Juror #2 – Como essa história poderia terminar em justiça?

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No fim de 2024 Clint Eastwood lançou seu novo filme como diretor, Juror #2, que traduz literalmente pra Jurado Nº2. Um filme de tribunal, em que durante um julgamento um dos jurados percebe que ele está envolvido no caso julgado. Ele percebe especificamente que o assassinato que ele está ouvindo a descrição foi um acidente, e ele sabe que foi um acidente, pois o assassino era ele próprio.

Confuso, e com culpa, ele cogita se entregar, mas sua condição de alcoólatra faria com que ninguém acreditasse que ele estivesse sóbrio em um acidente, e isso faria ele pegar uma caralhada de tempo de cadeia e impedir que ele cuidasse do filho que está quase nascendo. Então ele tenta somente impedir que o réu, que ele sabe que é inocente, seja condenado. Porém é difícil, pois se investigarem demais outras possibilidades de suspeito, vão chegar nele.

Pra piorar vem a tona a ideia de que o réu é uma pessoa com um passado ruim, que todos consideram uma ameaça a sociedade, e a ideia de que tanto faz se ele é culpado ou não desse crime, se o mundo vai ser melhor prendendo ele mesmo.

Em sua confusão, culpa e desespero, o protagonista vai tomando decisões mais e mais questionáveis. E no final a gente vê o réu ser preso por um crime que não cometeu, e não sabemos se a promotora, que descobriu que o protagonista era o verdadeiro culpado vai fazer algo a respeito.

E a pergunta que fica no ar é: “nesse cenário hipotético? O que seria a justiça?”

E ênfase nessa pergunta. O que seria a “Justiça”. O que a lei pede que aconteça a gente sabe, nesse cenário hipotético o protagonista iria pra cadeia. Mas a quem serviria ele ir pra cadeia?

Eu já falei sobre isso por cima em vários outros textos, mas vou falar aqui melhor, eu sou uma pessoa contra cadeias. Eu não acredito em um centro de tortura com jaulas, trabalho escravo e violência sexual como um ambiente que tem algum tipo de serviço social, e nem como um projeto eficiente em diminuir a criminalidade e proteger a população.

Fraseando assim, o que eu fiz pois eu sou obviamente enviesado, parece lógico, mas não é uma opinião popular, muita gente acha que não dá pra mantermos nossa civilização sem cadeias. E eu tenho certeza de que Clint Eastwood não é um antipunitivista nem um abolicionista penal. Mas eu quero sob esse prisma analisar um pouco sobre o filme dele. Qual era a situação. Quais eram os riscos. E o que podia ser feito.

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E esse texto é sobre Juror #2.

Então vamos começar com o ponto central do filme.

Justin Kemp merecia ir pra cadeia?

O conflito inteiro do filme gira em torno de Justin percebendo que ele é o assassino em um caso de assassinato do qual ele é jurado. Foi uma morte acidental. Em que no meio de uma chuva ele atropelou uma pessoa, em uma região onde passam muitos veados, ele procurou o corpo atropelado, não encontrou, e presumiu que havia atropelado um veado, descobrindo só no julgamento que de fato havia sido uma pessoa e que ela morreu.

O instinto de Justin é se confessar, resolver a situação e inocentar o réu, por saber que quem atropelou a vítima foi ele e que foi um acidente. Ele acredita a principio que sendo um acidente, que se ele cooperar vai ser melhor pra todos. O problema no caso é que Justin é um alcoólatra em recuperação, e que ele não podia provar que ele estava sóbrio naquela noite. Isso qualificaria Justin com homicídio e ele pegaria no mínimo 30 anos de cadeia.

Tendo uma esposa grávida, Justin está muito inclinado a não abandonar o bebê e a família indo pra cadeia por 30 anos, e fica incentivado a não contar a verdade. Sendo que a verdade é: ele de fato matou a pessoa.

A única solução pra Justin é então deixar um inocente ser condenado pelo seu crime, e nesse ponto Justin perde nossa simpatia, pois o fardo que ele quer carregar ele joga nas costas de um inocente. Mas isso nos rende a pergunta: que bom faria o fardo pra ele?

Como que tirar Justin de sua família e manter ele isolado da sociedade por 30 anos vai realmente ajudar a família da vítima? Pois os demais jurados entendem muito bem esse ponto. Eles entendem que pra família da vítima ter paz, alguém precisa ir pra cadeia, e se não for o réu, vai ser quem?

E curioso como essa mentalidade prevalece. A ideia de que, eu não sei quem foi, e portanto eu não entendo o que aconteceu, mas eu já entendo que punições devem ser exigidas. A gente estabelece a resposta ao ocorrido antes de entender o ocorrido.

E de fato, em casos de assassinato, a perspectiva pras quais olhamos é sempre essa, a de que a família precisa conseguir a sua paz e o seu conforto de saber que seja quem matou esse ente querido será devidamente castigado e não ficará mais nas ruas onde ele pode atacar de novo.

Não vai recuperar o que perderam, mas pelo menos essa pessoa perigosa vai passar 30 anos apanhando todos os dias, sendo estuprada, realizando trabalho escravo e colocando uma marca em sua vida que tornará impossível retomar sua vida quando sair da cadeia. Um olho por olho, dente por dente, o assassino nunca vai recuperar sua vida, pra pagar pela vida que tirou. É assim que ele devolve pra sociedade o que ele tirou.

Filme: Um Sonho de Liberdade (1994)

E existe uma magia na cadeia. Legalmente, o tempo “de castigo” isolado da sociedade, e no caso dos EUA, os trabalhos de remuneração insignificante pras empresas que controlam a prisão, e também no caso dos EUA, a pena-de-morte, são as únicas punições previstas em lei. Os atos de violência, física, psicológica e sexual, que podem ser cometidos ou por outros presos ou por guardas, são um “bônus”, eles não são previstos legalmente como parte do processo, mas todo mundo sabe que eles acontecem. Todo mundo quer que eles aconteçam, pois eles transformam o espaço em um centro de tortura não oficial. Que tanta gente perigosa supostamente merece.

Filme: Esquadrão Suicida (2016)
Série: As Meninas Super-Poderosas.

E essa tortura vai pra todo mundo. Afinal a cadeia não é dividida pra “Um tipo de tratamento pra um tipo de crime”, a diferença de um crime leve pra um pesado é só quanto tempo a pessoa vai passar dentro do centro de tortura. E por isso, como o destino é o mesmo, isso naturaliza na gente a ideia de que tanto faz o que a pessoa fez, desde que ela seja uma pessoa ruim.

Se meteu com droga ou foi chefe da máfia? Não importa, vai pro mesmo lugar receber o mesmo tratamento, mas cada uma por um tempo diferente.

No filme isso é racionalizado com muita frequência. Muitos jurados não sabem se James Scythe de fato assassinou a namorada. Mas eles sabem que ele é traficante, foi um namorado abusivo e é uma pessoa ruim. Então é lá que ele pertence, tanto faz por qual acusação. Ele precisa ser torturado por ser ruim, e qual a merda que ele fez é só uma formalidade, então pode até mesmo ser por uma que ele talvez não tenha feito.

Chegou-se até a ver sob a perspectiva de “se ele não fosse um namorado ruim, ela não teria ido pra um contexto onde sofreu um acidente, então a culpa é toda do namorado abusivo e ele precisa de umas décadas de tortura e trabalho escravo por isso.”

Afinal, os pais da vítima precisam dormir em paz, sabendo que alguém no mundo vai passar por isso.

Alguém tem que pagar! Alguém tem. Pois algo errado aconteceu, e se ninguém por pra cadeia, como vamos lidar com a ideia de que algo errado aconteceu?

Eu, a nível pessoal, acho esse processo todo muito irracional. Fui apresentado ao abolicionismo penal mas uns sete ou oito anos e mudou muito como eu vejo os níveis em que a cadeia está de fato solucionando algum problema. Mas ele é extremamente aceito, mesmo diante dos pontos que eu levantei. A galera olha e pensa. É isso mesmo. Faz sentido. O mal deve ser combatido. Eu não acho que ninguém vai ler isso e pensar que cadeia é ruim, pois o quanto todas essas lógicas fazem sentido pra sociedade enquanto coletivo é muito forte. É de fato algo muito popular.

Em especial como uma solução pra crises políticas. O fato de sabermos que a prisão é injusta, pois é reservada pra quem não tem poder nos alimenta a esperança de que se prendermos quem tem poder ela passa a ser justa. Criando retóricas de que tudo vai melhorar quando prendermos uma pessoa de quem um determinado grupo não gosta.
E que conste. Se vocês um dia me virem celebrando ou torcendo pela prisão de algum nazista ou figura política condenável, eu vou estar deliberadamente celebrando que uma pessoa que eu considero perversa está sofrendo privação de seus direitos humanos, eu não vou estar alegando que a sociedade vai bem, que o contrato social está sendo reparado ou que a justiça está cumprindo seu papel. Não estou acima de sentir prazer pela tortura de gente que eu desprezo, não sou um santo.

Mas aí vem a pergunta. O acidente em que Justin se envolveu justifica mandar ele pra esse tipo de tratamento por 30 anos? Definitivamente não. Por isso o filme estabelece que se ele convencesse os outros de que foi um acidente nada disso ocorreria. O problema está na sua incapacidade de provar que foi um acidente, e não sua negligência de dirigir bêbado sabendo do risco que ele traria a vida dos outros.

Mas Justin era um alcoólatra. E ele estava saindo de um bar, ele bebeu nesse bar? Não, nós como a audiência sabemos disso como fato absoluto. Mas ninguém dentro do filme viu o filme, então nenhum deles pode confiar na palavra de Justin.

E esse é um problema. Pois a verdade, sobre o que realmente aconteceu, era literalmente inacreditável. Era impossível convencer um completo estranho da verdade, e portanto não era possível um julgamento chegar na verdade. Pois Justin, por ser alcoólatra, era uma testemunha não-confiável quanto a própria sobriedade.

Assim como o réu, Michael Sythe é uma testemunha não-confiável quanto a não estar mais em uma gangue de tráfico de drogas onde já esteve no passado. E quanto a isso nós não sabemos se é verdade ou não, temos a palavra dele, mas o filme nos inclina a tentar acreditar nela, mesmo que pros jurados, possa ser inacreditável também.

E isso é um lance em julgamentos. A palavra do réu sempre tem muito pouco valor. E é normal que tenha, pois literalmente todo mundo vai falar a mesma coisa, vai falar “eu não fiz isso, sou inocente”, e como qualquer culpado diria a mesma coisa, ele se torna o dono da versão menos confiável dos fatos. O que é contraditório, pois ele também pode ser a única pessoa ali a ter presenciado os fatos.

Filme: Meu primo Vinny (1992)

E essa falta de confiança em qualquer pessoa que seja um possível suspeito do crime, é compensada como uma excessiva confiança em testemunhas. O que é natural, pois enquanto um réu tem muito a ganhar falando “sou inocente e não fiz nada.”, uma testemunha em teoria é neutra, ela não ganha absolutamente nada jogando um inocente pros leões. Então se ela fala “eu vi esse cara fazer isso”, a gente logo nota que não tem motivo pra ela mentir.

Filme: 12 Homens e uma Sentença.

Exceto que testemunhas podem dizer inverdades, sem mentir. Expressão que aqui significa, elas podem ser convencida de uma versão dos fatos não pelo que viram, mas pela narrativa que a polícia ou a promotoria apresentou a eles. E aí podem repetir o que a polícia e a promotoria disseram, como alguém com lugar de fala pra falar essas coisas. Só repetem a narrativa oficial, e como eles acreditam na versão da promotoria, eles acham que só repetir algo que eles não necessariamente viram, ajuda eles a prender gente culpada.

Que é algo que pode acontecer na vida real. E que no filme é explicitamente o que acontece. A testemunha não tem ideia de quem foi a pessoa que viu na ponte onde a vítima morreu. A gente sabe que ele viu Justin, mas estava chovendo, e a testemunha não faz ideia de quem era. Mas quando a polícia pergunta “Pô, morreu essa mulher aqui, e o assassino é, e sabemos isso por fato, o Michael Sythe, você viu alguém na ponte? E se tiver visto pode só dar um depoimento confirmando que você viu o Michael Sythe?”, a pessoa não sente que mente ao dizer não. Ela se sente ajudando a justiça a ser feita.

E pra piorar, as leis da neutralidade obrigam os jurados a não tirarem nenhuma conclusão baseada em coisas que não sejam as provas coletadas pela promotoria e os contra-argumentos a elas apresentados pela defesa. Mesmo se a promotoria e a defesa não tiverem sido capazes de ver a história inteira, ter noções palpáveis dos fatos que completem essa história é literalmente proibido e pode anular um juri. E essa regra como todas as outras que eu aponto faz total sentido, mas apresenta falhas. Não é porque uma decisão é lógica, que ela sempre vai chegar no melhor resultado.

E isso é o que o filme faz bem. Ele mostra um caso impossível de se resultar em justiça, pois pequenas falhas no processo se acumulam. A promotora está pressionada a um veredito de culpado sem ter todos os fatos, a testemunha foi induzida a achar que viu algo que não viu, o jurado que reparou em má prática policial foi removido do juri, e quem sabia a verdade, tinha a pressão de ficar em silêncio pra não ser forçado a abandonar sua esposa grávida e acusado de ter feito algo que não fez, pois sua versão dos fatos é literalmente inacreditável.

O filme faz um desenho de como esse processo fictício falharia, e a justiça jamais seria feita, pois na maneira como o processo opera ela não é uma opção.

E eu quero usar isso de trampolim, pra falar sobre um tipo de justiça que existe de maneira prática e é aplicada as vezes nos EUA, não é uma teoria que existe no vácuo, e é uma das alternativas que existem a uma noção punitiva de justiça. E pensar em como ela seria aplicada ao filme.

O que é justiça restaurativa?

Justiça Restaurativa é uma alternativa à chamada Justiça Tradicional, que é o bom e velho chamar um juiz, expor quais foram as leis quebradas, e após provarem que o fulano cometeu mesmo um crime, um juiz ou um juri determinam quantos anos a pessoa deve passar em um centro de tortura até poder voltar pra sociedade, e receber a vida de volta, com a hipótese de extralegalmente jamais receber a vida de volta, pois a sociedade ainda está puta. O método que conhecemos. É o que foi aplicado no filme e em todo filme sobre tribunal que já vimos. Ele é a Justiça Tradicional, e ele assim como toda prática que é o status quo, tem sido questionado por pessoas que acham que o status quo não é bom o bastante, e a alternativa mais citada e mais aplicada, é a Justiça Restaurativa.

A Justiça Restaurativa é um conceito introduzido pelo psicólogo de penitenciarias, Albert Eglash em 1977, cujo termo foi cunhado pelo criminologia Howard Zehr. E segundo Zehr, a sua ideia é se distinguir da Justiça Tradicional mudando principalmente quais são as perguntas feitas. Enquanto na Justiça Tradicional a gente busca responder somente três perguntas (Quais leis foram quebradas? Quem quebrou as leis? O que o criminoso merece?), a Justiça Restaurativa se preocupa em responder seis perguntas que podem ter respostas bem menos objetivas. Essas perguntas são: Quem foi prejudicado? O que a pessoa prejudicada precisa? De quem é a responsabilidade pra reparação? Quais foram as causas do ocorrido? Quem são as pessoas envolvidas no ocorrido? Qual é o processo adequado pra que os envolvidos possam apontar a causa e ajustar a situação?

Não são perguntas cuja resposta é olhar um livro enorme e ver se nele tem algo escrito sobre poder ou não poder. O foco está em reconhecer que uma injustiça ocorreu, danos foram cometidos, e algo tem que ser feito contra esse dano, para permitir que as pessoas prejudicadas possam ser recuperadas e os responsáveis possam ser responsabilizados.

O processo geralmente envolve realizar encontros, mediados por profissionais, entre a vítima e o agressor. E nesse encontro permitir que a vítima faça as perguntas necessárias. Pois muita vítima sai de processos legais carregando dúvidas importantes como, principalmente “por que isso aconteceu comigo?”, e lutam pra tocar a vida por não conseguir fazer sua dor fazer sentido. Esse espaço, que reforço, é mediado por profissionais, é o espaço pra vítima confrontar seu agressor e perguntar tudo o que quer saber dele. E é o espaço pro agressor encarar a vítima e ver os efeitos palpáveis que suas ações tiveram em outro ser humano. Esses encontros são voluntários, pois a Justiça Restaurativa só ocorre voluntariamente, e a vítima tem o direito de não ir pessoalmente, e mandar um representante, ou fazer o processo via carta. Mas o processo é feito primariamente pensando em como dar voz a vítima, é ela quem foi afetada, e nesse processo ela pode explicar e verbalizar como ela está sendo afetada, o que ela precisa que seja feito.

Juntos a conversa ou as conversas buscam então determinar o que é que cabe ao agressor fazer. Quais as ações concretas que serão tomadas pra que o ocorrido não se repita.

Também é possível, e muito comum, em vez de duas pessoas e o mediador ser um encontro com um número maior de pessoas afetadas pelo agressor, e até pessoas não afetadas, como representantes de membros da sociedade querendo se sentir seguros, e o processo é o mesmo. Pois afinal quando o contrato social é quebrado, é do interesse da sociedade vê-lo reparado, e um número plural pode ter uma voz sobre como o conflito pode ser reparado.

A ideia é trazer paz às vítimas e permitir que elas se recuperem dos danos causados, e o processo é achando algo concreto que pode ser feito pra reparar o que foi quebrado, além de só mandar uma pessoa pra um centro de tortura.

Esse plano é fortemente inspirado por como comunidades indígenas lidam com conflitos e quebras do contrato social dentro de suas comunidades. Especificamente é inspirado diretamente nos métodos dos Maori e dos Navajos. Pois uma coisa que a gente não pensa muito, pois é um processo muito naturalizado e aceito o de mandar pessoas pra cadeia, é como muitas culturas e estruturas sociais que a humanidade desenvolveu em seus milênios nesse planeta simplesmente não possuem cadeias.

Rawiri Waititi, um dos líderes do Partido Maori, partido na Nova Zelândia que luta pelos direitos dos Maori, e defensores vocais do fim das prisões e de uma reforma nos métodos de justiça do país.

A primeira penitenciaria nos moldes que a gente conhece hoje em dia, um espaço designado pra encarcerar criminosos e ser um espaço de punição, foi fundada na Pensilvânia em 1829, chama Eastern State Penitentiary e foi a base pras prisões que foram construídas ao redor do mundo. Antes disso, o uso de celas pra deter criminosos pode ser observado a partir do Império Romano, e nas regiões que o Império Romano influenciou culturalmente. Mas a ideia de encarceramento em massa não existia. Execuções públicas e tortura eram muito preferíveis como a punição básica pra crimes em lugares governados por Europeus (seja a Europa ou colônias), até o século XVII… e além disso tem o fato de que antes da colonização da África atribuir um elemento de classe que revolucionou o tráfico humano, por muito tempo a escravidão foi uma forma muito forte de lidar com crimes, fazendo cadeias não serem uma demanda tão grande.

Note que foi a mudança da lógica pra penitenciarias que permitiu o encarceramento em massa que veio algumas décadas antes da abolição da escravidão, permitindo que a transição nos EUA fosse bem suave, com a 13ª emenda incluindo que criminosos ainda poderiam ser escravizados e que a escravidão nunca estaria 100% abolida. O que é o motivo pelo qual as prisões particulares nos EUA podem obrigar seus prisioneiros a fazer produtos a remuneração mínima e ficar com os lucros do trabalho sem ofender questões trabalhistas. Pois o empresário que comprar a prisão é dono dos presos e tem o direito de fazer trabalho escravo deles.

Mas em muitas comunidades indígenas que não se moldavam em relação ao homem branco, o conceito de cadeia não existia. O que não é o mesmo que dizer que o conceito de lei, contrato social, crime e de castigo não existiam. Só que eles viam em outra perspectiva.

Em grande resumo, Justiça Restaurativa não é um conceito inventado por um bando de branco ingênuo, diferente das cadeias que são exatamente isso. Inventadas por uns romanos malucos e pioradas gradativamente até virarem centros de tortura oficiais e a base de uma política que visa ir aumentando o número de pessoas encarceradas, graças a uns estadunidense maluco. E que prevaleceu e se explorou em culturas que dependiam bastante de trabalho escravo pra se estabelecer.

Nem toda cultura foi isso. Isso não é a natureza humana, isso é só como algumas culturas mais dominantes se organizaram e impuseram isso ao resto do mundo através da colonização. E dentre as culturas que não impuseram suas maneiras ao resto do mundo através da colonização, existiram formas alternativas, que inspiraram diretamente a Justiça Restaurativa. Também ótima oportunidade pra lembrar algo que eu tenho certeza que todos os meus leitores sabem, mas que as várias culturas que não utilizam ou utilizavam cadeias como forma de punição, não são culturas que não possuem o conceito de leis, regras, justiça ou mesmo de punição. Pois os mesmos povos que trouxeram o punitivismo pras américas e pra oceania, trouxe também um preconceito de que vários grupos indígenas eram povos sem lei. O que ajuda a gente a não pensar na perspectiva dessas culturas. 

E a noção aqui é que ainda mais importante que a punição, é a reparação. Se alguém te fez uma injustiça, a sua vida não muda se essa pessoa vai ficar 10, 20, 30, 50 anos recebendo porrada na cabeça e trabalhando em fábrica ou, caso você seja estadunidense, se a pessoa vai ser eletrocutada até morrer. Importante ressaltar que legalmente a opção de executar os criminosos só segue existindo nos EUA dentre os países ocidentais. (Embora extra-legalmente muitos países matem seus criminosos e a gente finge que não viu, principalmente o Brasil que proibe a pena de morte, mas incentiva a polícia a abrir fogo antes do criminoso sequer ser julgado). Mas não faz diferença na vida prática da vítima. Nada disso dá nada pra vítima. Então a gente faz gaslight na vítima pra ela achar que sua paz é saber que alguém está sendo estuprado em seu nome.

Filme: Homem de Ferro 2

E talvez você seja parte dessa crença, e talvez você acredite que você não teria nenhuma demanda palpável de como superar seus danos, e que o seu único desejo seria saber que a pessoa te fez mal está sendo devidamente estuprada em seu nome, e acredite nisso de coração. Talvez você esteja pensando que “tá, mas isso não funcionaria com um serial killer sociopata incapaz de sentir empatia”, como se esse fosse o perfil mais comum de criminosos e a prioridade do nosso sistema de justiça. Mas na moral esse texto não é pra te convencer a adotar nada. Informar um pouco de que esse método alternativo de justiça existe, e é aplicado nos EUA e no Brasil, tem casos reais sendo resolvidos dessa forma, alguns funcionaram melhores que outros, mas nenhum funcionou pior que a cadeia, mas eu escolhi esse formato justamente pra pegar um que existe na prática, que está sendo aplicado e não uma teoria bonita num papel que só acadêmico discute, pois existem várias outras alternativas a cadeia no mundo. Mas eu não estou aqui pra pedir pra ninguém abraçar criminosos nenhum.

Estou aqui pra pensar se esse sistema de Justiça Restaurativa poderia ser a solução pro dilema insolucionável apresentado por Clint Eastwood no filme Juror #2, motivo pelo qual eu falo o que existe ou não nos EUA, pois eu quero responder o desafio apresentado por um estadunidense frustrado com sistema de justiça. Um que eu acredito potencialmente não conhece a Justiça Restaurativa.

Voltando ao filme:

Então, o exercício hipotético que eu proponho é: seria possível justiça pela morte de Kendall Carter, cometida acidentalmente por Justin Kemp no filme Juror #2, que lembrando é um caso fictício inventado pelo diretor de direita Clint Eastwood pra expressar sua falta de fé no sistema de justiça estadunidense, se essa situação fictícia poderia ser solucionada hipoteticamente na abordagem da Justiça Restaurativa em vez da Justiça Tradicional.

Ou seja, se em vez de Justin ser desencorajado a confessar pra não pegar 30 anos de cadeia com uma esposa grávida, a confissão na verdade fizesse ele ter que conversar com os pais de Kendall Carter, expressar seu remorso pra eles, ver como sua ação afetou eles e encontrar ações palpáveis que ele possa fazer pra curar a dor deles. Se essa segunda abordagem permitira uma solução que seria capaz de ser chamada de justiça.

A pergunta foi enviesada, eu fraseei de maneira que a resposta provavelmente fosse, obvio que sim.

Afinal sabemos que arrependimento era o sentimento base de Justin e que ele queria de fato ajudar. E ele estava se sentindo culpado por mandar Michael na cadeia em seu lugar, mesmo priorizando se salvar, ele não estava em paz, e o filme não deu a ele uma chance de fazer nada, que não envolvesse sacrificar 30 anos de vida.

Mas é curioso, pois embora a Justiça Restaurativa gere muitos pés atrás em relação a quem só entende o conceito de ficar em paz, sabendo que alguém está sendo punido, ela ainda seria um método pra se abordar uma questão importante que o lado que tá pedindo pelo sangue de Michael queria no filme.

Metade dos jurados não largou o osso de declarar Michael culpado por um crime mesmo diante de tanta dúvida razoável. E o fato era simples. Michael era um namorado tóxico, abusivo, e um macho merda. E portanto pau no cu dele. E o filme enquadra isso como o que é: sim, isso é algo ruim, mas não prova que ele é um assassino, e as pessoas não deviam querer condenar alguém por um crime que não cometeu, só porque a pessoa merece se foder.

Mas Marcus, que odiava Michael pelo seu passado como membro de gangue e traficante de drogas, cita um ponto que eu já mencionei antes. Que quando Michael ser um escroto e tratar Kendall mal, causou uma briga, a briga fez ela sair correndo pra uma zona não-segura, e ali ela sofreu um acidente e morreu. Michael ainda é responsável pelo que ocorreu, mesmo se ele não for um assassino. E embora isso na hora de fazer as perguntas: “Que crime foi cometido? Quem cometeu o crime?”, isso tenha zero relevância e Marcus esteja falando algo fora de lugar, na hora de fazer as perguntas: “Quem foi afetado? Quem deve ser responsabilizado?”, essa é uma perspectiva válida. E enfrentar Michael e o seu histórico de abuso teria lugar na discussão.

E daria a chance de Michael e os seus ex-sogros lidarem com o fato juntos, e da relação deles e do dano que a morte de Kendall teve na relação deles, o que teve independente de sua culpa ou inocência ser trabalhado.

Além de ser o formato que daria aos pais de Kendall, mencionados no filme como aqueles por quem a justiça será feita, mas que essencialmente não são personagens do filme, a voz e o direito de exigir reparação e de falar sobre o que eles precisam. Em vez de uma promotora projetar por eles que eles precisam ver Michael ser punido. O que talvez eles até queiram, mas eles não falaram isso, eles não falam nada no filme, pois eles não tem voz, a voz é dada pros agentes neutros da lei falarem por eles, mas representarem o Estado.

Emocionalmente, a justiça restaurativa abordaria todas as demandas emocionais do juri, mesmo que eles racionalmente não fossem capazes de ver isso. Mas aí é que tá. Eles sequer sabem que essa abordagem existe?

Talvez o Clint Eastwood não saiba.

Conclusão:
Como justiça e redenção são abordadas na mídia:

Série: Batman a Série Animada. Episódio 3 da 3ª Temporada; Riddler’s Reform.

A ficção e o nosso modo de contar histórias tem muitos poderes na sociedade. Muitas coisas ocorrem graças a filmes e muitas não ocorrem. Eu falo um pouco sobre isso num texto sobre o poder da ficção, mas quero retomar o assunto aqui. Pois talvez o principal poder da mídia, em especial da mídia produzida industrialmente pra ser consumida pelas massas que temos atualmente, seja o de moldar como a opinião pública vê certas instituições, conceitos e pessoas reais. E ao moldar opinião e demandas públicas existe o poder de gerar pressão pra acontecimentos concretos.

Link da notícia aqui

Pois o poder da ficção é dar e tirar carisma de elementos. E a cultura pop não é a única que dá e tira carisma de elementos, que fique muito claro. Mas podemos objetivamente dizer que os incessantes cameos que o Elon Musk fez em diversas obras de cultura pop, em especial as que um certo perfil de nerd gostava de consumir, cultivou o status de celebridade dele que muitos bilionários jamais tiveram. Fizeram seu rosto ser reconhecível, seu nome também, e as pessoas acreditarem no que a televisão disse sobre eles.

Pois a verdade é, na maneira como somos educados, a nossa primeira impressão sobre muitos assuntos vem da ficção. Por exemplo. Pra muita gente, a primeira vez que eles vão ouvir falar sobre nazismo vai ser vendo um filme ou série com nazistas como vilões. E aí essa pessoa pode perguntar pros pais, ou pra internet o que é nazismo. Mas a chance deles serem vilões de alguma coisa que apareceu antes de você aprender Segunda Guerra Mundial na escola é grande.

Devido a minha geração, meu primeiro contato com o conceito do Nazismo foi Indiana Jones.

Talvez tenha uma criança que ouviu falar de Elvis pela primeira vez vendo Lilo e Stitch, e foi perguntar pros seus pais ou pra internet.

Talvez eu só tenha ido assistir ao filme Um Violinista no Telhado, que eu adoro, pra entender melhor um episódio de Animaniacs que paródia o filme diretamente.

Por isso eu acho muito importante nessa era em que tudo se resume a referências, as referências serem menos sobre o que o expectador reconhece por default, e mais sobre o que os artistas podem apresentar aos expectadores pra fazê-los dar um google legal.

Enfim, voltando ao meu ponto que era pra ser o ponto do texto todo, mas me perdi nessa tangente, que é importante. A ficção nos ensina muito sobre como o conceito de justiça funciona ou deve funcionar. Afinal é ouvindo histórias quando crianças, mais do que lendo o jornal ou vendo nossos pais comentarem sobre a realidade, mas através de filmes e livros infantis, que aprendemos um conceito fundamental da justiça. O bem deve enfrentar o mal.

É a ficção é uma das maiores fontes de normalizações de como a justiça funciona, em especial nos EUA. Tem estudos feitos sobre como Law and Order influencia a percepção das pessoas sobre o quão confiável a polícia é . Existem estudos sobre como CSI afeta a maneira como um juri valoriza ou desvaloriza a perícia científica apresentada em um tribunal na hora de provar culpa ou inocência de alguém. Existem estudos sobre como 24, aquela série em que o Jack Bauer mata terroristas influenciou pessoas a acreditarem que a tortura de terroristas funciona, palavra que aqui significa, é um método eficiente de extrair informação que ao ser usada ajudou o Governo Estadunidense a extrair informação relevante pra combater os terroristas.

A maioria dos cidadãos estadunidenses vai ver um policial na televisão antes de ter que dar depoimento pra um na vida real. A maioria vai assistir a um julgamento na televisão antes de assistir um na vida real. E a maioria vai conhecer um agente do FBI fictício antes de conhecer um real. E por isso as expectativas de como esse mundo funciona são apresentadas pela televisão.

E a televisão raramente fala sobre Justiça Restaurativa. A sétima temporada de Orange is the New Black entrou no assunto, com a Taystee. E temos documentários sobre. Mas raramente é algo que aparece como uma opção em filmes legais. Mesmo sendo uma alternativa que está sendo posta em prática faz décadas. Ela existe. Mas se uma coisa nunca aparece numa história, pra uma pessoa que engaja em milhares de histórias, como acreditar que algo é uma opção?

E mesmo quando o ponto da Justiça Restaurativa é apresentado. A prática, e o nome dela são removidos do seu ponto, pra passar a ideia de recuperação e relações, sem realmente apresentar a proposta. Como é feito no próprio filme Juror #2. Onde a maneira como Justin ter pagado a pena pelos acidentes que causou alcoolizado no passado, terem sido serviço comunitário, colocou ele em contato com pessoas que acreditaram nele, e em um envolvimento social que fez ele ter a força de quebrar seu ciclo e mudar a pessoa que ele era. Essa lógica existe dentro da Justiça Restaurativa, e o filme aprecia esse veículo pra mudança, mas formalmente o processo de Justin foi só ser “condenado a serviços comunitários”, e a opção mais ampla não foi apresentada.

Um dos poderes da ficção é deixar coisas invisíveis visíveis. Mas se tornar visível envolve ganhar um nome, envolve dar ao expectador o poder de jogar alguma coisa no google e ver o que aparece.

E esse é o motivo pelo qual a direita reacionária tem tanto medo de representatividade na mídia. Pois no instante que alguém te convence que pessoas trans, gays, negras, árabes, comunistas ou de qualquer grupo marginalizado, são só pessoas. Que lavam a louça, pagam contas, fazem seus trabalhos, se apaixonam, aí fica difícil vendê-las como um grupo tentando dominar o mundo das sombras. E tirar grupos marginalizados da invisibilidade é um pânico pra extrema-direita, que precisa controlar a maneira como esses grupos são entendidos.

Por isso seus videogames não podem ter muitas mulheres negras. E é por isso que toda vez que puderem achar tecnicalidades para explicar que um personagem não é trans, eles usarão a tecnicalidade. Pois é importante pra eles falar pras minorias: “esse personagem não parece você”, mesmo que ele seja um ponto de conforto pra uma população marginalizada.

Peço desculpas aos fãs de One Piece que abriram o texto e tiveram que ser lembrados sobre o debate do gênero do Yamato.

E bem. Eu não acho que o Clint Eastwood, apesar de ser uma pessoa de direita cujas ideologias eu reprovo, deliberadamente se omitiu de propor uma solução que exista na vida real pro conflito. Eu acho que provavelmente não ocorreu a ele, pois não ocorre a muita gente. Pois é uma alternativa que apesar de estar sendo posta em prática é invisibilidade. Cujos participantes costumam ouvir falar pela primeira vez só quando algum advogado ou ativista propõe a solução pra vítima diretamente, sem elas nem saberem do conceito antes.

E com isso o poder da ficção de desinvibilizar coisas não está sendo devidamente utilizado.

Filmes desde cedo nos apresentaram o conceito de redenção, como grandes gestos, pois é mais cinematográfico. E gostam muito de fazer uma correlação entre se redimir e morrer.

Filme: O Exterminador do Futuro 2

Um sacrifício heroico é uma das coisas favoritas de se fazer com um vilão que mudou de coração. Ele se matou pelo bem maior, e ao fazer o bem maior ele causou o bem, e se firmou como ex-vilão. Mas ele vai morrer do mesmo jeito pois ele tem que pagar pelos seus pecados.

Filme: Star Wars, Episódio VI. O Retorno de Jedi.

Muito filme faz isso, e faz a redenção de uma pessoa e sinal de sua mudança de coração ser os termos de sua morte.

E de onde eu vejo isso não é redenção. Pelo contrário. A morte é uma saída fácil, é uma maneira da pessoa após mudar de coração não ter que encarar de frente a maneira como ela machucou pessoas, e de não fazer nada pra ajudar quem ela machucou.

Serie: Os Jovens Titãs (2003)

E um verdadeiro ato de redenção, pra mim, deveria envolver um ex-vilão tendo que fazer esforço em ser uma pessoa do bem. Em viver carregando o peso de suas ações e assumindo a responsabilidade em reparar os danos do que fez e em proteger outras pessoas.

Mangá: Dragon Ball Super.

Mas a ideia de ver o Darth Vader ter que encarar a Princesa Leia nos olhos e descobrir o que está no poder dele fazer pra melhorar a vida dos sobreviventes de suas ações é mais massante e menos épico do que ver ele se matar pelo Luke Skywalker.

Os filmes Marvel simplesmente amam fazer um ex-vilão que entendeu a consequência de suas ações morrer fazendo o bem, em vez de viver fazendo o bem. Inclusive em Guardians of the Galaxy Vol. 2, onde eu critiquei muito o que o filme fez, mas isso acontece muito.

E nisso o que fica na gente que a melhor coisa que uma pessoa faz pra pagar pelos seus crimes é morrer.

E eu acho importante ressaltar.

Morrer é passivo. Qualquer um pode morrer. É fácil. Nada está sendo feito. Viver é difícil, viver é o real pagamento. Pois só os vivos podem fazer algo pro mundo ser um lugar melhor.

E isso é difícil de explicar pra pessoas, mas se essas ideias aparecessem em filmes com mais frequência, não seria tão difícil.

Isso não é uma apontada de dedo pro Clint Eastwood, diferente dele ter votado no Trump na primeira eleição, onde aqui eu estou definitivamente apontando o dedo. Mas no geral peguei o filme dele como um exemplo de uma oportunidade perdida pra apresentar alternativas a um problema, uma oportunidade que muitos filmes e diretores perdem. E nisso um desperdício do poder que eles tem como agentes da mídia. Só peguei o filme recente de exemplo. Eu gostei de Juror #2, não acho esse um defeito do filme, mas é um detalhe que podia ter deixado o filme ainda melhor.

Eu não sei se Justiça Restaurativa é um tratamento utópico que vai curar o mundo. E eu tenho certeza de que mais pessoas podem pensar em outras alternativas, que o mundo das propostas pra um mundo melhor não é uma dicotomia entre dois conceitos. Mas eu duvido que o caso que mais deu errado, tenha dado mais errado do que o sistema atual de justiça dá diariamente.

E que o mundo vai avançando, e na época dos meus avós não era assim. Mas a gente foi aprendendo com o tempo que espancar crianças na escola não era a maneira mais eficiente de disciplinar essas crianças a serem membros funcionais da sociedade. E depois aprendemos que pais espancarem os filhos também não era a maneira mais eficiente de se disciplinar os filhos a serem membros funcionais da sociedade. Em ambos os casos a ideia de que diálogo, educação e educar com ações eram maneiras mais eficientes de lidar com rupturas das regras nesses microcosmos, e que é questão de tempo até aprendermos que não vamos conseguir por adultos na linha só na base da violência. Que não vamos transformar ninguém em bom cidadão com cadeias.

Mas você não precisa acreditar nisso ainda. Eu acho que alguém fazer um bom filme pode vender meu ponto melhor do que esse texto conseguiria.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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