Dragon Ball – As armadilhas do orgulho

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No dia primeiro de março de 2024 faleceu o mangaka Akira Toriyama, famoso pelos mangás Dr. Slump e Dragon Ball e um dos mais influentes mangakas da história. Isso faz menos de um mês a partir de quando esse texto está sendo escrito, e bem, Dragon Ball influenciou um número muito grande de pessoas, e eu não sou exceção. É um dos meus mangás favoritos de todos os tempos.

Sabem, é muito louco o quanto eu amo Dragon Ball, pois eu não exatamente me atraio por grandes lutas e cenas de ação. Eu gosto de várias obras cheias de luta e ação, mas raramente essas lutas são o motivo de eu amar a obra. E Dragon Ball tem a reputação de ser uma obra que além de lutas, não tem mais nada pra oferecer.

E eu discordo muito disso.

Eu acho que Dragon Ball tem muito a oferecer em como construir personagens, como fazer narrativas. E existe uma percepção dessa história ser rasa que eu não vejo. Eu amo o desenvolvimento de Dragon Ball, e acho que o talento do Toriyama em equilibrar as batalhas pra salvar o mundo com a ideia de que esses personagens são pessoas normais com vidas normais é excelente.

Quem acompanha esse blog tem um tempo, me conhece, eu sou o cara que gosta de achar temas nas coisas. Gosto de achar grandes mensagens que histórias passem. E Dragon Ball tem uma muito boa, mas não sei se o público entende ela da maneira como eu entendo, e quero falar um pouco dela aqui. Relacionado ao orgulho de um guerreiro, mais famoso pelos personagens Sayajins, definidos por seu orgulho.

Então vamos falar disso. Bem-vindos ao Dentro da Chaminé, eu sou Izzombie, e esse é um texto sobre o orgulho em Dragon Ball. Que personagens sentem mais orgulho? Que personagens sentem menos? Como o orgulho dos personagens afetam a vida deles e que personagens são recompensados ou punidos pela sua relação com vitória e derrota. Spoiler: o Orgulho faz mal pra eles e o Vegeta passou mais da metade da história sendo um grande fracassado.

Ah, mas de brinde vai vir um monte de crítica a como Dragon Ball Super em muitos aspectos vai na direção oposta do mangá original.

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Pois esse texto é em homenagem a todos os que já me apoiam, dão forças, e tão aí mantendo esse blog de pé. Amo todos vocês, e espero que gostem do texto.

E esse texto é sobre Dragon Ball…. Mais especificamente sobre o orgulho dos personagens, então já que eu vou repetir essa palavra um montão, seria legal definirmos ela.

Definição de Orgulho:

Orgulho é uma palavra com muitos significados.

Pode ser a satisfação que temos em ver as ações de alguém que gostamos, ter orgulho dos filhos e dos amigos. Pode ser um sentimento gostoso de felicidade com nossas conquistas pessoais e de querer valorizar essas conquistas. Sentir orgulho é o oposto de sentir vergonha.

Na língua inglesa, a palavra Pride, conquistou recentemente uma conotação muito forte com a comunidade LGBT, que até existe em português, mas é forte em inglês. Tanto que a Parada do Orgulho Gay, no Brasil pode ser abreviada só pra “Parada Gay” enquanto em inglês ela é abreviada só pra “Pride Parade”.

Na nova canção-do-alfabeto de As Pistas de Blue, colocaram o “P is for Pride” em uma conotação clara de que falavam os orgulho lgbtqia+

Orgulho também é o primeiro pecado capital, e alguns diriam o mais grave deles. As vezes traduzido pra “vaidade”. E é o pecado que fez com que Lucifer caísse do céu e se tornasse o Diabo.

Em Dragon Ball quando a palavra é usada, em especial quando a palavra é vomitada pelo Vegeta a cada cinco minutos, a palavra usada é hokori (誇り), que é uma palavra sem segredos nem significados adicionais quando dita em japonês, é o que surge se você jogar “orgulho” no google translator. E ela mantém a maioria dos significados intuitivos da palavra exceto o LGBT e o pecado capital. Esses dois significados não tem nada a ver com o uso da palavra em Dragon Ball. Embora o pecado em si não passe tão longe, uma vez que a série aborda negativamente o orgulho.

Mas da maneira como a série usa, o significado principal da palavra é o do sentimento de proteger e valorizar a sua honra. O de se evitar a vergonha pessoal e de ser visto em posição vergonhosa e humilhante. Exatamente que nem a gente usaria em português. O mangá também usa muito a palavra em inglês “Pride”, pois checar o japonês dos mangás muitas vezes é se deparar com muito inglês.

Mas é: esse texto aqui vai ser sobre personagens e a luta pra preservarem sua honra, seguirem de cabeça erguida por não aceitarem a derrota e a luta pra jamais serem derrotados. É sobre evitar a vergonha.

Afinal é um mangá sobre artistas marciais que fez…. O que? Cinco torneios diferentes pra ver quem era o mais forte do mundo? Certamente é um mangá sobre gente que jamais aceita a derrota, não é?

Kame Sen’nin – Sobre torneios e derrotas:

O segundo arco de Dragon Ball é o do torneio Tenkaichi Budoukai, tivermos cinco aparições desse torneio no mangá, e esse é tecnicamente o 21º Tenkaichi Budoukai. Nele, Goku e seu colega de treino, Kuririn, se inscrevem depois de treinar com o mestre deles Kame Sen’nin, para testar o quanto eles aprenderam e o quão longe eles chegaram.

Porém, Kame Sen’nin tinha medo da hipótese de um dos dois ter ficado forte e talentoso o suficiente pra vencer o torneio, por isso, ele secretamente se inscreveu no torneio com o objetivo de derrotar os discípulos e que garantir que essa experiência fosse de derrota.

Acho fundamental olhar pra isso, pois sendo Kame, o primeiro mestre que Goku teve, os ensinamentos dele são fundamentais pra ensinar a base do Goku do que significa ser um artista marcial.

E especialmente porque conforme Goku foi conseguindo novos mestres, Kame nunca perdeu o título de professor primário dele. Até mesmo com Deus em pessoa, o terceiro mestre de Goku, reconhecendo a sabedoria de Kame nas horas que importam.

Kame Sen’nin era também conhecido pelo nome de Mutenroshi, e por esse nome ele era um dos mais famosos e mais respeitados mestres de artes marciais do mundo, e nessa fase do mangá, bem no começo, era amplamente conhecido como o homem mais forte do mundo.

Porém Kame não aparentava procurar por fama, títulos ou maneiras de se aproveitar de sua reputação com o grande público….

….embora ele não estivesse acima de pedir favores sexuais pra Bulma quando ela depende dele, pois o Kame é muito seboso no que diz respeito a sua relação com mulheres.. Eu até queria falar que esse lado do personagem envelheceu mal, mas ficaria implícito que tratar mulheres como ele trata era aceitável nos anos 1980.

….e pelo amor de Deus, ele mandou o Goku pagar pelo treino sequestrando uma mulher pra morar com ele.

Onde eu estava? Ah sim, Kame vive numa ilha remota, sob a alcunha de A Tartaruga Eremita, curtindo uma praia e a companhia de sua tartaruga, sem mídia, sem fortuna, sem fãs, evitando ter novos discípulos e querendo ter paz. Ele até aprecia quando cai dinheiro do céu pra ele, pois ele sabe bem como gastaria uma fortuna (com putaria), mas ele aparenta querer paz e aposentadoria.

E isso é um contraste enorme com o homem que herda seu título de maior campeão do Mundo umas décadas depois, o Sr. Satan é uma fraude que apesar de talentoso nas artes marciais e capaz de boas performances, mente sobre seus feitos e quer se banhar em fama, fortuna e glória.

Mas Kame não. Kame não quer gloria. E o sinal disso é a maneira como ele fez questão de derrotar seus discípulos no torneio. Não era importante pra ele passar a mensagem de que eles ainda não haviam superado o mestre. Ele se disfarçou de um cara chamado Jackie Chun, um aparente anônimo, pra ensiná-los que um dia eles podiam topar com uma pessoa aleatória que tivesse mais talento que eles. Ele queria que o torneio fosse vencido por um completo Zé Ninguém que ninguém nunca havia ouvido falar.

E essa é a lição que ele queria passar: “A jornada jamais acaba. Pois sempre, em algum lugar do mundo alguém é mais forte que você. Você sempre pode encontrar alguém melhor, então você continua tentando melhorar.”

Goku não viu humilhação em perder, pelo contrário, seu segundo lugar no torneio foi tratado como um grande motivo pra orgulho, levando em consideração sua idade. O Juiz pediu uma salva de palmas especial pra Goku, e Kame torrou seu prêmio em dinheiro todo em dar um jantar livre pra Goku como recompensa pelo segundo lugar.

Os conservadores estadunidenses amam chorar que o mundo agora gosta de dar recompensas pra quem fica em 4º lugar. Sabem quem inventou isso? Kame Sen’nin, a Tartaruga Eremita.

Enfim. Antes do torneio a única luta realmente série de Goku foi contra Yamcha, que se tornaria um aliado muito rapidamente. Então foi interessante termos todo um torneio antes de Goku começar a enfrentar literais ameaças a sociedade e ao planeta Terra. Um ambiente festivo e amistoso, em que todos os guerreiros se respeitam e todo o derrotado sempre sorri e aperta as mãos, foi o primeiro contato do Goku com outros artistas marciais e a cultura deles.

E se tinha alguém ali que estava em um modo competitivo demais pra considerar aquilo um evento festivo, Kame fez questão de devolver o espírito pra essas pessoas e não permitir que sejam arruinados pela derrota.

Quando chega o 22º torneio, Kame se encontra com seu velho rival, Tsuru Sen’nin. E aí ele trás esse elemento pra série pela primeira vez: orgulho, vingança, a necessidade de se derrotar alguém pra limpar sua honra.

Pois entre esses dois torneios, Goku extinguiu essa organização chamada Exército Red Ribbon, que em determinado momento precisou contratar o maior assassino do mundo, Tao Pai Pai pra tentar matar Goku, e o assassino morreu em sua tentativa de matar Goku.

Tao Pai Pai era irmão de Tsuru, e uma inspiração pro principal discípulo de Tsuru, Tenshinhan. Então Tsuru resolveu inscrever seus discípulos no Tenkaichi Budoukai, com o objetivo de primeiro demonstrar superioridade ao Kame mostrando que seu discípulo é melhor que o dele. Segundo de fazer com que Tenshinhan vingasse a honra de Tao Pai Pai, matando Goku.

Tsuru era o oposto de Kame em todos os sentidos, em como ele via artes marciais, em como ele via força e em como ele via moralidade. E isso se manifesta na importância que era pra Tsuru limpar essa dívida de honra, vingando a morte de seu irmão e demonstrando superioridade.

Nesse torneio, antes de enfrentar Goku, Tenshinhan enfrenta o próprio Kame, ainda disfarçado de Jackie Chun, ainda na missão de não deixar Goku ganhar o torneio em uma idade que ele ainda pode ser consumido pelo ego e pelo orgulho e desejo por glória.

Durante a luta Kame e Tenshinhan lutam em pé de igualdade e ao ver que existiam jovens tão fortes quanto Tenshinhan, Kame desistiu da luta, feliz, ele confirmou que a nova geração estava crescendo poderosa e melhor que a geração dele, e voltou a se aposentar, muito feliz em ter testemunhado um guerreiro como Tenshinhan.

O que Tsuru não foi capaz de entender, ele chamou Kame de covarde e falou que ele tinha vergonha de ser fraco, mas Tenshinhan não interpretou assim.

Tenshinhan foi tirar satisfação com Kame, e o mestre disse que ele confiava que a nova geração era forte o bastante pros discípulos dele não se acomodarem, e que confiava Goku pra ser maduro caso vença o torneio, sabendo que teria um rival como Tenshinhan. E ele admite que ele acha que se a luta fosse até o fim, ele provavelmente perderia.

Tenshinhan fica abismado com a falta de orgulho que ele demonstrou, admitindo que ele perderia a luta. Mas Kame Sen’nin está em paz. Ele não tem vergonha de reconhecer a superioridade do discípulo inimigo, e nem tem medo de ver seu discípulo perder pro seu rival.

A única bronca dele, é que Tsuru tenta ensinar Tenshinhan a ser um assassino, e Kame queria que o poder de Kame fosse usado pro bem. Ele insiste que Tenshinhan achasse um novo caminho, focado em não ser um arrombado, e funciona.

Pois a luta dele com Tenshinhan toca o triclope, e na luta com Goku ele muda, ele decide que ele não quer vingar Tao Pai Pai, ele só quer ter uma boa partida com um rival, que ele não vê o torneio como um espaço pra limpar a honra e se vingar. Ele age como um discípulo de Kame agiria. Querendo um esporte e não uma prova de honra.

E trai Tsuru.

Na final, Tenshinhan ganha de Goku por pura sorte. E ele tenta humildemente falar que não foi uma vitória de verdade e dividir o prêmio com Goku. Mas Goku recusa, ele acha que derrota é derrota, mais sorte na próxima, e fala isso sorrindo. E Mestre Kame explica ali que sorte é parte da habilidade, ensinando mais uma lição ali ao vivo, pra Goku e pra Tenshinhan, e Goku absorve a nova lição de seu mestre na hora.

Por fim Kame pergunta se Tenshinhan tem pra onde ir após abandonar seu mestre e diz que o acolheria, mas Tenshinhan disse que ainda vê Kame como a escola rival e acha errado aceitar o convite, preferindo dar um jeito sozinho. Um sinal de que ele não perdeu todo seu orgulho naquele dia. Normal. Ele avançou muito mesmo assim.

Goku vence o 23º torneio. É uma luta icônica por Goku se recusar a deixar ela deixar de ser uma luta do torneio. Ele enfrentou Piccolo com o destino da Terra em risco, mas recusou ajuda, se recusou a sair da arena, e quis que o torneio não fosse interrompido. Piccolo queria vingança, queria dominar o mundo, queria ser o super-vilão, mas Goku não permitiu que aquilo ali deixasse de ser um esporte e forçou a luta a ser uma competição do torneio até o fim, mesmo que só ele estivesse pensando assim.

Ao vencer Piccolo. Ele celebra, muito feliz de ter vencido o torneio. Mas nunca se declara o campeão do mundo, nunca se acomoda de pensar que é o homem mais forte do mundo e especialmente, nunca para de treinar, pois sabe que precisa ser sempre mais forte que Piccolo, pra proteger a Terra sem matá-lo. Ao Goku Deus ofereceu o título de Deus e convidou Goku a virar o Deus que guarda o planeta, e Goku se recusou a receber tal título.

Kame ensinou a Goku a sempre esperar e contar que exista gente melhor que ele. A nunca deixar de se desenvolver. E a não se acomodar em títulos e fortuna. A não buscar glória, e a não considerar a derrota uma humilhação. E Goku tanto não buscou gloria que apesar de não ser segredo que ele derrotou Piccolo, ele se permitiu ser esquecido mesmo assim. Ele nunca clamou a fama e ela não veio, e as pessoas simplesmente esqueceram a identidade do herói delas.

Goku já perdeu diversas batalhas ao longo do mangá e jamais se sentiu humilhado por perder, ele no máximo teme pela Terra, mas ele não tem medo de não ser a pessoa mais forte do mundo.

Afinal de contas ele desiste dos Jogos de Cell com um sorriso no rosto, sem nenhum problema em admitir que não é capaz de vencer Cell.

E ele não dá a menor corda pra rivalidade unilateral que existe na cabeça de Vegeta, nunca se interessando em uma revanche e claramente cagando sempre que o Vegeta vem se gabar de estar mais forte.

Kame o educou bem. Ele é o tipo de guerreiro que não coloca o orgulho acima de si. Ao menos não esse tipo de orgulho. Existe outro tipo de orgulho que Goku passa a desenvolver do fim do arco Freeza em diante. Para isso é necessário falar da segunda maior influência na percepção de Goku do que é um guerreiro depois de Kame: Vegeta.

Vegeta – Sobre orgulho e batalha.

Vegeta é introduzido na metade de Dragon Ball mais ou menos e rapidamente se estabelece como a antítese de tudo o que Goku era, e muda drasticamente o tom de que tipo de batalhas deveriam ser travadas.

Não seria incorreto dizer que a invasão dos Sayajins obrigou os personagens popularmente conhecidos como Guerreiros Z, a fazerem a transição entre Artistas Marciais para Guerreiros. Eles eram pessoas que procuravam Artes Marciais como estilo de vida, para ser usado em competições, autodefesa e atividades semelhantes. Mesmo no ataque do Rei Piccolo, o vilão tinha trauma de ter sido derrotado por um mestre em Artes Marciais e procurou eliminar todos os Artistas Marciais do planeta, o que ele falhou em fazer.

Mas aí os aliens invadem, e os Sayajins não são artistas marciais de verdade. Digo. Eles sabem lutar. Mas eles não tem técnica, escola de luta, estilo de luta. Esses conceitos importam pouco agora, eles vivem da guerra, eles lutam em grupo para matar um adversário. Eles não treinados pra enfrentar armas de destruição.

Inclusive os Sayajins e depois, os soldados de Freeza mensuram toda a sua força num valor numérico sem cogitar pensar em como sua técnica e sua escola afetam sua performance. Mais um sinal de que artes marciais saiu de cena.

A gente cria uma percepção de que em Dragon Ball, em especial na fase Z, os personagens fazem muitos duelos sem a necessidade, com os personagens só olhando enquanto os outros atacam. E tem motivos pra pensarmos assim. Muita luta ali foi 1×1.

Mas ao mesmo tempo muita luta não é. Nappa teve que enfrentar Piccolo, Gohan e Kuririn ao mesmo tempo, isso depois de matar Tenshinhan e Chaotsu. Aí Vegeta teve que enfrentar Gohan, Kuririn e Yajirobe simultaneamente depois de inutilizar Goku.

Eles atacaram Freeza em grupo. Eles atacaram os androides em grupo…. Mesmo Cell que obrigou o formato de torneio, mas perdeu quando Vegeta ajudou Gohan.

E quando eles lutam lutas individuais geralmente é ou porque alguém mandou todo mundo fugir, por não dar mais conta. Ou porque os vilões tendo vantagem na situação, obrigaram a luta a ser individual.

Não, na fase Z, os personagens são guerreiros, pois são a linha de defesa do Planeta Terra e travam guerras! Eles tem que pensar estrategicamente, e eliminar ameaças.

E essa mudança de mentalidade vem junto da presença desse personagem: Vegeta. Que não participa de torneios, não acredita na auto-reflexão, não tem um mestre ou uma filosofia. E principalmente: que acha a derrota a maior vergonha que existe. Vegeta soube sempre desde muito jovem que ele era superior a todos, e que ele esmagaria qualquer estranho que encontrasse em seu caminho. O oposto da lição que Goku aprendeu com Kame.

Vegeta é orgulhoso, ele se gaba de sua força e de sua linhagem. Ele ama um título de “Príncipe dos Sayajins” cujo valor foi explodido com seu planeta natal. Ele mata Nappa para não conviver com a fraqueza. E ele acha importante ser a pessoa mais forte do mundo. Ele acha muito importante.

E bem, a carreira de Vegeta na série é marcada pelas surras que ele leva. Claro, a gente lembra dele matando praticamente todos os subordinados de Freeza. Mas a real é que ele não só quase morre na Terra, ele quase morre pro Kuririn. Aí ele quase morre pro Recoom. Aí ele morre pro Freeza na maior surra da vida dele. Então ele leva uma surra da Número 18, toma a segunda maior surra da vida dele pro Cell. Morre pro Majin Boo, para reviver e não ser capaz de vencer Boo.

Mas mesmo as vitórias Vegeta não sente.

Vegeta objetivamente derrotou Goku no primeiro encontro dos dois, e Goku admite sem problema algum que Vegeta é muito além do poder de Goku. Mas Vegeta é quem saiu dessa luta querendo uma revanche e se sentindo diminuído. Vegeta perdeu por trabalho em equipe, porque lutaram de galera em cima dele, ele objetivamente superou Goku. Mas ele sempre se sentiu inferior ao Goku.

Ele foi pra terra somente pelas esferas do dragão, mas agora ele sente que tem que voltar por revanches, mesmo com o planeta não tendo mais esferas.

E eu acho que tem a ver com aquele momento da luta, em que o Kamehameha bate de frente com o Garlick Hou, os dois mandaram seus melhores golpes na maior potência e Goku levou a melhor e quebrou a armadura de Vegeta.

Existe essa interpretação do personagem do Vegeta, que eu concordo muito que é a de que quanto mais humano o Vegeta vai ficando, mais ele vai perdendo traços da sua armadura. E a sua armadura quebrando pela primeira vez pra mim marca a primeira virada de chave. A dele ter ficado impressionado ao receber um golpe com força que ele não era capaz de dar.

Aí mesmo com ele tendo ganhado a luta, ele voltou mordido. E no primeiro reencontro com Goku, mesmo depois dele ter derrotado ele da última vez, ele rapidamente se sentiu acuado e inferior diante de Goku, acreditando que esse o havia superado e era possivelmente o Lendário Super Sayajin.

Namek foi a maior série de vitórias do Vegeta, mas ele estava distraído demais se comparando constantemente com Goku e Freeza pra aproveitar que era a última vez que ele ia estar tão no topo das coisas. E aí vem sua luta contra Freeza e a sua derrota bate nele com força.

Ele chora de vergonha durante a luta. Coisa que nenhum outro personagem fez antes. A ideia de que ele não era capaz de superar Freeza destruiu ele, e tirou dele tudo. E o mangá enfatizou que era a primeira vez que Vegeta chorou.

O orgulho e a competitividade de Vegeta nunca lhe deu nada, não lhe deu a chance de aproveitar as vitórias, fez as derrotas destruírem ele, fez ele odiar as últimas palavras antes de morrer, pois elas o humilharam. E no geral o orgulho de Vegeta é extremamente autodestrutivo. Pois o tornam menos tático e fazem ele rejeitar planos que partam do pressuposto que ele não é forte o suficiente. Mas apesar disso, ao vê-lo morrer, Goku admirou o orgulho de Vegeta, um orgulho que ele jamais teve, e ele passou a desejar a ter.

Goku viu algo positivo em ser uma pessoa orgulhosa.

Mas Vegeta…. Após ressuscitar Vegeta vai passar por seu orgulho a prova da maneira mais extrema da série na Saga Cell, e vai pagar duramente por isso.

Vegeta na Saga Cell.

Eu acho, do fundo do meu coração, que a Saga Cell é sobre o Vegeta. E aí com o poder da perspectiva, em saber que seja por pressão de editor, por desilusão consigo mesmo ou por qualquer motivo, o Toriyama tentou e falhou em fazer o Gohan ser o novo protagonista pós-Cell. Muito fã odeia essa falha e acha que ele não tentou o suficiente, que ele arregou e que ele devia ter mantido a ideia de passar tudo pro Gohan, e eu respeito esse sentimento e entendo bem a decepção. Mas sabendo que essa ideia foi tentada e foi desfeita, eu imagino nas fanfics da minha cabeça, que o bastão devia ter sido passado é pro próprio Vegeta.

Justamente porque a Saga Cell não foi sobre o Gohan, foi sobre o Vegeta, na maneira como eu leio.

Na real foi sobre Pais e Filhos…. E o contraste entre Goku-Gohan e Vegeta-Trunks amarra muito do arco.

Enfim, no instante em que Trunks alerta Goku sobre o ataque dos androides, o mangá se torna uma grande série conectada de decisões cretinas que o Vegeta tomou por que ele sentia que tinha algo pra provar pro Goku…porque ele estava obcecado com a ideia de superar Goku e ter uma revanche.

…eu vou enfatizar isso o texto inteiro gente. Uma revanche de uma luta que ele já venceu, pois a sabedoria de que ele não venceria de novo assusta dele.

E como Goku não deu essa revanche pra ele… pois Goku não se importa, Vegeta ficou compensando esse tesão não consumado fazendo o maior número possível de merdas.

Então recapitulando… o Vegeta é quem toma a decisão de que ninguém podia só pegar o endereço do Dr. Gero e derrotar ele ANTES dele despertar os androides, pois pouparia ele da luta.

Tenshinhan, o outro escravo do orgulho concorda e dá moral pro sentimento do Vegeta.

A galera põe essa na conta do Goku bastante, pra vender a narrativa de que ele sempre arriscou a vida alheia por boas lutas, mas isso é interpretação otária do Super, já falei disso aqui. A ideia foi do Vegeta. Goku até concordou, mas na moral, o Goku trouxe mais foi um papo questionando a moralidade do filme Minority Report e se perguntou se é ético punir no presente alguém por crimes do futuro, informados via viagem no tempo.

A Bulma é contra a ideia e está puta com o futuro pai do seu filho e o Kuririn deixa muito claro, que eles precisam fazer as coisas do jeito do Vegeta, pois esse cara é uma bomba relógio pronta pra explodir e eles precisam que ele não seja um inimigo no futuro próximo. Acreditando que não achar razões pra antagonizar Vegeta era a chave pra sua redenção.

No fim deu certo. Kuririn avançou muito desde a vez que tentou matar Vegeta pessoalmente.

Enfim. É pela insistência de Vegeta que eles esperam três anos pra lutar com os androides, para que Vegeta tivesse sua grande luta, pra que Vegeta provasse sua superioridade vencendo em combate alguém que ele foi informado que poderia matá-lo. Porém, diante de Androide 18, Vegeta leva uma surra tenebrosa. Ele tem os dois braços quebrados pela Androide 18 e literalmente desmaia de dor, sendo abandonado no chão.

Vegeta decide que vai superar os androides, mas ele não consegue avançar muito além de onde chegou. Ele vai ser derrotado pelos androides, ele chegou no limite e vai ser incapaz de alcançar? Goku surge até Vegeta e lhe oferece uma solução, um método de treino que não estava ao alcance de Vegeta sozinho.

E Vegeta com esse treino superou seus limites, se tornou excessivamente forte, e foi por alguns capítulos, provavelmente o personagem mais forte do planeta… e o que ele faz? Deixa seu orgulho falar mais alto e enfia tudo no cu, permitindo que Cell absorva a Androide 18, pois ele quer um adversário digno pra enfrentar, e ter com quem usar sua força.

E leva outra surra. Uma tremenda surra. Uma surra humilhante.

O Cell perfeito é um problema que existe por culpa do Vegeta. Tanto do Vegeta ter permitido o trabalho do Dr. Gero de criar os androides, quanto de ter permitido que Cell se transformasse. Vegeta insistiu em deixar a situação chegar até ali, pra não ter a capacidade de resolvê-la. Pra ser incapaz de limpar a própria bagunça.

Vegeta segue pensando em ele próprio derrotar Cell, segue contando vantagem, e ele objetivamente julga todo mundo que não for um Sayajin de ter ido na luta final contra Cell como uma completa perda de tempo, deixando implícito que ele acha que ele vai lutar.

Que o Cell é dele. É alguém pra ELE matar.

Mas ao observar a luta de Gohan ele vai se diminuindo cada vez mais. Ele vai se percebendo como fora de sua caixinha de areia, não diferente de Piccolo ou Androide 16 que estavam ali também só de enfeite. Ele sempre se chocava de ver o quão Gohan estava nivelado com Cell e portanto distante de Vegeta, culmina em Cell criando um monte de Mini-Cells só pra torturar a audiência e Vegeta apanha tanto quanto Tenshinhan ou os demais.

E aí então Trunks morre! E agora sim fodeu! Vegeta que estava negando o quão apegado ele era ao seu filho, viu seu filho morrer diante de seus olhos. E agora chegou a hora do Vegeta ir ali fazer o que ele disse que ia fazer, resolver o problema Cell ele mesmo. De Vegeta tirar Gohan do caminho e ir se vingar, corrigir tudo.

E Vegeta leva outra surra colossal! E quase morre.

Mas é salvo por Gohan…. Que sacrifica seu braço pra salvar a vida de Vegeta.

E é aí que Vegeta pede desculpas.

Não vou nem entrar no mérito de ser a primeira vez no mangá. Pois soou como se fosse a primeira vez na vida dele que ele já pediu desculpas pra alguém. Ele pela terceira vez no arco esqueceu o próprio lugar e piorou a situação, mas pela primeira vez ele olhou e admitiu que fez merda. Que a situação ficou pior por culpa dele. Ele custou um braço ao Gohan no meio de uma batalha importante.

Para ilustrar o contraste, temos uma cena de Vegeta sendo salvo por Gohan na Saga Freeza, quando ele quase morreu pro Recoom. Ali Vegeta ao ser salvo critica Gohan, fala que se Gohan tinha energia, tinha que ter ido matar o Recoom e não perdendo tempo salvando os outros.

Aqui não. Aqui ele não xinga Gohan por ter sacrificado o braço dele em vez de focar na luta… ele tá com vergonha de ser um fardo. Ele tá ciente que nunca esteve ao alcance dele vencer Cell….

Mas não é o fim de Vegeta no arco, foi no fim da luta, quando Cell e Gohan se enfrentam em um grande choque de Kame Hame Has, pra ver quem ia triunfar. Cell recebe um ataque pelas costas de Vegeta. Não forte o suficiente pra machucá-lo. Mas forte o suficiente pra fazê-lo perder o foco, e fazer com que Gohan o mate.

Com Cell morto, Vegeta abaixa a cabeça, ele se sente derrotado por Gohan, sente que pai e filho ambos o venceram. E aí ele jura treinar mais e vencê-los? Não! Ele jura nunca mais lutar.

E ele abandona as batalhas por 7 anos! Vegeta passa 7 anos de boa, tocando a vida. Ele se casa, se foca em criar Trunks e em ser um terráqueo. Ele tira seu orgulho e seu desejo de superar Gohan do controle. Por que? Porque ele só faz merda. Porque sempre que Vegeta permite que seu orgulho guie suas decisões, não somente ele paga, todos pagam, tudo dá ruim, e ele ia parar se ser um tremendo fardo.

Isso é, aí na Saga Boo, como nós lembramos, ele passou por algo que muitas pessoas com problemas de vício passam. Por uma recaída. Uma crise de meia-idade somada a uma impressão de que ele tinha uma única chance que não se repetiria de tentar superar Goku motivou ele a fazer o que? Uma merda colossal que quase destruiu o planeta.

Mas dessa vez, diferente de Cell, ele admitiu uma coisa simples. Que ele tinha a responsabilidade. Que é culpa dele que Boo foi revivido, então ele não queria se gabar pra Boo de sua superioridade, ele não queria alimentar seu ego, ele reconhece diante de Boo que ele pôs Bulma, Trunks e a Terra em perigo, e cabe a ele tirá-los de perigo.

Vegeta tem uma recaída pesada no arco Boo, mas é o que foi, uma recaída, um momento de fraqueza, mas o trabalho que ele fez por sete anos teve resultado. Vegeta na Saga Boo é empático, prioriza salvar os outros a todo momento. E no final enfim fica em completa paz com o conhecimento de que ele jamais superaria Goku, e tava tudo bem.

A última coisa que Vegeta faz, no epilogo, é se inscrever em um torneio, só pra checar a força do Oob, e concordar entregar a luta pro Mr. Satan caso necessário. Vegeta se tornou alguém que aprecia torneios, e que não se importa de perder de propósito.

Vegeta gosta de lutar. Vegeta ama lutar, é o que faz bem pra ele. E nem todo personagem de Dragon Ball gosta de lutar. Goku, Vegeta, Piccolo e Tenshinhan gostam, mas o resto…. O resto não. Todo mundo ali tem planos de aposentadoria e outras ideias de vida.

E Gohan especificamente não gostava de lutar. Gohan desgosta de violência, desgosta de lutas, ele não sente o tesão na adrenalina, e ele tem sonhos de ser um intelectual mesmo tendo o potencial pra ser o mais forte pra mim.

E na minha honesta opinião, de quem sabe em retrospecto de que transformar o Gohan em protagonista foi algo que foi tentado e o Toriyama não conseguiu, de quem está procurando soluções distintas de somente “faz o que não deu certo, que agora vai”, eu acho que era pro Vegeta assumir o manto do Goku.

Era pro Vegeta entender que ele tem que proteger a Terra, justamente pro Gohan não precisar. O Gohan tem seu próprio sonho, e ele já foi obrigado a viver traumas terríveis e sacrifícios pra limpar a merda do Vegeta. Que agora o Vegeta deveria ser forte o suficiente pro Gohan não precisar parar seus estudos, parar o que ele gosta, pra limpar a merda dele de novo, ele deveria ser o protetor da Terra.

Porque a real sobre Gohan, é que na Saga Cell ele explicitamente afirma odiar lutas, e é tratado como um twist a ideia de que ele não tem vontade de ser como o pai, e o Goku projetou a própria personalidade no filho, algo que ele não deveria ter feito.

Algo que Goku percebe no arco que foi um erro.

E no meio da luta, porém, Gohan desperta seu orgulho, desperta o instinto Sayajin…. E aí o Gohan dá de Vegeta, e faz merda.

Outros personagens dando de Vegeta:

O orgulho é a fonte primária de erros do Vegeta. Mas não somente de Vegeta. São muitos personagens que pagam o preço de acreditar que “provar superioridade”, “não admitir a derrota” e “ser o campeão que fez tudo sozinho” não são motivações válidas, são papo de fracassado e que trazem consequências terríveis.

Começando com Gohan. Quando Gohan virou um Super Sayajin 2, ele tem uma mudança brusca de personalidade, ele fica mais sério e mais frio. E ele decide que ele era tão obviamente superior ao Cell que ele não queria só matar Cell, ele queria torturá-lo e fazê-lo sofrer por tudo o que fez. Goku aconselhou Gohan a não fazer isso, a resolver rapidamente a situação sem dar tempo do Cell reagir, mas Gohan brincou com Cell até Cell resolver virar uma bomba que explodiria tudo.

…um problema grande que põs todo mundo em perigo e que teve que ser consertado com o Goku sacrificando a própria vida. E na uma vez na vida inteira de Gohan, em que ele deixou o guerreiro dentro dele falar mais alto, ele causou a morte do próprio pai.

O que não seria realmente um problema pro Cell, se Cell não intencionalmente despertasse a forma Super Sayajin 2 de Gohan, pois queria lutar com Gohan na sua forma máxima, e pagou com a vida pela arrogância.

O próprio torneio do Cell foi uma maneira dele provar superioridade, esfregando na cara de todos, que nem com 10 dias de preparo eles tinham condições de fazer nada. E eles tiveram chance de fazer algo, Cell morreu.

Aliás isso aí é super coisa de vilão. Lembram quando Goku deu um resto de ki pro Freeza fugir e sobreviver, e o Freeza se recusou a fugir em derrota e desafiou o Goku até o último segundo só pra levar mais porrada?

E aí tendo sobrevivido, ele em vez de ficar de boa, ele resolveu se vingar, só pra ser picotado em mil pedaços?

Freeza podia ter ficado de boa com a derrota e ido cuidar da própria vida, mas aí seria viver em vergonha e preferível é viver na glória.

Quando Piccolo ressuscitou na Saga Freeza, ele gastou um desejo das Esferas do Dragão pra ir pessoalmente até Namek, fazer Freeza pagar nas mãos de um Namekiano, crente que ele era superior a Freeza, onde ele apanhou e serviu de fardo ao longo da saga. Um desejo a menos pra Gohan ter um peso extra pra carregar.

E Dende se recusou a usar seus poderes pra curar Vegeta, pois ele tinha que honrar seu povo, que Vegeta massacrou. Mas Piccolo pede que Dende seja pragmático e cure Vegeta, pois eles precisavam dele.

E os Androides 17 e 18, decidem que eles querem matar Goku só pelo desafio de matar o homem mais forte do planeta. Sem perceber que ao criar contexto pra que os amigos de Goku o defendam, eles criaram a única situação no mundo que faria Cell localizá-los.

Os dois seriam completamente impossíveis de serem encontrados por Cell, exceto se eles achassem algum motivo pra antagonizar os heróis, mas o Androide 17 queria muito validar seu ego matando alguém forte… todos vimos onde ele foi parar.

Isso é tão coisa de vilão, que os heróis presumem já que todo vilão que eles enfrentam será orgulhoso e terá como objetivo lutar com guerreiros poderosos e dará a chance pros heróis treinarem e se transformarem, até que quando surge um vilão que não possui esse orgulho, ele efetivamente destrói a Terra em poucos segundos.

Nenhum momento em que o personagem pensa dessa forma, eles estão tendo boas ideias, e nenhum colhe as recompensas de seu orgulho? Ninguém triunfa quando acha que é superior.

Mesmo Goku, que ao virar Super Sayajin pela primeira vez passou pela mesma exata transformação de personalidade que Gohan. Ele ficou mais sério, mais frio, e mais orgulhoso. Ele falou com tanto orgulho instintivo de Sayajins, que Kaiô nem sequer reconheceu com quem falava, e declarou que ele não era mais Goku.

E somente pra provar um ponto, Goku estendeu a luta e ficou pra trás no planeta pra lutar, onde ele foi dado como morto, até a revelação de que ele sobreviveu ao risco desnecessário em que ele se colocou. Mas ficou três anos perdido no espaço até voltar pra Terra.

Nenhum personagem que dá de Vegeta colhe a glória. É sempre um erro, e a conta sempre chega.

Agora vamos falar de um personagem que é a antítese do orgulho.

E o Kuririn, hein?

Revisitando momentos de Dragon Ball pra esse texto, um momento me chamou muito a atenção. Quando após todo mundo apanhar do Androide 17 eles se levantam e se perguntam por que estavam vivos. Porque os androides não os mataram? E Piccolo explica que os androides consideraram os heróis tão fracos que não valiam nem o esforço de matar.

É legal, pois Piccolo estava errado. Nada a ver. Os Androides deixaram os guerreiros vivos, pois eles de fato não tinham o instinto assassino com o qual foram descritos, e o Kuririn, o único que escolheu não lutar com eles, mas escolheu conversar com eles, era o único que podia ver que existia outro caminho pros androides que não só ficar forte o suficiente pra matá-los.

Kuririn se apaixona pela Androide 18 nessa interação, e ele decide protegê-la quando ninguém acredita que ela era digna de proteção. Mesmo no final do arco.

Não é a primeira vez que Kuririn se mostra alguém que acredita no poder da redenção. Ele se considera um amigo de Piccolo, termo que mesmo depois de redimido, ele ainda era hesitante em usar com os demais.

Ele dá uma chance ao Androide 16, que seus colegas não queriam dar.

E ele estava confiante desde o começo da Saga Cell, que se eles todos fizesse sua parte e dessem um pouco de corda, existia esperança pro Vegeta.

Kuririn também instantaneamente acredita que Jess tinha ficado amigo de Goku, quando Ginyu e Goku trocaram de corpos.

Kuririn acredita que as pessoas podem ficar boas e mudar de coração. E por isso ele não vê o mundo em termos de que os problemas dele podem ser solucionados se ele for o homem mais forte do mundo.

Ele descaradamente joga sujo e trapaceia pra vencer os torneios. Pois ele não quer de verdade provar sua força, ele quer achar estratégias que o façam vencer.

Diferente de muitos outros personagens, Kuririn não quis esperar Cell ficar nada forte, e foi quem matou ele na forma de feto, pra garantir que não teriam que lidar com ele crescido.

Quando Vegeta e Nappa tentam forçar um torneiozinho de Saibaimans com os heróis, Kuririn é quem nega os joguinhos matando todos de uma vez só, ao ver que Yamcha morreu.

Kuririn raramente luta no 1×1, tendo lutado sozinho só em torneios ou na luta contra o General Blue láááá quando era criança.. Ele costuma lutar de galera, ele está constantemente no suporte, atacando o inimigo que está distraído com outra pessoa. Ele chama a atenção pro parceiro atacar.

O Kuririn ataca pelas costas.

O Kuririn em pleno arco Sayajin, nunca imaginou que pudesse já ter superado Kame, o que ele claramente havia superado já desde o segundo torneio.

O Kuririn depois de ouvir de Vegeta que a única maneira de vencer Ginyuu era usando as esferas do dragão pra desejar a imortalidade a alguém, Kuririn então decide desejar que Gohan seja imortal, ele nem cogitou usar o poder consigo mesmo.

Kuririn pegou os planos de como desativar os androides e deu pra Bulma pra fazer aquele controle que ele eventualmente destruiu.

E ele é quem teve a ideia de ir pra Namek ressuscitar todo mundo.

E essa é interessante. Kuririn, um trapaceiro nato, que sempre luta usando truques e armadilhas, usou o orgulho dos Sayajins como uma fraqueza pra manipular Nappa a não esquivar de um kienzan. E quase funciona.

Kuririn sempre esteve abaixo do nível de poder mínimo pra ser relevante, ele sempre é o cara que apanha dos adversários. Por isso ele sempre usou a cabeça para compensar onde não havia força, pois Kuririn não tem interesse em ser a pessoa mais forte de todas. Por mais que o Kienzan seja feito de chacota por todas as vezes em que esquivaram, uma coisa notamos no Kienzan, ele é um golpe pensado em acertar o adversário pelas costas.

Mas ele já teve vontade de ser o maior! Kuririn já foi um cara arrogante, competitivo, obcecado em provar superioridade ao inimigo, que deixava o ego tomar decisões… e o que aconteceu? Ele passou décadas de sua vida morando com Kame Sen’in, seu mestre.

E como com todo mundo, sua arrogância era preparação pra vermos surra e humilhação.

E voltamos ao velho Kame, o cara que quis mais que tudo ensinar Goku a não virar um imbecil movido a ego.

Kuririn é o mais notório discípulo de Kame, pois ele nunca deixou de morar com o mestre, nunca deixou de crescer com o mestre, e nunca removeu o símbolo de kame de seu uniforme, diferente de Goku que foi substituindo o símbolo por novos, até deixar de usar símbolos.

Kuririn não luta por prazer, mas ele luta. Kuririn nunca fugiu de um campo de batalha, e tem confrontos diretos com todos os vilões que ele está vivo na hora do ataque. Ele jogou uma Genki Dama em Vegeta. Ele cortou o rabo de Freeza. Ele avançou em cima de Cell.

E no mangá não mostra, mas o anime dá a ele a dignidade de tentar lutar com Boo pra proteger sua esposa e sua filha.

Kuririn entende que ele tem a responsabilidade de lutar e proteger quem ele puder. Ou melhor, que ele tinha, até se aposentar, e decidir que sua esposa e sua filha seria sua prioridade mais do que arriscar a vida nesse tipo de luta. E aí ele se aposenta, e fica feliz coma aposentadoria.

Lutar não é a vida dele. Vencer não é tão importante. A derrota não é uma humilhação. Ele é um cara legal. Ele é amistoso. Ele é favorável a transformar um vilão em um aliado, ou a vencer na trapaça se for pra proteger a Terra.

Acho que o Kuririn já usou o Tayoken mais vezes que o Tenshinhan que supostamente era o “dono” do golpe.

Ele lê bem as emoções dos amigos, sempre sabe o que está acontecendo, ele entende o que os amigos estão pensando, e confia neles.

Goku tinha um plano.

Kuririn é um exemplo de ser humano. E ele é uma pessoa que faz a diferença positiva na vida de todos os personagens.

Mas a percepção do público é a de que ele é um perdedor. Estamos acostumados a ler mangás iguais a Dragon Ball, para acharmos que personagens como Vegeta são um sucesso e personagens como Kuririn são um fracasso.

Mas a real é que…. O Vegeta estava em uma vida de fracasso antes de seu arco de redenção engatilhar. E ele só deixou de ser um fardo inútil, depois que ele deixou de se apoiar somente em seu orgulho. Enquanto que Kuririn nunca foi um fardo. Nenhuma luta a gente tem a impressão de que o Kuririn no campo de batalha fez todo mundo quase morrer. Que a única contribuição dele era atrapalhar. Pois ele nunca atrapalhou ninguém.

Curioso fazer esse contraste entre Kuririn e Vegeta, pois existe uma mancada que no mangá eles responsabilizam unicamente o Vegeta, mas no fandom, gostam de dividir a culpa entre Kuririn e Vegeta.

Que é a absorção da Androide 18. Vegeta escolheu não matar Cell pra alimentar seu ego, e Kuririn escolheu não matar 18, pois ele estava apaixonado por ela. E por isso os dois não fizeram o seu trabalho e permitiram que Cell absorvesse 18 e ficasse perfeito.

Piccolo reconhece que Kuririn não fez o plano B, mas imediatamente ele responsabiliza Vegeta como quem de fato fez merda. E lembrando que o julgamento de Piccolo possui a sabedoria de Deus.

Kuririn age em amor ao próximo. Vegeta age em amor a si próprio. E isso faz Vegeta ser o problema.

Vegeta é o fracassado! Afinal, não foi humilhante pra Kuririn apanhar de Cell tentando proteger 18, mas foi humilhante pro Vegeta.

E normalmente o texto acabaria por aqui, mas eu tenho um problema sério.

Eu preciso dedicar um espaço mínimo em cada texto meu pra cagar em cima de Dragon Ball Super:

O episódio que eu mais odeio em Dragon Ball Super, é a dupla de episódios na verdade, 75 e 76. O arco sobre o Kuririn saindo da aposentadoria. Aquele em que a Androide 18 descobre que o Kuririn não é mais um grande exemplo de força e poder, e a filha deles fica com vergonha do pai ser fraco, e Kuririn decide que ele tem que voltar a lutar, mas pra isso tem que superar o medo e o trauma deixado nele por todos os vilões que já o mataram e/ou o superaram.

O que é uma tentativa do Super vender a ideia de que existe carga negativa no quão não-forte o Kuririn é. Um julgamento de que ele precisa de mais coragem e mais autoestima pra poder ser um guerreiro, recuperar sua honra e seu orgulho, e ir lá parar de passar vergonha. Marcado por ele voltar a raspar a cabeça pra mostrar que ele retomou o compromisso com sua honra.

O que é mostrado em alto contraste com o Vegeta dando uma grande marcha ré em toda a sua evolução enquanto ser humano. Em fazer Vegeta decidir que ele não está de boa em ser mais fraco que Goku, voltar a ser obcecado em ser o número 1, e o pior, em dar uma transformação nova pra Vegeta em que ele consegue transformar seu ego em arma pra derrotar o inimigo.

O anime, o mangá e os filmes do Super servem pra recompensar personagens que tomam decisões baseadas só no orgulho e no desejo de provar que são mais fortes que os demais. E em julgar personagens aposentados.

O Gohan é amplamente julgado pela história, e pelo fandom, pela escolha de se tornar um acadêmico. O que eles enquadram como uma falta de responsabilidade de Gohan, que tem o dever moral de nunca parar de treinar, pois sem ele ninguém protege a Terra.

E nisso, eu acho que o Dragon Ball Super constrói uma imagem muito bizarra sobre pra que serve ser forte.

Eu não acho que Dragon Ball Super é só uma picaretagem administrada por empresários tirando leite de uma vaca morta pra ganhar mais dinheiro. Eu acho que o Toyotaro é um genuíno fã. 

Existe uma mão também do próprio Toriyama em Dragon Ball Super, mas nunca é fácil dizer o que foi ideia dele e o que não foi, e honestamente, menos fácil ainda traçar qual é a conexão emocional do Toriyama em manter as versões atuais de Dragon Ball tematicamente consistentes com o mangá que ele escreveu nos anos 1980.

Porque vamos ser sinceros aqui, cá entre nós, eu estou homenageando Dragon Ball, pois o falecimento dele me afetou. Mas é porque ele recém faleceu que é a hora de não deificar ele. Nosso instinto é lembrar de seu gênio e infalibilidade. Mas o Toriyama em vida foi famoso pelo quanto ele esquecia o próprio mangá. Ele esquece personagens, esquece coisas que desenhou, esquece as próprias ideias e isso virou até meme no público dele.

Dragon Ball tem um lore que constantemente se reinventa indo pra novas direções de maneira que as vezes até confunde o fandom. Piccolo era um demônio, aí passou a ser um alien, e vemos literais demônios. O panteão de Dragon Ball é levemente confuso, pois achamos que já conhecemos Deus e aí conhecemos novos deuses.

Então o fandom de Dragon Ball Super usa muito a presença do Toriyama para tentar falar que esse spin-off é uma continuação canônica oficial dos desejos sinceros do criador em como continuar a obra e negar isso é negar o gênio do Toriyama…. Mas cá entre nós, ele não tem na minha opinião o perfil de quem consegue de fato escrever uma história que vive de revisitar o passado, de trazer vilões novos de volta, e resgatar secundários, e explorar dicas de lore ditas e deixadas soltas.

Sabem, as vezes a gente tem que esquecer das coisas, pra sobrar espaço na cabeça pra criar coisas novas, e esse era o perfil do Toriyama, mas esse não é o perfil de Dragon Ball Super. Mesmo o imput criativo dele oferecido ali, é derivado de uma clara pressão dele ser digno ao Dragon Ball original que ele criou, e não em ele continuar a fazer o que ele já fazia.

Enfim. Eu acho que o Toyotaro e os outros envolvidos em Dragon Ball Super são fãs genuínos, que amam Dragon Ball.

Porém, como qualquer um nota passando tempo mínimo na internet falando de otakices, fãs as vezes tem percepções muito escrotas sobre o que uma obra mostra e qual é o apelo dela, em especial com shonen de porrada. E eu acho que Dragon Ball Super foi sequestrado pelo perfil de fã que acredita que o valor dos personagens deriva da sua capacidade de mostrar superioridade no combate.

E que portanto Vegeta é um personagem digno de admiração, e que o Gohan é uma vergonha por não viver o seu potencial de homem mais forte do universo, como os fãs queriam que ele vivesse. Uma fantasia de poder necessário pra quem quer preservar um modelo de masculinidade que muito otaku acredita estar sendo ameaçado pelos valores modernos.

É uma noção péssima, que acha que a maneira de fazer velhos personagens recuperarem seu valor, é forçadamente fazer eles voltarem a ser porradeiros, em um contexto em que a presença deles como guerreiros já passou, mas não significa que a presença deles como membros do grupo tem que passar.

O hype da força de Kame lutando o Torneio do Poder, ou pior ainda, fazer o Androide 17 conseguir ganhar o torneio são grandes exemplos disso.

E fazer o Kuririn sentir vergonha da covardia que fez ele se aposentar e se desaposentar é parte disso.

E é uma visão muito ruim que apaga o valor dos acontecimentos e dos personagens em Dragon Ball.

Uma visão nostálgica, de que Gohan e Vegeta atingiram o auge deles na Saga Cell e que despreza o desenvolvimento de personagem deles, pois guia eles a não repetirem seus atos no futuro.

Por isso eu volto pros ensinamentos do mangá. De que não existe vergonha em se perder, saber que existe gente mais poderosa que você é bom, pois te ajuda a crescer, e principalmente, não existe espaço pra orgulho próprio na hora de proteger as pessoas.

E nos raros momentos em que os personagens em suas versões modernas não priorizam seu orgulho e ego, os fãs tratam como uma decaída do personagem, e não uma evolução.

Mr. Satan se humilhou pra Boo o quanto pode, e salvou a Terra, sendo amplamente reconhecido como quem teve a melhor abordagem pra lidar com Majin Boo, na amizade, motivada pela sua covardia.

Conclusão:

Nós lemos mangás de porrada querendo ver porrada! É natural de nossa parte como leitores. Mas a gente também quer uma fantasia de poder, queremos projetar admiração em gente forte, que não precisa responder os demais por ser forte, não deve respeito aos demais por ser forte. Queremos admirar quem dá a última palavra e ver de fato chutadores de bunda serem respeitados como grandes modelos.

Mas não é porque uma história é de porrada que ela está ali pra reforçar esses pontos. Muitos mangás de porrada tem muito que eles querem falar sobre os motivos pelos quais se lutam, o que realmente significa ser forte, e sobre qual o impacto que uma vida de lutas deixa num personagem. E muitas existem pra direcionar o protagonista a uma vida onde ele nunca mais lute.

E muitos fãs costumam ter aversão a refletir com o mangá sobre assuntos relacionados a força com base no que o mangá trás, pois os valores corretos já foram devidamente escritos em pedra pela comunidade.

Poder da amizade é ruim, pois é clichê e faz o herói não ter vencido sozinho. Se o herói tiver poderes impressionantes de nascença ele roubou, pois a história deve priorizar o trabalho duro. Ser filho de um fodão ou uma reencarnação estraga uma história de porrada. O personagem sem poderes é sempre o mais legal, pois ele compensa na porrada o que os outros conseguem com facilidade.

Circulam esse tipo de imagem imbecil, que honestamente só serve pra diminuir a obra em prol de um ideal de projeção de masculinidade da parte otária do fandom.

Esses valores não são relativos a proposta da história, eles são fixos. Um bom mangá de porrada é sobre um herói que usa o próprio esforço e muito treino pra compensar as vantagens que os outros têm na vida e se tornar melhor que eles e mostra essa superioridade na força. E se o mangá deixou de ser sobre isso, ele traiu os leitores. Mandam a conta dessa pra Naruto até hoje. Leiam meu texto sobre a predestinação do Luffy.

Mas mangás de porrada costumam contar histórias, e as vezes ficar preso demais na lógica fixa que se repete em vários fandoms não permite que você de fato consiga ver a história.

Porque as vezes a história é sobre não cometer os erros que esse cara fodão e chutador de bundas cometeu, pois ele viveu uma vida falha.

E a história de Dragon Ball é uma história sobre como existe espaço pra se amar lutas. Goku ama as lutas, existem momentos em que não importa se você ama lutas ou não, lutar é sua responsabilidade, mas em que não existem momentos, em que o que importa numa luta você validar seu orgulho e seu ego.

Muito se fala sobre o quanto Dragon Ball mudou desde seu começo como um mangá inspirado em um conto budista, sobre um grupo procurando artefatos mágicos em que a empatia e ausência de egoísmo em Goku era a chave que permitia que eles conquistassem seus objetivos.

Mas temos que considerar o quando ele realmente mudou, e o quanto ele de fato virou só uma celebração de pessoas se provando valiosas por soltarem grandes raios. Ou se ainda é uma história sobre a inocência e ausência de egoísmo de um rapaz, conquistando os objetivos.

Vegeta precisou levar uma série de humilhações, pra aprender o que realmente significa ser forte e ser forte significa não lutar somente por si. Significa não lutar pra vencer. 

E se não lutar somente por si é um tipo de força, então talvez um dos personagens mais fracos do mangá, sempre tenha sido um dos mais fortes.

Eu não tenho nenhuma crença no pós-vida, mas ele sempre retratou o Outro Mundo como um lugar legal, cheio de gatinhas e prazeres onde os mortos gostam de estar, e espero que o que exista no mundo seja parecido com o que ele imaginou.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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