Uma das primeiras coisas que a gente aprende na nossa vida, que aprendemos bem no começo da infância, é que nós não vamos ser crianças pra sempre. Toda criança tem o mesmo destino, vai crescer e virar um adulto.
Quando somos crianças nós convivemos com adultos, e nós somos ensinados a como nos portar diante de adultos, quais adultos devemos obedecer, quais não devemos interromper, com quais não devemos falar.
A gente vive num mundo controlado por adultos. Mas diferente de mulheres que vivem no patriarcado, ou de uma minoria vivendo no mundo do opressor, existe um ciclo inevitável em como os adultos mandavam na gente, pois um dia nós estaríamos do lado de lá, e nós é que mandaríamos.
Na vida real o nosso envelhecimento é marcado por diversas etapas e é algo bem gradual. Inclusive, sábio é o que percebe que não terminamos de crescer, amadurecer e se desenvolver depois de virar adulto. Enfim, passamos por uma série de meio termos e meio termos do meio termo. Temos a adolescência entre a infância e a vida adulta, mas temos a pré adolescência, para crianças que são quase adolescentes, mas não são. Temos os jovens adultos. E temos a nova noção de que a adolescência dura até os vinte e poucos anos agora. Temos ritos de passagem, fazemos festas de 15 anos, formaturas celebramos os 18 anos, o Bar Mitzvá, o primeiro emprego, a perda da virgindade ou qualquer outro sinal de que entramos em outra etapa da vida, Tem muitas etapas, nem todo mundo passa por elas no mesmo ritmo, nem todo mundo entende a si mesmo como passando por essas etapas nem faz os mesmos ritos de passagem.
Como tudo que envolve a nossa compreensão de quem somos no mundo é complexo, pessoal e funciona diferente pra cada um.
Mas na ficção é muito simples. Temos crianças e temos adultos.
E esse texto é o primeiro de uma série de dois textos em que eu quero observar e dissecar como contadores de história, na hora de simplificar o emaranhado de caos do mundo real para uma narrativa simples, trabalha com a ideia das diferenças entre as crianças e os adultos.
O primeiro texto vai se focar muito nas dinâmicas fictícias entre crianças e adultos que são retratadas. E em quais são os fatores que marcam a passagem de um lado para o outro. Ou seja, como que os personagens viram adultos.
E o segundo texto que vai vir logo a seguir vai trabalhar como as convenções da ficção científica e da fantasia criam personagens que por serem crianças em corpos adultos ou vice-versa, criam um meio termo entre os dois grupos, um personagem impossível de existir na vida real que pode transitar nos dois espaços.
Então eu sou Izzombie, bem-vindos ao primeiro texto do Dentro da Chaminé de 2024, no mês de aniversário do blog. Comemorando os 9 anos dentro dessa chaminé aqui, onde refletimos juntos.
Mas antes de começar quero falar sobre os patrocinadores desse blog. Tecnicamente são os próprios leitores, então eu quero falar sobre o financiamento coletivo no Apoia.se do Dentro da Chaminé.
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Pois esse texto é escrito em homenagem a todos que já me apoiam, os grandes heróis que tornam a longevidade do blog uma realidade! Sou muito grato a essa turma legal e agradeço a todos. Espero que gostem do texto.
Que é um texto sobre crianças e adultos.
Então vamos lá. Primeiro vamos no exemplo em que a divisão dos dois grupos é mais escancarada, que é nas histórias de revolta infantil.
A Revolta Infantil:
Galera, eu adoro uma boa história de revolta infantil. E pessoalmente, acho que é o papel da arte ensinar criança a brigar, se rebelar e desobedecer.
Sério, a criança já tem os pais e já tem a escola pra ensinar a elas que adultos são autoridade que elas tem que obedecer e se comportar. Os adultos e a escola tem motivos válidos pra ensinar isso, a criança ter alguma noção de disciplina e de respeito aos pais e professoras é importante. Mas a arte faz muito bem quando propões um contraponto.
Então diante de uma história em que as crianças se organizam para resistir e dar o troco para a autoridade dos adultos, e para determinar as próprias regras, fica a dúvida, como essas histórias decidem quem são as crianças?
Por exemplo. Peguemos um desenho animado como KND – Kids Next Door, na construção-de-mundo desse desenho, um grupo de crianças formaram uma organização secreta global chamada Kids Next Door para combater a tirania dos adultos e lutar pelos direitos das crianças. Essa organização é equipada com super-tecnologia digna da mais hiperbólica série de ação, e com uma base secreta na lua, pois não tem adultos na lua. E na série, quando uma criança faz 13 anos, ela é no dia de seu aniversário levada até a lua onde passa por um protocolo de apagamento de memórias, e esquece ter feito parte da organização. Dessa maneira ela não passará nenhum segredo para o outro lado, agora que ficou velha.
Então Kids Next Door marca a diferença aí, você deixa de ser a criança quando faz 13 anos, e se torna um adolescente, os grandes lacaios dos adultos.
Em Fairly Oddparents, é tudo uma questão de idade mental. As fadas são dadas pra crianças infelizes, e elas perdem as fadas quando viram adultos, mas tem aquele filme cringe em Live Action que mostra que o Timmy Turner consegue ficar com as fadas até os 23 anos, só se mantendo imaturo e se recusando a deixar de ser criança por dentro. Sendo assim, a magia dada pra ele se proteger dos abusos dos adultos ficará com ele até ele crescer por dentro, não importa o quanto ele cresça por fora.
Em Young Justice, não é um exemplo de um conflito, mas em um episódio separam a terra em duas realidades paralelas, uma só com crianças e outra só com adultos. Quem faz aniversário de 18 anos é instantaneamente teletransportado para a outra realidade no segundo em que dá meia noite.
Em Shadow House, a criança-sombra passa para o lado dos adultos no instante em que ela passa pelo violento ritual de passagem da unificação, em que ela rouba o corpo da criança humana que foi sua parceira ao longo da infância. E não importa a idade, crianças que não passem pelo ritual seguem sendo considerados crianças, pois os adultos ainda não as acolheram como um deles.
Em A Series of Unfortunate Events, as crianças aprendem que elas não podem confiar em nenhum adulto, pois todos adultos vão traí-las, cada um pelos seus próprios motivos. Elas determinam que adultos guardam segredos demais, e sentem que precisam filtrar o que dividir ou não com as crianças e mantê-las ignorantes como parte do processo de protegê-las ou manipulá-las. Mas no fim do livro, os três irmãos Baudelaire, agora com 18, 14 e…. nunca ficou claro a idade da Sunny, vamos presumir que ela tem 4 anos no Capítulo 14. Pois bem, no fim do livro, os três irmãos ao perceber que eles vão guardar segredos pra proteger a bebê que eles adotaram das verdades pérfidas do mundo, eles concluem que eles já oficialmente pertencem ao grupo dos adultos, por saber demais, por saber de verdades o suficiente pra tratarem crianças da maneira como foram tratados.
No musical Newsies, todas as crianças que vendiam jornal se rebelam e fazem greve contra o jornal, e quando eles precisam de reforços eles fazem um chamado, para todo trabalhador menor de 21 anos de Nova York se juntar a greve e mostrar o quanto a cidade de fato se sustenta em menores de idade fazendo o serviço ingrato pro conforto dos adultos.
Mas meu exemplo favorito é Matilda, e especificamente Matilda, The Musical em que as crianças se rebelam contra a autoridade da Trunchbull, que com sua perspectiva de querer enquadrar e quebrar a juventude, faz com que a Senhorita Honey, sua sobrinha esteja do lado das crianças, pois afinal, não importa o quão velha ela fique, quando está do lado da sua tia cortando sua independência, ela se torna uma criança tanto quanto suas alunas.
Seja por idade, por mentalidade, por ter passado por determinados rituais ou por saber demais. Esses exemplos todos têm uma clara noção de qual é o lado de cá e o lado de lá, a separação é clara. Não tem ninguém que está em dois lados ao mesmo tempo.
E em muitas delas vem o medo. O medo dos heróis um dia irem pro lado de lá.
Kate em Shadow House tem medo da unificação, e tem medo pelas crianças que podem passar por esse processo. Timmy Turner tem medo de virar adulto e perder as fadas. As crianças da Kids Next Door tem muito medo de fazer 13 anos e sair da organização. E no fim de A Series of Unfortunate Events o medo dos Baudelaire se tornou realidade, e é por isso que a série tem um final triste.
Em Breakfast Club os cinco protagonistas descobrem que apesar de serem de círculos sociais diferentes que não se dão bem, separados de seus grupos e próximos um do outro, eles notam que eles todos têm em comum o fato de odiarem seus pais, e odiarem o diretor da escola, e que não importa o quão diferente eles sejam, que o rancor deles contra adultos torna todos eles iguais.
E nisso vem o medo deles se crescer, de virarem adultos um dia e estragarem a vida de novas crianças.
Só a Matilda não tem medo de crescer. Pelo contrário, ela tem mais medo é de ter 30 anos e ainda ter um mais velho mandando em sua vida, pois ela não reagiu quando era criança. E é esse perigo que a Senhorita Honey representa e por isso que as crianças lutam.
Agora louco pensar que quando o assunto é idade, os exemplos não concordam quanto a qual é a idade. É 13? Pois dos 13 em diante nos tornamos adolescentes? Ou é 18 quando viramos legalmente maiores de idade? Pois dependendo do estado dos EUA ou do país no mundo, a maioridade vem aos 21 anos, que é a idade que os Newsies declararam como a idade que separava quem tava na greve dos adultos.
O Japão recentemente mudou sua lei da maioridade pra separar e justamente permitir que os jovens japonesas possam agir legalmente como adultos em algumas situações a partir dos 18, enquanto seguem só podendo beber após os 20.
Em conflito geracional a idade do inimigo é sempre um assunto complicado. O grande ativista da juventude de esquerda dos anos 1960, Jack Weinberg cunhou a frase “Não confie em ninguém com mais de 30 anos.”
E no episódio que as crianças declaram guerra aos adultos em Fairly OddParents, o Timmy abaixa pra um terço disso e grita “Não confie em ninguém com mais de 10 anos”.
Essa frase é boa, pois não é sobre de fato a pessoa se metarmorfosear no inimigo, mas é a partir de qual momento as demais crianças já não são mais capazes de confiar em você e acreditar que você é um igual a elas.
A partir de qual momento as opressões dos adultos já não se aplicam mais para aquela pessoa?
Em Jujutsu Kaisen o personagem Nanami tem uma fala famosa, em que ele declara que o que te transforma em adulto é se acostumar com as pequenas infelicidades do dia a dia. É diferente, mas tem rimas com a visão do que passa com os Baudelaire, em que um dia a vida simplesmente quebra seu idealismo e sua esperança, e aí você é um adulto… e a gente vai ver muito mais disso mais pra frente no texto.
Pois não é incomum essa visão. Especialmente em histórias sobre crianças que cresceram rápido demais. Menores de idade que viraram adultos na base do trauma, e tiveram que ser independentes, responsáveis e pôr a vida nos trilhos bem antes do que era o esperado pra poderem lidar com a vida terrível que tiveram. Fullmetal Alchemist aborda muito essa ideia sobre como os Irmãos Elric são crianças, mas se inseriram no mundo adulto demais.
Outras histórias sugerem algo no caminho oposto. Em várias animações adultas, sugere-se que protagonistas excessivamente infantis e que mal se portam como adultos funcionais, tem um passado de muito trauma, um que fez eles perderem parte de sua infância que eles tentam reviver constantemente agora que tem mais controle de sua vida. Essas histórias regularmente enquadram símbolos da vida adulta como álcool e sexo, como extensões da personalidade infantil de alguém que só quer brincar e não quer amadurecer.
Mas é, voltando ao tema da rivalidade entre crianças e adultos. Muitas histórias focam em como as gerações não se entendem e não se dão bem. E o mais importante, são histórias infantis, elas são escritas pra crianças, ou no máximo pra adolescentes um pouco mais velhos, no caso de Shadow House, e elas são contadas na perspectiva das crianças.
Quando se conta uma história de crianças vs adultos sob a perspectiva dos adultos, vira um dos subgêneros mais sinistros com o qual os filmes de terror trabalham. A criança fica menos profunda e interessante, e se torna em vez disso a face do mal, e existe algo assustador na criança maligna que os filmes de terror trabalham que é assustador em sua mera estética.
É assustador pra adultos ver que as pessoinhas adoráveis de quem cuidamos como seres imunes a nossa influência, a nossa educação e completamente fora de nosso controle.
E cá entre nós, eu acho que The Exorcist é justamente sobre o pânico social de pais conservadores dos anos 1960 que não reconheciam mais seus filhos depois da mudança cultural e revolução sexual que conquistou os jovens na época.
E isso ocorre pois histórias de conflitos entre crianças e adultos que seja menos um conflito pessoal de uma criança contra um adulto e mais um conflito coletivo, são sobre controle, sobre pode, sobre entender que as crianças estão temporariamente numa posição em que essas pessoas que não são tão sábias quanto acham que são tem completo poder sobre elas. Sobre como sendo bem ou mal intencionados, essas pessoas têm poder pra estragar a vida delas completamente.
E o fato dessa situação ser temporária sempre traz essa noção na conversa, de que se o adulto for o inimigo, então toda criança está destinada a ser o inimigo? O medo de crescer pode ser o medo de se tornar o inimigo. De começar a pensar como seu pai pensa, de lembrar de acontecimentos na sua infância que você considerou injustiças, um castigo aplicado que realmente te revoltou, e pensar na perspectiva da sua mãe e concordar com ela.
Quando histórias sobre a diferença entre crianças e adultos são sobre crianças e para crianças, é com isso que se lida., com uma guerra, um conflito, e uma noção clara do controle.
Mas e quando a perspectiva está nos adultos e o filme não é um filme de terror?
Adultos tendo que lidar com criança:
Acabamos de ver as histórias de crianças que não querem papo com adulto. São histórias de revolta, de organização, das crianças se entendendo como uma classe, sobre exigirem respeito, bom-tratamento e com iconografia que remete a revolução e luta organizada.
Pois bem e histórias sobre adultos que não querem papo com criança não são nada disso.
Adultos que odeiam crianças são, naturalmente, um arquétipo comum de vilão de filme, geralmente tendo nesse traço algo que marca ele como absolutamente podre, afinal crianças são o tesouro da humanidade e odiá-las é odiar tudo que existe de bom e ético no mundo, na ficção. É igual os cachorros.
Mas temos os personagens que não odeiam crianças, só…. Não querem nada a ver com elas. Não querem se associar com elas, não tem paciência com elas, não tem interesse nelas, e querem viver sem elas.
E aí o plot vai fazer o que? Vai obrigar um deles a ter que interagir muito com uma delas. Mas tipo, muito mesmo.
A criança pode ser o filho biológico do personagem. E ele estar na fase delicada do conflito geracional.
Ou a história pode ser sobre um filho adotivo, um enteado, ou uma criança que se tornou responsabilidade do adulto mesmo sem nenhum rótulo de paternidade ter surgido. Mas a criança tá ali e alguém tem que cuidar dela. Essas oferecem mais dificuldade, pois podem evitar o amor incondicional por default de quem a gente presume que já virou a noite pra criança parar de chorar e já trocou as fraldas. Que é só um adulto que ganhou uma criança na sua vida do dia pra noite, que já fala e já reclama.
No geral as histórias tentam fazer o contato ter algum rótulo paternal em alguma perspectiva, pra evitar que o personagem seja confundido com um pedófilo. Porém outras histórias fazem da implicação de que um adulto não deveria ser próximo de uma criança com quem não é parente, parte da trama e do conflito, sem fazer o personagem de fato ser um pedófilo.
Quando se fala da relação entre crianças e adultos na ficção, o espectro do que o expectador vai sentir como uma rima pra pedofilia é algo presente em algumas obras, e o texto que vem vai abordar isso com detalhes. Pois apesar disso, existem alguns níveis saudáveis em que um adulto pode de fato ser amigo de uma criança.
E níveis não saudáveis mesmo quando o personagem não é pedófilo….
Mas retomando, o mais interessante mesmo, é quando a criança que atormenta o personagem, é aquela que vive no passado do personagem. O fantasma da criança que ele um dia foi e como ela dialoga com o adulto que ele virou.
O filme The Kid faz isso literalmente, com o Bruce Willis de fato encontrando uma versão sua do passado que fez alguma espécie de viagem no tempo, e aí ele tem que encarar a decepção de seu eu do passado com o adulto que ele virou.
Mas isso pode ser feito metaforicamente. Um personagem foge da sua infância, geralmente numa tentativa de fugir de sua cidade natal, de um trauma ou de seus pais, ele acaba fugindo de si mesmo. Até ser obrigado a voltar pra casa e lidar com a criança que ele era, e com o quanto ele cresceu.
Esses personagens costumam vir em dois sabores diferentes, contrastantes.
Pode vir como o workaholic, que vestiu de maneira extremamente apropriada a máscara de adulto. Ele tem gravata, ele tem carro, ele tem dinheiro, responsabilidades, ele tem tudo. O que ele não tem é: tempo e humor. Tendo que estar sempre pensando no trabalho, e tendo sufocado alguns sentimentos, gostos e sonhos pra poder triunfar no mundo adulto.
Esses precisam aprender a lidar com crianças para poderem reviver a sua criança interior, e recuperar o que ele perdeu ao crescer.
O outro sabor é o do adulto disfuncional, desempregado, perdedor, irresponsável e infantil. Que precisa ao encarar uma criança, entender que ele não é uma, e se tornar uma pessoa responsável pra entender que seu papel na dinâmica é ser o adulto e ser capaz de guiar a criança.
Curiosamente mesmo esse adulto mais infantil geralmente não gosta de crianças, pois quando você é um adulto imaturo, a ficção retrata isso mostrando você se envolvendo com atividades impróprias pra crianças, como sexo casual, álcool e drogas.
E os dois tipos aqui acham crianças irritantes.
Elas são curiosas, o que torna elas intrometidas. Elas falam sobre o que observam, o que faz elas exporem mentiras. E elas são chatas, querem atenção.
E as crianças questionam o mundo adulto. Elas fazem perguntas que obrigam o personagem a pensar “como eu virei quem eu virei?” O que mais vezes do que não significa “Como minha vida deu tão errado?”
Pois não importa se é um CEO ou um perdedor morando de favor no sofá do amigo. Essas histórias sempre apresentam crescer numa luz negativa. E a criança como um contraponto, alguém para lembrar o adulto de ir atrás de seus sonhos e de sua felicidade.
Existe uma associação forte de vida adulta com infelicidade as vezes. Quase como se fossemos todos felizes, bobos, risonhos, e aí a vida começa a dar porrada na gente, e quando a gente tem entre 12 e 20 anos em algum momento ela dá a porrada que nos quebra de vez, que faz a gente não querer levantar mais nem ter o próximo round, e aí quando a gente decide que vai ficar no chão mesmo, é quando viramos adultos.
Um ato de rendição.
Nessas histórias a diferença entre uma criança e um adulto, não é a idade, ou a maturidade, ou a independência.
A diferença é que a criança tem sonhos, tem a capacidade de imaginar um futuro, e a energia de querer que as coisas mudem. E o adulto tem acomodação, ele não vive na própria esperança, ele vive no mundo real, onde ele faz o seu melhor, onde ele precisa pagar boleto, onde ele não tem energia pra lutar por mais que seu conforto imediato e o de sua família.
Mas isso é como os personagens sentem, não significa que é o que o filme diz.
Pois no final dessas histórias, o adulto está muito mais ajustado, mais reconectado com sua história, mais evoluído e segue conectado ao seu papel de adulto. Pois ele pode reconstruir sua identidade de adulto em outros termos, sem ser pelo desapego aos sonhos e ao passado, mas pelo contraste direto a uma criança.
Para esses filmes, o que te torna um adulto é ter uma criança pra guiar.
Você se fixa de verdade como parte da geração anterior, quando a nova geração depende de um mais velho, e você é capaz de ser esse mais velho. É aí que você cresceu de verdade. E supera o falso crescimento de somente rejeitar a própria infância, a própria família e o próprio passado.
Então vimos como é retratado o conflito, de como as crianças imaginam que vão virar adultos.
E aí vimos o conflito de como os adultos interpretam que eles viram adultos.
Mas a ficção tem o hábito também, cá entre nós muito mais comum que os outros dois itens somados, de só mostrar o momento exato em que se vira adulto. É o assim chamado coming-of-age, um dos grandes gêneros narrativos.
Coming-of-Age:
Ah! Literalmente um dos maiores temas narrativos de todos os tempos. Coming-of-Age, as vezes é traduzido como “histórias sobre amadurecimento”, mas nunca realmente cunhamos um termo em português pra ser usado aqui.
Coming-of-age são filmes que se passam durante o período de passagem da vida dos personagens em que eles ao longo do filme fazem o amadurecimento que é parte da transição de criança para adulto. Sejam histórias que de fato cobrem um período longo da vida do personagem, ou o retrato de um único dia que permitiu uma auto-reflexão grande.
Mas reforço aqui, esse processo é longo e não é simples.
Então na verdade, em muitos exemplos o protagonista faz parte do amadurecimento, para caber em uma história simples. Com o expectador sabendo que ele ainda tem mais mudanças pra fazer, mas já fez uma das mais importantes.
Geralmente a gente associa coming-of-age a histórias realistas em ambientes familiares sobre a vida cotidiana, geralmente com grandes traços autobiográficos do autor. E com razão, alguns dos mais famosos são nesse estilo.
Mas histórias de fantasia e aventura também se concentram muito em mostrar essa passagem do protagonista pra vida adulta, e elementos como entrar em contato com a magia, se aventurar e enfrentar as forças do mal, são maneiras de fazer o personagem se tornar um adulto. O que é o motivo pra tantas histórias de aventura e fantasia usam adolescentes como protagonistas.
Afinal, um número muito grande de histórias quer contar a história da mudança, da transformação e de como os eventos que você testemunhou vão impactar a vida dos personagens pra sempre. E é muito intuitivo misturar esse tipo de jornada, com a jornada pra se tornar um adulto.
Histórias coming-of-ages mostram o personagem em um período de transição, então o personagem tem um distanciamento tanto da infância quanto da vida adulta. E uma visão introspectiva de si próprio. O personagem precisa passar por isso.
Então o protagonista terá seus amigos, que serão personagens humanizados e que conheceremos como indivíduos. Mas o conceito de um personagem que seja um grupo vai existir na história, para apresentar o conceito de pressão dos pares, pressão por pertencimento e de rituais que o protagonista tem que passar por pra ser considerado um igual a demais pessoas de sua idade.
E esse tratamento põe uma fonte de hostilidade na metade jovem da história. Nos lembra que quando somos jovens, lidar com outros jovens é um grande desafio ou com bullying.
A metade adulta também é representada como fonte de hostilidade. Temos geralmente um grupo pequeno de adultos, de mente aberta, dispostos a assumirem o papel de mentores e como fonte de esperança diante de um grupo maior de adultos que através de expectativas, pressionam os jovens a irem em direção a um molde pronto.
Assim como no bloco anterior, eu mencionei que os adultos acham que eles envelheceram ao abandonar os sonhos, mas isso não é necessariamente verdade. Nesses filmes existem ritos de envelhecimento, que os personagens acham que é a chave da vida adulta, mas o filme não necessariamente corrobora.
O principal deles é o desenvolvimento da curiosidade sexual, a exploração sexual e uma grande série de “primeiros” que podem culminar na perda da virgindade. Muitos personagens vão atrás do primeiro contato sexual achando que ali está a barreira pra vida adulta.
Em um de meus mangás favoritos, Domestic na Kanojo, já analisado nesse blog, os protagonistas Natsuo e Rui transam pouco após se conhecerem em um karaokê, eles mal se conheciam e mal estavam atraídos de verdade um pelo outro, mas tinham o desejo comum de perder a virgindade, pois ambos queriam ser tratados em pé de igualdade quando conversassem com Hina, irmã de Rui e crush de Natsuo. Então eles decidiram juntos jogar ambas as virgindades pela janela.
Após o ato, ambos notam como eles sentem que nada realmente mudou na vida deles. Ela diz fria que nem sabe o que seria um bom sexo, que ela não sente que pertence àquele mundo o suficiente pra julgar a performance de Natsuo.
Em The Graduate, mais conhecido no Brasil como A Primeira Noite de um Homem, chamando grande atenção ao fato que eu vou citar, o protagonista está perdido na vida e sem rumo, e é seduzido em perder a virgindade com uma amiga de seus pais, Sra Robinson, em um caso que não realmente dá rumo pra vida dele. E que depois ele precisa romper esse caso pra se aproximar da mulher por quem ele realmente se apaixonou.
Juno, começa com a personagem-título grávida acidentalmente de um rolo casual que teve com o vizinho, que pelo tom da cena não parecia ser a primeira vez dela. E nossa, ela certamente não era uma adulta no começo do filme Mas ela termina o filme com ela tendo uma compreensão maior do mundo adulto que não vieram dela ter pegado o vizinho.
Mas começaram nisso.
Não o ato sexual em si e a experiência de sentir a maciez de um seio ou de gozar. Mas a percepção de que nada realmente muda sobre sua maturidade e percepção de si depois do primeiro contato sexual é talvez uma grande revelação, pois é parte da perda da inocência e da idealização. A descoberta de que o mundo adulto não é o mais doce dos nectars ele é só o que é.
Muitos coming-of-ages não querem bater na tecla do primeiro amor ser pra sempre. Mas bater na ideia de como a finitude do primeiro amor, e o fato de que ele causa prazer e dor, é algo que te tira do mundo idealizado da infância. Amores falhos, imperfeitos, erros cometidos com alguém que não era pra ser.
Não é muito incomum também, histórias de coming-of-age em que o primeiro contato sexual é um ato de abuso ou violência em contato com um adulto. Além da já mencionada Sra Robinson que é um exemplo famoso de mulher mais velha problemática, temos o caso do filme The Perks of Being a Wallflower ou do mangá Oyasumi Punpun que retratam o protagonista sendo abusado por mulheres mais velhas.
O que é inclusive, uma maneira como muitos homens perdem a virgindade, e que raramente veem a público, pois a maneira como somos ensinados a entender masculinidade faz muitos terem dificuldade de entender como foram abusados e como tiraram vantagem de sua vulnerabilidade. É um fato assustador com o quanto não se fala disso. E quanta gente fala com orgulho, se gabando te ter perdido a virgindade cedo pra mulheres dez anos mais velhas.
Enfim. A Juno não foi abusada, mas um homem adulto em quem ela confiava passou a paquerar ela de maneira que fez Juno perceber que um homem adulto se portando demais como jovem era um problema e revelou o cara como uma péssima pessoa.
Isso é uma ponte pra algo fundamental nessas histórias que é justamente a perda de confiança nos adultos. Seja por receber atenção sexual indesejada e as vezes traumatizante, ou por outros motivos. Os personagens passam pela revelação de que pessoas em quem confiavam, não estão do seu lado.
E esses dois elementos. A descoberta de que a perda da virgindade não é um rito de passagem que te faz acordar uma pessoa nova. E que os adultos em quem você confiava não são tão confiáveis e legais, juntos configuram a chamada perda da inocência.
Durante o momento de perda da inocência, a exposição da criança à traição, manipulação, trauma, e a feiura do mundo adulto, fazem ela perder a ideia idealizada de um mundo feliz e faz ela entrar no mundo real, em que os horrores do mundo não são mais filtradas pra ela.
Alguns personagens perdem sua inocência muito cedo. Muito antes de virarem adultos.
Alguns perdem depois que já são adultos, na real.
Mas é marcado como um processo que normalmente acontece durante nosso crescimento. Para ajudar o jovem a lidar com a perda da inocência ele precisa de redes de apoio, amigos, mas de preferência, um adulto, que já esteve lá, que já passou por aquilo e pode confortar a criança de que ela vai ficar bem.
Por isso apesar de ter a traição de um adulto e a perda da confiança, a figura do mentor é necessária para contrabalancear isso.
Eu falei acima do sexo como algo que o jovem vai descobrir que não realmente te transforma em um adulto do dia pra noite. Porém o sexo muito raramente é retratado como algo negativo nessas situações, ou decepcionante… só as vezes decepcionante. Mas nessas narrativas, o primeiro contato sexual, quando não é um caso da criança sofrendo abuso, é retratado como a exploração que vai permitir ao jovem ganhar a auto-estima e a confiança que ele vai usar pra triunfar em outras áreas da vida.
No fim das contas. Os filmes tratam a confiança e auto-estima adquiridos através da exploração sexual, e a perda da inocência como as duas ferramentas que a criança precisa para fazer a passagem pra vida adulta que é o ato de achar a própria identidade.
Essas histórias vendem que você vira um adulto quando você enfim acha a resposta pra pergunta: “Quem você é?”. E sai de uma fase confusa e estabanada com diversas influências e dúvidas, e entra em uma fase em que você decidiu já quem é a pessoa que você vai ser pelo resto da sua vida.
O caminho mais fácil, é o ato do jovem enfim ganhar o ímpeto de transformar seu hobby em uma carreira. E de começar os primeiros passos pra trabalhar com algo que define sua identidade.
No autobiográfico The Fablemans de Steven Spielberg, acho que é onde tudo isso fica mais evidente. Temos a finitude do primeiro relacionamento do Sammy com a garota cristã, onde Sammy tem seus primeiros contatos com prazer e dor, e monta confiança e auto-estima pra lidar com adversidades. Temos a perda da inocência com Sammy entendendo que sua mãe não ama seu pai, que ela está apaixonada por outro homem, e entendendo que pra mãe poder ser feliz, ela vai ter que causar um dano em toda a família. Temos o mentor que fez oposição ao pai de Sammy, o pai de Sammy dizia que cinema deveria ser somente um hobby, mas seu tio Boris o encoraja a se envolver com cinema como um sonho, pois foi o sonho dele um dia e o faz entender que eles eram iguais.
E o mais importante, termina com o primeiro contato de Sammy com o mundo profissional, mostrando que ele fez a transição e está com sua identidade montada. Ele encontra o diretor John Ford e recebe um conselho valioso. De que enquadrar uma cena com o horizonte no meio é uma decisão ruim. Logo após essa cena, Sammy caminha em um estúdio, e a câmera do filme remove o horizonte do meio como se tivesse acabado de lembrar. Que é uma maneira do diretor Steven Spielberg, na época com 75 anos, até aquele momento segue aplicando o conselho que ele recebeu em seu primeiro emprego. Sinalizando que sim, depois que ele virou a chave ele se tornou a pessoa que ele não deixou de ser por toda a vida.
A aventura dos quatro garotos de Stand by Me é fundamental em confirmar a vocação de Gordie como um contador-de-histórias e a rede de apoio que ele tinha para ir atrás disso, e colocou ele em posição de pensar a respeito de um mundo menos idealizado. E de sentir nostalgia daquilo que ele tinha antes daquela aventura que ele jamais recuperou na vida adulta.
Nem sempre a formação de identidade precisa ser um emprego. Após falhar em um rito de passagem tradicional para ser uma mulher na China Antiga, Mulan reencontra a sua própria maneira de ser a filha ideal, e reafirma depois da experiência militar que tem certeza de que seu lugar é em sua casa com sua família.
Aliás, filmes Disney são muito sobre personagens fracassando em ritos de passagem tradicionais relacionados com a passagem pra vida adulta, sejam bailes de debutante, coroações, aniversários de 18 anos, a compra do primeiro imóvel ou recebendo um totem.
O lance da compra do imóvel é porque The Princess and the Frog o filme se passa nos anos 1920. Se fosse em 2024, a Tiana podia ser branca e ser da classe média alta e seria mesmo assim, dez vezes mais difícil pra ela comprar aquela casa aos 19 anos.
E depois da aventura esses personagens viram reis, celebram a independência ou deixam a marca na parede nos próprios termos de uma maneira levemente diferente dos demais, para ressaltar que agora que eles sabem exatamente quem são e o que querem, eles podem participar do ritual de maneira que reforce sua identidade.
Muitas histórias do Spiderman, mas especialmente Into the Spiderverse é completamente sobre misturar a necessidade de criar uma persona que vá combater o crime em Nova York como super-herói e achar uma identidade pra si enquanto o tipo de adulto que o personagem quer ser. Mas várias narrativas de herói podem fazer isso, motivo pelo qual ser super herói tem tudo a ver com adolescência e juventude.
Então essas passagens pra uma vida mais sexual ou menos idealizada são armas que o personagem usam pra tomar decisões em uma fase em que a cabeça do jovem é só dúvida, incerteza e pressões de diferentes expectativas. Mas não são obrigatórias. O importante é achar a identidade, é isso que marca a passagem pra vida adulta nessas narrativas e cada personagem faz do seu jeito.
O ponto do Virgem de 40 anos no filme The 40 years Old Virgin é que ele era o único cara do grupo de amigos dele que não é imaturo e se porta como adulto.
E o ponto de filmes sobre pessoas viciadas em trabalho tendo que se conectar com crianças e aprendendo a recuperar seus sonhos, é que justamente, elas cresceram errado pensando que era só fechar o coração e abraçar a máscara do bom profissional.
Mas isso significa que a visão dos filmes coming-of-age é a definitiva? No fim das contas a diferença entre um adulto e uma criança é que o adulto sabe quem ele é? Não. Todas as respostas propostas em diversos filmes são corretas demmaneira incompleta.
Conclusão:
Fazer 18 anos ou 21, ou 30 ou sei lá. Transar, fumar, beber. Arrumar um emprego. Tirar a carta. Descobrir quem você é. Entender seus pais. Perder a inocência. Sair da casa dos pais. Ser maduro. Ser responsável. Ter um filho. Começar a comer brócolos. Se olhar no espelho e sentir que tem um corpo desejável, ou melhor ainda, se olhar no espelho e sentir que nosso corpo é indesejável, pois estamos calvos, gordos com rugas e inseguranças…. Existem vários sinais que marcam a nossa percepção de nós mesmos como adultos. E todos esses sinais são obviamente opcionais. Uma pessoa pode ser adulta sem marcar metade desses itens. E embora uma criança ou adolescente não deva chegar nem perto de metade deles, algumas vão passar por essas experiências mesmo assim, e não significa que devem parar de ser tratadas como crianças.
A jornada de envelhecer é uma jornada complexa, e extremamente pessoal, e cada um vai superar ela enfrentando seus próprios demônios. Achando seus próprios aliados e tendo uma jornada única que uma experiência customizada de como se entender como adulto.
E a grande verdade é que essa experiência nunca acaba.
Essas histórias que eu mencionei, todas foram escritas por adultos. Pois crianças não escrevem histórias profissionalmente. E tem uma coisa que os jovens tem muito e os adultos não realmente perdem que é a insegurança. O não ter ideia do que está acontecendo. O constante precisar de ajuda, de um mentor, de alguém pra falar que estamos indo bem.
A gente acha que um dia a gente vai entender tudo e só virar um cara funcional que sabe das coisas, mas a gente nunca sabe nada. Vem um filho e ninguém no mundo não tá perdido querendo que a mãe explique o que tá acontecendo. Você tá a 10 anos no seu emprego e caso leve a sério o que faz, você tá ainda inundado de síndrome do impostor, achando que você é só uma fraude e o único na empresa que tá enrolando os outros. A gente acha que depois de uma idade vai dominar como falar com o sexo oposto, mas a cada ano mais distante da adolescência mais cabelo branco e corpo fora de forma vão nos assombrar e vamos achar que estamos fazendo tudo errado e ninguém nos deseja.
Estamos sempre crescendo, sempre indo pra próxima etapa, a maioria dessas histórias separa o mundo entre crianças e adultos. Mas não é só que crianças podem ser divididos entre bebês, crianças pequenas, crianças, pré-adolescentes e adolescentes. É que a gente também pode dividir os adultos entre jovens adultos, trintões, quarentões, a meia idade e enfim a velhice.
É um processo de passar por pequenos ritos de passagem atrás de pequenos ritos de passagem e todo já tem o spoiler de qual é o último…. Ninguém gosta de falar dele.
É, isso foi pra um caminho deprimente.
Mas o lance da passagem de tempo é esse. A gente leva a sério demais as passagens da adolescência pra vida adulta, pois são as passagens que enfim vão nos trazer liberdade e prisões muito fortes e impactantes. É quando você enfim pode ser o que você quiser, desde que consiga ganhar a vida. É a mais radical das mudanças.
Mas é só uma mudança de várias, e estamos sempre mudando. Os adultos não são um monolito, pelo contrário as gerações estão eternamente brigando. Os millenials já passaram dos 30 anos faz tempo e ainda tão brigando com os Baby Boomers, e você mesmo, leitor da geração Z que tá achando que quando tiver 35 anos vai estar em paz com os Millenials, espero que esteja, mas provavelmente não vai estar não.
Então nós adultos escrevemos histórias em que a diferença entre adultos e crianças é clara e reconfortante.
Escrevemos o valor da inocência e da pureza. E como a ignorância das crueldades do mundo são felizes, pois estamos lendo o jornal todo dia apavorados com o mundo e sentindo saudade de achar que coisas que não são importantes eram importantes. E fazemos filmes nostálgicos sobre a perda da inocência.
Escrevemos histórias sobre adultos no controle da vida e ensinando crianças a ser um adulto com o controle da própria vida, pois é o que nós queremos ser quando a gente crescer.
E simplificamos a bagunça que é crescer em histórias simples, que podem ser aventuras épicas, comédias descontraídas ou dramas introspectivos, para ver se escrevendo e assistindo essas histórias a gente entende o nosso próprio processo de estar sempre esperando o nosso próximo rito de passagem e tendo medo de estragar tudo.
E é esse contexto que eu acho que a gente ia precisar ter pro próximo texto, que é quando entramos na parte mais doidera de como a ficção trabalha a diferença entre crianças e adultos.
Pois eu abri bem a janela do que se podia falar, deixei falar de aventura, de ficção científica, de viagem no tempo, e tudo o mais. Mas ainda com a separação clara de quem eram as crianças e quem eram os adultos.
Mas a ficção tem o costume que querer criar uma área cinza nessa divisão, e não são os adolescentes, são os personagens que usando convenções da fantasia ou da ficção científica são crianças em corpos adultos ou adultos em corpos infantis, e por uma distinção de idade mental e aparência, eles tem os meios pra transitar em ambos os mundos, e levantam a questão de “mas como nós devemos considerá-los? Crianças ou adultos?”
Eu não tenho mais tempo de falar sobre essa parte nesse texto fica pro que vem.
Por enquanto peço que compartilhem, comentem, deem uma olhada no apoia.se, mas principalmente, que respondam pra nós podermos continuar a conversa, eu só levanto as bolas, mas eu quero que os leitores cortem elas pra conversa avançar.
Até texto que vem gente.