Top20 transas da ficção.

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Dia 14 de Fevereiro hoje, um dos dias favoritos desse blog, o Dia de São Valentim, dia de celebrar os seus entes queridos, de abraçar quem você ama. De falar “eu te amo” pra todo mundo que você ama, seja amante, parente, amigo ou cachorro. E o texto de hoje é pra celebrar uma das coisas mais legais que você pode fazer com algumas das pessoas que você ama: transar.

Série: Simpsons

Aqui e ali estamos vendo e sentindo que seja em pressões da igreja e de grupos conservadores, ou em um certo asco das gerações mais novas pela sexualidade das gerações anteriores, diversas fronts diferentes têm feito retóricas anti-sexo, criticando a necessidade de ter cenas de sexo em filmes. Eu já escrevi todo um texto aqui essencialmente falando a maneira como eu sou contra a retórica anti-sexo.

Mas eu vou além disso. Pois eu não me contento em não ser anti-sexo. Eu sou pró-sexo. Eu gosto de sexo, e no caso não estou falando só de gostar de fazer. Eu gosto que ele exista. Eu gosto de viver em um mundo em que sexo exista. Gosto que os outros façam. Eu não me contento em achar que é só uma parte natural da vida, é uma parte ótima da natureza. Muita parte natural da vida me desagrada, mas sexo é uma força do bem. E eu não reconheço nada imoral, pecaminoso ou nojento na troca de prazeres.

Por mim a sociedade parava de antecipar quando os bonobos vão ficar parecidos com os humanos, e começava a se perguntar quando os humanos vão ficar mais parecidos com os bonobos.

Link da matéria aqui.

E portanto eu gosto que exista sexo nas obras de ficção com as quais eu engajo, e eu não estou falando necessariamente de fanservice. Estou preparando um texto pro futuro sobre como as vezes o fanservice é a antítese de sexo em algumas histórias, especialmente quando mangás e animes ecchi o usam. Mas eu gosto de saber que personagens não são castos. Que eles expressam seu desejos e seu tesão de forma carnal quando desejam, sem usarem religião ou moralidade ou a criação de um ambiente saudável como justificativas pra não fazê-lo.

Anime: Fairy Tail
O texto vai focar em exemplos que chamam a atenção pra si. Mas a real é que nem precisa, eu gosto de saber que o mundo não é casto e os bebês não estão vindo da cegonha. Cenas discretas como Fairy Tail sutilmente revelando que Gajeel e Levy dormem na mesma cama já me deixam feliz que a castidade não é parte da construção-de-mundo dessa história.

O que é claro não se aplica a personagens assexuais, pois tem gente no mundo que não sente esse tipo de atração e sua representação é válida. Ao mesmo tempo que sua representação não fala sobre castidade e sobre moral, e sim sobre atração e sobre gente sendo honesta quanto a suas atrações. O que é parte do que eu gosto de ver em obras de ficção.

Série: Bojack Horseman

Mas o texto de hoje não será deles. Um dia eu faço o texto sobre eles, provavelmente quando a seleção de bons exemplos crescer um pouquinho mais. Mas hoje o tema do texto é outro.

Todo dia de São Valentim eu venho aqui celebrar carinho, afeto, amor e romance na ficção. E hoje não será exceção. Hoje vamos celebrar personagens que fizeram sexo. Transas que aconteceram. Pois elas não são celebradas o suficiente.

Série: Archer

Personagens transando! A gente não celebra isso de verdade.

A gente critica isso, quando não gosta. E a gente fetichiza isso, pensa em como é bom que tal ator ou atriz tenha mostrado a bunda na cena. Mas raramente celebra, fica feliz que os personagens tiraram um tempo pra se dar prazer.

Filme: Across the Universe.

E é exatamente isso que farei aqui!

Antes de começar quero avisar que esse blog é financiado pelos seus apoiadores. O Dentro da Chaminé tem um financiamento coletivo no apoia.se que realmente ajuda muito o site a se manter. E quero convidar você a apoiar também, com o valor que achar justo e dar aquela força. Se não quiser fazer uma contibuição mensal, mas quiser ajudar, pode fazer um pix de qualquer valor pra chave franciscoizzo@gmail.com que receberá igualmente minha gratidão e a homenagem no blog.

Pois esse texto é em homenagem aos que já apoiam o blog. Um time bacana, que inclusive deram sugestõe legais pra esse texto, os heróis secretos do Dentro da Chaminé que mantém o blog de pé. Espero que gostem do texto.

E esse texto é sobre cena de sexo.

Ah, e já que estou nessa pausa de começo do texto, quero alertar que esse texto será ilustrado com imagens de cena de sexo e eu não farei o menor esforço pra censurar nada. Eu não estou no youtube nem no tiktok, não estou sendo monetizado por cliques. Esperem fotos de personagens em estados de nudez. Não vou pegar nada tirado de um filme pornô, mas tudo que você espera ver em um filme ou em um mangá, pode esperar ver aqui.

Filme: Instinto Selvagem

E já que estou aqui, todas as sessões contém spoiler de suas respectivas obras, não quer spoiler relacionado a vida sexual dos personagens, só pular pro próximo.

Enfim. Sexo é um tabu na sociedade. Somos educados a pensar em sexo como um tabu. Nosso primeiro contato com o assunto é na infância quando a gente percebe que tem um assunto que os adultos falam que a gente não pode ficar sabendo. Então a primeira coisa que aprendemos sobre sexo, antes de aprender seu nome e o que o ato envolve, é aprender que é algo que não pode ser falado normalmente. Porque a gente nota que tem algo estranho que os adultos escondem da gente, e com o tempo vamos aprendendo, já sabendo que quando tivermos nossa resposta, vai ser algo feio.

HQ: Turma da Mônica

Por ser algo que fazer nos deixa vulneráveis, sexo é algo muito íntimo, e falar sobre é muito desconfortável. Ao mesmo tempo, muita gente acha que o ato do sexo em si é algo nojento e estranho demais pra ser comentado. Muitas religiões colocam várias restrições sexuais na hora de determinar as normas pelas quais uma pessoa vive. E apesar disso, algumas perspectivas põe no sexo a base de um casamento, pois é do sexo que virá uma criança. Seu poder de gerar vida faz ele achar um espaço na sociedade perante tanto desconforto, e esse espaço passa a ditar normas do que um casamento deve ser.

Filme: But I’m a Cheerleader.

Tudo isso ajuda o ato da troca de prazeres e orgasmos a se manter como algo sem muito espaço na sociedade decente (mas muito espaço na sociedade geral mesmo assim, pois nenhum lugar não tem puteiro). E a arte as vezes confronta essas ideias e as vezes reforça. Depende do artista. A arte é um comércio, e a viabilidade de algumas decisões dependem do mercado interpretando. E só sexo vive numa eterna corda bamba, em que a existência dele, quando de maneira que excite o expectador masculino, garante uma boa visibilidade, mas também vai limitar o público que pode consumir a arte. E pode gerar polêmica e categorizar o filme como amoral.

Filme: The Handmaiden

Um dos lugares onde o sexo mais acha espaço pra existir é nas comédias, onde justamente tudo que faz ele causas desconforto é explorado, pois as pessoas tendem a rir quando estão desconfortáveis. Então muita comédia sobre personagens passando por situações nojentas sexuais, ou sendo exposto ao quão constrangedora é a sexualidade alheia.

Filme: American Pie

E as vezes isso é colocando a punchline em fetiches normais. Em sexualidades que quebrem a cisnormatividade. E as vezes, fazendo uma piada de estupro. A comédia vai pra todo lado, nem sempre celebrando a ideia de que pessoas diferentes se expressam sexualmente de maneira diferente.

Série: Os Simpsons.

Personagens perdendo a virgindade é sempre pra ser lido como uma piada, com suas reações hiperbólicas indicando que eles vivem em outro mundo agora.

Filme: O Virgem de 40 Anos.
Filme: Borat 2

Tudo isso se completa com a ideia de que, não é qualquer dupla de pessoas que podem fazer sexo. Existem inúmeros exemplos de pares que por existir são imorais. Não falo de crimes claros como a violência sexual e a pedofília. Pois aí é crime. Falo da imoralidade, como o adultério, algumas diferenças de idade grande entre adultos, relacionamentos tóxicos. Como temos a percepção de que o foco primário de sexo num filme é uma chance de fazer uma atriz mostrar os peitos pra felicidade da plateia, filmes que querem retratar uma ala imoral da sexualidade podem ser lidos como filmes querendo romantizar essa ala, por criar esse lance da plateia querer ver bem a cena em que algo ruim acontece.

Ao mesmo tempo muitos fetiches e sexualidades apesar de não serem insalubres, são agrupados por alas da sociedade como imorais e como coisas que em outras décadas poderiam ser literais crimes. E nisso existe a tentativa de derrubar filmes que de fato explorem fetiches.

Série: Futurama

Retratar cenas de sexo é sempre um desafio. É sempre convidar a polêmica. E mesmo assim, insiste em ser um assunto que se manifesta na arte, pois o tabu sempre se manifesta na arte. E a humanidade conseguiu com muito esforço tornar o tabu muito mais de boa do que era nos anos 1950, mas ainda é tabu.

Filme: Challengers

Então hoje vou listar 20 transas que eu gosto. Falar sobre o que elas falam, o que elas mostram, o que elas dizem sobre prazer, amor, intimidade, fetiche e tesão. O que eu gosto nelas e o que elas realmente dizem sobre sexo.

Antes de começar o ranking, vamos às regras.

Regra Nº1. Estou celebrando essas cenas, então não vou olhar nenhuma que tenha conotação negativa.

Filme: CIsne Negro

Regra Nº1,5. Com conotação negativa eu me refiro a violência sexual e a um adulto seduzindo um menor de idade. Os literais crimes. Casos em que falta o consentimento mútuo.

Do Chokkyuu Kareshi x Kanojo

Vai estar cheio de traição na lista, pois traição é algo não-kosher, mas não é crime. Já foi crime, e acho bom que não seja mais. As vezes é um primeiro passo pra uma pessoa sair de um relacionamento ruim pra um melhor.

Série: Rick and Morty

Regra Nº2. Ok, primeiro vamos definir o que é sexo. Pois eu acho um desserviço e parte do que nos torna tão desconfortáveis com sexo, a maneira como tem gente que ensina como “quando um homem e uma mulher se amam muito o homem penetra a vagina da mulher com um pênis.” deixando implícito que é um ato que precisa de um homem, de uma mulher, um pênis, uma vagina e uma penetração, todos elementos que perfeitamente pra se fazer sexo sem.

Filme: Capitão Fantástico

Sexo é qualquer forma de estimulação de zonas erógenas, seja solitário, via masturbação, ou com um parceiro, para estimular o parceiro. Pode ser oral, pode ser toque. Pode ter ou não orgasmos. O importante é ter prazer, tesão, intimidade. Tá cheio de gente aí que acha que enquanto não houver penetração, não houve sexo, mas aqui somos mais amplos. que isso.

Papo esse que ajuda uns caras bem sebosos a falarem “eu não chifrei minha esposa só porque minha secretária me fez um boquete.”

Regra Nº2,5. Atividades não-sexuais podem entrar na lista se forem uma boa metáfora pra sexo. No fim do dia sexo é sobre tesão e tesão é um sentimento.

Filme: Uma Cilada para Roger Rabbit
Filme: Ghost

Regra Nº3. E eu vou listar transas, mais que cenas de sexo, então cenas em que não vemos os personagens transando, mas entendemos que eles transaram naquela cena super contam. O clássico beijo-que-corta-pros-dois-seminus-na-cama tá valendo..

Filme: Dirty Dancing

Regra Nº4. Alguns dos beijos que eu mencionei no meu Top20 Cenas de Beijo, emendaram em cenas de sexo…. E pra não repetir figurinha eles não vão aparecer na lista, mesmo vários deles sendo bem dignos. Então vamos ficar de menções honrosas aqui, o sexo entre Jake Sully e Neytiri em Avatar, entre Sarasa e Shuri em Basara, entre Guts e Casca emi Berserk e também a maravilhosa cena na praia de Moonlight. Grandes perdas. Mas é, bons beijos muitas vezes culminam em bom sexo.

E tudo que eu estou usando pra ilustrar o texto fora da lista serve de menção honrosa, naturalmente.

20º Lugar: Elisa Esposito e Homem-Anfíbio (A Forma da Água):

Em 1933 o filme King Kong pegou esse trope, que o filme nem de longe criou, mas ele ajudou a popularizar e se tornou provavelmente a maior referência desse trope. Que eu chamo de A Bela e a Fera, que apesar do título o filme Disney é não é o melhor exemplo do trope. Embora seja certamente um exemplo do trope.

Filme: King Kong (1933)

Mas é. Temos esse monstro, uma criatura não-humana, misteriosa, única e que na perspectiva das pessoas comuns que a veem, é uma ameaça. Essa criatura então encontra uma mulher humana linda. Se apaixona por essa humana, e a sequestra, tendo que ser resgatada pelo herói que mata o monstro.

Em pelo menos metade das vezes a mulher vai conseguir ver a humanidade por trás da criatura e sentir alguma empatia por ela. Normalmente não empatia o suficiente pra ela responder a esse amor, mas pra ela não desejar a morte do monstro. Algumas vezes ela vai de fato se apaixonar pelo monstro, que aí sim é o caso da versão Disney de Bela e a Fera.

O importante é que os monstros clássicos do cinema se baseiam muito nesse trope. O King Kong, a Múmia, o Drácula e principalmente o Monstro da Lagoa Negra sequestraram mulheres lindas movidos pelos seus desejos. É isso que um monstro faz, tenta pegar uma humana.

Filme: O Monstro da Lagoa Negra

E aí em 2017, o Guillermo Del Toro soltou um “e se a humana de fato der pro monstro?”

Não “e se a humana de fato beijar o monstro?”, esse é o conto de fadas da Bela e a Fera. Em 2017, esse trope enfim recebeu fora de fanfics e filmes eróticos nichados, mas num filme mainstream ganhador do Oscar, a alternativa monsterfucker da sua premissa. A da humana que responde o desejo carnal da criatura com igual entusiasmo, senão um maior.

Pois cá entre nós, a Elisa de fato é quem inicia o ato sexual. Ela desejou esse monstro bem ativamente.

Pois é. O tropo da Bela e a Fera geralmente ao existir reforça algumas ideias. A primeira é de que nossos ideias de beleza são algo bem universal e aplicável a qualquer criatura. Certamente um marciano, um macaco, um homem-jacaré, todos querem comer exatamente as mesmas mulheres que a gente. E mais do que isso. Por se oferecerem como rivais dos homens, na busca por mulheres eles são ameaças.

O monstro quer comer sua mulher. O Drácula quer te fazer um corno. Esquece que ele também se alimenta de gente e mata gente, ele atacou sua honra, isso não é bem pior?

Filme: Nosferatu (2024)

A ideia de termos que proteger nossas mulheres não da ameaça, da fome ou da violência dessas criaturas abomináveis, mas do desejo delas, é parte do apelo desse tropo, e de como todo o tropo da Donzela Precisando de Resgate, sempre cai em homens disputando mulheres na violência sem ninguém perguntar quem ela merece.

A maioria dessas histórias não são escritas pra serem metáforas racistas, mas esse tropo também acaba caindo em depois estereótipos racistas que se formam, com a imagem de membros de outras etnias como mais selvagens, mais animalescos, mais violentos e que a culminação disso é que eles vão tentar roubar nossas esposas, comer nossas mulheres.

Filme: Manderlay

Temos que proteger as nossas mulheres de paus que não são do nosso grupo. Essa é nossa missão enquanto sociedade. Nessa perspectiva, embora filmes da mulher platonicamente respondendo os sentimentos do monstro com empatia e afeto, um filme da mulher respondendo o desejo carnal sem problemas é importante pra desafiar o subtexto implícito desse tropo. Pois o subtexto importa. É importante ser também sobre falar que tudo bem se a mulher humana quiser o pau diferente.

Mas no filme Elisa é solteira, sexualmente livre, se masturba toda manhã enquanto espera seu ovo cozido ficar pronto, e no que viu a criatura, começou a paquerar com a criatura, vendo mais conexão com aqueles que são excluídos do que com aqueles que não são.

Ela se conecta com a criatura, trocam toques, e eventualmente transam sim. Eles tem duas cenas de sexo no filme, e a interessante é a segunda, justamente por ser a em que ela inunda o banheiro de propósito pra dar os amassos debaixo da água, colocando o monstro em seu espaço, pro desconforto de toda a vizinhança. O amigo da Elisa abre a porta do banheiro e acaba com a inundação, no processo podendo ver que ela estava no meio do sexo dela, ao ver isso ele fecha a porta sem julgar o ato, mesmo estando desesperado com a inundação. Não só ela deu pro monstro, como teve uma testemunha validando que “de boa, isso aí.”.

Os humanos do filme que querem matar o monstro não querem matar o monstro por medo de que ele seduza mulheres, mas sim por serem estadunidenses, seres educados com violência cujo clima de guerra fria deixava todo mundo mais escroto que a média.

Cena extremamente necessária pra explicar que monsterfuckers são pessoas melhores que agentes do governo estadunidense, e que transar com a criatura é perfeitamente aceitável. O mundo precisava ouvir isso, e essa mensagem não poderia ser passada com mãos sendo seguradas somente.

19º Lugar: Lorraine Day e Jackson Hole (X):

Sexo e filme de terror sempre andaram lado a lado. Faz sentido, filmes de terror são onde todos os tabus da sociedade são explorados. Além disso, onde tem violência tem sexo. Filmes de terror acabam tendo que ganhar classificação indicativa para 16 ou 18 anos de qualquer jeito, então porque não aproveitar que já saiu na chuva e se molhou, pra não mostrar o corpo feminino, dar algum prazer ao expectador antes de dar a ele o horror?

Entra no que falei acima, os monstros clássicos do terror todos começaram desejando nossas mulheres. Além disso, o código hays que governou os roteiros de cinema durante a fase clássica de estúdios de 1934 a 1968 proibida imoralidade nos filmes. Mas havia um loophole que tudo bem uma dose leve de imoralidade desde que ela seja punida. O que significa que tudo bem deixar a sexualidade livre de uma mulher bem implícita, desde que ela seja assassinada como castigo por sua promiscuidade. Por isso muitos filmes de terror conseguiam fazer do arquétipo da mulher não-casta uma excelente vítima.

Filme: Psicose

Isso tudo é muito misturado com, naturalmente, a maneira como o olhar masculino (male gaze), se manifesta em filmes de terror, em que somos convidados muitas vezes a tomar a perspectiva do assassino, e ver cenas de stalking e violação de privacidade que antecedem o assassinato, de maneira a usar essas cenas como veículos pra atiças nossos desejos pela personagem.

Muitas formas diferentes de machismo se empilharam pra formar uma ideia muito sólida de que ver uma mulher tirar a roupa e depois ser esfaqueada era um grande prazer.

Depois do fim do código hays, esse tropo foi dominado pelo subgênero slasher, que por tradição usava essa base moralista de contrastar a heroína virgem, pura, ética que agia como uma mulher de décadas atrás com sua amiga promiscua que bebe, usa drogas e explora sua juventude. Ao longo do filme vamos ver os jovens do filme, homens e mulheres, morrerem brutalmente enquanto transam, fumam, bebem e zoam, enquanto a virgem certinha vai escapar do assassino e triunfar, pois ela é moral e pura.

Aí quando chega X, eles fazem algo bem interessante com essa estrutura. Pois eles não mudam a base dela. O filme é um slasher sobre um grupo de jovens, filmando um filme pornô, ou seja, transando adoidados, sendo assassinados um por um por dois assassinos. É a mesma combinação, vemos sexo, nudez, farra e então eles sendo punidos pelo assassino pelos seus pecados.

Mas o filme ao transformar o subtexto em texto, colocou o holofote neles e mudou nossa simpatia pelos elementos. O casal de assassinos são dois idosos bem debilitados, enfraquecidos e sem energia que sentem falta da juventude, em especial do vigor sexual que tinham. E tem rancor dos jovens que podem transar quando quiserem, eles tem inveja do que os jovens tem. Eles não estão pecando com seu filme pornô, eles estão esfregando seus privilégios na frente de quem os perdeu.

As vítimas são muito mais carismáticas e simpatizáveis do que a média do elenco de um filme slasher. Eles não são irritantes e não existem pra nos fazer querer vê-los morrer logo, então a gente sente pena deles e da maneira como estamos sendo tratados.

Pois bem, aí temos então nosso elenco. RJ é o diretor do filme pornográfico que eles estão filmando. Ele é insiste em falar que eles não estão fazendo pornografia e sim arte, que o filme dele é sério e que ele está explorando possibilidades de erotismo dentro da arte cinematográfica. Ninguém mais no elenco compra o papo dele, e as vezes achamos que ele quer convencer a si próprio que não aceitou um job estranho por dinheiro. Ele leva sua namorada Lorraine pra ajudar na filmagem, cuidando do som do filme. Lorraine não tinha entendido que ia filmar pornografia quando foi chamada pra filmagem, e RJ, tentando mostrar superioridade burla de sua namorada, mandando ela abrir a cabeça e não ser puritana e naturalizar todo aquele ambiente que ela nunca tinha sido exposta.

Apesar disso Lorraine após começar a filmar demonstra mais interesse do que ela achou que teria, e dá um sorriso estranho vendo os atores transarem. De noite eles conversam. Os envolvidos no filme estão todos em relacionamentos. Uma das atrizes namora o ator principal, e a outra atriz namora o produtor do filme. Lorraine pergunta pra eles como é namorar e ver o parceiro com outra pessoa. E todos eles essencialmente explicam suas visões de amor, sexo onde se encontram e onde não. Nessa cena é fascinante que as atrizes estão conversando abraçadas e trocando toques com seus respectivos namorados, enquanto Lorraine e RJ se sentam separado. Eles são o casal menos próximo ali.

As atrizes convencem Lorraine a se soltar e experimentar coisas novas, e Lorraine pede pra RJ pra aparecer no filme também. RJ é contra. Eles brigam, e na briga RJ essencialmente revela pro resto dos envolvido no filme que ele não respeita de verdade o filme que ele está dirigindo, não acha que é arte, acha que é só putaria e que ele acha que estar em um é uma vergonha. Mesmo que antes dele tenha dito o oposto pra Lorraine pra mostrar superioridade.

Pego na hipocrisia, Lorraine não volta atrás e o filme inclui uma cena extra dela com Jackson, o ator principal. A cena é notoriamente não sexy, mostrando pouco da Jenna Ortega, e o que mostrando é essencialmente ela se despindo pra mostrar um sutiã e calcinha que não combinam e a calcinha com uma estampa fofa que mostram com clareza que ela não sabia que ia transar na frente do namorado depois de uma briga naquele dia. Também vemos Lorraine tirar seu crucifixo antes de filmar a cena, mostrando algum conflito entre religião e pecado.

A cena é essencialmente pra jogar na cara todas as hipocrisias de RJ, em especial a do quanto RJ está confortável com a sexualidade livre das outras mulheres, adora que atrizes pornôs acreditem no sexo livre, quando são nos termos dele, mas quando uma mulher explora sua sexualidade pra fazer o que é contra os interesses dele aí ele surta e acha que é coisa de gente desviada. Ele projetou uma maturidade em cima da namorada pra fazer ela aceitar que ele estava mexendo com pornografia, mas quando ela aceitou esse mundo e a visão que ele projetou, ele revelou que ele próprio não aceitava essa visão de verdade.

O filme toma o lado de Lorraine e eu celebro ela, pra firmar o ponto do filme. Em outro filme, Lorraine seria a heroína pura, mas aqui, ela é convidada ao mundo das promiscuas, e aceita isso, e Maxine, a profissional dos sexo é a verdadeira heroína, que mata o assassino e celebra suas escolhas de vida enquanto descobrimos que ela é uma filha de pastor expulsa de casa.

Bom filme.

18º Lugar: Kurono Kei e Kojima Tae (Gantz):

Eu não acho que Hiroya Oku é um mangaka com a devida maturidade pra lidar com sexo. Seus mangás costumam girar em torno de jovens carentes demais pensando com a cabeça do pau, e mulheres com peitos de tamanho hiperbólcios simpatizando com eles sem muito motivo pra tolerar sua imaturidade. Por isso eu nem cogitei olhar pra ele nessa lista, mas um dos meus apoiadores me fez olhar de novo pra esse momento em Gantz, e eu de fato repensei coisas.

Eu gosto de Gantz, apesar de eu achar o Oku um autor com muita incelzice e uns pensamentos bem merda, eu acho que a jornada do Kurono no mangá é a jornada para abandonar a incelzice, a de apesar da dor que ele tem pela rejeição de seus pares, do bullying e da falta de inclusão social não deixar rancor guiar suas vidas e ser um herói. E isso vem muito do namoro dele com a Tae, uma garota sem graça que ele foi forçado pelos colegas de sala a pedir em namoro, mas que se tornou o amor da sua vida. E a jornada dele de entender que a conexão dele com uma garota sem curvas vale mais que a devoção de uma idol sex-symbol do país inteiro como a Reika, é parte dessa jornada de sair da incelzice, ele não quer dar o troco nas mulheres que rejeitaram ele, ele não quer uma mulher como status, ele quer cultivar a conexão dele com a Tae.

E essa é uma conexão que só começa de verdade quando se torna carnal.

Kurono pediu Tae em namoro por pressão, de gente que ele nem sequer considerava amigo, pois perdeu uma aposta. E ele não gostava muito dela. E namorou o tempo mínimo pra tentar terminar. Mas quando tentou terminar e se livrar dela, ele não teve o traquejo social pra isso e eles estavam na casa dele mesmo, e na sua incapacidade de interromper o fluxo dos acontecimentos, Kurono acabou transando com Tae, e no processo descobrindo Tae.

Apesar de reforçarem que Tae não é gostosa ou sexy, e que é alguém que os demais personagens não desejam. E apesar de Kurono alguns arcos antes, ter perdido sua virgindade com uma sósia da Angelina Jolie, por quem ele não conseguiu sentir nada enquanto transava, enquanto ele transa com Tae, ele se torna ciente do quanto ele quer manter ela na sua vida, e seu namoro de mentira, se torna um namoro de verdade.

Eu aprecio esse momento pelo quão juvenil é, esse jovem gamando depois de uma boa transa. Ela orgulhosa do quanto deixou o namorado maluco. E os dois viraram unha e carne. Adotaram um hamsters, passaram a passar o dia todo junto, e manter uma rotina doméstica com Tae se tornou o sentido da vida pra Kurono que ajudou ele a lidar com vários de seus conflitos internos e o impediu de virar o maior incel do mundo. O ajudou a fazer as pazes consigo e com o mundo.

E eu não acredito que o Oku saiba disso, apesar dele conseguir ter escrito isso. Mas o grande ponto é que sexo não é só um ato de conquista. Sexo é comunicação. Sexo é uma troca com um parceiro, troca de prazeres, de sentimentos, de energia. E foi um ponto de partida pra construírem algo que mudou a relação do Kurono com mulheres. O maluco no começo do mangá assediava a Kishimoto feito um arrombado, mas depois consistentemente rejeitou todos os avanços da Reika, pois ele tinha resolvido sua vida afetiva e sua vida sexual. Nunca mais destratou mulheres depois da Tae.

E isso aí é a adolescência, um pouco de estupidez, um pouco de descobertas sexuais, um pouco descobrir que alguns valores de mundo com os quais fomos educados estão errados e um pouco encontrar pessoas que nos guiam pro tipo de adulto que vamos querer ser. Tenho certeza que após o fim de Gantz o Kurono será um adulto super funcional e saudável ao lado da Tae, e fico feliz que nunca vou ter que ler o Oku escrever isso, posso só imaginar.

17º Lugar: Harley Quinn e Hera Venenosa (Harley Quinn):

Ok, vamos lá. Harley Quinn é uma série de animação não-infantil, com seus devidos palavrões, violência, piadas sexuais e referências de cultura pop. E eu acho fascinante que referência de cultura pop é uma marca da animação supostamente adulta, mas ela é, notem, Bob Esponja não faz esse tipo de piada, esse tipo de piada é pra South Park e Family Guy. Mas um diferencial que Harley Quinn tem pra South Park, Family Guy e pra maioria de seus rivais é que é uma série protagonizada por duas mulheres apaixonadas entre si que adoram transar.

Tá, a gente precisa chegar no fim da segunda temporada pra elas começarem a transar de fato, emas porra, fora das HQs, ainda é a primeira adaptação que parou de chamar as duas de “melhores amigas”. E mesmo nas HQs acho que demorou um pouco pra oficializar que esse par icônico desde o começo era um casal.

Pra um grupo de programação com tanto foco em sexo como piada, raramente vemos sexo como celebração. Pra gente ver Peter e Lois na cama, só se for pra um dos dois fazer algo estranho e tirar humor do desconforto.

E no processo eles revelam o que eles acham desconfortável e cômico. Tipo o episódio do Peter descobrindo que tem fetiche por gordas.

Tá, Homer e Marge transam bastante, por mais disfuncional que o casal seja, e por mais vacilo que Homer dê, a Marge claramente nunca deixou de ser louca por ele na cama e vice-versa… ok, tem um episódio em que eles esfriam um pouco e começam a fazer sexo em lugares públicos pra reascender a chama. E funciona.. E o Homer nem tá mais em forma, mas a Marge ama muito e o Homer ama também. Eu dou esses méritos pros Simpsons, que mesmo fazendo o casal brigar episódio sim episódio não, ainda fazem algo revolucionário faz 35 anos, uma sitcon em que os dois casados ainda adoram transar.

Mas Harley Quinn segue a onda. E eu quero aqui falar um pouco sobre como nem todo sexo é igual. Teve uma polêmica em Harley Quinn, em que iria ter uma cena em que o Batman estaria chupando a Mulher Gato, e essa cena foi cortada. Pois iria manchar a reputação do Batman saber que ele põe a boca em bucetas, quando quer dar prazer a uma mulher. Ninguém ia querer comprar bonequinho de alguém que chupa uma buceta…

A cena em questão foi substituída por uma massagem nos pés, bem mais heróico.

…pois é né? E quer se chamar de herói? É com aquela boca que ele sorri pras câmeras, ela não pode fazer atos vilanescos como o sexo oral. E olha, o ato de se chupar uma buceta é um dos atos sexuais mais difíceis de alguém colocar em um filme que sempre que se coloca é pra se celebrar. Eu celebrei Homer e Marge agora pouco, mas nunca ficou implícito sexo oral de nenhuma parte ali. E tem o filme But I’m a Cheerleader, que é sobre uma jovem se descobrindo lésbica e descobrindo o sexo com uma parceira, e o filme proibiu que o sexo oral ficasse implícito na cena em que elas transam. O filme Blue Valentine com Ryan Gosling e Michelle Williams foi considerado pornográfico pela classificação indicativa por conta de uma cena de sexo oral feito em uma mulher, o que gerou muita briga, pois não foi o mesmo tratamento que uma cena de boquete receberia.

Piratas do Caribe fica implícito que o Will Turner chupa a Elizabeth Swanson no fim do terceiro filme, e isso é uma raridade que todo fã celebra gostar de um filme que deixou esse tipo de marca. Em especial o Will Turner que é um herói, e como estabelecido, o Batman não pode chupar a Mulher Gato, pois heróis não chupam mulheres.

Filme: Piratas do Caribe, no Fim do Mundo.

Se o Superman chupar a Lois Lane, ele vai automaticamente se transformar no Superman do Mal, por isso que o único filme do Superman com cena de sexo é o do Zack Snyder, pois o Superman dele pode cometer tamanha vilania de dar um orgasmo pra Lois….

Filme: Batman v. Superman
Afinal, ele acreditar que o Batman pode fazer isso é parte da persona edgy e dark dele. Ele foi um dos envolvidos com filme de herói que se manifestou contra a decisão, não foram tantos. O tweet hoje teve a imagem apagada pela moderação, por violação de copyright, mas o print é eterno.

….nas séries eles transam. Em Smallville pelo menos tem cena de sexo do Superman.

Série: Smallville

Mas o ponto é que Harley Quinn por ser protagonizada por vilãs, que não tem que ser heroicas ao olhar do público, tem permissão pra matar gente, roubar bancos e chupar bucetas. E no especial de Dia de São Valentim da série, Harley determinada a dar pra sua namorada o maior orgasmo de sua vida, compra um afrodisíaco, põe a Hera Venenosa na cama, e chupa ela até a Hera ter um orgasmo mágico.

Eles fizeram a cabeça descer até atrás das flores, no caso. Mas ainda ficou claro o bastante o que a cabeça da Harley fazia tão embaixo.

Literalmente mágico, ela solta flores na cidade que deixam a cidade toda excessivamente excitada e tem que passar o resto do episódio contendo danos.

Se o sexo pode ser visto como desnecessário, o sexo oral é 10x mais desnecessário. Esse nem dá pra engravidar por acidente. Esse é só perversão maldosa, e é usado geralmente pra indicar que um personagem é mais ativo do que precisa… Gosto que Harley Quinn tenha usado seus poderes pra deixar Harley fazer o que o Batman é proibido.

E no spin-off, Kite-Man, ainda tem uma conversa em que a Golden Glider e Malice aproveitam que são vilãs pra admitir que elas chupam seus namorados também.

Viva a vilania!

16º Lugar: Kronk e Birdwell (A Nova Onda do Kronk):

Ok, todos nós conhecemos as regras. Nos filmes da Disney ninguém pode transar. Tem criança vendo. Então o desejo tem que ser retratado de formas criativas. Essa lista aqui quer celebrar as cenas de sexo, mas a verdade é que esse tabu, assim como qualquer tipo de censura e limitação sempre acaba servindo de combustível pra criatividade. E daí surgem as cenas de sexo-sem-o-sexo, em que o mesmo efeito é conseguido com qualquer outro tipo de atividade.

Tipo quando o Sr. e a Sra Cabeção da Vida Moderna de Rocko quebram pratos. É assim que se transa na Nickelodeon.

Pois bem, no caso da Nova Onda de Kronk, temos no encontro de Kronk e Birdwell um famosíssimo exemplo, embora eu não ache que os roteiristas quisessem fazer metáfora de sexo, acho que eles só queriam fazer palhaçada.

Mas é. Quando Krong e Birdwell se encontraram eles instantaneamente clicaram, fizeram todos os cumprimentos que sabiam fazer essencialmente usando todas as partes do corpo que conseguiram pra se cumprimentar. Eles se perderam no olho um do outro, e claramente queriam é dar uns beijos ali mesmo. Mas dez minutos depois desse evento máximo de atração eles notaram. Eles eram inimigos. Birdwell era a chefe da equipe rival de acampamento, e as duas equipes brigaram, e eles precisavam tomar o lado de suas equipes.

E esconderam seus desejos.

A briga deles vai escalando e escalando, e vai estragando o acampamento. Até o momento em que eles fazem as pazes. E ao fazer as pazes eles resolvem fazer pão-com-passas pra todo mundo juntos. E nessa hora usa-se a velha estratégia de flerte. Chama a pessoa pra cozinhar junto e inevitavelmente chega a hora que vocês dois põem tudo no forno e tem que descobrir o que é vão fazer por uma hora enquanto esperam ficar pronto.

Como eles estão num filme Disney o que eles fizeram foi:

Dançar disco, imitar a Dama e o Vagabundo, dançar mais, brincar de Tarzan e Jane, dançar mais, vestir um as roupas do outro, dançar mais, brincar de Jack e Rose do Titanic, dançar mais…

É, eles super botaram pra fora os desejos deles de maneira física e carnal, e no fim de todo esse tempo, eles entenderam, que agora eles eram um casal.

Tá valendo. Próximo.

15º Lugar: Betty Parker sozinha (Pleasantville)

Pleasantville é um filme que desde que eu vi se tornou um dos meus filmes favoritos, e que possui o próprio texto aqui no Dentro da Chaminé. Onde eu falo que o filme é levemente datado no que tange a maneira como ele faz suas críticas sociais, e eu acho que ter datado só reforça o ponto que o filme levanta.

Na história, os irmãos David e Jennifer são enviado pra dentro do mundo de uma sitcon fictícia dos anos 1950 que se passa na cidade perfeita de Pleasantville. Em Pleasantville a vida é perfeita, nada de ruim acontece, nunca chove, nada pega fogo, ninguém fuma, o time da escola sempre ganha os jogos. É a vida mais agradável e harmoniosa do mundo. Só que a implicação dessa perfeição, é que nesse mundo ninguém transa. Pois sexo é parte da imperfeição.

Sexo, arte, cultura e uma noção de um mundo exterior, são os preços a serem pagos pra viverem nos valores idealistas que a televisão propagava nos anos 1950.

David, um adolescente impopular, com problemas de autoestima que usa a televisão pra escapar dos seus medos da vida real adora viver nesse mundo. Mas Jennifer não. Então Jennifer pega um rapaz que quer segurar a mão dela, e ensina pra ele que ele pode fazer outras coisas, ela introduz o sexo pra essa cidadezinha e nisso introduz cores pra uma vida em preto-e-branco.

Mas não é a Jennifer ensinando todos os jovens da escola a transar que eu venho falar aqui.

É que depois que ela introduziu a cultura da pegação pros adolescentes da cidade, sua mãe ficou curiosa quanto ao que os jovens têm feito que ocupa tanto tempo deles. Jennifer discretamente responde “sexo”, e sua mãe responde: “mas o que é sexo?” Quando Jennifer explica o que é sexo, usando o bom e velho “quando duas pessoas se amam muito….” ao terminar a explicação, a mãe fica frustrada, pois ela entende, que acabou de ouvir sobre algo que seu marido nunca aceitaria fazer. Jennifer então responde: “tem maneiras de você experimentar isso sem o papai.” e ensina a sua mãe sobre masturbação.

Betty, a mãe, então antes de dormir vai até a banheira experimentar um pouco do próprio corpo e descobrir as hipóteses de prazer. Seu orgasmo coincide com uma árvore pegando fogo na cidade pela primeira vez. O instante que uma dona de casa aprendeu a gozar, a cidade ficou menos parecida com a cidade ideal dos anos 1950, e mais parecida com o mundo real, que é como deve ser.

Pois essa é a moral do filme. “Vocês acham que essa vida é perfeita, mas não é, ela pode ser melhor, pois pode ser sexy.”

A gente sente no começo que o sexo vai corromper a cidade, mas o filme faz um bom trabalho em equivaler sexo e arte, como duas coisas que os conservadores caçam em conjunto. Inclusive se caça muita arte por conta de sexo. O mundo precisa de sexo e de arte e de arte com sexo, pra poder ter cor. E se a Betty não tinha um marido que queria trazer isso pra ela, tudo bem, ela podia trazer esse mundo pra si sozinha, e isso foi revolucionário pra cidade.

Betty ao longo do filme trai seu marido com um artista, se realiza enquanto pessoa que vive fora de uma noção arcaíca de perfeição e se torna parte da nova sociedade. Mas mesmo ela de fato transando com um parceiro ao longo do filme, eu gosto do poder que dão pra cena dela entendendo que pode se masturbar.

Excelente filme.

14º Lugar: Ennis Del Mar e Jack Twist (Brokeback Mountain):

Um problema das minhas listas é que elas são limitadas pelo meu repertório, eu não vi todos os filmes do mundo. E o que eu quero dizer é que eu penso do grande exemplo de cena com dois homens da lista vir justamente do filme mais famoso já feito com cena de sexo entre dois homens. E eu preciso confessar que de fato não vi tantos assim. Meu repertório não é tão grande nessa parte.

Dito isso, eu acho o aspecto sexual desse filme interessantíssimo. Justamente porque Ennis e Jack não podiam ter um relacionamento, eles não podiam ter um namoro, ele não podiam ter tanta coisa. Eles não paqueraram muito ou flertaram na montanha. Mas eles tiveram a noite de sexo na montanha, e ela significou muito pra eles.

Os dois se apaixonaram, e foram muito limitados pela sociedade, por noções de masculinidade e até por si próprios quanto a maneira que eles tinham de mostrar que estavam apaixonados. Mas eles mostraram mesmo assim. Colocaram em ação e conseguiram comunicar essa parte.

O momento em que eles transam pela primeira vez, que conste, é a transa que de fato pegou a posição na lista, é boa, pois ela é bem repentina e podemos ver com clareza que estarem ali, e não estarem parando é uma surpresa pros personagens. Ao mesmo tempo, ela perde muito em todos os envolvidos no filme serem héteros, sem um único consultante LGBT envolvido. E assim, a infame cena cuspida na mão pra lubrificante parece mais ideia de pornô do que de gente que sabe o que está fazendo. Da mesma forma a cena é bem breve e eu acho que é justamente porque ninguém ali sabia direito o que está fazendo….

Esse filme definitivamente não e Bound.

Muito se debate no filme, se eles são gays, bis, ou héteros que tiveram uma experiência com uma pessoa. Eu não tenho interesse nesses debates, respeito que pra fins de representatividade, membros de comunidades querem que os pingos nos is sejam bem colocados. Mas eu gosto da falta de rótulos. Pois justamente, eu acho que a negação própria deles impede que um rótulo possa ser dado. A confusão deles quanto a noite que passaram juntos, seguido de um desejo de fazer de novo foi excelente.

Eles tiveram vários outros encontros depois fora da montanha, a maior parte do filme é sobre esses outros encontros deles traindo suas respectivas esposas, mas eu gosto da cena da montanha, e eles também, pois é dela que eles ficaram se lembrando. Aquele um momento isolado da sociedade que eles só colocaram algo que nem sabiam que estava lá em ação, e mudaram as próprias vidas. E esse é um dos poderes do sexo.

13º Lugar: Haru e Sumo (JK Haru is a Sex Worker in Another World):

Haru Koyama era uma adolescente normal até ser atropelada por um caminhão como acontece com tantos personagens de mangá, e reencarnar em um mundo de fantasia. Ela morre antes de reencarnar do lado do otaku de sua sala. E enquanto ele reencarna no mundo de fantasia com um super-poder trapaceiro dado a ele por Deus pra se tornar o mais incrível herói do mundo, Haru reencarna aparentemente sem nada. E acaba tendo que virar prostituta pra sobreviver nesse mundo. E a light novel e sua adaptação pra mangá funcionam como uma sátira do gênero isekai, mostrando que não importa quanto poder o herói ganhe, a prostituta que sabe como ele era na vida real nunca vai achar ele ou esse mundo legais.

Pois bem, o mangá acompanha a rotina e dia a dia de prostituição da Haru, e os diversos clientes que ela teve que atender. Alguns clientes horríveis, alguns bons. Pelo menos um ótimo. E o capítulo em que ela transa com o Sumo me chamou a atenção. Sumo é um jovem rico, filho de um comerciante relevante, que frequentava o puteiro de Haru com frequência, mas nunca requisitava o serviço. Só bebia e conversava. Ele tinha uma queda pela Haru, e gostava dela, e não queria estragar a imagem dela com sexo.

Um dia clientes merdas aparecem, e exigem alguns serviços de humilhação de Haru, por estarem pagando. Pois o tesão deles é a humilhação pública de mulheres. E Sumo, que gosta dela, oferece mais do que esses clientes pra Haru ir pro quarto com ele. Salvando sua amada. Haru é grata pela ajuda, ela queria que alguém se livrasse daquele cliente nojento. Mas ao ver que foi salvo por um jovem romântico virgem com uma crush pura, ela não permite que isso siga acontecendo. Ela não queria estar em um pedestal. Então ela leva Sumo pro quarto e mostra exatamente que tipo de mulher ela é, e quais as implicações dele oferecer um valor maior pra tirar ela de um outro cliente.

Sumo hesita muito, e certamente ficaria mais confortável nunca tocando em Haru. Ele tinha medo de quebrar sua musa, ele achava que se ele começasse a transar ele ia começar a machucar mulheres. Ele achava que proteger mulheres era não tocar nelas. Ele acreditava em um monte de valores que te fazem soar puro e heroico num livro de fantasia. Mas o tema do mangá é justamente, que se uma prostituta local lesse esses livros de fantasia, elas iam achar esses homens uns merdas. Haru convence Sumo de que ele não vai machucar ela, e tira a virgindade dele. Dando a ele a noite de sua vida.

Após o ocorrido, Sumo voltou várias vezes pra repetir a dose. Ele deixou de ser um riquinho tentando ser um herói, e virou um cliente que também era amigo dela. E Haru preferia isso. Se Sumo quisesse ser próximo ela, ele tinha que encarar o que ela fazia, e perder o medo da profissão dela. E Sumo preferiu assim também.

E criou-se uma relação em que Sumo é um cliente dos serviços que Haru oferecem e Haru também se tornou cliente dos serviços que Sumo oferece.

Eu gosto muito da Haru, acho uma personagem poderosa, e acho que esse momento tem muito impacto em como ela rejeita ser colocada num pedestal. Ela é só uma prostituta, e ela não acha que prostitutas devem ser tratadas com desrespeito. E como prostitutas não merecem desrespeito, ela quer ser tratada como uma prostituta, e criar laços com pessoas que criariam laços com prostitutas. E assim ela vai firmando seu espaço nesse mundo terrível, insistindo em ser ela mesma, e não deixando verem outra pessoa no lugar dela. E ela usa o sexo pra se afirmar. 

12º Lugar: Sano Megumi e Gou-San (Ushimitsu Gao):

Uau, terceiro caso de traição da lista. E certamente não o último. Esse mangá de Paru Itagaki conta a história de Megumi, uma dona de casa, casada faz um ano e sexualmente frustrada com seu marido, que começa um caso com o fantasma que está assombrando o apartamento dos dois.

E bem, é uma história divertida, mas não vai a fundo de verdade no adultério enquanto tema. O marido dela é uma decepção sexual, e após a traição trazer brigas, ele revelou decepções em outros aspectos da vida. E ela curtiu o fantasma dela. Uma monsterfucker também. E como a Paru Itagaki é uma mangaka famosa por por maluquices em suas histórias e encher elas de fetiches, realmente explorou o que significava pra Megumi se enroscar com uma assombração.

A transa dos dois veio pra essa lista por causa da cena em que o fantasma arranca a própria cabeça pra poder chupar Megumi e abraçá-la ao mesmo tempo.

A ideia de usar convenções de como mortos-vivos funcionam pra brincar com a ideia de que uma cabeça decepada pode fazer sexual oral não foi inventada pela Paru Itagaki. A cena mais famosa em que esse trope é usado está no filme Re-Animator, em que o vilão é um morto vivo decapitado que força sua cabeça decepada entre as pernas da heroína em uma cena de violência sexual que se tornou a mais famosa e controversa do filme, pelo aburdismo e humor negro em uma cena de estupro. Muitas versões do filme cortam a cena fora, mas ela se tornou de fato a mais famosa do filme.

Filme: Re-Animator

Mas a cena de Re-Animator jamais entraria na lista, pois estupro não é sexo. E de fato. Essa brincadeira de imaginar uma cabeça decepada nas suas genitais sempre flerta com essa ideia. Histórias de zumbi as vezes podem mostrar um personagem mais perturbado, para usar um eufemismo, usa as cabeças de zumbi pra si.

E aqui o diferencial da Paru ser de fato uma monsterfucker querendo explorar fetiches, como o fetiche de aproveitar a natureza sobrenatural do amante pra experimentar coisas diferentes. E a ênfase, separar a cabeça permite que ela seja chupada e abraçada ao mesmo tempo.

E é pra isso que estamos aqui.

11º Lugar: Kenpachi Zaraki e Unohana Retsu(Bleach)

Quando falamos de mangás de lutinha, em especial mangás da Shonen Jump, eles costumam ser as coisas mais assexuadas do mundo. Talvez você se lembre de um mangá que é cheio de mulheres com roupas que não cobrem quase nada, e de gente sangrando o nariz, mas isso não é sexo. O Mestre Kame não trouxe sexo pra Dragon Ball com sua vibe de virgem de 300 anos. Esses são mangás que dificilmente alguém transa. E embora a gente até possa presumir que alguns personagens transaram, pois filhos foram feitos, o flerte, contato com o parceiro e desejo sexual ficam todos omitidos, deixando a gente só com uns personagens pervertidos que nunca tentaram de fato transar com alguém.

Pra um personagem como o Mineta assédio é só um jogo. Ele não saberia o que de fato fazer com uma garota que se oferecesse pra ele.

Mas o desejo e a excitação sexual são sentimentos vivos na experiência de muita gente, e os mangakas não conseguem evitar escrever sobre esse tipo de experiência. Só que aí eles substituem a troca de carícias por troca de golpes, com personagens obcecados por lutas que veem na violência o momento de real intimidade deles. E eles costumam ter essa característica, de embora já terem lutado com muita gente, estão em busca do parceiro perfeito pra viverem a luta dos sonhos.

Essa abordagem é bem comum, e muitas vezes vem com fortes subtextos sexuais. O Hisoka de HxH passa vibes de pedófilo sempre que comenta como ele quer lutar com Gon.

E bem, ninguém vende isso melhor do que o Zaraki e a Unohana em Bleach, em que os dois são personagens que conseguem obter prazer somente através de uma luta, e buscaram por anos por um parceiro a altura e acharam um no outro.

A própria maneira como conduziram a luta pende de maneira pouco discreta pra essa interpretação com a Unohana falando que Zaraki é o único homem capaz de satisfazê-la.

Eu gostaria que autores de mangás de lutinha conseguissem transmitir tamanho tesão e desejo de maneira mais direta, sem a batalha fazendo uma mediação. Mas do jeito que é agora, ninguém fez isso melhor que Bleach.

10º Lugar: Simba e Nala (O Rei Leão):

Todos vimos esse filme. Simba e Nala se reencontram, tem um date, pulam no lago, cantam Can You Feel The Love Tonight, rolam barranco abaixo brincando, e embora Nala sempre caia em cima de Simba, pois ela é melhor que ele nessa brincadeira. Dessa vez Simba cai em cima de Nala. Em vez de ficar frustrada ela dá uma lambida nele, Simba olha pra nala e vemos O OLHAR.

A cara de convite que Nala faz pra Simba é um grande meme de Rei Leão.

Bom, depois dessa troca de olhares sedutoras eles notam que estão apaixonados, e fazem… –ALGO– para consumar essa descoberta. Não vemos o que.

Mas sabemos que os Leões do filme não tem lábios. Por isso a Nala beija o Simba.

O meme virou o olhar da Nala, mas eu acho que a lambida que ela dá é tão mais escancarada. É que a gente releva pois “lamber é como animais beijam”, mas nossa. Essa lambidona na cara. Só pode ser convite pra uma única coisa.

Enfim, seja lá o que for, é a consumação da intimidade deles e a oficialização deles como casal, e será considerado sexo. A grande cena de sexo que enfiaram em um filme Disney. E parte do que torna O Rei Leão, mais do que uma aventura, mas um grande filme épico sobre a vida do Simba.

E a galera achando que a Disney corrompe todo mundo, pois a areia escreveu “SEX” nos céus, pfff, tem muito claro que o Simba e a Nala se comeram ali.

Bora pro próximo.

9º Lugar: O Padre sozinho (Make the Exorcist Fall in Love):

Opa que esse mangá é bonzão, então vamos explicar aqui o que está acontecendo, que ele não é tão famoso quanto o filme do Rei Leão.

O mangá conta a história de um menino não nomeado, chamado de Padre ou de Garoto pelos demais a depender da tradução. Essa criança é o melhor exorcista do mundo, tem o poder de repelir todo e qualquer demônio e é o grande trunfo pro que a Igreja Católica espera ser um eventual confronto contra Satanás em pessoa. Por isso ele é o tesouro secreto do Vaticano, educado pela igreja e completamente isolado da sociedade.

Ele é criado acreditando na literalidade da bíblia, se forçando a evitar todo e qualquer pecado ali mencionado. E tendo um desgosto por sexo. Apesar de ser criado pra vencer Satanás, que no mangá representa o pecado da Ira, seu arqui-inimigo é a diaba Asmodeus, que representa o pecado da Luxúria, e que é a primeira diaba que ele enfrentou na vida. Asmodeus manipula diversas mulheres pra seduzir o rapaz e ele responde arrancando o próprio olho direito antes de expulsar Asmodeus pro inferno. Isso pois Mateus 5:29 dizia que aquele que olhar pra uma mulher com desejo deve arrancar seu próprio olho. E ele não evitou desejar aquelas mulheres e seguiu o ensinamento.

Ao ouvir tais palavras o Mestre do garoto se assusta com o nível de literalidade e com a mentalidade de soldado que ele tem, e lhe passa a seguinte mensagem: “Se um dia você ficar excitado e quiser se masturbar, está tudo bem. E quando você for mais velho, tá tudo bem se você transar com qualquer pessoa, desde que com o consentimento dela. Eu não tenho nada pra te ensinar sobre como se mata um demônio, mas tenho um conselho de alguém com experiência de vida. Um dia se apaixone.”

O garoto rejeita esse ensinamento, e segue com o coração fechado pra toda noção sexual, inclusive, muitas vezes interpretando situações que não eram como atos de violência sexual. Quando isso acontece, o trauma faz seu olho arrancado se manifestar.

Enfim, ele recebe do vaticano a missão de proteger uma artista, que supostamente será uma vítima futura de Satanás. Mas o que ele não sabe é que a artista é uma succubus disfarçada, mandada pra terra pra seduzir o garoto e impedir que ele destrua satanás. O garoto será exposto ao seu primeiro amor com o tempo depois de um grande trauma envolvendo Asmodeus, o demônio da luxúria.

A premissa é essa.

Pulando pra cena que importa. Ele enfrenta Asmodeus novamente no futuro. Asmodeus se disfarça de adolescente e convence o Padre a frequentar a mesma escola que ela. Asmodeus queria seduzí-lo antes da succubus, pois a mesma estava demorando demais em sua missão. O plano de Asmodeus era ao fazer o rapaz frequentar a escola, fazer ele ter uma noção do que é uma adolescência normal, e daquilo que o Vaticano tirou dele. E com isso derrubar um pouco suas defesas e traumas.

Ela quase consegue, mas quando ele percebe que Asmodeus tentou fazer ele aceitar sexo, ele se enfurece, sucumbe ao pecado da Ira e destrói Asmodeus, de novo, destrói a escola, destrói parte da cidade. Perde o controle diante da coisa que ele mais odeia no mundo, mas eventualmente ele se acalma, para e chora de vergonha do que fez.

Calmo ele volta pra casa com a succubus, que ele ainda acredita ser uma humana, e que acolhe ele. E influenciado por tudo que Asmodeus disse sobre ele poder ser normal, ao ir dormir, ele pensa nela e se masturba pela primeira vez na vida.

E do inferno, Asmodeus observa o garoto se masturbar e declara que ela venceu enfim. Pois parte de sua repressão foi quebrada.

E o semen do padre caindo no inferno na mão da Asmodeus, de muito bom gosto. Talvez a cena mais classuda envolvendo Semen que eu já vi em mídia otaku.

Essa não é uma cena de conotação positiva, apesar de eu ter dito que só teriam assim na lista. Mas é uma cena sobre o quanto quebrar um dogma e parar de se reprimir pode ser doloroso. Causa vergonha. O jovem protagonista do mangá não é assexual, ele precisa se causar dor física pra evitar se seduzir. Ele arrancou o próprio olho por desejar uma mulher. Ele foi moldado em um ódio do sexo, pois essa é a fraqueza dele. Os demônios vão usar a sexualidade dele pra fazê-lo vulnerável. E a Igreja vai insistir que ele seja um super-humano que reprima sentimentos pra nunca se vulnerabilizar.

E em um momento, ele pensa na garota que flertou com ele o mangá todo e tentou ensiná-lo a ser normal, imagina ela e se masturba. E nesse momento o super-homem perdeu a batalha contra a tentação. Mas a humanidade dele triunfou. Como ele não quer ser humano normal, isso foi doloroso, ele sentiu vergonha, culpa, e tudo o mais. Mas é um passo necessário.

Pois o mangá embora não tenha acabado, definitivamente não é escrito pra simpatizarmos com a maneira como a Igreja Católica educou o rapaz. E é escrito pra termos simpatia pela succubus, como alguém que vai passar por um arco de redenção, e lutar pra tirar o garoto de uma guerra contra demônios e dar a ele uma vida normal abandonando a guerra também.

Mas não é fácil lidar com a culpa e a vergonha que sair dessa mentalidade trazem. E eu aprecio a maneira como o mangá mostra esse processo e as travas e traumas que o assunto trazem ao personagem.

8º Lugar: Shinomiya Kaguya e Miyuki Shirogane (Kaguya-Sama: Love is War)

Outra que eu iria esquecer se não fossem meus apoiadores. Felizmente não esqueci, pois esse momento é fantástico.

Kaguya-Sama conta a história de dois estudantes no conselho estudantil de uma escola pras elites mais ricas que se apaixonam entre si, e travados em tomar o primeiro passo por questões de orgulho, fazem uma grande competição de quem faz mais cu doce e força o outro a tomar o primeiro passo por manipulação.

O mangá acompanha os dois passo a passo pra eles enfim expressarem seus sentimentos, beijarem, namorarem, transarem, e termina com eles antecipando um possível casamento enquanto fazem cu doce de novo, pois eles superaram muitas estupidezes que o orgulho trouxe a eles, mas sobrou um vestígio.

Enfim, eu aprecio muito uma comédia romântica em mangá em que a gente pode ver o que acontece depois do primeiro beijo e ver o passo a passo do namoro. E eu gosto de como trabalhou a primeira vez dos dois.

Em especial pela antecipação. E pelo quão cômico foi a antecipação. Tivemos Kaguya indo ver pornografia pra ter uma noção do que esperar, tendo sido negligenciada de educação sexual por ser de uma família conservadora e sexista que ensinou ela a “na hora H só faz tudo o que seu marido mandar e tudo bem.” Depois tivemos ela descobrindo que Miyuki pensa em um dia transar com ela, e então ela dá a entender pras amigas que quer conversar sobre uma crise familiar pesada que a rondava, pra na hora H revelar que ela quer só tirar dúvidas sobre sexo.

Quando chega o momento, é uma cena bonita. Ela vai dormir na casa de Miyuki e se pressiona a ter mais contato com ele e a transar naquela noite mesmo, pois Miyuki está prestes a sair do país e a transformar o namoro deles em um namoro de longa distância. E ela acha que tudo que é físico e carnal ela tem que fazer antes da viagem ou perdeu a chance de fazer.

Quando Miyuki nota que ela está se forçando por pressa, ele reconforta ela que as coisas não tem que ser apressadas, que eles não tem contagem regressiva, que eles vão fazer as coisas no próprio ritmo. E acalma Kaguya em relação às suas expectativas de uma ordem correta e uma hora mais eficiente pra todos os pontos do relacionamento. E Kaguya se acalma.

Quando eles se acalmam eles se beijam.

E se beijam de novo.

E quando amanhece estão pelados na cama com o narrador afirmando que eles se empolgaram.

E eu achei isso fenomenal. A hora ideal não é algo possível de se marcar na agenda. Especialmente pra primeira vez, vem com pressão, vem com uma certa falta de naturalidade de fazer a performance exata que você ouviu falar pra fazer tudo certo pra chegar na linha de chegada…. Isso nunca é a hora certa. A hora certa é a hora em que na privacidade devida, um beijo emenda um beijo mais intenso que emenda um mais intenso que aí a dupla só se empolga.

A hora certa é a hora da empolgação. E no caso da Kaguya e do Miyuki essas duas horas certas distintas, foram na mesma noite, pois o importante não é o quando, é o como. E quando Miyuki desarmou as pressões de performance dela, a hora se tornou a hora certa, desde que a empolgação viesse.

E Kaguya tinha recebido esse spoiler quando ao questionar Kashiwagi, percebeu o quão rapidamente o primeiro beijo de língua de Kashiwagi virou sua primeira transa só no poder da empolgação.

Kaguya-Sama é uma joia rara no meio das comédias românticas de shonen, e ter dedicado espaço pra explorar a primeira vez de Kaguya e Miyuki é algo que se destaca perante outras comédias românticas nessa demografia.

7º Lugar: Corky e Violet (Bound):

Spoiler do resto da lista, daqui pra frente a presença das Irmãs Wachowski vai ser bem forte. Ô dupla que manda bem. E eu nem vou por a orgia de Sense8, pois eu não vi a série ainda, acreditam? Mas eu tenho certeza de que se tivesse visto acharia espaço pra ela em algum lugar da lista, pois confio nessas duas pra retratar sexo. Imaginem aí em que ponto da lista iria.

Enfim, Bound é um filme que foi feito quando Lana Wachowski percebeu de que não existiam filmes mainstream em que o herói é LGBT. O que ela percebeu em seu desconforto vendo Silêncio dos Inocentes, que assim como Psicose, e Vestida para Matar, explora a transexualidade de assassinos em série como a base de porque são assassinos. Geralmente inspirados em como a mídia divulgava assassinos em séries como Ed Gein, tentando apontar que o desejo de ser mulher o empurrou a cometer crimes, o que não é mais como essas figuras são lidas hoje depois de muito estudo, mas era realmente a narrativa que a mídia queria, e que gerou esse tropo cinematográfico que deixou uma mulher que 17 anos depois se assumiria mulher trans, desconfortável desde aquela época.

Então nasceu o projeto das irmãs de fazer um filme em que as heroínas fossem lésbicas. E aqui quero fazer a distinção. Eu não disse: protagonista. Eu disse heroínas. Em que duas lésbicas matam o vilão, salvam uma a outra, e colhem a devida recompensa de seus esforços. Pois até hoje, o cinema LGBT mainstream superou várias barreiras, e consegue fazer filmes de drama pessoais de seus protagonistas como o mencionado Brokeback Mountain ou Moonlight. Consegue fazer filmes de romance entre pessoas do mesmo gênero. Conseguem fazer comédias em que o protagonista é LGBT…. Mas a gente ainda não faz filmes em que o gay pode ser um agente secreto, um super-herói, um cavaleiro, ou alguém que entre numa aventura e enfrente o mal.

O Ethan de Mundo Estranho é um exemplo de gay liderando uma aventura. Mas a Disney queimou tanto o cartucho deles com “enfim nosso primeiro personagem gay” pra cada figurante, que quando veio um protagonista ninguém foi olhar…. e também o namorado dele aparece em o que? duas cenas de cinco segundos?

Essa barreira ainda não foi devidamente superada. Temos filmes que passam a barreira aqui e ali, mas ela ainda tá firme e forte.

Bound conta a história de Corky e Violet. Corky é uma mecânica e pintora que está renovando um apartamento, e o apartamento vizinho é ocupado por um associado da mafia que abusa de sua esposa, Violet. Corky e Violet começam um caso amoroso e planejam roubar o dinheiro da máfia pra escaparem juntas e livrarem Violet de um cara escroto.

As Wachowski como as diretoras trans do filme e como pessoas muito ligadas a causa LGBT, ganham muitos créditos merecidos pelo quanto o filme fez coisas inéditas na hora de mostrar um relacionamento sáfico no cinema mainstream. E que conste o filme é mainstream, foi um sucesso cinematográfico, e foi o filme que convenceu os estúdios que essas duas tinham o que era preciso pra lançar Matrix. Enfim, apesar delas merecerem os devidos créditos, tem uma terceira pessoa que ajudou o filme a se destacar. A jornalista, escritora, feminista e educadora sexual Susie Bright foi contratada pelas Wachowski pra ajudar o filme a dialogar com a cultura lésbica e coordenar as cenas de sexo, como a Coordenadora de Intimidade.

Susie Bright chega a apárecer no filme como uma das mulheres no bar lésbico com quem Corky interage.

Que é uma profissão depois de 2017 e do #MeToo virou uma demanda quase obrigatória em cenas de sexo. Um profissional ali só pra garantir que os atores numa cena de sexo estejam confortáveis, que a cena esteja sendo feita de maneira saudável e guiando atores e diretores. Mas o filme é de 1996, e já foi feito pensando nessa preocupação. Pois as Wachowski realmente queriam fazer um filme pra ser visto por lésbicas. Diferente de Brokeback Mountain, feito com menos preocupações pois foi feito pensando em uma plateia heteronormativa e ver se conseguia apresentar uma nova perspectiva a essa plateia. Acho válido ter filmes pra esses dois tipos de plateia são dois lados relevantes de se por minorias no cinema. Mas é, o trabalho em pegar o primeiro grupo foi visível.

Susie Bright guiou as Wachowski que esse filme teria que ser “molhado”, que muito filme com herói masculino é focado em coisas duras, e que nesse o foco seria no que é úmido.

Foi de Susie Bright a ideia, por exemplo, do filme usar muito foco em mãos. Tratando mãos como um órgão sexual, e o filme de fato tem closes em mãos feitos pra despertar o erotismo da cena, e que tiveram sucesso com o público sáfico. Ele foi feito com cuidado pra passar o devido sex-appeal.

O que culmina na cena em que elas transam que é intensa. E justamente necessária. O filme mostrou um casal sáfico ocupando papeis que dificilmente ocupariam antes ou depois no cinema mainstream, e não pediu licença pra serem intensos nessa parte. Uma cena em plano sequência das duas transando com a câmera dando a volta nas duas na cama, é uma das cenas mais memoráveis do filme. E é logo no começo do filme. É elas firmando o caso delas e sua parceria.

E completando a questão de mãos, a mão é a parte do corpo em destaque na cena de sexo.

Nesse tipo de filme, espera-se que as mulheres sejam manipuladoras, usem seu corpo pra conseguirem o que querem, e traiam seus parceiros. Mas elas são leais uma a outra até o final, e sendo assim, a cena de sexo é a base dessa lealdade se formando, de maneira intensa, explicita e sem vergonha de não ser o padrão do que o cinema considerava aceitável na época. E é porque as Wachowski meteram esse chutão na porta sem pedir licença que elas puderam fazer Matrix.

6º Lugar: Jack Dawson e Rose DeWitt Bukater (Titanic)

Titanic é uma das maiores histórias de amor do cinema estadunidense. E falar só da bilheteria e do impacto que teve nos anos 1990 é fichinha comparado com o quanto esse filme é discutido até hoje, o quanto assuntos como se a Rose devia ter jogado a pedra no mar ou não, se cabiam duas pessoas em cima daquela porta. O filme é um marco de tão icônico de maneira que eu acho que é provavelmente a segunda vinda de Casablanca no quesito de quantas cenas icônicas ficaram imortalizadas na cultura pop e jamais pararam de ser referenciadas.

Porém Casablanca foi filmado durante o código hays, o que significa que embora a gente possa presumir que Ilsa e Rick provavelmente transaram na sua estadia em Paris, que o filme nunca pode nem sequer sugerir isso. E não é o caso de Titanic, que foi filmado em uma época em que Rose e Jack podiam sim transar.

Rose e Jack ficaram juntos por quatro dias no navio. E transaram exatamente uma vez. O que eu acho que faz sentido, na maneira como eu leio o ponto do filme. Muita gente critica o filme por ser um romance de poucos dias que não deu tempo de criar conexões reais e tal. E que a Rose voltou pro navio por um cara que ela conheceu faz poucos dias.

E eu acho que a ideia é exatamente essa. Jack ser um sujeito pobre, que não deixou ninguém na Inglaterra que vá procurar seu corpo, que não tinha ninguém esperando ele em Nova York, que não tinha documentos. Que não vai ter nada provando que ele viveu e esteve naquele navio exceto a memória da Rose. Felizmente ele deixou uma impressão muito forte na Rose, tirou ela muito da zona de conforto, e deu pra ela a perspectiva que ela precisava pra refazer sua vida em Nova York, e ela jamais esqueceu ele ou aqueles 4 dias. E quando um documentarista foi até ela perguntar “Você pode me contar a história de um diamante?”, ela foi e contou a história de um ser humano, que morreu na tragédia e que valia mais que um diamante.

E esse humano deu a ela o momento mais erótica de sua vida, quando ele pintou ela nua. Eu gosto de como ela chama aquele evento de o mais erótico da vida dela. Pois os documentaristas perguntam se eles transaram, e Rose responde que não ali, ali Jack foi estritamente profissional até o fim. E a gente de fato nota nisso, Rose quebra o gelo flertando com Jack enquanto ele pinta ela, e ele está de fato focado e sério.

O momento mais erótico da vida da Rose não foi o Jack louco de ver ela, foi ela louca de saber que está sendo vista. De se expor. A gente, pela narração vê a cena da perspectiva da Rose. A gente sabe que Jack estava sendo profissional, e que o coração de Rose disparava. Rose era quem estava sendo olhada, mas a cena deu a agência completa pra ela, e ela estava morta de tesão, e esse tesão reescreveu as referências dela do que é erotismo.

E aí mais tarde na mesma noite eles transam no carro, e embaçam o carro com seu amor, e aí Rose marca o vidro embaçado com sua mão na cena icônica. Inclusive ótimo o contraste do quão frio estava do lado de fora do carro, com o navio já na área do Iceberg, e o quão quente tava dentro do carro. Com os dois suados e tudo embaçado.

Mas é, mantendo o ponto, gosto do quanto a Rose inicia todo o processo do sexo. Ela puxa Jack pro banco de trás com ela, ali começa a lamber os dedos do Jack, e como mesmo com a lambida de dedo Jack ainda não estava fazendo nada, ela põe a mão de Jack no peito dela. Ela ainda tinha que agir no tesão que tava nela desde que foi pintada nua profissionalmente. Rose era uma mulher muito restrita e muito sem agência, e iniciar a transa foi a liberdade dela dessas algemas.

Eu citei Titanic como exemplo direto no meu texto sobre sexo na ficção e menciono de novo. Pois é um filme que podia fazer igual Casablanca deixar implícito que a chance dela ter achado tempo pra transar com Jack era maior do que não ter, e nunca tocado no assunto. Muita gente acha que o sexo é tão fácil de ficar implícito que jamais precisa ser mostrado. E eu fico feliz que tenha ficado explícito em Titanic. Que o tempo de Rose com Jack foi breve, mas deu tempo dela puxar ele pro banco de trás do carro e viver o dia mais erótico de sua vida. Que isso fez parte da marca que ele deixou nela.

A história fica melhor com essa cena. E fica mais romântica. E considerando que a cena de Avatar em que o Jake Sully e a Neytiri transam conectando os plugs Na’vi na cabeça, então eu quero falar que gosto que o James Cameron entenda que essa consumação de sentimentos é parte de um épico. E que agora dê uma pausa nas sequências de Avatar e faça outro romance maneiro.

5º Lugar: Maebashi Asahi e Kisarazu Kouya (Show it to me Baby):

Quando a gente lê mangá de putaria na demografia shounen ou seinen, que são pra meninos e pra jovens respectivamente, ambas pro sexo masculino, a gente vê muita mulher de peito de fora, muita calcinha, muita bunda, muito objeto fálico em volta da mulher, as vezes vê até uns tentáculos. Mas no geral não vê muito de fato gente na meteção. Mas quando você vai pra demografia josei, para mulheres adultas, ali sim o bagulho pega fogo. Muitas histórias sobre mulheres encontrando caras que estão deixando o pau fazer todo o pensamento e achando que é isso aí.

Em Show it to me Baby (Kisarazu-kun no XXX ga mitai no original), acompanhamos a história de duas pessoas com muitas dificuldades sexuais. Asahi está frustrada que todo mundo com quem ela tenta transar broxa no meio do ato, e acredita que o problema é ela, e está insegura de ser divorciada e de estar se afastando de sua juventude, e cogitando parar de tentar transar. Um dia ela conhece Koiya, que quando perdeu a virgindade teve uma ejaculação tão, mas tão precoce que está com medo de sequer tentar ter uma segunda vez.

Os dois se encontram, bebem, e deixando o álcool falar por eles, combinam um fetiche. Ela quer muito ver ele se masturbar pra ela. Nada mais longe que isso, ela só quer ver um cara bater uma na frente dela. Kouya topa.

Os dois estavam com muito medo de tentar penetração de novo. E porque, é como a gente vê o caso, acharam que nunca mais fariam sexo. Mas um dia deixaram o álcool e o tesão tomar as rédeas e nossa o que eles se divertiram aquela noite, o que eles expressaram, o que eles validaram de tesão. E aí começaram um caso, que rolou por tanto tempo que eles eventualmente tentaram a penetração e superaram suas inseguranças.

Mas os dois pirando de prazer com ela vendo ele se masturbar. Sexo é isso. Pirar de prazer, deixar o tesão tomar as rédeas, e nossa. Como mangá josei é bom em expressar personagens com tesão. É sobre isso. Gosto muito dessa cena, e gosto muito da forma não-convencional como esse casal começou.

Divertido ver como o casal evoluía ao mesmo tempo em que a vida sexual deles ia evoluindo e se aproximando. Mas o ponto dessa posição da lista é só deixar claro que ela ver ele bater uma já é sexo, pois foi um ato de intimidade dos dois, e foi o que começou o processo pra eles virarem um casal. Houve a parceria, e a parceria é o que mais importa.

4º Lugar: Somni 451 e Hae-Joo Chang (Cloud Atlas):

Antes de falar desse filme tenho que falar de outro filme que saiu depois. E de um vídeo no youtube. E de como tudo se conecta em um debate idiota. Mas acho importante nas listas usar quem entrou na lista como trampolim pra falar de quem não entrou na lista.

Em 2023 estreou esse filme chamado Poor Things, sobre uma mulher que é um cérebro de um bebê colocado dentro do corpo da Emma Stone, crescendo e evoluindo em tempo recorde e conhecendo o mundo. E parte dela conhecer o mundo, estando nesse corpo adulto, foi conhecer e despertar a sua sexualidade. Inicialmente caindo no papo furado de um homenzinho merda, depois trabalhando como prostituta, e eventualmente escolhendo seus próprios parceiros.

Filme: Poor Things

Pois é, aí como a internet sempre faz com qualquer história de Contorcionismo de Idade, veio falar que o filme era uma grande analogia a pedofilia. E até aí tudo bem. Digo, não é como eu vejo, mas é uma conclusão lógica o suficiente. Mas aí meteram o filme é também um trope chamado Born Sexy Yesterday, tropo cunhado pelo canal do youtube Pop Culture Detective. E bem, aí estão só objetivamente errados.

Born Sexy Yesterday descreve esse tropo em que uma mulher já adulta, porém com a mente inexperiente e infantilizada é usada como uma fantasia, um personagem fetiche pra ser conquistada por um homem medíocre, que pela falta de repertório da garota, soa como o homem mais fantástico do mundo. E uma maneira de usar a insegurança masculina de ser comparado com alguém pra fetichizar uma mulher inexperiente, não só seuxalmente, mas em noções de mundo.

Filme: O 5º Elemento

O que é um pouco o ponto de Poor Things, humilhar o personagem do Mark Ruffalo, por ser exatamente um personagem que num filme Born Sexy Yesterday seria o herói, mas aqui é posto em seu lugar, pois a mulher rapidamente adquire experiência e repertório sexual pra ver que ele não era grande coisa.

Enfim, começo com esse exemplo, pois o vídeo que descreve o tropo enfatiza que o tropo não se aplica e não tem viés problemático, se a ideia da personagem inocente no corpo sexy for justamente a de adquirir experiência e agência, e o ponto for ela amadurecer, dando o exemplo específico da Somni de Cloud Atlas como um bom exemplo de onde não há problema.

Pois de fato, Somni é uma clone criada em ignorância do mundo pra ser escrava de uma rede de fast food, que é libertada pelo revolucionário Hae-Joo Chang, que cuida dela, ensina a ela sobre o mundo e eventualmente transa com ela. E olhando por cima isso poderia soar como um relacionamento problemático, em que Hae-Joo usa do seu poder e experiência pra seduzir uma mulher vulnerável que não sabe nada do mundo.

Somni é uma clone, uma cidadã de segunda classe, uma escrava. E existe um sistema de castas claro na distopia onde ela vive em Cloud Atlas, onde clones não devem ter filhos. Seu ciclo de vida existe em função de sua servidão ao comércio. Elas servem 12 anos em uma empresa depois de nascerem já adultas, criadas em um tanque, e após 12 anos de serviço elas são mortas e recicladas em comida que alimentará a nova geração de clones. Feitas sem sexo, e feitas pra não conhecer nada além de seu trabalho. Os clientes podem assediar elas, pois elas são objetos, mas elas não podem ter relacionamentos com pessoas de puro-sangue, pois elas são meros objetos.

Somni ao se libertar e estudar sobre como o mundo funciona, rejeita a maneira como o mundo funciona naturalmente, e embora ela ame Hae-Joo e queira expressar que ama o homem que a salvou. Quando ela transa com ele, ela também escala ao seu nível, ela iria agir como uma pessoa de puro-sangue, ignorar o que é proibido e usufruir de tudo que foi negado a sua classe. Como acesso a arte, a educação e ao sexo.

Como em Cloud Atlas são seis histórias conectadas, elas sempre intercalam, e o momento de Somni subindo em cima de Hae-Joo pra transar com ele é intercalado com outro personagem em outra história narrando como todos os limites do mundo são meras convenções, que existem pra serem superadas.

Toda a noção do que Somni podia ou não fazer dada o seu status nada mais era uma convenção, e ela podia desafiar essa convenção no instante em que ela pudesse se imaginar desafiando ela. Ou seja, Somni não teria esse poder sem antes ter recebido a educação pra estar ciente de seu poder.

Existe transgressão no sexo, e onde existe transgressão existe liberdade. E Somni concluiu sua jornada por liberdade e essencialmente se formou dessa fase de sua vida de se auto educar nessa cena. Dessa cena em diante ela sai do apartamento de Hae-Joo pra se tornar a líder de uma revolução e eventualmente uma messias.

Tenho todo um texto sobre porque Cloud Atlas é um filmão. Sempre dá pra confiar nas Wachowski.

3º Lugar: Fujii Natsuo e Tachibana Rui (Domestic na Kanojo)

Ah sim, Domestic na Kanojo, também conhecido como Domekano, um dos meus mangás favoritos e um dos meus romances favoritos. Conta a história de um triangulo amoroso entre um jovem escritos e suas duas irmãs postiças cuja mãe se casou com o pai dele, depois dele desenvolver uma história complicada com ambas.

A história se vende como um triangulo amoroso, e de fato é um, mas é um triangulo amoroso desequilibrado, pois uma parcela gigantesca da história é dedicada ao relacionamento com uma só das meninas, Rui, que ele conheceu em um karaokê onde tiveram um one-night-stand antes dela se tornar família.

Eu gosto disso, gosto de um mangá que abre no primeiro capítulo com a heroína perdendo a virgindade em uma one-night-stand só pra saber como é que era, pra depois vir o twist de que ela ia ter que morar com o cara pra quem ela deu. Eu gosto, pois no mangá anterior da autora, Good Ending, aconteceu um incidente, em que o protagonista do mangá era apaixonado pela colega do clube de tênis, e a colega tinha esse outro namorado. E em um capítulo ele repara que tem um chupão no pescoço da colega namorando que ele curte, e ele chora ao perceber isso. A autora Kei Sasuga recebeu uma enxurrada de cartas que incluiam ameaças pesadas, pois ela fez a heroína do mangá “perder a pureza”.

Mangá: Good Ending.

Otaku querendo projetar pureza em personagem fictício é algo sério, e a Kei Sasuga tinha mexido em um vespeiro, e o que ela fez? Dobrou a aposta, seu mangá seguinte, Domekano, tinha o triplo de sexo que Good Ending tinha, e fez logo de cara a heroína fazer sexo casual só pela experiência.

E depois ela se apaixona por Natsuo, e faz sexo várias e várias e várias vezes com ele.

Mas a cena que eu gosto e que eu trago pra lista é já perto do final do mangá. Ao longo do mangá Natsuo e Rui namoram, ficam namorando por metade do mangá, e aí eles terminam, Rui dá um colossal pé na bunda dele. E aí Rui se muda pros Estados Unidos, para trabalhar como chef de cozinha. E aí encurtando a história, Rui sobre maus-tratos por ser estrangeira e imigrante fortes, sobre racismo por ser japonesa, tem um momento bem traumático que fazem Natsuo ir até os EUA brigar com o resttaurante e com o chefe da Rui.

Grande momento do Natsuo. Mas apesar disso eles estavam terminados e não voltaram ainda, e ficou aquele clima do ar de se voltariam ou não. Mas é óbvio que os dois queriam e sentiam muita falta um do outro. Mas era difícil entrar no assunto.

Então é hora de dormir, cada um está em sua cama em lados opostos do quarto, no dia seguinte Natsuo vai embora e tudo que não for dito vai ficar não dito. Natsuo tenta começar uma conversa, mas Rui interrompe ele assim que ele começa a falar, levanta o seu edredon e convida Natsuo a vir conversar na cama dela. Natsuo aceita e no quentinho de uma cama compartilhada ele pede pra Rui voltar pra ele e ela aceita, e eles reatam seu namoro.

A cena corta pra Rui acordando pelada e descabelada pra vestir de volta o colar que Natsuo deu pra ela quando começaram a namorar. Mas a Kei Sasuga é uma autora completa que desenha o próprio hentai, e nos extras do mangá existe uma descrição detalhada de tudo o que Natsuo e Rui fizeram aquela noite. Inclusive roubar a camisinha de marca duvidosa da colega de quarto de Rui.

…ah sim, pois Rui engravida nessa. Eu tenho tentado evitar sexo que de fato faz um filho, pois quando um sexo cumpre seu papel reprodutivo, ele passa a ser narrativamente necessário, e eu quero celebrar que o sexo só precise ser emocionalmente necessário. Mas essa aí escapuliu.

As camisinhas da Daniella são de uma marca que estoura mais, sorte dela que foi a Rui que pegou a batata quente.

Enfim! Se vocês notarem a maioria dos exemplos dessa lista são da primeira vez que um casal transa. Pois de fato é onde tem muito valor narrativo, vemos o sentimento acumular, acumular, acumular e enfim é posto pra fora. Mas eu gosto que um dos momentos de maior impacto dos dois é a enésima vez que eles transam. É a transa deles reatando depois de anos de namoro. Pois de fato, a ficção dá ênfase demais na primeira vez, mas sexo é igual literalmente tudo que a gente faz com um parceiro. Fica melhor quanto mais se conhece e se pratica com o parceiro.

A primeira vez é legal, mas faltam histórias falando de como a centésima vez também é legal.

2º Lugar: Dona Flor e Vadinho (Dona Flor e Seus Dois Maridos):

Alguma putaria nacional a lista que tem né. Afinal aqui é a terra do carnaval. E no caso eu vou falar da que era a maior bilheteria da história do Brasil antes de Tropa de Elite roubar esse posto, que eu pessoalmente queria que não tivesse roubado: Dona Flor e Seus Dois Maridos.

O filme conta a história de Dona Flor, que por anos foi casado com um dos maiores homens lixos do mundo, Vadinho. Vadinho foi um marido irresponsável, que roubava Dona Flor, traia Dona Flor, negligenciava Dona Flor pra ir em cassinos e em puteiros, era um homem sem trabalho, sem respeitabilidade, sem nenhum valor real, e tiveram incidentes de violência doméstica. Pra todos os efeitos alguém que ninguém devia querer por perto, e quando Vadinho morre todo mundo fica feliz por Dona Flor por se livra desse encosto.

Todo mundo menos Dona Flor. Que realmente gostava de transar com Vadinho, e realmente apreciava a vida sexual que ela tinha com um homem tão sem decência. O segundo marido de Dona Flor é um homem decente, intelectual, endinheirado, responsável e cristão. A antítese de Vadinho, e é um homem com quem Dona Flor enfim pode sentir orgulho de apresentar pros outros. Mas ela não está satisfazendo suas vontades. Então Dona Flor fala com uma mãe de santo pra pedir ajuda pra trazer Vadinho de volta, e trás, na forma de um fantasma perpetuamente nu que só ela pode ver e tocar. Ela hesita em trair seu novo marido com o ex falecido, se arrepende de tê-lo chamado de volta e tenta a todo custo expulsá-lo. Ela tem que ser tão respeitável quanto seu novo marido, que não faz ela sentir muito prazer na cama.

Ela hesita, hesita, hesita e novamente recorre ao Candomblé pra se livrar desse fantasma que não é bem-vindo. Mas obvio que esse “não é bem-vindo” é só a Dona Flor preocupada com aparências. Ele é extremamente bem-vindo. E quando o ritual funciona e o espirito de Vadinho desaparece enquanto despia Dona Flor, ela entra em pânico que funcionou. Ela grita com todos os pulmões o nome de seu antigo marido e seu espirito volta, termina de tirar a roupa de Dona Flor e transa com ela pra felicidade da mesma.

Dona Flor não ter largar Teodoro, ela só acha que ele não é o pacote completo. O filme é frequentemente interpretado como Dona Flor representando a grande contradição da identidade brasileira. Que quer ser um país cristão e respeitável e o país do carnaval ao mesmo tempo. Dona Flor não quer escolher entre dormir com um homem decente e um malandro, ela quer dormir com os dois, e o filme encerra com ela saindo as igreja com Teodoro e Vadinho um em cada braço, e com Vadinho apertando a bunda dela na rua, enquanto ninguém vê.

Pro filme, o Chico Buarque foi chamado pra compor a trilha sonora, e ele compôs a música “O Que Será?”, por coincidência minha música favorita dele. E de onde eu interpreto uma música sobre como a sexualidade não consegue ser contida pela pressão social. Em especial eu interpreto assim na parte que toca no final do filme, depois que Dona Flor conseguiu tudo o que ela queria, um marido e um Vadinho pra comer ela por fora:

O que será que será?

Que todos os avisos não vão evitar?

Porque todos os risos vão desafiar.

Porque todos os sinos irão repicar.

Porque todos os hinos irão consagrar.

E todos os meninos vão desembestar.

E todos os destinos irão se encontrar.

E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá.

Olhando aquele inferno vai abençoar.

O que não tem governo nem nunca terá.

O que não tem vergonha nem nunca terá.

O que não tem juízo.

E é isso. A força do terão não pode ser parada. Os risos vão desafiar qualquer tentativa de pará-la, ela será celebrada, e no final só restará ao padre que não entra nesse mundo ver o inferno e abençoá-lo. É o que rolou com Dona Flor, quis tanto voltar a dar pro Vadinho, quis tanto, que foi até o Candomblé atrás de soluções, e terminou com seus dois maridos na igreja.

Leitores, não se envolvam com um encosto que nem o Vadinho. Ele é pilantra e filho da puta, mas também não aceitem que uma vida sexual bosta é o preço pra se ficar com um parceiro decente. A Dona Flor dividiu suas demandas em dois homens, e você pode fazer isso se nenhum dos dois te bater e te roubar. Mas procurem alguém que sabe fazer os dois, não dependam de pilantras pra ter grandes orgasmos. Ao mesmo tempo não exijam menos que grandes orgasmos.

O filme ganhou uma adaptação estadunidense, em que no final o fantasma do Vadinho entende que a esposa tocou a vida e que ele não é necessário e vai embora pro além dando licença pra ex ser feliz com outro homem. E é isso. Estadunidense não tem capital cultural pra conseguir apreciar o que esse filme fala sobre desejo. E é por isso que esse filme tá em segundo lugar na lista. Pra ficar acima de quase toda outra obra estadunidense que eu pudesse mencionar.

Exceto por uma.

1º Lugar: Neo e Trinity (Matrix Reloaded):

Exceto pelas Wachowski, né?? Aí sim!

Eu vejo essa ser frequentemente mencionada como uma das grandes cenas de sexo desnecessárias do cinema, e fico genuinamente confuso com essa declaração.

Afinal Matrix é um filme sobre a guerra do homem contra a máquina. Em que todos são presos em uma realidade falsa, pra viverem sensações falsas e estímulos falsos enquanto servem de bateria pra grandes computadores, e precisam escapar de seus computadores e se rebelar.

Sabe, é um filme sobre como comer uma sopa nojenta na vida real era melhor do que receber um imput de computador na sua cabeça dizendo que você sente sabor de picanha.

É um filme pra celebrar ser humano e usar seus cinco sentidos, e rejeitar a ideia de ser uma máquina. Abandonar o sistema em troca de uma experiência genuína.

Então depois de Neo escapar da Matrix e vencer o agente Smith e morar no mundo real e começar um relacionamento com Trinity? O que eles fazem? Eles se tocam, eles se beijam e eles fazem amor da maneira mais carnal possível em paralelo a uma rave, onde diversas outras pessoas livres experimentam música, psicodélica e prazeres que só são sentidos por quem é humano.

Eles experimentam a carne, pois eles são feitos de carne, e serem feitos de carne é a diferença deles pros robôs e pros humanos na Matrix.

E eu não consigo entender alguém achar que isso trás algo desnecessário. Nossa, eu acho honestamente 70% de Matrix Reloaded desnecessário. Por mim dava pra pegar o Reloaded e o Revolutions e editar os dois em um filme só de duas horas e super ia dar certo.

Mas a cena do sexo na rave não ia cair no Chaminé-Cut. Ela é fundamental. Ela mostra exatamente pelo que os personagens lutam. O que é que existe fora da Matrix que vale mais a pena do que aquilo dentro da Matrix. O que pode ser melhor do que receber imput elétrico de sabor de picanha.

Laços reais, conexão carnal, festa, prazeres, liberdade e se sentir vivo. E é isso que fazem.

E tudo tão bem intercalado com aquela rave.

Necessário. Necessário pra nos dizer que Neo e Trinity não são robôs. E pra dizer que eu queria muito ver as Wachowski fazerem mais um filme, mas acho que a resposta abaixo do esperado de tantos dos últimos projetos delas jogaram um balde de água fria ali. Uma pena, pois são duas mulheres necessárias em Hollywood também.

E essa foi minha lista. Foi bem mainstream, nada muito obscuro ou nichado nela. O que é só deficiência de repertório meu, pois eu sei que é nos clássicos cults nichados feitos pra públicos específicos que tem algumas das mais interessantes experimentações com fetiche e sensualidade. E se tem algum filme com uma grande transa que você queira dividir também, os comentários estão aí pros leitores continuarem essa conversa.

Mas eu aprecio quando está no mainstream, pois eu acho que o sexo tem que ser naturalizado, temos que achar normal um filme ter um casal transando. Pois existe liberdade no sexo, e a liberdade sexual é algo que os tempos políticos atuais não estão dando a confiança de que nada pode derrubar. O cinema tem sido parte da resistência contra a tendência conservadora de restringir a liberdade sexual alheia, e eu acredito que resistência tem que existir no mainstream também.

Mas tenho certeza de que vários clássicos cult deram um chutão na porta ótimo que eu só não assisti. Acontece.

Queria ter achado um exemplo legal de orgia também, mas não consegui lembrar de nada, senti que ficou faltando, talvez eu de fato precise ver Sense8 urgentemente.

No chat dos apoiadores foi sugerido o filme Queer pra lista, e a sugestão foi feita depois que o texto estava pronto e não deu tempo de eu assistir pra conferir, mas fica aqui não só o adendo, como a certeza de que vários outros ficaram de fora e são igualmente fascinantes, pois esse tema é fascinante.

Quero que tenham um ótimo dia de São Valentim. Quem tem com quem transar hoje, faça a festa, quem não tem, ache alguém pra abraçar, tem inúmeras formas de amor e de trocar afeto com entes queridos, e o dia de hoje é sobre isso. Sobre ter com quem compartilhar laços. Eu vejo vocês ano que vem com alguma outra lista. E no texto que vem com alguma análise sobre alguma coisa.

Até lá meus queridos, amo vocês.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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