Vocês sabem o que eu gosto nesses mangás para jovens? É que eles são fonte para uma infinidade de lições de vida que eles passam pra juventude. One Piece, o mais popular do Japão, por exemplo, nos passa lições como, por exemplo, que você deve lutar pelos seus sonhos.
Ou que o apoio dos amigos é importante para você seguir em frente.
Ou que devemos aceitar as pessoas de outras raças sem preconceito e lutar contra o racismo.
Ou que se você mentir o nariz cresce.
Mas a lição mais importante que One Piece nos passa é a de que parente não presta. Família é uma coisa muito bonita e que deve ser preservada. Mas esse mangá nos mostra em seus exemplos de boas famílias, umas famílias onde os membros não possuem consanguinidade entre si.
Pois famílias não tem nada a ver com parentesco e laço sanguíneo, tem a ver com o elo emocional que seus membros dividem entre si, pois isso é tudo o que importa. O laço sanguíneo, o sobrenome e seus estigmas, o mangá costuma retratar em uma luz negativa.
E esse é um tema forte no mangá. Um dos mais discretos, mas que está muito presente ao longo da obra.
One Piece é um mangá de piratas, ele se foca no protagonista Monkey D. Luffy, um jovem com poderes elásticos, que abandona sua vilazinha para se tornar um pirata e viver aventuras. Ele sonha em achar o maior tesouro do mundo, e como todo pirata que se prese, ele juntou uma tripulação e travou batalhas contra outros piratas, mas principalmente contra o governo que controla o mundo onde a história se passa, e a marinha, que é a grande força policial desse mundo.
One Piece é um mangá que romantiza bastante a pirataria, mostrando o governo como uma entidade corrupta, autoritária e cruel, enquanto os piratas são pessoas livres, e embora tenham muitos vilões que sejam piratas malignos, tem muitos piratas que saem por aí salvando inocentes da tirania, enquanto o governo faz vista grossa para diversas atrocidades que ocorram com civis.
E essa dualidade do governo maligno e do pirata bom é um dos pontos onde melhor se transparece o tema familiar que o mangá trabalha. Mas vamos começar pela tripulação de Luffy. A grande maioria dos membros dos Piratas do Chapéu de Palha, como ficou conhecida a tripulação, são pessoas que não são realmente uma família junto de seus parentes, seja por abandono, morte, ou mesmo briga com os familiares, e por isso eles formaram outra família com pessoas com quem não tinham laços sanguíneos. E essa nova família não são só os Piratas do Chapéu de Palha, mesmo antes de entrarem na pirataria eles já tinham sua desconexão com seus parentes.
Vamos ver um por um.
Monkey D. Luffy:
O protagonista, Luffy, como todo protagonista de mangá de luta para garotos, é parente de um monte de gente importante. Seu avô é Monkey D. Garp, um dos mais lendários membros da marinha, que treinou Luffy com crueldade na infância para que ele se tornasse um membro da marinha ao crescer. E seu pai é Monkey D. Dragon, um revolucionário, de quem Luffy nunca tinha ouvido falar até os 17 anos, e é essa a presença que ele teve na vida do filho. Apesar de ter um avô na marinha, Luffy ficou encantado com Shanks, um pirata que frequentava sua vilazinha, e inspirado nele e nas lições de vida que aprendeu com Shanks, ele decidiu se tornar um pirata.
A partir desse ponto, Garp desistiu de criar o moleque, ao ver que ele não ia entrar pra Marinha, e o deu para ser criado por Dadan, uma criminosa que vivia nas montanhas e que já criava Portgas D. Ace, filho do lendário rei dos piratas Gol D. Roger. Quando Roger morreu, Garp prometeu cuidar de seu filho, mas largou o moleque pra Dadan criar e agora estava fazendo a mesma coisa com Luffy.
Luffy e Ace fizeram amizade com um garoto que frequentava as montanhas onde moravam chamado Sabo, o filho de um nobre que odiava a nobreza e queria ser pirata também, e os três formam um grande elo entre si, e uma amizade forte.
Um dia eles decidem beber saquê juntos, sob a tradição de que quando homens dividem saquê entre si, eles se tornam irmãos, e a partir daí eles passam a se tratar só como irmãos. Luffy ressentia seu avô pela má criação que ele teve. Ace odiava seu pai, pela má reputação que o rei dos piratas tinha e não queria ter nada com ele, e Sabo fugiu de casa para não ter que ser membro da nobreza.
Mas entre eles, eles criaram essa afinidade que não tinham e os três se tornaram uma família, e mesmo adultos eles seguem se declarando irmãos aos olhos do mundo.
Não só eles, como Dadan também segue acompanhando Luffy e sentindo orgulho dele. Quando Ace é executado pela marinha, Dadan desconta sua raiva violentamente em Garp, culpando-o por não ter ajudado os netos e apontando na cara dele como ele não tinha ideia da dor que Luffy estava passando naquele momento.
Roronoa Zoro:
Nada se sabe da família biológica dele. Um grande mistério. Mas eu pessoalmente, duvido que ele tenha um sobrenome a toa quando muitos personagens na série não tem nome completo. Aposto que temos um Roronoa Pai aí e uma história sobre ele que ainda não foi contada. Confio no Oda para tocar nesse assunto no futuro.
Nami:
Nami nasceu em um país onde em algum momento enquanto ela era bebê, houve um puta conflito armado que matou seus pais. Ela foi resgatada por uma garotinha que nunca tinha visto Nami na vida, e essa garotinha foi resgatada por uma mulher da marinha que estava ajudando no conflito e que resolveu adotar as duas.
Bellemere, essa mulher que adotou Nami e Nojiko, a outra menininha, se aposentou da marinha para criar as duas, e passou a trabalhar vendendo laranjas. E as três levavam uma vida de muita humildade, com pouco dinheiro para dar para as filhas as coisas que elas queriam, mas com muito amor. Porém a pobreza trazia insatisfação para a família.
Um dia, piratas horríveis invadiram a cidade de Nami, e cobraram uma taxa para cada morador pagá-los, e os que não pudessem pagar seriam mortos. Bellemere podia pagar a taxa por si mesma, mas não pelas filhas, mas mesmo não existindo documentação nenhuma que provasse que ela tem duas filhas, ela se recusou a mentir que não era mãe, pois ela era, e morreu por não ter dinheiro suficiente nas mãos de Arlong, o tal pirata.
Eventualmente, Luffy e sua tripulação derrotariam esses piratas, libertariam a cidade e libertariam Nami. Até hoje ela e Nojiko se consideram irmãs, e não temos pista nenhuma dos pais biológicos mortos de Nami ou mesmo de qual era a terra-natal destruída pela guerra. Todo o referencial de família que temos ela são Nojiko, e Bellemere, que escolheu ser a família delas, mesmo que lhe custasse a vida. Hoje Nami é orfã tanto de sua mãe biológica quanto da adotiva, mas só tem uma que ela ainda visita o túmulo.
Usopp:
Usopp é meio que o mugiwara que mais é uma exceção em diversos quesitos. Ele é um dos mais fracos fisicamente do bando, tendo uma força “normal”. Em vez de um sonho épico e inalcansável ele sonha com “ser um bravo guerreiro dos mares”. E em vez de um flashback épico expondo um trauma inimaginável como os demais, ele tem um flashback relativamente normal. Seu pai abandonou a família para virar pirata, deixando ele sendo criado só pela mãe que morreu de doença quando ele era uma criança. Ele fez uma grande amizade com as crianças da vila, mas não chegou a criar uma relação de família com elas. E sendo a grande exceção do tema do post, ele admira muito o pai e quer muito revê-lo, mesmo tendo sido abandonado. Em vários sentidos, o Usopp é sempre o mais humano nos Piratas do Chapéu de Palha.
Vinsmoke Sanji:
Ah, o homem da vez. Recentemente, o mangá de One Piece finalmente começou a nos falar um pouco sobre a família de Sanji: A família Vinsmoke. A família Vinsmoke é uma família de assassinos que são figurões no submundo, e Sanji é o terceiro filho dessa família.
Porém Sanji não era um figurão do submundo. Quando vemos sua infância, o vemos sendo ajudande de cozinha em um cruzeiro chamado Orbit, a um mar de distância do de sua família (inclusive, uma distância bem difícil e trabalhosa de ser cruzada). Além disso, quando questionado sobre ter crescido tão longe de sua terra natal, ele meramente desconversa o assunto. Dá a entender que ele fugiu de sua família, por algum motivo (provavelmente por eles serem assassinos).
Mas apesar disso o cruzeiro para onde ele foi parar após fugir (caso tenha mesmo fugido) foi invadido por piratas e saqueado durante uma tempestade. O saque dos piratas foi um fracasso, pois os navios afundaram com a tempestade e só tiveram dois sobreviventes, o capitão que invadiu o cruzeiro, e Sanji. Os dois tiveram muitos desentendimentos, mas o capitão acolheu Sanji após o incidente, e os dois construíram um restaurante juntos. O capitão, que se chama Zeff, ensinou Sanji a cozinhar e a lutar, e criou ele até a vida adulta. Embora nenhum dos dois admita, eles se tornaram a família um do outro.
Quando Sanji entrou pra tripulação do Luffy, foi particularmente uma das cenas mais bonitas e emocionantes de One Piece, quando ele se despede de Zeff, e os dois que passaram a vida se xingando sem admitir o quanto se gostam, se chamam pelo nome pela primeira vez.
Até hoje, Zeff e os demais cozinheiros do restaurante tem muito orgulho de Sanji e acompanham sua jornada torcendo por ele, enquanto a família Vinsmoke está tentando usar Sanji para negociar alianças no submundo contra a vontade dele.
Tony Tony Chopper:
Diferente de todos os outros membros dos Piratas do Chapéu de Palha, o Chopper não é um ser humano e sim uma rena, que tem o poder de se transformar em humano. Ele nasceu com um nariz azul, e por conta disso foi abandonado por sua manada e cresceu sozinho nas montanhas nevadas, onde era chamado de homem das neves. Ele não era aceito nem pelas renas, que achavam ele um deformado, nem pelos humanos que achavam que ele era o abominável homem das neves. A primeira pessoa que aceitou ele foi um médico charlatão chamado Dr. Hiruluk, que o adotou.
Um dia o Dr. Hiruluk ficou muito doente e Chopper teve que voltar para o local onde as renas viviam para conseguir um remédio, mas ao chegar lá ele foi atacado por sua família e teve que lutar com eles para entrar no território das renas, luta que lhe custou seu chifre.
Mas Hiruluk acabou morrendo por outros motivos (ele era uma grande força de oposição ao rei de seu país), e Chopper teve sua guarda passada para a Dra Kureha, uma médica não-charlatã que era a única amiga que Hiruluk tinha. Ela ensinou medicina para Chopper e o encorajou em seu sonho de ser um médico capaz de curar qualquer doença, além de junto de Chopper preservar a memória de Hiruluk em seu país.
Chopper é o único dos Piratas do Chapéu de Palha que chegou a ter um conflito físico com os pais, e de fato amarrou completamente a história com sua família (é extremamente improvável que essas renas cuzonas sejam citadas novamente no mangá), e até hoje ele carrega a cicatriz da vez que ele teve que lutar com seus pais biológicos para salvar a vida do adotivo, no curativo que remenda seu chifre quebrado.
Nico Robin:
Nico Robin é filha de Nico Olvia, uma excelente arqueóloga, que pesquisa a história de um século que o governo proíbe de ser estudado. Devo reforçar que em One Piece, governo é sinônimo de cuzonice, por isso que ser pirata é legal. Por conta de querer descobrir a verdade sobre um período de tempo do qual se sabe muito pouco, Olvia se tornou uma procurada pela justiça, e temendo que sua condição de procurada pudesse fazer sua filha ser caçada também, ela abandonou sua filha.
Robin cresceu com sua Tia, Tio e Prima, e se você sabe a história da Cinderella, você sabe o que aconteceu com a Robin. Roji, a tia de Robin era cruel, mimava sua filha biológica, enquanto fazia Robin ser uma empregada, e a tratava muito mal. Robin não tinha amigos em sua vila e apanhava das outras crianças. As únicas pessoas com quem ela tinha amizade eram os arqueólogos que eram colegas de Olvia.
Lembram que Olvia se afastou de Robin para poder estudar a história do século perdido sem ter a filha sendo perseguida pelo governo. Pois bem, o mundo dá voltas, e Robin, inspirada na mãe e querendo ter conexão com ela, começou a estudar a história do século perdido por conta própria, tudo que Olvia não queria para a filha.
Olvia retorna para sua cidade, para alertar a todos que o Buster Call, um grupo de extermínio, iria para a cidade matar todos os arqueólogos da cidade (e todos os habitantes junto, só pra garantir). E o Buster Call vem mesmo, matar todos que estudam o século perdido.
Durante o violento ataque na cidade, Robin e Olvia são reunidas, onde Robin, esperando criar uma conexão com sua mãe, revela que aprendeu a ler a língua que o governo proibia de ser lida, e estudado os textos que o governo proibia de ser estudados. Olvia tenta fingir que não conhece Robin para protegê-la, mas após ela ver que a filha estava fadada a ser caçada pelo governo, ela reconhece a filha, a abraça e fala o quanto está orgulhosa.
Olvia é morta durante o ataque na sua cidade, e sua ultima ação é junto dos demais arqueólogos, tentar proteger os livros e o conhecimento do ataque, ao invés de fugir. Robin é a única sobrevivente, tendo sobrevivido graças à piedade de alguns membros da marinha -Saul que fez amizade com Robin e morreu protegendo-a, e Kuzan que viu o sacrifício do colega e resolveu confiar nele e deixá-la escapar. O que Robin mais queria era poder andar de mãos dadas com sua mãe, que nem as outras crianças de sua cidade, e isso nunca aconteceu, Olvia e Robin não tiveram exatamente um atrito entre elas, mas ela nunca realmente foi uma mãe para Robin. Robin teve uma infância solitária e se tornou uma adulta solitária e fria, que demorou muito para se abrir a possibilidade de fazer parte de um grupo de pessoas que aceitasse ela.
Cutty “Franky” Flam:
Pouco sabemos sobre o pai de Franky, o que sabemos é que ele é um pirata, e que ele jogou Franky para fora de seu navio, até Franky ser resgatado por um carpinteiro chamado Tom, que o adotou e cuidou dele ao lado de outro jovem chamado Iceburg.
Tom era um carpinteiro genial com atritos com o governo por ter projetado o navio do rei dos piratas Gol D. Roger, e por isso um oficial do governo extremamente escroto chamado Spandam foi chantagear Tom, ameaçando prender Tom pela sua conexão com o rei dos piratas, caso Tom não lhe entregasse os planos para um grande navio de guerra chamado Pluton.
E Tom se negou, ele estava trabalhando em um projeto de construir um Trem que atravessasse os mares, que revolucionaria sua cidade, e lhe conseguiria um perdão oficial do governo, pelo bem que causou. E Spandam sabia disso.
Pois bem, Franky passava seu tempo livre construindo navios de guerra com armas, e Spandam roubou essas armas para atacar um navio do governo e poder culpar Tom e seus aprendizes, e funcionou. Tom foi preso, e presumimos que foi executado também. E Franky e Iceburg brigaram a respeito do quanto foi responsabilidade de Franky a história toda.
Franky e Iceburg demoraram doze anos para fazer as pazes, porém nesse meio termo diversas vezes eles demonstraram confiar um no outro como uma família. Franky e Iceburg eram aprendizes de Tom, não filhos adotivos, que nem Nami era de Bellemere ou Chopper era de Hiruluk, onde a adoção foi feita explicita. Era uma família mais implícita como a que Sanji era com Zeff. Porém, por mais ódio que Iceburg tivesse de Franky, ele nunca abandonou-o da mesma maneira que o pai de Franky fez, até o fim se comportaram como irmãos.
Nesses doze anos, Franky juntou um grupo de delinquentes, e os transformou em caçadores de recompensa para proteger a cidade de piratas, ele criou um elo com esses delinquentes e os chamou de Franky Family.
Após Franky se tornar um pirata e passar a integrar os Piratas do Chapéu de Palha, Iceburg empregou todos os membros da Franky Family e colocou eles sob sua tutela. Hoje a Franky Family e Iceburg são toda a família que Franky tem.
E de uma coisa eu tenho certeza. A gente ainda vai encontrar o pai de Franky no mangá. O senhor Cutty Pai, o mangá sempre traz muito esses detalhes de volta, e já sabemos que ele é um pirata, então duvido que esse pirata que abandonou o filho nunca faça uma aparição no futuro.
Brook:
Assim como Usopp e Nami, Brook é um dos três únicos membros do bando que não possuem um sobrenome revelado. E assim como Zoro, não sabemos absolutamente nada a respeito da possibilidade dele ter uma família biológica. Considerando que o personagem tem mais de 80 anos, e passou os últimos 50 anos morto, na forma de um esqueleto, eu duvido que ele tenha algum parente vivo.
Mas antes de entrar nos Piratas do Chapéu de Palha, Brook fez parte de outra tripulação, os Piratas Rumbar, e essa tripulação acolheu para eles uma baleia bebê, que Brook batizou de Laboon.
Laboon é uma baleira-ilha, e baleias ilhas são muito dependentes de sua manada, porém Laboon se perdeu de sua família e sua manada e ficou sozinha e solitária, por isso, os Piratas Rumbar adotaram ela como um animal de estimação do bando, e ela passou a considerar eles a sua manada.
Ao chegarem na perigosa Grand Line, os Piratas Rumbar concordaram que era melhor que Laboon não fosse junto, por causa dos perigos desse mar, e deixaram ela em um farol sendo guardado por um velho chamado Crocus, para depois de uns três anos voltarem buscarem ela e voltarem pra casa juntos Porém eles morreram durante essa viagem, e somente Brook sobreviveu graças ao seu poder de ressuscitar.
Agora, Brook está faz 50 anos tentando retornar aquele farol, e buscar Laboon que ainda está lá esperando pacientemente pelo retorno de sua família.
Enquanto a maioria dos Piratas do Chapéu de Palha foi adotada por outra família que não a biológica, no caso de Brook, o mais velho da tripulação, ele foi quem fez a adoção, e quem resolveu ser a família de uma criatura abandonada que não tinha família.
Mas os Piratas do Chapéu de Palha não são os únicos que dão para suas famílias adotivas um valor muito maior do que o que eles dão para a família biológica, dois grandes exemplos se destacam entre os demais piratas do mangá.
A Família Donquixote:
Donquixote Doflamingo é um vilão do mangá que pode ser reconhecido por ser o vilão mais recente a ter sido enfrentado por Luffy, como também por ser o que passou o maior período de tempo como ameaça principal da série. E por isso ele é um personagem com um bom destaque na série. Ele foi introduzido muito antes de ser um adversário direto do Luffy, era um dos pilares da construção de mundo do mangá. Um personagem impossível de se ignorar.
Enfim, ele pode ser marcado por ser um dos dois únicos vilões da série a ter um flashback justificando suas ações (o outro seria Arlong, o cuzão que matou a Bellemere). E a história é que DoFlamingo nasceu como um dragão celestial, sendo que dragão celestial é o nome que se dá as famílias de maior nobreza no mundo de One Piece. Os dragões celestiais usam capacetes para não ter que respirar o ar dos plebeus, possuem escravos, tratam raças não-humanas, porém inteligente, como lixo, e podem cometer qualquer atrocidade anti-ética que o mundo fará vista grossa para eles, por serem nobres, e eles sabem disso. Os dragões celestiais são os seres humanos mais desprezíveis do mundo, e se sexo não fosse um assunto que o mangá simplesmente não trata, tenho certeza de que eles cometeriam incesto para manter a pureza sanguínea, só para nos mostrar o quão podres eles são.
Exceto pelo pai de Doflamingo, um cara chamado Donquixote Homing. Ele é um dragão celestial decente que resolveu abdicar de sua nobreza, pois se sentia afastado demais do povo e queria se reconectar com ele. E com isso, ele retirou a nobreza de seus dois filhos, Doflamingo e Roscinante, que estavam acostumados com o luxo e impunidade que ser um dragão celestial trazia.
Péssima ideia, o povo não aceitou um ex-dragão celestial de braços abertos, muito pelo contrário, eles aproveitaram para linchar Homing e seus filhos, para descontar neles tudo o que eles não podem fazer com quem pertence a nobreza, e enquanto era linchado, Doflamingo culpava o pai pelo linchamento que ele recebia.
Até que Doflamingo resolveu matar o próprio pai e juntar um grupo pirata que ele chamou de Família Donquixote.
E a Família Donquixote pode ser notada como sendo a tripulação pirata com maior diversidade etária da série, de criancinhas até idosos a gente jovem e meia idade, todos têm espaço no bando, parecendo realmente uma grande família.
A tripulação tem naturalmente, suas posições de liderança, e os homens que ocupam ela, são justamente os que acolheram e criaram Doflamingo, uma vez que esse odiava seu pai e o renegava.
Mas e o irmão Roscinante? Ele entrou pro bando também, e em uma posição de liderança, por ser irmão de Doflamingo, porém, ele era um espião da marinha, planejando denunciar o irmão para as autoridades, Doflamingo descobriu isso, e matou Roscinante, eliminando assim toda sua família com as próprias mãos, e se mantendo com uma família que ele mesmo construiu.
E é notável o quanto o Doflamingo genuinamente ama sua família criada, é um dos poucos vilões da série a realmente ter um sentimento de amizade com seus subordinados. A maioria dos vilões de One Piece tem uma cena pau-no-cu deles matando um subordinado ou sacrificando um subordinado só para ser escroto, mas Doflamingo não, ele ama de verdade seus aliados.
Edward Newgate:
Mas se fosse só o Doflamingo, um vilão, não seria um exemplo tão bom. Vamos falar agora de Edward Newgate, o Barba Branca. Que foi em vida o homem mais forte do mundo, e o maior pirata do mundo, tendo rivalizado com o próprio Rei dos Piratas quando esse era vivo. Newgate segue o mesmo conceito de Doflamingo de “minha tripulação é minha família” porém a um nível acima. Ele chama todos seus tripulantes de filhos, e seus tripulantes chamam ele de pai em retorno. E isso porque ele de fato se torna uma figura paterna para todos os envolvidos. Portgas D. Ace, irmão de Luffy por juramento, que odiava seu pai, entrou para a tripulação do Barba Branca, e declarou quando perguntado que Barba Branca era seu verdadeiro pai.
Mas não só isso, como o motivo pelo qual Edward Newgate se tornou um pirata em primeiro lugar, pois para formar uma família. Uma vez que ele valorizava família mais do que qualquer tesouro no mundo, então o motivo pelo qual ele foi pros mares desafiar o governo, não foi por fama, glória ou tesouros, mas sim para formar esse laço familiar com seus companheiros, e ele não só fez isso, como até o final, essa foi a sua maior prioridade.
Durante a execução de Ace, onde ele acaba sendo assassinado também ao tentar resgatá-lo, suas ultimas palavras para Ace são “Eu fui um bom pai?” mostrando que sua maior preocupação no momento da morte de ambos era ter falhado com Ace como pai.
Dois anos após sua morte, um sujeito chamado Edward Weevil apareceu afirmando ser o filho biológico dele, manipulado pela sua mãe, Miss Bakkin que afirma ter sido amante de Edward Newgate. Ainda é um grande mistério se Weevil é de fato filho do lendário Barba Branca, consigo pensar em bons argumentos contra e a favor, mas o que importa é que a mãe de Weevil o convenceu de que ele é o herdeiro de toda a fortuna que Newgate deve ter acumulado (lembram? Aquela com a qual ele não se importava?) e que ele tem que destruir todos os tripulantes de Newgate que se declaravam seus filhos, pois somente Weevil é seu filho e merece tal posto.
Além disso, Weevil ganhou o título de Shichibukai (piratas que atuam com a aprovação do Governo em uma aliança para derrubar outros piratas), por contra principalmente desse parentesco. Então o personagem já trouxe a tona esse conflito entre a família biológica e a família e verdade que o mangá trabalha, e se ele for revelado como não sendo o filho de verdade não fará diferença.
Mas eu acho que é sim, justamente por causa desse tema que o mangá trabalha.
O governo e a marinha:
Já vimos como o tema da ausência de um real relacionamento com a família biológica e a formação dos laços com a família adotiva é um tema muito presente nos personagens piratas de One Piece. Dentre os protagonistas, figuras relevantes no mundo ou mesmo vilões, vemos esse padrão se repetir. Porém eles tem um contraste grande, o Governo Mundial. Os grandes vilões do mangá, essa entidade que domina o planeta e impõe nele um senso de justiça doentio. Esses caras… ah, esses caras adoram consanguinidade.
É da crença do Governo Mundial que os descendentes de um grande criminoso deve ser eliminado junto do criminoso, pelo ato simbólico que é o sangue e o legado do criminoso seguirem existindo. E essa crença é forte dentre os membros da marinha e do governo. Portgas D. Ace, cometeu diversos crimes contra o governo em sua vida como pirata, mas quando ele foi preso, ele foi executado por ser filho de Gol D. Roger.
Assim como Luffy, é visto pelo chefe da marinha como sendo o filho de Monkey D. Dragon, o revolucionário, mais do que pelos próprios atos.
Não só isso. Como não é bizarro acharmos graus de parentesco nos membros do governo. O homem que liderou a operação de extermínio no lar de Robin, e o homem que armou para que Tom fosse executado, os dois são pai e filho. Spandine e Spandam, sendo que o filho conseguiu seus títulos e poder com base no poder de seu pai.
Não muito diferente do que Herumeppo fazia. Herumeppo era o filho de um capitão na marinha que usava sua conexão com ele para ameaçar de prisão qualquer um que o contradiga. Mas eventualmente seu pai foi preso por abuso de poder, e Herumeppo teve que largar essa vida e virar um membro digno da marinha.
Califa, assassina de elite de uma equipe de inteligência do governo, a CP9 também é filha de outro membro de uma equipe de inteligência do governo.
E como eu disse antes. Edward Weevil mesmo sendo um pirata, conseguiu um título concedido pelo governo, graças a ser filho de Edward Newgate, o pirata mais poderoso de seu tempo.
Isso sem falar nos dragões celestiais, que são famílias elevadas a um poder absurdo, e que constantemente abusam desse poder para satisfazer qualquer sadismo, tudo porque eles descendem dos fundadores do governo mundial, e esse parentesco de oito séculos é o suficiente para dar a eles autoridade para todos seus atos.
Enquanto os piratas valorizam a família que a gente escolhe, o governo valoriza a família onde a gente nasce, e essa é uma diferença ideológica muito clara entre os personagens afiliados ao governo e os personagens afiliados a pirataria.
É só notar que Luffy não teve problema nenhum em socar Garp, seu avô, mas Garp não conseguiu socar Luffy, pelo amor paternal que sente pelo neto.
Claro, a regra não é absoluta, existem exceções em diversos pontos do mangá, é de se esperar num mangá com o número de personagens que One Piece tem. De tempos em tempos, fazendo multidão entre bandos piratas aleatórios aparecem alguns irmãos, como os irmãos Decalvan, ou então o Don Chinjao, um aliado do Luffy que divide a ideologia do governo de punir os descendentes pelos crimes do antepassado e cuja tripulação inclui seus dois netos. Ou mesmo Kinemon, forte candidato a próximo membro dos Piratas do Chapéu de Palha, mas que também tem chances de não entrar pro bando justamente por ter um filho (e por não ser tão carismático, então nós procuramos motivos para ele não entrar). Ou as famílias reais de praticamente todos os reinos que Luffy visita, que costumam ser personagens bons, mas eles não deixam de estar afiliados ao governo.
Mas mesmo com as exceções, eu acho que é notável que esse é um tema que o autor Eiichiro Oda está sempre trazendo de volta. E que tendo em vista que o mangá vai durar por muito tempo ainda (não acho que acabe em menos de 10 anos), acho que é um tema que vai seguir sendo trazido de volta.
Veremos quando entrar o décimo membro da tripulação.