Por que Toy Story 4 é um filme necessário.

P

Olá, faz tempo que eu não escrevo. Sempre depois de uma ausência longa eu venho aqui e me desculpo por ela, mas essa é especial, geralmente minhas ausências são por motivos que me impediram de escrever um texto novo por um tempo. Dessa vez, minha incapacidade de ser funcional na internet fez eu perder meu acesso ao blog e demorar 2 meses pra conseguir efetivamente recuperar minha senha? E porque eu estou contando meus defeitos logo no começo de um texto? Eu devia fingir que sou foda pra ver se ganho público? Pois o resultado disso, é que agora eu vou publicar uma série de textos que perderam completamente seu timing, e deviam ter saído dois meses atras. Eu sempre que possível gosto de aproveitar o zetgeist pros meus textos, mas aqui vai vir uma série de opiniões atrasadas sobre filmes que não estamos mais comentando. A começar pelo primeiro deles: Toy Story 4.

Sabem um fenômeno que eu acho fascinante no cinema? É como a base atual de Hollywood é investimento em franquias. E basicamente um blockbuster que não gere continuações é algo em que a indústria americana de cinema não tem interesse nenhum. Mas apesar de amarem franquias, eles parecem ter vergonha de ser franquias.

E eu noto isso, principalmente pela vergonha de numerar seus filmes depois de certo ponto. Então já notou como a série de Jurassic Park se chama: Jurassic Park, Lost World: Jurassic Park, Jurassic Park III e Jurassic World. No segundo filme eles colocaram um subtítulo para enfatizar que era uma sequência, no terceiro colocaram um número para ordenarmos melhor, e no quarto bateu uma vergonha de estar requentando a franquia pela quarta vez, e fizeram um título que não remeta associação aos dois anteriores, um reboot do primeiro título.

Vamos tentar de novo. Alien, Aliens, Alien 3, Alien: Ressurection…. de novo um título no plural indicava a sequencia direta, depois um número, mas no quarto eles voltaram atrás no número. First Blood, Rambo First Blood Part II, Rambo III, Rambo, Rambo: Last Blood, na quarta parte eles fugiram dos números,

A franquia Final Destination é um exemplo interessante, vejam só, temos Final Destination, Final Destination 2, Final Destination 3, The Final Destination e Final Destination 5. Eles ativamente pularam só o número 4.

E não nos esqueçamos de Shrek, Shrek 2, Shrek the Third e Shrek Forever After. Pois é. Os filmes hoje em dia já estão tão na dianteira que eles já não numeram nem o número 2, e marcam a franquia todas por subtítulo. O MCU só numerou as sequências de Iron Man e de Guardians of the Galaxy, o resto é tudo subtítulo. Isso é boa publicidade.

Afinal, um filme com 4 no nome não parece épico. Um filme com 4 no nome parece…. não sério. Parece overkill. Trilogias são populares pois trilogias são o número perfeito para sentirmos que vimos esses personagens na quantidade exata. E mesmo as grandes trilogias sempre tem quem fale “ah, mas o terceiro é uma bosta.”

O ponto é esse. Nenhum filme com 4 no nome soa sério. Eles soam galhofentos, exagerados, uma extensão desnecessária do caminho correto, e fazer o quarto filme de uma franquia soa como uma linha que depois que você cruzou você liberou o foda-se. Portanto quanto sua franquia já tem três filmes, suas soluções são:

-Abrir caminho pra galhofa e tacar o foda-se.

-Fazer uma nova trilogia com os mesmos personagens, mas outra unidade temática conectando.

-Tentar desconectar o filme das sequências o máximo possível e linkar só ao primeiro filme.

-Spin Off.

-Fazer um filme excelente para ninguém ter coragem de criticar. Ok, aqui já é eu sendo fanboy, mas eu não ia ficar sem mencionar o melhor “quarto filme” da história do cinema.

Enfim, o texto é pra falar sobre o segundo melhor quarto filme, paremos de enrolar com o prólogo.

Quando foi anunciado que teria um Toy Story 4. Todo mundo pensou a mesma coisa: “pra quê? Se a história fechou no 3.” A Pixar, outrora já foi um estúdio de animação cujo nome remetia a ideias como perfeccionismo, autoralidade e essencialmente, se destacar por seus roteiros bem feitos e boa narrativa no campo dos filmes animados, marcando um contraste forte com a Disney e a Dresmworks que pareciam muito mais presas em fórmulas…. mas os três seguem fórmulas precisas e eu já falei disso aqui. A Pixar de uns tempos pra cá tem parecido ser cada vez mais gananciosa e corrompida, liberando sequências medianas de seus filmes excelentes e parecendo querer entrar com tudo na brincadeira das franquias.

Cars 2, Cars 3, Monsters University, Finding Dory, ninguém queria isso. E aí eles metem que nem mesmo a menina dos olhos do estúdio estava livre, Toy Story, depois de finalizar a trilogia com um final não só comovente como conclusivo e um dos melhores filmes do estúdio, vai ter uma nova aventura do Woody tirada do cu. Todo mundo estava cético e com razão.

A palavra na boca de todo mundo esperando pra ser dita era: “Desnecessário.” todo mundo está com ela pronta pra ser pronunciada, e a maioria pronunciou. Mas eu, pelo contrário, saindo da sessão a palavra que eu achei que mais resumia o filme era: “Necessário.”

Não é ótimo. É só bom. E se eu for ser honesto é o pior Toy Stoy, mas é um filme que eu sinto que a franquia precisava, e que eu não notava o quanto a franquia estava incompleta, pois eu nunca tinha olhado para um fato gritante. Olha-se muito pro arco de personagem dos personagens da franquia, mas em Toy Story o tema do envelhecimento do Andy é tão forte, que a gente nem percebe o arco de personagem do Woody.

Ou melhor a ausência dele.

Então bem-vindos a esse texto sobre como o Woody realmente precisava de Toy Story 4, para seu personagem poder fechar um arco.

Vamos começar no primeiro filme.

Woody era o boneco preferido do Andy. Ele era marcado por ser o único brinquedo do quarto do Andy a ter o nome do Andy escrito na sola de sua bota. Antes de banalizar. Por ser o favorito ele era o líder dos brinquedos, e organizava toda a rotina do quarto para otimizar as brincadeiras, e proteger os brinquedos. Ele era querido e popular entre os outros brinquedos, e desfrutava de sua posição.

De certa forma, a posição que ele desfrutava na presença e na ausência do Andy era a mesmas. Ele era o centro das atenções, respeitado e amado, e se sentia muito confortável com isso.

Ambas essas posições foram perdidas no exato instante em que Buzz Lightyear chegou no quarto de Andy. O boneco moderno com várias funções contrastavam o boneco simples de pano que falava quando se puxava uma cordinha. O tema moderno da aventura espacial contrastava o boneco inspirado em um programa de televisão que é 40 anos mais velho que o Andy. Tudo no Buzz era novo e diferente. Ele se tornou o novo brinquedo preferido do Andy. O Woody parou de ser o herói das brincadeiras e se tornou aquele que era derrotado. O Woody que dormia na cama do Andy agora dorme com todos os outros brinquedos… no baú.

E ele odiou isso. Woody perdendo seu espaço, e tendo que ser só mais um brinquedo, foi tomado pela inveja. Não era só o Andy, o Buzz era popular entre os outros brinquedos e começou a alterar a rotina deles. O que foi simbolizado pela namorada de Woody, Bo Peep, que escolheu Buzz pra ser seu parceiro de mudança. Impressionada pelo astronauta.

Aliás, ela super chama o Buzz de parceiro de mudança no Quarto Filme, reforçando essa conexão entre eles. Mas o Buzz e o Woody se mudaram juntos na caixa no carro da mãe do Andy e não no caminhão…. A Bo Beep super se mudou sem o parceiro dela e isso não é legal. Será que eles se mudaram de casa de novo depois?

Não importa. O importante é que Woody jogou Buzz pela janela em um acidente intencional, e nesse momento o caráter de Woody ficou visível para os outros brinquedos que o abandonaram. Woody então percebe que só vai ganhar seu espaço de liderança e respeito de novo quando ele trouxer o Buzz de volta. Os dois embarcam em uma aventura pra voltar ao quarto do Andy. Eles aprendem a ser amigos, e Woody aceita que o Buzz é um brinquedo do caralho e que se o Andy quer brincar com ele, então sorte do Andy.

O primeiro filme é isso. É o Woody aprendendo a ser humilde, aprendendo que ele não precisa ser o centro das atenções do Andy, ele não precisa ser o especial. E que ele pode perfeitamente dividir os holofotes com um amigo. Woody aprendeu que o mundo não gira em torno do umbigo dele, e que a amizade que ele tem com os outros brinquedos não depende de uma hierarquia entre eles. Acima de tudo, ele aprende a ser um amigo dos demais brinquedos.

Sabem qual é o problema? Eu não tinha notado isso antes, mas agora é óbvio: nos outros dois filmes o mundo gira em torno do Woody, tornando essa lição irrelevante, pois ela não é aplicável. Os filmes não desmentem a evolução no personagem do Woody, mas o contexto das histórias, tornam ela impossível de ser percebida, pois todo mundo nos outros dois filmes colocam o Woody no centro de todos os holofotes.

Toy Story é da Pixar e não da Disney, mas eu sinto que ele herda um pequeno defeito do que torna muito difícil pra Disney conseguir fazer sequências ou séries de televisão de seus filmes que sejam boas. O poder triunfante que o Status Quo tem no imaginário de seu público. O filme é forte por sua premissa. E aí quando ele quebra sua premissa, no final, ele mata o que o torna reconhecível, e quebra as pernas da sequência.

As sequências de Beauty and the Beast precisam se passar durante o inverno que teve no meio do filme, pois se passarem depois do filme acabar, a Fera não é mais uma Fera. As sequências de Aladdin trabalham com o gênio ainda tendo magia, lealdade ao Aladdin e as pulseiras-de-escravo que ele perde na última cena, pois se ele deixar de ser um gênio, acabou o Aladdin. A série que fizeram pra ser a sequência de Tangled, envolve o cabelo de Rapunzel não só crescendo até o ponto que estava no filme, ficando loiro e ficando mágico novamente, como ficando indestrutível pra proibir Rapunzel de perder seu icônico cabelo ao longo da série. A sequência de The Little Mermaid é sobre a Ariel voltando a ser sereia, e a sequência de The Jungle Book é sobre o Mowgli voltando pra selva….

E o final dos filmes originais nunca corrobora esse retorno ao que é compreensível e ajuda as sequências serem normalmente uma merda. Os filmes da Disney costumam ter um final conclusivo que supera a situação inicial, o que é ótimo. Mas por motivos de marketing, o a sequência precisa ser reconhecível pelo que o filme tem de icônico, o meio do filme.

No caso de Toy Story, no Toy Story 2, o primeiro filme tinha sido só um susto, e o Woody ainda era o brinquedo favorito do Andy. A fase espacial da criança tinha sido só uma fase, e ele voltou a amar cowboys mais que tudo. Para completar, mesmo Woody tendo aceitado dividir os holofotes com o Buzz, ele ainda era o claro líder dos brinquedos. Então Woody aprendeu que as coisas podiam mudar e tudo continuaria bem, mas apesar de ter aprendido isso, literalmente nada mudou.

E o maior medo de Woody ainda é, vejam só, perder seu espaço na vida de Andy. Ele está morrendo de medo de ser um brinquedo de prateleira. Por conta de um rasgo no braço. E a perspectiva de que logo o Andy vai estar grande pra brincar com ele bate no Woody e ele começa a ter medo da falta de espaço dele na vida do Andy.

Um medo que nenhum outro brinquedo tem realmente, pois eles não são os brinquedos favoritos do Andy.

Aí como lembramos, Woody é roubado por esse colecionador, que quer vender uma coleção completa de bonecos raros dos anos 50 do show do Woody para um museu no japão. E o Woody aceita ir pro japão, pois ele acha que já que o destino dele é ser um brinquedo na prateleira, que ele seja imortalizado e admirado pela eternidade. Ele ia ser o centro e a peça mais importante da exposição. Ou seja, Woody foi seduzido por um mundo que ia girar em torno dele.

Até que Buzz resgata Woody e faz Woody reaprender que a vida só faz sentido se tem uma criança brincando com ele. Lição que ele repassa para seus amigos Jesse e Bullseye e leva os dois pro quarto do Andy.

Sabem de uma coisa. Toy Story faz um shaming absurdo em brinquedos que não são brincados por criança. Porra, tem gente que curte estar no museu, deixa os cara. Mas não, eles ainda enfiam o Stinky Pete na mochila duma criança que vai zoar ele para forçá-lo a ser um brinquedo de brincadeira que ele não queria ser. Cada brinquedo sabe o que curte, e não existe jeito certo de existir, se ele não quer ser brincado, deixa ele.

Pois bem. Vem o terceiro filme e se o segundo filme fez o Woody se sentir feito um rei, tendo que escolher entre ser o brinquedo preferido do Andy por poucos anos ou o centro de uma exposição de museu pela eternidade, pois bem, no terceiro filme o Woody foi selecionado como o único brinquedo que o Andy vai levar pra faculdade.

Pois é, ótimo espaço pro Woody exercer sua humildade, saber que o Andy virou um adolescente e fechou seu coração para todos os brinquedos do mundo menos o Woody.

Todos os outros brinquedos do Andy iam pra uma caixa no sótão, mas por um acidente foram confundidos com lixo pela mãe do Andy, e por acreditar que iam ser jogados fora, fogem para uma creche, onde poderiam ser brincados pelas crianças na creche. Mas Woody segue eles para convencê-los a não ficar na creche e a ficar no porão do Andy, pois lá é melhor.

Novamente o Woody cagando uma regra sobre que tipo de experiência é válida pro brinquedo. A conexão do Woody com o Andy era enorme por ser o brinquedo favorito e era importante pro Woody que a conexão de seus amigos fosse enorme também. Mas eles só queriam ter um espaço onde pudessem ser brincados. O Andy não era o melhor amigo deles.

No fim Woody convence eles a voltarem pra Andy. Que decide em vez de guardá-los, doá-los para uma menininha chamada Bonnie, onde ele tem a emocionante decisão de doar o Woody também, marcando a despedida de Woody e Andy, e uma nova vida para esses brinquedos, com uma nova criança pra brincar com eles.

Além dos filmes serem uma grande imposição de como deve ser a experiência de ser um brinquedo, enfatizando que eles nunca são completos se eles não tem uma criança para ter uma conexão especial. Imposição essa que era especialmente reforçada por um brinquedo que tinha uma conexão mais especial que a média com sua criança (quantas pessoas na faculdade levaram com elas seu brinquedo favorito da infância, a relação do Woody com o Andy extrapolou a média de amor de uma criança por um brinquedo, o que não é ruim, só atrapalha o Woody a entender o que é a experiência normal de um brinquedo). Os filmes nunca precisavam exercer a humildade do Woody que ele supostamente adquiriu na primeira aventura, pois todo mundo dava essa atenção pra ele. E isso ficava…. incompleto. O Woody parecia um personagem estático e pouco desafiado.

E é aqui que eu digo. A gente precisava do Toy Story 4 pra trabalhar novas perspectivas e evoluir o personagem do Woody. Inclusive uma grande amiga me disse que o filme podia se chamar Woody – The Movie, e nos poupar das cenas do Buzz que estavam abaixo da média, e eu vou ter que concordar. Mas aprecio a coragem do filme em expor seu “4” em seu título com orgulho em pleno 2019.

No filme 4, o Woody começa completamente fora da sua zona de conforto. Ele é um brinquedo da Bonnie e a relação da Bonnie com seus brinquedos é ótima. Só que o Woody é o brinquedo com quem ela menos brinca. Aparentemente nas brincadeiras dela sempre tem um xerife, e o xerife é a Jessie. Sabem o que é isso? Isso é o efeito das protagonistas femininas fortes que surgiram no cinema nos últimos anos empoderando a Bonnie! Fazendo-a questionar porque a Jessie não podia ser a xerife.

Ei Jessie, lute como uma garota!

Pois bem. E Woody está visivelmente cabisbaixo com isso. Ironicamente, a posição do Woody é bem parecida com a posição da Jessie no quarto do Andy. Ela era a boneca favorita e o centro da vida da Emily, e depois de abandonada pela Emily, virou um brinquedo do Andy para ser só mais um brinquedo, e ela nunca ficou deprimida por não ser o centro da vida do Andy, ou ousou comparar Andy com Emily. Ela estava grata por sua segunda chance e foi bola pra frente. Mas o Woody não tem esse espírito bola pra frente da Jessie e claramente não se sente confortável em dar sua estrela para ela.

Ele também não é mais o líder do quarto. Ele chegou num quarto com uma organização já estabelecida, liderado pela Dolly. Figura feminina. Há! Olhem esse Woody sendo brinquedo de uma menina e sendo completamente emasculado pelas bonecas a sua volta! É o poder de filmes como Capitã Marvel na vida da Bonnie!

Pois bem, é o primeiro dia de Bonnie na escola, e ela quer levar um brinquedo, mas a escola não deixa. E os brinquedos, sob a liderança de Dolly acham que é melhor seguir as regras da escola. Mas Woody se esconde na mochila de Bonnie para acompanhar ela, desesperado para ser parte da vida dela, e na escola ele descobre que ela criou um brinquedo pra ela na escola, feito de lixo, chamado Forky, justamente para curar sua solidão na escola. E ele se tornou o brinquedo favorito da Bonnie.

Porém Forky sendo feito de lixo, não quer ser brincado por uma criança, ele quer ser jogado fora, o que ele sente como seu verdadeiro propósito. E Woody, desesperado por algo que fazer, transforma sua rotina inteira, impedir que Forky jogue a si mesmo no lixo, pois ele não aguenta não ter importância, e ele atribui a si mesmo essa tarefa de extrema importância.

É irônico. É tudo irônico. A verdade é que Woody pregou tanto que a vida só fazia sentido no quarto de uma criança. Mas nunca viveu a experiência normal do quarto de uma criança. Só a experiência de ser amado como brinquedo favorito. Apesar do primeiro filme, Woody ainda não aprendeu a lidar bem com não ser importante e com sua falta de protagonismo. Claro, ele não quer jogar o Forky pela janela como no passado, mas tá sendo uma merda pra ele viver agora como o Slinky viveu a vida toda.

Mas pro azar de Woody ele não precisa se corromper pela inveja pra jogar o Forky pela janela. O filho da puta se jogou sozinho, e o Woody foi atrás pra resgatar ele, e é o primeiro filme todo de novo.

Só que em vez de explicar pra um boneco de ação da moda, todo foda e cheio de funções que ele é um brinquedo daora. Ele está tentando explicar pra um garfo de plástico com um barbante de braço que ele é um brinquedo daora. O que é uma bela de uma rima com o primeiro filme.

Mas no caminho de volta ele reencontra Bo Peep. A boneca da lâmpada que o Andy usava para ser a donzela indefesa de suas brincadeiras, e que foi vendida pela mãe do Andy entre o segundo e o terceiro filme.

Sabem, eu sempre achei que a Bo Peep sendo de porcelana, tinha quebrado offscreen. Mas não ela foi vendida, e seu dono revendeu ela para uma loja de antiguidades, de onde ela fugiu pra ser boneca de rua.

Inclusive, para uma boneca de Porcelana, a Bo tá a rainha das cenas de ação, pulando, brigando, correndo. E só perdeu um braço até agora. Eu julgava ela mais frágil que isso, mas aparentemente ela sabe se cuidar. Sério, se ela tivesse essa disposição no segundo filme podia ter resgatado o Woody. Teria sido mais útil que o Slinky.

Enfim. Bo Peep é uma boneca de rua. Sem criança, mas livre. Toda criança é sua criança por uma tarde e depois ela acha outra. Sem compromissos, e Bo Beep está amando ser uma boneca perdida. E o que vem? Vem o Woody novamente falar que a vida só faz sentido no quarto de uma criança, como se a própria vida dele estivesse fazendo sentido.

Bo Peep faz Woody enfim perceber que existem diferentes maneiras de ser feliz sendo um brinquedo e ter uma criança é só uma delas. Afinal pra Bo ter uma criança era assistir ela da lâmpada que ela enfeita. Vamos ser sincero, que a Molly provavelmente não brincava de verdade com a Bo. O Andy não tinha nenhuma boneca, e por isso ele roubava o enfeite de porcelana do berço da irmã dele para ter uma Damsell in Distress. E digo o mais, a chance dela ter sigo substituída pela Jessie ou pela Barbie que não são do material mais frágil e imprático do mundo para um brinquedo é alto.

Mas quem faz Woody pensar mesmo é Gabby Gabby, a suposta vilã do filme, que quer mais que tudo pegar a caixa de voz de Woody em colocar em si mesma. A caixa de voz de Gabby Gabby veio com defeito, e ela acha que se for consertada, ela finalmente será amada por uma criança. Woody resiste a Gabby Gabby o filme inteiro, e a tratou como uma vilã. Mas depois de um tempo, ele mudou de ideia. Ele se convenceu de que ele já viveu uma vida excelente com o Andy, que ele nunca vai ter de volta, e que mesmo se ele tiver outra criança, ele nunca vai reproduzir o que ele teve com o Andy. E ele decide que o que ele devia fazer, é dar a outros brinquedos agora a chance de viver a felicidade que ele viveu.

Ou seja, colocar na prática o que ele supostamente havia aprendido no outro filme.

Após doar sua caixa de voz pra Gabby Gabby e perder sua maior gimmick, a boneca não consegue agradar a criança que ela desejava, mas Woody e Bo se unem para achar uma criança para Gabby, e encontram. E diferente de Stinky Pete que no fim de seu filme ganha uma criança como uma punição irônica, para forçar a ele uma vida que ele não queria (deixando implícito que a criança teria um estilo de brincar que Pete não desfrutaria), Gabby Gabby ganhou uma chance real de felicidade, e Woody ficou feliz por fazer esse bem. E decide não voltar pra Bonnie.

Ele vai refazer sua vida com Bo Peep, como um brinquedo de rua, ajudando os brinquedos de rua que queiram uma criança a achar uma. No terceiro filme era muito óbvio que Woody preferia ir pra faculdade com Andy que ficar na creche com seus amigos. Aqui, Woody preferiu ficar com a crush que ele havia perdido a voltar pra sua criança, E vai até os demais brinquedos uma última vez só pra se despedir.

E marca essa despedida, dando sua estrela de xerife oficialmente para Jessie. Ele não precisa mais ser o xerife. Ele era o xerife das brincadeiras do Andy, e agora ele está pronto para deixar o Andy na memória e refazer uma vida. A estrela de xerife e sua caixa de voz, não são mais o que marca o Woody como Woody. Foram o que marcaram a vida de Woody como brinquedo de Andy, e se puderem marcar a vida de outro brinquedo com outra criança, então Woody está feliz em passar esses itens adiante. E ele não tem problema em ver Jessie, ou Forky, ou Dolly ou o Buzz ocuparem um lugar que um dia foi dele.

Sem uma voz gritando que tem uma cobra na sua bota, sem o nome do Andy na sola da bota, sem sua estrela de xerife. Ele vai dedicar a vida a cuidar dos brinquedos que precisam de alguém pra cuidar deles. Não dos brinquedos da Bonnie que estão em boas mãos. E eu acho que era realmente importante o Woody concluir a sua jornada nesse ponto. Pois isso é a culminação prática do que ele aprendeu no primeiro filme. Em vez de viver nos holofotes. Ele vai viver nos bastidores, que é onde ele tem a chance de fazer o bem.

E é bonito. Que depois de anos e mais anos resgatando a Bo Peep na brincadeira, é a Bo Peep que resgata o Woody na vida real quando ele realmente precisa se um apoio pra encontrar sentido na vida. Assim como Woody perdeu sua caixa de voz e sua estrela. Bo se refez quando virou brinquedo perdido. Trocou transformou seu vestido rosa que era o que ela tinha de mais icônico e transformou em uma capa.

-Isso significa que Woody é um brinquedo perdido? -Ele não está perdido.

Toy Story é melhor. Toy Story 2 é melhor. Toy Story 3 é melhor. Mas esse filme é…. necessário. Precisava. O Woody não podia ser o maioral do quarto da Bonnie até ela ir pra faculdade e manter o ciclo, ele precisava entender que ele nunca soube o que é ser um brinquedo normal. E ele precisava aceitar um estilo de vida que não fosse o de brinquedo favorito. Era importante pra ele ter um arco de personagem e agora ele tem.

E só isso já torna Toy Story 4 superior a todas as outras sequências da Pixar que não sejam parte da franquia Toy Story.

Se Toy Story 3 foi um final emocionante pra uma bela trilogia. Toy Story 4 foi um epilogo bem-vindo. E a pergunta é. Existe vida depois do epilogo? Temos o risco de ter um….

TAN TAN TAN

… Toy Story 5?

Temos, e isso é horrível. Quando você cruza a linha de “passou da trilogia”, não existe mais regra e não existe mais bom-senso, e honestamente, eu não ponho a mão no fogo pela Pixar. Enquanto o Tom Hanks estiver vivo (e eu espero que seja por muito tempo, cara legal), a Pixar vai conseguir tirar um filme novo do bolso.

Então quero aproveitar que esse filme, apesar de necessário, criou um problema e apontar qual eu acho que devia ser a solução desse problema. Para fechar o texto.

Me incomoda que a gente não sabe nada da vida do Woody pré-Andy.

Ele é um brinquedo dos anos 50.

Andy é uma criança dos anos 90.

Mas o Woody aparentemente nunca teve uma criança antes do Andy. Então ele era o quê? Ele não tem memórias de seus primeiros 40 anos de vida? Existem muitas teorias sobre o Woody ter pertencido ao pai falecido do Andy. O que explicaria a conexão enorme afetiva com o boneco que chegou até a faculdade. Mas eu acho um ponto cego curioso de se explorar.

A Jessie aparentemente é da mesma geração que o Woody, mas a Bonnie é sua terceira criança e a segunda do Woody. O Woody pulou uma fase entre sua fabricação e sua vida com Andy. Ele foi apegado demais ao Andy, quando ele já tinha idade pra saber o ciclo de vida de um brinquedo. Ele não tem memórias?

Se forem insistir em ter 5 eu peço que lembrem que essa é a grande pergunta em aberto no universo de Toy Story.

Mas espero que não façam. De verdade. Eu não conheço um único quinto filme de franquia alguma que seja bom. Se Toy Story conseguir vai ser completamente sem precedentes na história do cinema.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

Artigos recentes

Categorias

Parceiros

Blog Mil

Paideia Pop

Gizcast

Arquivo