, Viserys consegue bater de frente com todos eles, e não fosse sua morte precoce – nas palavras de Yandel – “ele poderia ter sido um novo [Jaehaerys I, o] Conciliador, pois poucos homens tão hábeis e inteligentes já se sentaram no Trono de Ferro”.

#3. Daeron II Targaryen
Daeron, o Bom
Reinado: 184 – 209 AC

Estamos agora entrando no Panteão, a nata da nata, a elite da elite dos reis Targaryen. E começamos com Daeron II, conhecido como Daeron o Bom, e seu reinado de vinte e cinco anos sobre Westeros.

Logo de cara, é fácil identificar qual foi o grande problema do seu reinado: a terrível guerra civil conhecida como a (primeira) Rebelião Blackfyre, que dividiu o reino entre o apoio a Daeron, o rei legítimo, ou a Daemon Blackfyre, bastardo legitimado de Aegon IV e que portava a espada de aço valiriano dos Targaryen, Blackfyre. Durante um ano, os Sete Reinos sangraram antes que Daemon Blackfyre fosse morto na batalha decisiva do Campo do Capim Vermelho. Ainda assim, mesmo após seu fim, a guerra deixou um legado de muita divisão e insatisfação, que continuaria a envenenar Westeros por gerações.

Mas, apesar da guerra ter acontecido e cobrado seu preço durante o reinado de Daeron, é simples notar que ela não aconteceu por qualquer coisa que Daeron tenha feito ou deixado de fazer, e sim por causa do horrendo governo e legado deixados por seu pai, Aegon IV. As repetidas tentativas de Aegon de desacreditar seu filho e herdeiro quando este começou a se erguer em oposição ao enorme desgoverno e corrupção que tomaram conta do reinado do pai, em uma tentativa de remover seu filho como obstáculo, incluíram espalhar rumores sobre sua paternidade (alegando que Daeron seria um bastardo do irmão de Aegon, Aemon), repetidas ameaças de deserdar Daeron em favor de Daemon (o que ele só não fez porque significaria guerra), dar a espada Blackfyre para seu filho bastardo, e por fim o gesto de legitimar todos seus bastardos – todos esses criaram o ambiente perfeito para o ambicioso Daemon e todos os seus apoiadores e admiradores de criarem um argumento a favor de coroar Blackfyre em detrimento de Daeron. A guerra civil, a essa altura, já era inevitável.

Do seu lado, Daeron fez o que podia para manter a paz, governando com justiça e sabedoria, mantendo os Grandes Bastardos (os bastardos de Aegon filhos de pais nobres, como Daemon Blackfyre, Aegor Rivers e Brynden Rivers) próximos e com os privilégios prometidos por Aegon, e até pagando o dote do casamento de Daemon com sua esposa Rohanne de Tyrosh. Os apoiadores de Daemon eventualmente clamariam que a causa da guerra foi Daeron recusar ao irmão a mão de sua irmã, princesa Daenerys (casada com Maron Martell para enfim unir Dorne aos Sete Reinos), impedindo o amor mútuo dos dois, mas não só isso é amplamente questionável e soa mais como uma desculpa, como o rei foi absolutamente correto em colocar o reino e a paz em primeiro lugar contra o desejo (sacrílego, pois Daemon já era casado) de seu irmão. O único erro de Daeron talvez tenha sido manter a sua ineficiente (e, futuramente, de lealdade questionável) Mão, Lorde Butterwell, por tempo demais, mas assim que Daemon decidiu clamar a coroa e ficou claro que a inércia de Butterwell estava deixando a rebelião crescer, Daeron imediatamente tomou a frente da situação.

Embora não fosse um guerreiro – motivo pelo qual muitos nobres marciais, que preferiam guerra à paz, se aliaram a Daemon – Daeron soube identificar aqueles leais aos seu redor que o eram e poderiam fazer a diferença no campo de batalha, tornando-o seus principais comandantes: seus filhos, Baelor e Maekar, e seu meio-irmão, Brynden Rivers, todos os quais acabariam tendo um papel decisivo em vencer a guerra contra o usurpador Daemon. Foi Brynden que, com sua guarda pessoal de arqueiros, conquistou o terreno alto na batalha final no Capim Vermelho e usou sua posição para alvejar e matar Daemon e seus filhos, encerrando assim guerra de uma vez por toda; e foram Baelor e Maekar que, após a morte de Daemon, fizeram a manobra decisiva do “martelo e da bigorna” para esmagar o que sobrou das forças Blackfyre, encerrando definitivamente a batalha. Enquanto isso, a diplomacia e inteligência do rei mantiveram ao seu lado como aliadas algumas das mais poderosas Casas dos Sete Reinos, como os Tully, os Baratheon, os Martell, os Arryn e os Tyrell, todas decisivas no triunfo final dos legalistas. E embora as ações duras que Daeron tomou contra os derrotados ao final do conflito tenha surpreendido alguns e sido alvo de críticas, é impossível discutir com a eficiência dos resultados: elas reduziram enormemente o poder e a riqueza dos aliados da Casa Blackfyre, ao ponto de que todas as tentativas posteriores de rebelião por parte dos descendentes de Daemon Blackfyre acabaram em fracasso. Nenhuma das outras quatro Rebeliões Blackfyre posteriores chegaram perto de ter a força ou representar a ameaça da primeira, e muito disso veio das medidas tomadas por Daeron após vencer a guerra.

Após o fim da rebelião, o reinado de Daeron foi marcado por paz, riqueza e abundância. Sob o justo e sábio Daeron II, a Casa Targeryen viveu seu último grande auge em Westeros, com herdeiros e descendentes de sobra, e um príncipe herdeiro (e Mão do Rei) dos melhores que os Sete Reinos já conheceram em Baelor Breakspear; isso, por sua vez, rendeu prosperidade, estabilidade e segurança significativos para Westeros. Daeron trabalhou para limpar a corte corrupta e ineficiente de seu pai, Aegon, e instalou um novo conselho composto de homens que acabaram se provando excelentes escolhas e hábeis administradores. Daeron também foi quem finalmente unificou todas as terras ao sul da Muralha ao trazer Dorne para o reino, não através do custo humano pago pelo seu homônimo Daeron I, mas pacificamente, ao casar sua irmã Daenerys com Maron Martell.

O destino acabaria por ser cruel com Daeron e seu legado, primeiro com a morte acidental do grande Baelor Breakspear, e depois com a morte do próprio rei e seu novo herdeiro, Valarr (filho de Baelor), durante a Peste da Primavera. Mas onde Daeron teve comando e controle do que fazer, ele se provou um reino tão grande quanto qualquer outro que já sentou no Trono de Ferro, e seu legado continua até os dias “presentes” em Westeros. Engula essa, Eustace Osgrey!

#2. Aegon I Targaryen
Aegon, o Conquistador
Reinado: 2 BC – 37 AC

Aegon foi literalmente o motivo de eu ter criado a regra de não contabilizar completamente todos os feitos desses reis antes de se tornarem reis de fato, pois senão ele seria facilmente o #1 dessa lista; afinal, não existiria um Westeros para os outros dezesseis reis dessa lista governarem se não fosse pela Conquista de Aegon ter unificado os Sete Reinos (bem, seis; Daeron II unificou o sétimo) com fogo e sangue. Mas estamos falando de reis aqui, e as capacidades que fazem um grande guerreiro e conquistador são totalmente diferentes das que fazem um grande rei; por esse motivo, eu preferi deixar de lado a conquista de Aegon e focar apenas em seu reinado propriamente dito.

Ainda assim, mesmo deixando de fora a sua gloriosa Conquista, ainda tem muito de positivo a se dizer sobre o governo de Aegon, o Conquistador. Mesmo após a unificação de Westeros sob o comando do Trono de Ferro, a tarefa que Aegon enfrentava era hercúlea: unir de fato (e não apenas em nome) reinos e culturas díspares entre si, que passaram boa parte da sua existência guerreando entre si por supremacia e soberania, e agora precisavam não só coexistir em harmonia mas abaixar a cabeça perante um novo soberano.

A sorte dos Targaryen (e de Westeros) é que Aegon estava à altura dessa tarefa. Sua força e determinação logo se mostraram sempre que surgia alguma rebelião ou descontentamento, acabando rapidamente com os dissidentes e mostrando ser terrível para os inimigos e generoso com os aliados. Aegon sempre também foi extremamente hábil politicamente, e passava boa parte do ano viajando por Westeros, se mostrando para seus súditos, comendo à mesa dos nobres, e mostrando seu dragão Balerion para garantir que todos soubessem exatamente quem mandava ali. Em suas viagens, era acompanhado de maesters e septões que lhe ensinavam os costumes e leis de cada região na hora de passar julgamento, e Aegon sempre tinha o tato de visitar o Alto Septão e reproduzir uma imagem piedosa – tanto que Aegon declarou o começo de seu reinado não ao fim da Conquista, ou quando ele foi coroado inicialmente no que viria a ser Porto Real, mas sim quando foi ungido e coroado pelo Alto Septão em Vilavelha.

Com a ajuda de sua esposa Rhaenys, Aegon também promoveu diversos casamentos entre Casas distantes e mesmo rivais, ajudando a unir e integrar os reinos díspares que agora estavam sob seu comando. E embora Aegon deixasse muito da governança do reino nas mãos de conselheiros confiáveis (incluindo suas irmãs), o Dragão nunca hesitou em tomar o comando da situação quando necessário, sempre buscando resoluções rápidas e eficientes para os problemas. E embora por baixo da superfície e de todos os esforços de Aegon ainda existisse muito (inevitável) descontentamento por parte do reino e da Fé, que se opunham a essa nova ordem (como ficou claro após a subida de Aenys ao trono, seguindo a morte de Aegon), é um testamento à força, carisma e habilidade política de Aegon que, enquanto ele viveu e governou, esses problemas nunca se manifestaram ou afetaram a paz, tranquilidade e abundância que o reinado de Aegon trouxe a Westeros.

Então, se Aegon teve um reinado tão brilhante mesmo em face de um desafio ímpar de tornar sua conquista um reino de fato, por que ele não é o #1 dessa lista?

Por dois motivos. Primeiro, porque o #1 dessa lista, a meu ver, foi quem conseguiu ir além e realmente realizar a visão de Aegon de um reino unificado de fato, e não apenas nas fronteiras; por mais que Aegon tenha conseguido manter os reinos juntos (o que não é pouca coisa, dado que nunca tinha sido assim antes), ainda existia mais uma pluralidade legal e cultural do que uma unidade que identificasse os Sete Reinos. E, segundo, por causa da grande mancha do reinado de Aegon: a Primeira Guerra Dornesa, a desastrosa tentativa de Aegon de conquistar Dorne.

Embora os nobres dornenses soubessem que não tinham chance de derrotar Aegon em campo aberto, eles recorreram a táticas de guerrilha e do profundo conhecimento de suas terras arenosas e perigosas para não dar aos Targaryen inimigos para submeter. Durante nove anos marcados por assassinatos, massacres, torturas e desaparecimento que deixou dezenas de milhares mortos (incluindo Rhaenys Targaryen e seu dragão, Meraxes) e muitos outros feridos ou aleijados, além de todos os castelos de Dorne (exceto sunspear) destruídos, Aegon finalmente desistiu de completar sua conquista (após receber uma carta misteriosa dos Martell) e finalmente fez paz com Dorne. Essa paz perduraria em grande medida pelo resto do seu reinado, não só com Dorne mas para todo Westeros, que retomou seus anos de prosperidade e abundância sob a liderança forte de Aegon.

#1. Jaehaerys I Targaryen
Jaehaerys, o Conciliador
Reinado: 48 – 103 AC

E o primeiro lugar dessa lista não poderia ser outro que não o Velho Rei, Jaehaerys o Conciliador, o mais longevo dos monarcas Targaryen. Quando da sua ascensão ao Trono de Ferro em 48 AC seguindo a morte de seu tio Maegor, Jaehaerys herdou um reino destruído e fragmentado pela guerra, a crueldade de Maegor, e os conflitos com a Fé, e entregou para seu sucessor Viserys II um Westeros pacífico, próspero, rico e unificado.

Os feitos do reinado de Jaehaerys são muitos para listar, mas um bom lugar para começar é: ele finalmente acabou com o conflito entre o Trono de Ferro e a Fé dos Sete, unindo definitivamente a religião dominante de Westeros ao seu reinado, terminando todo o derramamento de sangue que marcou o reinado de Maegor e fazendo com que a Fé pousasse as espadas. Ao contrário de outros reis que (com resultados adversos) preferiam delegar o dia a dia do governo do reino para sua Mão ou seu conselho, Jaehaerys se recusou a deixar que isso acontecesse e sempre procurou estar envolvido diretamente nos assuntos pequenos e grandes da governança do reino; e como Jaehaerys era um homem muito sábio e decidido, capaz de pesar todos os lados de uma questão antes de tomar uma decisão e sempre procurando os fins mais pacíficos para qualquer conflito, os resultados foram extremamente positivos. E isso não quer dizer que Jaehaerys não escutasse ou estivesse disposto a empoderar as pessoas certas ao seu redor, entre as quais se destacam sua rainha Alysanne e seu melhor amigo, Septão Barth, e que fizeram jus à confiança do monarca brilhando por mérito próprio.

Jaehaerys também repetiu a tática de Aegon, o Conquistador, e passou boa parte do seu reinado viajando pelos seus domínios com sua comitiva real, sua brilhante esposa Alysanne e, claro, seus dragões. Essas procissões não só ajudaram a reconciliar diferentes partes de Westeros com o Trono de Ferro e o reinado dos Targaryen, como também serviam para Jaehaerys aprender muitas das diferenças culturais e legais das diferentes regiões de Westeros. E ao contrário de Aegon, que sempre respeitara as diferenças legais e culturais dos reinos que governava, Jaehaerys se dedicou a unificar toda Westeros sob um único código de leis e sistema social, tarefa que ele cumpriu brilhantemente ao longo do seu governo. Jaehaerys perdoou quem tinha que perdoar e puniu quem tinha que punir pelos feitos durante os anos de Maegor, e se dedicou a reformas que melhorassem a vida do povo; ele também construiu a Estrada do Rei para facilitar enormemente o deslocamento entre as diferentes partes de seu reino, incentivou o comércio entre essas partes e também Essos, criou novos impostos para melhorar a saúde financeira do governo sem precisar taxar os pobres, investiu fortemente em infraestrutura e saneamento para dar ao reino uma base saudável em cima da qual se expandir, patrocinou as artes e a cultura, aboliu o direito da Primeira Noite dos lordes … e, quando precisou, mostrou a força necessária para lidar com rebeldes ou insurgentes, como quando o rei e Roger Baratheon eliminaram as forças do Rei Abutre, na fronteira com Dorne.

Durante seu reinado de incríveis cinquenta e cinco anos, os Sete Reinos viveram seu absoluto apogeu em termos de paz, estabilidade, justiça e abundância, sem falar em avanços que continuariam a dar muitos frutos por anos e reinos à fio. A população de Westeros dobrou durante seu reinado, a qualidade e expectativa de vida aumentou, os festivais e torneios mais esplendorosos dos Sete Reinos foram realizados, e as cidades e portos prosperaram como nunca. Antes de morrer, Jaehaerys ainda convocaria um Grande Conselho como nunca antes visto em Westeros para decidir o assunto da sucessão, que acabou por eleger o futuro Viserys I como herdeiro do Trono de Ferro e estabelecendo definitivamente a regra de sucessão que determinava que o trono sempre passaria por linhagem masculina.

Mas o mais importante de tudo foi o seguinte: ao contrário do seu avô Aegon, que reinou sobre sete reinos unidos por uma liderança comum, Jaehaerys efetivamente conseguiu unificar esses sete reinos em um reino só. Nas palavras da Citadela, Jaehaerys “Uniu a terra e fez dos sete reinos, um”. E é, acima de tudo, isso que coloca Jaehaerys no topo da lista como o melhor rei Targaryen da história de Westeros.

~~ Texto de Vitor Camargo. Do Two Minute Warning.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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