Como vocês já devem ter notado pelo número de pessoas no facebook trocando os avatares, The Powerpuff Girls voltou para o Cartoon Network. E voltou não é bem a palavra, o desenho foi rebootado e estreou em abril de 2016 em uma série diferente e atualizada e sem absolutamente ninguém da equipe criativa original voltando junto, exceto por alguns dubladores de personagens secundários.
Já faz 11 anos desde que o último episódio da série original foi exibido. Então quero aproveitar esse espaço no blog para pensar um pouco do que significa esse reboot e por que isso está acontecendo. Não somente falar se ele é bom ou ruim, para isso a resposta é curta: ele é muito ruim. Muito mesmo, puta merda, esse reboot não presta, então em vez de focar nisso, quero focar na história e na jornada desse desenho e analisar se havia realmente alguma necessidade de fazer um reboot.
Por que foi uma longa caminhada desde que Blossom, Bubbles e Buttercup foram desenhadas pela primeira vez até elas começarem a atender chamadas do prefeito de seus smartphones. Uma longuíssima caminhada.
The Powerpuff Girls foi criado por Craig McCracken, quando ele ainda estudava na lendária universidade CalArts (que formou metade das pessoas fodas da indústria atualmente. Inclusive 60% da Pixar nasceu em uma única sala de aula nessa universidade), mas no começo as personagens se chamavam The Whoopass Girls, ele queria fazer quatro curtas, mas só um foi produzido.
E você encontra ele aqui.
Enfim, Whoopass é uma gíria americana difícil de traduzir. Em resumo a gíria é falar “não me faça abrir a lata de whoopass” ou “quando tal coisa acontece aí eu abro a lata de whoopass”, sendo que depois que você abre a lata de whoopass o pau come. Foi uma gíria popularizada quando o wrestler disse “cala a boca ou eu abro a lata de whoopass em cima de você.” Enfim, importante notar que era uma gíria meio adulta.
É uma gíria bem dificil de traduzir e explicar, o motivo pelo qual eu estou tentando é porque no curta original, o ingrediente extra que foi adicionado à mistura é uma literal lata de whoopass que justificaria as garotas serem porradeiras.
E foi no ano 1993, enquanto Craig McCracken trabalhava em 2 Stupid Dogs junto de seu amigo e companheiro Genndy Tartakovsky, o Cartoon Network aprovou o curta de McCracken, sob a condição de mudar o nome para um nome menos vulgar, pois não acharam whoopass uma palavra apropriada para o conceito do canal e foi assim que elas viraram as Powerpuff Girls e a lata de whoopass virou o Elemento X.
Um novo curta foi feito e esse curta se chamava The Powerpuff Girls: Meat Fuzzy Lumpkins, foi o escolhido para ser o primeiro curta de um projeto do Cartoon Network chamado World Premiere Toon. Estreando para o mundo em 20 de Fevereiro de 1995.
World Premiere Toon era um projeto do Cartoon Network onde muitos animadores iniciantes tiveram a chance de produzir um curta e ser divulgado pelo Cartoon Network que ia usar a resposta do público como termômetro para saber quais renderiam uma boa série.
Foi uma aposta bem arriscada do Cartoon Network, mas não só vingou bem, como muito animador foda foi descoberto lá, inclusive alguns que nem fizeram carreira no Cartoon como Seth MacFarlane (Family Guy) e Butch Hartman (Fairly OddParents).
Bom, embora The Powerpuff Girls tenha sido o primeiro curta a estrear, o primeiro a ter resposta positiva o suficiente para ganhar uma série foi Dexter’s Laboratory, o segundo a estrear, exatamente uma semana depois de The Powerpuff Girls, e na mesma época que anunciaram a série de Dexter’s Laboratory, eles já estavam anunciando Cow and Chicken e Johnny Bravo. Então The Powerpuff Girls foi o quarto desenho do projeto a ganhar a própria série (em uma época em que World Toon Premiere já tinha trocado seu nome para What a Cartoon Show), e teve seu primeiro episódio estreado oficialmente em 18 de Novembro de 1998.
E o desenho ficou seis anos no ar. Produziu seis temporadas, e no processo se tornou a animação do Cartoon Network que mais ganha com venda de produtos até Ben 10 aparecer.
Eu não sei comparar qual rende mais em venda de produtos e nem tenho os dados para dar um chute, mas o resto do canal? O resto não chega nem perto
Enfim, o Cartoon Network criou uma mina de ouro vendendo produtos das Powerpuff Girls. Uma fortuna foi feita disso. Porém os produtos vendidos eram completamente voltados para menininhas, lancheiras, mochilas, maquiagens, vestidos, saias, bonecas, tudo em excesso de cor de rosa e uma coisa bem voltada para um gênero específico.
E nós sabemos bem, que tipo de qualidade que animações associadas a esse tipo de marketing costumam ter. Não era o caso, mas soava como o caso e pegava bem mal.
Pois bem, isso emputeceu muito o Craig McCracken, pois The Powerpuff Girls não foi feito para ser um desenho dependente de seu departamento de marketing, e nos seis anos em que ficou no ar nunca foi, porém o comércio que se fazia em cima do desenho dava essa impressão, além de dar a impressão de que The Powerpuff Girls era um desenho de público-alvo feminino.
E como era importante pro desenho sempre que possível dar a sua zoada com esteriótipos e papéis de gênero, até por influência de Lauren Faust na equipe criativa, que era até ofensivo pro autor soar como se o público-alvo dele tivesse um gênero específico. Era o oposto do objetivo.
Então quando ofereceram para Craig McCracken fazer um filme da série ele resolveu dar o troco, ele ia fazer o filme ser o menos feminino possível, ia ser em um tom mais sombrio que a série (mas claro, aquele sombrio censura-livre, nada realmente dark, pois ainda é pra criança), e se afastar ao máximo de qualquer noção de que The Powerpuff Girls possa ser de menininha.
O filme não foi o sucesso que o Cartoon Network achou que seria. E muitos criticaram a violência das lutas ter aumentado no filme. Mas ainda sim o filme fez um sucesso o suficiente e pode se orgulhar até hoje por ser o único filme de animação de um desenho do Cartoon Network a ter estreado no cinema.
Bom, a série ainda fazia sucesso o suficiente para terem feito um especial de natal da série no formato de um filme-para-televisão.
O humor da série se baseava em três fatores. O primeiro são referências a elementos muito específicos da cultura pop em um nível que o episódio não depende de entenderem a referência (tenho certeza de que boa parte dos leitores não realmente entendeu os episódios que parodiam comerciais de Trix ou Rocky e Bullwinkle, mas achou os episódios hilários mesmo assim), tem até mesmo um episódio que é composto unicamente por letras dos Beatles, algo que é impossível de se perceber na versão dublada e ainda sim o episódio fez sucesso no Brasil. Essas referências eram boas não só pelo episódio continuar funcionando para quem não entendeu, como por serem feitas de elementos que não eram meramente a moda da semana então não corria o risco de datar o episódio.
O segundo elemento do humor da série era a existência de um narrador constantemente tentando enfiar trocadilhos na série e fazendo comentários óbvios, que caminhava lado a lado com paródias de clichês bobos de super-heróis e de elementos de animes séries japonesas. O estilo de fala de Mojo Jojo por exemplo foi inspirado na má dublagem que Speed Racer recebia. O que foi um timing bom, pois a série estreou meros meses depois de Pokémon em uma época em que a indústria estava desesperadamente tentando entender o apelo dos animes, e enquanto a indústria ia com a farinha, The Powerpuff Girls estava voltando com o bolo, já fazendo boas sátiras dos clichês.
E o terceiro elemento era o nonsense, elementos absurdos como a ideia de que um homem adulto com uma roupa improvisada das meninas é indistinguível das originais aos olhos de toda a população. Ou que o poder da música é capaz de devolver cores para um palhaço que ficou maligno ao ficar preto-e-branco.
Pois é. Junta tudo isso com uns comentários a respeito de papel de gênero pipocando aqui e ali a pronto, temos a fórmula da série. E alguns amadores achando que precisava só de açúcar, pimenta e tudo o que há de bom.
Pois é, depois que a série acabou, ela ganhou um remake feito no japão. Onde toda a parte satírica da série que gozava dos clichês de animes foi fortemente levada a sério e onde a série inteira virou um anime que se levou muito mais a sério do que deveria.
Se chamava Demashita! Powerpuff Girls Z, e nele as meninas eram estudantes amigas entre si (não irmãs) que ganharam seus poderes de um meteoro e agora tem que salvar o mundo. Era bem fraco, por ser um anime genérico sem nada de novo tentando trabalhar seriamente com clichês que o desenho original usava para humor e paródia.
E ainda pegaram a paleta de cores da Bunny e deram para uma vilãzinha de quinta. Imperdoável.
Enfim, em 2008, quando fez dez anos de estreia da série, foi produzido um episódio especial para comemorar os dez anos da série. Isso é interessante pois é um tratamento que nenhum outro Cartoon Cartoon já recebeu, nem mesmo Dexter’s Laboratory, que durante seu tempo foi praticamente um mascote não oficial do canal.
E achávamos que com o especial de dez anos (que particularmente não foi um episódio muito bom não), a série estava fechando suas portas, ledo engano, essas portas nunca fecham.
Eis que em 2014 anunciam esse episódio especial. Fizeram esse curta-metragem das Powerpuff Girls chamado The Powerpuff Girls: Dance Pantsed que foi promovido pelo ex-Beatle Ringo Starr, que dublava um dos personagens e compôs a música para o curta I Wish I Was a Powerpuff Girl. O episódio saiu com um estilo de arte muito diferente do que estávamos acostumado e com uma história tão absurdamente genérica com as garotas agindo fora-do-personagem que o resultado foi catastrófico.
Sério o episódio gira em torno da Bubbles (a Lindinha, na versão brasileira) ficando viciada em um videogame de dança e parando de ir salvar o dia com suas irmãs, porém como elas usavam um combo que dependia do sopro gelado da Bubbles, elas não conseguiam mais derrotar os vilões. Isso é ruim por diversos motivos, primeiro porque não faz sentido algum a Bubbles se viciar em um videogame, não combina com ela. Depois, porque sopro gelado é a habilidade exclusiva da Blossom (a Florzinha), que nenhuma outra pode replicar. Além do fato de que embora sejam um bom time, elas sabem se virar sozinha, é um absurdo o quão desfuncionais o curta deixou elas sem a Bubbles.
E tinha aquela arte feia, aquilo é o mal absoluto.
Enfim, esse curta horrendo, foi a primeira produção americana (ignorando aquele anime ruim) de The Powerpuff Girls onde Craig McCracken não teve envolvimento algum. Nem ele nem Lauren Faust, Genndy Tartakovsky, Rob Renzetti ou outros gigantes que ajudavam no desenho e fizeram sua parte para ele ser memorável, nenhum deles voltou pro curta, que foi dirigido por David P. Smith, um ex-roteirista da série original (aos quais foram atribuídos poucos episódios, metade deles lembrados como exemplos da pior fase da série), e cujo auge da carreira foi ter sido um dos roteiristas de Madagascar, Shrek 2 e The Shark Tale. Ou seja, alguém que não tem peso nenhum perto da equipe foda que estava por trás do episódio original.
Mas a recepção do curta foi boa o suficiente, pois a recepção é sempre boa para qualquer meda que eles façam aparentemente, para justificar uma nova série de The Powerpuff Girls, que estreou esse ano e é aqui que estamos agora.
Enfim, essa nova série não só não conta com o retorno de Craig McCracken, nem Lauren Faust, nem Genndy Tartakovsky, nem Rob Renzetti, nem das três dubladoras originais (que sequer foram convidadas para o casting, o que a Tara Strong – dubladora da Bubbles – chamou explicitamente de traição), essa nova série não conta nem com o retorno do tosco do David P. Smith.
Ao invés disso estão colocando uns peixes pequenos de outras séries atuais do Cartoon Network como Adventure Time ou Clarence para cuidar do Reboot. Não os fodões por trás dos melhores episódios dessas séries, e sim os peixes pequenos. Não é comparável com a Rebecca Sugar saindo de Adventure Time para fazer Steven Universe. O maior nome por trás dessa nova série é Bob Boyle criador do fracasso do Jetix, Yin Yang Yo. Um desenho ruim em um estúdio que faliu alguns anos depois e foi comprado pela Disney.
Agora que já estabelecemos bem a jornada que The Powerpuff Girls desde o rabisco de um estudante prestes a ser um dos grandes ícones da animação americana por ao menos três décadas até ser um revival aleatório de um produtor de animação medíocre que falhou em se estabelecer no mercado, podemos analisar, por que diabos o Cartoon Network iria querer investir mais nessa série.
The Powerpuff Girls foi o quarto Cartoon Cartoon (primeira leva de animações originais produzidas pelo Cartoon Network). Estreou no fim do Renascimento da Animação Americana como um dos grandes exemplos de animações autorais e de foco nos criadores que marcaram essa época e esse canal. E até hoje muitos lembram dessa fase do Cartoon Network como o auge do canal.
Quando os Cartoon Cartoons da primeira leva acabaram, as novas animações originais do Cartoon Network tiveram mais dificuldade de se firmar com o público, e trouxeram um período de queda do canal, nessa época, o canal basicamente teve que viver só de Ben 10 por uns anos até recuperar as forças.
E o canal se recuperou recentemente em 2010, quando uma nova leva de animações mais autorais, conceituais, com subtextos adultos e um grande carisma com as crianças emergiu, e já tem seis anos que o Cartoon Network está estabelecendo um segundo auge.
Então por que caralhos esperar um segundo auge para esse revival? Se fosse quando o Cartoon estava na merda, faria sentido, afinal é o que a Nickelodeon está fazendo agora, mas durante um auge? Soa até feio em meio de Adventure Time, Regular Show, Steven Universe e Clarence o canal querer reviver um sucesso do passado, quando o presente está reinventando as regras da mídia e está muito bem estabelecido.
Mas lembram do que eu disse lá no começo? Não teve nenhuma outra animação do Cartoon Network que seja comparável na venda de produtos com The Powerpuff Girls, com exceção de Ben 10. Então é interessante trazer a série de volta, porque lucros.
E se o Craig McCracken está simplesmente ocupado demais, ganhando Annie Award atrás de Annie Award com seu projeto atual Wander Over Yonder, na Disney, então o Cartoon Network teve que apelar para outros pra conseguir manter esses produtos na mente das crianças.
Diferente da maioria das linhas de produtos pra meninas. The Powerpuff Girls não começou para ser somente mais um exemplo do fenômeno. Mas o fenômeno é o único motivo pelo qual a série se mantém viva. E é um destino muito triste pro que foi um dos grandes exemplos de animação autoral dos anos 1990.
Mas hey, isso não tem nada a ver, não é como se os brinquedos da nova série estivessem se metendo no roteiro, não é?
Bom, exceto que elas ganharam esse novo poder, de materializar qualquer objeto em volta delas com sua energia… e já lançaram esses brinquedos delas dentro de objetos materializados com sua energia, então… é.
Nunca vi uma boneca da Blossom soltando seu sopro gelado na última década.
Alias já que mencionei esses novos poderes, eu até que gostei deles, mais ou menos. Pois apesar de as meninas poderes materializar qualquer objeto em volta delas, sendo isso uma extensão de sua personalidade, elas só materializam objetos de coisas que tenham a ver com elas. O que significa que a Bubbles só materializa animaizinhos, a Buttercup só materializa armas de fogo, e a Blossom só materializa…. itens de limpeza e de escritório? Sim, pois agora a personalidade central da Blossom deixou de ser sua inteligência para ser sua mania de limpeza. Fora que não estou completamente confortável com a extensão da personalidade da Buttercup ser armas de fogo, sabe? Ela é mais durona, mas puxa vida, é uma menininha de cinco anos.
Enfim, o conceito é bom, se não evidenciasse uma distorção grande que a nova série faz na personalidade das meninas.
Mas não só é uma tentativa pífia de continuar na mídia e justificar que se mantenha uma linha de produtos infantis para garotinhas, sendo que esse mês ainda eu declarei em outro post que o pessoal envolvido nesse comércio são os mais cuzões do inferno, não é só isso, como é uma série que visivelmente não tem absolutamente nada pra dizer.
No momento em que esse texto está sendo escrito, a série já estreou 12 episódios, com o 13º já tendo sido anunciado e lançado seu preview. Pois bem, em só 12 episódios dois são reciclagem de episódios da série original, e o décimo terceiro que está pra sair também é. Mais especificamente, já tivemos o segundo episódio da Buttercup (Docinho) passando por uma fase mais zen para lidar com sua raiva, e um episódio em que a Blossom fica frustrada por ser a única que não desenvolveu seu poder-novo-dos-bonequinho reciclando o episódio em que Buttercup fica frustrada por ser a única sem um poder único dela. E teremos em breve o segundo episódio em que o professor Utonium começa a namorar uma vilã disfarçada e as meninas têm que explicar pro professor que a rejeição quanto a isso é mais que um ataque de ciúmes.
Mas de boa reciclar episódios, não é como se estivessem reciclando as piadas também… opa, é sim. Eles estão reciclando as piadas também.
E flanderizando. Nossa o prefeito não sabe ficar cinco minutos em cena sem falar de picles. Tá insuportável.
Enfim, eles não tem nada novo para acrescentar, e meramente estão fazendo os episódios no piloto automático. Só que sem as referências que a série original teve (o máximo que tiveram quanto a isso foi um episódio inteiro reproduzindo o filme The Hangover).
Também não tem mais a sátira aos animes, nem os clichês de heróis no lugar disso, temos emoções exageradas sendo usadas seriamente. O narrador foi minimizado e aparece só para fazer o básico, sem piadas.
Bom, eu tenho fé de que eventualmente o nonsense aparece, é difícil ele sumir pra sempre. Ao menos temos isso.
E agora vamos falar do elefante na sala Horn Sweet Horn. Esse episódio veio com o objetivo de apresentar a temática trans para as crianças e ensinar aceitação pra elas, e como resultado deixou muitas pessoas trans na internet muito putas pela completa falta de tato que tiveram ao falar do assunto. Tipo, The Powerpuff Girls sempre foi polêmico entre a comunidade trans, minha pesquisa antes de escrever esse post me relevou muita gente que achava o Him, transfóbico, e não é difícil ver como chegaram nessa conclusão (quando eu era criança eu interpretava como sendo que ele era o Diabo, e Deus e o Diabo são entidades que não possuem um sexo definido, ele podia livremente ser de ambos os sexos ao mesmo tempo. Precisei crescer para ver que era mais complicado que isso.)
Mas até aí eram polêmicas e controversas que dividiam os fãs que não gerou um ódio tão grande à série, Horn Sweet Horn deu um passo além de fazer uma parcela considerável de pessoas que eles tentavam atingir ficarem muito putas.
O episódio nos apresentava esse personagem chamado Donny. Donny se declarava um unicórnio, mesmo tendo um corpo de pônei com um chifre falso. As meninas humilham ele por não ser um unicórnio de verdade, jogam o chifre de unicórnio dele no chão, mas Bubbles insiste em levar Donny para o Professor Utonium para ele transformar Donny em um unicórnio.
Após diversos avisos de que fazer procedimento era perigoso e que alterar o corpo era uma péssima ideia, Donny ignora os conselhos, faz o procedimento e ao invés de se tornar um unicórnio se torna um monstro.
Ao final ele volta ao seu corpo de pônei, só para descobrir que ele era um unicórnio desde o começo, pois ele tinha seu chifre escondido atrás da franja e nunca notou.
Basicamente um episódio mostrando as heroínas humilhando o Donny por ter um corpo diferente da espécie que ele se declara. Depois fala que a cirurgia para mudar de corpo gera monstruosidades. Depois conclui que a identidade do Donny e a espécie que lhe foi designada ao nascer eram compatíveis desde o principio, e o Donny que era meio burro para perceber. E o episódio se declara como apresentando a causa trans para as crianças. Além de que o paralelo se perde bastante quando todos os personagens da série acreditavam que unicórnios eram uma espécie inexistente, e que então ninguém seria de verdade um unicórnio.
Pois é, esse episódio conseguiu causar umas reações bem negativas na internet.
E isso resume a completa falta de tato que a nova série tem para tratar do assunto. Na mesma falta de tato, eles achavam errado a maneira machista como a Ms Bellum era retratada na série (onde apesar de sua inteligência e competência ela era delegada a uma função sexualizada e submissa) e ao invés de reformular a personagem em algo que os criadores achassem aceitável (por exemplo… fazer ela deixar de ser secretária do prefeito), eles preferiram remover ela completamente da série. E isso é um claro caso de gente que quer falar de assuntos atuais e não tem a menor ideia de como falar.
Então o que nós temos é isso. Um revival de um sucesso que estreou quase duas décadas atrás, mas que só está sendo relançado depois que a programação atual do canal finalmente chegou em um nível de excelência que permite e até sugere que o canal pare de se apoiar em seu passado. Que recicla piadas, recicla roteiros, se recusa a manter o senso de humor original e o estilo dos criadores, está sendo tocada por gente sem currículo nenhum para assumir uma franquia com o peso que tem, e que quando resolve falar de assuntos que de fato precisam ser falados, o fazem sem nenhum tato e ofendem justamente as pessoas com quem queriam dialogar.
Existe algum motivo que justifique a existência dessa série?
Não, não existe. Absolutamente nenhum.
Enfim, todos cientes de que em outubro estreia o reboot de Ben 10? Nem dois anos depois de a série acabar. E dois vivas pra reboots sem sentido. O Cartoon Network é 99% séries animadas premiadas revolucionando seu gênero e sendo o melhor estúdio de animação atual. Mas aquele 1% é um muquirana que deturpa seus clássicos em troca de dinheiro fácil em brinquedos.
Sério, brinquedos e desenhos animados, não servem pra andar lado a lado. Simplesmente não servem.