Top13 vilões da Disney:

T

Nossa, eu não vou mentir, se tem um momento em que a síndrome de impostor me bate é quando eu estou vendo minha lista de ideias de textos futuros e tá ali um top 13 personagens. Mas ao mesmo tempo… quem acompanha esse blog faz tempo sabe que se eu tivesse que me delimitar a somente dois assuntos, seriam One Piece e Disney, pois eu sempre quero motivo pra falar desses dois,e abraço qualquer pretexto pra me aprofundar nesses dois universos.

E quando One Piece ganhou um arco claramente inspirado na Disney, esse arco ganhou um texto só pra si porque é o melhor de dois mundos.

No caso da Disney na regra: falar bem dos filmes, e falar mal do estúdio. Porque a Disney tem mais é que falir, e o único jeito ético de consumir seus filmes é pela pirataria, porque foda-se demais a Disney. Literalmente a casa de todo o mal na indústria do entretenimento. Dito isso… é impossível eu negar o quanto eu amo seus filmes animados.

Hayasaka, que personagem fácil de simpatizar.

Adoro as músicas, me emociono onde é pra emocionar, rio onde é pra rir, mas principalmente eu adoro os vilões. Nossa que bando de vilão maravilhoso. Os vilões da Disney sempre foram parte integral do carisma dos filmes, tanto quanto as princesas, com uma diferença importante: os vilões não são todos iguais.

E o visual da maioria aí ficou muito mais legal na roupa do vilão do que num vestidão de princesa. Especialmente a Mulan nessa roupa de Huno.

E nem vem, as princesas são sim, elas tem diferenças entre si, eu admito isso, mas num grande geral elas vem em pacotes, e as vezes alguma demanda, geralmente pedindo por menos reprodução de tropos sexistas na Disney faz eles mudarem uma característica e vem outro pacote de gente tudo igual.

Então foi a leva das passivona otária que só via a vida rolar na frente delas, e fazia muito pouco a respeito além de ter esperança que tudo ia melhorar e elas seriam salvas (Snow White, Cinderella e Aurora). Aí veio a leva das rebeldes que não aceitavam o lugar que a sociedade lhe designou e queriam ter as próprias escolhas, e casar com alguém que o pai não aprove (Ariel, Belle, Jasmine, Pocahontas e Mulan), uma leva pequena de mulheres independentes e batalhadoras proativas em sua própria história (Tiana e Rapunzel) e agora vem a leva da menina que não casa e age como estadista de verdade (Elsa e Moana…. e tecnicamente Mérida, mas ela é da Pixar)….

E a Vanellope não conta.

Elas tem individualidade o suficiente entre si, de verdade elas tem, mas no geral não varia muito de uma fórmula, pois a Disney ama fórmula. E tudo bem, fórmula não é sempre ruim. Mas os vilões? Os vilões muitas vezes são o diferencial do filme. Um poço de carisma, e as pessoas que realmente faze a história avançar. Além de figuras-chave pra marcar as diferenças entre tom e estrutura que os filmes tem entre si.

As diferenças entre a maneira de cada madrasta agir, marcam muito da diferença entre Snow White e Cinderella., mais do que a diferença nas heroínas.

Então resolvi dedicar esse post aos vilões. E falar um pouco sobre meus vilões favoritos da Disney, como uma maneira de na verdade falar um pouco sobre as várias diferentes maneiras de se ser um bom vilão, e quais as maneiras que eu mais valorizo de se conectar um vilão à trama. Nesse top13 eu tentei valorizar o máximo possível vilões que sejam arquétipos diferentes entre si, e que cada novo vilão na lista enfatize uma maneira diferente de se portar.

Regras: somente Disney vale. Nenhuma animação descolada da sua infância que as avós confundem com Disney mas não são. Não venham me cobrar cadê o Rasputim e as falácias de pegar personagem histórico real de vilão, e não venham me falar de Road to El Dorado, e o racismo de vilanizar a cultura e religião de povos não brancos. Eu já vou falar disso aqui com vilão de filme melhor. Também sem Pixar, os vilões da Pixar tem uma particularidade em comum conectando eles, e um dia se for o caso eu faço um post pra falar dos vilões da Pixar, eles são um grupo interessante por si só.

Grupinho interessante esse.

Aqui são só os 58 filmes contidos na contagem oficial de filmes Disney. Sem sequências também, até porque sejamos muito sinceros, nenhum vilão de sequência genuinamente viria parar aqui, mas algumas sequências vão tirar as piores facetas de gente que eu vou listar, melhor fingir que não existem.

13º Lugar: Cruella De Vil (101 Dalmatians):

♫♪ Cruella De Vil, Cruella De Vil, se ela não te assustar, nada que é maligno irá. Quando você a vê, você sente um calafrio. Cruella Cruella De Vil. ♫♪

Poucos vilões da Disney conseguiram se tornais mais memoráveis dentro do próprio filme do que Cruella, e digo isso nos seguintes termos. Não existe 101 Dalmatians sem ela. Já fizeram filme do Aladdin sem o Jafar, já fizeram filme de The Lion King sem o Scar. Mas 101 Dalmatians é a Cruella, em toda sua glória, o filme existe completamente em função dela.

Digo…. é tanto que o Live-Action que está a caminho vai se chamar Cruella.

Seu design é o mais memorável do filme, enquanto os 101 dalmatas são, obviamente todos muito parecidos, com o mais notável sendo o gordinho. E Roger e Anitta, são pessoas normais com designs normais, tudo em Cruella chama a atenção, seu cabelo dividido em duas cores, que virou sua marca registrada, seus casacos de pele que fazem ela parecer ter três vezes a largura que tem, seu cigarro que faz o cenário ser infestado pela fumaça verde dela.

A luva vermelha que faz ela parecer que tem mãos vermelhas como o diabo em pessoa, que combinado com seu sobrenome faz dela um dentre vários vilões da Disney que buscam inspiração no tinhoso.

E a sua música tema, que diferente das outras músicas de vilões da Disney, ela não é simbolizada pela música que ela canta, mas pela música que os outros cantam sobre ela. Uma música ilustrando o quão maléfica ela é. Com essa música sendo a parte mais marcante da trilha sonora de 101 Dalmatians, sabemos em quem estava o foco todo o tempo.

Cruella é uma mulher movida pela ganância, dentre todos os pecados capitais. Seu desejo em possuir mais, e a maneira como ela expressa seu poder em objetos, de sua piteira que torna seu hábito de fumar chamativo e melodramático, as suas peles, ao seu carro que é o destaque no climax dela, e aquilo cuja destruição marca sua derrota.

Até hoje, o nome dela é sinônimo de crueldade animal, você vê uma pessoa maltratar um gatinho e responde “Para com isso, Cruella”, e todo mundo entende a referência.

Pelo pode de impregnar a narrativa inteira com sua presença e fazer a narrativa girar em torno de seus planos, como se o filme inteiro fosse muito mais sobre observar a vilã do que observar cachorros, por essa Cruella ganhou o 13º Lugar.

♫♪ Uma morcega-vampira, uma fera desumana, deviam trancafiá-la, e nunca soltar. O mundo foi um lugar tão agradável até a chegada de Cruella Cruella De Vil. ♫♪

12º Lugar: Scar (The Lion King):

Pera, tá baixo, né? Baixo demais pro vilão de um dos maiores e mais relevantes filmes animados de todos os tempos? Pois vai continuar baixo, e o Scar ainda deu sorte, pois tem muita gente que tem cara de que fica nos postos mais honrosos desse tipo de lista mas sequer entrou.

Eu não acho que os que melhor exploraram vilania são os mais óbvios. Vão ter posições estranhas nessa lista, mas aqui é pra falar bem do Scar que é excelente.

O pecado da inveja personificado, esse leão excluído e inteligente queria tudo o que Mufasa tinha, pelo mero fato de que ele queria desfrutar da vida que Mufasa desfrutava, e estava disposto a tudo para chegar lá, incluindo assassinar o irmão e o sobrinho.

Se aliando às vítimas de Mufasa e prometendo igualdade social para formar um exército com o que tem rancor das políticas de segregação das Pridelands, Scar deu seu golpe de Estado com sucesso e se tornou um rei, mesmo sem plano de governo nenhum. E é isso que eu acho mais fascinante em Scar: ele venceu por anos.

Tipo, eu não sei quantos anos literais foram o crescimento de Simba, até porque tanto não sei em que idade um leão amadurece, quanto também não sei se o filme levou as diferentes expectativas de vida dos animais a sério na hora de fazer a passagem de tempo no filme. Mas foram anos, com toda a certeza, anos em que Scar foi o rei das Pridelands. E um péssimo rei.

Fazendo uma eterna vista-grossa pro quanto a inclusão de hienas no ciclo da vida destruiu o ciclo e acabou com os animais, a água a vegetação e o equilíbrio, Scar negligenciou isso tudo, pois precisava das hienas pra ser rei, e não tinha interesse no ciclo da vida, e podemos ver as consequências danosas do que acontece quando o vilão atinge seu objetivo.

O climax do filme não é sobre impedir Scar de fazer nada, é sobre consertar o estrago que ele causou. E a além de ter matado o Mufasa e chocado uma geração inteira, eu acho de verdade que as ruínas em que ele deixou a terra, são parte forte do impacto que ele nos deixa como vilão memorável. E acho que dialogam, vimos ele matar, vimos ele destruir, o sucesso dele nos deu várias memórias de cenas fortes ao longo do filme, e por isso sabemos o quão importante era que ele não tivesse sucesso.

Digo, isso e as analogias nazistas em Be Prepared também ajudaram, mas pra mim é muito do fato de termos visto exatamente o quão desastroso foi o mundo governado por ele.

11º Lugar: Maleficient (Sleeping Beauty):

Eu fiquei muito em dúvida se eu ia dar esse posto pra Maleficient ou pro Jafar de Aladdin. Porque quando paramos pra pensar os dois são o mesmo vilão na perspectiva estética.

Passam imponência por figuras altas com mantos? Sim.

Usam um cetro que é um símbolo de seu poder? Sim.

Uma ave no ombro? Sim.

Quando acuados se transformam num reptil gigante? Sim.

O que desempatou é além da memória pela malévola ser muito mais poderosa que pelo Jafar (ela tem dois filmes live-action – os dois ruins – sobre ela quando Jafar é a pior parte do remake de Aladdin), além do fato de Jafar ter vindo depois dela e se inspirado nela, então vamos louvar aqui a versão original.

Maleficient não passou o filme atrás de poder, terras, fortuna, nem nada que palpável, ela passou o filme atrás de vingança, uma vingança pra responder a um insulto. Um ato claramente guiado pelo pecado do orgulho. Após uma cuspida na cara figurativa que ela recebeu do rei, ela amaldiçoou sua filha a adormecer pra sempre aos seus 16 anos. E desde então o que seguiu foi a personificação de um dos conceitos mais assustadores que existem: a inevitabilidade.

Poucas coisas são mais assustadoras do que saber de uma tragédia que está fadada a acontecer, nada pode ser feito. Nem todas as rocas do reino serem queimadas, nem as fadas escondendo a princesa na floresta, nada disso deteve a maldição.

Maleficient deteve o poder na situação o tempo inteiro, e no único momento em que ela ficou ligeiramente acuada em sua vingança, ela virou um dragão, um maravilhoso dragão. Que foi derrotado por magia de fadas, pois o conceito de fadas vencendo dragões é muito mais velho que Pokémon. Mas com sua magia e seu poder de criar maldições, Maleficient tem o poder de acuar uma pessoa tão grande, que você definitivamente nunca quer estar contra ela.

10º Lugar: Hades (Hercules):

Começar soltando uma bomba aqui. Eu não acho Hercules um filme bom.

“Ah, mas lá em cima você falou que ama tudo que é Disney”, e bom, nem tudo. Hercules é um filme meia boca, que datou pra cacete não só com suas referências que são muito fechadas nos anos 1990, como em ignorar 99% do que compõe o mito do Hercules para se focar em uma paródia que satirize a ascensão do astro do basquete Michael Jordan. O que eu acho que datou, que mais do que traçar uma nova noção do que significava ser um herói na era moderna, a mania do Jordan foi uma marca muito clara do que foram os anos 1990, que fazem o filme uma relíquia de uma mentalidade de 20 anos atrás.

Digo, ninguém mais nunca fez sentido colocar coestrelando um filme com Bugs Bunny (Pernalonga) e reproduzir o que foi Space Jam. E o Lebron vai aparecer na sequência como um substituto do que o Jordan representava pro basquete, mas não pra cultura pop, isso foi um caso particular de obsessão.

…o que datou ainda mais os paralelos. Mas esse grande tom de paródia com a obsessão específica pelo Michael Jordan que tínhamos, e como ser um herói pro Hercules não devia ser tornar-se o Michael Jordan, mas sim provar seu valor, esse tom tornou o filme uma comédia, tipo, escancaradamente, não um filme sério com cenas engraçadas. Hercules é uma das comédias mais escrachadas da Disney piada-atrás-de-piada, e com isso eles abriram espaço pro melhor vilão-cômico do estúdio: Hades.

Sarcástico, falando rápido, cheio de trocadilhos e piadinhas na fala, cada frase dita pelo Hades no filme é ouro. Ele é engraçado em suas imensas variações de humor no papel de um cara que está a um milimetro de realizar seus objetivos, mas está cercado de gente incompetente.

De tempos em tempos a Disney cai pra comédia e tenta fazer um vilão ser parte dessa comédia, fez isso com a Izma em Emperor News Groove, ou Alameda Slim em Home on the Range, mas nenhum encarna mais o conceito do vilão divertido que o Hades.

Hades também é mais um membro da seleta lista de vilões Disney que tentam ser paralelos diretos com o príncipe das trevas, o Diabo. No caso é pela tremenda canalhice da Disney que tentar projetar o Diabo na religião dos outros. “Hurr durr, ele é o guardião do submundo, só pode ser satanás, devíamos fazer ele fazer contratos com humanos pra roubar suas almas, e seus subordinados terem chifre e rabinho de diabo. Pois é assim que as outras religiões funcionam.”

Mas é o que acontece quando se transforma a grécia antiga numa mera maquiagem pra uma história sobre o capitalismo nos EUA dos anos 1990. Você acaba americanizando demais a perspectiva e cagando na Grécia.

Lembram o Bat-Cartão-de-Crédito? É uma piada na mesma energia, pois está em um filme lançado na mesma época.

Mas o resultado final foi um Hades diabólico, sagaz, toda cena dele seduzindo o Hercules em abdicar sua força é maravilhosa. O a maneira como ele fala casualmente com Meg até lembrá-la de que não é livre.

Como Scar antes dele, o pecado central de Hades é a inveja, inveja de Zeus por ter o Olimpo e rebaixá-lo ao mundo inferior, por isso que é tão maravilhoso vê-lo esfregar sua vitória na cara de Zeus.

9º Lugar: Shan Yu (Mulan):

O líder dos Hunos, esse vai entrar pra história como um dos vilões mais cruéis da Disney. Condizente com o tom do filme Disney que mais colocou foco em uma literal guerra. Shan Yu tem poucas falas no filme, ele é silencioso e intimidador. Mas o que sabemos sobre ele?

Que ele mata crianças.

Que ele incendeia vilas.

Que um único sobrevivente é necessário pra se passar uma mensagem.

Que ele batalha na linha de frente de seu exército sendo um líder-guerreiro.

E que quando o Imperador levantou uma muralha, aquilo foi um desafio direto ao seu poder, e Shan Yu aceitou o desafio, e vai fazer o Imperador se curvar a ele. Pecado do Orgulho, meus amigos.

O sorriso de Shan Yu quando ele é informado que a China inteira já estava sabendo da invasão é maravilhoso, certamente um vilão que fala mais com ações que com discursos.

E quando ele revelou pro Imperador que estava vivo, ele não precisou abrir a boca, a gente viu ele em cima do palácio e entendeu que o exército chinês havia baixado a guarda.

E vamos ser sincero, Jafar tinha o Iago, e Maleficient tinha o corvo, mas nenhum vilão ficou tão intimidador com um pássaro ao seu lado que San Yu e seu falcão.

Um homem disposto a provar que nem o exército chinês nem a muralha nem o imperador eram maiores do que ele… mas uma mulher foi. E acho positivo pra mensagem do filme, que o Shan Yu não tenha sido um grande exemplo de masculinidade tóxica pra Mulan vencer usando sua feminilidade, o que seria tão fácil de vender e intercalar com a mensagem do filme. Mas no fim Shan Yu dizia muito pouco sobre masculinidade, ele era somente a personificação da intimidação, poder e proeza militar, por isso quando Mulan o superou duas vezes o que ela provou foi precisamente que ela era um guerreiro melhor. A misoginia que ela tinha que desconstruir e enfrentar era a dos chineses, pros hunos ela tinha só que se mostrar o melhor soldado, e ela se provou, e Shan Yu permitiu que esse aspecto da mensagem do filme se passasse da melhor maneira possível.

8º Lugar: Clayton (Tarzan).

E por falar em masculinidade tóxica, temos Clayton, esse filho da puta. Acho que o único outro vilão que nos mostrou a faceta mais asquerosa de masculinidade de maneira parecida foi Gaston de Beauty and the Beast, o que é curioso, pois papéis de gênero eram um ponto fortíssimo de Beauty and the Beast, mas Tarzan não se vende muito bem como um filme que fala sobre performance de gênero. Essa leitura do filme, fica em segundo plano, mas existe.

Mas se olharmos Clayton interrompendo seu ato de barbear-se com um facão para acusar uma mulher de ser louca.

Ou oferecendo álcool pro Tarzan pros dois poderem ter uma conversa sobre não ser possível entender uma mulher.

Explicando pro Tarzan que se ele fosse civilizado não seria mais fácil entender Jane, pois mulheres são impossíveis de decifrar.

Ou o cachimbo que ele fuma, em seus momentos de introspecção.

Ele ter sido inspirado em Clark Gable um dos maiores galãs e ícones de masculinidade do cinema (e precisamente um bom exemplo de uma masculinidade que já datou e não funciona no público atual como funcionava no passado).

Ao fato dele ser visto como um eterno contraste ao outro homem humano que o acompanhava, Professor Porter, que era sensível, empático, e inapto fisicamente, era um sinal de que aquele grupo não era de Clayton, o único machão em toda a selva. E quando Clayton finalmente está com os humanos que representam seus pares, são marinheiros, uma profissão notoriamente masculina.

Tudo isso culminando no fato de que seu símbolo maior era o rifle, uma arma de fogo (a mais fálica delas), e sem ambiguidade quanto a ser seu símbolo. É nossa primeira impressão dele: ele apontando essa arma na nossa cara, como também o primeiro nome de um elemento humano que Tarzan aprende é na verdade uma confusão, ele entende primariamente que o som da espingarda chama Clayton, de tanto que ele é associado ao seu disparo.

No mundo de Tarzan tais papéis de gênero que Clayton representa não existe. A melhor amiga de Tarzan, Terk, não é um exemplo de feminilidade, ela é moleca, agressiva e o arquétipo claro da tomboy, por outro lado o melhor amigo de Tarzan, Tantor, é sensível, covarde, e delicado. Kala, a mãe de Tarzan resgatou Tarzan de um leopardo feroz que ela venceu na luta, o Kerchark, o parceiro dela, perdeu pro mesmo leopardo, mesmo sendo um macho. Macho e fêmea querem dizer pouco em relação a atitude na selva de Tarzan, e quando ele vai aprender a ser humano ele vai aprender a ser um humano homem também.

Simbolizado acima de tudo, pelo fato de que a roupa de humano que ele veste para representar sua passagem pro lado da civilização, é um terno, uma roupa social que carrega em si o peso simbólico de ser um homem.

Tudo isso pra culminar no momento em que Tarzan aponta o rifle pra Clayton no climax, e Clayton aceita a derrota, e pede que Tarzan atire nele, com a frase: “Seja homem.”

E a resposta é: “não homem como você.” O que é poderoso, pois Tarzan sofreu muito até aceitar e abraçar que ele não precisava ser igual aos gorilas, ele só precisava ser do jeito dele. Aí ele entra de novo em crise quando conhece os humanos, tenta mimicá-los (tenta em especial mimicar Clayton), mas no fim ele decide que não precisa ser igual os homens também, ele ainda vai ser somente ele mesmo.

Perfeitamente representado no fato de que ele finge que atira em Clayton, mimicando o som do rifle com a boca perfeitamente, um talento que nem gorilas nem humanos, somente o Tarzan tem, que ele desenvolveu tentando criar o próprio som.

Rejeitar a noção do que significava ser um homem para o homem civilizado foi importante, especialmente se considerarmos que apesar de ter escolhido não ir pra Europa e que os Gorilas são seu lar, ele ficou com Jane, a única mulher humana que ele vu na vida. Ou seja ele ainda priorizou sua atração por uma mulher humana e integrou viver com ela em sua vida.

Clayton foi um grande representante do pecado da ganância, pois no final, era tudo sobre dinheiro, ele foi introduzido como um mercenário contratado pro Jane e seu pai para guiá-los na África, e os traiu por mais dinheiro. E no final ainda terminou com uma das mortes mais fortes de um vilão da Disney, enforcando-se a si mesmo na tentativa de se livrar do cipó, rejeitando a ajuda de Tarzan.

7º Lugar: Dr. Facilier (Princess and the Frog):

Tal como Hades, mais um enorme exemplo da Disney não conseguindo ver o mundo por olhos não-cristãos, e enfiando o Diabo na religião dos outros. Mas diferente de fazer isso com os gregos, que são uma religião que ninguém mais acredita de verdade, ele fez isso com a religião voodoo, que não só muita gente ainda acredita, como muita gente que mora nos EUA ainda acredita. E aí se olharmos a etnia de quem ainda segue essa religião a gente entende que o que a Disney fez tem nome: Racismo.

Mas uau, a primeira tentativa de protagonista negra da Disney veio acompanhada de racismo? Quem diria? Bem, como esperar coisa diferente desses caras?

Nunca esqueçamos, esse estúdio tem muito o que compensar em evitar ser racistas com o histórico que têm, e eles tem se esforçado, mas tem tropeçado.

Apesar disso, eu devo falar que de todo vilão que a Disney já fez paralelos com o Diabo, nenhum funcionou melhor que Facilier, ou Homem das Sombras como ele foi chamado o filme inteiro. Seu jeito ardiloso e sorrateiro, enquanto aborda os outros e lê a vida deles para conseguir oferecer a eles exatamente o que eles querem.

“No seu futuro, a pessoa que eu vejo, é exatamente o homem que você sempre quis ser.”

Uma das morais de The Princess and the Frog, é que as coisas que você deseja não necessariamente são as que você precisa. E quando você consegue o que você precisa, o caminho pro que você quer se resolve sozinho. Por isso nada é mais apropriado do que um vilão que ofereça precisamente aquilo que o Diabo oferece: tentação.

A chance de uma resposta fácil pros seus desejos, em troca de um sacrifício. É o mesmo papel que a Úrsula cumpre em The Little Mermaid, mas eu acho que Facilier tem muito mais pompa.

Com a própria sombra como seu sidekick que eu acho um fator legal demais.

Mas principalmente pela rima de que ele é um humano usando poderes de voodoo para tentar os demais, mas ele próprio está em um contrato com as entidades, que ele precisa cumprir. Ou vai ter a alma levada.

Gente, isso tudo é cool, mas é sério, a quantidade de racismo com que a religião voodoo foi lidada não é brincadeira, o Dr. Facilier se veste de maneira a ser associado ao Barão Samedi, uma das entidades mais famosas por ser uma das mais distorcidas pelos brancos para ser lida como algo satânico quando não é. Eu estou elogiando ele, pelo resultado na narrativa do filme, mas ele é incrivelmente problemático.

Mas apesar disso eu acho uma boa rima, um cara que se porta feito uma entidade perante os humanos por ter acesso à mágica, mas é rebaixado ao humano que é diante das entidades de verdade.

E seu pecado foi a ganância, e esse em seu maior sentido. No começo do filme ele estava tranquilo passando golpes simples nas pessoas por dinheiro, foi ter a atenção voltada para um golpe grande que fez ele voluntariamente se enfiar no filme e dar um passo maior que a própria perna, que culminou em sua morte.

Eu acho, que a cena dele tentando Tiana a abandonar Naveen pra ser humana é uma das melhores cenas da história da Disney. E tudo nas costas desse personagem.

De resto, eu analisei o filme The Princess and the Frog lá no começo do blog, não deixe de conferir mais sobre o filme, que é bem dos bons.

6º Lugar: Denahi (Brother Bear):

Aí você vem e me fala: “Porra Izzombie, olha a merda que você falou, vai enfiar o Denahi na lista, ele não é vilão não. Essa é uma opinião tão imbecil que invalidou essa lista inteira.” e isso seria uma meia-verdade.

É verdade que o personagem não é maligno que nem o resto da lista, e ele não pode ser considerado do mal. Mas ele é o antagonista principal do filme, e o obstáculo maior, caçando Kenai e tentando matá-lo muito do conflito do filme é causado por ele.

Eu estou fazendo essa brincadeira de associar os vilões aos pecados capitais e entre esse bobinho em que só Inveja, Ganância e Orgulho tem a bola, Denahi representa um dos mais interessante: a Ira! A raiva que ele tem de Kenai por ser um urso, derivada da raiva que ele tem de todos os ursos por achar que um urso matou Kenai. Isso é ouro dramático puro. E o personagem representou esse sentimento de luto se tornando ódio e uma obsessão destrutiva tão bem mostrada.

E também, a Disney já colocou vários caçadores como vilões, mas Denahi é um que não desumaniza a sua presa como uma forma de deliberadamente desrespeitá-la, como Gaston que trata a Fera como um animal sabendo que ela não é. A ignorância de Denahi em não ver a humanidade no urso que ele odeia é o que o torna interessante.

E essa pureza de achar que está fazendo o certo pelo protagonista, mas ser incapaz de ver a realidade e entender que a pessoa que ele ama é a pessoa que ele caça, essa tragédia é um tom que a Disney raramente trabalha em seus vilões, sempre buscando a maldade, mas essa abordagem é ótima também.

Brother Bear é tão bom gente, um dos ouros mais ignorados da Disney. E vamos ser sincero, ensinou a lição de que a relação de irmãos é a relação mais amorosa que existe antes de Frozen. O Kenai provou através de Koda e de Denahi que ele era capaz de amar, e isso é poderoso. Mas acho que serem irmãs era o que pesou mais em Frozen, por questões de gênero.

5º Lugar: Shere Khan (The Jungle Book):

The Jungle Book se destaca dos demais filmes, por ter três vilões atuando independentemente, o que faz nossa impressão de Shere Khan ser a do vilão que reina entre os vilões. O animal mais temido de toda a selva. O nome dele evoca tanto medo, que Mowgli ouve falar sobre ele desde a primeira cena, mas só realmente o encontra no fim do filme.

No começo do filme os lobos debatem que Mowgli precisa deixar a floresta, ou Shere Khan irá matá-lo, e esse é o conflito que guia o filme inteiro, todos os animais se juntando pra tirar Mowgli do alcance de Shere Khan.

Muito mais do que Shan Yu ou Maleficient, Shere Khan tira muito poder do quanto ele é temido, e do quanto a mera menção de seu nome coloca muitos animais em ação. Seu pecado tal qual Denahi é a Ira. Ele odeia todos os homens, por serem os únicos capazes de enfrentá-lo com o domínio do fogo. Então ele quer se vingar da raça inteira através de Mowgli jovem demais pra se defender e sem domínio do fogo. E seu ódio o cega completamente. Por mais temido que ele seja, fica meio implícito de que ele não é uma ameaça ao resto da selva, somente a Mowgli, e sem Mowgli os demais animais estariam em uma espécie de trégua com ele.

E qualquer animal treme só de imaginar em se colocar entre Shere Khan e seu alvo. Os lobos o temem. Os elefantes o temem. Os abutres o temem. Até Baghera tem medo de Shere Khan, e ele está certo, Mowgli não tinha medo de Shere Khan e isso é retratado no filme como imprudência, Shere Khan é poderoso e assustador, e qualquer um devia pensar duas vezes antes de desafiá-lo.

A menos que você ataque em grupo, que foi como ele foi derrotado com uma luta em combate em que tanto Baloo, o urso, quanto os abutres enfrentaram seu medo de Shere Khan pra ajudar Mowgli, permitindo que o menino pudesse usar o único medo do tigre contra ele mesmo.

O inquestionável Rei da Selva, vigiando-a a pente fino para exterminar a única coisa que pode destruí-la, e garantindo que é intimidador o suficiente para ninguém se por em seu caminho. Que ameaça, que vilão.

4º Lugar: Professor Ratigan (The Great Mouse Detective):

Muitos vilões existem em oposição ao seu protagonista. Shere Khan existe para destruir Mowgli. Hades precisava inutilizar Hercules, e Denahi era obcecado em matar Kenai. Mas nenhum colocou essa co-dependêcia entre essas duas forças em uma relação tão forte quanto o abominável Professor Ratigan. Arqui-inimigo de Basil da rua Baker. Um dos ratos mais tretas da ficção, que pegou o 9º lugar quando rolou o torneio dos ratos.

Ratigan não se contenta em ser um gênio do mal, que já se safou dos maiores crimes pensáveis, ele odeia seu arqui-inimigo que sempre atrapalha seus planos, e mais do que ter sucesso, derrotar Basil, derrotá-lo, humilhá-lo e esfregar a sua vitória em sua cara, esses são os objetivos. É o pecado do Orgulho meus amigos, a guerra de egos que ele travou com Basil é o que rege sua existência.

E não se enganem, isso é um jogo que Ratigan ama ganhar, ele se diverte com essa rivalidade, e quando ele está humilhando Basil, ele está no auge da semana dele e dá pra notar o quanto prazer ele tira de ser um patife.

E Basil joga o jogo também, esses dois só existem para um empatar a foda do outro. Por isso que Ratigan ter morrido no fim do filme é o único motivo aceitável pra nunca terem feito uma segunda aventura de Basil da Rua Baker, pois sem ser pra enfrentar Ratigan de novo não faria sentido.

Além de ser incrivelmente inteligente, metódico, e espalhafatoso em seus métodos, quanto acuado ele reverte a seu estado mais bestial, se portando como o rato de esgoto que ele é. Mas essa é sua faceta menos interessante, a extrema arrogância de um rato que vê tudo como um jogo e se sente ganhando, é linda. E The Great Mouse Detective merece palmas por nos mostrar a melhor rivalidade entre detetive e criminoso que a Disney já produziu.

3º Lugar: Long John Silver (Treasure Planet):

Vamos lá: Long John Silver é um dos melhores personagens da história da literatura. Por isso quando a Disney, que não costuma ser muito respeitosa com o material original, pegou Treasure Island pra adaptar como um épico sci-fi espacial, o pirata que inventou o imaginário da perna-de-pau nas histórias de pirata foi adaptado para um ciborgue, e ninguém achava que isso era realmente uma boa ideia.

Era uma ótima ideia. Aliás ainda é, porque o filme ainda existe e ainda é bom. E eu vou defender esse filme até o fim da minha vida como uma das grandes adaptações de Treasure Island pro cinema. Reza a lenda que as únicas que valem a pena são Treasure Planet e Muppet Treasure Island, em que o Tim Curry interpreta o Silver, mas a versão com os Muppets eu nunca vi, vacilo meu.

Mas o motivo de Treasure Planet ser tão bom é precisamente o mesmo motivo do livro ser bom, que é esse personagenzão da porra que é John Silver. Eu acabei de falar do Ratigan, que tem a melhor rivalidade entre um herói e um vilão, mas Silver e Jim tem algo muito mais profundo que uma rivalidade que um herói e um vilão podem dividir. Eles tem uma amizade.

Uma amizade incrivelmente sincera que se transforma em frustração cada vez que eles confirmam que não estão do mesmo lado, pois esses dois se adoram, e genuinamente se inspiraram e ensinaram tanta coisa um pro outro. Mas eles querem coisas diferentes e por isso eles lutam.

E eu acho que o vilão e o herói que possuem uma genuína amizade entre si é uma das relações vilanescas mais difíceis de fazer e justamente por isso, mais satisfatórias. O pessoal fala muito de Joker e Batman, mas eu acho que minha relação herói-vilão favorita dos super-heróis é definitivamente Hal Jordan e Sinestro, pelo fator da amizade.

Tecnicamente o pecado de Silver teria que ser a ganância, o fato dele não deixar o carinho que ele sente por Jim colocá-lo entre ele e uma fortuna. Mas no final ele sacrifica sua fortuna para salvar a vida de Jim, e em troca, Jim permite que ele fuja da prisão, tendo plena consciência de que Silver vai seguir sendo um pirata imundo. Tornando Silver, junto com Denahi, que tecnicamente não é do mal, o único vilão da Disney que não realmente paga pelos seus crimes.

Pelo contrário, Jim vai passar o resto da vida pensando nele quando olhar pro céu.

E nada disso retira o impacto dele como antagonista do filme, de maneira alguma. As cenas de batalha ou em que ele mostra a sua frieza são fenomenais. Tal qual esse filme é fenomenal e subestimado e alvo de muitos preconceitos. Precisamos amar mais esse filme de pirata no espaço.

E eu queria de verdade que fizessem mais filmes de Pirata. O que a gente teve de relevante nesse século? Isso e Pirates of the Caribbean.

2º Lugar: Lady Tremaine (Cinderella):

É curioso, eu acho que Lady Tremaine nunca foi nomeada na versão dublada, pois eu conheci ela só como “A Madrasta”, e só fui saber que ela tinha nome de verdade quando comecei a conversar sobre filmes na internet.

Tremaine sempre me surpreendeu com o quão eficiente ela era mesmo tendo tão pouco ao seu alcance. Cruella tinha capangas e um carrão. Scar tinha um montão de hienas. Maleficient tinha bruxaria. Hades tinha seus poderes de Deus e comando sob o submundo. Shan Yu tinha um exército e proezas militares. Clayton tinha um rifle e capangas. Facilier tinha magia. Denahi tinha uma lança e habilidade de caça. Shere Khan tinha garras e presas. Ratigan tinha capangas e uma gata, e Silver era um Ciborgue…. Mas Tremaine? Tremaine era uma mulher idosa com duas filhas pirralhas.

O poder dela era um poder muito mais assustador que todos esses outros poderes. É o poder de ser guardiã legal de uma jovem moça. Ou seja, o poder de ter controle absoluto sobre todfga a vida de Cinderella e ela usava esse poder.

Corroída pelo pecado da inveja, com traços visíveis de orgulho e ganância, Tremaine combina os três traços mais comuns da personalidade de um vilão Dsney, mas ela não queria realizar uma grande vingança contra Cinderella, ela tirava seu prazer de simplesmente não permitir nunca que nada bom acontecesse com Cinderella, em controlar a vida dela para ter certeza de que essa garota sempre sofreria e ela sempre assistiria.

E o pior, sempre escondendo sua crueldade em um teatro de benevolência. Ao contrário de suas filhas, Tremaine nunca foi diretamente agressiva com Cinderella nem nunca usou de nenhuma forma de violência física contra a enteada. Ela era passivo-agressiva, e manipuladora, e atacava a menina psicologicamente, nem nunca precisar verbalizar a verdade.

E isso se manifestava na maneira como ela criou as filhas. Ela exige o filme inteiro que Drizela e Anastasia sejam mais controladas, contidas e menos impulsivas, pois ela é uma mulher constantemente no auto-controle. O que a diferencia de outras mães-não-biológicas da Disney como Grimhilde (Snow White) e Gothel (Tangled). Ela nunca levantou a voz para dizer pra Cinderella que ela não era mais que uma escrava. Pelo contrário ela fala com todas as letras que Cinderella podia ir ao baile, enquanto manipulava a situação para ela não ser capaz de ir.

Quando a máscara dela enfim cai, e ela mostra pra Cinderella sua verdadeira face, ela não se gaba, nem grita, nem faz discurso, é uma cena silenciosa, dela trancando Cinderella em seu quarto, para que ela não tenha a chance de vestir o sapatinho.

Nada no mundo é mais assustador que não ter controle nenhum sobre a própria vida, e estar a mercê da autoridade de alguém que mente querer seu bem, mas pelas sombras conspira para seu mal.

E somente um outro vilão da Disney entrou nesse território além de Tremaine.

1º Lugar: Juiz Claude Frollo (The Hunchback of Notre Dame)

Ele mesmo em pessoa. O monstro com forma de homem. Certamente o maior psicopata que o estúdio Disney já desenhou. O quão psicopata estamos falando?

A primeira cena eu considero uma das cenas mais poderosas da história da Disney, estabelecendo Frollo como um homem que “Tentou eliminar do mundo o pecado e a impureza, e ele viu corrupção por toda a parte, exceto em si mesmo.”, determinado a exterminar os ciganos, ele faz uma emboscada em cima deles, persegue uma, mata ela, rouba seu bebê e decide matá-lo afogado em um poço.

A única coisa que deteve Frollo de matar o bebê foi o súbito medo de sentir-se julgado pela estátua de Maria na igreja, e temer a danação de sua alma. E ele decide criar o bebê como se fosse seu…. servo. Não seu filho, seu servo.

Hunchback of Notredame é considerado por muitos, por mim inclusive, o filme mais sombrio da Disney inteiramente por causa de Frollo. Seus objetivos de genocídio de toda uma etnia, seus métodos de usar a religião como racionalização para opressão, e a seu desejo sexual por Esmeralda fazendo ele obrigá-la a escolher entre ele a execução. Empregando não só o pecado da ira, como sendo o único vilão Disney a agir por luxúria, e ter seus desejos sexuais em destaque no filme.

Tudo isso é bem menos caricato do que a Cruella matar filhotinhos e muito mais próximo da casa da gente do que Maleficient soltando maldições.

O Juiz Claude Frollo é um homem que na época certa poderia certamente ter existido e atingido essa posição de autoridade, e ainda estamos na época certa. Inspirado em um personagem de Victor Hugo, ele certamente tem uma origem mais humana, mas a versão Disney é muito mais maligna e com menos áreas de cinza que a de Victor Hugo, e nos mostra o horror que é quando um homem racista e que vê mulheres como posse, atinge um cargo de autoridade e vê na religião uma racionalização de como refazer o fundo aos seus moldes.

Frollo também é um dos vilões mais no controle da trama de seu próprio filme. A primeira cena do filme serve para nos mostrar o personagem de Frollo e não de Quasimodo, e dessa cena em diante o filme inteiro consiste dos personagens reagindo ao Frollo. Frollo age para capturar os ciganos, e Quasimodo, Phoebus e Esmeralda reagem, mas exceto pela fuga de Quasimodo para participar do Festival dos Tolos, todas as ações do filme são determinadas por uma ação de Frollo, a narrativa é guiada pelos desejos, obsessões e agência do vilão, e isso é essencialmente ocupar o papel mais importante do filme.

E a morte de Frollo é uma das mais pesadas da série, impedido de matar Quasimodo e Esmeralda, pois a gárgula onde ele se apoiava quebra, um exemplo da igreja em si, que no filme é uma entidade viva, impedindo Frollo de triunfar. Ele tenta se agarrar á gárgula pra não cair, mas antes dela quebrar completamente, seu rosto ganha vida na frente de Frollo e ele encara o demônio olhando pra ele antes de cair no mar de fogo no qual seu ódio havia transformado Paris.

A maneira como Cruella devora as cenas do filme pra si, à catástrofe que foi o reino de Scar por anos, a imponência e inevitabilidade de Maleficient, ao humor e charme de Hades, à crueldade de Shan Yu, à masculinidade tóxica de Clayton, à tentação que Facilier oferecia, a cegueira de Denahi que não era capaz de ver seu erro, ao poder de intimidação de Shere Khan, à rivalidade de Ratigan com Basil, à amizade de Silver com Jim, à autoridade passivo-agressiva de Tremaine ao terror genocida de Frollo.

E é isso, as menções honrosas são todos outros vilões em que o nome acabou mencionado no corpo do texto, eu lembrei deles o suficiente.

A Disney tem um talento de fazer o mal tomar o maior número de formas possíveis, do mais óbvio ao mais sutil, do mais caricato ao mais realista. Digo, as menções honrosas que eu não inclui aqui são inúmeras, afinal são quase 60 filmes de vilões, e não é por demérito que figurões como Jafar, Ursula ou Grimhilde ficaram de fora. Mas enfim essa criatividade de explorar conceitos diversos pra criar seus vilões é um dos grandes apelos de seus filmes, e um dos pontos que eu quero celebrar no estúdio.

Pois o vilão dita o conflito do filme, e um bom vilão consegue elevar o filme inteiro. Ao contrário do que metade dos filmes de super-herói tentam ensinar, o papel do vilão não é protagonizar uma cena de ação com muito CG e tela verde no fim do filme, é ser um constante obstáculo pro protagonista, e obstáculo não é só luta. É representar seus medos, suas falhas, suas incapacidades, servir de um espelho distorcido, e até mesmo representar um coração partido. E quando isso é bem-feito não tem onde dar errado.

E é isso que eu queria dividir com vocês, um pensamento sobre as diversas formas diferentes de ser um bom vilão, e que você pode seguir vários caminhos para ser um bom vilão, ao mesmo tempo que… é legal que um filme tenha um bom vilão, e um vilão ruim pode afundar um filme. E vocês? Comentem o que vocês acreditam que torna um bom vilão, e além de Jafar e Ursula, quais são os que vocês acham que ficaram faltando na lista? Tornemos o espaço dos comentários em um debate sobre a importância da vilania nos filmes.

Aliás, eu fiz essa brincadeira dos pecados, mas no fim ninguém representou a gula nem a preguiça. Acho que pra gula temos as hienas de The Lion King que ficaram de fora. Mas fica a dica de que um vilão que represente a preguiça é um nicho não-explorado no campo de pecados vilanescos. Coisas pra Disney pensar nos filmes futuros.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

Artigos recentes

Categorias

Parceiros

Blog Mil

Paideia Pop

Gizcast

Arquivo