Hoje é o Dia do Irmão meus leitores. E aqui no Dentro da Chaminé eu de vez em quando gosto de pegar umas datas e fazer um texto especial para elas. Quando eu fiz o meu Top18 Amizades de Homens e Mulheres na Ficção, que é um dos meus textos mais populares, eu falei que talvez no futuro que quisesse fazer uma lista só sobre os irmãos da ficção. Pois bem, esse dia chegou.
Hoje o texto seguirá a tradição que eu comecei faz alguns anos pro Dia de São Valentin, de celebrar algumas duplas da ficção. Fiz os melhores casais, as melhores amizades, e os melhores ships. E agora, estou usando o Dia do Irmão para fazer os melhores irmãos, para deixar o próximo Dia de São Valentin vago para uma ideia que um dos meus apoiadores me deu.
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Esse texto é feito em homenagem a todos aqueles que já me apoiam, aos quais eu tenho muita gratidão. Os verdadeiros heróis desse blog.
Mas esse texto também é em homenagem aos meus irmãos… todos eles. Tanto meus irmãos biológicos, quanto os filhos do meu pai não-biológico, quanto minhas primas que são o mais próximo que eu já tive de realmente dividir uma casa e ser criado junto de gente a minha geração…. eu não sei se pessoa desse grupo de homenagem vai ler esse texto, mas eu pensei em todos eles escrevendo esse texto.
É louco esse negócio de ter irmão, né? Literalmente um irmão é uma pessoa que é o outro filho dos seus pais (ou de um só deles). Mas a palavra é usada de várias formas no dia a dia. A palavra irmão pode ser usada para se referir a uma grande amizade.
A palavra ser usada para separar membros de uma organização dos membros de fora dela.
Pessoas podem usar a palavra para se referirem a membros do mesmo grupo social.
E entre soldados se chamando de “irmãos de armas”, a pessoas que dormiram com a mesma pessoa se chamando de “irmãos esquimó”, ao ritual de duas pessoas juntarem duas feridas e se tornarem “irmãos de sangue” para jurar lealdade uma a outra… o que todos os usos dessa palavra tem em comum é essa energia de “estamos nessa juntos”. São pessoas na mesma situação, que se conectam pelo seu contexto compartilhado.
Essa conexão grande de estarem no mesmo barco não significa que esse laço seja sempre bonito. A bíblia é da opinião de que a história dos primeiros irmãos da humanidade é uma história de assassinato, e desde então inúmeras histórias de Cain e Abel foram escritas em que irmãos são inimigos mortais.
Mas mesmo os irmãos que são inimigos mortais ainda têm essa conexão. Pois eu reforço isso que eu falei de estar no mesmo barco. Somente os seus irmãos realmente entendem o que é ser filho dos seus pais. E as vezes, em especial porque histórias adoram órfãos, a conexão de “não importa o que aconteça teremos um a outro” mais forte ainda.
Mas qualquer família soa muito diferente vendo de dentro e vendo de fora, e seu irmão pode ver o mundo da sua perspectiva, seja vendo de dentro ou vendo de fora. E essa perspectiva compartilhada é sempre forte, mesmo se as diferenças forem tão fortes quanto.
E histórias fictícias adoram pares de irmãos. Especialmente porque irmãos deixam algumas narrativas fáceis de serem escritas. É uma maneira fácil de fazer dois personagens com muito pouco em comum passar uma quantidade muito grande de tempo juntos, além de como eu disse no meu texto sobre amizade entre homem e mulher, muitas vezes é o caminho mais fácil de explicar o motivo de os dois protagonistas não terem uma trama romântica, mesmo sendo homem e mulher.
Mas muitas obras também mergulham fundo no significado desse laço e em como esse tipo de relação se desenvolve.
Por isso, para esse texto eu reuni aqui 15 Laços de Irmãos Fictícios, para pensar em como a história deles e a dinâmica deles trabalha o que significa serem irmãos. Procurei evitar exemplos de Cain e Abel, de irmãos destinados a lutar e a um matar o outro, e focar em várias maneiras e perspectivas diferentes que autores de diversas mídias resolvera retratar como o laço que se desenvolve com uma pessoa que tem os mesmos pais.
Isso é um top15, então tem uma hierarquia do quão interessante e legal é a dinâmica, mas com uma preocupação em deixar a lista diversa, então muitos pares não foram pra lista, pois já tinha um parecido que eu queria colocar.
As regras dessa lista vão ser bem curtas…. eu dei um mar de definições diferentes de usos em que a palavra “irmão” pode ser usada, mas pra essa lista só estou considerando o parentesco mesmo. Podem ser irmãos adotivos, podem ser irmãos postiços, podem ser meio-irmãos, podem ser irmãos que não se conhecem…. mas não pode ser o Jon Snow e o Sam Tarly. Tem que ser família e não irmandades.
E irmãos-de-consideração só são válidos de for um título que ambas as partes reconhecem mutualmente. Nada unilateral aqui.
E é essencialmente isso. Com o lembrete de que todo mundo que aparecer aqui nas imagens ilustrativas está nas menções honrosas. E quem não aparecer não está.
Então começado:
15º Lugar: Natsuo Fujii e Rui Tachibana (Domestic na Kanojo):
Natsuo e Rui estão no final da lista por um motivo muito simples: eles transaram. Inúmeras vezes.
Eu sou um grande fã de Natsuo e Rui enquanto casal de namorados. Se eu tivesse lido Domestic na Kanojo antes de fazer a minha lista de melhores casais, eles teriam ficado em 3º ou 4º lugar. Mas essa lista aqui não mede se eles são um bom casal, e sim se eles são bons irmãos. E eles serem um casal já não conta muito a favor deles.
Mas eles chegaram até essa lista, e ocuparam um lugar que nenhum outro par incestuoso ocupará principalmente pelo motivo de que eles escolheram ser irmãos. Mesmo em um contexto em que nada no mundo seria mais conveniente pra eles do que só não ser irmãos.
No mangá o pai de Natsuo e a mãe de Rui se casam pouco tempo depois de ambos perderem a virgindade um com o outro no que ambos esperavam ser um one-night-stand com um parceiro que ambos esperavam nunca reencontrar. E seria muito fácil pra eles falarem que eles estarem morando juntos é uma coincidência, que não são nada além de colegas-de-quarto, e que não é como se eles fossem virar família de verdade. Seria inteligente deles fazer isso, para evitar o desconforto. Mas eles fizeram o oposto, eles vestiram a carapuça, entraram em seus papéis, e mesmo com uma tensão sexual enorme entre os dois, eles escolheram ser uma família, pois isso era importante pros seus pais.
O mangá dá um passo além dos vários outros mangás de irmãos-postiços-com-tensão-sexual em de fato mostrar Rui se conectando com o pai de Natsuo e passando a chamá-lo de pai. Em fazer eles alternarem entre modo-irmãos e modo-amantes ao longo de sua rotina.
E eu particularmente gosto de como mesmo quando eles estão com um balde de água fria no relacionamento deles, eles ainda se protegem por conta da relação familiar.
Eu acho que esses dois incestuosos não tinham o direito de fazer parecer que eles gostavam tanto de ser irmãos, mas eles realmente venderam isso.
…e existe uma terceira irmã na família, que eu estou deliberadamente excluindo da conversa, pois ela não era lá uma grande irmã, pra nenhum dos dois, não era horrível, mas deu altos vacilos, e acho que inevitavelmente serviu de contraste.
Eu já escrevi sobre Domestic na Kanojo no passado onde eu toco em todos esses pontos com mais detalhes, para quem tiver interesse em ler.
14º Lugar: Lilo e Nani Pelekai (Lilo and Stitch):
Eu fiquei pensando bem em qual exemplo eu queria para exemplificar essa situação, que acontece bastante, de irmãos mais velhos que acabam sendo promovidos a pais de seus irmãos mais novos, após algo acontecer com um dos ou ambos os pais. Eu estava entre Lilo e Nani. Ian e Barley de Onward da Pixar, ou entre Manami e suas quatro irmãs no mangá Centaur no Nayami. O que fez Lilo e Nani ganhar é que dos três exemplos, esse é o que melhor mostrou a transição entre os dois papéis.
Os pais de Lilo e Nani faleceram pouco antes dos eventos do filme começarem, e ambas ainda estão se acostumando a mudança que é para Nani ter que criar Lilo como uma filha, e ser vista como uma guardiã. Lilo resiste a isso, e quer que Nani seja alguém com quem ela possa brigar e rivalizar, em vez de uma mãe.
Todo o aspecto familiar de Lilo e Stitch é um arraso! O filme chama a atenção pelos aliens, mas o drama da Nani tentando manter Lilo com ela é muito bom. Os esforço que Nani tem para convencer os serviços sociais a deixarem ela criar Lilo são bem comoventes e mostram o quanto elas querem seguir juntar mesmo que a situação esteja difícil.
Enfim, o que eu quero dizer aqui, é que sempre que você ler na internet alguém no auge do hype falando de Frozen como se Frozen tivesse inventado o amor entre irmãs na Disney. Lembrem-se sempre que quem chegou primeiro foi Lilo and Stitch.
13º Lugar: OJ and Emerald Haywood (Nope):
Talvez eu só esteja empolgado e esses dois não sejam o melhor exemplo do mundo não. Talvez eu só tenha de fato achado Nope um filmão. Mas ao mesmo tempo, eu gostei muito dos dois protagonistas do filme.
Nope é um filme sobre a maneira como o homem tenta transformar a natureza em espetáculo, e da natureza indomável dos animais que não permitem isso. Mas o filme também é sobre dois irmãos se reconectando. Se reconectando não é bem a palavra, pois eles não brigaram. Mas no filme é visível que eles tinham uma divergência grande quanto ao negócio da família. Emerald largou o negócio da família pra trás e foi tentar a vida em Hollywood, enquanto OJ ficou com o negócio da família e tocou ele. Os dois foram pra caminhos diferentes em relação a como lidar com o rancho de cavalos do pai, e o filme mostra o reencontro deles, após a morte súbita do pai.
O filme mostra bem a noção de como pais podem dar um tratamento diferente pra cada filho. Eu falei que Emerald se afastou do negócio da família, mas na verdade, ele foi afastado dela. O pai dos irmãos nunca deixou Emerald se envolver demais com os cavalos, e desencorajou ela. E ela ficou e uma posição de espectadora. Vendo o cavalo dela ser treinado por OJ.
Como eu falei, uma família vista de dentro nunca é igual a uma família vista de fora. E mesmo irmãos que sofrem tratamento diferenciado, ainda são parceiros, pois eles ainda viram o próprio pai de uma perspectiva que ninguém mais viu.
Por isso, existe um valor grande, quando OJ decide dar o nome do cavalo de Emerald pra criatura que eles perseguem. OJ incluiu Emerald de uma maneira que seu pai não incluía, e ajudou ela a se reconectar com uma vida que ela deixou pra trás, pois agora não era o pai dela quem tocava esse mundo.
12º Lugar: Hank e Dean Venture (Venture Bros):
Venture Bros é uma série que apesar do título, na maioria dos episódios não parece ser sobre os Irmãos Venture. Hank e Dean soam como um lembrete temático da série sobre como o pai deles, Rusty, é um pai ruim da mesma forma que teve um pai ruim, e a presença dos filhos reforça o ciclo vicioso se repetindo.
Porém com o passar da série, essa paródia dos Hardy Boys que esses dois são vão sofrendo um desenvolvimento de personagem interessante. Se na primeira temporada as personalidades deles mal parecem ser diferente o suficiente, com o passar dos episódios vemos eles evoluindo individualmente cada vez mais.
Da quarta temporada em diante, eles vão menos e menos sequer soando como uma dupla de personagens. Indo em aventuras cada vez mais individuais, ganhando quartos individuais, fazendo amizades com pessoas que não são amigos do outro irmão, e guardando segredos um do outro.
E é isso que eu quero celebrar aqui. A maneira como a relação de dois irmãos mais unidos do que super-bonder nos primeiros episódios, foi gradualmente e organicamente virando a história de dois irmãos que foram se separando cada vez mais conforme envelheciam. E em especial, como isso foi abordado no último episódio da sétima temporada que acabou se tornando o último episódio da série inteira, devido a um cancelamento.
No episódio final, Hank está em coma após um incidente, e Dean conversa com o irmão inconsciente sobre a maneira como ele sente que eles se afastaram demais e sobre como ele ainda ama o irmão. E faz uma reflexão grande sobre essa divergência que rolou e o laço deles.
O episódio não foi planejado pra ser o final definitivo da série, mas foi um dos poucos episódios que fez a gente pensar que a série de fato, era muito sobre os Irmãos Aventura.
11º Lugar: As Quíntuplas Nakano: Ichika, Nino, Miku, Yotsuba e Itsuki (Gotoubun no Hanayome):
Gotoubun no Hanayome é um mangá romcom de harém (em que um grupo de meninas todas disputam o amor do mesmo cara) muito competente pro quão tradicional o mangá é. O mangá estreou pouco depois de Bokutachi Wa Benkyou Ga Dekinai, com a exata mesma premissa e se destacou demais do seu rival, devido a boa escrita. E muito desses méritos veio de como o mangá aborda a mística por trás das Quíntuplas Nakano.
Apesar de todas as cinco estarem apaixonadas pelo mesmo cara, isso não é o que elas mais têm em comum. Enquanto muitos mangás de romance fazem as meninas em um triangulo amoroso se conectarem melhor pela rivalidade amorosa, em Gotoubun no Hanayome, a conexão delas precede o heptágono amoroso delas. Elas se conhecem entre si melhor do que Fuutarou jamais conhecerá, elas são próximas desde literalmente seu nascimento em um laço que durará a vida inteira. E a vida delas é uma vida de constantemente buscar equilíbrio, entre achar alguma individualidade, mas ao mesmo tempo lembrarem que serem quíntuplas é parte fundamental da identidade delas. Elas querem se diferenciar de suas gêmeas, mas tem muito orgulho de ser parte do conjunto.
Não tinha a menor chance delas perderem a conexão entre elas brigando por homem, e o mangá nunca sugere que isso está em risco. Mas permite que elas ao disputarem com as irmãs o afeto dele, fizessem altas reflexões, sobre o que elas têm de parecido e o que elas têm de diferente das irmãs. Em que pontos elas se completam e em que ponto elas querem se destacar.
No fim do mangá, a dinâmica das cinco soa como algo que fica muito maior na gente do que o romance da vencedora com o protagonista em si. O mangá não gerou um casal icônico, mas as cinco reunidas, redescobrindo o que significa elas serem uma família, revendo sua relação com seu padrasto, com seu pai biológico e com a identidade que serem gêmeas lhe traz, isso é o que o mangá tem de verdadeiramente icônico. E sem isso eu duvido que tivesse chegado aonde chegou em popularidade.
10º Lugar: Jaime e Tyrion Lannister (A Song of Ice and Fire):
Toda vez que um pai diz que não tem um filho favorito ele está mentindo. As vezes ele está mentindo pra si mesmo. E essa é uma mentira apropriada de ser contada. Nada de errado nisso. Não é um assunto em que vale a pena contar a verdade. Mas pais são seres humanos, filhos também, obviamente duas duplas de seres humanos diferentes tem mais ou menos afinidades na hora de se conectar. A gente tenta ver relações entre pais e filhos como algo mágico, incondicional e obrigatório. Mas no fim do dia são duas pessoas, algumas se conectam melhor que outras.
Dito isso, quando um filho sabe que ele é o filho não-favorito, pior que isso, que ele é odiado, isso destrói uma criança. É uma coisa horrível de se saber. E isso destruiu Tyrion. Tyrion cresceu como um pária na própria família, odiado pelo pai e pela irmã, mas ainda sendo amado e apreciado por um membro de sua família: seu irmão Jaime.
Apesar de Jaime ser tudo o que Tyrion não é: bonito, forte, alto, um herdeiro apresentável e uma pessoa discreta em suas indecências, ele não era exatamente muito bem encaixado na dinâmica familiar, e também era visto pelo pai como uma decepção, não por ter nascido com má-formação, mas sim por conta de suas decisões, e pelas maneiras como ele estragou planos do pai e fugiu de uma série de responsabilidades para poder ficar com Cersei em segredo. Todos os três filhos Lannisters tem problemas grandes com o pai, com a grande pressão do que se espera deles, e com o que significa ser um Lannister, mas enquanto Cersei reproduz o ódio que os demais tem por Tyrion e o culpa por coisas que não são culpa dele, Jaime acolheu Tyrion e deu a ele algum senso de pertencimento que permitem que Tyrion, ao menos nos primeiros livros, ainda consiga ter alguma conexão com o nome Lannister.
Na última vez que eles se viram nos livros eles brigaram feio, então não é um laço inabalável nem nada, mas eu acho que a capacidade dos dois se conectarem na bagunça que é a casa Lannister notável. Especialmente com o Tyrion odiando do fundo do coração a amante do Jaime e ele sabendo isso.
9º Lugar: Edward e Alphonse Elric (Fullmetal Alchemist):
Em literalmente todos os exemplos anteriores existe uma figura de uma mãe falecida rondando a relação dos irmãos. Da mãe falecida do Natsuo que fez seu pai casar-se com a mãe de Rui, a mãe de Lilo que fez Nani ter que preencher seu papel à mãe do Tyrion que morreu no parto e abalou todos os membros da família… mas nenhuma dupla de irmãos se conectou tanto em função do luto familiar do que Edward e Alphonse Elric.
A vida inteira de Ed e Al se baseou na maneira como eles lidavam juntos em parceria com suas perdas conjuntas. Quando o pai deles abandonou a família, os dois decidiram juntos estudar alquimia com base no livro dos pais. Quando sua mãe morreu, os dois decidiram juntos achar uma maneira de revivê-la. E quando ambos perdem seus corpos, eles decidem juntos que iriam reunir seus corpos de volta.
Em todas essas decisões é notório que eles excluem Winry de suas decisões, Winry sendo a vizinha deles e neta da senhora que adotou os dois quando sua mãe morreu. Em diversos momentos do mangá eles estabeleceram, que Winry era parte da família. Mas a conexão deles com Winry sempre teve um pequeno obstáculo de uma exclusão feita com ela, pois ela não havia perdido o que eles perderam e eles não queriam envolvê-la na recuperação.
Um tema muito recorrente em Fullmetal Alchemist é o de que tudo no mundo vem de um sacrifício, e como parceiros inseparáveis na jornada, os dois tinham um senso de unidade grande que eles viam seus sacrifícios como coletivos. Quando alguém ameaça algo, uma única ameaça funciona pros dois irmãos. Quando eles sofrem um trauma grande, o trauma da mesma tragédia destrói os dois. E um sempre protege o outro sacrificar a si mesmo pelo objetivo do irmão. Eles são uma dupla, e eles vão recuperar suas perdas juntos. Uma das mais icônicas duplas inseparáveis dos mangás.
8º Lugar: Jake e Elwood Blues (The Blues Brothers):
Jake e Elwood de acordo com a biografia fictícia dos membros da banda, cresceram no mesmo orfanato, e se tornaram irmãos com um pacto de sangue, unindo os seus dedos cortados por um fio de guitarra. E apesar de eu saber esse tipo de trivia, eu não acompanhei nada dos personagens fora de seu primeiro filme: The Blues Brothers de 1980.
No filme o dois se mostram irmãos inseparáveis. Sempre em completa sintonia, vestidos da mesma forma, falando da mesma forma, e um seguindo a deixa do outro pra conseguir o que querem. De todos nessa lista Jake e Elwood são disparados os que mais me passam a impressão de “dupla dinâmica”, de duas pessoas na mais absoluta sintonia. Eu acreditaria se me dissessem que eles tem telepatia entre eles. Eles precisam de muita pouca comunicação verbal para seguirem a deixa um do outro ou para agirem da mesma exata maneira em prol do mesmo objetivo. Quase como se fossem uma única força.
E o filme é essencialmente eles lutando pelas coisas que eles amam. Tentando salvar o orfanato que eles amam, com a música que eles amam, enquanto enfrentam tudo o que eles odeiam, como a polícia e os nazistas. Eles tem sua individualidade, é bem fácil notar a diferença de personalidade entre os dois. Mas o filme inteiro é sobre eles unidos e com o foco direcionado no mesmo lugar. O filme começa com eles se reunindo pela primeira vez, após serem separados pela prisão de Jake, e termina com eles indo juntos pra prisão, não se separando dessa vez.
7º Lugar: Nami e Nojiko (One Piece):
Se tem uma coisa que não falta em One Piece é a valorização de laços não sanguíneos, formados por personagens que ou tem uma relação ruim ou não tem contato algum com sua família biológica, mas construiu sua própria família com as pessoas que ama. One Piece põe muito zelo nessas famílias construídas, e de todas as que One Piece tem a oferecer, eu escolhi Nami e Nojiko para ser a que iria aparecer nessa lista. Pois eu acho que é disparada a mais bonita. Um pouco pela sua normalidade.
Se a família do Luffy são os bandidos das montanhas, a do Zoro são ex-samurais que fundaram um dojo, a do Sanji é um grupo de cozinheiros que não conseguem emprego em restaurantes normais por serem brutos demais e a do Franky um grupo de delinquentes que ele transformou em caçadores de recompensa. Se a casa do Sanji é um restaurante flutuando em auto-mar, do Chopper é um castelo e do Jinbei é uma ilha submarina. A Nami vem de uma casinha em uma vila normal. Sua mãe ganhava a vida vendendo laranjas de sua horta. A vida familiar da Nami era a mais normal dos protagonistas de One Piece, junto da de Usopp e antes da tragédia tirar sua mãe, a coisa mais excepcional da vida dela, era o fato de ela ser adotada.
Por isso, de todas as vezes em que conhecemos um parente de um protagonista de One Piece, a vez que conhecemos Nojiko é a que mais soou como se tivéssemos conhecido um lar normal. Os irmãos do Luffy são muito aventureiros, estão envolvidos com suas próprias jornadas tão épicas quanto as de Luffy. Mas Nojiko representa um lar para Nami poder voltar um dia, quando terminar de se aventurar. Uma casinha em uma vilazinha onde todo mundo ama ela, tocando o negócio da sua mãe. Uma vida simples, com pessoas não-aventureiras que estão sempre olhando pra ela, e de braços abertos pra acolhê-la quando ela aparece.
Nami viveu carregando um fardo imenso que Nojiko só conseguia observar e dar apoio emocional. Mas mais notável que as interações delas quando Bell-mére estava viva, é o apoio constante que Nojiko seguiu dando para a irmã. A tatuagem que ela fez para deixar Nami mais confortável com a marca do Arlong, ou a maneira como ela cuidava de Nami quando ela voltava de suas viagens.
Mas meus favoritos são tanto ela ouvindo com interesse as histórias de Usopp, sobre como Nami se comportava no Going Merry. E ela encorajando Nami a não pensar de Bell-mére aprovaria ela entrar na pirataria ou não.
6ª Lugar: Garfield Logan e M’gann M’orzz (Young Justice):
Na primeira temporada de Young Justice descobrimos a verdade sobre M’gann ser uma marciana branca no episódio que ela enfrenta a maneira como construiu toda uma identidade terráquea baseada em emular uma personagem de sitcon. Nesse episódio ela encontra a atriz que fez a sua personagem. Ela ter um alien roubando sua imagem deixou as coisas estranhas a princípio, mas elas se conectaram quando M’gann salvou a vida de seu filho e doou sangue pra ele.
Esse filho era Garfield, e dessa transfusão em diante os dois passaram a se considerar irmãos. Eles nunca oficializaram nenhum parentesco, mas eles levam essa palavra muito a sério quando a usam. Garfield e sua mãe foram o maior acolhimento que M’gann recebeu na Terra como alienígena, e ela é muito apegada a maneira como foi recebida e aceita por eles. E quando a mãe de Garfield morre, M’gann lutou para que ela fosse morar com ele, em vez de um padrasto frio que não o amava. Ela perdeu essa e Garfield ficou com seu padrasto até se emancipar.
M’gann e Garfield nunca chegam a morar juntos, e a mãe de Garfield é importante pra M’gann, mas nunca vira sua mãe. Os dois não são legalmente parentes. Mas os dois se adotaram e foram fundamentais um pro outro em momentos de solidão.
Young Justice é forte quando mostra a vida pessoal dos personagens coexistindo com o super-heroismo, e mostrando que entre suas lutas pela Terra, eles são pessoas normais. Gar foi o único terráqueo que ela levou para Marte quando ela foi até lá se casar. E quando Garfield passou por uma depressão pesada por causa de uma morte, M’gann esteve lá para ajudá-lo.
E essa conexão familiar entre os dois, é uma invenção de Young Justice, o Beast Boy dos quadrinhos não é irmão da Miss Martian, e também não é em nenhuma outra adaptação dele. Mas essa foi uma das várias invenções de Young Justice que fortaleceu o que a série tem de melhor. Explorar a vida pessoal dos heróis em paralelo com suas lutas, e como os dois se beneficiam desse laço que eles valorizam tanto.
5º Lugar: Chico Bento e Mariana (Turma da Mônica):
Um dos pedaços de lore mais populares da Turma da Mônica é o fato de que o Chico Bento tem uma irmã. Não são muitas histórias que mencionam a irmãzinha do Chico, mas quando vem uma, elas são muito queridas, pois é um assunto muito sentimental.
A Mariana faleceu ainda bebê. Na história Uma Estrelinha Chamada Mariana, demos a Dona Maricota engravidar, ter a Mariana, vemos o Chico Bento babando na irmã bebê e querendo cuidar dela, até o dia em que ela ficou doente e morreu, virando uma estrelinha no céu, que está sempre observando o Chico. É uma história obviamente bem triste, tocante e que deixou a sua marca pra sempre na maneira como vemos o personagem do Chico.
O lance de virar estrelinha é obviamente uma metáfora bonita, mas as vezes pode ser literal, para permitir que a estrela desça até a terra e fale com seu irmão. Mas eles não fazem muito isso. Dá para contar nos dedos quantas histórias a Mariana aparece.
Mas toda menção dela é especial. Ela e o Chico passaram muito pouco tempo juntos. Mas o Chico amou sua irmãzinha pra cacete. E mesmo que eles tenham sido separados cedo demais, o Chico carregará ela pelo resto de sua vida. Ela não precisa estar presente nesse plano pro Chico pensar nela constantemente.
4º Lugar: Bart e Lisa Simpson (The Simpsons):
Bart e Lisa são irmãos já tem 33 anos. O que significa que a relação deles já foi trabalhada ao longo de 33 temporadas e 700 episódios e isso é um tempo de desenvolvimento de sua relação que poucas outras obras tem.
Eu acho a dinâmica de Bart e Lisa interessantíssima, uma das mais interessantes de toda a série empatando com Homer e Lisa e Marge e Lisa… eu nem disfarço o quanto eu acho que a Lisa está no centro do que a série ainda tem de melhor.
Enfim, a base da relação de Lisa e Bart é uma rivalidade intensa, reflexo da relação deles com os pais, mas principalmente, baseada em inveja. Bart e Lisa não só tem personalidades diferentes, eles têm vidas bem diferentes apesar de serem da mesma família. E um lamenta o que o outro tem. Lisa é uma pária social, solitária que se sente completamente deslocada das pessoas. Ela se sente uma pária na escola, e na sua própria casa. Ela inveja a popularidade e aceitação que Bart recebe. E se por um lado, o fato de Lisa não ter amigos e não ter perspectiva de ter amigos, permite que ela não tenha pra quem se provar e possa ser ela mesma e ser muito vocal quanto a interesses que seus pares nunca terão como vegetarianismo, budismo ou jazz. Por outro ela várias vezes trocou tudo isso pra ter a atenção e aceitação que Bart tem. Bart é popular e querido e Lisa se corrói de ver como as coisas dão certo pro seu irmão.
Bart por outro lado contrasta a sua popularidade e seus amigos com uma completa falta de esperança que o mundo tem nele. Seus professores acham que ele não tem futuro, e sua família concorda. Os episódios de futuro descrevem ele como um fracasso. E muita da rebeldia de Bart é reflexo da inveja que ele tem do sucesso de Lisa, que é mais inteligente e mais talentosa que ele. Lisa é a filha favorita de Homer e ele não faz nenhum segredo para esconder que ele ranqueia seus três filhos com Lisa em primeiro e Bart em último.
Por isso eles tem uma grande dificuldade pra notar o quanto eles se completam. Bart é um rebelde sem causa, que busca caos e desordem como uma maneira de por pra fora todas suas frustrações com um mundo que não tem a menor intenção de encaixá-lo. Mas ao mesmo tempo Bart não é uma pessoa ideológica, ele não tem causas, ou crenças, ou propostas. Ele só tem um sentimento enorme de por seus sentimentos pra fora pelo vandalismo.
Lisa por outro lado, é a mais pura paixão, ela tem mil causas, ela sonha em ser ouvida e ter uma voz, mas ela é presa no discurso. Ela não se junta a movimentos, não vai a luta e não tem a sociabilidade para se juntar a grupos politicamente ativos, embora ela seja.
E o episódio que melhor expressa isso é o episódio em que Bart entra em uma gangue feminista para vandalizar contra o patriarcado, e Lisa se corrói de raiva que Bart está lutando por uma causa que é dela, mas ele não liga. E o meu ponto é justamente esse. Se Lisa e Bart perceberem o quanto eles se completam e o quanto a voz da Lisa nas ações do Bart oferecem uma maneira dos dois combinarem seus talentos e conseguirem se descobrir melhor.
Mas a rivalidade de irmãos cega eles pro quanto um pode ajudar o outro. Mesmo a gente vendo que os dois juntos são uma dupla capaz de enfrentar Assassinos Terríveis e solucionar várias crises.
Felizmente temos os episódios do futuro que sempre nos mostram que em cada futuro de um jeito diferente, mas eles enfim se acertam. Não é fácil ser filho de Homer, e os dois sabem que ser Simpson é uma barra. Pena que eles vão precisar crescer pra entender isso, mas o momento virá.
Existe um mito de que os Simpsons Modernos são só ladeira abaixo, mas acho que a relação desses dois foi a que mais se beneficiam dos episódios modernos.
3º Lugar: Finn e Jake (Adventure Time):
Finn e Jake são simultaneamente, irmãos, melhores amigos e parceiros de vida. Diferente de Edward e Alphonse ou Jake e Elwood que são inseparáveis por estarem em uma missão, Finn e Jake simplesmente querem passar o máximo de tempo juntos. Eles não tem uma missão, eles tem infinitas missões e as vezes a missão é só ficar de boa curtindo a companhia do irmão.
Apesar de logo na primeira temporada ter sido mostrado que os pais de Jake adotaram Finn quando bebê, foi só na quinta temporada que Finn enfim usa a palavra “irmão” pra descrever Jake. E é curioso, pois o Jake tem um irmão biológico que ele e Finn meio que não dão toda essa bola que é o Jermaine. Joshue e Margareth tiveram três filhos, mas Finn e Jake foram especiais um para o outro.
Aqui já tiveram casos que mostraram a extrema sintonia ou camaradagem de irmãos que realmente passam o tempo todos juntos. Mas Jake e Finn são o caso que mais mostra a melhor-amizade A ideia de que não tem ninguém no planeta com quem você se divirta mais do que com o seu irmão. Parceiro que é parceiro para ir visitar outros mundos tanto quanto pra jogar um card game.
Aquele irmão que depois que se separam você tatua a cara dele no seu peito, pois parceiro pra vida é parceiro pra vida.
2º Lugar: Os Órfãos Baudelaire: Violet, Klaus e Sunny. (A Series of Unfortunate Events):
A vida dos Baudelaire é trágica. É muito trágica. Começa com os pais deles morrendo em um incêndio criminoso e desse dia em diante, pouquíssimas coisas boas aconteceram com os irmãos. Eles passaram por muitas mortes, muitas traições, mutas decepções, muitos perigos, muitas mentiras, muitos incêndios, e poucos momentos de felicidade e paz.
E quando a situação está assim, o apoio dos irmãos é fundamental.
Pois o que os Baudelaire mais precisam é de aliados. Claro, eles também precisam de adultos responsáveis, de meios de sobreviver à ganância de um conde pérfido, de um barco e de comunicadores. Mas o que eles realmente precisam é de um aliado que combata a solidão. A sensação de que o mundo está contra você e você está sozinho no mundo.
Os Baudelaires nunca estão sozinhos, pois eles estão sempre em três, mesmo nos seus piores dias, eles têm um ao outro, para trazer alguma paz em uma série de eventos desagradáveis. Para lembrarem de histórias de seus pais, de aniversários, e para darem esperança um ao outro.
Eles coletivamente ainda se sentem sozinhos, mas é isso. Volta pro que eu falei. Ser irmão é estar no mesmo barco, e cada um dos três Baudelaire sabem que sempre tem dois irmãos no mesmo barco, lembrando-os que ele não tem que encarar a desgraça que é sua vida sozinho.
E sem essa esperança eles não aguentam.
1º Lugar: Antígona e Polinice (Antígona):
Um do casos mais antigos de sequências que são superiores a obra original é na peça de teatro de 442 Antes de Cristo: Antígona. Que é melhor do que Édipo Rei, mas menos famosa.
Antígona é um dos quatro filhos de Édipo com sua mãe Jocasta. Quando Édipo descobriu que ele matou o pai e se casou com a mãe, ele se cegou e foi viver em exílio enquanto Jocasta se suicidou. Com isso os filhos homens de Édipo: Polinice e Etéocles começaram uma guerra civil pra ver quem seria Rei de Tebas. Mas Antígona não ficou pra ver a guerra. Ela foi cuidar do seu pai no exílio, fazer companhia pra ele por anos até o dia em que Édipo faleceu. Antígona é uma pessoa que valoriza a família e não deu as costas ao pai nem perdeu seu carinho por ele após seu pecado ser descoberto.
Quando Antígona volta pra Tebas, ela descobre que os dois irmãos morreram na guerra civil, e que o atual rei, seu tio Creonte determina que Etéocles estava certo na guerra e Polinice estava errado, e que a punição para Polinice seria não ser enterrado, com seu cadáver exposto e sem honra como punição.
Antígona não aceitou isso, e desafiou Creonte pelo direito dela de enterrar o seu irmão. Em uma história sobre o conflito entre as leis e os direitos individuais. E a determinação de Antigona de ter seu direito privado de dar um funeral pro irmão entrou em conflito com o fato de seu irmão estar sofrendo uma punição por conspirar contra Tebas.
Antígona valoriza a conexão que ela tem com sua família acima de qualquer coisa. Ela não ligou pro pecado de seu pai, e acompanhou seu pai até o fim da vida. E ela não ligou pro crime de seu irmão. Para ela cada parente seu é precioso, e digno de lutar, digno de enfrentar as maiores leis e autoridades.
A história de Antígona já foi reimaginada várias vezes saindo do contexto da Grécia Antiga, e indo para contextos modernos, mas mantendo o centro de sua história, uma mulher disposta a enfrentar o poder da lei sozinha, pelo seu irmão. Dessas, a minha favorita é o filme canadense Antigone de 2019.
Tem mais alguns irmãos super icônicos que eu não coloquei porque queria minimizar a redundância… eu me sinto um pouco mal por não ter o Phineas e o Ferb nessa lista. Mas a minha lista é essa. Eu sinto que a irmandade dos personagens muitas vezes pode ser usada só para ser um recurso que torna o roteiro mais conveniente, e quero celebrar algumas obras que eu senti que não foram por esse caminho.
Mas tenho certeza de que cada um tem sua própria visão do assunto, baseado nas próprias experiências e na própria família, então também convido todos a virem pros comentários falarem quem ficou de fora, quem não merecia espaço na lista, que histórias são particularmente boas em retratar irmãos, e etc.
Desejo um Feliz Dia dos Irmãos para todo mundo! E nos vemos texto que vem.