Top18 inimizades da ficção.

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Uma tradição anual que eu mantenho aqui no Dentro da Chaminé é que todo dia de São Valentino, eu comemoro esse dia dedicado ao afeto com algum TopAlgumNúmero dedicado a celebrar o carinho que personagens fictícios entre si para celebrar esse dia de sentimentos bonitos. Aí e fevereiro desse ano, um dos meus apoiadores veio pra mim no chat do Telegram e me perguntou quando que teríamos um top de inimizades nesse dia. E eu disse que nunca, que esse dia era só pra sentimentos do bem e relações positivas.

E eu fui pesquisar qual era oficialmente o dia do ódio, pra ver se eu encaixava o top inimizades nesse dia. Quando era o dia especial pra odiarmos e termos rancor dos outros? E não achei foi nada.

Mas achei esse dia que não tem nada a ver com o que eu procurei, mas é importante e não muito comentado. Passamos por ele faz algumas semanas e passamos batido.

E influenciado por esse apoiador, eu decidi então que eu precisava achar um dia especial pros sentimentos negativos. E eu decidi que esse dia seria o 04 de Julho, aniversário do país que mais desperta sentimentos negativos no resto do mundo e do país que mais age em prol de sentimentos negativos. Talvez alguém aí na sua rede social esteja mesmo sendo brasileiro querendo falar que essa data é especial pros Estados Unidos, mas se o dia é especial pros EUA, então isso significa é que aqui ele é o Dia do Ódio.

Em 2013 a Gallup fez uma pesquisa internacional para saber na opinião da população dos países quem era o país que mais ameaçava a paz mundial. Quase todo mundo pensou na mesma distopia.

Que é hoje!

O que significa que vamos celebrar ódio! Falar de personagem que se odeia, falar sobre como diversas obras de ficção trabalharam o ódio que esses personagens fictícios sentem entre si, pois se tem algo sobre o qual se escreveu bastante nesse mundo foi sobre o ódio.

Antes de começar quero falar sobre a campanha de financiamento coletivo desse blog no apoia.se. Eu toco esse blog sozinho, e por mais que escrever esses textos seja um prazer imenso, também é um trabalho para mim, e por isso eu mantenho esse sistema para quem gosta do trabalho que eu faço no Dentro da Chaminé possa dar aquela força financeira, que faz muita diferença. Não precisa ser muita coisa, eu agradeço de coração. E quem não quer fazer uma contribuição mensal, mas quiser dar o apoio pro blog mesmo assim, pode fazer um pix de qualquer valor pra chave franciscoizzo@gmail.com que vai ter a minha gratidão no mesmo nível. E também vai ter o nome citado aqui em homenagem.

Porque esse texto é escrito em homenagem a todo mundo que já me apoia. Esse em especial porque eu nunca teria escrito se não fosse pela sugestão no canal do telegram. Enfim, hoje é o dia do ódio, mas por essa gente eu só tenho amor e gratidão. E por isso eu espero que gostem do texto.

E o texto de hoje é uma lista sobre inimizades.

Uma boa inimizade é uma fórmula certeira para uma boa história, pois afinal, história é conflito, e ter os lados e ideais por trás do conflito personificados em duas pessoas que o santo não está batendo é uma fórmula certeira.

Existe muita emoção vindo a tona quando a gente vê o casal finalmente se beijar e por seus sentimentos pra fora.

Mas existe também muita emoção vindo a tona quando um personagem enfim enfia um murro na cara do outro. Também é por seus sentimentos pra fora.

No fim das contas, pra gente, enquanto expectador termos nossos sentimentos abalados, os personagens precisam ter sentimentos intensos sendo postos pra fora, e sentimentos negativos são tão importantes pra ficção quanto os positivos. Então a lista de hoje é celebrando 18 situações, em que o desejo de exterminar uma outra pessoa foi bem explorado e elevou as suas respectivas obras.

Antes de começar a lista vamos passar algumas regras do que é elegível e do que não é pro ranking? Vamos sim, regras são importantes.

1- A inimizade tem que ser mútua. Mesmo se um lado for mais intenso e ativo que o outro, é importante que os dois não se gostem e se reconheçam como inimigos. Sem nenhum stalker sendo obcecado com um cara que pisou no pé dele dez anos atrás e o outro lado nem sabe o que está rolando. A inimizade é mútua, é uma via de duas mãos.

2- Tem que ser agressiva e destrutiva. Não estou incluindo rivalidades de pessoas que fazer um trash-talk aqui e ali, mas que no fundo se respeitam. Não é rivalidade, é inimizade. É gente que quer o mal do outro. O que o Sakuragi e o Rukawa sentem pelo outro não se aplica.

Não importa o que role. Mônica e Cebolinha são bons amigos. Só que praticando violência física e emocional um no outro.

3– Os avisos básicos. Todo ponto da lista potencialmente vai conter spoilers da obra sobre a qual está falando. Se quiser evitar o spoiler só rola até o próximo item da lista. E todas as imagens ilustrando o texto são as menções honrosas por default.

Dito isso esse texto tem uma menção honrosa mais oficial.

Menção Honrosa: Beatrice, a Bruxa Infinita VS Ushiromiya Battler (Umineko no Naku Koro Ni)

Explicando porque esse exemplo é uma menção honrosa. Pois eu não terminei Umineko. Perdão gente, ainda estou na metade da história. Mas aí eu fui pego numa questão de timing. O texto tinha que ficar pronto a tempo do dia do ódio e eu não terminaria a história até ali. Até porque eu li metade do mangá, e agora eu quero ler a Visual Novel para poder pegar a reta final na mídia original.

Por isso eu não posso ranquear apropriadamente esse conflito, afinal eu não sei como ele termina e nem como ele vai se desenvolver.

Mas a ideia por trás dele é que a família de Battler é assassinada em um massacre horrível, com indícios sobrenaturais, e com suspeitas de ser um ato da bruxa Beatrice. Porém Battler exige ter uma perspectiva racional da tragédia e nega a existência de Beatrice, se recusando a atribuir os crimes a ela. E o que acontece é que Beatrice se materializa na frente de Battler, mostra sua magia pra ele, transporta ele para outra dimensão onde ela tenta quebrar o espírito de Battler e fazê-lo admitir que ela é a bruxa que matou sua família.

E Battler se recusa, e mesmo diante da bruxa em pessoa, ele se nega a reconhecê-la como bruxa, e a reconhecer a existência de magia. O que segue é um longo jogo, onde os dois debatem toda perspectiva, toda retórica e toda explicação imaginável, pra ver quem consegue provar pro outro. Beatrice não vai parar de procurar formas de provar pra Battler que ela é uma bruxa, e Battler não vai parar de argumentar que não, que ela não é, pois não existem bruxas.

Pra Beatrice é muito importante ser reconhecida, ser temida como bruxa, e que seu título seja validado. Pra Battler é muito importante entender a tragédia que ocorreu sem usar o sobrenatural como muleta para não pensar a fundo em como o assassino fez para matar sua família. E cada uma das partes é profundamente ofendida pela postura da outra, e eles começam esse longo debate.

Que eu reforço, não terminei, não sei onde ele termina nem quem vence, mas eu não queria ficar sem mencionar esses dois. Pois a maneira como um pega no nervo do outro só por existir, e a incompatibilidade deles de não conseguir admitir nada que o outro diz é exatamente o tipo de coisa que eu quero listar aqui.

Então lhes deixo com essa menção honrosas

Comecemos a lista de verdade.

18º Lugar: Hugh Ramson Drysdale VS Harlan Thrombey (Knives Out)

O filme Knives Out é sobre um assassinato que aconteceu na família Thrombey, e o elemento do assassinato que chama a atenção logo de cara é a grande rivalidade que existe entre a vítima, Harlan Thrombey o patriarca da família, cuja fortuna sustenta todos e que todo mundo puxa o saco, e Ramson, a ovelha negra da família, que todo o resto despreza. O orgulho de toda a família e a vergonha de toda a família. Quando Harlan morreu obviamente todo mundo ia olhar pra relação dele com Ramson pra tentar entender a história completa.

Harlan era um ricaço que construiu uma vasta fortuna administrando as publicações de seus livros de mistério que faziam sucesso. Ele tinha orgulho de ter construído seu império do zero, e tinha orgulho de sua inteligência, além de ter uma imaginação vasta pra imaginar os diversos mecanismos de mistério de seus livros, ele também era um grande jogador de Go que vencia a maioria de seus oponentes, e era um obcecados por colocar manipulação e maquinações em tudo o que fazia.

Ramson é o neto de Harlan, acomodado em viver em uma família rica, que nunca trabalhou, nem fingiu que trabalhou, nem pensou em trabalhar. Porém tão inteligente e manipulador quanto o avô, e nesse campo, o único que realmente puxou o avô. Harlan via muito de si em Ramson, mas sem nenhuma ética.

Por isso Harlan decide que queria deserdar Ramson, removê-lo da herança, e deixar toda sua fortuna para sua enfermeira Marta, que era uma genuína amiga de Harlan por quem ele tinha afeto e respeito. Inclusive, listada no meu Top18 amizades entre homem e mulher.

O que é o motivo pelo qual quando Harlan aparece morto no dia seguinte, todos suspeitam que Ramson esteja envolvido. Até porque isso mistura com o ódio natural que toda a família tinha dele, por não demonstrar o respeito que mereciam. Mas tudo com uma dose de ironia, pois o expectador sabe o que realmente aconteceu quando voam as acusações.

Ramson ama ser herdeiro, e tem a personalidade deplorável de quem acha que o mundo gira em torno dele. Seu avô era uma pessoa amada por todas as pessoas que trabalhavam pra ele por sua insistência de ser próximo e afetuoso com todos. E Ramson queria usar o status que ele herdou do avô para viver cuspindo e desprezando aqueles que seu avô amava.

Tudo pra viver uma ilusão de grandeza e de direito a riqueza. Enquanto Harlan tinha orgulho de não ter herdado nada.

Como o ódio dos dois influenciou a resposta pro mistério eu não posso contar, só posso recomendar que vejam o filme, pois é um favorito meu. Amo demais esse filme Mas a inimizade deles é maravilhosa, especialmente por ser póstuma, Harlan morre na primeira cena, então constantemente vemos os demais descrevendo o quanto esses dois passaram anos desprezando um ao outro.

17º Lugar: Ben Linus vs Charles Widmore (LOST):

Sabem o que eu amo? Histórias em que os protagonistas caem de paraquedas em uma guerra entre dois vilões, em que eles sabem que ninguém ali presta, mas precisam aprender a como se guiar diante desses dois filhos da puta que só querem um matar o outro, e não estão preocupados quanto a se os heróis no meio do caminho morrem ou não.

E metade da trama de LOST foi guiada pela obsessão que esses dois homens poderosos tinham pela ilha onde a série se passou. Ben e Charles foram parte do mesmo grupo de moradores e protetores da ilha. E ambos os personagens amam e respeitam aquela ilha. Porém quando você ama algo no macro, você ignora o micro, e quando os dois querem estar em uma missão de Deus para proteger um pedaço de terra, essas pessoas costumam ignorar as pessoas que moram ali e não querem se envolver na briga.

O maravilhoso é que pros dois tudo é pessoal. Ambos insistem em falar que são os heróis, enquanto cometem maldades vilanescas, mas no fundo, é uma obsessão mútua, só um grande desejo de dar a palavra final. Apesar dos dois serem vilões, a série nos inclina a ficar mais do lado do Ben, por Ben ter mais habilidade manipuladora de fazer os heróis se aliarem a ele em contextos específicos. Mas principalmente, porque Ben tem um arco de redenção para se tornar uma pessoa melhor.

Mas seu arco de redenção não tem nada a ver com Widmore. Com quem Ben mostrou seu pior lado até o fim.

Mas o que eu aprecio mesmo é como no meio da série o ódio dos dois soa como a coisa mais importante da série, pois ambos os personagens são poderosos. Mas no final da série, a escala estava muito maior, os verdadeiros heróis e vilões estavam visíveis, ambos não tinham mais recursos e subordinados aos montes, e eles seguiam brigando e vemos a batalha épica deles reduzida ao que nunca deixou de ser. Uma birra pessoal.

Ben Linus é um puta personagem bem escrito, e acompanhar a jornada dele sozinha já é motivação o suficiente pra se ver LOST. Outras motivações podem ser encontradas nos meus outros dois textos sobre LOST.

16º Lugar: Eric Cartman VS Kyle Broflovski (South Park):

Esse é um clássico. Eric Cartman, como todos sabemos é um dos maiores patifes de toda a ficção. Um filho da puta completo. Uma existência sem redenção. Nada nele é aceitável, e ele sempre é a pessoa mais escrota de qualquer cena em que ele esteja.

E um escroto desse naipe precisa ter um alvo, alguém com quem ele deve ser escroto. E bem, o Butters é um alvo recorrente, mas o Butters é bonzinho, inocente, e em vários episódios ele nem nota que o Cartman é nojento. Seu maior alvo é Kyle, que diferente de Butter responde e reage ao Cartman, o odeia com toda a intensidade do mundo. E ao longo de 25 anos, depois de tudo o que eles passaram, esses dois alimentam entre si um dos ódios mais intensos de toda a televisão.

O louco dessa relação é que eles supostamente, no papel são pra ser lidos como amigos, embora ambos já tenham negado essa amizade explicitamente. Pois eles são parte da mesma turma, e aqui abro o parêntese para fazer uma denúncia que fazem muito pouco aqui.

Que é: O Cartman cometeu atrocidades contra Kyle, Butters e Kenny que não podem ser descritas como nada além de maldade encarnada Mas nunca fez nada pessoal contra o Stan. Nunca tirou um episódio pra foder o Stan especificamente. E isso é porque o Cartman e o Stan são amigos, e é o intermédio do Stan que faz o Cartman e o Kyle serem parte da mesma turma.

O que significa que em diversos episódios em que eles devem estar no mesmo time eles na verdade estão…. Infectando um ao outro com AIDS, um mandando o pai do outro pra cadeia, um mandando o outro pra cadeia, apontando armas um pro outro ou roubando a namorada um do outro. Só coisa fina. E mesmo assim episódio seguinte eles vão dar rolê só pro rolê terminar no Cartman sendo extremamente antissemita e tentando pregar a morte do Kyle.

Um personagem como o Cartman não seria nada sem um inimigo. E o Kyle é esse inimigo, não tem nada que o Cartman faça que ele não seja contra….. Exceto explorar bebês viciados em crack. Quando os dois se unem, aí é porque o Kyle tem um lado negro dentro de si. Mas todo o resto é um tentando destruir tudo o que o outro tem.

Mas fica a menção honrosa pra Wendy, que depois do Kyle, é quem mais antagoniza o Cartman.

Com certeza a inimizade mais radical a ser travada por duas crianças.

15º Lugar: Professor Ratigan VS Basil da Rua Baker (The Great Mouse Detective):

O maior mérito de The Great Mouse Detective é a sua escolha de vilão. O plot é ok, as cenas de ação são bacanas, o mistério é pouco misterioso, e tudo soa como Sherlock Holmes Genérico Furry mas o filme compensa tudo isso no carisma da relação entre seu herói e seu vilão, que só na briga deles elevam esse a um filme memorável.

É a briga dos dois e a ratinha dançarina gostosa fazendo maior despertar furry a rolar antes da Lola Bunny. São esses dois elementos que fazem o filme ser comentável e ter um nicho considerável de fãs que consideram um dos melhores filmes da Disney.

O grande segredo aqui é o encontro de dois mundos. Basil da Rua Baker é obviamente o Sherlock Holmes. Mas o Professor Ratigan, apesar do professor no nome, não é o Moriarty. O Ratigan é um vilão de James Bond, tentando dominar a Inglaterra com armadilhas complexas, e substituindo a rainha por um robô.

Quando o filme começa, os dois descrevem que faz anos que eles se enfrentam, e na perspectiva de ambas as partes, faz anos que eles fracassam. Basil não acredita que venceu Ratigan, pois ainda não o viu atrás das grades, e Ratigan não acredita que venceu Basil, pois ainda não bolou um plano que ele não derrotou.

Os dois são obcecados um pelo outro. Basil mantém um retrato de Ratigan na sala, e Ratigan mantém um boneco de Basil no salão dele. E os dois só pensam em desempatar essa disputa.

Mas o melhor é ver como isso vai escalando, pois sendo um filme de detetive, esse combate começa como um combate intelectual pra ver quem era o mais inteligente, mas com o passar do filme vai aumentando e aumentando a tensão e termina com uma luta na porrada mesmo dentro de um relógio, uma das grandes cenas de luta da Disney.

Um dos melhores vilões da história da Disney e o estúdio nunca mais fez nada parecido, infelizmente. As vezes os fãs conversam sobre se poderia ter uma sequência, e muita gente responde: “sem o Ratigan? Só um caso novo? Que horror.” Mas eu acho que é só dar migué pro Ratigan voltar, pra se enfrentarem de novo.

14º Rusty Venture VS O Monarca (Venture Bros):

Tecnicamente a relação dos dois é bem assimétrica. O Monarca reconhece o Rusty como seu arqui-inimigo e como a pessoa que ele mais odeia na existência. E Rusty reconhece o Monarca como…. Um estorvo, que seria melhor se desaparecesse, mas pra quem ele não particularmente liga.

Eu considerei, pois o Rusty de fato não gosta do Monarca, embora não vá perder dez minutos do seu tempo tentando se livrar dele, ele fica grato de saber que outra pessoa pode fazer esse otário sumir de sua vida.

Mas a graça da relação dos dois é o ódio extremo que o Monarca sente de Rusty. Especialmente por ser ódio em função do próprio ódio. Nós não sabemos exatamente a origem do ódio que o Monarca sente, e aparentemente ele próprio não tem certeza, pois vemos ele descobrindo traumas que Rusty causou nele na infância que ele havia esquecido. Mas o ódio não é aleatório, ele é profundo, mesmo se os personagens não saibam de onde ele vem, ele está lá.

E em um mundo onde a super-vilania é profissionalizada, o Monarca consegue por legitimidade em seu trabalho indo destruir alguém pra quem ele só quer o mal. Ele transforma seu ódio em arte, usando o fato de que ser vilão é um ato performmático para usar toda sua criatividade para aproveitar fazer qualquer tipo de maldade com Venture, desde tentar matá-lo até cagar em sua piscina, tudo que lhe cause dor.

O Monarca é definido pelo seu ódio, e diversas vezes ele é convidado pelos seus entes queridos a achar outras coisas com o que gastar seu tempo, mas tudo o que ele quer é expressar seu ódio. E tudo o que Rusty quer, é que ele pare, então os dois estão em desacordo o suficiente pro ódio do Monarca ser validado.

13º Lugar: Son Goku VS Cell (Dragon Ball Z Abridged):

Só pro caso de alguém não ter lido, eu estou aqui falando a versão Abridged dos personagens, e não da versão canônica. Eu gosto dessa versão paródia de Dragon Ball, gosto muito, mas quero evitar cometer o erro de confundi-la com o canônico, como alguns na internet fazem.

Pois bem. Goku e Cell não exatamente se odeiam nessa versão. Tipo, num geral, acho que um não tem nada contra o outro. Eles só foram designados, por forças externas a lutarem uma luta mortal até a morte. O Dr Gero decidiu que eles tinham que lutar. Eles não tem ódio mútuo.

Então porque eles estão aqui? Porque eles vestiram a carapuça. Eles decidiram que eles queriam ter essa luta e que eles iam fazer tudo no script que o Dr Gero escreveu com seu ódio.

Então a inimizade deles é honrando o ódio, só não é o deles. Eles estão adorando isso. Eles anteciparam essa luta pra cacete e fizeram questão de tê-la. Apostaram a vida do planeta nela e se divertiram com cada segundo.

Se a versão canônica do Cell chegasse a metade da versão Abridged no quão caricata ela consegue ser com o tesão que ele tem por lutas, talvez eu quisesse falar da versão canônica. Mas o Cell canônico parece querer manter a pose de cool. Esse aqui está vibrando. Ele ama o papel de vilão e ama ter um herói pra cumprir esse papel. E Goku ama ter um vilão pra ser o herói.

Ponto bônus, que o Goku nem sequer achou que venceria Cell, ele contava com Gohan pra ser quem iria salvar a terra, mas mesmo assim ele queria brincar. Esses dois não viam a hora de sair no soco. E por isso o que não havia de ódio, havia e destrutivo.

1 Lugar: Ito Kaiji VS Endou Yuji (Kaiji)

No primeiro capítulo do primeiro mangá da série Kaiji, chamado Tobaku Mokushiroku Kaiji (Kaiji, Aposta do Apocalipse, ou algo parecido), o jovem sem rumo na vida, Kaiji, é abodado pelo agiota Endou, que o informa que ele está individado por que um ex-colega seu lhe passou a perna, e lhe oferece a chance de quitar suas dividas em uma aposta arriscada onde ele podia ficar rico ou ser vítima do tráfico humano. E pelo dom da manipulação psicológica de Endou, Kaiji aceita e sobrevive a experiência, mas seguindo endividado. E desde então um nunca mais saiu da vida do outro.

O grupo Teiai, seguiu atrás de Kaiji explorando suas dívidas e sua inclinação a apostas para colocá-lo em jogos mais e mais perigosos, usando Endou como o intermediário que saberia como convencer Kaiji a tomar uma decisão muito ruim de arriscar a vida, com a pressão de que suas dívidas impagáveis já tornam impossível que ele tivesse uma boa vida. E isso foi escalando e foi escalando, ao ponto em que quando Kaiji enfim dá o troco e vence o grupo Teiai. O grupo decide capturar Kaiji e designa Endou, um especialista no sujeito a ser quem comanda a busca.

A parte 6 do mangá Kaiji é a única que não gira em torno de apostas, e sim de um jogo de gato e rato, em que Kaiji e Endou tem sua primeira batalha, mas ao mesmo tempo, estão colocando ao limite a maneira como um despreza o outro faz tempo. Kaiji sempre soube que Endou não prestava, e Endou sempre soube que Kaiji era perigoso, e depois de 5 mangás se suspeitando, veio o contexto pra eles brigarem, numa perseguição urbana.

E pra uma parte sem aposta nenhuma está sendo uma das minhas partes favoritas de Kaiji, justamente pela quantidade de história que os rivais tem. Eu falei que não tem apostas, mas o que não tem é jogo. Pois a situação já escalou demais. Se Kaiji for capturado ele morre, e se Endou falhar na missão ele morre. Só acaba com um deles morto, e ambos se enfrentam com garra.

Eu acho que a Parte 6 elevou o Endou a um dos melhores personagens desse mangá, e como eu nunca escrevi sobre Kaiji aqui Dentro dessa Chamine, eu aproveito a deixa pra recomendar de coração, leitores, leiam Kaiji, excelente mangá.

11º Órfãos Baudelaire VS Conde Olaf (A Series of Unfortunate Events):

Algumas séries que se estendem ao longo de vários livros gostam de variar aqui e ali e mudar o vilão de vez em quando, não é o caso de A Series of Unfortunate Events, em que 13 livros significam 13 vezes que os Órfãos Baudelaire enfrentaram seu arqui-inimigo, o Conde Olaf. Um homem cruel que não vai parar por nada até pôr a mão na fortuna dos órfãos.

O que a gente aprende com o passar dos livros é que a inimizade entre os Baudelaire e o Olaf é maior que eles. Envolve uma grande organização, uma cisão, pessoas nobres que faleceram, pessoas horríveis que viveram. E eles são uma parte que se enfrenta nessa briga toda. Mas ao mesmo tempo, eles se enfrentam muitas vezes, e se remover todo o contexto de espionagem e código secretos no qual eles se envolvem, eles ainda se odeiam.

Eu gosto do quanto a série usa o fato de que sabemos muito bem da inimizade deles, para deixar informação contada pela metade. Sabemos que o Conde Olaf tem um bom motivo pra ter rancor imenso com os pais do Baudelaire, mas não temos o contexto pra saber quem estava correto ou não na situação. Suspeitamos que o incendiário que matou os pais dos Baudelaire seja o próprio Olaf, mas ele que costuma ter orgulho de seus crimes negou esse. A vida do Olaf é mais complexa do que somente o que os Baudelaire viram, mas não vemos isso, e sabemos que independente de qual for a complexidade, Olaf é um homem mesquinho e odioso que quer se apropriar da fortuna dos Órfãos por ganância.

Ao longo dos livros vemos o contraste, Olaf fez as maiores atrocidades e maldades que esteve seu alcance com os Baudelaire, e os Baudelaire….. ficaram perpetualmente divididos entre seu desejo de fazer a mesma coisa com o conde, e seu desejo de ter um código moral. Era bem fácil pros Baudelaire falarem “sempre faça a coisa certa”, mas no que envolvia o Olaf e a certeza deles de que tudo ia melhorar se eles só matassem ele, era a tentação. Era o ponto fraco deles.

A história deles é complicada. Mas a relação deles não é. Um precisa do outro fora de seu caminho. Eles se conhecem feito a palma da mão, eles sabem muito sobre o outro, e eles se odeiam.

10º Lugar Light Yagami VS L (Death Note)

100% do carisma de Death Note existe em função do quão carismática foi a inimizade entre Light e L, tanto que muita gente acredita que o mangá não se sustenta quando Light tem outros adversários. O que eu não concordo, mas é uma opinião muito comum.

Acho que o grande charme desses dois é que eles não podiam admitir publicamente que eram inimigos. L tinha quase certeza de que Light era Kira, mas até ter 100% de certeza, eles tinham que prosseguir com as investigações. E Light tinha que fingir que era amigo de L até ele conseguir seu nome para matá-lo. O que deixava os dois em um ciclo eterno de “eu sei que você sabe que eu sei que você sabe…” enquanto fingiam se dar bem na frente dos demais.

Apesar de Death Note cair na armadilha comum em histórias, especialmente histórias de detetives, em que um personagem é supostamente um gênio, mas ele só consegue ser tão inteligente quanto o autor, e algumas cenas soam pretensiosas pra fazer ele parecer inteligente, mesmo assim, a batalha ser 100% intelectual é também um dos grandes pontos dos dois. Os dois podiam só pegar uma arma e eliminar o outro, mas era sobre se provar mais inteligente, tinha um jogo, e o cara que sacasse uma arma iria perder.

….isso e o fato de que só estadunidense tosco que quer dar conotação positiva pra arma de fogo em Death Note.

E o outro ponto que torna a inimizade deles tão magnífica é sua simetria. O quanto a gente vê a perspectiva dos dois na investigação o tempo todo, sempre sabendo o que os dois lados estão pensando e o que eles sabem. Os dois falam coisas parecidas, e os dois têm personalidades parecidas, mas um precisa matar o outro. Eles se fingem de amigos, mas eles provavelmente seriam amigos se um não fosse o mais hediondo serial killer da ficção e o outro não fosse um detetive que vai deter o mais hediondo serial killer da ficção. Eles tiveram opções de carreira incompatíveis e agora só termina quando um deles morrer..

9º Lugar: Itou Kaiji VS Kazutaka Hyoudou (Kaiji).

E Kaiji é um mangá tão bom que ganhou duas menções aqui! Merecidas! E se a lista fosse mais longa e tivesse umas dez inimizades a mais, eu provavelmente teria incluído o Kaiji e o Kazuya também. Pois Kaiji é realmente bom em inimizades.

Mas a melhor do mangá todo é a de Kaiji e Hyoudou.

Hyoudou é o chefe da organização Teiai, a organização que tortura Kaiji o mangá inteiro. É um homem muito rico e que entende que por ser rico, ele pode fazer o que quiser, pois está acima de tudo. Ele trata pessoas como coisas, é extremamente sádico e quer por as pessoas no seu limite.

E o fato dele ser rico e poderoso, faz com que ele esteja em uma situação em que ele não tem que impressionar ninguém. Então ele não precisa esconder que é um cuzão. Aquilo que fica implícito na fala de seus subordinados presos pela educação e formalidade, fica explícito na fala dele.

E Kaiji entende que o Hyoudou é o mal do mundo. Que todo mundo horrível que ele conheceu pela Teiai, é um reflexo do Hyoudou ser horrível. E ele decide que ia fazer uma grande aposta com Hyoudou, e dar a ele uma derrota simbólica que o fizesse sentir a raiva de todas as suas vítimas…..

….e o Kaiji perde.

Perde pra cacete, perde dinheiro, perde os dedos da mão, é um fracasso colossal e absurdo. E o Kaiji mais na merda do que nunca jura um dia reencontrar Hyoudou e se vingar.

E eles nunca mais se reencontraram. Muito embora Kaiji tenha enfrentado e derrotado diversos outros associados ao Hyoudou, ele nunca mais esteve cara a cara com o centro de todo o mal na sua vida… Mas Kaiji não perdeu o foco, ele sabe que o problema é o Hyoudou, ele entende que todos os demais são meros peões e que o Hyoudou atua por eles.

E Hyoudou nunca deixou de ir atrás de Kaiji, Hyoudou ganhou, mas foi tocado pela garra desse que o desafiou, e ainda busca retribuição. E eles estão nessa guerra indireta por centenas e centenas de capítulos, só antecipando que um dia, eles vão se reencontrar.

É a luta de classes. Kaiji é um cara pobre e lascado que entende que o real inimigo é sempre aquele no topo. E o cara no topo entende, que gente como o Kaiji que entendeu isso é a real ameaça.

Um dia eu vou ver essa revanche. O que é Guts vs Griffith perto de Kaiji vs Hyoudou? Eu digo, não é nada. Esse é o grande troco que precisa ser dado.


8º Lugar: Robert Baratheon VS Rhaegar Targaryen (A Song of Ice and Fire)

Os fãs de A Song of Ice and Fire/Game of Thrones gostam de falar como se o lore desse universo fosse complexo e detalhado e fosse uma grande teia de aranha dos diversos conflitos políticos e lendas da terra de Westeros. E isso é um exagero. Digo, tem isso, mas 50% do lore é simplesmente que “Um dia o príncipe decidiu que queria comer a esposa de um nobre pra surpresa, e esse nobre liderou a rebelião que destruiu a maior dinastia daquela terra, pra ter a mulher de volta”.

É surreal como muitos elementos dos livros giram em torno da consequência dessa grande batalha. Que foi uma das três maiores guerras civis da história daquele mundo. Foi uma puta guerra. Alterou a política de Westeros pra sempre. Mas foi essencialmente um triangulo amoroso. Robert e Rhaegar brigando por mulher.

E o Robert nunca deixa o leitor esquecer, que não foi mais complexo do que não ter a sua amada roubada por Rhaegar.

Robert venceu, Rhaegar morreu, e por isso nunca vemos a perspectiva de Rhaegar de porque ele fez o que ele fez. Ele sequestrou Lyanna Stark ou ela fugiu com Rhaegar? Ele estuprou ela? Eles casaram em segredo? Como ele se apaixonou por ela? Ele gostava dela? Ele queria usá-la pra cumprir uma profecia? Os fãs gastam muito tempo e muita energia repetidamente se perguntando em o que Rhaegar pensou quando passou a cantada que destruiria toda sua família.

A série deu uma resposta que por coincidência validou a maior e mais popular teoria dos fãs, mas ainda não temos fatos nos livros.

E é isso, depois de muitas batalhas, muitas mortes e muitos nobres repensarem suas lealdades e da relação entre as famílias do reino ser alterada, tudo acabou com um grande 1×1 entre Robert e Rhaegar. O aspecto pessoal do conflito não foi apagado pela grande proporção da guerra, acabou com dois homens brigando por uma mulher.

Nenhum triângulo amoroso nunca saiu tão do controle quanto esse daqui.

7º Lugar: Vegeta VS Freeza (Dragon Ball – Versão Cânon)

Eu sou fraco pro clichê do subordinado do vilão que secretamente quer matá-lo pra se vingar e só está ganhando tempo pra poder destruir o vilão.

O Vegeta tem dois diferenciais que tornam esse tipo de história ainda melhor, o fato dele não ser um herói infiltrado, dele ser genuinamente maligno. E o fato de que ele querer matar o Freeza não é segredo nenhum, ele a insolência dele ficam na cara.

E Freeza manteve esse insolente na coleira por anos por saber que sempre seria superior a Vegeta…. Até o momento em que Vegeta enfim viu a brecha pra trair seu mestre.

O Vegeta é a grande estrela da saga de Freeza, ele é quem enfrenta todas as forças do Freeza, ele enfrenta o Dodoria, o Zarbon e é quem mata todos os Guinyus. O grosso do arco gira em torno só do Vegeta e seu ataque ao Freeza e ele lidera todo o grupo anti-Freeza até o momento de sua morte.

Aí quando ele morreu ele deu a benção ao Goku pra derrotar Freeza como uma extensão de sua vingança e de seu ódio, Goku lutou em nome do Vegeta também e vingou ele, como um representante de todos os Sayajins. Mas o Goku de fato a presença dele não era relevante pros namekianos, nem pro Freeza nem pro Vegeta, o pivô do arco foi o Vegeta e o Goku foi só o guerreiro que lutou depois que o Vegeta morreu.

Eu acho o Vegeta o personagem mais complexo e completo de Dragon Ball, mas acho que esse processo começou quando a relação dele com Freeza foi revelada, quando era Vegeta invadindo a terra, foda-se.

E em contraste, é visível o quanto Freeza nunca respeitou Vegeta e sempre o tratou como um inferior, mas secretamente ele morria de medo dos Sayajins, espécie cuja identidade é algo que define o Vegeta mais que qualquer outro Sayajin da série.

A luta mais pessoal, e a raiva mais potente de Dragon Ball não envolve o Goku, é a luta do Vegeta contra o Freeza, a luta que fez o Vegeta chorar. E apesar de Vegeta não se redimir de absolutamente nada em Namek, é a relação com o Freeza e a maneira como o ódio que ele tem de Freeza o definiu que permitiu que ele tivesse a complexidade necessária pra começar seu arco de redenção no arco Cell e se tornar o de fato personagem melhor escrito do mangá.

Ah e eu enfatizei que aqui é a versão Cânon, então não tenho nada pra comentar sobre a várzea que é a presença do Freeza em Dragon Ball Super e como é a relação do Vegeta com ele ali, embora siga sendo uma inimizade.

6º Lugar: Sidney Prescott VS Billy Loomis (Scream)

Esse aqui é interessante, pois não é tanto o Billy quanto é o legado do Billy. Digo, maneira como Billy e Sidney passaram de ex-namorados pra uma luta violenta entre um Serial Killer e sua vítima já seria legal suficiente, mas se fosse só a luta com o Billy vivo, perderia espaço nessa lista, e nem entraria aqui, eu teria colocado Laurie Strode VS Michael Meyers no lugar.

Mas o lance é que o Billy morreu e…. a inimizade não.

Pois o Billy conseguiu transformar seu crime em entretenimento. E com isso, ele criou uma legião de fãs do personagem dela, que fez com que pelo resto da vida de Sidney malucos vestidos de Ghostface tenham ido até ela tentar terminar o que Billy começou.

O Ghostface foi ideia do Billy, e essa ideia inspirou muito serial killers, inspirou muitos psicopatas e criou um legado de morte, e esse legado via a morte de Sidney como o maior dos troféus. Como o alvo mais valioso, como a arqui-inimiga de tudo o que eles representavam. Tudo isso, porque a mãe da Sidney dormiu com o pai do Billy e fez ele querer matar as duas.

É muito pessoal, e desencarrilhou num desastre e em inúmeros massacres.

Bom, a personagem não apareceu em Scream 6, então acho que a Sidney enfim achou a paz e parou de brigar com o legado de Billy, mas não existem dúvidas de que essa mulher passou tempo demais tendo que se livrar do fantasma do ex-namorado sociopata dela. A Sidney supera todos os limites do quanto nem morto o pior ex da história consegue deixar ela em paz.

5º Lugar: Javert VS Jean Valjean (Les Miserables)

Ok, nesse aqui eu estou roubando um pouco! O Jean Valjean não vê o Javert como um inimigo. O Jean Valjean respeita o Javert e seu senso de justiça, e mesmo sabendo que o Javert não pararia, e sendo tentado pela conveniência de se livrar de Javert, Jean Valjean salva sua vida e evita fazer mal ao policial.

Então essa inimizade é unilateral

Estou quebrando a regra número 1.

E porque esses dois conseguiram o 5º lugar quebrando a regra número 1?

Porque eles são especiais e a regra vale menos pra eles do que vale pros outros.

E por que eles são especiais?

Por que Javert e Jean Valjean codificaram todo o trope do policial obsessivo que marcou um criminoso como foco e não vai descansar e parar até por esse fugitivo na cadeia, com esse um fugitivo que precisa estar um passo a frente desse perseguidor eternamente, pois ele está na sua cola. Se eu colocasse qualquer um dos exemplos abaixo, seria estranho, pois todos eles são dignos, mas são uma reprise da perfeição que é a perseguição que Javert fez a Jean Valjean.

Então eu tenho que valorizar o exemplo primário aqui.

É que nem se eu fizesse uma lista de melhores vampiros, e falasse que eu vou ignorar vampiros que não queimam no sol. Essa regra poderia tirar os vampiros de Twilight da lista, mas quando chegasse no Drácula, essa regra não tiraria o Drácula da lista, pois o Drácula é especial.

Les Miserables é especial.

Mas falando sério, eu amo especialmente como em Les Miserables, Javert parece ignorar, e se isso é proposital ou se ele é cego por sua obsessão depende da adaptação, mas ele tem o poder de ver o tamanho da redenção de Jean Valjean e o quanto ele está dedicado a ser uma boa pessoa, e mesmo assim não desencana de prendê-lo por um crime de muitos anos atrás que nem importa mais. Tem um orgulho, Jean Valjean escapou dele, e ele vai recuperá-lo.

Na adaptação não-musical pro cinema, com o Liam Neeson e o Geoffrey Rush, tem uma cena em que Javert ouve boatos de um homem alimentando os famintos e lutando por justiça e pensa “isso só pode ser o Jean Valjean, vou lá prender ele”, e isso é a marca da obsessão. Ele está supostamente indo prender um criminoso perigoso, mas em algum momento da perseguição, se é um criminoso ou perigoso deixou de importar, só sobrou a obsessão.

Que é o motivo pelo qual eu acho que o Javert codificou tantos outros policiais parecidos, pois deixar a obsessão entrar no lugar do dever profissional é a marca central de todos as outras histórias parecidas.

A obsessão de Javert era tão grande que quando ele enfim se convenceu que deixar Jean Valjean escapar era a escolha correta, e que ignorar o crime passado de Jean Valjean era ético, ele se mata, ele não aguenta viver diante dessa contradição, a vida dele era negada pela ideia de que Jean Valjean não merecia a cadeia, e portanto prender aquele homem era a prova de que todos seus valores não eram mentira.

O Javert é bom pra cacete, e eu fico triste quando penso que ele é a pior parte do musical, porque o Tom Hooper é um animal e não consegue dirigir o Russel Crowe, nem pra salvar a própria vida. Que crime que essa história tenha seu musical adaptado pelo cara de Cats.

4º Bugs Bunny (Pernalonga) VS Elmer Fudd (Hortelino) (Looney Tunes)

Os desenhos animados da Era de Ouro são todos marcados por uma inimizade! Esse é o feijão com arroz deles. Temos dois personagens, e um deles vai passar o desenho inteiro tentando foder com o outro.

Existe uma brecha aqui pra fazer a piada “no caso do Pepe Le Pew, literalmente”, mas acho que uma ponte com o Pepe Le Pew é uma boa deixa pra reforçar o lance da inimizade, pois muita gente interpreta o que ele tem com a Penelope como um romance. Não é! Eles são inimigos. Ele é um abusador sexual ignorando o consentimento dela e o direito dela de recusado, e ela é uma vítima de violência sexual fugindo, com medo e procurando segurança. A relação do Tom e Jerry, do Sylvester e Tweety (Frajola e Piu Piu), do Coyote e Road Runner (Papa Léguas), são todas baseadas na ideia de predação, e Pepe le Pew também. Ele é um predador. Ele é um vilão. E observar como a base desses desenhos é a de inimizades ajuda a ver que o Pepe não é exceção.

Mas bem, de todas essas inimizades, nenhuma é mais forte do que a de Elmer e Bugs. E eu acho que o segredo aqui, é que Elmer é burro, e sua maldade é uma maldade inocente. Elmer é somente o cidadão médio, o homem comum, com um hobby problemático, que apontou a arma pro maior malandro do mundo e não tem a capacidade de se defender do vespeiro que ele cutucou.

De todas as combinações de personagens de desenhos em uma luta eterna, nenhum encarna melhor o conceito do “fuck around and find out” do que o caçador e o coelho. O caçador achou que caça era um bom hobby, até achar a presa que vai foder com ele. E agora já era. Tá lascado. Ficou de bobeira e tomou no cu.

Pernalonga é a última pessoa no mundo que alguém deveria criar inimizade, e ele e Elmer estão faz décadas e décadas brigando. Mas eu sinto que não vamos parar de ver o Elmer descobrindo o que acontece quando você aponta a espingarda na cara do coelho tão cedo.

E por falar em gente brigando faz décadas.

3º Batman VS Joker (Batman)

Eu ia evitar ficar hypando esses dois, pois o que falar que a internet inteira já não falou? É a dupla de super-herói e super-vilão mais popular da história, e inúmeras histórias, boas e ruins já foram escritas tentando dissecar qual a natureza da relação dos dois e o quanto esses personagens brilham quando estão juntos.

Eu não queria vir aqui e só chover no molhado, mas, ao mesmo tempo, eu ia colocar quem? O que esses dois têm simplesmente merece toda essa reputação.

Mas eu quase coloquei Hal Jordan e Sinestro.

Afinal são dois homens loucos, que nasceram pra lutar. A vida deles é absolutamente interligada e um tira o sono do outro a noite, imensas propostas de passados pros dois já foram propostas pra dizer que um é responsável por criar o outro. E mesmo assim, eles nem sequer sabem o nome um do outro.

Representando forças extremamente opostas de ordem e caos, a dinâmica deles é tão boa, que o Joker não foi criado pra ser o arqui-inimigo do Batman, foi só algo que foi acontecendo naturalmente em resposta ao quão populares essas histórias eram, e agora já era, já reimaginaram um bilhão de versões diferentes desses dois, cada uma com a sua própria natureza e própria característica especial, umas mais cômicas, umas mais sérias, umas mais flertantes, uma mais agressivas. E em todas elas, em todas, eles se odeiam, e um é o maior inimigo que o outro já teve.

2º Deus VS O Diabo (diversas histórias)

Ok, eu não sinto que eu devo com muita força esse tipo de disclaimer, pois não imagino o público desse blog fazendo esse tipo de barraco. Mas quero explicar mesmo assim que a ideia aqui não é deixar implícito que a Bíblia é uma história de ficção. De fato não é. Não que eu seja religioso ou siga a bíblia, mas é que eu não acho que essa inimizade é o forte que eu tirei das bíblia. O Diabo é na real alguém que nem aparece tanto quanto eu achei que apareceria no velho testamento, ele fica muito mais ativo é no Novo Testamento, com as passagens sobre ele atormentando e tentando Jesus Cristo, o filho mortal de Deus, e eu acho que esse é um pouco o ponto.

Eu tenho interesse na maneira como o Diabo é retratado como alguém que atormenta a humanidade pra atacar Deus. Ele não vai brigar com o chefão, a entidade onipotente, oniciente e onipresente, ele vai mexer com a gente, que é fraco, que é manipulável, que é pecador. E corrompendo a humanidade é que ele se vinga de Deus. E eu acho interessante essa perspectiva da inimizade deles, do conflito indireto. E de Como os dois disputam a influência que eles tem no coração do ser humano.

Por isso que eu digo que essa parte não é sobre a bíblia, porque por mais que o conflito dos dois esteja descrito na bíblia, esses dois foram explicitamente ficcionalizados em diversas histórias e adaptações. Tem muitos filmes só sobre o Diabo tentando foder com a gente. Muitas e muitas histórias sobre o Diabo atacando o ser humano.

E a gente sabe que nunca é pessoal. O diabo não odeia os personagens do filme geralmente Nem ama. Ele é indiferente ao quão pequenos somos. O personagem faz um pacto com o diabo, dá mil voltas, duas mil voltas pra tentar se safar e escapar do pacto, fracassa e morre, vai pro inferno, e eu não sinto que o diabo ligue ou pense nesse ser humano. É só um jogo, e não é com a gente que ele tá jogando, o rival dele é outro.

E eu amo o Diabo como o vilão recorrente de diversos filmes que ele é. E sempre como um fragmento da uma grande batalha que ele trava, com Aquele que escreve certo pelas linhas tortas, e que não se manifesta fisicamente na forma de um homem suspeito quebrando contratos, mas ainda assim combate ele do seu jeito. Eu não sou religioso, mas acho uma excelente luta, e uma que vale a pena ser retratada tantas e tantas vezes conectando tantos e tantos filmes.

Mas tem uma luta que eu acho ainda mais notável.

1º Lugar: Capitão James “Flint” McGraw VS A Inglaterra (Black Sails)

Esse nem eu achei que ia tomar o primeiro lugar, pela falta do fator “icônico” de Black Sails, por mais que eu queira, não foi uma série tão grande quanto merecia. Mas eu ainda vou colocar essa inimizade acima de todas, justamente porque é a mais desigual possível. Eu coloquei aqui várias pessoas obcecadas com um inimigo de quem eram mais fracos e tinham poucas chances de vencer, mas nada tão contrastante quanto um homem tentando enfrentar um império.

Não que não tenham exemplos na vida real de homens que se rebelaram contra países e potências e venceram, afinal o mundo teve diversas revoluções.

Mas no caso de Flint tem fatores interessantes. Por exemplo: a utopia, ele tentou com toda a sua força fundar um país que a gente sabe por fato que nunca foi fundado, e por mais que revoluções na história tenham dado certo diversas vezes, o fato de que a gente sabe como um fato de que essa não deu, faz a vitória soar ainda mais inacessível. Outro fator: muitos países caíram pra revoluções, mas o Império Inglês foi o maior império da história da humanidade, então ele parece algo mais difícil que a média.

Mas o ponto é: Flint foi outrora um oficial do governo inglês que queria erradicar a pirataria dos mares do Caribe, porém, ele se apaixonou por um homem que tinha uma decisão mais radical de acabar com a pirataria perdoando-os de seus crimes em vez de matá-lo. A Inglaterra que recusou a ideia de não chacinar os piratas, não podia prender o amor da vida de Flint por ter ideias progressistas, então prendeu ele por ser gay, e deixaram em Flint o desejo de se vingar. De se aliar aos piratas e resistir ao império inglês e não permitir a chacina, e não recuar em nada. Em fazer a pirataria vencer o Império Inglês.

Ou seja, ele queria afundar o maior império, por amor. Por vingança de ter seu amado tirado dele. Mas não só vingança, uma compreensão. De que o Rei, suas leis, e o estilo de política do qual ele fez parte deixaram de fazer sentido pra ele.

E a maioria dos piratas não tinha desejos de serem políticos ou revolucionários, então o esforço de Flint de usar seu carisma, seu discurso e seu dom de contador de histórias pra inflamar um grupo e tentar tornar Nassau um centro de resistência à Inglaterra foi um ato admirável de poderoso.

E como a inimizade tem que ser uma via de duas mãos, não é como se o Império Britânico fosse indiferente ao Flint ou não o levasse a sério. Ele foi incessantemente combatido. Diversos oficiais britânicos tentaram lidar com Flint. O representante definitivo da perspectiva inglesa na série foi Woodes Rogers, mas ele falava e agia como um representante do governo inglês, e junto dele tiveram diversos outros.

E tanto faz quantos representantes tinham, pois Flint enfrentava um e vinha outro, e o inimigo era sempre o mesmo, nunca mudou. E a Inglaterra nunca deixou de retalhar.

É impressionante o quanto nações podem de fato temer pessoas.

Eu não poderia recomendar o suficiente Black Sails, grande série, uma das melhores.

E isso encerra a minha lista de melhores inimizades. Muitas histórias excelentes são sobre conflitos, e eu acho que os conflitos são mais interessantes quanto mais eles misturam o pessoal com o não pessoal. As consequências do conflito podem ser gigantescas e ter um escala enorme, mas mesmo esses conflitos eu acho que no final são melhores quando são resumidos a “tem alguém muito puto, por motivos privados privado”.

Boas histórias ajudam os sentimentos do expectador a vir a tona, e pro expectador poder sentir o ideal é que personagens sejam emocionalmente intensos, isso é ótimo pra emoções positivas como alegria, riso, amor. Mas vale pras negativas, pra tristeza, pro medo. E especialmente pro ódio.

No comecinho do mangá Hunter X Hunter, o protagonista Gon fala que pra conhecer bem uma pessoa a gente tem que entender o que é que deixa elas com raiva. E eu concordo com essa frase, entender em um personagem o que é que enfurece eles é a melhor maneira de descobrir seus valores e suas prioridades, mais do que descobrir o que deixa eles felizes. E entender porque eles odeiam quem eles odeiam é a melhor maneira de entender de onde é que eles vem, e como eles são afetados.

Se tiver alguma inimizade que vocês sentiram que eu ignorei nessa lista, fale sobre nos comentários pros próximos leitores lerem o comentário e lembrarem (e eu também lembrar). Eu dividi o meu repertório com vocês, mas obviamente tem muita inimizade muito bem construída, mas que estão escondidas em obras que eu não conheço, não fui atrás, não lembro ou não curti tanto. Usemos esse espaço pra trocar sobre elas também.

Inclusive fiquei até incomodado, que eu tentei achar e não achei exemplos que me agradassem de inimizades femininas, e a lista ficou com um cheiro excessivo de cueca. Claro que é fácil pensar em homens quando a maioria dos protagonistas é homem, mas tenho certeza de que tem um bom número de mulheres que se odiaram que estão em obras que eu simplesmente não conheço. Eu prefiro quando minhas listas são mais diversas.

Mas deixo umas menções honrosas de inimizades sem homens das quais eu lembrei, e não senti que mereciam o 19º lugar, mas refleti bastante a respeito, quase entraram. A da Penha com a Denise senti que era só rivalidadezinha casual, pequeno demais pra entrar.
A Reze e a Makima senti que interagiram menos do que eu gostaria pra considerá-las grandes inimigas. Que a disputa delas pela influência no Denji foi indireta na maior parte do tempo.
A Cinderella não entrou, pois eu acho que ela não reconhece a Madrasta como uma inimiga.
Se a franquia The Ring tivesse se desenvolvido mais, mantendo a Rachel,, a relação da Rachel com a Samara poderia ter ido pra lugares bem interessantes e teria sido a única franquia de terror centrada no relacionamento entre duas mulheres. Mas isso não aconteceu, e o que elas tem nos dois primeiros filmes não foi o suficiente pra elas irem pra lista.
Umi no Yami Tsuki no Kage é um mangá não-muito-famoso, em que duas irmãs gêmeas ganham super-poderes e uma delas surta e começa a usar seus poderes pro mal, forçando a gêmea boa a tentar impedí-la. Eu não botei na lista, pois a gêmea boa quer demais fazer as pazes, mas eu deixo a recomendação.

E nos vemos no próximo texto. E também no próximo Dia do Ódio, vou tentar pensar em outro ranking especial até lá.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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