Olá, como vai? Se você, meu caro leitor morar em São Paulo, deve estar consciente da exposição do Tim Burton está tendo agora(fevereiro) no MIS (Museu da Imagem e do Som) e que vai até maio, então vamos aproveitar a deixa para falar um pouco desse diretor.
Timothy Walter Burton, um diretor que se formou na lendária turma A113 da Calarts, ao lado de diversos mitos da animação, e que se tornou muito popular por sua marca registrada de fazer filmes sombrios e com um apelo para coisas creepy, góticas e inspiradas no expressionismo alemão.
Além disso, outra marca do Tim Burton é que os elementos sombrios são usados em contraste a uma sociedade conservadora que independente do quão maligno ou benigno sejam os elementos góticos do filme, os elementos “normais” sempre são retratados de maneira mais negativa.
Claro, Sweeney Todd é um serial killer psicopata. Mas o juiz Turpin que usava de seu status na sociedade para condenar inocentes de quem ele não gosta e estuprar mulheres é o grande vilão do filme, a raazão de Sweeney se tornar um assassino.
Ou Edward Scissorhands que estava muito melhor em seu castelo mal-assombrado do que no abominável subúrbio estadunidense.
Ou Corpse Bride onde o mundo dos mortos é visto como um ambiente muito divertido e amigável em contraste à sociedade vitoriana onde todos são uns escrotos presos a protocolos e formalidades.
Não é muito diferente da maneira como o gótico é tratado em The Addams Family. Eu me pergunto como o Tim Burton nunca fez um filme da Família Addams, é uma associação muito óbvia.
Enfim. Apesar de ter essa marca registrada, Tim Burton tem esse filme que meio que não segue esse estilo. Esse filme que é bem diferente do que ele costuma fazer e também é também um dos melhores do diretor e um dos que se saiu melhor nas críticas, e esse filme é Big Fish.
Big Fish não tem elementos góticos nem nada creepy como gostamos de associar o Tim Burton. Muito pelo contrário, tudo é belo e vibrante e colorido e perfeito. Bem do jeito que o Tim Burton nunca faz…
Ué.
Mas, por que ele fez o visual do filme num estilo que é o oposto do que ele aborda? É porque o filme retrata o oposto do que ele trabalha, o filme não nos mostra uma visão crítica e fria da sociedade, muito pelo contrário é o único filme da carreira dele a mostrar uma família tradicional norte-americana que não é uma bagunça em disfuncionalidade. O filme fala de um idealismo e do nosso desejo de acreditar em fábulas impossíveis e sobre como isso se liga com a crença no American Way of Life.
Sim. É isso mesmo que vocês leram. O filme tem diversos temas, o principal é a reconciliação de um pai com seu filho, e outro tema importante é o de verdades e mentiras na hora de se contar histórias e o quão difícil pode ser traçar essa linha em algumas histórias. Mas escondido no filme entre esses temas, tem a mão do Tim Burton, usando da ironia para falar um pouco sobre a mentalidade dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos está representado no personagem Edward Bloom, o protagonista do filme, interpretado simultaneamente por Ewan McGregor, nas cenas em que é jovem, e por Albert Finney, quando mais velho. Sabe o que esses dois atores têm em comum? Eles são britânicos, e são facilmente identificáveis como britânicos. Sério, parte fundamental do Ewan McGregor ter sido escalado para ser o Obi-Wan Kenobi é porque faziam questão de que o Obi-Wan fosse interpretado por um ator com sotaque inglês que fizesse jus ao de Alec Guiness.
E um elemento que sempre me chamou a atenção nesse filme, é o sotaque forte de Bloom. Um sotaque britânico? Não, um sotaque sulista forte do Alabama. Agora, por que chamamos dois atores que o público associa primariamente ao reino unido, e seu sotaque característico, para ambos interpretarem outro sotaque igualmente característico como o do Sul dos Estados Unidos?
Coincidência? O Tim Burton nem notou que isso tava rolando? Eu duvido. O sotaque fica mais forte vindo da boca de alguém de onde ele não devia ter saído. Ninguém liga quando o Schwarzenegger faz um sotaque austríaco em seus fi lmes. O filme não nos deixa esquecer que Bloom é um cara simples do Alabama. E não é como se o Tim Burton não tivesse um ator que sempre faz o seu protagonista, mas esse filme foi aberta uma exceção e um outro ator foi chamado.
Sabem quem mais tinha um sotaque sulista forte do Alabama? Forrest Gump.
Forrest Gump é um filme icônico que nos mostra sob a perspectiva de um homem de baixo QI e muita inocência, a história moderna dos Estados Unidos, e acompanhando a história de seu país, Forrest viveu uma vida plena, épica e notável. E Edward Bloom é um personagem que o tempo todo dialoga com o personagem de Forrest Gump, embora não dívida seu baixo QI.
Embora o personagem central do filme seja Edward Bloom, o filme foca muito no filho dele, William Bloom. Will é interpretado por Billy Crudup, um ator nova-yorkino que não fala com nenhum sotaque notável. Ele é um americano normal, que passou a infância inteira ouvindo histórias sobre como a vida de seu pai, Edward foi a vida mais épica já vivida. Assim como Gump fazia no ponto de ônibus, Edward Bloom é um contador de histórias, ele sempre está contando sobre suas aventuras, sempre mesmo, e conforme foi crescendo e convivendo com seu pai, Will foi aprendendo que todas essas histórias eram mentiras, e que seu pai não poderia ter vivido tudo que ele disse que viveu.
Agora, Will é um adulto, casado e sua esposa está grávida. Ele está prestes a se tornar um pai e está em crise justamente por sentir que ele não sabe nada a respeito do que realmente foi a vida de seu pai. E ele quer se reaproximar dessa figura distante dele, aprendendo a verdadeira história.
Isso se soma com o fato de que seu pai está morrendo, e o homem que nas histórias é sempre heroico e perfeito, agora é uma figura moribunda, onde ele enxerga pouca conexão.
E é nessa vida de Edward Bloom que quero me focar. Edward nasceu e cresceu em uma cidadezinha chamada Ashton, no Alabama. Onde uma vez ele encontrou uma bruxa caolha e no olho dela ele foi capaz de ver como ele ia morrer, ao contrário dos outros ele não tinha medo de ver a própria morte, pois sabia que isso significa que ele sobreviveria ao resto. Ele viu a informação e nunca contou pra ninguém o que ele viu.
Em Ashton ele era um renomado atleta, assim como Forrest Gump, ele foi um bom jogador não só de Futebol Americano, Baseball e Basquete, os grandes esportes dos Estados Unidos, e um vencedor em todos os sentidos, ganhou a feira de ciências na escola e era um bom empreendedor. Ele tinha uma grande reputação e era o maioral em sua cidadezinha, mas ela era pequena demais para sua ambição, e ele sabia que ele merecia mais do que ficar pra sempre em uma típica cidadezinha interiorana do Alabama.
Um belo dia, a cidade foi invadida por um gigante devorador de ovelhas, e todos estavam apavorados com a possibilidade do gigante comer algum deles. Edward, sendo o cara perfeito que ele era, se voluntariou para impedir o gigante. E ele o fez da seguinte forma: ele explica para o grandão como uma pessoa grande como ele pertence a uma cidade grande com todas as maravilhas de uma cidade grande e convenceu o gigante a sair da cidade, e disse que ele ia sair da cidade também para fazer companhia ao gigante, afinal os sonhos ambiciosos de Edward não iriam se realizar em Ashton.
Edward e Karl, o gigante, começaram sua jornada; mas antes, Edward se separa de Karl por um tempo e vai parar acidentalmente em uma pequena cidade chamada Spectre, uma cidade aparentemente perfeita, onde todos são amigáveis e todos são felizes e todos querem que Edward viva lá, mas ele recusa, ele quer viver sua vida antes de relaxar, e se acomodar lá. Nunca ninguém havia recusado ficar em Spectre antes, Edward Bloom foi o primeiro homem a se atrever a desejar por mais nesse mundo, a sair do paraíso e desfrutar da aventura.
Após reencontrar Karl os dois chegam a um circo, onde conhecem o dono do circo, Amos Calloway, um empresário cruel e sem escrúpulos. Ele oferece para Karl um contrato de um emprego que beira a escravidão, e Karl é ignorante o suficiente para aceitar, e Edward fica feliz que Karl achou um lugar no mundo onde um gigante possa se encaixar.
E parece cuzonice do Edward, mas ele também aceitou um emprego de merda no circo, mas no caso dele, foi por que ele estava apaixonado. Edward Bloom se apaixonou a primeira vista por Sandra, uma garota que estava no circo. E querendo saber mais sobre essa garota por quem ele estava apaixonado, mas não sabia nada a respeito, ele implora para Calloway falar sobre ela, e Calloway faz ele trabalhar pela informação. E ele passa meses trabalhando de graça para Calloway, sem dignidade nenhuma, para receber informações irrelevantes sobre essa garota que ele amava.
Porém Edward nunca contesta o quão explorado ele está sendo, ele espera pacientemente, até o dia que ele vai se provar digno de ser tratado com respeito, e isso acontece quando ele descobre que Calloway é um lobisomem e em vez de matá-lo enquanto ele está em sua forma mais monstruosa, ele ajuda seu patrão e ganha o respeito dele. Agora que Edward se provou digno de valor, Callowayo ajuda e realmente lhe dá as informações que ele queria.
Edward pode então ir declarar seu amor a sua amada, Sandra, uma garota com quem ele nunca interagiu antes na vida. Mas apesar disso ela o conhece pela reputação. Ela já ouviu falar nele diversas vezes, pois é noiva de Don, um outro rapaz de Ashton. Don sempre passou a vida na sombra de Edward nunca sendo tão grande quanto ele e por isso ele era um cara ressentido e violento, mas agora o jogo virou não é mesmo? Ele está prestes a casar com a garota que Edward ama.
Edward não se abala de saber que sua amada é noiva, ele leva na esportiva, confiante de que pode fazê-la mudar de ideia e se casar com ele, e ele faz isso com o bom e velho romantismo. Mirabolantes maneiras de escrever “Eu te amo Sandra” em lugares improváveis para chamar a atenção da garota.
E uma infinidade da flor favorita dela, para ganhar seu coração. Bem romântico. Bem exagerado também.
Don fica puto, temendo perder novamente para Edward como sempre perdeu, por isso ele foi resolver esse problema na violência, ele espanca Edward na frente de Sandra, e Edward, um rapaz de paz e um grande rapaz, não revida em nenhum momento. Vendo a surra Sandra percebe o quanto Don era um grande bosta violento e afirma que não vai mais se casar com Don. E é assim que Edward consegue a garota de seus sonhos.
Porém ele não teve tempo de se casar com Sandra, pois agora ele precisa cumprir seu dever com a pátria. Embora seja bem fácil identificar que ele está invadindo a Coréia, o filme só fala sobre ele invadir a Ásia (inclusive ele dá uma estudada no idioma Asiático antes de saltar de seu paraquedas).
Lá ele conhece duas gêmeas siamesas que faziam shows para os soldados. Elas capturam Edward, mas ele as convence a deixá-lo escapar e a vir junto com ele, afinal elas são artistas, e nos Estados Unidos, está a grande oportunidade para elas fazerem uma fortuna.
Assim, o trio escapa e Edward pode voltar da guerra e pode então se casar com Sandra. Porém, como ele desertou na guerra foi declarado oficialmente morto; mas mesmo assim ele consegue um emprego como vendedor ambulante. Viajando os Estados Unidos vendendo novidades para o povo graças a sua excelente sociabilidade.
E todo mês ele mandava um pouco de dinheiro para Sandra, para ela juntar e poder comprar uma linda casa nos subúrbios da maneira que o Tim Burton retrata tão bem em seus filmes.
No banco, enquanto depositava esse dinheiro, ele encontra com Norther Willow, um poeta de Ashton que ele reencontrou durante sua passagem em Spectre, e que motivado por Edward Bloom saiu de Spectre também e resolveu rodar o mundo em aventuras.
Essas aventuras eram… roubar bancos!
Sim, o bom e velho assalto armado aos cofres dos bancos. Norther assalta o banco onde Edward estava fazendo seu depósito, e meio que força Edward a ajudá-lo no assalto. Porém ao final do assalto o que eles roubaram foi uma mixaria. Edward explica para Norther que o banco estava quase falindo por culpa da especulação e dos corretores do Texas, e deu toda uma aula de economia para Norther que ao final fez o ex-poeta ter uma epifania. Ele ia para Wall Street, virar um criminoso de verdade, e com isso se despede de Edward para ir fazer sua fortuna.
E com sua fortuna, ele pagou pela casa linda nos subúrbios com cerquinhas brancas que Edward sempre quis dar para Sandra, e para Edward e Sandra aquele pedacinho só deles era toda a riqueza que eles podiam querer no mundo.
Edward seguiu sendo um vendedor ambulante para ganhar a vida, até que o destino fez ele retornar a Spectre, só que aquela cidade que na sua juventude era tão agradável e hospitaleira, agora estava diferente. A cidade estava falida, devido ao fato de que ela deixou de ser isolada e passou a sofrer com as injustiças da economia. E Edward Bloom resolveu salvar a cidade.
Em sua vida, ele nunca enriqueceu, mas ele enriqueceu muita gente, e agora ele cobrou o favor e pediu o dinheiro para seus amigos ricos, para salvar a cidade, comprando todos os imóveis do local, para proteger os habitantes que não tinham como pagar a cidade. E ele consegue, ele revitaliza completamente a cidade, bom, exceto por uma casa.
A de Jennifer Hill, que quando criança se apaixonou por Edward Bloom na sua primeira visita a Spectre, agora ela era adulta, divorciada e solitária e não acreditava no plano que Edward estava fazendo para salvar a cidade. Edward insistiu, e visitou Jennifer para fazer reformas em sua casa que estava completamente abandonada. E durante uns meses de convívio com a garota ele transformou casa disso
nisso
E convenceu a garota a vender a casa pra ele, para ele concluir seu projeto de compra de Spectre. Ela tentou ter um caso com ele ao fim de tudo, mas ele só tem uma mulher em seu coração, Sandra.
Para quem ele volta e com quem ele tem um filho, William. Para quem ele contou todas as suas aventuras improváveis.
O que me leva de volta ao Forrest Gump. Muitos anos antes de Bloom, Gump contou aos demais sobre suas aventuras improváveis, sobre ser um astro do Futebol Americano no Alabama, e depois sobre ter sido um herói de guerra e depois sobre ter sido um comerciante de sucesso, sobre ter inspirado o sucesso de muitas pessoas e sobre ter sido motivado durante toda sua vida pelo seu a amor incondicional que ele teve por uma mulher e mais nenhuma.
E não estou dizendo que Big Fish copiou Forrest Gump nem nada disso, só estou dizendo que não é coincidência, o Alabama força uma comparação entre os dois que impede que isso seja visto como um acidente. Big Fish dialoga diretamente com Forrest Gump, introduzindo na equação a imagem do filho que se desanima com essa história, por não acreditar nela. Por não acreditar em jovens pródigos de cidades pequenas, em astros dos esportes americanos, em aturar um trabalho ruim pacientemente por anos até ser recompensado pelo seu valor e sua ética, em gente que vai pra guerra ou em comerciantes bem-sucedidos. A história de Gump narra de maneira muito explicita a modernização dos Estados Unidos, e a de Bloom narra de maneira mais sutil o que é a mentalidade dos Estados Unidos, e é nisso que William não acredita. Em pessoas que se forem muito ambiciosas, trabalharem duro, entenderem a economia e nunca traiam a esposa, eles podem formar uma família feliz e funcional no subúrbio com uma cerquinha branca e isso é tudo o que um homem realmente deseja.
Só que é o Tim Burton contando isso, e sabemos o que o Tim Burton pensa da família feliz e funcional no subúrbio com uma cerquinha branca.
Enquanto William não acredita mais no American Way of Life e por isso o idealismo da história de seu pai incomoda, o Tim Burton que marcou sua carreira sendo estilisticamente contra toda essa idealização usa a ironia para mostrar também as partes negativas de Edward Bloom em suas histórias.
Ele deixou o gigante Karl ser manipulado para virar escravo do Calloway, e achou de boa. Ele foi para a Coreia sem saber distinguir o país de qualquer outro país asiático. Ele convence as coreanas de que os Estados Unidos são a Terra da Oportunidade para conseguir voltar para o local com elas. Ele dá uma aula de economia que motiva um criminoso a ir para Wall-Street, cometer crimes maiores. Ele deu seu aval para diversos pontos negativos da civilização estadunidense se firmar, pois é assim que o Tim Burton vê esse tipo de gente.
Edward Bloom romantizou a escravidão, a guerra e a economia cruel dos Estados Unidos, da mesma maneira que ele romantizou seu desejo de ser o maior peixe do lago, um desejo típico do cidadão estadunidense.
E agora nós voltamos ao filho de William. Agora que ia se tornar um pai, Will queria fazer as pazes não só com seu pai, ele queria fazer as pazes com as histórias, ele queria saber como seu pai realmente tinha vivido, para saber que histórias ele contaria para o filho. Ele não sabia que visão de mundo ele queria dar para o seu futuro filho, uma vez que ele não acreditava na visão de mundo de seu pai.
Claro, ele também não acreditava na bruxa, no gigante e nas gêmeas siamesas, mas vamos concordar que é meio ridículo um filho cortar relações com o pai, pois o pai alega ser amigo de um gigante. A mentira que afeta Will de verdade é a mentira do peixe grande, desse um homem que se tornou essa grande lenda, e ele não via a grande lenda no pai, ele via um velho mentiroso que ele não conseguia admirar.
William precisou que Jennifer Hill contasse a história de como seu pai sozinho salvou uma cidade, comprando a cidade inteira, para que ele visse grandeza em Edward. E por isso, assim que ele escuta a versão de Jenny, seu pai vai para o hospital, de onde não voltaria, e William descreve a morte de seu pai como ele se tornando o peixe grande que ele sempre quis ser.
Pois o filme nos mostra William aceitando a visão de mundo do pai, e aceitando o pai, ele aceita ver o mundo sobre uma lente romântica e ideal, a mesma pela qual o Tim Burton raramente aceita ver o mundo.
Por isso que William no começo do filme está morando em um apartamento em Nova Yorque, mas no fim do filme ele está criando seu filho em uma grande casa no subúrbio com cerquinhas brancas, que na verdade é a mesma casa que foi o sonho de seu pai. Contando às crianças a história da vida de Edward.
O que volta ao status do filme como um filme que nem parece do Tim Burton, claro que não. Ele passa valores diferentes do Tim Burton, e sua temática e estética reforçou exatamente isso. Edward Bloom conserta a casa de Jennifer, transformando ela de uma casa timburtonesca em uma casa americanos-felizes-normais. E o herói dos outros filmes do Burton sempre foram os anormais.
Big Fish é um filme que se trata primariamente sobre uma relação entre pai e filho, sobre um filho prestes a ser um pai tentando entender e ter uma conexão com o próprio pai que está morrendo. Esse é o ponto comovente do filme.
O filme também é sobre verdades e mentiras, sobre o nosso desejo pela versão verídica dos fatos, enquanto as vezes a verdade é desinteressante em comparação ao sonho, e por isso, mesmo sabendo que as histórias de Edward Bloom são mentiras as pessoas gostam e preferem ouvir a versão romantizada e idealizada dos fatos que ele conta, pois são empolgantes e inspiradoras.
Mas por baixo de tudo isso, temos esse terceiro tema, desse homem que viveu mentindo sobre como ele ajudou a firmar o American Dream, dando oportunidades de sucesso a todos com quem ele cruzou, e vendendo a imagem idealizada do que é o sucesso americano. E sobre essa mentira em particular, sobre como é difícil acreditar nela quando se é um adulto, e sobre como alguns adultos, mesmo sabendo que é uma mentira, optam por crer nela.
E essa mentira é algo que o Tim Burton acredita tanto quanto ele acredita que a casa da Jenny ficou melhor depois da reforma.