I Tell C – O mundo precisa de mais heroínas como Risa Aioi.

I

Olá, bem-vindos a mais um texto do Dentro da Chaminé. Eu sou o Izzombie e sabem uma coisa que eu gosto muito? De acompanhar a Shonen Jump, a maior revista de mangás do Japão.

E ler a Jump é sempre uma aventura. Porque o bagulho é acirrado, 20 mangás disputando popularidade, os que têm bons números ficam e os que não têm são cancelados. Uma sobrevivência do mais popular insana. Todos os anos, vários mangás são cancelados, alguns mal tendo a chance de mostrar a que vieram, sendo cancelados com dois ou três volumes somente, pois não foram populares o suficiente.

Desses cancelados com dois ou três volumes, temos às vezes mangás simplesmente horríveis que só Deus sabe como algum editor aprovou e alguns mangás cheios de potencial que soam como mangás que mereciam ter durado mais. E dentre os não-cancelados, na turma que sobrevive, a gente vê os dois grupos também, pois no fundo gosto é relativo. Cada um gosta do que gosta.

Só Deus sabe o que é que as pessoas viram nessa catástrofe. …digo, presumo que as pessoas que eu gostaram saibam também.

O texto de hoje vai ser sobre um mangá cancelado esse ano com 21 capítulos, uma morte prematura de um mangá que simplesmente fracassou em engatar, mas que me afetou pra cacete. Eu adorei tudo relacionado ao mangá desde o capítulo 1, mas hey, não é a minha opinião que faz a obra sobreviver à lei da selva que é uma serialização na Jump.

O mangá em questão é I Tell C. E o texto vai ser sobre esse mangá.

Ou melhor. Sobre sua protagonista, Risa Aioi.

Porque por mais que eu tenha adorado o mangá, ele de fato acabou, não passou no teste, não vai ter segunda chance, não vai ser descancelado, não vai voltar, nem ter anime nem nada. E eu posso chorar esse leite derramado aqui que nada vai mudar. Então eu não quero remoer que ponto não fez o mangá dar certo ou o que ele poderia ter feito pra ter mais apelo comercial ou qual foi o capítulo com o erro crucial que estragou tudo nem nada disso.

Então eu quero falar do que torna sua protagonista fascinante, pois eu não vou ler a continuação desse mangá, mas eu posso sonhar que outro mangá no futuro faça uma protagonista parecida. Que outro mangaka beba da mesma água e queira fazer um personagem parecido. Pois Risa Aioi foi diferente de tudo o que eu estou acostumado a ver lendo mangá. E honestamente, não acho que vou ver nada parecido com ela tão cedo. Mas isso está em meu poder sonhar.

Então dedico esse texto a dissecar essa personagem que me fascinou. O que ela tem de diferente de tudo o que veio antes dela na Jump. O que ela tem de revolucionário. E por que seria fascinante se mais mangás fossem protagonizados por gente como ela. E mais histórias fossem escritas para expor a perspectiva dela.

Mas antes de começar devo avisar que vou comparar o mangá com outros mangás de detetive, naturalmente, onde incluirão spoilers de Death Note, para caso você não tenha lido. 

Para os demais mangás… eu tentei minimizar informação importante, mas mostrarei cenas de Majin Tantei Nougame NeuroYokokuhanMonster JoJo Bizarre Adventure Parte 4. Então fiquem ligados.

Então recapitulando.

I Tell C é um mangá de detetive, e a dupla de detetives são Sakon Fukatsuki e Risa Aioi, montando a típica dupla policial do que segue as regras à risca sempre, por idealismo, e o que quebra as regras quando conveniente, por acreditar na própria justiça.

…com um twist. Quando a gente descreve um policial que ignora os protocolos para realizar justiça nos termos dele, a gente logo pensa em uma espécie de Frank Castle ou Dirty Harry aplicando violência e sendo abusivos com os bandidos, pois “a lei pega leve demais”. Esse formato já está estabelecido.

Mas Risa é o oposto disso. No passado, Risa foi sequestrada e sofreu da síndrome de Estocolmo pelo seu sequestrador. E agora ela é apaixonada por todo criminoso que ela encontra, pelo mero fato deles serem criminosos. Não importa o crime, não importa nada, ela vai se dedicar a ele. Então, quando ela ignora as regras, o que eu quero dizer é que ela stalkeia o criminoso feito uma adolescente obcecada até descobrir onde ele mora e que marca de shampoo ele usa. E, quando ela realiza a própria justiça, isso significa que ela quer fugir com o bandido pros dois serem um casal.

Ou seja, a policial que quebra as regras e faz a própria justiça não é alguém que odeia criminosos, mas sim alguém que toma o lado deles. Geralmente nos casos de Risa, o criminoso acaba se sentindo intimidado com as medidas stalkers de Risa e se entregam por medo dela. Fazendo a investigação terminar com uma prisão. E, tal qual o policial durão que acha que a lei pega leve demais, isso termina com um superior deixando claro que não aprova os métodos, mas que ela dá resultados.

Risa está sendo usada pela polícia. Ela é útil pra eles, mas ela não é respeitada pelos seus colegas, ela é desprezada e mal é considerada uma colega de verdade, mas sim uma mera ferramenta. E no dia que ela deixar de ser útil ela vai ser presa junto dos demais criminosos. Sakon percebe a situação dela e, apesar de a princípio discordar de seus métodos e suas motivações, ele também discorda do tratamento que ela recebe. E decide ser alguém que a apoia dentro da corporação.

Pois bem, histórias de detetive costumam se basear muito no conceito de crime e castigo. É tudo sobre uma enorme atrocidade e sobre a punição pela atrocidade. Às vezes a atrocidade é o assassinato central, e a punição é o que espera o criminoso. Ou, às vezes, a atrocidade foi cometida pela vítima anos atrás, e o assassinato central é a punição e isso costuma direcionar o expectador a simpatizar com o assassino. Às vezes os dois casos se misturam. Mas a noção de que o mal deve ser punido é a essência desse tipo de história.

A revelação feita relativamente no começo da história de que a vítima era um matador de crianças que se safou impune serve para anteciparmos simpatia pelo assassino que independente de que fosse iria querer vingar a criança.

E a cultura pop otaku faz a festa com esse conceito, não tanto com mostrar a punição, mas especialmente com o desespero da não impunidade. Cenas do criminoso perdendo completamente a compostura em pânico com o fato de que foi descoberto são sempre icônicas. Em especial na série de jogos Gyakuten Saiban (Ace Attorney no ocidente), que é o caso mais famoso. Mas mangás como Majin Tantei Nougami Neuro também se divertem com esse tipo de espetáculo.

Em Death Note e em JoJo Kimyou Bouken Parte 4, todo o mangá foi construído só para que a punição final do assassino, que têm curiosamente o mesmo nome, fosse particularmente catártica. E nesses casos, é sempre humilhante pro assassino ser pego. É sempre sobre rebaixá-lo ao estado mais patético que ele pode chegar, e lembrá-lo de que ele é um nada. De que criminosos são nadas. Essa narrativa é muito naturalizada e vai continuar existindo por um tempo.

E tá tudo bem.

Existe uma válvula de escape na gente que é saciada quando vemos o assassino ser emboscado enfim. Faz bem pra gente ver isso, soltar esse ódio da gente nesses filhos da puta fictícios. Isso é de boa.

Mas eu fico fascinado pelo contraponto que foi a breve existência de Risa Aioi e I Tell C.

Para Risa Aioi, crime e castigo não é nem de perto o cerne da questão. E essa detetive se destaca por tomar o lado do criminoso o tempo todo. Os demais detetives podem deixar ela livre pra fazer o que quiser, pois eles a consideram um castigo aos criminosos, mas a noção de castigo nem passa pela cabeça de Risa.

No primeiro caso do mangá, foi onde conhecemos Risa. E o mangá gasta boa parte do primeiro capítulo nos dando a entender que ela era na verdade a assassina para nos revelar que ela era a protagonista só na reta final do capítulo.

E o foco principalmente na parte problemática de Risa foi a nossa primeira impressão dela, e justamente a impressão que precisava ser desmontada ao longo do mangá. No primeiro caso Risa aparenta ser louca acima de tudo, indiferente ao perigo pra sociedade que são os alvos de seu desejo. A impressão geral do público é a de que ela era uma yandere, uma descrição com a qual eu não concordo, mas nesse primeiro momento era fácil ver por que achavam isso.

Mas a impressão de loucura dela é contrastada quando, apesar de síndrome do Estocolmo ser a racionalização para ela ter se apaixonado pelo homem que a manteve em cativeiro no passado, ela se descreve como alguém completamente no controle de seu amor. Ela explica que ela se apaixona por criminosos, pois ela quer se apaixonar por criminosos, e ela quer abrir o coração para esse grupo de pessoas, não é algo que ela faz impulsivamente.

E o primeiro caso também focou muito que a regra é constante: o criminoso sempre foge dela e prefere ser preso. Sempre.

Porém do segundo caso em diante, nós vamos gradativamente entendendo como realmente pensa Risa. E ela é bem menos louca ou desconectada do mundo do que parece, e caso a caso vamos vendo, pelos olhos de Sakon, como ela realmente pensa.

O segundo caso é o de um serial killer que matava mulheres depois de vesti-las com vestidos gothic lolita. Apesar de o criminoso ser um assassino em série e de Risa ter sido escolhida para ser uma vítima, ela não demonstra medo nenhum, afinal estava apaixonada pelo assassino. Por isso a grande surpresa que veio foi quando ela firmou uma não cumplicidade com o crime de seu amado. Risa é quem encontra, resgata e acalma a outra menina sequestrada pelo assassino, abraçando-a e fazendo-a perceber que ela está segura agora.

Para Risa, tomar o lado do criminoso não significa em nenhuma instância negligenciar as suas vítimas. O que ela faz é reconhecer que os criminosos são seres humanos, e que seus crimes vêm de algum lugar. Mas ela não os racionaliza como justos e protege as vítimas sempre. Ela não é cúmplice do criminoso nesse quesito, para a surpresa de seus colegas. Mas se ela não vai ajudar o criminoso nem apoiar seu crime, o que ela faz com o amor pelo criminoso que ela sente?

No terceiro caso, Risa se encontra novamente com um serial killer, dessa vez com um que arrancava a mão de suas vítimas. Ele por dez anos assombrou uma hotelaria que se tornou infame e repleta de boatos por conta do crime. Esse não foi exatamente um caso, no sentido de que Risa estava de férias na hotelaria por acidente quando descobriu que estava diante de um caso de assassinatos em série.

E ela na hora partiu para investigar, mesmo que seus colegas quisessem fugir. E aqui tem algo interessantíssimo sobre Risa Aioi e sobre I Tell C. O mangá nunca fez suspense ou mistério a respeito de quem são os assassinos ou de quem é o culpado. Só no primeiro capítulo e foi só para te confundir a respeito de quem era o protagonista. Porém isso não significa que o mangá não é sobre resolver mistérios e investigar pistas. Porém o que Risa investiga não é “quem?” e sim “por quê?”.

E é o que ela faz com o assassino das mãos. Ela investiga as pistas para descobrir por que ele arrancava as mãos de suas vítimas. O que ele procura? Como sua psicopatia se desenvolveu? O que ele faz com as mãos? Como foi sua infância? O que ele acredita que vai ganhar fazendo o mal que ele faz? E ela fez isso tudo procurando a resposta pra pergunta: “Se ele ficar satisfeito, ele poderia parar com o que ele está fazendo?” e para responder isso ela faz trabalho de detetive profundo, investiga pistas, e junta o quebra-cabeça.

E é assim que ela para o assassino das mãos. Com empatia, entendendo de onde ele vem e onde ele está, e com isso conseguindo se conectar com ele. Ela usou a empatia para parar alguém que Sakon não conseguiria parar com a força. E talvez justamente por isso, por ser alguém que estava impune por dez anos, capaz de vencer todos ali na força, que esse assassino não tinha medo nenhum de ser preso e não teve medo de Risa. Se todos os outros criminosos acharam que ela era louca ou estava manipulando eles e fugiram de medo, esse criminoso aceitou o que ela tinha a oferecer.

Ela se abriu pra ele e trouxe ele de volta à sanidade. O que obviamente não é como esse tipo de distúrbio funciona na vida real, em que precisa-se de muito mais do que cinco minutos de conversa com uma completa estranha para fazer progresso, mas é um ilustrativo hiperbólico de uma alternativa que não existia para Sakon. A de fazer o assassino não querer mais matar. De entender que ele é um ser humano e tratá-lo como uma pessoa, não como um monstro ou um animal raivoso.

Lembram quando o Mr. Satan salvou a humanidade fazendo exatamente isso com o Majin Boo? Pois é.

Mas esse terceiro criminoso é logo interrompido pelo quarto criminoso. Que revela essa sim a faceta mais surpreendente de Risa. Hikaru Kagamino, o único criminoso no mundo que Risa não é capaz de perdoar nem amar. Apesar de ter ficado implícito que Risa Aioi, por ter sido vítima de sequestro anos atrás, se apaixonava por criminosos por conta de uma síndrome de Estocolmo que ela adquiriu. Ela na verdade tem ódio e um rancor inominável pelo seu sequestrador.

Quando Risa foi sequestrada ela se apaixonou pelo homem que, a mando de Kagamino, a vigiou. E foi com esse homem que ela sofreu a síndrome de Estocolmo. Mas com Kagamino ela guarda rancor, especialmente pela maneira como ele fez o seu amado sofrer, e como ele o usou. Para um mandante de crimes, ele não era um bom patrão pros seus capangas, e isso pesou em Risa pra cacete.

Kagamino é um escritor de romances policiais. E ele usa e manipula as pessoas ao seu redor para usá-las como inspiração para seus livros. Colocando-os em contextos em que eles entrem em conflito um com o outro, e quando uma pessoa não é mais útil pra ele, ele as descarta.

Risa não consegue perdoar ou amar Kagamino, pois seus crimes não possuem emoção, ele não tem um motivo pra fazer o que faz, ele é só um enorme arrombado que acha que todas as pessoas do mundo são marionetes para ele criar cenas de livro em sua frente.

E fazendo um parênteses, pois isso é importante de ser dito. Risa Aioi sempre vê a situação pela perspectiva do criminoso, e ela sempre toma o lado do criminoso, vê o quanto eles estão feridos, e quer ajudá-los. Mas mesmo assim, ela tem um ódio grande de Kagamino e não vê a situação da perspectiva dele, ela não respeita a perspectiva dele e acha ele somente um bosta. Isso pode parecer inconsistente mas, na vida real, esse tipo de contradição é, na verdade, muito comum. Uma pessoa pode defender os direitos humanos dos criminosos por anos, e um dia ela própria se ver como a vítima e querer que o seu agressor tome no cu e não sofra nenhum tipo de bons tratos. E quando isso acontece já tem na esquina alguém que é contra qualquer tipo de direitos para criminosos para gritar: “enfim a hipocrisia.”

Mas não é hipocrisia. Pois somos todos seres humanos, e ódio e raiva são sentimentos pessoais. E nós enquanto indivíduos sermos capazes de ter esses desejos e essa raiva não significa que nós abandonamos os princípios morais básicos em que acreditamos. Todo mundo sente esse tipo de desejo por alguém, mas isso não significa que a gente age em cima dele, e muito menos que a gente delega às autoridades que saciem toda a raiva e sentimentos negativos de cada indivíduo. Mas esses sentimentos são naturais do ser humano e, inclusive, são a causa de muitos crimes. Muita gente que é contra o assassinato pode por motivos pessoais ter gente que quer que morra.

A ficção geralmente explora essa contradição como um dilema em que o personagem deve escolher entre dois lados. E no instante em que ele cede as próprias emoções é o momento que ele oficialmente abandonou qualquer ideal ou valor moral que ele já tenha tido.

E tem filho da puta no mundo que de fato sempre que vê alguém defender direitos humanos já vem metendo um “mas e se fosse com você, você não ia querer o cara na cadeira elétrica?”, mas é justamente por isso que não é a vítima que escolhe a pena, e sim um juiz e um júri que não são conhecidos nem do criminoso nem da vítima. Pois a falta de neutralidade da vítima não permite que ela faça um julgamento apropriado, e essa perspectiva existe mesmo nos sistemas mais punitivistas do mundo.

Os assassinos de I Tell C matam movidos a emoção, matam buscando alguma satisfação ou algum saciamento que eles sentem que podem obter. E esses sentimentos não são coisas de monstros, ou de desumanos, são sentimentos de pessoas. Qualquer um pode sentir esse tipo de ódio. Até mesmo a Risa, que é tão humana quanto qualquer um.

Eu não sei se, caso o mangá tivesse sido permitido prosseguir, se eventualmente descobriríamos a motivação dos crimes de Kagamino, e se descobriríamos que ele não é o monstro que a Risa vê, mas sim um ponto cego para o amor dela, pois ela é tão vulnerável ao próprio ódio quanto qualquer um. Nunca saberemos, pois no que diz respeito a arcos, twists e planos pro futuro, um mangá cancelado é sempre uma obra interrompida e inacabada.

Mas o ponto é que mesmo odiando Kagamino e tendo jurado matá-lo, Risa não é violenta com ele, nem tenta matá-lo. Mesmo com seu ódio e rancor, ela é profissional, e não age de acordo com seus sentimentos, mas sim de acordo com o protocolo. Ela é capaz de ignorar o protocolo quando é para fazer o bem, mas nunca o quebrará para fazer o mal, mesmo que ela queira. Risa não permite que as normas de conduta sejam um freio pro seu amor, mas ela permite que elas freiem seu ódio.

Mas enfim. Kagamino acaba entrando em uma luta com o assassino das mãos, que resolveu proteger Risa e se matar para salvá-la de Kagamino. Risa tenta salvar o serial killer, mas ele pede para que ela o deixe morrer, pois ele não vai conseguir viver com o peso do próprio pecado. E como Risa tinha prometido a ele que ela deixaria ele lidar com o peso do próprio crime nos próprios termos, ela deixa que ele se sacrifique. O assassino da mão morre. O corpo de Kagamino nunca é encontrado. Mas um dos detetives, o irmão de Sakon, é morto no processo. E isso coloca Risa em maus lençóis com a polícia, pois agora um caso em que ela se envolveu deu merda, e todos que não gostavam dela têm seu pretexto pra se livrar dela.

Isso se resolveu com Risa, Sakon e o chefe deles sendo afastado de suas divisões e criando uma divisão especial para eles operarem. O que mudou na prática é que agora, depois dessa transferência, a ideia de Risa não prender mais os criminosos não era mais tolerada. E ela deveria começar a prendê-los sem fazer mais das suas. O que nos leva ao próximo criminoso e à primeira prisão de Risa.

O primeiro criminoso que Risa prende é um assaltante de banco. E aqui novamente uma nova faceta de Risa surge da maneira como ela vê o mundo. Que é o seu esforço em manter a dignidade do assaltante preso. Ela quebra as regras para entrar na sala e lhe oferecer comida que ele gosta em um picnic, onde ela conversa com ele sobre sua eventual saída. O assaltante estava receoso que, mesmo cumprindo sua pena, sua vida já havia acabado, pois mesmo do lado de fora o estigma de criminoso seria eterno e ele nunca mais acharia seu espaço. Risa lhe garante que ela é capaz de indicar a ele locais de trabalho que contratam ex-detentos e lhe dariam uma chance. Mas, especialmente, ela lembra o assaltante de sua família e amigos que estavam do lado de fora do banco pedindo para ele parar. Lembrando-o que ele tem pessoas que cuidam dele quando ele está em apuros.

E nisso ela o humaniza. Lembrando-o de que ele tinha entes queridos, de que ele tinha apoio e de que ele tinha o direito de comer uma comida que ele gostava, ela o lembra de que ele era gente, quando ele próprio se sentia indigno de qualquer coisa.

A próxima criminosa que topa com Risa é Mar (tecnicamente é mAR, mas não vou fazer essa estilização o texto todo não, se lascar vou escrever normal o nome dela), uma lendária ladra que também é o centro do maior arco do mangá todo. Portanto, com Kagamino nunca realmente retornando para ocupar esse espaço que era dele por direito, o status de mangá incompleto transformou Mar no maior caso em que Risa se envolveu e criminosa de maior destaque de toda a obra.

Mar é uma vândala que roubava quadros, pichava e devolvia as obras de arte vandalizadas ao museu e fazia streaming de si mesma no processo. Mantendo sua identidade em segredo, ela conseguiu notoriedade com as pessoas que criavam expectativas de qual seria o próximo alvo. E entre essas pessoas, obviamente estava Risa.

Com Mar, o mangá novamente reforçou o que ele disse com o serial killer que decepava mãos. Os crimes de Mar eram uma mensagem, e um grito de ajuda que ela fazia ao mundo. E os talentos de Risa como investigadora foram muito mais focados em decifrar essa mensagem e em ouvir esse grito do que em descobrir seu paradeiro ou coisa do gênero.

Risa descobriu que Mar estava deliberadamente tentando mobilizar pessoas a se perguntarem qual seria a próxima obra que ela atacaria, na intenção de fortalecer a segurança e nisso localizar o quadro que ela procurou a vida inteira. Um retrato dela própria, pintado pelo seu pai. Os quadros que ela vandalizou eram de seu avô, que fez seu pai desistir da carreira de pintor. E o único quadro que ainda restou de seu pai era um retrato da própria Mar. Os crimes eram uma maneira dela se vingar de seu avô ao mesmo tempo que ela esperava ser reconhecida e que o reconhecimento dela e de seu crime fizessem o paradeiro do quadro ser localizado.

E Risa usa seus talentos de detetive para encontrar o quadro. Ela captura Mar e a leva para onde estava seu quadro e expõe tudo o que ela descobriu sobre Mar.

Quando descoberta por Risa, Mar tem um ataque sobre o quão fútil e mesquinho era seu crime. E Risa a corrige.

Não importa o quão fútil e mesquinho era, localizar o quadro, o rancor de seu avô, eram desejos genuínos dela, eram assuntos que importavam para ela, e ela não deve invalidar os próprios sentimentos. Importaram pra ela o suficiente pra motivá-la a cometer um crime, então não é insignificante. Pois as coisas que te afetam não são insignificantes.

Risa não deixou Mar se diminuir, nem menosprezar a própria raiva. E inclusive, depois que Mar foi presa, Risa foi pessoalmente vandalizar a última pintura do avô de sua amada. Pois embora ela proteja as vítimas quando essas são postas em perigo, aqui ela julgou que permitir que o trabalho de Mar fosse concluído era mais importante que preservar a carreira de um homem que destruiu a carreira do filho. Importante esse momento na hora de comparar com a maneira como ela acolheu a vítima do assassino de gothic lolitas. Ela protege as vítimas, mas não necessariamente a propriedade.

E com isso mesmo na cadeia Mar podia sentir que tinha alguém do lado de fora pensando nela, quando ela viu no jornal que o trabalho dela foi concluído. Mar pôde se sentir amada.

Prisões são ambientes que, junto de isolamento e abuso físico, funcionam com base em um abuso psicológico constante de estar sempre lembrando os detentos de que eles não têm direitos, retirar sua dignidade, e desumanizá-los. E não é incomum histórias de detetives usarem seus personagens para serem cúmplices disso.

É conhecido que sofrer de violência sexual na prisão é um dos fatores que mais fazem uma pessoa ter medo de ser presa, e que muitas vezes essa violência não é cometida pelos guardas, mas é cometida com a cumplicidade e vista grossa deles. E sabendo dessa violação de dignidade ocorrendo pela vista grossa do sistema, não é incomum séries policiais usando o medo de ser estuprado como tática de intimidação para interrogatórios. Os policiais contam com isso para poder assustar pessoas e acelerar delações e confissões.

No mangá Mugen no Juunin (Blade of the Immortal no ocidente), após uma prisão ceder seus presos para serem cobaias em uma pesquisa médica de alta taxa de mortalidade, os presos passam a usar máscara de lontra, pros médicos não se sensibilizarem com as montanhas de cadáveres que o experimento produzia.

E isso com um vilão em um mangá de época. Mas em Death Note, L, o herói, também se sentia muito confortável usando condenados à morte como cobaias para capturar Kira, colocando-os em posição para serem mortos por ele.

E em Chainsawman, Makima pede corpos de prisioneiros para sacrificar para poder usar seu poder contra seus inimigos. Sejam protagonistas, antagonistas ou anti-heróis, em mangás, presos anônimos costumam ser uma boa fonte de sacrifício humano necessário. E por mais que o mangá possa usar isso pra reforçar falta de moral nos personagens, e nos três exemplos que eu dei isso aconteceu, é um fato que, em mangás de qualquer época ou setting, um personagem de autoridade tem acesso a condenados à morte como meros ingredientes desumanizados para seus planos, e o worldbuilding sempre mostra que naquele mundo as coisas funcionam assim mesmo. É fácil pra uma autoridade quando precisa matar um corpo humano por algum motivo prático, que ela viva em um mundo em que alguém simplesmente lhe envie presidiários. Essa é a desumanização e instrumentalização do preso na percepção do público.

Pois nós sabemos que essa é a realidade de como as instituições veem as populações carcerárias. E sempre sob a racionalização de que se eles merecessem viver eles nem teriam sido postos nessa situação em primeiro lugar.

Por isso eu acho relevante que Risa, após passar a ser obrigada a prender seus amados para manter seu trabalho, tenha feito o esforço extra para mantê-los humanizados ali dentro e para lembrá-los de que eles têm gente que os ama do lado de fora esperando por eles. E que eles são humanos com direitos enquanto estiverem lá dentro.

O último criminoso de Risa foi um jovem suicida. Um adolescente que, entre as pressões da mãe pra ser um filho ideal, ser negligenciado na escola e apanhar na rua, acreditava que não havia ninguém no mundo que o notasse ou que o conhecesse. Ele então amarrou uma bomba no próprio peito que podia ser desativada por uma senha, para obrigar o mundo a reparar nele, na tentativa de descobrir a senha. E foi isso que Risa fez, Risa conversou com ele e prestou atenção em tudo o que ele disse, e deduziu corretamente a senha.

Mas esse não foi o destaque do caso final.

O destaque foi quando o chefe de Risa estava prestes a simplesmente fingir que não viu o incidente e deixar o garoto sair de boa, e a mãe do garoto fez um barraco exigindo que o incidente seja apagado dos registros para ele não ter histórico negativo para ele poder ser o filho ideal, pois ela não quer ser mãe de criminoso. Foi ali que Risa se levanta, dá um tapa na mãe sabendo que isso lhe renderia uma suspensão e não deixa nada disso acontecer.

Pois o garoto queria ser visto. Era esse o sentimento que motivou o crime, e fingir que ele não fez nada, era manter ele na mesma invisibilidade que o fez explodir. E de quebra ela corrige a mãe, de que não cabe a ela querer ou não ser mãe de criminoso. Ela é, e cabe a ela entender quem o filho é. As ações dele, o que ele fez e os sentimentos que o levaram a fazer o que fez, tudo isso é parte de quem o filho é, e mandou que ela olhasse o filho por quem ele é, que esses elementos viriam no pacote.

Após cumprir seu tempo no reformatório, o menino eventualmente saiu e resolveu se juntar à polícia, por conta de Risa, para poder ser parte da unidade dela. O que eu acho que na medida do que é um final de mangá cancelado, isso é a melhor coisa que poderia ter acontecido. Nenhum policial no mundo via o mundo da maneira como ela via no começo. Então ela conseguiu um aliado no Sakon, que admirava a perspectiva dela, embora não a seguisse. E agora ela inspira alguém de fora a ser que nem ela também. Um final que não concluiu nada, mas manteve um tom otimista de que o bem que ela faz inspira o bem.

Enfim, pela interação de Risa com esses 7 criminosos o mangá em somente 21 capítulos questionou uma série imensa de narrativas usadas por histórias de detetive e pela mídia sobre criminalidade no mundo. A principal delas é a da motivação dos criminosos.

Em histórias de detetive, um fator que é o pilar da maioria das histórias é, como eu disse, o conceito de crime e castigo. Ou seja, o crime é sempre incrivelmente elaborado de maneira que alguém menos que genial não saberia por onde começar e um detetive genial vê como um desafio. E esse trabalho enorme para despistar detetives gera no criminoso a arrogância e o sentimento de que ele vai se safar. E sem esse sentimento, sem essa noção de que ele vai conseguir se safar, ele não cometeria o crime.

Crimes em histórias de detetive são cometidos por pessoas que acreditam na própria impunidade. E o papel do detetive é remover essa crença, rebaixá-lo ao papel de um criminoso que foi pego pois seu plano não foi perfeito. E isso dialoga muito com aquilo que muitos racionalizam como o grande papel da cadeia no mundo, o de dar um exemplo. A crença de que quando a gente mostra que a lei eventualmente te alcança você desmotiva as pessoas a cometerem mais crimes.

Pois existe mesmo a ideia de que as pessoas são desestimuladas a cometer um crime se acharem que serão presas.

Cena do mangá Majin Tantei Nougami Neuro, naturalizando que a razão do ser humano faz ele normalmente não cogitar o crime por medo do castigo.

Isso é um mito. Não existem estudos apontando que países em que o pente fino é maior e o número de encarceramentos é maior o crime diminui. Assim como não existem estudos apontando que punições maiores como a pena de morte diminuem o crime. A taxa de criminalidade de um país não deriva do quanto as pessoas são feitas publicamente de exemplo. Os EUA são o país com a maior quantidade de prisioneiros per capita e o crime lá corre solto.

As pessoas não param de cometer crimes porque a justiça pega pesado. E o criminoso não comete o crime só depois de calcular suas chances de se safar.

Lembram de como a execução de Roger foi pensada para desestimular as pessoas de virarem piratas, mas o contrário rolou?

Risa Aioi propõe a alternativa, de que crimes são causados por sentimentos, emoções, desejos de ter algo, desejos de saciar alguma ausência na sua vida. E que os crimes podem ser evitados trabalhando o lado emocional do criminoso.

E reconhecer os crimes como derivados de emoção é algo importante, pois a emoção nos humaniza. Nos filmes, pessoas que são pressionadas até o ponto de quebra e fúria são humanizadas aos nossos olhos, independente das ações que cometam, pois nós vemos o que aconteceu e a progressão de seus sentimentos.

Que´é o motivo pelo qual conseguimos simpatizar com Walter White. Ele não é diferente de várias pessoas que vivem nesse mundo, exceto por termos visto o lado dele.

Enquanto outros personagens têm suas motivações deliberadamente omitidas de nós para permitir que palavras como “monstro” se apliquem e que a audiência não seja capaz de simpatizar. Personagens sem nenhum motivo são assustadores, pois não somos capazes de entendê-los.

E é por isso que a mídia da vida real procura o máximo possível descrever os criminosos da vida real como monstros, como psicopatas. Isso é parte do sensacionalismo barato da televisão e também de uma maneira de espalhar o medo na população de maneira a racionalizar a desumanização dessas pessoas. Justificar que sejam abatidos, e criar comoção que transforme seus julgamentos em espetáculo.

E isso é política. É só a polícia atirar em um menor que no dia seguinte as redes sociais já estão lá tentando explicar que o menino na verdade é o Michael Myers que matava só pra ver de que lado o corpo caia.

Mas a verdade é que na vida real a menor parte das populações carcerárias são ocupadas por uma pessoa que possa realmente ser diagnosticada como psicopatas, com a incapacidade de processar remorso ou empatia. E se você quiser realmente ligar a televisão e ver pessoas que de fato possuem os traços que permite o diagnóstico de psicopatia, aí é muito mais certeiro ver o pronunciamento do presidente da república do que ir ver o Datena tentar pintar um novo “monstro” para aterrorizar a população e fazer bravata de como ele deseja ver o sujeito torturado e linchado para agitar uma turba que clama por sangue.

Isso cria o mito de que as pessoas que acabam presas não são pessoas, não são dignas de dignidade e tratamento. E terminam com pessoas validando um infinito número de atrocidades, como massacres em presídios. Outro dia mesmo, um filho da puta na CPI estava falando sobre não vacinar presos, indiferente a quantos morreriam sem a vacina.

I Tell C desafia essa narrativa tão de frente que ela faz Risa se deparar não com um, mas com dois Serial Killers, e nenhum dos dois era um monstro, os dois eram seres humanos, que fizeram o que fizeram pois eles eram seres humanos e sentiam emoções de ser humano.

E nenhum criminoso com quem Risa interagiu temia a prisão. Pelo contrário, os do começo se entregaram pois temiam Risa mais do que a prisão. E a Mar se entrega, inclusive, pois não foi a certeza da impunidade que girou seus crimes.

Risa nega a narrativa de desmontar um quebra-cabeças elaborado para descobrir quem é o assassino e então rebaixá-lo ao status de verme que ele é.

Risa no lugar disso propõe a narrativa de que o verdadeiro quebra-cabeça não é o método de assassinato nem a identidade do assassino, mas sim como ela pode juntar as pistas para descobrir o que aconteceu com o assassino e como se conectar com ele pra fazê-lo parar. Como consertar o que está quebrado nele, para que ele não seja mais uma ameaça. Esse é o verdadeiro mistério, e é esse mistério que Risa resolve.

E nós vemos tudo isso pelos olhos de Sakon, que vai a cada arco que passa mudando sua impressão de Risa. Se no primeiro capítulo ele tem nojo dela, pois ela é no fim das contas uma criminosa também. Afinal, ela é uma stalker. Ele começa aos poucos a ver na Risa uma extensão de seu pai. Um policial que morreu esfaqueado pelo criminoso que ele tentou salvar. O irmão de Sakon acreditava que seu pai foi um tolo que esqueceu o lugar do criminoso na sociedade e pagou com a vida, mas Sakon, ao empatizar com Risa, entendeu o que significa ver a humanidade no criminoso.

Outro mangá cancelado da Jump, esse cancelado faz muitos e muitos anos chamado Kikai Banashi Hanasaka Ikkyuu, já havia dialogado com o conceito. Quando o protagonista, um monge budista conhecido por ser muito esperto, é desafiado com um problema com o qual não dava para ser esperto ele não se intimida. Perguntam a ele, caso um assassino capturasse seu pai e sua mãe, e ele só pudesse salvar uma única pessoa ali, como ele escolheria? E o monge respondeu que salvaria o assassino, em sua condição de monge, se ele trouxesse salvação ao assassino e o guiasse para a luz, ele poderia impedir que ele matasse.

E esse tipo de protagonista eu acho que está em falta.

Um que assuma a visão da empatia e do amor como solução dos problemas.

E é assim que Risa fraseia o que ela faz. A chama que motiva ela é o poder do amor. Ela escolheu amar aqueles que ninguém mais quis amar e isso deu a ela uma perspectiva que ninguém mais teve, o que permite que ela ache soluções que ninguém achou.

Claro que temos Deku e Naruto que são fãs de conversar com os vilões com quem eles se identificam. Mas eles ainda são heróis de mangás de luta, no sentido de que eles usam da violência como solução de problemas e sua empatia não se estende pra todo mundo. O Naruto não estende a empatia dele a todo mundo do jeito que Risa faz.

Dito isso, Deku está bem encaminhado, e dos mangás não-cancelados da Jump ele é o close-enough dos ideais de Risa, mas não é igual.

Risa não está em um mangá de luta. Ela não empunha armas de fogo nem brancas. E o único ato de violência que ela já cometeu no mangá foi com a mãe de um criminoso, que ela estapeou e que ela própria chamou a atenção pro fato de que ela precisava ser suspensa pelo que fez. As armas de Risa são só sua boca e sua mente e com esses dois ela resolve qualquer problema.

 

São inclusive as armas que ela usa para negociar com ex-criminosos pra quem ela pede favores quando necessário. Nenhuma ameaça, nenhuma opressão, nenhum jogo de poder, mas ela consegue deles exatamente o que ela quer, pois ela sabe com quem está lidando.

O ponto é. Eu acho que Risa Aioi é um personagem que tem uma mensagem importante pra passar. E a oposição que ela faz à maneira que criminosos são retratados em mídia sensacionalista e em outras histórias de ficção é uma oposição necessária. Pois a narrativa do “monstro” precisa ser questionada. Especialmente para a nossa segurança. Entender que quem comete certos crimes não são “monstros que nasceram sem humanidade”, mas sim pessoas comuns, te ajuda a se proteger quando na presença de alguém que pode lhe fazer o mal. O pensamento de Risa é um exemplo positivo de uma visão de mundo que não tem muita presença na cultura pop. Enquanto Risa continua sendo complexa e longe de ser uma mary sue ela própria reconhece que ela é uma criminosa também, tem sentimentos hostis, ela comete erros e assume responsabilidade e possui todas as vulnerabilidades de uma pessoa normal, inclusive o poder de ter o coração quebrado.

Enfim. Desconsiderando esses mangás que despencam antes de decolar, a Shonen Jump tem essencialmente dois mangás de detetive que realmente deram certo.

Em Majin Tantei Nougami Neuro, é explicado que o criminoso é formado pois as pessoas têm impulsos no cérebro pedindo que cometam crimes. E quando a região do cérebro da razão, que lembra as pessoas que elas serão punidas é debilitada, o impulso vence e a pessoa se torna uma criminosa. E isso é científico, com uma máquina que cria criminosos sendo inventada em determinado momento. Um reducionismo que associa o criminoso a uma falha no cérebro em se portar como pessoa normal.

E em Death Note, as vítimas de Light nunca são humanizadas. L, mesmo sendo o herói, manipula-as feito peões e as sacrifica para encurralar Kira. A gente não conhece nenhum criminoso que ele mata a nível pessoal ou aprende sua história, e no final mesmo o lado que combate Kira é indiferente à pena de morte, encarceramento, e, no caso de L, mesmo tortura. 

Então I Tell C propôs algo completamente fora da norma em sua abordagem. Foi por isso que foi cancelado? Nunca saberei. Boas chances de ter sido desrelacionado à mensagem do mangá e ter sido só a ausência de uns quebra-cabeças elaborados que as pessoas presumem que virão em um mangá de detetive. Talvez sejam os problemas de ritmo do mangá ou a morte do Ukon que tenha desagradado.

Mas parte de mim tem medo que esse fracasso seja um desestímulo para se tentar de novo. Para se tentar fazer outro personagem que veja o mundo como Risa viu. E que a perspectiva dela possa ser vista como algo que não funciona para ser protagonista de um mangá na maior revista do país. Talvez Risa não tenha sido carismática o suficiente para conquistar o público. E tem uma vozinha na minha cabeça que cochicha que talvez se ela não quebrasse tantos moldes, poderia ter sido melhor vista e que talvez o erro de Risa tenha sido amar demais.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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