No fim de 2017 estreou nos cinemas o oitavo capítulo oficial da saga Star Wars (e nono filme no geral), e eu que pensei que já tinha visto de tudo no fandom de Star Wars, percebi que estava errado.
Amigos meus me falaram da experiência, de ir ao cinema, sentir que viram um dos melhores filmes do ano um dos melhores filmes de uma franquia enorme, voltar pra casa, abrir a internet e descobrir que estava todo mundo malhando o filme e declarando seu ódio eterno contra ele… diante disso, minha primeira reação foi responder: “Agora vocês sabem como eu me senti com Batman v. Superman.” porque esses momentos existem para agente jogar na cara mesmo. A segunda resposta foi ver que o filme de fato tinha sido divisivo pra cacete entre os fãs, o que eu estou acostumado nos filmes que eu curto, mas não em Star Wars. Então fui analisar o que exatamente esse pessoal que odiou Star Wars VIII: The Last Jedi, estava dizendo, pois eu estava ignorando essas críticas.
E meu Deus. O ódio era maior do que eu pensava. Quando eu vi o abaixo-assinado pedindo pra The Last Jedi ser removido do canône, eu vi que tinha que escrever um texto sobre. Por um simples motivo. Exigir a remoção do canône de Star Wars é uma atitude dos fãs sem precedentes, e isso significa que o ódio mortal que os fãs sentem por The Phantom Menace, The Clone Attack e The Revenge of the Sith não chegou nem perto do ódio que The Last Jedi está recebendo, e isso é grave. Star Wars pisou muito na bola nos anos 2000, pra esse ser o mais odiado da franquia. Sim, porque o ódio que a Segunda Trilogia recebe dos fãs é caso de estudo. É um lance grave que já rendeu até um documentário sobre o quão longe foi o ódio dos fãs pela segunda trilogia.
Ao mesmo tempo que a crítica está amando o filme. Então resolvi sentar e ver argumento por argumento, se o filme merece esse ódio todo. E por tabela vou ver se ele merece esse amor todo, e concluir com qualé a do filme, mas o foco principal é ver se ele fez pra merecer o abaixo-assinado, pois foi ali que me assustei.
Então vamos começar pela parte mais escancarada.
O que fizeram com a personalidade de Luke Skywalker:
E lá vamos nós. Em 1983 nós vimos Luke Skywalker redimir seu vai Darth Vader e despertar o Anakin Skywalker de dentro dele. Darth Vader matou Palpatine e morreu logo depois, e o império foi destruído graças a esse jovem idealista que nunca perdeu a fé. E os fãs ficaram esperando pra ver outras aventuras desse último jedi que nasceu. Pois bem, alguns fãs foram abraçar as fanfics do Universo Expandido, enquanto outros ficaram só no aguardo, e 34 anos depois, enfim esse aguardo recompensou e pudemos rever Luke Skywalker.
E ele era um cara cínico, sem fé, que desprezava os Jedi, e principalmente que não acreditava no poder da redenção. Ele era em diversos pontos o extremo oposto do que era o Luke Skywalker. E muitos fãs ficaram pensando “mas que porra é essa??”
Esse incômodo pela mudança de personalidade do Luke se intensificou, pois o próprio Mark Hamill, ator que o interpreta ficou incomodado com a mudança, e falou abertamente que discordava do que haviam feito com seu icônico personagem.
O que nos leva a pergunta: é aceitável o que fizeram com o Luke?
A resposta rápida é: “é aceitável, porém desconfortável.”
Luke mudou de um jovem idealista e puro de coração que tirava o melhor das pessoas – transformando o egoista mercenário Han Solo em um membro do exército rebelde, e transformando o notório vilão Darth Vader em alguém reconectado com seu passado Jedi. – em um cara quebrado, que fugiu da luta, e agora vive sozinho isolado. Um homem que por conta de uma intuição de que seu sobrinho poderia ser maligno cogitou matá-lo. E cuja falta de idealismo é a responsável pela destruição de seu templo jedi e morte de seus aprendizes. Uma mudança muito radical. E o que gerou essa mudança?
Pois é. Quem sabe?
A Terceira Trilogia tem um problema em minha opinião que é a de, por manter o seu passado misterioso e ambíguo, ela passa a impressão de que a Trilogia Original foi em vão e inútil.
Vejam bem. O Episódio IV, A New Hope, começa no meio de uma guerra. A guerra entre o império e os rebeldes. E logo na literal primeira cena da franquia toda eles já resumem bem essa batalha. Com uma navezinha pequetitica de nada fugindo de uma nave imperial tão grande que ocupou o frame inteiro. Era uma batalha de Davi e Golias. Os rebeldes eram meia duzia de naves e perdiam cada vez mais homens a cada progresso, e o império era uma potência crescente impossível de deter. Até é claro que Luke Skywalker detêm, destruindo suas duas maiores armas, além de converter seu maior general parra o lado bom de novo.
Aí veio a Segunda Trilogia, e os papeis se invertem. Vemos agora o passado glorioso dos Jedi, em que eles eram vários, e estavam no poder, sendo um dos pilares da democracia na galáxia, enquanto que o lado negro era representado por um único homem com um exército de robôs fuleiros e frequentemente trocando de pupilo pois os jedi assassinaram o pupilo anterior. Agora os sith eram o Davi e os jedi eram o Golias, e com astúcia e paciência, Palpatine esperou a hora certa de virar a mesa, destruindo os Jedi e fundando o Império.
Então a timeline organizada na cabeça dos fãs que viram só as duas trilogias (porque se for falar do universo expandido vai dar um trabalho imenso só pra chegar na conclusão de que ele não serve para julgar The Last Jedi, então vamos pular essa parte) é a seguinte: Muito tempo atrás houve uma grande guerra entre muitos Jedi e muitos Sith e os Jedi venceram e os Sith foram reduzidos a nada. Porém depois de um tempo os Sith retornaram derrotaram os Jedi, triunfaram e os Jedi foram reduzidos a nada. Porém depois de um tempo os Jedi retornaram, derrotaram os Sith e os Sith foram reduzidos a nada…. E como podem ver, passa muito forte a sensação de que é um pêndulo dessas duas forças lutando constantemente.
Aí vem o episódio VII. The Force Awakens. E nele, vemos que vinte anos após The Return of the Jedi, os rebeldes, agora chamados de “A Resistência”, são um exército diminuto e enfraquecido, lutando com a potente Primeira Ordem formada pelo que restou do império. É novamente um Davi e Golias, e o lado “bom” novamente é o Davi. Ou seja, das duas uma, ou o pêndulo foi e voltou e só vimos a volta, ou o pêndulo ainda não foi de novo depois da batalha de Endor. E cada hora mais passa-se essa impressão.
Após a morte de Palpatine, a república foi reestabelecida, mas o Império continuou sendo a potência militar que era, e os rebeldes continuaram sendo uma minoria. E apesar de terem pegado o poder político eles continuaram constantemente perdendo a guerra com o lado negro. Ou seja, não houve virada de poder.
Se Obi-Wan, Akanin, Yoda e Palpatine (os quatro grandes sobreviventes da Segunda Trilogia a aparecer na Trilogia Original), estão vinte anos mais velhos lutando uma guerra que é o oposto da guerra que eles lutaram. Luke, Leia e Han agora estão lutando ainda a mesma guerra, e eles ainda estão perdendo. E com isso fica a sensação forte de que nada mudou.
A primeira cena de The Force Awakens é um espelho claro da primeira cena de A New Hope. Vemos um planeta, que é no caso, uma base da resistência, e então um destroyer da Primeira Ordem aparece na frente e de tão grande e colossal ele tapa o planeta completamente, deixando a tela praticamente escura, pois o planeta era a maior parte da fonte de luz. Um lembrete de que um planeta da resistência é fichinha perto de uma nave da Primeira Ordem. A cena é a mesma, pois o contexto é o mesmo.
E isso nos trás de volta ao Luke Skywalker. Sim, ele era um idealista, e ele acreditava em redenção, e ele nunca fugiu, sempre foi de cara pro perigo, e sempre acreditou na bondade e na pureza de espirito. E aí vamos a pergunta: e no que isso deu? Em Return of the Jedi, as ações do Luke foram insignificantes pra guerra, pois o lado negro se manteve forte mesmo sem Palpatine, Darth Vader e a Segunda Estrela da Morte. Se o Luke explode uma estrela da morte fazem outra. Se o Palpatine morre surge o Snoke, então que valor tem as ações do Luke, exceto o de colocar o balde debaixo de uma goteira, sabendo que é questão de tempo até ter que colocar outro balde embaixo quando o primeiro balde encher.
As ações de Luke na Trilogia Original foram inúteis. Ele lutou por nada. Ele pode ter voltado pra casa achando que redimiu o Darth Vader, mas mesmo dentro do clã Skywalker, Analin é lembrado apenas como o vilão que foi. Ben Solo, mesmo dividido em relação a qual lado caminhar, vê o Darth Vader como uma influência somente do lado negro. A história de redenção de Anakin Skywalker não redime ninguém, e o legado de Anakin ajudou a corromper o sobrinho de Luke. Anakin Skywalker pode ter morrido um Jedi, mas o fantasma de seu vilão é mais forte que seus últimos dez minutos de vida, e seu impacto no mundo é essencialmente negativo, então exceto por ajudar a matar o Palpatine, que diferença que fez ele ter voltado pra luz na reta final?
E isso é o que explica o Luke de The Last Jedi ser quem é. A personalidade de Luke na Trilogia Original não levou a vitórias, somente a uma manutenção da derrota e do Status Quo, ele fracassou e essa situação por vinte anos quebra qualquer um. O fracasso tem o poder de alterar a perspectiva das pessoas radicalmente. Ele continuar acreditando no que ele acreditava seria ignorar o problema de que suas crenças não resolveram o problema, nem fizeram diferença significativa.
E essa é a parte que eu falei. Verossímil, mas desconfortável. Rever The Return of the Jedi, sabendo que o nome de Anakin nunca será associado a nada além do lado negro. Que o Império não perdeu um líder. E que os rebeldes seguirão por vinte anos sendo mais fracos que o Império, é desconfortável pra cacete. Os heróis fracassaram só pra poder triunfar de verdade em outra trilogia que mantém o status quo.
Enfim, eu acho interessantíssimo ver o Luke quebrado depois de ter seus ideais jogados no lixo pela escola da vida. Até porque coloca ele em uma visão pragmática. Ele acha que ir lá, lutar contra o Kylo Ren, destruir umas naves da Primeira Ordem não vai mudar nada, e os dois filmes reforçam essa ideia de que não vai mesmo. Pois foi o plano original foi esse e não mudou nada. E pra mim isso explica porque ele mudou seu modo de lidar com a guerra e eventualmente desistiu dela. Agora, a ideia de que The Return of the Jedi foi uma luta em vão, e que vinte anos depois, os rebeldes não viraram o jogo em nenhum momento, me deixa com um gosto de merda na boca.
Mas a diferença entre ficar puto com somente a mudança de personalidade do Luke, e ficar puto com a noção de fracasso dos heróis da Trilogia Original, é que o primeiro concentra a culpa unicamente em The Last Jedi, e o segundo, a culpa é mais ampla, do status quo estabelecido em The Force Awakens que na tentativa de ser uma repetição de A New Hope, estabeleceu o contexto em que a luta não mudou.
Resumir o problema meramente no Luke sendo cínico centraliza o problema em The Last Jedi. E o ponto não é só esse fator não precisar ser um problema, mas é que esse é o plot que conecta os dois filmes, então não dá pra culpar só o segundo. A trilogia é isso aí.
Veredito: Não estão errados em estarem bravos. Aceitar ou não a personalidade nova do Luke é subjetivo e vai de gosto pessoal de “gostei do plot ou não gostei do plot.” mas a mudança existe como consequência da realidade que a trilogia apresenta, e nesse ponto é injusto tratar The Last Jedi especificamente como se fosse o anti-cristo e não um filme obrigado a continuar de onde The Force Awakens parou.
Os vilões estão morrendo sem ter seu potencial usado. Soam como vilões desperdiçados.
Em The Last Jedi tivemos a morte de dois personagens que fomos levados a acreditar que eram antagonistas centrais da franquia. A Capitã Phasma e o Líder Supremo Snoke. E bem, houve uma sensação por parte de muitos fãs de que esses personagens meio que…. Não fizeram nada e foram antagonistas jogados, com muito potencial e hype pra sofrerem mortes rápidas sendo descartados da franquia antes de fazer qualquer coisa.
Também existe um grande contra-argumento em relação a como isso nunca foi novidade em Star Wars, com Palpatine e Boba Fett sendo bons exemplos de vilões que morreram sem ter backstory nenhuma, e se mantiveram carismáticos porque eram de uma época em que o público não exigia essas merdas. Então que estamos exigindo coisas que não são de Star Wars.
E bem, a primeira coisa que eu tenho que apontar aqui, é que há uma falsa simetria.
Enquanto não sabiamos nada do que havia acontecido antes de Palpatine subir ao poder, tornando fato de que ele parecia um personagem sem backstory alguma. A verdade é que a gente não sabia o backstory daquela guerra em geral. O Império matou os Jedi e o Palpatine é o imperador. Era tudo que sabíamos. O que tornava verossímil vilões com backstories confusas. Mas em The Last Jedi e The Force Awakens, nós supostamente sabemos a backstory da guerra e da galáxia e de tudo. Essa não é nossa porta de entrada no universo, é o sétimo filme da franquia.
O fato é que vimos a batalha de Endor, acabar com o último usuário do Lado Negro da Força morrendo. Então aparece um [ACONTECIMENTOS FALTANDO] e pulamos diretamente para o Snoke sendo o Líder Supremo da Primeira Ordem. E justamente porque saímos de um contexto em que as coisas aparentemente melhorariam, e então pioraram offscreen, e aí voltamos pra situação inteira pior por causa da existência de um único indivíduo, é necessário sim saber de onde esse canalha veio.
What the fuck é o Snoke? Não precisa de um filme inteiro explicando a origem dele. Pode ser uma explicação simples. Eu me satisfaço com “ele estudou o lado negro por conta própria e resolveu reviver a Ordem dos Sith porque ele é mau.” mas ao não explicar nada, o filme passa a sensação de que é porque ele sempre esteve lá. Mas ele muito obviamente não estava lá no episódio VI, e isso soa estranho. Eu acho que alguém já me comentou que um dos livros paralelos explicam que o Snoke saiu de uma coisa chamada outter realm. Mas o grande lance dos livros paralelos canônicos que saem é: pelo menos metade dos fãs não vão querer ler, eu leria numa boa, e no caso só acontece de eu não ter lido, mas mesmo estando lá, se é uma coisa realmente importante como é o caso, alguma menção nos filmes devia ter, para não alienar quem não está em dia com o universo expandido.
E isso não é comparável ao Palpatine, que por não sabermos do passado em geral, era perfeitamente verossímil ele sempre ter estado lá. Esse é exatamente o motivo pelo qual não precisamos saber de onde veio o Darth Maul.
Isso tem solução? Tem! Muita, e isso é honestamente uma coisa que qualquer filme pode consertar, pois de onde o Snoke veio não importa pro episódio VIII funcionar no geral, nem o VII. De onde ele veio importa pra franquia funcionar enquanto saga que conecta nove episódios e três filmes extras de histórias paralelas. Então qualquer filme futuro pode consertar os rasgos no plot geral que conecta todos os 12 filmes. E honestamente, pra The Last Jedi funcionar, ele não precisava ser justificado. Então vamos colocar uma esperança de que o Snoke tem solução.
O que não muda o fato de que ele e a Phasma morrem feito dois manés sem fazer absolutamente nada.
Ou será que não? Snoke e Phasma são personagens que servem de escada para outro personagem. Snoke no caso serve como personificação do “velho pensamento Sith” e do que o Lado Negro da Força foi por décadas, ideais com os quais Kylo Ren cortou laços literalmente ao cortar Snoke em dois. O que foi uma evolução fodida de personagem, o eternamente dividido Kylo Ren passou a ter certeza do que ele quer e pra onde ele vai, e esse era o lado negro da força, mas deixando de se prender ao passado e a ser um novo Darth Vader.
Na moral, Kylo Ren é um vilão bom pra cacete. E o Snoke é parte da construção desse vilão mais do que é o próprio personagem. Ele é indistinguível do Palpatine, e é por causa disso que podemos ver o quão distinguível o Kylo Ren é do Vader. E portanto ele deixou uma marca não muito honrosa pra si mesmo, mas foi fundamental para que as partes boas da trilogia fossem boas, e se tornou essencial pra história.
E a Phasma? No caso dela, ela era desde o princípio um acessório do personagem do Finn. Ela era a superiora direta do Finn, e um constante lembrete de seu status de Stormtrooper. A maioria dos personagens embora saibam que Finn é um ex-stormtrooper, não comentam isso muito, pois não ligam, o importante é quem o Finn é agora. Mas Phasma é um constante lembrete da desumanização que ele sofreu e dos danos diretor que a Primeira Ordem cometeu nele. Uma eterna cicatriz de um passado que ele quer fugir. Por isso, nos dois filmes, sua função se concentra em reaparecer no climax para ser o maior obstáculo do Finn no filme. Pois ela é o passado do Finn eternamente alcançando ele, e ele precisando superá-lo para reafirmar sua humanidade. Ele não é um soldado sem identidade. Ele é um rebelde, e esse é o sentido do personagem, construir a própria persona destruindo aqueles que o oprimiam no passado. Inicialmente ele queria fugir da Primeira Ordem, mas agora ele a enfrenta.
Phasma e Snoke são personagens-acessório para outros personagens brilharem. Existindo tempo o suficiente pra ser um obstaculo, mas sem ganhar caracterização o suficiente pra ter profundidade. E esse sempre foi o destino dos personagens antagonistas de Star Wars. Do Jabba e do Bobba Fett na trilogia original, ou de Sebulba e Darth Maul em The Phantom Menace.
Inclusive, Star Wars em geral nunca foi um roteiro focado em evolução e arco de personagem. O personagem mais denso e complexo da franquia é o Darth Vader, mas fora ele, a grande maioria cumpre uma arquétipo que define a sua função na guerra. São personagens simples que batem em sua nota e o máximo de arco que um personagem teria é uma mudança de lados. Han Solo é cínico, mas de bom coração, e luta de maneira pragmática. Luke é idealista. Obi Wan é sábio. Eles não vão além disso. Não existe um “arco de personagem do Obi-Wan” e nem precisa ter. Luke é um personagem tão simples, que a tentativa básica de adicionar profundidade nele acarretou em desmentir toda sua personalidade, pois ela girava em torno de seu idealismo e coragem somente.
E isso não é ruim. Não torna Star Wars ruim. Mas torna estranho a demanda de personagens secundários bem trabalhados. O personagem mais bem trabalhado da Terceira Trilogia é disparadamente o Kylo Ren, e nem sempre os fãs recebem ele bem por isso. Luke recebeu um puta trabalho e um próprio arco em The Last Jedi e tampouco foi bem recebido.
No fundo o que estamos pedindo de Snoke e Phasma era: “por que eles não tiveram uma cena de ação foda?”, e a resposta é: porque não foi pra isso que eles estavam no filme.
Veredito: Snoke tinha sim que ter uma backstory. Mas não é responsabilidade desse filme específico entregá-la. De resto, ele e Phasma cumpriram seus papeis no filme, e se portaram como personagens típicos de Star Wars, sem a obrigação de ter tido uma cena de batalha foda.
A Rey é uma Joana Ninguém, e isso é broxante em relação ao hype que fizeram no primeiro filme.
Ah, eu queria chegar muito nessa parte. Porque ela trás a tona um problema genuíno que a Terceira Trilogia está tendo, que é os dois diretores dos dois filmes que saíram quererem rumos muito diferentes pra franquia, o que transforma os filmes individualmente em bons filmes, mas a trilogia parece aquelas histórias em que um amiguinho começa uma história o outro continua, e quando chega no quinto amiguinho a história foi pra um rumo que o primeiro não queria que tivesse ido.
O fato é que apesar de termos passado anos teorizando a respeito de quem seria o pai da Rey, e eu pessoalmente tinha apostado em Rey Kenobi, enquanto a maioria absoluta queria Rey Skywalker, e eu cheguei a ver teorias na internet que conectavam a descendência dela ao Palpatine ou ao Qui-Gon Jin, a verdade é que ela não é ninguém, os fãs foram longe, eu parei quando eu li Boba Fett, aí eu vi que o céu era o limite. Seus pais eram dois catadores de sucata que venderam a filha pra comprar drogas e vazaram. E ela alimentou uma mentira que ela contou a si mesma a vida toda de que seus pais voltariam por ela e seus pais eram pessoas fantásticas e ela tinha um legado, mas não.
O que torna Rey muito diferente dos demais protagonistas de Star Wars. Logo no primeiro filme Luke Skywalker é estabelecido como sendo o filho de um grande jedi, um dos maiores que já existiu, e nele foi confiado o sabre de luz de seu pai. Depois disso descobriríamos um twist nessa origem, ele era filho de um filho da puta enorme, um jedi caído que se corrompeu. Pois bem, a Segunda Trilogia logo em seu primeiro filme revela que Anakin é literalmente jesus, tendo uma mãe que engravidou da Força, e sendo o garoto de uma profecia lendária que viria pra trazer equilíbrio.
E dependendo de como você é com teorias, você pode acreditar que também havia um twist e que Anakin é na verdade o filho de Darth Plagueis e a conclusão de seu experimento de gerar vida através da força, motivo pelo qual Jar Jar Binks sabotou a nave de Padme pra cair em Tattooine foi pra pegar o legado de Darth Plagueis, colocá-lo na nave e levá-lo a Coruscant para Palpatine. Sim, é nisso que eu acredito, e se você começar a acreditar nisso, assistir The Phantom Menace se torna uma experiência incrivelmente melhor, eu lhes garanto!
Com Rey, ela não era filha do Espirito Santo, nem do maior dos jedi, nem do maior dos sith, nem de ninguém relevante. Ela era ninguém. E não só ela. Seu melhor amigo não era o piloto que fez Percurso de Kessel em menos de 12 Parsecs. Ele é o stormtrooper que instalava a privada. Mesmo Poe não era um piloto lendário, ele era um piloto normal. Diferente de coadjuvantes como Padme, Han Solo, Princesa Leia, que entram na trama cercados de glória antes de sequer fazer algo.
The Last Jedi é um filme sobre pessoas lendárias e pessoas comuns. Luke era uma pessoa lendária, mas vivia como uma pessoa comum e se recusava a seguir sendo uma lenda. Por que? Por que apesar de ser uma lenda, ele não ajudou ninguém de verdade e tinha mais arrependimentos do que glória. Apesar disso, ao final, Rey o convence a manter a sua lenda viva, mesmo sem ter o poder de ajudar ninguém de verdade – o que é representado de maneira literal com seu ataque final ser um holograma, ele manifestou somente uma imagem, fisicamente incapaz de alterar qualquer coisa na situação. – Luke apareceu lá para intimidar, comprar tempo, e principalmente para ser visto em ação com Kylo Ren resistindo aos tiros. Ele não mudou nada, mas seu gesto espalhou a história de Luke, e essa história espalhada reascendeu esperança no universo. Luke é uma lenda, é um Skywalker, ele tem o poder de inspirar pessoas, como Darth Vader tem o poder de inspirar Kylo Ren, e como Leia inspira pessoas até hoje. Mas quem tem o poder real são pessoas comuns. Qualquer um pode ser um herói da rebelião. Uma catadora de lixo, um encanador, e umas criancinhas escravas. Essa é a mensagem do filme. A força não é dos jedi, a força é de todo mundo, e por isso não precisamos de jedis, pessoas especiais para controlar a força e destruir o mal, qualquer um pode ser treinado pra ser um herói.
Essa mensagem é uma mensagem boa, mas que entra em contradição direta com um elemento já estabelecido em Star Wars. As midichlorians. Que diziam que você tem que ter uma alta concentração de bactérias em seu sangue pra controlar a força. O que foi horrível e muitos consideram como um símbolo de tudo que tem de errado na Segunda Trilogia. Você não precisa de bactérias, você precisa de incentivo.
Agora indo ao problema principal. O problema é que o J. J. Abrams tem um estilo particular de escrever ficção, que se chama “A Caixa Misteriosa.” que consiste em logo no começo apontar pros fãs que tem uma figurativa caixa misteriosa no filme que quando abrir e virmos o que tem dentro vai ser foda. Mas ele faz esse hype antes de pensar no que tem dentro da caixa. Ele fez isso com LOST antes de largar a série de lado, e fez isso com os pais da Rey. E a menos que quem vá continuar a história esteja comprando essa ideia de pais da Rey, não tem como dar certo. Pois ele não criou com uma resposta em mente, criou pra gerar hype barato. É literalmente a mesma situação dos números de LOST.
A ideia de que pra Rey ser foda os pais dela tinham que ser foda é uma ideia particularmente tosco na minha opinião. E é diminui a personagem, uma vez que dá a ideia de que só aceitaremos ela como protagonista se ela for relacionada a um personagem já estabelecido, do contrário ela é indigna. A mensagem de The Last Jedi é justamente que temos que abandonar essa noção de que os heróis do passado que vão mudar o mundo, e que quem fará a mudança são os “indignos” mesmo. E isso é foda.
Veredito: Os fãs estão errados nessa. Pois foi um jeito de invalidar um dos elementos que os fãs mais odeiam na franquia toda, então vai ter que escolher, é um ou outro. Ou zés-ninguém podem se despertar como heróis, ou temos que contar as midichlorians do pessoal antes de deixar pegar no sabre de luz.
O filme agora está político demais:
The Last Jedi é um filme que não esconde suas críticas políticas no subplot do Finn e da Rose. Descobrindo um aliado em um cassino, onde se reúnem os ricos, que não são afetados com a guerra entre o lado da luz e o lado negro, afinal a guerra se mantendo e a galáxia estando em constante guerra faz 66 anos é o que torna essa gente rica em primeiro lugar. Eles lucram com a guerra e não tomam lados.
Isso se personifica no personagem Dj, um mercenário que muito ciente de como a guerra é mantida por interesses de classe desistiu de lutar e de ter idealismo e de acreditar que as mãos do lado da luz, financiados pelos mesmos filhos da puta escravistas que os que financiam o lado negro, estão limpas. Com isso, ele se juntou ao inimigo. Ajuda os heróis por dinheiro e depois trai os heróis por mais dinheiro. E ele que soava como um novo Lando Calrissian que iria se arrepender e voltar atrás de sua traição, jamais volta atrás, e esse é o mundo real.
Muitos se incomodaram de ver Star Wars falando de política assim na lata. Mas é estranho a maneira como essa frase é dita, pois Star Wars sempre falou de política. A Segunda Trilogia é inteira sobre maquinações políticas, relação entre religião e estado, regras de como o senado funciona, necessidade de rotas comerciais, etc… assim como a Trilogia Original é sobre rebeldes derrotando um império.
O que mudou aqui, é que The Last Jedi toma um posicionamento. Ele não só enfeita os personagens com títulos políticos e definem como diferença central entre heróis e vilões que um faz politica maligna (aka: impérios) e o outro faz política boa (aka: repúblicas). Em The Last Jedi ficou claro contra quais conceitos a rebelião luta contra. Vemos classe como um fator na guerra. E vemos o contraste entre a miséria dos que lutam a guerra com a boa vida dos que querem sua manutenção por lucro. E isso é inédito sim em Star Wars.
É ruim? De jeito nenhum. Adiciona novas camadas de lore, e de trama em uma franquia que está fazendo seu nono filme. Já estava na hora dos lados serem mais do que um genérico “eu acredito na paz” e “eu acredito nas trevas.” a gente sabia já que o lado negro valoriza os sentimentos mais que o lado da luz, mas essa era toda a base pra gente entender as ideologias diferentes ali. Esse tipo de construção política é bem-vinda sim. E mais que bem-vinda, vai se tornando gradualmente mais necessária quanto mais são feitos filmes, para enriquecer o universo e impedir os filmes de soarem repetitivos (como The Force Awakens soou).
Veredito: Tá é político de menos. Por mim no Episódio IX esse aspecto é ainda melhor trabalhado.
O subplot do Finn e da Rose é muito chato.
Bom, acho que podemos todos concordar que de todos os plots e subplots do filme, e do Finn e da Rose é o menos carismático. Mas vamos lá, um subplot menos empolgante está longe de ser o maior crime que um filme pode cometer. Em especial quando apesar disso é um subplot tão interligado com a temática e mensagem do filme.
Ao adicionar as consequências diretas da guerra para as pessoas que não lutam na guerra. Mostrando igualmente os ricos do cassino e as crianças escravizadas, o filme, assim como Rogue One fez alguns anos antes, coloca oficialmente o “wars” em Star Wars, enfim mostrando o que é uma guerra em larga escala, diferente da maioria dos outros filmes que se focam em batalhas isoladas sem abordar que consequências elas têm pra batalha maior. Além disso, os ricos do cassino e o personagen Dj, nos apresentam uma visão pouco maniqueísta e alinhamentos morais mais cinzas e neutros que desafiam a temática de lado da luz vs lado negro que a franquia nos guiava.
E não venham mentir de “mas ninguém queria ver neutralidade e quebra de maniqueísmo na série” que tava cheio de fã com o pau na mão esperando pela introdução dos Grey Jedi na série. O que eu tive que ler de teoria de Grey Jedi não foi brincadeira não.
Além disso, a trama do Finn e da Rose é fundamental pra trama do Poe, essa sim, uma das mais interessantes do filme, e cujo desenvolvimento dependia do fracasso da trama do Finn. O desenvolvimento do Poe passou um tempão girando em torno do sucesso ou do fracasso do Finn, e isso forçou o personagem do Poe a caminhar em direções interessantíssimas entrando em confronto direto com a Holdo, e enfim amadurecendo para ser um cara menos impulsivo e sim o próximo líder da resistência, e isso foi na real, um dos pontos fortes do filme.
E isso está tudo interligado, pois é assim que bons roteiros funcionam, com subplots se ajudando entre si.
Por último, o relacionamento do Finn e da Rose dialoga com o tema de “lendas” vs “heróis” que o filme nos trás. A primeira interação entre Finn e Rose, a menina conhecia a lenda do Finn. O stormtrooper que se rebelou e lutou contra a Primeira Ordem. Mas imediatamente depois ela é forçada a encarar sua covardia e como ele não é como ela imaginou, do contrário, ele soou um covarde sem conexão com a causa. O que foi chato pra ela de se ver.
O que é propositalmente semelhante com a Rey encontrando o lendário Luke Skywalker e vendo alguém diferente do que ela imaginava.
Porém no decorrer do filme, o heroísmo de Finn se destaca em outros pontos diferentes do que ela imaginava. Em particular em sua determinação em sempre fazer o que é certo, respeitar o sentimento dos outros e o de se sacrificar. Ao final Rose se sacrifica por Finn, pois se apaixonou por ele, mesmo que ele não fosse exatamente a figura lendária que ela concebeu antes de conhecê-lo.
O que espelha tanto as tramas de Luke Skywalker que no fim do filme entende a importância de ter uma lenda hiperbólica sobre suas ações circulando a galáxia, pois isso dá fé e esperança as novas gerações pra manterem a resistência viva. Como com a trama de Poe que aprende que ser um líder não envolve se sacrificar e ir de cara pro inimigo feito um idiota e sim ser capaz de proteger quem você ama e saber a hora de agir. A trama do Finn pegou o meio termo dessas duas mensagens e colocou camadas a mais nessas duas temáticas.
E isso tudo compensa sim, ter sido a parcela menos interessante do filme. Pois enriqueceu e valorizou o resultado final.
Veredito: Nada a ver reclamar do plot do Finn e da Rose, dado que ele é fundamental pro filme ser o que é, e que “achei um subplot meio chato” está longe de ser algo que destrói um filme além da redenção.
Os Porgs são um saco.
Sim, como literalmente todo alívio cômico de Star Wars desde sempre.
Veredito: Nunca gostei do Ewoks, mas até aí tudo bem. A real polêmica é que eu também nunca gostei dos Jawas.
Mas tem humor demais e na hora errada, só piadinha e piadinha. Assim não dá.
Eu espero sinceramente, do fundo do meu coração que quem esteja engajado nessas críticas não seja um fã do Universo Expandido da Marvel. De qualquer jeito, embora a dosagem desse filme esteja bem melhor que a dos filmes da média. Isso é uma tendência real do mercado blockbuster atual. Piadinha o tempo todo. E a culpa é de quem? É do Tony Stark. Ainda acho que dos filmes de 2017, The Last Jedi foi ainda um dos que menos errou nesse quesito.
Veredito: Humor está mais dosado que a média, crítica fraca.
E eu posso continuar e continuar e fazer uma lista de 50 itens, pois o pessoal escolheu pegar esse filme pra destruir na internet. E apesar de ser o Star Wars mais divisivo entre fãs de todos, definitivamente não é o primeiro que foi acusado de ter destruído com a franquia. Porque literalmente, o último filme de Star Wars que ninguém acusou de matar a franquia foi Return of the Jedi(e Rogue One, que não é um episódio per se), e desde então estamos sentados esperando uma cópia carbono perfeita do que foi o sentimento de ver nos anos 80 a conclusão da saga, e nada nos deixa satisfeitos.
A Segunda Trilogia foi criticada por seu plot imbecil e por desmistificar o mito de Anakin Skywalker, e fazer adições infelizes ao lore, como midichlorians. O Force Awakens foi criticado por ser uma cópia semelhante demais ao A New Hope sem inovações e criatividade. E The Last Jedi foi criticado pela densidade que adicionou ao plot quebrando com o romantismo de alguns. Acho fácil notar que tem uma parcela que nunca vai ficar satisfeita, e talvez não deva. A Trilogia Original é a Trilogia Original e vai ser pra sempre. A gente não tem o poder de replicá-la, só de dialogar com ela, e nem devíamos estar tentando fazer a mesma coisa e sim evoluir com a franquia.
The Last Jedi, adicionou trabalho de personagem em um nível que é inédito na franquia. Luke, Poe e principalmente Kylo Ren tiveram suas caracterizações exploradas ao máximo e terminaram o filme como personagens muito mais ricos do que começaram. O filme direcionou a trilogia para temáticas interessantíssimas, destacou o “wars” em Star Wars, focando não só em batalha de naves e também em consequências e em quem lucra e mantém as guerras. E nos deu uma das cenas de ação mais lindas dos nove filmes.
Sério, esse planeta aí do sal em cima da terra vermelha é lindo pra cacete, pqp. E uma coisa que vai ficar no imaginário dos fãs por muito tempo. Aí você me diz “Mas é Hoth tudo de novo.”, mas só o fato de ser visualmente incrível e icônico por contra própria já separa da cena de Hoth que é igualmente bonita e icônica. Hoth não tinha os vestígios de terra vermelha embaixo do sal, marcando o terreno durante a luta.
Pessoalmente. The Last Jedi é a melhor adição a franquia desde que eles decidiram que precisavam de mais adições à franquia. E um passo positivo que estamos dando, já que decidimos que os filmes de Star Wars vão ser infinitos. Porque eu gostei bastante de Force Awakens, mas não quero infinitos filmes que não façam melhor que Force Awakens.