Esse texto atrasou mais pra sair do que eu achava. E isso é porque ele tomou um rumo estranho quando eu escrevia. Eu originalmente queria analisar 5 filmes da franquia chamado e seus diferentes índices de acertos ou baseados em se eles possuíam ou não consistência temática com os filmes anteriores. Queria falar de Rasen, Ringu 2, Ringu 0, The Ring Two e Rings. E dissecar o quão importante era a consistência temática para esses filmes funcionarem.
Mas assistindo esses cinco filmes para ter uma noção clara do que dizer, o texto acabou sendo só eu fazendo hating e nitpicking porque esses filmes são ruins. E como eu acho que tem vezes em que se não tem nada de bom pra dizer, melhor não dizer nada, eu mudei de ideia, e resolvi fazer um texto falando bem do único filme desses cinco que eu realmente gostei.
Que advinhem só, é o pior deles! Ao menos na opinião de literalmente todo mundo além de mim. Que conste que pra mim o pior dele é Ringu 2
Rings eu não tenho dúvida nenhuma, vai ser a pior avaliação no Rotten Tomatoes que eu vou defender em vida. E por isso já quero me justificar aqui, que esse texto não sou eu defendendo um filme péssimo pelo esporte, porque eu não acho que Rings foi visto em escala o suficiente para valer a polêmica de defendê-lo. Quem me dera, mas a população que é obcecado com Samara e Sadako não é grande não, sou só eu.
Mas é que apesar de tudo eu achei Rings uma continuação ideal dos caminhos que eu queria que a franquia americana seguisse, e quero de fato falar sobre isso, sobre as escolhas do filme que me agradaram, e sobre o quão triste eu fico de pensar no quão improvável é que saia um quarto filme da franquia agora.
Mas eu sinto que Rings pegou tudo o que eu descrevi a respeito de Samara Morgan no texto passado e elevou a enésima potência. Pro bem ou pro mal, mas se eu só sugeri uma relação entre a Samara e a tecnologia para evidenciar ela simultaneamente como um ser anti-natural, e por ser uma existência anti-natural, em certa perspectiva, um demônio, e um anti-cristo.
E logo na primeira cena, essa relação entre Samara que só se manifesta por tecnologia encontra sua performance mais exagerada até o momento Quando ela derruba um avião, ao desligar todos os sistemas do avião para transformar suas telas em um vídeo do poço, para sair e matar um dos passageiros.
Essa cena é infame e impopular, por ser de fato, tosca e exagerada. Mas acho que a noção de que Samara derrubou um avião inteiro para matar uma única pessoa mostra uma coisa importante sobre Samara. Um dos passageiros havia visto a fita e copiado, mas morreu no desastre. O que significa que ela não poupou uma pessoa supostamente segura. Que apesar das regras, ela é um (ex) ser humano, não uma lei da física. E seus métodos são derivados de contexto, e da vontade de Samara. Se essa tivesse a determinação de não matar nenhum não-envolvido ela provavelmente daria um jeito de matar só seu alvo, mas é interessante notar o desinteresse dela em vítimas acidentais.
Mas vamos lá, que essa cena é só um filler para chamar a atenção do expectador, e é uma das cenas ruins do filme.
O filme é sobre Julia e Holt, dois namorados. Ao entrar na faculdade Holt entrou num grupo de estudos liderados por um professor carismático e maluco chamado Gabriel, nome bíblico, que descobriu a fita de vídeo e quer usar essa maldição e essa interação única com a ira de um fantasma para estudar o conceito do pós-vida, do além e de ter uma prova palpável de que almas existem.
Então ele fez seus alunos verem a fita e passarem para outras pessoas verem a fita, mantendo uma corrente em que uma pessoa nova sempre precisa entrar no grupo para a anterior ser salva, mas ao mesmo tempo, aumentando o número de pessoas que vão interagir com Samara, e com isso ele tira dados de estudo sobre ela.
Eu acho que de todos os filmes esse é o que melhor explora Samara, mais do que qualquer um dos japoneses, pois ela é um ser ativo o filme inteiro, mesmo sem que a vejamos na maioria do tempo. Ela se comunica por sinais. Os alunos nesse grupo de estudos que vem a fita vão gradativamente tendo visões mais e mais agressivas de Samara e vendo que ela está irritada com o que ocorre e com o quanto ela está sendo usada.
O que culmina em Gabriel falhando em convencer um novo aluno a ver o vídeo de uma aluna chamada Skye a tempo e ela morre, na grande cena em que Samara sai de uma televisão de tela plana.
O que assim como avião é uma cena que tenta ser mais grandiosa que a do primeiro filme e peca pelo excesso. Acho que pode-se dizer isso de todos os três momentos em que Samara aparece pessoalmente nesse filme. O autor tentou fazer tudo ser mais “olha que foda” e errou no tom. Mas olha, Samara segue glitchando, algo que ela não fez no segundo filme. E segue movendo grandes distâncias por jumpcut, mantendo suas duas grandes marcas que fazem seu fantasma mesmo fora da televisão soar como uma grande extensão da televisão.
Enfim, depois que Holt passa quase uma semana ignorando Julia no celular, ela vai até sua faculdade procurar ele, descobre sobre o grupo de Gabriel, e sobre Skye. Skye tenta fazer Julia ver o vídeo, mas ela não vê, Julie se tranca no banheiro com medo de Skye e essa é morta por uma fantasma vingativa. E… Julia e Samara encaram suas respectivas silhuetas.
Elas não cruzaram o olhar, pelo filtro da porta, mas elas se notaram nesse momento e isso é importante. Samara destranca a porta do banheiro para Julia poder sair e desaparece. É uma interação curiosa, em que Samara quebra a barreira que a separa de Julia, mas não tinha a intenção de matá-la. Mas sim de mostrar para a menina que ela havia acabado e que Julia já podia sair. É notável também que nos dois filmes anteriores, as pessoas que testemunhavam o serviço de Samara enlouqueciam, mas Julia tem uma semi-interação direta com a menina e não enlouquece. O que gera a pergunta, se Samara teria despertado o interesse por Julia justamente por conta do quanto ela não enlouqueceu.
Pois agora que Julia viu o que rola, ela decide salvar Holt, que também viu o vídeo e assiste a cópia dele.
Mas a cópia de Holt, veio alterada. Com um vídeo novo criptografado dentro do vídeo original. Além disso, Samara queima a mão de Julia pelo telefone um instante depois dela ver o vídeo. Geralmente as vítimas demoram uns dias antes de serem marcadas por Samara. Julia é um caso especial.
De certa forma nesse instante, o filme faz o que Star Wars VII – Force Awakens fez. Refez o primeiro filme todo de novo, pois funciona. E eu não acho isso ruim. Pelo contrário, parece contra-intuitivo, mas acho que onde todos os outros filmes que tentaram seguir a história falharam, foi em tentar dar o passo seguinte, e não tinha realmente muito para onde ir sem ficar zoado. O filme ao manter o plot do original reciclado, focou nos elementos interessantes do plot: o vídeo amaldiçoado e a Samara. Acho que funciona. Agora temos um novo vídeo. E Julia querendo interpretar esse novo vídeo para evitar sua morte. O arquivo de vídeo dela não pode ser copiado, e isso é uma interferência direta de Samara que quer que Julia investigue o que houve, em vez de somente passar a maldição pra frente.
Esse novo vídeo é a mesma vibe do outro. Umas doidera creepy como um pássaro morto e uma serpente comendo a própria cauda. Com imagens de eventos reais, como uma igreja, uma inundação e um cadáver em chamas. Felizmente pra Julia, Gabriel tinha dedicado sua vida a pesquisar Samara academicamente e ele tinha informações da igreja, é onde Samara supostamente foi sepultada depois de ter seu corpo encontrado por Rachel Keller no primeiro filme.
A cidadezinha de Sacrament Valley é onde escolheram enterrar Samara, pois foi onde sua mãe biológica: Evelyn nasceu.
Após Samara ser enterrada no local a cidade sofreu uma inundação terrível, descrita como se fosse a própria ira de Deus, o que fez com que o padre local removesse o corpo de seu túmulo. Lhe negando o descanso eterno e aprisionando sua alma sem paz.
Pois bem, o que torna essa uma história com uma nova injustiça cometida contra Samara. Mesmo após ser descoberta por Rachel a menina segue sofrendo nas mãos dos demais. E esse filme aumentou o leque de abusos contra Samara revelando o quão fodida foi a condição dela não só em vida, antes de nascer e depois de morrer. Pré-vida. Vida e Pós-Vida, os três marcados por injustiças contra ela.
Conhecemos o pai biológico de Samara Um padre local, enlouquecido com a visão de que a criança que ele geraria seria a criança mais importante do mundo. Que ele traria uma criança inacreditável ao mundo. Para gerar tal criança ele sequestrou a suposta mãe, uma adolescente, que ele aprisionou e estuprou até a gravidez. Ela fugiu do calabouço grávida de oito meses.
Burke, o pai de Samara, mantém seu cadáver preso nas paredes de sua casa, para que a alma de sua filha nunca se liberte. E ele se cegou propositalmente, para que ela nunca o mate. E qualquer pessoa que aparente simpatizar minimamente com Samara ele matava. Na sinceridade, Vincent D’Onofrio é a melhor atuação do filme e esse personagem é um baita vilão. Cruel, calculista, e pérfido. O tipo de existência tão canalha que te obriga a simpatizar com a fantasminha psicótica.
O que é uma armadilha, que já aprendemos no primeiro filme. Nunca devemos empatizar com Samara, pois não importa o quanto ela tenha sido legitimamente injustiçada, sua personalidade não tem redenção. E esse ex-padre, pedófilo, estuprador desrespeitando o cadáver da própria filha, era a única coisa que protegia o mundo da ira de Samara.
Quando Julia descobre a verdade sobre Samara ela confronta Burke, e quase é morta por ele. Mas é salva por Samara em pessoa. Que restaura a visão do pai antes de matá-lo.
Julia entende a dor pela qual Samara passou, desde o nascimento, durante toda a vida e em sua morte. E mesmo vendo o mal que Samara fez, pois ela viu o estado do corpo de Skye ela nunca teve medo dela. Com Burke morto, ela cremou o cadáver de Samara para libertá-la para sempre.
E no dia seguinte, a alma liberta de Samara possui o corpo de Julia, para reviver a si mesma. O que era a intenção de Samara desde o início. Uma vez revivida, ela usa o celular de Julia para repassar o vídeo para todos seus contatos, provavelmente condenando centenas senão milhares de pessoas à morte.
O filme mistura a estrutura básica de plot do primeiro filme, de ver a fita, estudar a história de Samara, entender sua dor, encontrar seu corpo, libertar, entender que Samara não será grata à piedade que recebeu e sofrer a ira dela mesmo assim. Com umas pitadas do segundo filme, em que Samara possui o corpo de Aiden pra reviver, e faz a mesma coisa aqui com Julia. E com uma inesperada rima com Rasen.
Rasen é o segundo filme japonês da franquia. E uma das histórias mais bizarras que já ouvi na vida de gente que teve uma péssima ideia de como promover um filme. Rasen foi filmado ao meso que Ringu. Pela mesma equipe, com os mesmos atores, mas sem o mesmo diretor nem o mesmo roteirista. Enquanto Ringu adapta o primeiro livro de uma série de livros com muitas liberdades de adaptação. Rasen adapta o segundo livro muito mais literalmente. O resultado, foi um filme estranho que dialoga muito pouco com o primeiro filme e que foi descontinuado.
Enfim, eu acho Rasen o mais interessante dos filmes japoneses. Não é o melhor, e tem muita coisa nele que eu acho estranha. A principal sendo o lance de Sadako poder ressuscitar os mortos engravidando no mundo dos vivos e parindo qualquer pessoa que esteja no além….
Eu acho super estranho termos uma Sadako transante sexy.
Mas o que eu acho bom em Rasen é como o filme inteiro é um golpe de Samara, que criou uma nova mídia para sua maldição, e manipulou quem tentou entendê-la para se ressuscitar. E uma vez ressuscitada sua primeira atitude foi divulgar sua maldição para atacar o maior número possível de pessoas.
E eu sinto que foi exatamente o que Rings fez. Porém se Rasen fez isso sem dialogar em nada com Ringu, por ter os olhos em ser fiel a um livro que o filme anterior não foi tanto assim. Em Rings, o filme se manteve consistente com o que os filmes anteriores foram, e não apresentou nenhum conceito muito distante dos filmes anteriores (como uma Sadako muito obcecada em ter um útero, que no primeiro filme sequer mencionam sobre ela não ter).
Em Rings, em vez de inventar qualquer conceito novo. O que eles fizeram foi pegar tudo o que já estava sendo trabalhado no primeiro filme, e elevaram à máxima potência.
Se no primeiro filme Samara era uma existência não-natural, maligna por definição, que ia contra as boas leis da natureza. Que no contexto de um interior rural dos Estados Unidos, podia ser encarado em uma leitura religiosa de “leis de Deus” se você quisesse forçar isso. No terceiro filme, Samara é o anti-cristo em tudo menos o nome.
Porra, ela veio de uma profecia descoberta por um padre psicótico. A questão religiosa por trás de Samara vem com tudo nesse filme. Especialmente em simbolismo barato, como os insetos que formavam uma cruz na sua tumba em seu novo vídeo. O mensageiro de seu nascimento se chama Gabriel. Temos uma inundação representando a ira de Deus. E o arqui-inimigo de Samara é definido como um padre.
As pesquisas de Gabriel descrevem Samara como uma menina cujo aspecto não-natural fez os Morgans sentirem algo maligno nela.
Samara nasceu pra ser inimiga de tudo que é natural, e portanto de tudo que é divino. Ela personifica o desejo do homem em se afastar da natureza, em busca de seus desejos. Foi fecundada quando um padre trocou todos os valores morais, entre eles o da castidade, achando que teria poder e ambição. Foi adotada por um casal que não podia ter filhos e não se conformaram com a limitação. O maior inimigo de Samara é a água e o maior aliado é uma tela de qualquer coisa que exiba um vídeo.
Mas acho que nada reforça a ideia de anti-cristo da Samara, que o fato de que justamente, ela passa o filme inteiro conversando com os protagonistas Julia e Holt no filme. Mas nunca por palavras, pois ela não existe no nosso plano. Então por sinais. O vídeo que ela manda é metafórico e simbólico. A marca na mão de Júlia precisa ser interpretada também.
A maneira como Samara guia a jornada de Julia e Holt por sinais interpretáveis, é provavelmente a coisa mais divina que um vilão de filme de terror já fez.
E curar um cego só para poder matá-lo olhando nos seus olhos me parece uma grande distorção de jesus cristo. Um tipo de piada que Robot Chicken ou Family Guy faria com um Jesus Psicótico.
Além disso, Burke menciona ter matado onze pessoas que vieram até a cidade tentar cremar o corpo de Samara antes de Julia. O que faz com que contando com Julia, Samara tenha conseguido fazer sua voz atingir o exato número de doze pessoas que lutaram por ela. O mesmo número de apóstolos.
Texto passado eu falei que a Samara podia lembrar a Reagan do The Exorcist em alguns aspectos. Mas não, agora ela já é completamente o Damian. Ela é a antítese clara de Jesus Cristo, é a encarnação mortal do inimigo máximo de Deus. O maldito bebê de Rosemary.
Mas o que eu admirei mesmo é o quanto o filme trabalha ela.
Em particular no fato de que a própria Samara pode interferir nas supostas regras do vídeo amaldiçoado. O que na real sempre que rola, não só na franquia Ringu, mas em qualquer franquia de terror, é alvo de críticas, e eu entendo isso Fenômenos paranormais têm regras, e as regras têm que ser cumpridas pra soar verossímil… mais que verossímil, para fazer a gente se sentir no controle. Pois enquanto soubermos as regras, sabemos o que o vilão pode ou não fazer, e sabemos o quanto ele não poderia nos matar naquela situação. Então se um filme diz que, por exemplo, Freddy Kruegger não pode usar poderes quando está no mundo real, isso deve ser mantido sempre, ou é trapaça.
Mas ao mesmo tempo, eu acho que as regras poderem ser quebradas agrega uma camada de verossimilhança a Samara. Em particular porque pela maneira como o filme narra, quem decidiu as regras foi ela mesma.
Os sete dias pra viver são por causa dos sete dias que ela passou no poço. Obrigando suas vítimas a sofrerem o que ela sofreu. A cópia é para obrigar as pessoas a espalharem o vídeo e fazer mais pessoas entenderem pelo que ela passou. Samara não é uma lei da física, mas apesar de ser o anti-cristo, ela é um ser humano. Ela é influenciada por subjetividades. E diferente de Jason ou Freddy Kruegger, seu objetivo é mais do que matar quem vê os vídeos, mas usá-los para seus fins. Que aparentemente é: ressuscitar. Ter seu corpo velado para sua alma poder reviver.
O que mostra na relação dela com Julia. Samara encara Julia enquanto matava Skye, e ali houve uma relação. O que justamente mostra que Samara não é uma máquina de matar apenar, ela interagiu com o ambiente dela.
O que é uma questão que os outros filmes da franquia nunca exploram. Temos vários personagens que testemunham Samara (ou Sadako) matando, e ficam loucos com o trauma. Mas não sabemos se Samara teve qualquer tipo de interação com eles. E até ver Rings eu imaginava que ela essencialmente matava e voltava para a televisão ignorando todo o seu redor do mesmo jeito que eu imagino o Terminator fazendo.
Depois de reconhecer Julia, ela marca Julia como especial. Por isso no instante em que Julia viu o vídeo, ela foi marcada de maneira especial. E isso se nota, porque o vídeo de Julia não podia ser copiado.
Julia não podia se livrar da maldição. Mas ao mesmo tempo Samara não matou Julia. Pois Julia fez o que Samara queria, mesmo sem nunca tendo copiado o vídeo. O filme não deixa claro se a briga entre Julia e Burke que Samara interrompe saindo do celular foi ou não no sétimo dia de Julia, ninguém contou, mas as duas hipóteses levantam questões. Se for o sétimo dia, Samara teria usado Julia para forçar um loophole nas regras. Sabendo que se Julia nunca copiasse a fita, ela estaria ao lado de Burke em sete dias para que ela pudesse matar seu pai. Mas caso não seja o sétimo dia, mostra que no fundo ela pode sair das televisões alheias quando quiser, e que ela espera sete dias, pois ela quer esperar, pois é parte da maneira como ela manipula suas vítimas.
O que volta na primeira cena, de Samara derrubando um avião inteiro só para matar o cara. Ela podia esperar o avião pousar? Ela podia entrar no avião sem derrubá-lo? Ela podia sair somente da tela do cara e não da tela do piloto? Pra mim, esse tipo de pergunta não soa como um furo, me intriga. A Samara derrubou o avião de propósito, para otimizar seu número de vítimas, pois ela é misantropa e odeia o ser humano? Ou Samara simplesmente não podia evitar derrubar o avião? Ou podia evitar, mas não se importou o suficiente?
No fim do filme, mesmo revivida e de volta ao mundo dos vivos, ela condena centenas de pessoas a verem o vídeo amaldiçoado. Ela quer viver em um mundo cuja população é drasticamente menor? Ela quer extinguir a humanidade até o fim? Ela é o Thanos? Ou ela tem novos planos e vai usar suas novas vítimas por sete dias para conseguir seus novos planos?
Esse tipo de pergunta eu genuinamente queria ver serem respondidas em The Ring 4.
Isso e uma luta contra uma Rachel Keller que agora vai ser uma velha badass que passou os anos de trauma desde o primeiro filme aprendendo a combater fantasmas e anti-cristo. Pois trazer essas heroínas envelhecidas e chutando bundas é um clichê que está em ascensão e eu estou adorando.
Meu Deus eu realmente queria esse filme.
Mas meu ponto é: Esse filme é tematicamente consistente com o primeiro. O primeiro filme usou o fantasma de uma menina psíquica para associar os poderes psíquicos com uma existência maligna e anti-natural. E reforçou isso fazendo a menina se manifestar ou com uma grande hostilidade a tudo que é natural, com fazendo os animais morrerem quando estão por perto. Ou instintivamente atacá-la, como aconteceu no segundo filme. Ou queimando as pessoas para marcá-las. Ultimamente o segundo filme revelou que ela pode fazer qualquer pessoa se suicidar, anulando completamente nosso instinto de sobrevivência.
Isso é contrastado com um grande reforço da tecnologia como sua arma primária. Tudo que é tecnológico é possível de ser usado por Samara. E ela usa para se manifestar e se comunicar. Máquinas fotográficas. Fitas de vídeo. Telefones. E agora nesse último filme computadores.
Acho fascinante como Burke não tem um único equipamento elétrico em sua casa. Exceto é claro pelas luzes. O relógio é de corda. Não tem televisão, rádio, micro-ondas, ou nada ali dentro. Quando Samara invade a casa para matá-lo, ela sai do celular de Julia, um elemento externo. Burke se cegou para nunca ver Samara, e também viveu longe de qualquer material por onde sua presença possa se manter presente. E mesmo assim, Samara apaga e ascende as luzes da casa para mostrar pra Julia onde está seu corpo.
Mas ao mesmo tempo o filme fez ela derrubar um avião. E a ideia de que a Samara se manifesta pela tecnologia, fica estranha quando a mera presença dela derruba um avião, e isso soaria melhor se ela tivesse matado o cara sem derrubar o avião.
E o filme fez uma conexão estranha de Samara com cigarras. Cigarras são naturalmente atraídas por Samara por algum motivo. Não sei se isso tem relação com a mosca que Rachel conseguiu puxar pra fora do vídeo amaldiçoado no primeiro filme. Mas, sai uma mosca do cigarro que Gabriel fumava quando ele viu o filme. E cigarras cantaram quando Burke engravidou Evelyn de Samara. No quarto onde Burke escondeu o corpo de Samara temos vários pássaros mortos, pois a presença de Samara mata tudo que é vivo, mas o quarto estava cheio de cigarras. E quando Samara se prepara para vir matar Burke, as cigarras vão todas até ela e ficam em cima dela.
Eu não sei o que tirar disso.
Eu vi uma vez no mangá En En no Shoboutai (Fire Force), uma tentativa de fazer um simbolismo fodido de insetos como representantes do inferno, pois eles são criaturas anti-naturais que não deviam existir. E puxa uma teoria conspiratória sobre insetos virem de outra dimensão, pois a teoria da evolução não explica a existência deles, e que eles sempre foram o futo na teoria de Darwin. E me pergunto se o cara de Fire Force e os roteiristas desse filme fumaram da mesma erva pois bate. Mas minhas pesquisas não acharam nada sobre essa conspiração em nenhum canto. Então não sei de onde o mangá tirou isso, e se tem algum simbolismo obscuro de cigarras que o filme quis usar.
Então ele mantém a temática do primeiro filme com derrapadas.
E essas derrapadas são em virtude de tentar fazer o filme ser esteticamente mais ambicioso que o primeiro, num caso em que menos seria mais.
Mas de verdade. Pelo seu uso da Samara enquanto um personagem indiretamente ativo, guiando as ações dos personagens por mensagens simbólicas do além. Por manter o tema de “o demônio usa suas tecnologias, e Deus usa a natureza para se comunicar.” e pelo bom vilão que foi Burke, eu acho que o filme é melhor do que dão mérito. O coração tava no lugar certo, apesar de momentos estúpidos.
É no mínimo bem melhor que The Ring Two e Ringu 2. É melhor que Rasen, e parecido o suficiente com Rasen em alguns aspectos. E bem, Ringu 0 é só mediano.
E se pegar o que foi produzido só recentemente, é certamente algo mais interessante e feito com mais pensamento no lore da personagem do que foram os Sadakos 3D que visivelmente deixaram de levar a personagem a sério.
Tem defeitos. A maioria pesando mais pro exagero. Mas é muito acima da média de um terceiro filme de franquia de filme de terror americano. E por mim justificaria a existência de um quarto filme.
Sèrio, vocês não sabem o quão curioso eu estou para saber o que ela vai fazer agora que ressuscitou. O que vocês acham? Que tipo, ainda vai sair um fantasma dela da televisão, agora que ela existe de carne e osso? O fantasma da televisão sequer existe ainda? Ela vai matar o Holt, por saber que ela é a Samara? E qual seu objetivo final? Extinguir a humanidade inteira?
Bom, com esse texto consegui tirar essa franquia do meu sistema por um tempo. Texto que vem já posso voltar a falar de coisas que realmente são relevantes (?).