É a semana do aniversário do Dentro da Chaminé, e seis anos e 135 textos, em um projeto que eu sei que não é um blog que está sempre atualizado, mas que eu me esforço o bastante para sempre dividir minhas visões de obras de ficção com vocês, e eu agradeço a todos vocês que comentam aqui no blog, na página do Facebook, no Twitter. De verdade, eu busco falar pra mim mesmo que tem gente que gosta dos meus textos pois é importante acreditar, mas sempre que eu posso ver com meus próprios olhos de que tem mesmo, nossa, eu ganho meu dia, vocês me dão forças.
Dito isso, eu vou fazer hoje algo completamente diferente. Eu vou fazer um post primariamente pessoal. O Blog sempre foi pessoal, e sobre a minha visão sobre obras com as quais eu me importo. E eu não sou de ficar indo assistir algo que é a série do momento só pensando em tirar um texto que vai ser mais visualizado dela, não é essa minha relação com o blog, então ele sempre foi pessoal.
Mas esse texto vai ser ainda mais pessoal. Não sobre uma obra, nem sobre uma tendência de obras de ficção, nem uma lista ranqueando obras ou personagens, mas essencialmente eu quero fazer um texto para falar sobre mim.
Não sobre mim em si, sobre parte de mim. E também um pouco sobre minha relação com ficção, então ainda vai ser sobre ficção, até porque por mais diferente que esse texto seja, eu ainda quero manter o mínimo possível do foco do blog. Aliás, já aviso agora, esse texto contém spoilers de Kusurya no Hitorigoto, 9 Hours 9 Persons 9 Doors e My Holo Love. Um mangá, um game e um k-drama respectivamente. Estejam avisados aqui.
Mas o texto vai ser sobre prosopagnosia, como o título já entregou.
Enfim, eu sou Izzombie, sou o escritor desse blog, e eu tenho prosopagnosia. Também conhecida como cegueira facial. Uma condição que afeta minha capacidade de reconhecer rostos. Essa condição é dividida em dois tipos. A Prosopagnosia Adquirida em que após um dano na cabeça a pessoa perde a capacidade de reconhecer pessoas. E a Prosopagnosia Congênita, em que a pessoa já nasce com prosopagnosia. Estima-se que tenha um fatos genético para isso, mas tem muita coisa que não se tem certeza. Aproximadamente 2% da população mundial possui prosopagnosia congênita, e eu sou uma delas.
E não existe um tratamento para a condição.
Eu com o poder do retrospecto posso afirmar que lido diretamente com as dificuldades dessa condição desde meus 10 anos de idade, mas só fui aprender que isso era uma condição real com 23 anos, e só fui começar a me abrir quanto a essa condição e falar sobre ela com as pessoas próximas com 25. E um pouco mais velho que isso que eu comecei a me abrir de verdade e normalizei completamente a minha situação na minha cabeça.
E eu quero falar agora sobre prosopagnosia com os meus leitores. Sobre o que é, sobre como eu vejo o mundo, sobre como é consumir cultura pop tendo prosopagnosia e sobre como essa condição é retratada na cultura pop. Pois eu não acho que se fala o suficiente sobre prosopagnosia no mundo e eu queria que fosse mais conhecida essa situação. Somos só 2% do mundo, mas assim, se 2% da população não fosse um número impressionante de alto, então a série Leftovers não faria o menor sentido.
Vendo o mundo com prosopagnosia:
Então em resumo: Prosopagnosia é a incapacidade de reconhecer e distinguir rostos. E geralmente quando se fala sobre prosopagnosia para alguém a primeira pergunta que fazem é: “Mas então o que você enxerga?”. E assim, prosopagnosia é um espectro. Existem vários níveis do quão forte a condição é em pessoas diferentes, então ela afeta pessoas diferentes de jeitos diferentes, e eu pessoalmente estou muito longe de estar na parte mais grave do espectro, eu tenho mais capacidade de discernimento que outras pessoas. Mas justamente porque cada pessoa está em um ponto, e cada pessoa nessa condição descreve a maneira como funciona pra si de uma maneira diferente. Embora eu ache importante estabelecer: nossa visão é normal, alguns enxergam perfeitamente, outros são míopes, provavelmente alguém é caolho, mas isso não tem nada a ver com prosopagnosia, nós somos perfeitamente capazes de enxergar que nem alguém sem prosopagnosia é.
Pra mim a melhor maneira de explicar, é que é como se eu vivesse no mundo de South Park. Todo mundo tem o mesmo olho, o mesmo nariz, a mesma boca, a mesma orelha, e a mesma cara. Não literalmente. Eu sei que tem diferenças individualmente, mas olhando pro rosto, elas se tornam quase imperceptíveis sem eu me concentrar, e eu não sou capaz de memoriza-las.
O que muda é cor da pele, cabelo, roupa, altura, essas coisas. Então pra mim essas brincadeiras de criar bonequinho de South Park que eram muito populares lá em 2004, meio que englobavam toda a minha percepção das pessoas.
Eu agregaria que eu noto que os olhos de pessoas asiáticas são mais puxados, mas South Park desenha os asiáticos com os olhos puxados também, então essencialmente todas as minhas maneiras de perceber as pessoas podem ser explicadas pelos designs das crianças de South Park.
E por isso que o episódio em que o Mysterion tira a máscara é particularmente marcante pra mim. Pois já vi muito filme em que revelar o rosto de um vilão era pra ser visto como uma revelação, mas eu simplesmente não fazia ideia de que personagem era aquele Eu precisava de esforçar pra lembrar. Apreciaria muito se mais mistérios em live-action, especialmente em procedurais americanos de detetive, tivessem uma Velma ali pra grita “Senhor Walter?” na hora da revelação. Por isso que quando South Park fez o Mysterion tirar a máscara, e todos os personagens reconheceram ele, menos a gente, aquilo me deixou feliz. Pois eu reconhecia o sentimento. De alguém mostrar o rosto como revelação e isso não significar nada pra mim.
E é isso. Eu literalmente já não reconheci minha então namorada quando ela veio me ver no trabalho, e fui atender ela como se fosse uma cliente normal. Já me apresentei em festas pra pessoas que eu conhecia. Já passei por uma série de pequenos constrangimentos, e de inconveniências baseadas em falar com um estranho achando que era um amigo, ou em dar um gelo em conhecidos. Além é claro de eu ter uma dificuldade imensa em entender padrões de beleza. Tipo eu sei quem não os atores e atrizes lidos como os mais bonitos. Mas eu não consigo ver diferença prática entre eles e aqueles que “não são isso tudo”. Existe um grupo de gente que gosta de comparar que atriz é linda e qual não é tudo o que dizem que pra mim é um mistério completo.
Agora, sobre ser rude, eu por um tempo morei no interior do Chile numa cidade pequena em que todo mundo supostamente se conhece, e lá eu tinha o hábito de sempre que alguém me via na rua eu acenava com a cabeça, independentemente de se eu conhecia ou não, para não correr o risco de ignorar ninguém.
As pessoas realmente se magoam de não serem reconhecidas, e se você não administra bem a situação, você pode ganhar rótulos de rude, arrogante ou mentiroso. Uma pessoa com prosopagnosia inevitavelmente tem que se justificar para alguém que esperava ser reconhecido, e se ela não sabe de sua própria condição, ela não sabe se justificar. Falamos “eu sou ruim com rostos.”, mas “ruim com rostos” passa a impressão de que é algo que dá pra praticar.
Muitos anos depois eu vi o filme Memento, em que o protagonista que sofre de amnésia desenvolve um hábito similar, com a maneira como ele cumprimenta estranhos. Sorri amistosamente pra todo mundo, pra nunca correr o risco de não sorrir pra quem ele já conhece. Eu não sabia ainda que prosopagnosia existia quando eu vi Memento, eu não entendia bem minha dificuldade, mas aquele momento me marcou mais do que metade do filme, pois eu esqueci boa parte do filme, mas lembro dessa cena.
Ver filme é difícil quando você não distingue os atores. Eu já passei vergonha em fóruns dando take errado de filme porque eu confundi dois personagens, e, portanto, confundi a trama. Sabem que tipo de filme eu odeio? Biografia de político. Nossa é um inferno, todo mundo é velho, todo mundo é branco, todo mundo tem o mesmo corte de cabelo otário e tá todo mundo de terno.
Filmes e séries em que todo mundo é um homem branco de terno são um horror pra mim. Quando eu vi House of Cards, eu dependia da minha namorada na época pra me explicar quem era todo mundo o tempo todo.
Talvez por isso que eu me sinto tão bem no mundo dos desenhos animados. Em que rola um esforço pra fazer todo mundo ser muito diferente e reconhecível.
Mesmo quando os personagens têm literalmente a mesma cara, ainda dá pra distinguir eles nos desenhos animados. E isso magia.
Outra coisa que me incomoda, mas isso me tira do sério. É quando tem um filme com vários personagens alinhados no poster, e aí em cima tem o nome dos atores e eles não estão alinhados, e isso é horrível. Eu sei que isso incomoda muita gente sem prosopagnosia também, seja por TOC, ou por ser só esteticamente desagradável a não-concordância. Mas pra mim, eu dependo de verdade de pôsteres e trailers pra saber que ator vai fazer cada personagem antes do filme começar. Para quando ele acabar eu saber de quem foi a performance que me agradou. E quando não alinha eu me perco, pra cacete
Prosopagnosia na ficção:
Enfim, eu descobri que prosopagnosia existia pela primeira vez quando eu assisti a maravilhosa e perfeita: quarta temporada de Arrested Development, e nela tinha esse personagem chamado Marky Bark, que tinha prosopagnosia. Que na série é chamada unicamente pelo popular e auto-explicativo apelido de cegueira-facial.
Quando eu vi o personagem ele me impactou de verdade, pois eu era que nem ele, e foi a primeira vez que eu pensei na vida que talvez tivessem pessoas que nem eu. Eu pesquisei no google sobre cegueira-facial e descobri que era uma condição estudada e que tinha nome. E comecei a ler a respeito. E nossa, muito mudou em mim.
É curioso pois a quarta temporada de Arrested Development foi um caso em que o quão fora da curva minha dificuldade era ficou mais visível, pois aparentemente a atriz Portia de Rossi fez uma plástica entre temporadas, ou ao menos foi essa a história que eu ouvi e supostamente ela voltou diferente pra série, diferença que eu juro que não notei, me parecia a Lindsay de sempre. Mas eu via comentários sobre a diferença do rosto da atriz o tempo todo e estava muito autoconsciente.
Marky Bark era um personagem cômico e exagerado. Pessoas com prosopagnosia não distinguem pessoas pelos rostos e tem dificuldades, mas nós também temos mecanismos próprios para distinguir pessoas. Seja cabelo, roupa, linguagem corporal, cada pessoa cria sua estratégia e seu sistema, mas quando a gente conversa com alguém sabemos com quem estamos conversando.
Até porque a maioria de nós só descobre que prosopagnosia existe quando somos adultos, então quando aprendemos a reconhecer pessoas ainda no comecinho da infância, pequenos, já começamos a desenvolver estratégias para reconhecer pessoas sem depender de rostos. Eu pessoalmente adoro pessoas com adereços faciais. Óculos, barba, piercing, marca de nascença, cicatriz, acho a melhor coisa do mundo. Eu acho que eu já ofendi uma crush do passado por falar que a marca de nascença que ela tinha na testa tornava ela linda pra mim, mas tornava mesmo, tudo o que faz alguém reconhecível é lindo pra mim. Porque eu sou assim, se uma pessoa tira o óculos, eu viro aquelas pessoas que não entendem que o Clark Kent é o Superman.
Enfim, o Marky Bark, por humor, obviamente não desenvolveu a própria estratégia e o humor dele é o quanto ele não tem a menor ideia de quem as pessoas são em vários momentos relevantes. Eu não exatamente passo pelo que ele passa, mas porra, ele fez eu descobrir algo sobre mim importante.
E aí eu nunca mais vi outro personagem com prosopagnosia até faz menos de um mês, lendo o mangá Kusuriya no Hitorigoto, eu me deparar com Rakan. E bem, ler sobre o Rakan me afetou de uma maneira que em grande resumo, me fez querer escrever esse texto.
Rakan é um personagem introduzido como um personagem marcante por seus defeitos. Ele é o pai biológico da protagonista, Maomao, e supostamente a concebeu como parte de um de golpe em que ele engravidaria uma prostituta de luxo para diminuir o valor dela em seu bordel, e torná-la mais acessível. Maomao guarda rancor de seu pai, e nós empatizamos com essa antipatia, pois ele é retratado como o arquétipo do arrombado sem escrúpulos.
Rakan é um extremo manipulador que vê pessoas como nada além de peças de jogos de tabuleiro, que ele manipula aos seus objetivos. O que ele como estrategista militar, faz muito bem. E sua presença na trama é um anúncio de que ele trará mais problemas que soluções.
Seu flashback que ocorre no capítulo mais recente do mangá quando esse texto está sendo escrito, revela que Rakan sofre de prosopagnosia, e que ele está ciente disso desde a sua infância. Ele se isolava da própria família, por não conseguir identificá-los, e se focou no mundo dos jogos de tabuleiro desde a infância.
Foi seu tio, o único parente que tinha paciência com Rakan que o ensinou, que se ele conseguir classificar os diversos maneirismos de uma pessoa e dar nomes de algo que ele está familiarizado, ele conseguirá distingui-las com mis facilidade. E com base nisso ele começou a se treinar para associar pessoas como literalmente peças de Xiangqi (em resumo, o xadrez chinês) ou Go, para poder distingui-las.
A história de Rakan é trágica, em que na verdade ele se mostrou bem mais incapaz de manipular a situação ao seu redor, e foi impossibilitado de se casar com a mãe de Maomao. Apesar de no presente ele ser visto como um gênio estrategista que nunca falha, ele tem batalhas que ele perdeu na vida por não ter tido controle da situação. Ele só está de fato acostumado a comparar pessoas com peças de Xiangqi como mecanismo de sobrevivência desde a infância, e por isso se acostumou a saber usá-las em estratégias.
O mangá aparenta ir para um caminho de sugerir que a prosopagnosia de Rakan pode ser curada com amor. Ele não vê nem Maomao nem a mãe de Maomao como peças de Xiangqi. A mãe de Maomao era aparentemente o único rosto que ele conseguia identificar com clareza, o que sugere que é porque ele a amava. Felizmente, no caso de Maomao ele em nenhum momento identifica nenhuma semelhança de Maomao com a mãe, eu acharia isso horrível. Ele a identifica com base em seu dedo mindinho torto, pois ele sabia que no passado a mãe teria tentado arrancar o mindinho da filha.
Enfim, Rakan já era meu personagem favorito de Kusuriya no Hitorigoto antes da revelação de que ele tinha prosopagnosia, mas ver o quanto sua condição faz parte de sua vida, me deixou feliz de verdade, de ver de fato prosopagnosia ser usada na ficção. E me fez querer ver mais sobre prosopagnosia na ficção.
Uma das primeiras coisas que eu aprendi, é que tal como as pessoas acabam achando que somos rudes, arrogantes ou prepotentes por não reconhecermos as pessoas, a ficção deliberadamente retrata pessoas com esses defeitos não reconhecendo aqueles ao seu redor. Não necessariamente tendo prosopagnosia, mas meramente sendo pessoas horríveis.
A Makima de Chainsaw Man, obra já analisada aqui, não é capaz de distinguir rostos humanos, e distingue as pessoas ao seu redor pelo cheiro somente. Isso não é enquadrado como uma condição com a qual a Makima lida e que a humaniza, mas sim como uma desconexão dela com as pessoas, algo que a vilaniza, e uma prova de que ela nunca se importou com Denji.
Starfire, heroína da DC na sua controversa caracterização dos New52 que deixou muita gente puta, também é descrita como incapaz de distinguir os humanos entre si e que isso era parte de ver as pessoas como coisas abaixo dela. De novo, não exatamente uma condição com a qual ela lida, e sim uma conexão que ela não fez.
De certa forma Rakan fez o caminho oposto. Ele é uma pessoa com prosopagnosia, que vê pessoas como objetos manipuláveis, mas ele só se treinou pra vê-las assim por conta de sua condição, e é menos frio do que parece, com alguns de seus atos sendo retroativamente interpretados como manipulações, quando na verdade não foram. Mas mesmo com uma história que nos faça simpatizar com ele, o fato da protagonista ainda vê-lo com maus olhos e de ele ter de certa forma vestido a carapuça de filho da puta que colocaram nele, tornam ainda ambíguo se ele não vai terminar sendo uma pessoa com prosopagnosia que simplesmente não se importa com quem não distingue.
Ainda na vilanização de personagens com prosopagnosia, para pesquisar sobre como a condição era retratada na ficção eu fui jogar o jogo 9 Hours 9 Persons 9 Doors, que é um dos exemplos mais famosos de prosopagnosia na cultura pop, e, também, se destaca de Kusuriya no Hitorigoto e de Arrested Development por chamar a desordem pelo nome.
No jogo o personagem Gentarou Hongou, organiza um experimento humano que fizesse que as pessoas em situações de vida ou morte pudessem passar informações entre si através de campos invisíveis em algo semelhante a telepatia. E informações entre pessoas pudessem ser disseminadas sem contato. Ele acreditava que caso tivesse essa técnica, ele poderia ser curado de sua prosopagnosia.
No jogo a incapacidade de identificar personagens que fizeram parte de seu passado se tornou uma brecha para que ele fosse manipulado e encurralado. Mas, mesmo assim demoramos muito pra descobrir que ele tinha a desordem, pois ele conseguia usar várias pistas para sempre identificar os personagens ao longo do jogo. E isso foi bem-feito. Se bem que não é como se não fosse todo mundo com roupas super chamativas que não trocam ao longo do jogo todo. Mas mesmo assim.
Enfim, prosopagnosia é uma inconveniência com a qual quem tem vive a vida inteira, mas imagino que a menos que sua carreira dependa de diferenciar pessoas com grande precisão, não é exatamente algo que estraga a sua vida de maneira pesada. Claro, pessoas diferentes reagem à própria condição de maneira diferente, mas Hongou ter ido ao limite de cometer abusos humanos e assassinatos em busca de uma cura, soa um exagero.
Prosopagnosia não tem cura, nem nenhum tipo cientificamente aprovado de tratamento. Nada mesmo. Mas o que existe é gente que oferece curas para pessoas com problemas tirando vantagem de sua vulnerabilidade, geralmente com base em pseudociência. Existe aprender a viver com a desordem. No caso o Hongou soou como um golpista que iludiu a si mesmo. Até porque vou ser sincero, não gostei do jogo porque, entre outros motivos, não gostei desse mambo-jambo de transferência de informação não, achei bem bobo. Então sou suspeito pra falar. Mas assim, eu duvido que fosse ajudar, porque não é como se o que faltasse para a gente é um banco de dados. É uma informação que temos dificuldade em processar. Então o plano em si na minha perspectiva fez pouco sentido.
Mas o lance é particularmente ter hiperbolizado a experiência de ter prosopagnosia como algo pelo qual vale a pena matar para se livrar. Em determinado momento Hongou fala que os outros não são capazes de entender o que é viver cercado por macacos, em referência a um comentário que pessoas com prosopagnosia tem dificuldade de distinguir as pessoas que nem todos temos dificuldade de distinguir os macacos no zoológico.
Enfim, não é difícil fazer da prosopagnosia uma maneira de vilanizar um personagem.
Do outro lado do espectro, existem também heróis com prosopagnosia. Eu assisti esses dias o filme Faces in the Crowd, que é…. um filme ruim. Infelizmente. Um thriller policial com um roteiro bem mal escrito, mas foi um retrato bem digno de um personagem com prosopagnosia que me surpreendeu.
O filme no caso retrata a prosopagnosia adquirida, que é quando você não tem prosopagnosia desde seu nascimento, mas adquire por conta de um trauma, geralmente uma batida na cabeça. E é o caso da protagonista. Por isso o filme mostra uma pessoa que não tinha prosopagnosia tendo que se adaptar a uma vida na condição, depois de uma vida inteira habituada a reconhecer rostos.
A trama em si gira em torno do fato dela ter testemunhado um assassinato e agora o assassino estar obcecado com ela, e ela não ser capaz de reconhecê-lo quando reencontrá-lo. Mas isso é a trama, e a trama é ruim.
O importante é que a parte dela se adaptando foi feito com de fato muito tato. As cenas dela indo em uma neurologista, que ensina ela que isso é algo com o qual ela vai viver. A maneira como as pessoas próximas dela reagem as suas dificuldades. E as estratégias que ela vai bolando para poder continuar sendo socialmente funcional.
A cena dela surtando porque o cara com quem ela dormiu fez a barba de manhã é particularmente fácil de se identificar. Especialmente porque subverte uma expectativa importante dela, a de que ela ia reconhecer o rosto dele pra sempre, pois o amava. E então ela descobriu que ela nunca reconheceu o rosto dele, ela o identificava pela barba desde o principio, e ela só não notou que a identificação que ela fazia com facilidade não tinha relação com o rosto dele. O que é um fato, a gente quando reconhece alguém, raramente presta atenção em quais são os pontos-chave pra reconhecer um rosto, pois reconhecemos o desenho completo, é parte do motivo pra muita gente demorar até a vida adulta pra ser diagnosticada. Eu pessoalmente fiquei surpreso quando descobri que pessoas não se identificavam pela barba primariamente.
Aliás, um dos grandes momentos em que eu descobri que o que eu tinha era grave, ou seja, que eu não estava em um nível normal, foi quando eu descobri que tem muita gente no mundo que sabe dizer quem é quem nos Beatles no começo da carreira. Um absurdo, impossível dizer. São todos o mesmo cara. Mas no fim da carreira eu sei quem é todo mundo ali, cada um tem uma barba diferente. Eu fiquei chocado quando descobri que não era assim pra todo mundo.
Enfim, apesar da condição ser tratada com realismo e sendo bem educativa em explicar pelo que alguém com prosopagnosia passa, na cena final eles resolvem abrir uma enorme exceção e falar que a protagonista consegue reconhecer a própria filha, por causa do poder do amor, mas tá tudo bem, foi didático e competente em falar sobre o que passamos e como lidamos, pena que em um plotzinho de assassino de bosta.
Na minha pesquisa por ver como éramos retratados, fui assistir a série My Holo Love, um K-Drama da Netflix. Que é sobre o triangulo amoroso entre uma mulher com prosopagnosia, um holograma da mais avançada inteligência artificial do mundo, e o criador desse holograma, que é um pau no cu. Horrível, nossa, só dei azar aqui nessa pesquisa, não me deparei com nada de meu gosto.
Me chamou a atenção que a série descreve a prosopagnosia da protagonista So-Yeon como se ela visse o rosto de todo mundo embaçado, somente o rosto. O que é curioso, pois é como ela verbalmente descreve sua condição.
Muita gente explica prosopagnosia com a ilustração de alguém cujo rosto é simplesmente branco ou embaçado demais para distinguir. Talvez seja a melhor maneira mesmo de alguém sem prosopagnosia entender de maneira fácil a situação, mas não é o que nós vemos. Digo, prosopagnosia é um espectro, tem várias maneiras de se manifestar e alguém com uma situação mais grave que a minha é bem-vindo pra ir nos comentários falar “é sim, eu vejo só embaçado”, mas assim, na minha experiência e nas conversas que eu tive com pessoas semelhantes, não é como se não fossemos capazes de ver que a pessoa tem dois olhos, um nariz, uma boca, e se necessário, até mesmo identificar um ou outro detalhe nessas partes do rosto caso coloquemos muita atenção. Boa parte de nós não enxerga um borrão no lugar de rostos. Mas adoram fazer isso pra ilustrar.
O lance é que decifrar rostos é algo tão complexo que tem uma área do nosso cérebro dedicada só pra isso. E isso é normal. Pensemos em zebras. Cada zebra tem um padrão de listras que é único, igual uma impressão digital, então toda zebra que você vê é diferente. Mas se a gente bate um olho em vinte zebras a gente viu vinte zebras iguais. Porém uma zebra reconhece a própria mãe numa multidão de cem zebras só com base na listra. E isso é porque eles estão condicionados a discernir diferenças sutis em um padrão complexo em poucos segundos, pois isso é uma habilidade necessária pra zebra. Mas reconhecer indivíduos em uma multidão de zebras não é algo do qual a sobrevivência humana depende, então nosso cérebro não está condicionado a fazer isso.
Mas nosso cérebro está condicionado a fazer isso com rostos…. digo, o meu não está, mas muitos estão. Enfim, então pra gente não é como se víssemos embaçado, é mais como se os rostos fossem as listras de uma zebra. Não só zebras, qualquer animal nós não temos o cérebro treinado pra distingui-los entre outros da mesma espécie. Eu amo minha gatinha, mas se jogar ela num grupo de 10 gatos da mesma cor eu não sei achar ela. E isso não é porque diferenças não existem, é só que são diferenças sutis que não temos uma área do cérebro específica só pra discernir. Rostos humanos podem parecer que não são isso, mas são a mesma coisa.
No Faces in the Crowd, para fazer o expectador entender o que a protagonista passava, eles trocavam os atores de todos os personagens a cada cena. E sempre que um novo personagem entrava é como se ela o visse pela primeira vez e nós também. O que aproveita e torna o filme como uma denúncia indireta de como gente branca é tudo igual. O que é uma verdade que os brancos tentam esconder. Enfim, My Holo Love optou por embaçar, o que não seria zoado, se ela não tivesse verbalizado que o borrão é literal.
Outro ponto importante de notar é que a prosopagnosia de So-Yeon é adquirida por trauma, mas não por um impacto na cabeça ou esse tipo de trauma, mas por ela ter testemunhado um assassinato de alguém que ela conhecia, e o assassino ter dito “você não viu meu rosto”, ela reprimiu todas as memórias do incidente, e por isso ela acredita que sua prosopagnosia é de nascença, quando não é.
Enfim. My Holo Love, retrata So-Yeon como alguém que mantém sua cegueira facial em segredo, por conta do bullying que sofreu na infância por causa disso. Eu era um adulto quando descobri sobre minha prosopagnosia, e as pessoas com quem já conversei sobre o assunto também. Então não sei de experiências de quem foi diagnosticado criança, e de se a condição te faz ou não um alvo de bullying. Presumo que faça.
De qualquer jeito a experiência com bullying deixa ela com medo de ser rejeitada e odiada por sua condição. Por isso ela esconde a sua condição de todos a sua volta, optando por ser anti-social pra não ser descoberta.
Mas o que me pega mesmo, é que a série também flerta com a noção de que “quem ama reconhece”, ou melhor dizendo, que uma conexão emocional muito grande com uma pessoa, pode tornar essa pessoa reconhecível. O que é um take que Faces in The Crowd soltou na última cena também, mas que eu não aprovo. Pois nós de fato não reconhecemos nossos entes queridos por rosto. E pessoas magoam de não serem reconhecidas. E quanto menos entes queridos de pessoas com prosopagnosia acreditando que “se me amasse de verdade, me reconheceria” melhor. Pois é verdade nosso reconhecimento não é proporcional ao nosso amor.
Como o lance era psicológico o tempo todo, funciona, afinal não é um dano físico, é um bloqueio mental e é verossímil que emoções fortes afetem esse bloqueio, mas não é o melhor take possível.
Mas concluindo minha pesquisa, a última obra que eu fui atrás para ver como prosopagnosia é retratada na ficção, é do mangá Futsuu ni Naritai. E uau, esse aí é o grande exemplo.
Eu reclamei que em My Holo Love, a protagonista enxerga as pessoas como borrões. Em Futsuu ni Naritai, o protagonista enxerga as pessoas como literais ovos. Não sendo sequer capaz de entender se a pessoa tem ou não cabelo ou barba. Dois itens que são uma maneira muito comum de uma pessoa com prosopagnosia tentar reconhecer as pessoas. E o protagonista também, quebra qualquer chance de isso ser só uma alegoria chamando todo mundo de ovo.
E a situação dele é até estranha. A história gira em torno da relação dele com a única garota que ele vê o rosto como uma pessoa normal, e quer saber o porque. Mas tem o ponto de que tem pessoas que ele por nenhum motivo compreensível, vê como ovos diferentes. Por exemplo o delinquente da escola que é um ovo vermelho.
De todos os itens da pesquisa o mais difícil de identificar e projetar alguma experiência de vida no que ele passa. E o mais difícil de chamar de prosopagnosia mesmo, pois ele não tem dificuldade de interpretar uma imagem, ele de fato vê coisa que não existe. Mas o mangá chama por esse nome. Enfim, um mangá infeliz.
E essas seis obras concluem honestamente o que eu consegui reunir de representatividade sobre prosopagnosia na ficção. Arrested Development (série americana), Kusuriya no Hitorigoto (light novel e mangá), Faces in the Crowd (filme) 9 Hours 9 Persons 9 Doors (game), My Holo Love (k-drama) e Futsuu ni Naritai (mangá).
Me recomendaram no twitter um livro brasileiro também que talvez tenha, sem certeza, mas eu preciso ir atrás dele, e até eu lê-lo eu já vou querer esse texto terminado.
E é isso. Eu apontei aqui o que não era exatamente verdade na maneira como a condição era retratada, mas é porque eu quero que esse texto seja didático, porque no geral, nenhum realmente me incomodou com a maneira como retratou a prosopagnosia…. exceto Futsuu ni Naritai. Fodam-se esses ovos.
Mas ainda reforço que de fato, não é porque eu não ligo, ou mesmo que se hipoteticamente literalmente ninguém com prosopagnosia ligasse, ainda acho que é legal reforçar que. Personagens frustrados que ter prosopagnosia estragou suas vidas, obcecados por curas a qualquer preço, ou descobrindo que você consegue distinguir a face de quem ama muito. Nada disso é uma abordagem legal da condição. Vou falar o que é legal mesmo:
Somos pessoas com dificuldades, mas muitos de nós são pessoas funcionais em sociedade, que tem seus próprios mecanismos de reconhecimento e sua própria maneira de fazer conexão pessoal com pessoas. E por conta disso essas pessoas tem sua própria maneira de interagir e ver o mundo. Trabalhar pessoas com prosopagnosia como pessoas que para poder funcionar em sociedade adotaram uma visão de mundo peculiar, e mostrar como isso a afeta, é muito mais interessante que retratá-las como pessoas arruinadas, desesperadas por uma cura para poder recuperar o que nunca tiveram.
Enfim, no geral, eu fico feliz que sempre que abordam a desordem, e eu queria que abordassem mais.
Pois reforço, ainda é incomum um professor, psicólogo ou pais verem a criança com dificuldade e encaminharem ela a alguém que possa diagnosticá-la. Pois a condição não é conhecida o suficiente pra isso, embora aconteça algumas vezes. A maioria de nós, descobre por conta própria sobre a situação após ouvir falar. E por isso quanto mais lugares possíveis onde der pra ouvir falar melhor.
Então por mais que eu aponte aqui como a maneira como isso foi retratado em 9 Hours 9 Persons 9 Doors tinha uns exageros e vilanizações, o fato é que muita gente descobriu a própria prosopagnosia ouvindo falar da condição pela primeira vez jogando esse jogo, e pode com isso ter acesso a informações para poder descobrir mais sobre si mesmo, sobre suas limitações e como lidar com elas. E portanto o jogo por abordar o assunto ofereceu um serviço significantemente maior do que um desserviço, mesmo se eu enquanto individuo discordar da maneira como abordou a obsessão por uma cura.
O que é parte do motivo pelo qual escrevo esse texto também. Para se algum leitor que nunca ouviu falar estiver lendo, agora ouviu falar, e talvez isso ajude o leitor ou talvez ajude um amigo do leitor. Eu acho importante as pessoas saberem que isso existe.
Então todas essas abordagens aí me deixam feliz por existirem, mesmo que várias estejam em obras que simplesmente não são minha praia por questão de gênero.
Agora, só porque esses foram os casos de prosopagnosia significa que eles são os únicos casos de prosopagnosia que existem na ficção.
Personagens que na minha cabeça tem prosopagnosia:
Não é porque o autor não escreveu eles com o propósito de terem prosopagnosia, que eles não possam ser lidos como pessoas com prosopagnosia. Observando seus hábitos, personalidades e maneiras de lidar o mundo. Claro que atribuir prosopagnosia aos personagens sempre vem no formato de meme, de falar que a Lois Lane tem prosopagnosia para não conseguir ver a diferença entre o Superman e o Clark Kent. Entre outros.
Mas por exemplo, isso é usado em memes também, mas eu genuinamente vejo o príncipe encantado de Cinderella, como alguém que tem prosopagnosia. Não só porque ele precisava do sapato para reconhecê-la depois de dançar com ela no baile a noite inteira. Digo, obviamente isso é o que entrega tudo. E obviamente isso também é um meme.
Mas principalmente porque ele é muito pouco sociável pra um príncipe. No filme, fica claro que ele não tinha interesse no baile que o rei organizou, e que ele obviamente não está empolgado para conhecer todas as solteiras do reino. Bom, pessoas com prosopagnosia são muito mais prováveis de serem introvertidas do que extrovertidas, o que é compreensível, pois é muito comum elas terem histórias em que a socialização fracassou na infância e o não reconhecimento as isolou. O príncipe obviamente não era assexual ou gay, mas o Rei estava preocupado que ele passou tempo demais sem nenhuma garota por ali. E longe de falar que o principe ativamente se manter solteiro de propósito e precisar de interferência externa não seja normal. Mas só que tem uma série de explicações que isso se quisermos pensar sobre, e ele ser uma pessoa que não socializa é uma delas.
Quando ele conheceu a Cinderella, ele troca ideia com ela naquele cantinho longe da multidão, e essencialmente, ele dança com ela em direção à fora da festa, para escapar de um ambiente que ele não gosta. Esse não é um homem sociável.
Aliás, pegam demais no pé do príncipe da Cinderella. Mas ele é só um rapaz que foi obrigado a ir em uma festa que não queria, pelo pai, e simpatizou com a única convidada que tava tão deslocada quanto ele. Dava pra fazer vinte filmes hipsters de romance com essa mesma premissa.
Enfim, a introversão, ausência de relações na vida adulta mesmo quando o título dele exige isso, e não-reconhecimento da mulher por quem se apaixonou, pra mim esses três itens fazer fácil pensar que ele pode ter prosopagnosia. Obviamente nem o Walt Disney nem ninguém que contou o conto de fadas pensou nisso, mas encaixa. E encaixar é o suficiente.
E eu acho super saudável sabermos projetar esses headcanons em personagens, e criar a nossa própria representatividade, em vez de só esperar os roteiristas notar que existimos. E incentivo todo mundo que faz o mesmo.
Outro personagem que eu vi alguém uma vez acusar de possivelmente ter prosopagnosia e eu concordei, é Ryoga Hibiki. Personagem de Ranma ½.
Provavelmente o exemplo máximo da falta de senso de direção da história dos mangás, o único que talvez seja mais icônico que ele é o Zoro, de One Piece, mas isso é mais pela fama de One Piece. E mesmo se o Zoro for mais famoso, o Ryoga veio primeiro.
E o Ryoga é completamente incapaz de acertar qualquer tipo de caminho. E é capaz de se perder em linha reta. E obviamente o Ryoga é a pessoa mais disfuncional do mundo pela hipérbole que é o tom do mangá inteiro, mas existe sim uma correlação entre pessoas que nascem com prosopagnosia, e a falta de senso de direção. Muitos de nós tem um senso de direção péssimo, eu incluso.
Nem conto dos compromissos que eu perco porque me perco. Já me atrasei mais de uma hora para um encontro porque peguei o metrô errado três vezes. Eu saí, do metrô errado dei a volta na estação e entrei no mesmo metrô de onde sai, achando que tinha pegado o certo. Loucura. Enfim, tem muita gente com prosopagnosia que também tem dificuldades em acertar caminhos. Não é todo mundo, mas é algo comum de achar esse ponto de encontro.
E eu não sei explicar isso. Se a parte do cérebro que processa nosso senso de localização é o mesmo que processa os rostos das pessoas? Talvez, não vou saber dizer nada sobre isso. Só que esse é um bom sintoma.
Mas o mais notável é que existe essa piada recorrente do Ranma se disfarçar para enganar o Ryoga constantemente. E o Ryoga é o único que cai nessas. A Akane, a Shampoo ou a Ukyo reconhecem o Ranma debaixo de qualquer disfarce, mas o Ryoga sempre é iludido, ele não só é incapaz de reconhecer o Ranma se ele mudar de roupa e de cabelo, como ele é o único personagem do elenco com essa incapacidade
E ele também é, como a maioria de nós, um introvertido. Com dificuldades em estabelecer relações.
E prosopagnosia é isso. Um assunto sobre o qual definitivamente não se fala, e exceto quando eu entrei em grupos onlines só para gente com prosopagnosia, eu raramente tenho uma conversa com alguém sobre o assunto, sem que eu tivesse explicado pro alguém em questão o que é prosopagnosia em primeiro lugar.
E por ser algo que por ignorância, eu tive que lidar sozinho em silêncio por vinte anos, que hoje eu acho importante disseminar esse conhecimento, pra que outros não tenham. Parte desse papel é da ficção as vezes que de vez em nunca escreve histórias com personagens que tenham a condição. As vezes é boca a boca.
Esse foi meu texto, sobre um aspecto muito pessoal da minha vida que é importante sobre mim, mas não é só sobre mim e demarca uma ausência de histórias na cultura pop atual, que poderia ser preenchida se mais roteiristas fossem mais informados. Texto que vem o blog retoma às análises de sempre.
E se você leitor, for uma pessoa que tem dificuldades de reconhecer pessoas, se baseie em cabelo, voz e linguagem corporal para reconhecer os demais, e se considera um mal fisionomista. Então tem muita gente que passa pelo mesmo, e pode ser uma boa ideia falar com elas e compartilhar experiências.