Vamos conversar sobre o final de uma obra?
O desfecho de uma história costuma ser um de seus pontos mais importantes. Pois quando paramos para pensar, o final é quando se decide “Não existe mais nada para ser dito sobre essa história e sobre esses personagens.” como se a historia inteira fosse uma grande ponte para que seu final seja o destino, E só após o final que sabemos se a ponte foi cruzada com sucesso ou não.
E para isso soar satisfatório, ele precisa nos passar a sensação de que a gente entendeu a história e os personagens. Se uma história acaba e sentimos vontade de perguntar “mas e aquele lance lá? Não vamos falar disso?”, então descobrimos que aquele lance lá não era a intenção do autor trabalhar e nos sentimos frustrados em nossas expectativas. Por isso acaba sendo um fato decisivo para decidirmos se gostamos de uma obra ou não.
Quem nunca opinou uma série falando “ah, é legal, mas no final cagam com tudo.”? Todo mundo tem uma série da qual acha isso.
Eu pensei muito em que obra falar aqui para poder pensar mais na natureza dos finais de uma história, e o que os torna satisfatórios. Cogitei falar do polêmico final de LOST, ou do final de A Series of Unfortunate Events, mas resolvi que a obra que daria mais gancho para esse pensamento seria um mangá do qual eu gosto muito chamado Dragon Ball. Criado por Akira Toriyama, um dos mangás mais famosos no mundo, inclusive já falei dele aqui nesse blog no passado.
Afinal de contas, Dragon Ball vai ganhar uma continuação em anime esse ano ainda, chamada Dragon Ball Chou (Ou Dragon Ball Super), que vai ignorar Dragon Ball GT e continuar de onde Dragon Ball Z parou. O que é uma ótima ideia, por sinal, pois Dragon Ball GT é um grande erro.
O ponto é que existe uma lenda que ronda os fãs de Dragon Ball. A ideia de que Akira Toriyama tinha a intenção de encerrar o mangá após a batalha contra Freeza. Que era o ponto em que o mangá se fechava melhor, e até onde o mangá havia sido originalmente planejado, mas a Shonen Jump, onde o mangá era publicado, teria pressionado o autor a estender a obra para além disso criando dois arcos adicionais de qualidade menor que os anteriores, e mantendo as vendas e após isso ele fechou o mangá menos que satisfatoriamente.
Eu já acreditei nessa teoria. Depois desacreditei. Depois pensei bem. A verdade é que embora nós fãs adoremos pensar que nossas obras favoritas são muito bem planejadas, Dragon Ball nunca foi.
Toriyama constantemente escrevia sem ter a menor ideia do que iria acontecer no futuro do mangá. Claro que nenhum autor é burro e não introduz seus conceitos já sabendo em linhas gerais aonde ele está indo com isso, mas Dragon Ball foi um mangá com seu desenvolvimento muito improvisado. E por nunca ter ideia do que fazer na saga seguinte é que Dragon Ball encerrou a grande maioria de suas sagas como se fossem a saga final. Todo final de arco no mangá foi conclusivo o suficiente para que se o autor resolvesse não escrever mais nada, isso seria possível.
E é por isso que escolhi Dragon Ball ao invés de escolher LOST ou A Series of Unfortunate Events, pois enquanto essas duas séries tiveram um final, Dragon Ball teve pelo menos quatro. E quis tirar uma análise para pensar aonde faria mais sentido ter parado a história.
Final do Arco do Exército Red Ribbon:
Eu ia começar o texto pelo arco do Piccolo mesmo, pois foi o primeiro que soou como um final real. Mas ainda sim, o Red Ribbon preenche uns pré-requisitos interessantes. Seu único problema foi deixar ganchos de continuação evidentes.
Mas mesmo assim, a segunda grande aventura de Goku fez um excelente trabalho amarrando pontas soltas e dando uma sensação de que aquele era o ponto onde a série havia se encaminhado. Para começar que enquanto Goku extinguia o exército Red Ribbon, todos os aliados de Goku liderados por Yamcha (quem diria?) estavam se reunindo para ajudá-lo na luta sem imaginar que ele daria conta, e quando eu digo todos, todos mesmo, eles lotam um avião e incluem Launch, Pual, Bulma, a Tartaruga, todos dispostos a entrar em ação e ajudar Goku como podem, pois são pessoas que devem muito ao Goku.
Alias foi o primeiro momento em que todo esse elenco de amigos do Goku começou a parecer que faziam parte do mesmo grupo (e não com Bulma+Yamcha+Oolong fazendo parte de um núcleo de amigos de Goku e Kuririn+Mestre Kame+Launch fazendo parte de outro).
Após a extinção do exército. Goku tem um reencontro com seu avô, uma batalha final contra Pilaf, vilão do primeiro arco que retornou, faz pela primeira vez um pedido pessoal para Sheng Long (sendo que ele nunca havia se interessado em desejar nada para as esferas do dragão antes), revive o pai de seu amigo Upa, impede que a esfera de seu avô se espalhe pela terra após o desejo e garante que não vai mais precisar procurar as esferas, pois a lembrança de seu avô estará para sempre com ele.
Só não é perfeito para fechar a série lá mesmo, pois depois de tudo isso, a Velha Vidente solta a profecia de que Goku estava destinado a muito mais, que estava destinado a salvar o planeta. Com essa promessa Goku decide que vai treinar vagando pelo mundo e se preparar para o próximo torneio de artes marciais, o que é gancho pro torneio em si e não é um bom final, já que anuncia que o melhor ainda não veio. Mas deu uns momentos simbólicos que caracterizariam bem um final, e fechou boas pontas soltas. O inimigo que segue logo após o Red Ribbon é…
Final do arco do Piccolo:
Esse sim é o grande final da série. Na minha sincera opinião, se tem algum momento em que ficou claro que o Toriyama queria terminar o mangá, era esse. Não tenho dúvidas de que após esse momento ele foi extremamente pressionado continuar o mangá e reinventou a porra toda.
Após matar o Rei Piccolo, e cumprir a profecia salvando o mundo. Goku é escolhido por Deus para treinar para uma revanche que ele teria com o filho/reencarnação de Piccolo no Torneio de Artes Marciais. Onde ele trava o que de fato é a luta mais empolgante que esse mangá já teve.
Goku vence a luta, mesmo surrado e tendo todos os membros inutilizados e um rombo no seu peito, ele vence a luta, e pela primeira vez na vida ele se torna o campeão do Torneio de Artes Marciais, feito que ele tenta realizar desde o comecinho do mangá, mas sempre se sai como vice-campeão. Ele sempre quis vencer o torneio de artes marciais, que nomeava o lutador mais forte do mundo e sempre morreu na praia, até decidir o destino do mundo e se tornar o campeão numa tacada só.
Lindo.
Com a luta acabada, sobra uma última ponta solta no mangá. Piccolo segue vivo, pois se estivesse morto a vitória de Goku não seria legitima. Portanto Deus em pessoa, vai matar Piccolo, uma vez que Piccolo é a metade maligna que Deus abdicou de si mesmo para se tornar uma divindade, e portanto este se sente responsável e culpado por todo o mal que Piccolo causou na Terra e quer ter certeza de que isso não acontecerá de novo. O que é muito justo, um sentimento possível de se entender. Mas Goku não deixa, entra na frente e salva o que na época era o que o mangá tinha de mais próximo do Diabo.
Goku sabia que uma vez que Deus e Piccolo eram partes diferentes da mesma pessoa, a morte de um levaria a morte do outro, e Deus não poderia morrer. Não só pelos motivos óbvios, como também se ele morrer as esferas do dragão deixariam de existir, e isso seria negativo ao mundo. Mas Deus acredita que as esferas do dragão foram um erro e Piccolo foi outro e que ele foi um péssimo Deus e não merece continuar. Então é hora do Mestre Kame falar. Ele fala que não é só os pedidos que as esferas realizam, como é o fato de que sem as esferas do dragão e a busca por elas, Goku não teria conhecido nenhuma das pessoas que estavam ali com ele. Não teria feito aliados e nem explorado seu potencial, teria ficado para sempre no mato isolado do mundo. Portanto ao criar as esferas Deus permitiu que Goku salvasse a Terra.
Deus vê que o Mestre Kame tinha razão, e diz para Goku “você teve um bom mestre.” e troca a insignia no uniforme de Goku do Kanji de “Kami”(Deus) para “Kame”(Tartaruga), afirmando que mesmo que Goku tenha superado o Mestre Kame e ido treinar com Karin e com Deus, ainda era o velho tarado o verdadeiro mestre de Goku. Um toque bacana e sutil do Toriyama.
Mas fica a pergunta: E o que vai acontecer se Piccolo tentar dominar a Terra novamente? E Goku responde “Se isso acontecer eu paro ele de novo.” Goku queria um rival a altura dele para estar sempre lutando novamente. E ele se responsabiliza de estar sempre acima de Piccolo e nunca deixá-lo fazer o mal de novo. Ele com isso assume o manto de que ele é o grande protetor do planeta Terra, e confia em si mesmo para nunca deixar de ser o homem mais forte do planeta.
Tudo finalizado? Dá para acabar o mangá? Quase, Deus por fim oferece a Goku o título de Deus, falando que Goku tem os pré-requisitos para ser uma divindade muito melhor que ele foi, mas Goku recusa, ele ia morrer de tédio sendo Deus. Agora ele tem coisa melhor pra fazer como casar. Então ele e a garota que ele havia noivado naquele mesmo dia, Chichi (também sua amiga de infância a quem ele prometeu se casar sem saber), sobem na nuvem voadora e voam rumo ao horizonte onde uma vida inteira juntos os aguarda com todos os amigos de Goku acenando para ele e desejando somente o melhor.
Bulma dá uma encarada final em Goku e pensa “quem diria que aquele baixinho do Goku cresceria até esse ponto.” Bulma foi a primeira amiga de Goku e testemunhou tudo que aconteceu com ele do primeiro ao ultimo capítulo. Nenhum personagem mais digno para fazer esse comentário sobre o crescimento dele.
Podia perfeitamente ser o final. Goku chegou ao topo em todos os sentidos e está satisfeito com isso. Os diálogos sobre a importância das esferas do dragão fazem a conexão como tudo que ele passou foi importante para ele chegar aonde está. E ele cumpriu seu destino. Não havia a necessidade de mais. Não era obrigado.
Tanto que depois desse ponto o Anime troca de nome, passa a ser Dragon Ball Z, e tem muitos fãs que falam desse ponto do mangá como se fossem obras diferentes.
Mas ainda sim, não foi o final, tem mais pra frente.
Final do arco do Freeza:
Ai vem o arco Freeza. Onde muitos acreditam ser o final definitivo de Dragon Ball, e não culpo esse pensamento. Afinal é o vilão mais icônico da franquia. Tanto é que foi ressuscitado no filme mais recente. O arco é icônico, a luta é icônica, tudo nele indica o que Dragon Ball tem de mais famoso.
No arco Goku derrota Freeza após se tornar um Super Sayajin. Goku na verdade era um alienígena da raça Sayajin do planeta Vegeta. Uma raça de guerreiros poderosos, que justificava tanto o rabo de Goku, quanto sua anormal força, pois são as características principais da raça, e os Sayajins foram extintos graças a Freeza, que temia a existência deles, pois havia uma lenda de que um dia um guerreiro lendário capaz de se transformar no Super Sayajin surgiria para vencê-lo. Quando Freeza assassina o Príncipe Vegeta, Goku passa a ser o único Sayajin vivo no mundo, mas para o azar do genocida espacial, logo ele era o Sayajin das lendas.
O que você está procurando é sempre o último. Sempre.
Goku descobre sua origem, encontra o ser mais poderoso do universo, o homem que aniquilou seu povo e o vinga. Novamente cumprindo com uma lenda e com seu destino e se tornando o homem mais poderoso do universo.
Não sei. O arco do Freeza pode até ter sido o auge de Dragon Ball, mas não me soa como o final, pois os únicos conflitos que resolve são os que o próprio arco iniciou. Temas que começaram quando Raditz veio a Terra. O mangá não realmente amarra nada que veio antes disso. Termina com a ponta solta do Vegeta solto por ai sem estar redimido nem nada do tipo (com ao Piccolo ainda tinha a promessa do Goku falando que garantia que ele não faria nada, com Vegeta ele tava simplesmente meio que a solta).
Nenhum personagem exceto o Goku chega ao fim de nenhum arco pessoal, Piccolo fica ligeiramente mais conectado com seu povo, mas não o suficiente para isso ter qualquer impacto nele. Kuririn meio que está lá só pra morrer e Gohan continua abaixo do potencial que todos comentam que ele tem.
No geral o arco Freeza é marcado por uma luta épica e um sentimento de “nada pode ser maior do que isso.”, mas nenhum real fechamento de narrativa. Só fica o fato de se o Freeza era o ser mais poderoso do universo, como que seria possível surgir um novo adversário para Goku?
…e ai somos todos abençoados com a lindeza que é o arco Cell.
Final do arco Cell:
Não existia ninguém no universo superior ao Freeza, então é só criar um. Anos atrás o Goku extinguiu uma organização maligna chamada Exército Red Ribbon, mas mais de uma década depois, o último sobrevivente do exército finalmente completa sua vingança. Cell é um vilão criado para ser a vingança contra Goku contra algo que ele fez aos seus 14 anos. A vingança de seu primeiro adversário sério (uma vez que Pilaf era uma piada). E que é formado pelos genes de todas as pessoas com quem Goku lutou depois de extinguir o exército Red Ribbon (Cell é feito dos genes de Goku Piccolo, Vegeta, Freeza e Rei Cold. Exceto por si mesmo e pelo Rei Cold que Goku não conheceu, os outros três resumem as três batalhas principais que Goku teve após o arco Red Ribbon).
E Cell triunfa. Ele consegue matar Goku. Em um ataque suicida que ele surpreendentemente sobreviveu. E por isso quem derrota Cell é Gohan, filho de Goku, que desde sua primeira luta foi anunciado como tendo potencial para superar o pai, e ele finalmente o supera.
Com Cell morto, os amigos de Goku tentam ressuscitá-lo, mas Goku se recusa. Ele faz questão de não reviver, pois uma vez no passado Bulma comentou com ele que ele dava azar para a Terra e atraia problemas. E de fato, Raditz, Vegeta, Freeza e Cell ameaçaram o planeta Terra só por que Goku estava lá. Ele conclui que o melhor pro planeta é ele continuar morto e com isso quem herda o legado de continuar protegendo o planeta é seu filho Gohan.
Uma boa maneira de amarrar a jornada inteira do personagem. E de concluir o arco pessoal de Gohan.
Se vocês notarem bem, Gohan nunca usa técnicas de Goku em seu arsenal. Seu golpe-assinatura, o Masenko, é adaptado de um golpe do Piccolo. Assim como Gohan se veste igual a Piccolo nas batalhas. Isso porque o mestre de Gohan foi Piccolo e não Goku, assim como Piccolo foi uma figura paterna importante pro garoto quando Goku esteve morto ou ausente. O fato de Gohan ter usado pela primeira vez o Kamehameha como o golpe final contra o Cell e somente após Goku morrer. Como se naquela luta Gohan tivesse finalmente resolvido se espelhar em seu pai mais do que em Piccolo.
Além desses pontos é no arco Cell que Vegeta ganha seu ponto de redenção em sua relação com seu filho Trunks. Piccolo e Deus ambos engolem seu orgulho e resolvem ser um só novamente pelo bem da Terra, o que torna Piccolo muito mais conectado com a trama divina da série.
Kuririn tem uma subtrama romântica que conclui nele finalmente arrumando seu par, um sonho que ele tem desde sua primeira aparição e frequentemente mencionava. Dende retorna do arco de Freeza para se tornar o novo Deus da Terra. Bulma toma seu papel mais importante da fase Z construindo a máquina do tempo que Trunks usa. É um arco com bastante destaque aos personagens da série.
Ao final estão todos reunidos no Templo de Deus. E Kuririn comenta que Goku mesmo morto falava de maneira tão feliz que sequer parecia um evento triste. Tenshinhan se despede alegando que acredita que nunca mais irá ver o resto do grupo, e é isso. A história de Goku acabou, dava perfeitamente para acabar ai o mangá.
Mas como sabemos, o mangá ainda tinha mais um ultimo arco antes de acabar.
O fim do arco Boo:
Bem… o arco Boo não começa nem conclui muita coisa além de si mesmo. O arco faz questão de ser a batalha com maiores índices de epicidade e riscos tomados na série, com o vilão tendo sucesso em destruir todo o planeta Terra, e a batalha final sendo no planeta dos Deuses. O golpe final que mata Majin Boo é feito reunindo energia de todos os terraqueos acumulada, e isso inclui todos os amigos que Goku fez desde a infância que agora estão ajudando ele a salvar o universo. Mas fora essa epicidade, não havia sobrado nada para ser realmente fechado após Cell, então foi só uma elevação de escala mesmo.
O que pode ser dito desse final de arco, é que conclui o arco de personagem de Vegeta com ele definitivamente se posicionando como herói e como amigo de Goku e dos demais. (tem um texto aqui no blog só sobre esse arco de personagem), e conclui o o desenvolvimento de Mr. Satan, que foi somente alívio cômico no arco Cell (sua única contribuição para os acontecimentos foi jogar a cabeça do Androide Nº 16 na direção de Gohan), e foi um personagem central de Boo, e um personagem muito interessante e carismático por sinal.
Mas o arco em si não deixa muito o que dizer, Boo era o ser mais perigoso do universo, mas Goku o derrotou graças a ajuda de todos os terráqueos. E com Boo morto fica a deixa para….
O fim oficial canônico de Dragon Ball:
Após a luta com o Boo temos o final da série. Um final simples. Dez anos após a morte de Majin Boo, Goku retorna ao Torneio de Artes Marciais novamente, para enfrentar Oob, um garoto de dez anos que ele acredita ser a reencarnação de Boo. Após se enfrentarem, Goku fica maravilhado com o potencial do garoto e resolve treiná-lo, abandonando todos os seus amigos no processo.
Eu acredito que a luta contra Piccolo no torneio de Artes Marciais foi imaginada como sendo o final da série, e que Toriyama foi sim pressionado a continuar além disso. E com isso sendo dito, acredito que esse final do Goku indo ao torneio só para enfrentar a reencarnação de seu último rival, uma rima temática com o que poderia ser chamado “final original”.
Fora isso, é o conceito de Goku tomando um discipulo. Goku sempre alternou mestres, ele foi discipulo de Kame. Durante o arco Red Ribbon ele passa a treinar com Karin. Após o arco Piccolo ele passa a treinar com Deus. Durante a invasão dos Sayajins ele passa a treinar com Kaioh. E durante o arco Freeza ele passa a ser o próprio mestre. Treinando consigo mesmo. Essa transição é facilmente notada pela mudança de kanjis que ele levava em seu uniforme (o kanji do Kame, depois o kanji de Deus, depois o kanji do Kaioh, depois um kanji pessoal, e passa os arcos Cell e Boo sem kanji). Porém mesmo depois de se tornar o próprio mestre, ele nunca treinou ninguém. Mesmo os seus filhos, o mestre de Gohan é Piccolo e o mestre de Goten é Gohan. Então sendo Goku um personagem que viveu a vida inteira em torno de se aprimorar na arte das lutas, creio que um final onde ele toma um discipulo como o início de uma nova etapa na vida dele, propício a um final.
Tem a cena do Vegeta não fazendo questão de lutar contra o Goku, um lembrete da evolução de Vegeta. Mas não tem muito mais que isso também. Foi um final redondo, mas o final de Cell havia fechado tantos temas que não sobrou muito para Boo e esse pós-Boo trabalharem.
E fora isso ainda temos…
O final de GT:
É… dava para passar sem GT, até porque GT não tem participação do Toriyama. Mas é um final e eu preciso citar todos. Por mais que GT seja lixo. No fim de GT, após derrotar Dragões Malignos criados pelo excesso de desejos feitos das Esferas do Dragão (um conceito meio errado na minha opinião), Goku decide se fundir com Sheng Long, o dragão esferas, existindo eternamente em outro plano. Com isso Goku e as Esferas deixam de existir no mundo. O que sempre me soou uma ideia imbecil, pois não existe motivo para Goku tirar as esferas do Dragão do povo Terráqueo, e também abandonar a existência na terra por um motivo que não o de lutar é uma atitude muito atípica dele. Após tomar essa decisão ele decide dizer um único adeus, e não foi para Bulma, sua primeira amiga, e nem para sua família, foi para Kuririn seu eterno melhor amigo. Eles tem uma luta onde ele deixa Kuririn vencer, e sob o olhar de Mestre Kame, seu primeiro e eterno mentor, ele parte para sempre, para nunca mais voltar.
Claro que depois dessa cena tem uma montagem de toda a jornada de Goku desde o encontro com Bulma até essa cena, recaptulando a vida inteira dele, e essa montagem comoveu alguns fãs, mas esse final é bem bosta. Goku se recusou a ser Deus no passado, porque aceitaria se fundir a um dragão abandonando a Terra e privando ela das Dragon Balls? Péssimo final, para uma péssima série.
Vamos parar de falar de GT. Não vale nossa atenção.
Final de Battle of Gods:
Battle of Gods é um filme impressionante em diversos fatores. Em seu final especificamente é curioso por ser o extremo oposto da maioria de seus finais.
Dragon Ball segue sem vergonha nenhuma um processo de escalada onde a cada arco apresenta um inimigo ao Goku cujo status de poder é muito maior que o do inimigo anterior de Goku, e ao superar esse inimigo, Goku atinge o nível máximo de poder da série até ser superado pelo próximo inimigo.
Então, ao derrotar o Exército Red Ribbon, incluindo seu general top, Blue, e o assassino mais letal do mundo, contratado pelo exército, Tao Pai Pai, Goku atingiu o status de mais forte que qualquer humano no mundo. Então o próximo adversário seria um demônio, como o Rei Piccolo, ao derrotá-lo, Goku atingiu o status de pessoa mais forte do planeta. Então o próximo adversário seria um alien, Freeza, o ser mais poderoso do universo, e Goku o derrotou se tornando o homem mais poderoso do universo. Até Cell ser criado com base nas células de Freeza e assim superando Freeza. E Gohan o derrotou. Se tornando assim o homem mais poderoso do universo. E então veio Boo uma entidade milenar que era a entidade mais poderosa do universo até então.
Agora cabia ao filme superar Boo, e sabiamente evitando a mesmisse que é essa escalada de poder, o filme chutou o balde e nos introduziu Bills, o Deus da Destruição, um ser tão absurdamente poderoso. Tão imensamente poderoso. Tão colossal. Que ao fim do filme Goku não o supera. Goku atinge uma forma nunca antes vista e aumenta seu poder consideravelmente para forçar Bills a lutar usando 70% de seu poder e é derrotado. De frente com a derrota, Goku termina a luta sabendo que ele não era o ser mais forte do universo, era no máximo o 3º. Sim, pois Bills também não era o mais forte do universo, ele ainda era superavel por seu mestre, Whis. Goku vendo que ainda tinha muito o que crescer ainda recebe essa bomba: E isso porque Goku só conhece o sétimo universo, existem doze universos paralelos cada um com seus próprios guerreiros fortes Bills nem imagina o quão fortes podem ser.
Em vez de fazer como todo arco, e terminar falando que Goku ou Gohan atingiram o máximo, o filme estabelece bem que Goku é o maior peixe do aquário dele, mas que ele nunca explorou o oceano de verdade. Que existe um longo caminho para trilhar ainda. E doze universos para serem explorados.
Não foi um filme feito para fechar coisas, foi feito para abrir novos potenciais para que Dragon Ball possa render mais frutos. Para após já estarmos familiarizados com o panteão de Deus ser um alien guardando o planeta, e de Kaiohs guardando o universo, conhecermos o conceito de Deuses reais como Bills e Whis. Em um estagio espiritual que não se compara aos demais e que Goku e potencialmente qualquer outro sayajin poderia alcançar. Para após já termos conhecido o topo do topo de poder do universo, começarmos a explorar um multiverso de possibilidades.
E é por que Battle of Gods foi um recomeço tão bom que faz sentido o anúncio de Dragon Ball Chou. Foi um momento notável em que a série apontou para o futuro e não se focou em amarrar o seu passado, coisa que a série raramente faz. E isso é foda. Muitas boas expectativas para essa nova série.
E é isso que torna Dragon Ball tão especial. Sua simplicidade em seu universo que torna possível em todo arco fechar a trama sem a necessidade de uma continuação, mas ao mesmo tempo, mesmo com a série parada por quase vinte anos, é fácil de reabrir as possibilidades e criar um novo começo para que a série explore ainda mais caminhos que não havia explorado. A simplicidade impede que o autor tenha amarras e possa controlar bem o rumo da série.
E sem usar o termo simples pejorativamente. Pois apesar de aparentar pouca história. Sempre tem muito detalhe interessante de se analisar em Dragon Ball para notar como acontecimentos e personagens embora não sejam complexos, são bem construídos.