Hoje, dia 14 de Fevereiro, é Dia de São Valentin minha gente, uma data festiva que eu particularmente gosto bastante. Gosto bem mais do que do Dia dos Namorados brasileiro, aquela data de mané. Dia dos Namorados preza demais estar em um relacionamento, e eu não aprovo isso. É dia de fazer shaming nos outros. Negatividade
Mas essa negatividade é algo que eu não sinto com o Valentine’s Day, é um dia tão good vibes, que em vez de ser pra celebrar que você tem alguém pra beijar, você celebra seus laços em todas suas formas. O amor pela família, pelos amigos, por todos seus entes queridos. Por isso o Spongebob, que é canonicamente assexual, adora o Dia de São Valentin, pois embora ele não seja atraído por ninguém ele tem muito amor pra dar pra muita gente.
Então vamos falar desse sentimento maravilhoso que é a amizade. Que é uma forma de amor particularmente subestimada no mundo, em especial quando comparado com o amor romântico, que inclusive roubou pra si o significado da palavra “amor”. Quando falamos de amor sem colocar contexto, as pessoas automaticamente presumem que se tratam do amor romântico e não do carinho, admiração e companheirismo que dois amigos possam ter.
O famoso filme de amor Love Actually que foi super popular quando estreou e envelheceu que nem leite hoje em dia pela maneira como naturaliza comportamentos tóxicos, ainda merece alguns créditos por ter incluído uma história de amizade como uma das histórias de amor do filme.
Enfim, talvez por ficar na sombra do amor romântico, mas provavelmente porque tudo na cultura pop é assim: quando vemos retratos de amizade na ficção geralmente o gênero dos personagens tem um peso importantíssimo. Quando pensamos em contar uma história que não seja sobre um casal romântico, e sim sobre dois amigos, cuja parceria supere tudo, as histórias clássicas desse tipo são principalmente sobre dois homens.
Entre Sam e Frodo em Lord of the Rings, os quatro garotos de Stand by Me, a rivalidade transformada em parceria de Woody e Buzz em Toy Story, ou a tragédia anunciada de The Fox and the Hound, até o laço poderoso de Andy e Red em The Shawshank Redemption, Esses filmes apresentam modelos básicos, e reproduzíveis de como se retratar uma amizade normal. Sem girar a amizade em torno da expressão de masculinidade dos personagens. E isso é um reflexo do personagem masculino ter passado muitos anos sendo o default, é até hoje, inclusive.
A amizade feminina por isso, muitas vezes vem com ares revolucionários. Em especial porque obras sobre a amizade feminina são obras sobre personagens femininas não girando suas vidas em torno de homem, uma vez que a cultura pop tem uma responsabilidade grande na maneira como somos todos educados a achar que a vida da mulher se define por um relacionamento com um homem. Filmes como Thelma e Louise ou The Bridesmaid fizeram barulho por representar mulheres que valorizavam uma a outra mais do que valorizavam um homem. E por ir contra o estereótipo da rivalidade feminina e de filmes que retratam relações femininas como falsas e competitivas. O filme Mean Girls também fez barulho justamente por denunciar como essa competição funciona e é incentivada, e valorizar a importância de quebrar essa competição em prol de união e amizade.
Agora e a amizade entre um homem e uma mulher? Essa é a mais difícil de ver sendo trabalhada. Pois o default para qualquer roteirista é que uma trama entre um homem e uma mulher que tenham uma conexão forte entre eles, é uma conexão romântica. Muita gente no mundo não acredita na existência da amizade entre um homem e uma mulher. E que a tensão sexual e a atração sempre falarão mais alto.
Claro que muita heteronormatividade por trás disso tudo. Muitos homens e mulheres simplesmente não tem atração no sexo oposto, e mesmo quando tem, todos sabemos que não é isso que vai tornar uma amizade menos sincera, ou fazer um homem ser atraído por todas suas amigas e vice-versa. Mas a cultura pop nos educa para acreditar no oposto disso. Que se duas pessoas são atraentes, elas por default querem transar entre si caso a sua sexualidade seja compatível.
E se observarmos as grandes duplas entre homens e mulheres que não tem o fantasma da trama romântica em volta deles, geralmente não tem por que não podem ter. Uma das maneiras mais populares de colocarem duplas de homens e mulheres sem colocar tensão sexual entre eles? Fazendo uma amizade intergeracional, em que um dos personagens é significantemente mais velho que o outro.
Outra maneira? Duplas de irmãos. Irmãos são a maneira mais padrão de, especialmente um desenho animado, ter um menino e uma menina protagonizando a própria série em pé de igualdade.
Inclusive, parentesco muitas vezes é usado como a única justificativa plausível para dois personagens não desenvolverem uma relação romântica, com os personagens que não estão cientes do parentesco, acreditando ser um casal, pois afinal, o que mais seriam? Serem irmãos é a única explicação plausível pra não haver troca de fluídos, se eles não fossem o interesse romântico não teria chance.
E mesmo assim, muito roteirista tem tanta naturalidade em escrever vibes românticas em conflitos entre homens e mulher, que muitas histórias com parentes brigões viram a coisa mais fácil do mundo de shippar, pois a série passa a legítima impressão de que eles estão flertando, e isso é os roteiristas escrevendo no piloto automático. O primeiro passo pra ser um shipper incestuoso é cruzar com um roteirista ruim, que não sabe diferenciar briga-amistosa de irmãos de briga-flerte.
Além de amizade entre pessoas de gerações diferentes, e de duplas de irmãos, o que mais é usado para poder fazer amizade entre homens e mulheres serem só amizade na ficçãolândia? Oras, o melhor amigo gay. Deixar claro que um dos dois é gay é uma óbvia maneira de deixar claro que amizade é o máximo que esses dois são capazes de chegar e de fazer o público se contentar com isso. O mais comum é a mulher ter um melhor amigo gay, pois isso já é um tropo consagrado, especialmente se melhor amigo for especialmente um “conselheiro amoroso”. Mas existem também exemplos do cara que tem uma melhor amiga lésbica.
E outra saída, ainda é fazer a conexão entre os dois ser secundária a conexão que ambos tem a uma terceira pessoa, que é namora uma das pessoas da dupla, e é melhor amigo da outra. Então Harry e Hermione são excelentes amigos, muito próximos. Mas ambos são muito mais conectados ao Ron do que um ao outro. E a coisa que eles mais tem em comum, é que a vida de ambos só tem sentido com Ron ao lado deles.
Tudo, tudo, tudo planejado para deixar claro que pra essas amizades, um relacionamento romântico não é uma opção, porque se for uma opção……. aí já viu, né? Aí não teria como evitar cair nesse lado, e claro que dá pra evitar.
Duas pessoas do sexo oposto que passam tempo juntos, a ficção nos ensina a presumir que é questão de tempo até que eles se apaixonem. E assim, eu acho que muitos dos maiores amores que muita gente já viveu começou com uma amizade. E mais que isso, existe uma amizade no fundo dos relacionamentos, e perceber que você continua amigo de uma pessoa por quem você está faz anos em um relacionamento é um dos maiores sentimentos do mundo. Então obviamente existe uma intersecção grande entre amor romântico e amizade, que as boas histórias de amor exploram.
E eu não quero invalidá-los, nem invalidar a existência de histórias de amor entre homens e mulheres, tem umas muito boas. Mas esse texto não vai ser pra prestigiá-las.
Até porque embora muitos amores começam com uma amizade, também tem uma boa cota de amizades que não terminaram no amor, para a dor, de quem ficou de fora. O tropo do melhor amigo cujo melhor amigo nunca percebeu o amor, é também muito presente. E eles enquadram a noção de uma amizade entre homem e mulher como um fracasso, e a noção de que aquela amizade é forte é uma faca no peito da pessoa apaixonada, e uma insensibilidade do não apaixonado. E isso é muito forte.
Esse texto é pra prestigiar as obras que de fato saíram da caixinha e nos mostraram que homens e mulheres podem ser amigos, e essa amizade não precisa ser o início de um romance, ou mergulhada em tensão sexual nem nada disso. Que seja só uma amizade em seu estado mais puro. De duas pessoas que se adoram e são parte fundamental um da vida do outro, e sentem um carinho enorme um pelo outro, e não existe motivo para querer elevar isso a um romance.
Pois eu acho que as pessoas precisam acreditar que homens e mulheres podem ser só amigos, e que isso não é um rebaixamento do que poderia ser caso fossem mais que amigos. Isso pode ser o laço mais fantástico da história. E a ficção ajuda o ser humano a acreditar em coisas, a almejar coisas pra si mesmo. Então esse texto é pra comemorar o tipo de amizade mais subestimado e menosprezado que tem, que merece ser mais celebrado.
Eu não faço menções honrosas, considerem todas as duplas que eu estou colocando de exemplo positivo aqui mas que não são parte da lista como as menções honrosas. Porém eu tenho uma Menção Desonrosa aqui antes da lista começar, alguém que eu quero mencionar negativamente
Que é:
Menção Desonrosa:
Star Butterfly e Marco Dias (Star vs the Forces of Evil[Série Animada]):
Ah sim, a propósito: Spoilers das obras citadas, somente dentro da sessão que estou explicando a dupla. Se passar uma obra que você não quer spoilers, só pula o texto até a próxima menção na lista.
Enfim, Star e Marco estariam entre os primeiros colocados como uma das mais fascinantes e genuínas e gostosas de acompanhar amizades da televisão, se não fosse, não vou falar nem da tensão romântica deles, mas deles terem virado um casal tão sem graça no final. Tão não gostoso de se ver, tão distante daquilo que eu prestigiei no meu Top 15 Casais mais Legais da Ficção. Que honestamente, estragaram uma das amizades mais catárticas da televisão só para exemplificar o que eu disse aqui. Que roteiristas não entendem que podem existir amizades entre homens e mulheres sem ter um romance implícito.
No fim Star e Marco serviram de um exemplo trágico para nos lembrar o que podemos perder com essa tendência na cultura pop.
Com essa menção desonrosa fora do caminho, comecemos então o Top 18 Melhores Amizades entre Homem e Mulher da Ficção:
Ah sim, e as regras, é importante, lista precisa de regras, se for sem regras eu nem começo, então vamos lá.
Regra número 1: Sem parentes. Isso não é pra dizer que não podemos ser amigos da nossa família, porque não só podemos, como é ótimo quando acontece, e nem sempre é fácil acontecer. Afinal também devemos ser amigos da pessoa amada. Mas relações familiares tem um pouco da sua própria dinâmica, mesmo que dois irmãos possam ser melhores amigos. Além disso, talvez no futuro eu queira fazer um Top de melhores irmãos da ficção então não vamos gastar os exemplos aqui não.
Regra número 2: Nenhuma dupla que tenha virado casal é elegível pra esse top. Não importa se é uma série em que eles foram amigos por 7 temporadas e aí viraram casal, já era. É justamente para celebrar a ausência desse tipo de desfecho que essa lista existe. Gente que perdeu o triangulo amoroso, e teve que se contentar com amizade também não é elegível. Isso é sobre histórias não-românticas.
Com isso definido, comecemos:
18º Lugar: Bojack Horseman e Diane Nguyen (Bojack Horseman [Série Animada]):
“Caralho Izzombie, duas linhas, demorou literalmente duas linhas pra você quebrar a tua própria regra! Como é possível? O Bojack passa metade da primeira temporada apaixonado pela Diane, e ele beija ela no episódio 8. Esse texto inteiro perdeu completamente sua credibilidade, e a sua palavra não vale nada!”
Sim, sim, Bojack e Diane são uma enorme exceção que eu estou fazendo, pois eles quebram a regra 2 na primeira temporada. E esse é um dos motivos pra esses dois estarem em último na lista. O outro motivo é a relação deles ter alguns elementos tóxicos.
Mas eu quero incluir eles na lista, em especial porque a série Bojack Horseman é, quando olhamos a série inteira, essencialmente a história da amizade entre Bojack e Diane. A série começou no dia em que eles se conheceram. E terminou na última vez que eles se viram. E tudo o que aconteceu nesse meio do caminho foi uma amizade, que nem sempre foi fácil, nem sempre foi saudável, mas muitas vezes era o que o outro precisava.
Bojack e Diane tem muito em comum. Eles são cínicos e pessimistas, cercados de personagens que conseguem tirar conforto e felicidade do mundo de uma maneira que os dois são conseguem. Eles carregam cicatrizes profundas de uma vida familiar infeliz. Os dois são infelizes e se torturam por não saber serem felizes. E eles se entendem. Diane conhece o lado mais sombrio de Bojack, pois ela escreveu a biografia dele. E também Bojack é o único que vê o lado mais sombrio de Diane, pois é alguém que ela pode contar com apoio quando sua vida desaba, como quando ela mente que está no exterior e se esconde de Mr. Peanutbutter.
E um salvou a vida do outro. Não literalmente, mas em dar propósito, e isso começou antes deles se conhecerem, assistir Horsin’ Around era o que dava forças pra Diane enfrentar a vida de merda dela, e ela pensa muito nisso.
Por que os dois tem muitos defeitos, eles muitas vezes na presença um do outro alimentam somente os defeitos um do outro, mas ao mesmo tempo, ele são leais um ao outro, e querem o bem mútuo. E aquela trama romântica na primeira temporada é bobeira, o Bojack tava com a cabeça em outro lugar e eles não deixaram aquela bobeira diminuir a amizade deles.
Mas a amizade chega ao fim. Quando Diane consegue ajeitar a própria vida, e Bojack não, ela percebe que não poderia ter a responsabilidade de salvar a vida dele pra sempre, literalmente dessa vez. Foi quando ela saiu da cidade pra morar com o novo namorado e sua ausência a impediu de impedir um suicídio de Bojack, que ela vê que a toxicidade da co-dependência que eles tinham já não tinha mais espaço na vida dela.
O que não é o mesmo que diminuir os 6 anos em que eles foram melhores amigos, que tanto são seis anos notáveis e significativos na vida desses dois personagens, que fizeram uma série de tv sobre eles, Bojack Horseman, é excelente!!
17º Lugar: Max Rockatansky e Imperator Furiosa (Mad Max – Fury Road[Filme]):
O filme mais relevante da década de 2010. Eu acho esse filme impressionante de tão perfeito, e olha que se tem uma coisa que eu odeio é cena de ação com carro. E esse filme não é nada além de uma enorme cena de ação com 300 carros. Mas ainda sim acho excelente. É um filme que quebrou meus preconceitos e me fez pensar que é pra isso que existe cinema.
Pois bem, um dos vários pontos que me fazer achar esse filme essa coca-cola toda, é a construção do relacionamento entre Max e Furiosa. Que começou hostil e desconfiada, e terminou com Max salvando a vida de Furiosa, e lhe dizendo seu nome. E vemos todas as etapas de transição que esse relacionamento fez.
Max e Furiosa, incapazes de confiar um no outro e cada um com seu próprio objetivo, se veem sem plano melhor a não ser se aliarem para poderem escapar de Imortan Joe. Furiosa, porque ela queria liberar as cinco mulheres que ele estuprava, e Max pois ele queria escapar o destino como bolsa-de-sangue de seus lacaios. Ambos lutavam contra a objetificação do corpo humano, que Joe promovia e buscavam a liberdade de uma terra onde a dureza do deserto em que eles vivem não existia. E acho isso importante. Furiosa lutava por mulheres que era tratadas como propriedade, e Max era tratado como propriedade também as lutas deles eram iguais, mas Max o objetivo final de Max era em si mesmo e o de Furiosa era nas cinco esposas de Joe, além de si mesma.
Um ao lado do outro, reconhecendo a competência alheia. E a cada situação difícil, um é obrigado a ceder um pouco mais de confiança ao outro. E a cada passo, mais fácil é ceder. Eu gosto em particular do momento que Furiosa ensina para Max o código pra pilotar o veículo, e confia nele para guia-lo quando ela desce o sinal.
O laço que se constrói no campo de batalha é um que eu obviamente não tenho conhecimento sobre ele na realidade, mas é um que a ficção explora muito bem. E o que vemos é isso. Quando Furiosa fala que Max é bem-vindo para viajar com elas depois que a parceria não é mais necessária, e quando Max convence Furiosa a retomar a Citadela, são bons momentos em que mais do que uma aliança por necessidade, eles demonstram o quanto se conectaram. Tudo culminando pra cena em que Max, que era forçado a doar sangue contra a própria vontade, escolhe salvar Furiosa doando o próprio sangue. Os dois lutaram juntos como parceiros, e se ajudaram, deram um aos outro o que o outro queria e o que o outro precisava.
E é disso que o cinema precisa.
16º Lugar: Nao Kanzaki e Shinichi Akiyama (Liar Game [Mangá/Dorama]):
Vou começar falando algo que todo mundo sabe. Personalidades opostas, aliás não, mas que opostas, conflituantes. Personalidades conflituantes são o feijão com arroz de uma boa dinâmica de dupla. Dois personagens veem o mundo de maneira diferente, e tem que lutar por um mesmo objetivo, como eles pensam diferentes, eles entram em conflito antes de aprenderem como se trabalha junto.
Isso é o básico da boa interação entre personagens. Agora se isso está bem-feito na história, o passo seguinte é, como essas duas pessoas de visões de mundo opostas incorporam a visão um do outro em si mesmos, e se transformam com base nesse laço que eles formaram, e isso é uma delícia de se assisir.
E isso é essencialmente a alma de Liar Game, mangá adaptado para um dorama, sobre Nao Kanzaki, uma menina incrivelmente ingênua e idealista que é forçada a entrar em um jogo de apostas chamado Liar Game, que tem a intenção de endividar as pessoas ao ponto em que elas precisem se vender pro mercado negro pra pagar essas dívidas. Sabendo que é um jogo de astúcia, enganação e mentiras, ela pede ajuda ao golpista profissional, Shinichi Akiyama, que decide participar do jogo para ajudá-la.
Porém logo Akiyama percebe onde ele amarrou o burro dele. Nao não está contente em vencer o jogo e salvar a própria pele, o que ela quer é salvar todo mundo que está no jogo, pois todos foram caçados por serem vulneráveis. E é essa a base da dupla, Akiyama tem a inteligência, mas Nao tem a empatia necessária para coloca-la em bom uso. E se tem uma coisa que eu adoro ver, é um cínico decidindo que ele vai lutar pro idealista não se desapontar. Pois simpatiza com o idealista.
Mas eu acho isso importante. Apesar de Akiyama ser o estrategista e dos jogos serem de estratégia, é muito claro que Nao é essencial para que eles avancem no jogo, e ela não é a metade menos importante da dupla.
Nao ensinou Akiyama a lutar pelos outros, e a se esforçar para fazer o que é certo pra todo mundo. E Akiyama ensinou a Nao, uma lição que honestamente eu acho subestimada pra cacete. A de que as vezes a gente empatiza com uma pessoa duvidando ela. Se você acredita cegamente em tudo o que a pessoa fala sem prestar atenção nas contradições, você não está levando a pessoa a sério de verdade está? Nem está interessado em conhecê-la de verdade. E essa lição é importante, para Nao viver como a pessoa idealista que ela é, ela não pode fingir que não tem mentira no mundo. Os dois crescem tanto graças um ao outro.
Uma pena que o final de Liar Game é uma porcaria pretenciosa que me broxou completamente o mangá, pois até lá eu estava tirando muita coisa positiva dele.
15º Lugar: Monkey D. Luffy e Nami (One Piece [Anime/Mangá]):
Eu acho meio natural, mas ao mesmo tempo meio injusto como os quatro companheiros que o Luffy trouxe do East Blue, claramente tem uma conexão com o Luffy mais especial do que o pessoal que entrou no bando na Grand Line. Chopper, Robin, Franky, Brook e Jinbei todos tem seus grandes momentos de lealdade e amizade, mas é um fato que Zoro, Nami, Usopp e Sanji são os que tem grandes momentos de amizade mesmo, deles com o Luffy só os dois mostrando como o laço deles e forte.
E não é só porque dos quatro a com a Nami é a única elegível para esse top. É porque eu de fato acho a amizade do Luffy com a Nami particularmente especial. Em especial por conta do quanto eles são opostos. Nami é fraca, Luffy é forte; Nami é covarde, Luffy é corajoso; Nami é inteligente, Luffy é burro; Nami é planejadora, Luffy é impulsivo; Nami é estressada, Luffy é relaxado. Mas Luffy sabe que ele não consegue ir nem até a esquina sem a Nami do lado dele. E apesar dela saber que as coisas que o Luffy propõe são absurdas, ela tem uma confiança clara de que ele consegue.
Pra mim poucas cenas são mais perfeitas, do que quando eles estavam em Drum, Nami doente, de cama, precisando de um médico. Porém a única médica de Drum vivia no topo de uma montanha. E Luffy acorda Nami pra avisar que ele ia amarrá-la nas suas costas e escalar a montanha, a reação de Nami é sorrir e fazer um toca-aqui em seu capitão. Ela confia plenamente que o plano louco dele vai dar certo.
É Nami quem consegue levar Luffy pro olho do furacão em Skypiea quando ele não era capaz de alcançar Enel sozinho. É Nami quem dá suporte pro Luffy na sua luta contra Cracker. Em diversos momentos do mangá, Luffy se viu em uma situação em que somente Nami estava ao seu lado.
Mas o que me fascina mesmo é o quando ela confia em Luffy, e acredita nele. E está em paz quando ele resolve as situações.
E Luffy confia nela de volta, ela é um dos poucos membros do bando pra quem Luffy dá a função de tomar conta do precioso chapéu dele, e é com quem ele mais faz isso. Luffy confia seu maior tesouro da vida nas mãos da Nami em mais um um momento do mangá e isso tem que ser apontado.
Cena recente, dela sendo incapaz de negar que o Luffy será o rei dos piratas é um dos pontos altos da personagem.
14º Lugar: Eleanor Shellstrop e Michael (The Good Place [Série]):
The Good Place é uma série estranha. É sobre essa mulher do Arizona que era uma pessoa nojenta, asquerosa, e egoísta que após a morte aprende a virar uma boa pessoa enquanto é torturada no pós-vida, e após aprender a virar uma boa pessoa, ela aprende a transformar o diabo em uma boa pessoa. Formando o que é com facilidade, a melhor amizade entre zé-ruela do Arizona e literal divindade cósmica da história da televisão americana.
The Good Place é uma série sobre redenção, e sobre como virar uma boa pessoa estando na companhia de boas pessoas. Michael acidentalmente transformou Eleanor em uma boa pessoa, quando a obrigou a interagir com Chidi, Jason e Tahani. E Eleanor transformou Michael em uma boa pessoa obrigando-o a lidar com ela. E aí ele teve que ensinar de propósito ela a virar uma boa pessoa de novo, para dar um bom pós-vida pra a pessoa que ensinou ele a se importar com o próximo.
E a amizade dos dois, a parceria dos dois, fez os dois juntos, mudarem o pós-vida.
Michael lutou muito, muito mesmo, para ir muito além de sua real autoridade no pós-vida, para ver Eleanor e seus amigos felizes, e é gratificante que depois de tudo isso, Eleanor tenha dado um jeito de ajudar a realizar o sonho de Michael, um que ele demorou pra descobrir que ele tinha.
Bons amigos ajudam uma o outro a se conhecer, e os dois se ajudaram a saber quem eles eram e que eles podiam ser a melhor versão de si mesmos.
Ah sim, escrevi um texto no retrasado comparando The Good Place com LOST, recomendo de coração pra quem gosta de qualquer uma das séries.
13º Lugar: Dana Polk e Marty Mikalsky (Cabin in the Woods [Filme]):
Nesse aqui eu vou ser muito breve.
Tem momentos na vida, em que alguém quer te convencer que um amigo seu estar vivo é o desequilíbrio cósmico que vai extinguir a humanidade por conta da ira de Deuses Malignos.
E quando chegou esse momento, em que Dana entendeu que matar Marty era a única maneira de salvar toda humanidade. Ela mandou a humanidade se foder.
E passou seus últimos segundos de vida, dividindo um baseado com Marty enquanto ambos esperavam a ira divina.
Não tenho como colocar o que eu sinto por esses dois em mais palavras. A cena deles abandonando a humanidade um pelo outro, e esperarem juntos pelo fim de tudo, explica tudo o que eu tinha a dizer. Pontos extras que Dana tinha um namorado no filme, que foi morto pelas mesmas pessoas que queriam matar Marty. O cara que ela amava ela perdeu já, mas não vai perder o parça, sem ser levando o planeta com ela. Foda-se.
Que mulher.
12º Lugar: Mary Daisy Dinkle e Max Jerry Horovitz (Mary & Max [Filme Animado]):
Esse daí usa o já apontado recurso da amizade intergeracional. Mas essa não é a única coisa que separa Mary de Max. Um mora em Nova York e a outra mora na Austrália. Lados opostos do mundo.
Mary e Max nunca se encontram pessoalmente ao longo de suas vidas. Mary descobre aleatoriamente o endereço de Max, e decide mandar uma carta pra ele. Ela é uma criança negligenciada pelos pais, que sofre bullying e sem amigos, e manda para o homem obeso com asperger e também sem amigos, uma carta perguntando de onde que os bebês vem nos Estados Unidos. Max resolve responder a carta, e apesar deles serem pessoas muito diferentes, que vivem realidades muito diferentes. A maneira como um compartilhou a vida com o outro mudou a vida dos dois.
Por mais de vinte anos, eles contaram sobre suas vidas, compartilharam experiência, trocaram presentes, deram conselhos, e até mesmo machucaram um ao outro e perdoaram um ao outro, pois isso faz parte da amizade também.
O fim do filme, quando Mary enfim resolve ir pra Nova York conhecer o amigo, e não o encontra vivo, mas descobre que ele guardou e laminou todas as cartas que ela escreveu pra ele. Lindo demais. Duas pessoas que vivem problemas completamente diferentes podem com o poder da empatia formar a mais forte das conexões.
11º Harlan Thrombey e Marta Cabrera (Knives Out [Filme]):
Mais um pra jogar na conta de uma amizade intergeracional. Porém os personagens do filme não exatamente descartam a possibilidade de Harlan e Marta terem sido mais íntimos que amigos, mas nós sabemos que não foram, eles foram meramente excelentes amigos. E essa suspeita dos demais personagens vem justamente do fato de que eles não conseguiam aceitar o quão genuína era a conexão que Harlan tinha com Marta.
Esse conflito é um dos principais conflitos do filme. Harlan era um autor de livros de mistérios muito rico, que estava completamente desconectado de sua família, formado por gente que bebe de sua fortuna e influência e são mesquinhos e fúteis. Harlan passava todo seu tempo de lazer com sua enfermeira Marta, com quem ele desabafava, jogava Go, conversava sobre interesses e via uma conexão real. Por isso ele decidiu que ao escrever seu testamento, ele ia colocar Marta como sua única herdeira para todas suas posses, como maneira de evidenciar o quão separado ele estava de sua família. Quando ele morre, a família, que até o dia anterior mentia sobre como respeitavam Marta, a acusam de dar um golpe nele, de seduzi-lo, de manipulá-lo, de tirar vantagem de vulnerável e até mesmo de ser a assassina dele. Quando a verdade é que Marta era simplesmente uma pessoa que fez Harlan muito feliz com sua companhia e amizade. Ela era sua enfermeira, mas ele precisava de companhia mais do que de cuidados médicos
No começo do filme, a filha de Harlan fala que a única maneira de se conectar com seu pai era achar algum jogo para jogar com ele, e jogar nos termos dele. Isso é contrastado quando vemos Harlan e Marta jogando Go. Harlan fala com desprezo de seu neto Ramson que se perdeu na vida, por ver todos os elementos da vida como um jogo. E fica surpreso com quantas vezes Marta ganha dele, quando ela não joga pra ganhar e sim pra “formar um desenho bonito”. Marta não joga Go nos termos de Harlan. Ela joga o jogo dela e ele joga o jogo dele, e isso faz eles se verem como iguais. Enquanto a filha de Harlan faz tudo nos termos do pai, pois a vida dela gira em torno da influência da vida dele. Harlan viveu cercado de puxa-sacos que queriam emular ele pra serem incluídos por ele, mas Marta queria ser ela mesma e que Harlan fosse ele mesmo, e essa é a base pra conexão que eles fizeram, se verem como iguais, sem por Harlan no pedestal.
E essa igualdade é o centro de uma boa amizade. Ver outra pessoa como seu igual. Relevante especialmente por que esse filme fala muito sobre relações de poder. Para além disso, o detalhe do retrato de Harlan na casa, com uma expressão triste, ter sorrido quando Marta enfim herda a casa, é um bom sinal de que mesmo falecido, algo de Harlan vai continuar com Marta, e vai ser grato de continuar com Marta.
Agora, sério, enquanto eu escrevia esse texto, eu descobri que o ator que interpretava o Harlan faleceu. Quero aproveitar para lembrá-los do excelente ator que foi Christopher Plummer, e da perda enorme que ele é pro cinema. Knives Out é um filme que eu vou lembrar como um dos meus favoritos dele. Filme excelente. Obra-prima.
10º Lugar: Harley Quinn e Green Arrow (Injustice: Gods Among Us [Quadrinho]):
Injustice: Gods Among Us, é um dos meus quadrinhos favoritos, que serve de prelúdio pra um game de mesmo nome, mas eu acho o quadrinho muito mais legal que o game. E um dos fatores que chamou minha atenção logo de cara pro quadrinho era o trabalho excelente que estavam fazendo com a personagem da Harley Quinn tendo que lidar com uma vida pós-morte do Joker. E logo de cara isso veio na forma da relação dela com Oliver “Ollie” Queen, também conhecido como Green Arrow.
Nos quadrinhos, quando Superman mata o Joker, Ollie resolve prender Harley Quinn em sua Flecha-Caverna, para impedi-la de ser executada. E nessa relação de carcereiro e prisioneira, Harley ganhou uma simpatia muito grande por Ollie. Em especial por que ele era carrancudo, sério e não dava corda pras gracinhas dela, mas ele a tratava muito melhor do que ela esperava ser tratada.
Por isso, depois que ela escapa dele e se liberta, ela retorna até ele para fazer uma aliança e derrotar Lobo. Quando ela retorna, Dinah Lance, a namorada de Ollie, percebe que os dois passaram um bom tempo juntos, mas o ciúmes floresce e morre em questão de segundos quando ela percebe qual era a dinâmica dos dois. Quando Superman assassina Green Arrow, é o ponto em que Harley que já desejava se vingar de Superman pelo Joker desde o princípio, oficialmente entra pro time de Batman e faz as pazes com seu inimigo mortal.
E após um pequeno conflito quando ambas estavam de luto, Dinah e Harley se tornaram as melhores das amigas baseadas no quanto elas sentiam falta de Ollie, e na empatia de Harley pela gravidez de Dinah. O que é interessante, pois a Harley de Injustice é pautada em relações muito diversas. O amor romântico doentio e não-saudável que ela sentiu pelo Joker, que ela entende que foi ruim pra ela, mas que ela ainda se sente como se sente. O amor por Dinah repleto de sororidade e de dar um apoio pra Dinah que os heróis homens não dão. E o amor amistoso por Ollie, que ressignificou a vida dela sem o Joker, sem precisar ser um interesse romântico pra isso. Todos esses amores coexistem e fazem dela quem ela é.
A amizade entre Harley Quinn e Green Arrow é frequentemente ilustrada pela piada recorrente de que Harley acha Flecha-Caverna um nome bobo. Ela acha que a base secreta do Green Arrow tinha que se chamar A Aljava. O que Ollie concorda ser um nome melhor. Quando Harley conta pra Dinah sua ideia de nome, Dinah aprecia que é um nome melhor.
E quando Ollie morre, Harley se muda pra a Aljava, agora devidamente renomeada.
E quando o Ollie da outra dimensão se muda definitivamente pra dimensão de Injustice, podemos ver o quão felizes ala fica de tê-los de volta. É engraçado, pois antes dos conflitos do quadrinho estourar, o casal Ollie e Dinah andava muito com o Hal Jordan, que odiava segurar a vela deles. Eles acabam brigando com Hal por conta do conflito principal, e agora o casal completo é muito amigo de Harley que adora segurar a vela deles.
Essa parceria de Harley com Dinah é importante justamente pra frisar como não tinha um romance sendo desencadeado. Harley e Dinah não eram rivais no amor, elas adoravam a companhia do mesmo cara, mas em escalas diferentes, ela era o melhor amigo de Harley e a pessoa por quem ela mais tinha carinho pós-morte do Joker, mas ela não era uma ameaça pra Dinah e ela notava isso.
O momento que ela faz Ollie rir com um bigode falso é simplesmente mágico.
9º Lugar: Toph Bei Fong e Avatar Aang (Avatar: The Last Airbender [Série Animada]):
SUBESTIMADÍSSIMA ESSA DUPLA!
Aang e Toph formaram um laço magnífico, e a pureza dessa amizade nunca foi devidamente apreciada por gente que ficou colocando todo seu foco e atenção pra “em quem a Katara vai dar uns beijo?”
Pois bem, Toph fugiu de uma casa, onde ela era infeliz pois seus pais forçavam ela a ser uma pessoa que ela não era, e se libertou na companhia de Aang. Ali ela teve uma rivalidade forte com Katara, um flerte amistoso com o Sokka que eu shippei muito até perceber que não ia dar em nada. E Aang, ela treinou, ensinou ele a dobrar terra.
Porém em Avatar, dobrar um elemento é mais que um super poder, é uma arte marcial, e como as artes marciais, é uma filosofia, uma maneira de ver o mundo e interagir com o mundo, que é parte de tudo o que você faz, não algo que você ativa quando vai brigar.
E a dobra de terra de Toph era diferente da dos dobradoras de terra normais, isso pois ela é autodidata e também porque ela vê o mundo diferente das outras pessoas. Literalmente. Ela é cega, e usa dobra de terra pra “ver” com base nas vibrações do solo. Então quando ela ensina pra Aang a sua própria dobra de terra, o que ela ensina pra Aang é a sua maneira particular de ver e lidar com o mundo que só ela tem.
E é esse conhecimento que salva a vida do Aang em sua luta final, uma luta que ele teria perdido se tivesse aprendido a dobra de terra tradicional.
Aang tocou o coração de Toph com sua aceitação, empatia e admiração pela pessoa forte e indomável que ela era, e as palavras de Aang deram força pra Toph se rebelar e ir viajar com ele. E em troca, Toph ensinou Aang a evoluir no caminho que ele precisava. E isso foi lindo.
Mas sabe o que foi lindo mesmo? Foi ver Toph sorrindo ao encontrar Korra de novo, chamá-la de “Dedos Leves”, que era o apelido que ela deu pra Aang, e treinar Korra. Sabe por quê? Porque quando eu vi esse (re)encontro entre Toph e Korra, eu só consegui lembrar de como Roku explicou pra Aang que quando ele foi aprender a dobrar o ar, o melhor amigo que ele fez naquele tempo era um homem chamado Gyatsu. E Aang reconhece que Gyatsu foi o seu mestre, que também foi seu amigo e a pessoa que ele mais amou no templo. E Roku explica que isso faz sentido, pois as maiores amizades, são as que superam as encarnações.
E o carinho de Toph por Aang ultrapassou o tempo de vida de Aang e continuou ali com Korra.
8º Lugar: Leslie Knope e Ron Swanson (Parks and Recreations [Série]):
Eu apontei nesse top, mais de um exemplo de personagens com personalidades diferentes, perspectivas diferentes e visões opostas de mundo. Mas Leslie e Ron são um caso em particular. Eles têm perspectivas de mundo não só opostas, mas explicitamente antagônicas.
Leslie é uma funcionária pública, que tem muito orgulho de seu trabalho cuidando do departamento de parques da sua cidade. Leslie acredita em governo, em estar ali servindo a comunidade, e aceita todas as inconveniências que vem com fazer o governo acontecer. Ron por outro lado é um libertário, a favor do estado mínimo que acredita de coração que o departamento que ele coordena não deveria existir, e que faz da sua missão de vida não permitir que nada ali seja feito.
Os dois foram feitos para serem uma eterna pedra um no sapato do outro. E talvez seja por isso mesmo, que eles bateram tão bem. Eles trabalham juntos e tem que lidar um com o outro, e por quê o que eles querem que o trabalho seja, são coisas opostas, eles precisam se entender, eles precisam conhecer um ao outro pra fazer funcionar.
E não tem ninguém em Pawnee que entende Leslie como Ron entende. E nem quem entenda Ron como Leslie entenda. Eles são tão incompatíveis que tiveram que por muita energia pra serem funcionais, e essa energia virou uma amizade digna de nota.
Embora seja justo falar que eles não são somente discordância, eles tem um ponto comum em que eles concordam, que é a paixão deles por comida de café da manhã, a grande atividade que eles dividem um com o outro.
7º Lugar: Lake e Jesse Cosay (Infinity Train [Série Animada]):
Não é fácil ser a si mesmo, quando todo mundo quer que você seja outra coisa. E se no mundo fantástico da ficção, ou na constituição retrógrada do seu país, ser você mesmo for um literal crime, aí um assunto que já é um inferno somente piora. E nessas horas, o que faz toda a diferença do mundo é empatia e ter um amigo que te vê exatamente como você quer ser visto.
A segunda temporada de Infinity Train acompanha a jornada de Lake para ser considerada sua própria pessoa. Sendo originalmente o reflexo de uma garota chamada Tulip que se rebelou contra as regras de ser um reflexo e de passar o resto da vida vivendo a vida de Tulip, ela saiu do espelho e tentou viver a própria. Perseguida pela polícia-dos-espelhos que queriam colocar ela de volta do lado onde ela pertence.
Quando ela encontra Jessie, a princípio eles não exatamente se dão bem, porém eles fazem amizade com um veado chamado Alan Dracula, e começam a andar juntos. Lake decide que ela quer ajudar Jessie a resolver seus problemas pessoais, para se livrar dele, fazendo-o desembarcar do trem mágico onde ela mora. Porém quando ele está chegando quase lá, Jessie confessa querer levar Lake consigo fora do trem, para ela nunca mais ser perseguida ou discriminada.
Porém sair do trem é um privilégio das pessoas de verdade, e Lake luta para que o trem reconheça que Lake é o que ela afirma ser, uma pessoa. E Jessie luta ao lado dela, pela sua amiga. O trem tem funções muito designadas, as criações do trem devem ajudar os passageiros. Mas Jessie e Lake ajudaram um ao outro independente das regras, eles não seguiram seu roteiro, pois eles queriam estar juntos.
Chegando ao ponto em que os dois saem do trem, e Jessie apresenta sua amiga ao seu irmãozinho, e Lake, se vendo livre da perseguição que ela sofria, finalmente dá um nome pra si mesma, e portanto dá pra Jessie algo do que chama-la (eu estou chamando ela de Lake o tempo inteiro, mas ela não havia se dado esse nome quando conheceu Jessie).
Esses dois vão ser amigos pra sempre.
6º Lugar: Marlin e Dory (Finding Nemo [Filme Animado]):
Eu tava na dúvida se eu ia dar essa posição para Marlin e Dory, Vanellope e Ralph ou Judy e Nick. Porque a verdade é que isso é algo que a Disney-Pixar tem aprendido a fazer de uns 20 anos pra cá, e feito bem. Que é essencialmente o buddy-cop movie, sem a polícia. Digo, em Zootopia tem a polícia, e isso meio que explica por que não foi Zootopia o escolhido.
Mas em resumo duas pessoas forçadas a fazer uma jornada lado a lado, que se conectam por conta da jornada. E no fim da jornada, o tesouro foi a amizade que eles fizeram o tempo todo. Só que a maioria desses filmes é isso mesmo, mas com personagens de mesmo gênero.
E de vez em quando vem um caso de homem e mulher. E escolhi Marlin e Dory na tentativa de minimizar redundâncias, pois eles vieram antes, e também, porque eu acho que a conexão dos dois veio de uma maneira interessante. Mais que alguém com quem se conectar, Dory era uma segunda chance para Marlin, se entender os limites entre proteger alguém que não é capaz de se proteger, e ser superprotetor em excesso.
Marlin perdeu seu filho, após uma briga em que ele projetou o seu medo do oceano nele. E agora tendo que resgatar seu filho Nemo, ele encontra Dory, uma peixe tonta, ingênua, infantilizada e que tem problemas de memória. Marlin depende de Dory para achar Nemo, pois ela sabe ler, mas tendo que lidar com alguém tão pronta pra fazer merda, faz Marlin repensar sua relação com Nemo.
Dory tinha problemas também, com um suposto abandono familiar (que depois foi retconado no segundo filme, que é meia-boca, pra não ter sido abandono), e de todo mundo desistir dela, pois ela é uma pessoa difícil. Marlin tem que aprender a confiar em Dory, e entender que as vezes ele não vai saber o que é o mais seguro. E por ter alguém confiando nela, Dory percebe que ela vai gradativamente lembrando das coisas que ela vive com Marlin, pelo peso emocional que ele tem na vida dela.
O final, de Dory indo deixar Nemo na escola junto com Marlin, mostrando que depois que a jornada acabou e Nemo foi resgatado, eles continuaram sendo parte da vida do outro, é bom demais.
5º Lugar: Donald Draper e Peggy Olson (Mad Men [Série]):
No primeiro episódio de Mad Men, somos introduzidos aos seus dois personagens mais importantes. Don Draper é um publicitário de sucesso, que também é um homem sedutor com várias amantes além de uma esposa. E Peggy é a secretária insegura em seu primeiro dia no emprego, sendo apresentada ao seu chefe.
O que vemos desse ponto em diante, é o desenvolvimento da relação dos dois conforme Peggy, começa a crescer em uma carreira dominada por homens nos anos 1960, e como isso vai afetando a relação dela com Don, que simpatiza com Peggy, e é quem dá o primeiro empurrão para ela ser promovida de secretária a publicitária. Don se identifica com Peggy, e a toma como protegida para que ela vire uma publicitária igual a ele.
Don Draper é um homem de contradições. Uma delas é que ele é um grande símbolo do poder patriarcal e conservados dos anos 50 que são a base do seu poder. Mas ele também sente uma estranha atração pelas forças que surgem nos anos 60 pra questionar essas estruturas. E sua relação com Peggy representa essa dualidade.
Igualdade. Eu toquei nessa palavra lá atrás falando do Harlan e da Marta, mas aqui ela é fundamental. Peggy é uma mulher que não se seduz pelo charme de Don, mas que deseja ser igual a ele, e com o passar da série eles vão se tornando iguais, colegas de trabalho com um respeito mútuo pelo trabalho alheio. Agora, Peggy é uma protegida de Don que aprendeu muito do seu trabalho com ele, e a série aborda a necessidade de quebrar esse laço para atingir a real igualdade com Don.
Mas eu reforço: Don seja claramente uma reprodução de muitas atitudes machistas de sua época, em especial em relação a sexo, ele apesar disso, não se vê intimidado de ver Peggy crescer em seu espaço de trabalho, pelo contrário, ele muitas vezes deu força para Peggy quando ela mais precisou.
Por exemplo, quando ele deu apoio pra ela quando ela deu a luz em segredo. Ele esteve lá por ela, ajudou ela a guardar o segredo e não permitiu que isso afetasse a vida profissional dela. Eventualmente eles param de trabalhar juntos e se tornam rivais, o que só cementa o que eu disse, a relação deles se torna uma de iguais. E para além do respeito profissional, eles sempre serão bons ouvintes e conselheiros e apoio para quando suas vidas pessoais não estão dando certo.
E isso nunca ter entrado no ponto da tensão sexual é importante, especialmente porque o Draper já dormiu com mais mulheres do que esse texto tem caracteres. Com graus de afeto diferentes dependendo da mulher, mas enfim, não é difícil pra ele ver uma mulher como um grande par de pernas pra ele abrir, mas ele nunca faz isso com Peggy, e isso torna ela uma mulher diferente de todas as que frequentam o mundo dele.
4º Lugar: Kaiman e Nikaido (Dorohedoro [Anime/Mangá]):
Dorohedoro é um mangá maravilhoso. Porque o mangá começa e você não tá entendendo nada. Tem gente com cabeça de lagarto, tem gente com um homem dentro da própria boca. Tem gente que solta fumaça do dedo pra fazer magia. Tem duas dimensões estranhas. Tem uma estética bizarra. E você não sabe direito quem é bom e quem é mau, pois tudo em tons de cinza.
Mas o que você entende rápido é que o cara com cabeça de lagarto chama Kaiman. A menina com ele chama Nikaido. E eles são 100% parceiros! Ela está ajudando ele a achar a pessoa que o transformou em cabeça-de-lagarto e recuperar suas memórias, e ela cozinha uns gyoza no restaurante dela, e ele adora gyoza. E eles se dão muito bem.
E ao longo do mangá o que vemos? A amizade deles ser testada de todo tipo de jeito, Eles se separam, Kaiman descobre que ela usa magia, e ele odeia quem usa magia. Ela descobre a identidade real de Kaiman, um cara sombrio e mal-intencionado. Ela é obrigada a trabalhar pra uma máfia. Mas eles sempre se reencontram e mostram que não importa o que eles descubram um sobre o outro, ou o quanto eles se transformem em suas experiências, o que nunca muda é: eles são os melhores amigos do mundo.
E isso vai desde quando eles se conheceram. Kaiman sem memórias, e Nikaido tendo fugido pro Hole onde ela jurou nunca usar magia. Os dois precisavam de real acolhimento quando se conheceram e conseguiram isso um no outro. E conseguem isso até hoje. Não importa o quão bizarra a situação fique…. e em Dorohedoro as coisas ficam bizarras, eles podem contar um com o outro.
Tem uma graça, que no fim de cada volume de Dorohedoro, a autora escrevia um resumo do que aconteceu no volume, escrevendo “o que aprendemos hoje?”, e respondia alguns plot points “fulano não morreu de verdade”, “cicrano vem de tal lugar” ou “beltrano trabalha pra alguém”. Mas no último volume o que a gente aprendeu é que “Nikaido e Caiman vão ser os melhores amigos pra sempre.”
Pois é isso, não é só a gente testemunhar o quanto eles se apoiam nas horas difíceis, ou o quanto eles se divertem junto, é que a gente viu tudo o que podia acontecer na jornada pra fazê-los desistir um do outro, mas eles nunca vão. Não tem revelação ou verdade que venha a tona que vá matar a amizade desses dois. E por ter passado em todos os testes e ter terminado o mangá com o astral positivo que eles estão altíssimos nesse ranking. E merecem.
3º Lugar: Denji e Power (Chainsawman [Mangá]):
Quando eu tava no comecinho de Chainsawman, e vi que o protagonista ia fazer qualquer tipo de merda só pra poder pegar nos peitos de uma mulher, eu revirei os olhos e deduzi que o mangá não ia ter maturidade pra tratar relações entre humanas e ia ser só uma grande punheta pra otaku que gosta de sexo e de coisa edgy.
Eu tava errado. Chainsawman acertou bem a mão nesse tema. E curiosamente foi justamente com a mulher em cujos peitos Denji quis pegar: Power. Ele quase morreu pra um morcego gigante só pra poder pegar nos peitos da Power….
…e ele pegou.
…e ele achou que não valeu o hype, pois ele não estava apaixonado pela Power.
E desse ponto em diante ele desencanou de querer ter qualquer contato sexual com a Power, mas eles seguiram morando juntos, trabalhando juntos, e dividindo uma vida. E para Denji que estava carente de relações humanas e pra Power que estava aprendendo a formar elas ainda. Tudo o que eles precisavam era um do outro.
Esses dois juntos com Aki viraram muito mais que amigos ou que colegas-de-quarto. Viraram família. Praticamente irmãos. O mangá usou muito simbolismo de irmãos com os dois, em especial para ilustrar a dor que foi pra Denji perdê-los.
A cena em que Power fragilizada e traumatizada de ter encontrado o Diabo das Trevas, pede pra Denji dar banho nela, e Denji o faz, e começa a refletir na completa falta de apelo sexual que ver uma mulher assustada e fragilizada tem, é algo que devia ser mais martelado. Vulnerabilidade não é sensual.
Mas mesmo assim, Denji não desgrudou dela até ela estar bem de novo, priorizando cuidar dela a ficar com uma mulher por quem essa sim, Denji estava completamente atraído e via muito apelo sexual.
Quando Power trai seus instintos maiores, de traição e submissão à Makima e se mantém leal ao Denji até o fim, pois o Denji é o “parceiro” dela, é maravilhoso.
E quando ela consegue colocar Denji a salvo. Porra, olha esse abraço, esses dois se adoram.
Inclusive um ponto interessante a se fazer sobre Chainsawman, é que a Makima era muito perceptiva quanto ao que acontece. Mas ela nunca foi capaz de entender o tamanho da conexão entre Power, Denji e Aki, e em vários momentos ela se surpreende de ver a lealdade que eles tem um ao outro que ela não esperava. E isso é diretamente relacionado com o fato de que Makima nunca conseguiu formar laços familiares, e isso é algo que ela queria ter tido e não teve.
2º Lugar: Miyuki Shirogane e Ai Hayasaka (Kaguya-Sama: Love is War [Anime/Mangá]):
A posição alta na verdade é pelo conjunto da obra do mangá Kaguya-Sama: Love is War, que contém não só um, nem só dois, mas vários, vários, vários exemplos excelentes de amizades entre homens e mulheres que não caem no romance.
A do Shirogane com a Hayasaka sequer é minha favorita. Minha favorita é a da Maki com o Shirogane e o Ishigami, que inclusive, é a imagem desse texto por isso. Pois eu de fato amo o laço da Maki com esses dois.
Mas além dessa temos Kaguya e Ishigami e Shirogane e Iino que são amizades muito boas, e saem muitos capítulos excelente delas, sem nunca cair no romance. O que é notável justamente pelo mangá ser uma comédia romântica, mas não querer fazer esse harém de várias meninas disputando o mesmo cara.
O mangá é bem bom em não cair em armadilha de seu gênero.
Enfim, resolvi selecionar Shirogane e Hayasaka, pois eles foram a amizade que o mangá de fato mais trabalhou, com mais de um arco sendo dedicados pra explorar a relação dos dois.
Recapitulando, Hayasaka era a empregada, assistente pessoal, e quase-escrava de Kaguya Shinomiya, e seu trabalho consistia em fazer tudo o que uma adolescente insegura surtando por romance queria que ela fizesse. E um dia Kaguya descobrindo que seu crush, Shirogane, ia em um rolê com os amigos com o objetivo de flertar com garotas, ordena que Hayasaka se infiltre no rolê e traga informações do que ele fez e não fez.
Hayasaka então vai no mesmo rolê, sob um nome falso, e troca bastante ideia com Shirogane, especialmente na forma de desabafo. Eles passam a noite conversando sobre o que significa ser você mesmo quando você tem que interpretar papéis para agradar os outros. E vão no karaokê, e Hayasaka descobre que Shirogane canta mal demais.
No fim do rolê eles trocam números, e quando Kaguya descobre que Hayasaka tem trocado ideia com o crush dela em segredo, ela fica puta. O que termina em uma batalha de rap, em que Shirogane ensina Hayasaka a importância de não viver sempre com uma máscara, e Hayasaka joga na cara de Kaguya que depois dos vários sacrifícios que ela fez por Kaguya o mínimo que ela fazia era deixar ela ter um amigo.
Claro, que Hayasaka ainda não tinha exatamente desfeito a sua falsa identidade nesse momento, então Shirogane ainda não sabia quem ela realmente era. O que ele descobre quando os inimigos de Kaguya tentam sequestrar Hayasaka em um jogo de poder, e ela percebe que Shirogane era um amigo com quem ela podia contar.
Com a verdade vindo a tona, Hayasaka pede Shirogane em amizade novamente, sem mentiras, e ele aceita, no dia de São Valentino justamente, reforçando a importância da data de celebrar entes queridos e não namoros somente.
Toda a história da Hayasaka tem sido sobre esse tipo de laço, embora ela seja insegura pela falta de romance em sua vida. Ela tem a amizade dela com Shirogane, pautada em mostrar quem ela é. Tem a amizade dela com Kaguya que precisou remover a hierarquia da relação mestre-servo delas para poder ser uma amizade saudável. E tem a amizade dela com as duas meninas que sempre andam com com ela, que era sobre Hayasaka entender que ela podia estar só em um personagem, mas os sentimentos das meninas ao redor dela eram sinceros.
E acho legal frisar que mais do que só falar “eles não tinham intensões românticas” ou “a amizade deles não foi um obstáculo pra Kaguya”, é notável que Hayasaka realmente queria que os dois ficassem juntos e já usou sua posição de alguém que conhece os dois para tentar ajudar o casal a decolar.
E é isso. Agora falta só o primeiro lugar.
E a melhor amizade homem-mulher que a ficção já escreveu é….
1º Lugar: Son Goku e Bulma (Dragon Ball [Anime/Mangá]):
Um dia, muito tempo atrás, uma adolescente chamada Bulma saiu em uma jornada para pedir um namorado para um Dragão Mágico e topou com um moleque não-civilizado e estranho. E ela resolveu viajar com ele pra usá-lo de guarda-costas, pois ele era forte.
35 anos depois, ela está puta que ele parou de visitá-la, e o filho adolescente dela é o melhor amigo do filho adolescente dele.
Goku e Bulma se encontraram por acidente, e o encontro deles foi o primeiro dominó de um efeito dominó bem longo que terminou com Goku salvando o mundo inúmeras vezes. Nos dois encontrando romance com outras pessoas, formando famílias, amadurecendo, indo pro espaço, morrendo, revivendo, e não importa o que acontece, o que não muda, é: eles ainda são amigos.
Eu acho que um dos elementos mais fortes de Dragon Ball que fazem o mangá funcionar, é que os personagens são são conectados por serem todos da mesma organização, ou por serem todos escolhidos por alguma força sobrenatural, ou porque algum elemento externo os forçou a ser um time. Eles só são amigos. Uma turma de amigos que se reúne pra uns churrascos e bingo na Corporação Cápsula, e que consiste em turma, maridos e esposas de membros da turma, colegas de escola de membros da turma, ex-inimigos e etc. É só uma grande turma de amigos. E no centro dela está Goku e Bulma, que foram os dois que começaram tudo.
Existe um mito de que quanto mais Dragon Ball avança, mais irrelevante a Bulma se torna e esse mito, como muitos outros mitos sobre Dragon Ball, simplesmente não é verdade. Tá, ela nunca foi uma guerreira, seu papel sempre foi o de ser uma cientista e uma enxerida. E ela segue no time de suporte por muito tempo. Descobriu a viagem espacial, foi pro espaço, inventou a viagem no tempo, inventou o remoto pra desativar os androides. Não importa o quanto a escala avance, a Bulma nunca sai do time de personagens que fazem a diferença.
Isso é, exceto na Saga Boo, onde ela não se envolve em nada, mas ela passa metade da saga morta, aí tem que dar uma colher de chá.
Com o passar do tempo muitos reboots, remakes, e continuações serão feitos tentando pegar cada centavo da franquia que eles conseguirem, mas uma coisa eu tenho certeza. Goku e Bulma nunca serão mais do que excelentes amigos, e Goku e Bulma nunca não farão parte um da vida do outro.
E é essa longevidade do mangá ter mostrado três décadas e meia da relação deles seguindo como a força que mantém a humanidade viva, que pra mim simplesmente não tem comparação. É disso que o mundo precisa, de mais gente querendo contar histórias de laços como é o laço que Goku divide com Bulma.
E a lista foi essa. E se você olhar bem na internet, vai ver que todos os pares que eu citei são ships em alguma área da internet. O que é normal, tiveram uns que eu não coloquei, pois aí eu shippo e eu escolho não ver como só amizade. E esse fenômeno do qual eu não estou acima, nos força a sempre cogitar se para um homem e uma mulher, não é mera questão de tempo até sair uns beijo.
Existem algumas histórias que terminam com a mensagem de que “Você nunca encontrou o amor ideal, mas você encontrou os amigos ideais, o que é ainda mais valioso” o que é uma excelente moral inclusive, mas geralmente ela vem acompanhada de amigos do mesmo sexo.
O que soa como uma troca. Especialmente se o casal que não tiver vingado for um casal hétero. “Você não achou o homem perfeito (namorado), mas está cercada das mulheres perfeitas (amigas)”. E isso reforça a ideia de que as pessoas têm um tipo de relacionamento com homens e outro tipo de relacionamento com mulheres, porque em um desses dois deve estar uma atração sexual.
Acho bom quebrar esse binarismo, pois atração sexual, atração romântica e orientações, de fato muitas pessoas gostam mais de um gênero do que outras (embora tenham muitas que gostem de todos os mais-do-que-2 gêneros), mas essas coisas não são o filtro que define as relações humanas. Tem várias maneiras de se interagir com uma pessoa sem colocar a pergunta “mas vai rolar sexo?” na frente de tudo.
E como a ficção ainda é muito heteronormativa, isso ainda precisa ser martelado mostrando que, um homem hétero e uma mulher hétero podem ser grandes amigos, tanto quanto dois homens gays podem ser grandes amigos. Pois a amizade não é algo que você faz somente com quem não pegaria.
E eu acho importante, pois amizade é um sentimento que as vezes a gente esquece de valorizar. E é um sentimento democrático, qualquer pessoa pode ser amiga de qualquer pessoa, e de quantas pessoas quiserem. Não existe limite pra amizade.
Nem todo mundo pode ser um casal. As vezes por motivos éticos, as vezes por motivos legais (que dependendo do país não tem nada a ver com questão ética), as vezes por razões práticas… mas duas pessoas sempre podem ser amigas. Não importa idade, não importa gênero, não importa hierarquia, não importa cultura, país, e entrando no território da ficção não importa nem espécie, planeta ou dimensão. Não importa nada, duas pessoas sempre podem ser amigas. Não existem regras.
Então esses truques que eu citei no começo texto. Da amizade intergeracional, da amizade entre irmãos, do amigo gay, da menina que é amiga do melhor amigo do namorado. Tudo isso é sim truque pra remover a hipótese de romance na dupla, mas nada disso deslegitima a amizade. Pois a amizade é um sentimento poderoso que floresce de qualquer lugar e pode ser em qualquer uma dessas circunstâncias um sentimento que muda o mundo. Pois uma amizade pode mudar os rumos da história.
E vocês? Quais as amizades entre homem e mulher que vocês acham particularmente bem escritas? A minha lista é limitada pelo meu repertório, tenho certeza de que vários leitores tem bons exemplos que eu não conheço.
Um feliz Valentine’s Day pra todos! Em especial pra todos meus amigos. Dedico esse texto a todos meus amigos. E eu não vou desejar isso em lugar nenhum mais, então meus amigos que não leem meu blog que se lasquem. E desejo um feliz Valentine’s Day pra vocês, meus leitores, porque vocês me dão muita força, e motivação, de verdade, e eu aprecio que vocês leiam, comentem e divulguem o blog. Aprecio de coraação.