100 Kanojo – A beleza na amizade entre Naddy e Yaku.

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Olá meus leitores. Como é que vocês estão? Eu estou ótimo. Sabem por que? Porque em dois meses um dos meus mangás favoritos vai enfim ganhar anime! E como blogueiro, eu sinto que é meu papel tentar chamar a atenção pra essa obra-prima. Naturalmente estou falando de Kimi no Koto Ga Dai Dai Dai Dai Daisukina 100-nin Kanojo, ou 100 Kanojo como será chamado ao longo do texto.

Um grande mangá de romance, do qual eu falei uma vez no passado e espero falar de novo no futuro. O mangá é sobre um rapaz que eventualmente irá namorar 100 garotas ao mesmo tempo, no momento em que esse texto está sendo escrito, ele já namora 25 garotas. O texto anterior foi sobre a construção da terceira namorada, Yoshimoto Shizuka, que vai aparecer já na primeira temporada do anime que estreia em outubro. Mas esse texto aqui é sobre a relação entre duas delas, sobre a amizade que nasceu entre Naddy, a décima terceira namorada e Yakuzen Yaku, a décima sexta namorada. E eu acho que nenhuma das duas vai dar as caras no anime que estreia em breve.

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Esse texto é uma homenagem a todos os que já me apoiam, os meus queridos e os heróis que protegem esse blog. Espero sinceramente que gostem do texto.

E esse texto é sobre 100 Kanojo.

Um mangá sobre a amizade:

Apesar de estar em apenas 25% da jornada, acho que a maioria dos fãs já notou que no final as verdadeiras 100 namoradas são os amigos que fizemos no caminho e que o foco desse mangá na amizade é onde ele brilha.

Não vou cometer a calúnia de falar ”o namoro nem é importante”, porque é, é super importante. Mas esses 25 namoros simultâneos que o Rentarou tem, não são individualmente interessantes, pois o Rentarou trata todas igual. Ele se esforça muito em ser o namorado perfeito e não deixar nenhuma delas se sentir menos que a mulher mais amada do planeta, o que é parte da dinâmica que o mangá dá pro poliamor deles. Nenhuma delas liga de não ser a única, pois nenhuma delas tá passando nenhuma vontade emocional, ele é hiperbolicamente perfeito e competente pra nenhuma delas ter uma única reclamação do tipo de namoro que tem, mesmo dividindo o namorado com outras 24 mulheres.

E muita piada boa sai disso. Mas é isso, com todas elas a dinâmica é o Rentarou fazendo de tudo pra elas ficarem bem e elas ficando bem, elas nunca brigam com o Rentarou e ele nunca frustra delas. O que eles tem é fácil, pois o Rentarou topa qualquer trabalho de Hércules e passa em todos. Isso rende piadas boas aqui e ali, mas não é o que o mangá tem de interessante.

O interessante é a amizade que elas criaram entre elas. Pois nesse caso cada dinâmica é única e serve pra trazer a personalidade delas muito a tona. E o que realmente vende o poliamor do mangá não é a ideia de que o namorado perfeito existe, é o quão forte é a amizade delas e o quanto elas se amam. Elas adoram dividir o namorado, pois elas adoram passarem o tempo delas juntas. E isso é forte. 

Capítulo em que elas fantasiam que quando elas casarem, elas vão todas morar juntas e cuidar uma da outra é forte por isso. Porque elas não estão apaixonadas entre si pela força de Deus, elas não são almas gêmeas. Elas se adoram, pois são boas amigas. E essa amizade é importante.

Até porque não é todo mundo amiga de todo mundo. Digo… é sim. Nenhuma ali é inimiga. As únicas que passam a impressão não se dar bem, é a Hakari e a Karane que brigam o tempo todo, mas elas estão apaixonadíssimas, a um passo de virar um casal e isso é só o joguinho delas.

Quanto as demais… assim, nenhuma se odeia, mas eu não acho que já vi alguma interação significativa entre Kusuri e Mimimi, por exemplo. Elas tem amizades específicas. Algumas duplas que funcionam melhor. Todas elas são amigas por default, mas algumas são BFFs. São as mega amigas. E essas vem em dois grupos.

Tem as BFFs designadas. O que isso significa? Bem, o mangá coloca duas namoradas diferentes interagindo na capa de cada volume. E as que aparece juntas no volume ficam meio que destinadas a se tornarem próximas uma da outra, como se fossem o par default. Hakari e Karane estão a um teco de virarem namoradas entre si, Nano e Shizuka também, Mei e Mimimi aparecem juntas pra caralho. É normal vermos esses pares nas capas e já presumirmos que elas vão ter grandes interações.

Mas tem as BFFs não-designadas, que é só a gente notando que o santo bateu e elas acharam uma pessoa com quem se davam super bem dentro da família Rentarou. Temos Hakari e Yamame que amam flores e tem confianças diferentes na própria beleza. Karane e Akko que gostam da cultura Gyaru, mas tem maneiras diferentes de expressar o que sentem. E temos Yaku e Naddy, a dupla do texto de hoje.

Yaku e Naddy:

Naddy é o apelido de Yamato Nadeshiko. 100 Kanojo é o tipo de mangá em que todo nome é um trocadilho, e o trocadilho aqui é que Yamato Nadeshiko é um termo que se refere ao ideal máximo de idealização feminina japonês. Uma mulher japonesa com todas as graças da mulher japonesa ideal. E no caso de Naddy, esse nome é irônico.

Ela foi criada para ser o ideal perfeito da mulher japonesa, e pra transmitir toda a cultura japonesa em sua feminilidade. Mas um dia ela vu uma série de televisão estadunidense, viu um personagem beber uma garrafa pet de Coca-Cola no bico enquanto usava sapato dentro de casa, e inspirada por essa rebeldia que testemunhou, ela abdicou de tudo o que ela aprendeu. Ela passou a responder por Naddy (que tecnicamente é um encurtamento válido de Nadeshiko, mas ela está tentando muito passar a impressão de seu nome ser Nadia), se vestir feito um Cowboy e a louvar a cultura estadunidense, rejeitando toda a sua criação como modelo da cultura japonesa.

A graça e toda a piada de Naddy é que o treinamento de seus pais foi bom, e ela é uma terrível autodidata. Então se todo o conhecimento de toda a arte e cultura japonesa que ela devia ter estão enraizados em sua alma ela querendo ou não, por outro lado ela é uma extrema poser sobre Estados Unidos, que não consegue nem mesmo arranhar um inglês básico. E não entende quase nada sobre cultura estadunidense para nada além de comer Big Macs e de gritar Freedom.

Ela viajou pros EUA só pra poder voltar pro Japão e falar que veio dos EUA, onde ela arrumou um emprego de professora. Ela adoraria ser professor de inglês, mas reforço, o inglês dela é pior do que a média, então ela arrumou um emprego de professora de japonês, língua que ela domina perfeitamente. E passou a lecionar na escola, onde se apaixonou pelo seu aluno Rentarou e se tornou sua 13ª namorada.

Naddy por não falar inglês, mas insistir em tentar, fala em um dialeto próprio dela que consiste no uso gratuito de palavras em inglês mal colocadas de maneira que não faz sentido em seu discurso em japonês. Tornando ela particularmente difícil de entender as vezes in-universe, e um pesadelo pra quem tem que traduzir os diálogos dela.

E essa é a piada. A Westaboo máxima que fetichiza os EUA sem entender o básico dos EUA. E que quer muito ser a rainha do ocidente, mas só é boa e talentosa naquilo que é japonês. Nesse contraste e nessa confusão está o humor da Naddy.

E aí temos a Yaku.

Yaku é uma senhora de 89 anos. E eu não vou olhar pro assunto “diferença de idade dentro desse mangá”. Esse assunto fica pra outro dia! Temos age gaps gritantes, e exceto em reforçar que a personagem da Hahari é uma abominação que não devia existir por ser uma pedófila que estraga o mangá com seus crimes contra a juventude, eu não vou usar esse texto aqui pra apontar o absurdo que é as duas personagens adultas no centro desse texto dividirem um namorado adolescente.

Pois o texto é sobre o que elas sentem uma pela outra. Não sobre o que elas sentem pelo Rentarou, o que elas sentem pelo Rentarou é simples, não rende um texto. Elas amam ele e ele ama elas. Pronto, nem tem como discorrer mais que isso, pra achar o espaço pra apontar a problematização.

E também porque no caso da Yaku fica tão pior, tão pior que só a diferença de idade…

Então recapitulando. Yakuzen Yaku, 16ª Namorada de Rentarou é uma senhora de 89 anos, que tomou uma poção mágica que fez ela voltar pro corpo de 8 anos de idade. Essa poção foi inventada pela neta de Yaku, Kusuri, uma química prodígio, gênio da química que desenvolve todo tipo de fórmula maluca, e que também é a 5ª namorada de Rentarou.

Então é uma idosa no corpo de uma criancinha, dividindo o namorado com a neta! Não vamos olhar pra nada disso de frente! Assim como não vamos olhar pro fato de que ela está deliberadamente usando seu rejuvenescimento pra dar um golpe na previdência. Nada disso é bonito, mas o texto não é sobre isso.

Não vamos conversar sobre o elefante na sala.

Mas vamos encarar o fato de Yaku ter experiência de guerra, no que eu presumo ter sido a Segunda Guerra Mundial, pras datas baterem. Ela foi médica de guerra, viveu um romance belo com um soldado que ela acha até hoje o homem mais másculo que ela já conheceu. Se casaram e ele faleceu.

Vamos falar disso, pois a grande piada da Yaku, esse mangá é de comédia, todo mundo tem sua piada, é que ela não acompanhou nenhuma mudança cultural que aconteceu no Japão depois da Segunda Guerra Mundial, e caso você não saiba leitor, rolaram várias. Metade delas devido à presença constante dos EUA no país depois de sua vitória.

Então Yaku não entende uma única palavra de inglês, não entende nada que é tecnológico, não sabe escrever em horizontal, não sabe ler nada em caracteres romanos, e não entende nada que tenha influência ocidental. A cabeça dela ainda está em um Japão nacionalista que não incorporava a cultura alheia, e ela não evoluiu nem se adaptou a nada.

E bem, o resultado básico da mistura dessas duas é previsível. A Yaku não entende a Naddy.

Eis que chega o capítulo 80. Em que o Rentarou leva todas as garotas pra subir uma montanha, porém por culpa da ventaria elas acabam se separando e tendo que chegar ao topo em grupos pequenos. Nisso Naddy e Yaku ficaram juntas e tiveram que subir a montanha juntas. Ali, Naddy percebeu que elas tinham um problema de comunicação, em que Yaku não era capaz de entender o significado de nada que Naddy falava. O que fez Naddy parar com seu dialeto próprio e começar a falar em japonês claro para Yaku poder entendê-la.

Durante essa trilha, Naddy é a que cansa primeiro, naturalmente Yaku é uma veterana de guerra em um corpo com excesso de energia, não é ela quem vai cansar. Quando ela vê que Naddy está cansada, Naddy segue falando em japonês perfeito. Yaku fala que ela não precisa se esforçar demais, mas Naddy insiste que ela está aguentando a trilha, mas Yaku explica que ela não está falado da trilha. E ela fala.

Eu não preciso entender você. Eu gosto quando você está alegre e alto-astral, Nadeh.”

E assim permitiu que Naddy voltasse a falar em seu dialeto estranho, onde Yaku não entende as palavras… mas entende que a Naddy está sorrindo muito enquanto fala elas.

Yaku apesar da aparência é uma velhinha meiga, que não tá tentando estar no centro das atenções, só quer ver os jovens sorrindo. Ela vê desenho animado com a neta que não faz sentido e ela acha que ser a mais velha do rolê é ir na onda e ficar vendo os jovens felizes. Ela não quer que incluí-la traga desconforto pra Naddy e deixou claro quais são suas prioridades.

Isso marca a primeira interação significativa delas, focando no ponto da comunicação. Mas elas têm pouco depois outra interação que foca em outro ponto e é tão importante quanto.

No capítulo 82, as namoradas todas se reuniram para conhecer a 17ª namorada, Kishika. Uma lutadora de kendô que pra conhecer todas melhor desafiou todas em uma luta de kendô 16 contra 1, para dividir com elas algo de que gosta.

Kishika domina a brincadeira e se mostra muito superior a todas com facilidade, porém tinham duas exceções que superaram as expectativas de Kishika: Naddy e Yaku. E o curioso é que foi Naddy quem anunciou a exceção:

Tem duas pessoas aqui, que já praticaram kendô antes.”

Pela criação tradicional que tiveram, tanto Naddy quanto Yaku já treinaram kendô no passado, e com Yaku ao seu lado, Naddy, que nega e foge de toda a educação tradicional que ela recebeu, não está fugindo aqui, está falando até com quase orgulho.

E não é a nem a primeira vez que Yaku trás esse lado de Naddy a tona.

No capítulo 79, as garotas todas estão jogando Menko, um jogo japonês tradicional em que arremessamos cartas no chão com força na tentativa da força do arremesso virar outra carta que já está no chão. Acho que é semelhante ao que eram os tazos no Brasil, mas se joga de pé. Enfim, é um jogo tradicional japonês e a Yaku está dominando completamente a situação ao ponto que as garotas realizam um torneio pra ver se Yaku ganharia, e Naddy é a surpresa que chega na final pra desafiar a velhinha.

Quando questionada a como ela era tão boa em Menko, Naddy cita a sua educação. Mas ela não estava puta ou com vergonha, ela se divertia aqui…. E eventualmente foi derrotada por Yaku, percebendo que enferrujou um pouco desde que começou a cultuar os EUA.

Naddy foi expulsa de casa, pois seus pais não aceitavam seus interesses e sua forma de se expressar, e ela rejeitou os pais com a mesma força que eles a rejeitaram. Mas como Yaku não rejeita Naddy, ela não tem problemas em se aproximar de Yaku pelo fato dela ser boa e talentosa naquilo que é tradicional do Japão.

Tudo isso culmina no capítulo que me fez querer escrever esse texto em primeiro lugar, que é o capítulo 118. Em que outra professora de japonês da escola implica com Naddy e com seu dialeto próprio, falando que ela era uma má influência e que uma pessoa que deseduca os demais ao falar não deveria ser professora de japonês.

Rentarou vai lá defender sua namorada. Mas são as demais namoradas que vão fazer a parte que importa da defesa. Ao argumentarem que todas elas, como representantes de vários segmentos diferentes da escola, todas entendem Naddy sem problemas, elas querem provar que então não tem grupo que a Naddy exclua.

A professora aceita o desafio e faz uma prova pra todas as namoradas do Rentarou (e ao próprio), em que eles deveriam traduzir uma fala da Naddy, e se ela fosse convencida de que não tinha ninguém no polículo que tivesse dificuldade de entender a Naddy, ela retiraria suas queixas contra a colega de trabalho.

Todas elas pagam pelo blefe e acham a prova difícil, mas usando o poder da amizade de lembrar com carinho da amiga, elas conseguem achar uma maneira de entendê-la e passar na prova. Exceto Yaku. Não tem níveis de esforço que Yaku pudesse fazer pra entender Naddy, era além da capacidade dela.

Quando Yaku entregou sua resposta, ao ler o que ela escreveu Naddy chorou e agradeceu as palavras lindas. E a outra professora, indignada, retirou sua queixa e foi embora emburrada. Aparentemente Yaku havia escrito algo no tom de “minha amizade com essa menina é tão importante, por favor perdoe ela e deixe passar”. Mas o ponto não foi esse.

A Yaku escreve de uma maneira que de certa forma é semelhante ao que seria a letra cursiva pro alfabeto romano, mas que em resumo, é um tipo de letra que é muito difícil de ser lido pra quem não tem uma noção excepcional da ordem dos traços na letra japonesa, e que pros jovens da famíla Rentarou era ilegível. E pra outra professora era também. Então Naddy intimidou a sua colega ao ser capaz de ler perfeitamente um japonês antigo e datado que ela era incapaz. E ela se retirou em vergonha.

Mas mais importante que isso. Naddy era a única na sala que consegue entender perfeitamente a Yaku. Pois a Yaku escreve igual os pais dela.

O que é sempre dito nesses momentos de interação, é que Yaku ama Naddy, e não precisa entender Naddy pra amá-la. Ela sempre vai aprovar que Naddy seja mais incompreensível pra ser mais feliz. Pois Yaku é uma vovó simpática que quer que os jovens se divirtam.

Mas o que raramente é dito, é que Yaku é muito parecida com os pais de Naddy. E que Naddy está brigada com seus pais e foi deserdada. Mas ao conseguir criar laços com Naddy ela consegue fazer as pazes com a sua infância. Ao apreciar alguém que seja que nem seus pais, mas que a ame, ela consegue aceitar o estilo de vida de seus pais, e projetá-los em outra figura.

E isso é poderoso.

Enfim, essas não são as únicas interações de Naddy e Yaku, são só as que juntas montam a historinha, mas elas fazem dupla o tempo todo. Elas montam uma barraquinha juntas, no episódio em que tomar experimentaram ter o próprio negócio, e quando a escola foi invadida por Yokais, elas desarmaram um Yokai-boneca por ser uma boneca que ambas tiveram na infância e trouxe mais nostalgia do que medo. Então elas são meio que a dupla mais recorrente uma da outra.

E aparecem muito mais vezes juntas do que com as garotas com quem elas dividem as capas e que deveriam ser suas duplas principais.

Mas o que essa amizade diz para além de qual é a natureza da dinâmica delas.

Os opostos se atraem:

100 Kanojo é um mangá que adora o conceito de que os opostos se atraem, embora com nenhuma das garotas, sua relação com o Rentarou se baseie em suas personalidades sendo opostas. Mas nas relações entre as garotas sim. Nenhuma garota tem uma conexão com a personalidade específica do Rentarou, pois ela é ampla, feita pra agradar 100 garotas diversas no mesmo nível.

Pois então, quando dizemos os opostos se atraem, especialmente quando usamos como um tropo da ficção, o que estamos realmente sugerindo? Geralmente a moral é que gostamos de quem nos completa. Com 100 Kanojo, a mensagem dá um passo além (embora várias outras histórias deem esse mesmo passo além), é de que gostamos de quem nos incentiva a lutar contra a parte da gente que não gostamos.

Peguemos o exemplo da Karane, que a série não admite, mas é visivelmente apaixonada pela Hakari, com quem ela troca farpas desde o capítulo 1. Karane é insegura por ser uma tsundere, e queria saber se expressar melhor e ter menos vergonha de falar seus sentimentos. Hakari não só constantemente expressa seus sentimentos (as vezes de maneira mais gráfica do que os presentes estão confortáveis), como ela frequentemente expressa os sentimentos de Karane e força a garota a admitir o que realmente pensa.

Da mesma forma, Meme não gosta da própria timidez, e simultaneamente admira e inveja a habilidade de Mimimi de estar sempre nos holofotes e desfrutar dele, e Mimimi por sua vez, ensina Meme a não ter vergonha de quem ela é, e a aceitar pontos nela que sua timidez não podem enxergar.

Muitas das personagens de 100 Kanojo no fundo no fundo queriam ser alguém que elas não são. Kurumi queria ser menos irritada e grossa, Iku queria ser mais feminina, Hahari queria ter tido uma adolescência normal, Kishika queria não ser um bebê gigante, etc… e o que o Rentarou fala pra elas é que ele ama elas do jeito que elas são e está tudo bem. E é bom que alguém fale isso pra elas, mas em seus opostos elas podem achar alguém que seja um guia, um modelo e um apoio pra elas.

E com isso elas se conectam muito no quão diferente elas são. E no caso de Naddy, bem ela é exatamente quem ela quer ser, mas ela apaga o passado dela por uma briga pessoal, mas Yaku a faz ver o seu passado sob outro prisma. Ela não tem raiva de ter aspectos em comum com Yaku com a mesma intensidade que ocorre com seus pais, embora sejam os mesmos aspectos.

Como Naddy é uma poser, que não realmente consegue falar inglês, nem sequer ler caracteres ocidentais, ela não tem muito sucesso em sua tentativa de fingir que não é japonesa, mas Yaku diminui o fardo que ser japonesa tem na vida dela.

E Yaku ao mesmo tempo se deixa ser desafiada por Naddy, pra alguém que tem dificuldade de entender qualquer coisa que não pareça o Japão pré-1945, Yaku tem a mente aberta e parece estar disposta a conhecer o mundo. Ela não entende como a televisão funciona e o conceito de animes desafia ela, mas ela assiste animes com sua netinha todo santo dia, pois isso faz sua netinha feliz. Ela não sabe bem o que está acontecendo, mas faz seu melhor pra ser boa companhia.

Yaku tem muitos problemas em entender o mundo, então ela aplica na prática as sábias palavras de Bonnibel Bubblegum, você não precisa entender as coisas, só respeitá-las. Ela não quer por os jovens em moldes que ela entende, ela prefere ficar confusa, e ver que está todo mundo feliz.

E por isso ela é o topo da pirâmide de aceitação da família Rentarou, como a mais velha de todas, em um recorde que eu duvido que seja quebrado até o final, ela sempre vai ser alguém que aceita todo mundo. Uma vovozinha com amor de vó por todas elas, que só quer que os jovens se divirtam. Um episódio mesmo brinca com isso colocando a pergunta: se a Yaku está sempre lá pra fazer um cafuné em todo mundo e acolher todo mundo, quem que vai acolher Yaku com um cafuné? Pois de fato, na escala de amor e carinho, ninguém bate a vovó.

O que é algo que eu gosto. A maior parte dos exemplos que eu estou dando tem subtexto românticos e estão claramente sendo usados pra atiçar quem gosta de shipping, e quer ver as namoradas do Rentarou aproveitarem que não são monogâmicas e se namorarem entre si…. Mas Naddy e Yaku não passam isso, pois a aura de vovó da Yaku não faz ela soar como interesse romântico de ninguém. Parece um laço familiar só. A aceitação de alguém mais velho que não se intimida com a loucura dos jovens.

Conclusão:

Na última vez que falei de 100 Kanojo por aqui, eu falei sobre porque a Shizuka era um personagem exemplo da maior qualidade do mangá, a dela não estar sendo cobrada a ser normal, e ter sido aceita num grupo em que ela pode ser exatamente quem ela é.

Mas os personagens não estarem sendo cobrado por Rentarou pra mudar, não significa que eles não tem perspectivas novas a serem exploradas.

Elas podem jamais ficarem normais, e ainda repensarem a maneira como elas veem o mundo pela maneira como lidam com os outros. E pra isso eu acho que a melhor dupla possível é Naddy e Yaku. Uma dupla sem subtexto romântico, que só reforça o tema da aceitação. Naddy pratica uma recontextualização de sua visão de mundo e de sua relação com sua identidade, e Yaku experimenta empatia, e a ideia de que seu papel como representante da mais velha geração do grupo não é impor os valores de antigamente, mas incentivar os jovens a surpreenderem ela.

E ver essa aceitação e esses laços é o que torna o mangá bom.

Nada contra o Rentarou, ele é um excelente personagem, ele é divertido, e ele se destaca no mangá pela personalidade dele. Mas a graça dele namorar 100 garotas está nas garotas interagirem entre elas, não ele. E elas dividrem um namorado é só uma desculpa para garotas que jamais interagiriam, se falarem, e disso sair ouro.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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