E a Makima, hein?

E

Chainsaw Man acabou a sua primeira parte no final de 2020. E enquanto o tempo passa e nos questionamos se a prometida parte 2 vem logo ou demora, eu sigo obcecado e fascinado por tudo o que a parte 1 representou. Eu fiz um texto aqui no auge do meu hype pela série sobre como a série trabalha a relação entre humanos, diabos e cachorros com base em contratos, em um texto que eu me arrependo de não ter esperado ela acabar pra fazer, pois aumentou em muito o que eu tinha a elaborar. E o mangá começou a focar nesse ponto com elementos importantes logo depois da publicação do texto.

Mas neste texto eu quero falar sobre a personagem que marcou definitivamente o que foi a primeira parte. A parte 1 de Chainsaw Man foi a história do relacionamento do Denji com a Makima, e esse relacionamento foi um amor unilateral, entre patrão e empregado, fã e ídolo, guardiã e protegido, tudo ao mesmo tempo e, acima de tudo, em todas essas facetas esse relacionamento foi tóxico, abusivo e uma desgraça. Mas foi a conexão desses dois que moveu a parte 1 em todos os momentos. O processo começou no primeiro capítulo quando Denji viu Makima pela primeira vez e sua vida mudou completamente. E terminou quando Denji viu Makima pela última vez, e contempla a contradição de que, embora tudo esteja melhor sem ela, ele sente sua falta. A última coisa que ocorre pra marcar o fechamento do círculo é Denji reencontrando a reencarnação de Makima, uma confirmação não ambígua de que ela está morta e já é outra pessoa, uma nova conexão pra Denji fazer com uma garota que é parecida, mas não é a mesma pessoa.

Makima é meu personagem favorito da série e… não, esquece, esse comentário não faz juz. A Makima é um dos meus personagens favoritos da Shonen Jump inteira, um dos meus vilões favoritos da ficção e é, especialmente, uma waifu do mais alto tier. Eu simplesmente adoro a Makima e adorar a Makima foi uma parte importante de adorar Chainsaw Man para minha experiência.

Mas, mesmo com a possibilidade de que na parte 2, possamos, por testemunho de outros, ou expansão do lore, aprender mais sobre quem foi a Makima em vida, eu quero presumir de verdade que a Makima é uma história que acabou. E especialmente torcer pra Nayuta não ficar ativando memórias da vida anterior, pois eu acho isso coisa de roteirista otário. 

Por isso quero agora, olhar pra trás para essa personagem marcante, amada por muitos, odiada por muitos, e falar um pouco dela. Pois ela é um personagem incrivelmente complexo, tão afundada em um oceano de contradições e paradoxos sobre seu ser que mais parece a mãe do Hyoga. O que ela realmente quer? O que ela realmente sente? Por que ela fez tudo o que fez? E reforçar quais foram os aspectos mais misteriosos da personagem que no final nunca foram respondidos, ampliando seu mistério.

Então venham comigo nessa carta de amor à musa de todo otaku que quer apanhar de mulher bonita, ver quais as bases da personagem, e por tabela apreciar um pouco o que foi a jornada de Chainsaw Man.

A começar, pensando logo na primeira pergunta.

Makima: É do bem ou é do mal?

Pois é… a resposta mais óbvia é que ela é do mal. O principal motivo pra isso é ela ser uma assassina sádica diretamente responsável por um número enorme de tragédias que também é a antagonista direta de um grupo de pessoas que querem fazer o bem.

Não só isso, tudo na Makima é meticulosamente construído pra que a associemos ao mal desde o começo. Seu primeiro sinal de que ela é uma péssima pessoa veio logo no capítulo 2, com ela deixando claro que quer que Denji seja seu cachorro.

Ela é desonesta, misteriosa, e uma figura de autoridade num setor do governo em um mangá no qual as instituições e o governo não são pintadas como algo muito confiável.

Então, se ela é cruel na personalidade dela, foi gratuitamente cruel com nosso protagonista, cometeu maldades e era a antagonista central do mangá, isso tá bem claro, né? Preto no branco?

Mais ou menos… A Makima é um diabo, o Diabo do Controle pra ser bem preciso. E por ser um diabo, ela tem instintivamente uma crueldade que se manifesta em contato com os demais humanos. E ela não está isolada nisso. Até mesmo o Diabo do Anjo, que é um dos personagens mais firmeza e gente boa que existe, e ninguém no fandom aparece pra tentar cagar no Diabo do Anjo, pois ele é parça. Pois bem, o mangá deixa claro que ele gosta de ver os humanos sofrerem e agonizando e que faz questão de permitir que nenhuma morte seja pacífica, para intensificar o sofrimento. E isso entra na conta da natureza de diabo dele.

Outro detalhe curioso da natureza dos diabos é dito explicitamente pelo personagem que mais odeia a Makima do mangá inteiro, Kishibe: quanto mais parecido com um ser humano mais é um sinal da amistosidade desse diabo com a humanidade, e quanto menos antropomórfico, mais hostil à humanidade o diabo é. De acordo com essa lei, então a Makima deveria ser comprovadamente o diabo que tem a melhor relação com a humanidade na existência, pois ela é indistinguível de um humano e é o único diabo assim. Isso é tão da natureza do Diabo do Controle, que a reencarnação de Makima, Nayuta, é igualmente indistinguível de um ser humano.

E o caso da Nayuta é interessantíssimo, pois ela tem seu nome e design reaproveitados de um one-shot antigo do Fujimoto chamado Yogen no Nayuta, e a Nayuta do One-Shot tem chifres. Então o design da Nayuta foi alterado de leve para remover os elementos não humanos dela para ela poder ser a nova encarnação do Diabo do Controle.

A Nayuta original
A Nayuta de Chainsaw Man

E a Makima declarou com muita clareza o amor dela pela humanidade, só que ela declarou de uma maneira… depreciativa com a gente.

Ela comparou o amor que ela sente pela humanidade com o amor que a humanidade sente por cachorros. Ela aprecia sua lealdade, o amor intenso deles, sua falta de inteligência e a facilidade de manipulá-los. Nenhum adjetivo mentiroso, mas também nada que torne a analogia dela fraca. Pois isso resume muito da relação dos humanos com cachorros. Adoramos o amor bobo e incondicional dos nossos amigos de quatro patas, nos comovemos com histórias de cachorros que foram leais ao dono pra sempre, e treinamos eles para fazer todo tipo de trabalho pros humanos.

E meu ponto aqui é: na nossa perspectiva, nós não nos pintamos como arrombados para os cachorros. Nós, no geral, adoramos cachorros de maneira genuína, proibimos eles de morrerem nos filmes, os chamamos de “melhor amigo do homem”. E assim, se a gente fosse fazer um filme contado na perspectiva de um cachorro, a gente provavelmente vai fazer um em que o cachorro conclui que viver com um humano vale mais a pena que viver sem.

exceto em Rick and Morty, só em Rick and Morty que a relação do humano com o cachorro foi marcada pelos seus elementos mais abusivos.

No próprio Chainsaw Man, a relação humano-cachorro é retratada como um amor puro e incrivelmente poderoso. O amor de Denji por Pochita não é retratado em nenhuma luz negativa e o de Pochita por Denji também não.

A própria Makima é humanizada com seus sete cachorros de estimação, que ela ama de verdade. E olha que a gente, na nossa perspectiva de leitor, não confiou nem um pouco nela nisso. Ok, eu generalizei, quem não confiou fui eu, sei lá o que você pensou quando viu a casa dela cheia de cachorro. Eu vi que ela tinha sete cachorros e logo presumi que eles eram sete humanos cujas vidas ela destruiu e que o Denji seria o oitavo.

Eu deixei essa possibilidade em aberto no meu próprio texto de Chainsaw Man que saiu quando esse capítulo dos cachorros era o mais recente.

O que era puro preconceito meu. A Makima tinha cachorros, pois o sonho dela era ter relações. Mais especificamente, ter uma família. Porém ela não conseguia formar relações com humanos sem ser por intimidação. Então ela formou laços com animais com quem essa dinâmica de poder faz parte da normalidade.

Uma mulher solteira carente virou mãe de pet e eu tava aqui falando que a única explicação possível era ela ser um monstro. Que vergonha.

E todo o capítulo dela brincando com os cachorros, hoje relendo, passa um ar de muita honestidade da pessoa que a Makima é em privado, dela realmente se divertindo com o Tiramisu.

Então quando ela diz que gosta da humanidade como a humanidade gosta dos cachorros, ela está nos rebaixando, obviamente, mas isso deve ser lido como uma prova de que a Makima nos odeia? Estamos prontos pra refletir que talvez odiemos cachorros? Estamos aqui pra falar que o laço da Makima com a humanidade é frágil? Enquanto o do Denji e Pochita é tão sólido?

Pois é, né?

Mas essa é a primeira e maior contradição que rege o mangá. O diabo que mais ama a humanidade aparentemente não ama o suficiente. E o mangá constrói bem isso, pois as maldades dela não são as piores que a gente lê. Só são mais pessoais. Pois nós gostamos mais da Power do que dos inúmeros mortos pelo Diabo da Pistola? Aqueles cujos nomes eram tantos que sequer paramos pra ler.

E eu já vi muito fã jogar essas mortes na conta da Makima. Quando é claramente o Diabo da Pistola que matou essa galera com a cumplicidade do Presidente dos Estados Unidos, ambos inimigos da Makima.

Enfim, como resolvemos esse conflito? Devemos ver o desejo dela de eliminar elementos que impedem a felicidade humana, como a morte, a guerra, as doenças e os filmes da Illumination Studios, como um desejo não nobre? Como algo que só uma mente cruel pensaria? Pois isso me soa, perfeitamente, como ela querendo proteger a humanidade.

Mas, mesmo assim, se ela amava a humanidade, porque todo humano com quem ela interagiu saiu pior da interação do que estava?

O que Makima mais queria eram conexões e ela não conseguia formar essas conexões. Pois ela é o Diabo do Controle e suas relações todas passaram por um jogo de poder que impediu elas de serem igualitárias. O que é algo que Pochita disse que Makima queria… mas quanto a isso ela não parece ter feito nenhum esforço para remover a hierarquia de suas relações. Foi a natureza do Diabo do Controle falando? Ela é burra?

Entremos nesse mérito.

As relações pessoais de Makima:

Se a primeira contradição da Makima é justamente como elementos dela apontam que ela é o Diabo que mais está do nosso lado, mas às vezes a gente pensa que… Não! Que porra! Filha da puta de marca maior! Onde que essa nojenta tá do meu lado? A segunda contradição da Makima é na verdade a minha favorita. É fascinante.

Ela é uma mulher que ama a humanidade, mas ela simplesmente não ama um único humano a nível individual. Qualquer preocupação dela conosco se insere em um macrouniverso imenso onde estão seus objetivos que ignora completamente as vidas e necessidades de um microcosmo de pessoas que interagem pessoalmente com a Makima.

Só ver que o objetivo dela é na esfera mais macro possível, eliminar pra sempre o conceito de guerra do mundo. Não é ir pra um país em guerra e proteger as pessoas ou trazer a paz, não, é eliminar do universo a possibilidade de guerra existir. Tudo pela humanidade, mas também, por ninguém em particular.

E para falar sobre como a Makima interage e se relaciona com os humanos em sua volta é legal falar do Aki.

O Aki é introduzido no terceiro capítulo do mangá como o típico rival de cabelo preto do protagonista. Ele tinha uma espada, uma história de vingança nas costas por conta de seu passado trágico, era bem mais sério que o Denji, briga com ele logo de cara e, pra completar, ele e o Denji eram duas pontas do mesmo triângulo amoroso, pois ambos eram apaixonados pela Makima. Ou seja, é essencialmente o Sasuke.

E o fato do Aki estar apaixonado é algo que me fascina. Pois claro que hoje, sabendo que ela é o Diabo do Controle, é fácil pensar que ela controlou o Aki pra gostar dela… mas ela não fez isso com mais ninguém, fez? O Kishibe odiava ela abertamente, e a Himeno também. A Kobeni não tinha nenhum tipo de carinho pela Makima e é bem improvável que alguém mais ali sequer gostasse dela.

O que faz sentido, pois afinal eles são tudo trabalhador fodido ganhando mal, e vamos ser sinceros. Quem é que gosta do chefe?

O Aki! O Aki gosta! O Aki era a única pessoa naquela divisão que achava legal a Makima se juntar a eles no bar depois do expediente.

E a Makima cagava pro Aki. Nossa, mas ela não tava nem aí pro moleque.

O que só ficou escancarado quando era visível que o Denji tinha um tratamento preferencial ao Aki. Denji era especial, pois Denji era o Diabo da Motosserra, mas Aki era substituível, um mero humano. E era aquilo. O Aki entrava em uns esquemas de sacrifício cada vez mais autodestrutivo para poder ser parte da luta contra o Diabo da Pistola, para terminar sendo morto por ele. E a Makima nem reage à morte do Aki.

Nem tira um minuto de silêncio.

O Pochita disse que a Makima não conseguia formar relações normais, pois suas relações eram baseadas em medo. E isso talvez valesse pra metade do departamento, mas o Aki não tinha medo dela, ele era grato, pois supostamente a Makima salvou a vida dele em algum ponto do passado. Mas ela não viu no Aki uma potencial relação que ela queria com pessoas, ela de fato viu e usou até o fim um peão.

Aliás, vamos falar da morte estranhíssima do Aki.

Porque foi aquilo.

Passo 1: Makima obriga Aki a fazer um contrato com ela, e vai junto de outras pessoas sob seu controle peitar o Diabo da Pistola.

Passo 2: Cena faltando

Passo 3: Diabo da Pistola possuiu o corpo de Aki e se tornou o Infernal da Pistola. E a Makima delegou ao Denji matar o seu melhor amigo.

E eu meio que senti que metade dos leitores jogaram na conta da Makima a morte do Aki, que foi um plano dela. E… eu fico dividido, pois eu acho que tem um benefício da dúvida genuíno de que essas coisas acontecem no campo de batalha, e eu não vejo motivos pra Makima deliberadamente deixar o Diabo da Pistola sobreviver de propósito. Mas ao mesmo tempo… Eu não ponho a mão no fogo não.

Pois é algo que ela faria. O que não prova que ela fez. Pois a gente não sabe nada sobre como foi o embate. É perfeitamente possível que o Diabo da Pistola tenha, de fato, sobrevivido, matado os aliados dela, roubado o corpo do que estava mais acessível ali, pra sobreviver, que calhou de ser o Aki.

É possível.

Mas a gente não confia, pois a gente sabe que ela não dá duas fodas pelo Aki, e não respeita os sacrifícios que ele fez para enfrentar o Diabo da Pistola.

A Makima de fato causou a queda do mais perigoso Diabo da história da humanidade, ao custo das pessoas que confiavam nela. Assim como ela protegeu inúmeras pessoas matando inúmeros diabos, mas para aumentar a eficiência ela usava a vida de inúmeros cidadãos japoneses como escudo humano.

A Makima protege a humanidade enquanto conceito, mas não os indivíduos. E o fato de que ela não tem uma única conexão com um ser humano é a grande prova disso.

Mas ela tem a relação dela com o Denji, que também é afundada em contradições.

Makima e Denji:

A relação de Makima com o Denji é curiosa, pois é o extremo oposto da do Aki. A Makima colocava uma atenção muito grande no Denji. Porque, embora todo mundo ali visse umas visões medonhas que a maioria das pessoas prefere não ver ou pensar sobre e fosse baqueado pelo dano das missões, a Makima dava uma atenção ao Denji que ela não dava a mais ninguém. A da manutenção emocional.

Makima parece gastar um tempo considerável dela tendo certeza de que Denji tem uma boa autoestima, não está completamente destruído pelo trabalho e está tendo seus traumas minimizados em seu trabalho. E isso é algo que está na relação deles desde o começo.

No segundo capítulo, Denji está nervoso, pois ele acredita que ele deve feder que nem um mendigo, e que isso vai estragar sua relação com a ruiva gata que ele acabou de conhecer. E embora Denji somente tenha pensado pra si mesmo o quão inseguro ele estava com o próprio cheiro. Makima explica pra ele que Pochita estava dentro dele, nos seguintes termos: ela fala que ela tem um olfato excelente e que sente dois cheiros em Denji, o cheiro de um diabo e o cheiro de um ser humano.

Makima foi a primeira pessoa no mundo a fazer Denji sentir que ele foi tratado como um ser humano, e apesar de sabermos que por uma vida de miséria, a nota de corte dele era bem baixa. De fato, a Makima constantemente ajudou Denji a se sentir normal e humano quando as circunstâncias o inclinavam a não achar.

Makima chamava Denji para encontros no cinema ou para viagens na praia, para deixá-lo feliz. E a viagem em questão é interessante, porque Denji desmarca a viagem pra cuidar de Power, que estava traumatizada de tão pesada e assustadora que foi a última missão, e Makima sugere que Denji largasse Power com alguém do departamento, reforçando que esse cuidado dela é só pro Denji.

Qual é a pegadinha? Ela odeia o Denji!

Ela intencionalmente quer fazer da vida do Denji um inferno. Diferente de alguém como a Kobeni que parece que é tão indiferente para a Makima que eu fiquei até chocado de ver a Makima chamar ela pelo nome na parte final. Mas se a maioria das pessoas parecem meras formigas pra Makima, o Denji ela odiava.

O que é a grande contradição também, um esforço ativo em fazer Denji feliz, só para destruir a felicidade dele completamente, por motivos de… pois é, aqui as coisas ficam interessantes.

Porque assim, ela fala pro Denji que ela está punindo ele por ter matado o próprio pai. O que é uma memória tão traumática pra Denji que ele próprio reprimiu e se forçou a esquecer pra poder funcionar enquanto ser humano. E Makima afirma que ela tortura Denji, porque um patricida tem que sofrer.

Mas isso é o que ela diz. Eu sinto que ela odeia o Denji, porque o Denji não é o Diabo da Motosserra, que ela ama. Porque ela ama a pessoa dentro do Denji, ela odeia o próprio Denji.

Makima é uma grande fã do Diabo da Motosserra. Aparentemente ela e o equivalente do Inferno da torcida do Flamengo, porque o Motosserra é bem popular, lembram do Beam? Pois é. Mas a Makima aparentemente é a maior fã de todas. Ela adora o que ele faz, e quer direcionar o que ele faz, para ajudar a humanidade, usando o poder dele para eliminar as guerras, as doenças e até a morte.

Ela ama ele tanto que até sonha com o dia em que ela será comida pelo Diabo da Motosserra (no sentido literal, sem putaria), o que aparentemente eliminaria o controle que seres humanos fazem uns com os outros.

Para ela controlar alguém, ela precisa ver essa pessoa como inferior a si mesma, e é por isso que o único que ela não controla é o Diabo da Motosserra.

E por isso eu sinto que quando ela interage com o Denji, o que ela vê, é essencialmente que o Denji não é o Diabo da Motosserra. Uma sombra patética e uma forma reduzida daquele que ela ama.

E eu sinto de verdade, naquele final, naquela grande e extensa troca de golpes do Denji e da Makima, o que rolava no subtexto era exatamente isso. Dois corações partidos, decepcionados pelo que o outro não era. O Denji tendo enfim visto os verdadeiros sentimentos da Makima por ele, e a Makima frustrada que não está lutando com o Diabo da Motosserra.

O Denji não deu pra Makima o que ela queria dele. E a Makima não deu pro Denji o que ele queria dela.

Mas agora, ela reencarnou na Nayuta, e a Nayuta e o Denji viraram família. O Denji vai cuidar dela e realizar os sonhos do Diabo do Controle, então vamos pra esse ponto também.

Como o Diabo do Controle virou a Makima?

O aspecto mais fascinante da Makima é que ela é um diabo, com um talento nato pra manipulação, gaslighting, mentira, e abuso psicológico. E ela, sem disfarçar nenhum desses traços nefastos de sua personalidade, consegue ficar escondida com tranquilidade como diretora de um departamento burocrático do governo japonês, e todo mundo acha que ela é somente uma chefe abusiva normal.

Sério, é fascinante que sequer tenhamos uma cena dela negando ser um diabo, para eu poder ver se ela tentaria negar. Pois quando um personagem sabe o seu segredo ela não muda sua postura em nada, e fala sobre com uma naturalidade tamanha que eu não sei se é mesmo um segredo, ou somente algo que ninguém perguntou.

Kishibe menciona pra Denji que se Nayuta ficar sob o encargo do governo japonês, ela vai simplesmente virar a Makima novamente. O que é curioso, pois enquanto Kishibe e outros subordinados insignificantes desprezavam os métodos de Makima para cuidar de seu departamento, quando pensamos em seus superiores a história é outra.

Em uma das poucas cenas em que vemos Makima responder aos seus superiores (são só duas se eu não estiver esquecendo de nada), vemos ela na verdade levando um alerta de que ela precisa parar de se apegar aos “cachorros” que ela recruta. O que é curioso, porque se eles acham que a Makima se apega demais aos subordinados, então essas pessoas provavelmente são chefes tão abusivos quanto a Makima, senão piores.

E sendo tudo uma organização pública, no topo da hierarquia está o Primeiro-Ministro, que naturalmente está ciente de que a Makima é um diabo, pois ele fez um contrato com ela, que inclui que sempre que alguém for tentar matar Makima, um cidadão japonês será morto no lugar e Makima sobreviverá. Assim como Makima sacrifica seus subordinados como peões, o primeiro-ministro faz o mesmo com seu povo.

Eu não sei quando nem como o Diabo do Controle veio pro Japão, mas o encaixe foi tão perfeito que é difícil pensar que ela tenha ido parar no departamento por uma grande coincidência. Especialmente se pensarmos que, sem interferência externa, o governo moldará sua reencarnação em outra Makima.

O que gera algumas perguntas que nunca serão respondidas. Há quanto tempo Makima está sob a supervisão de uma instituição que incentiva e reproduz todos os defeitos do Diabo do Controle? Ela era assim antes de ir trabalhar pro Governo Japonês? Ou ela está só se portando como espera-se de seu ambiente?

De qualquer jeito, uma coisa é fato. Se todos os seus contatos ocorrerem mediante um contrato, seja um pacto com o tinhoso ou um contrato profissional, aquele é um espaço em que a igualdade que ela supostamente busca nunca vai aparecer. Ela nunca vai achar alguém pra ver como igual enquanto for a chefe de todo mundo. É parcialmente culpa de ser o Diabo do Controle, mas é também parcialmente culpa de ser a Makima e cuidar da quinta divisão da unidade de caça ao diabo.

Agora, uma coisa que eu adoro na Makima é justamente esse ser o nome dela.

A Makima é o único diabo do mangá inteiro que tem um nome humano por assim dizer.

“Ah, mas e a Power e o Beam e o….” tudo infernais. Os diabos todos ficaram presos ao seu nome de diabo mesmo.

Eu fico pensando nisso. Porque o nome é algo importantíssimo pros diabos. Pois é o medo que eles sentem do nome do diabo que garante o poder dos diabos. Quanto mais temido é seu nome, mais poderoso ele é. Além de que o diabo deixa de existir se seu nome deixar de existir.

E a Makima deliberadamente coloca o nome Motosserra na boca do povo, para fazer ele ser amado pelo povo e assim ele perder o seu poder de diabo. Não foi Denji o nome, é Motosserra. Pois isso ia enfraquecê-lo. Ela manipula a disseminação do nome pois isso afeta o poder.

O que me faz pensar que o nome Makima pode ser, na real, um grande escudo pro Diabo do Controle. O amor ou medo que a Makima gera nas suas relações pessoais não afetam o poder do Diabo do Controle? Mas por que não? Não seria melhor pra ela, que todo o departamento cagando de medo dela só a deixasse mais poderosa?

Adoraria saber mais sobre o processo dela adotar o nome Makima pra si, pois o nome é usado até o fim, até mesmo por personagens que sabem quem ela é. E eu não sei o quão proposital isso é.

Conclusão:

Nada a concluir não. Esse texto não quer provar um ponto ou apresentar uma ideia nem nada. É só um grande pensamento em voz alta do quanto eu acho essa personagem fascinante. Completamente imersa em mistérios, tanta coisa dela que a gente simplesmente não sabe. E ao mesmo tempo, aquilo que a gente sabe eu acho tão interessante.

Por que ela faz o que ela faz? O que ela realmente quer? Por que diabos (heh!) ela é a única que consegue lembrar da AIDS e do Holocausto? E o principal, no fim das contas ela era do bem ou era do mal? Ela esteve do nosso lado até o fim? Acho fascinante pensar nisso.

O Denji continuou amando a Makima mesmo depois de aprender quem ela realmente era, e mesmo vendo o lado mais podre dela em primeira mão, ele continuou amando ela até o fim. E por isso, eu imagino que na eventual Parte 2, ele ainda vai pensar nela, mas não sei se vamos ter a resposta para tudo o que ficou no mistério.

Mas ela é maravilhosa. Tanto quando cumpre o papel de chefe medonha do time do bem, quanto quando ela vira vilã.

O que vocês acham dela? Sei que tem um núcleo estranho na internet que adora ela, e muita gente que odeia ela. E aí? Vocês acham que ela deliberadamente matou o Aki? Ou que o ataque dela ao Diabo da Pistola simplesmente falhou? Acham que ela é podre do berço? Ou que o governo japonês tirou o pior dela? Acham que o discurso dela pro chefe da Yakuza, de que pessoas que se consideram um mal necessário serem podres, foi ela deliberadamente atuando e fingindo que se importa? Ou somente não julgando a si pela mesma regra que julga os outros?

Deixem seus comentários sobre a personagem, e que conclusões vocês tiraram daquela que é, de fato, um motivo fundamental pra eu ser fã de Chainsaw Man do jeito que eu sou.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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