Top18 melhores personagens dos Looney Tunes.

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 E aí Space Jam 2 aconteceu. Depois de anos sendo um meme, fizeram de fato um filme e ele de fato conseguiu ser tão abominável quanto o primeiro. Uma peça de propaganda imensa usando o poder dos Looney Tunes para vender produto. E um enorme esforço de colocar os Looney Tunes em seu devido lugar.

Space Jam 2 parece ainda mais desinteressado nos 86 anos de legado e contribuição à cultura pop que aqueles personagens poderiam oferecer do que o primeiro filme. Fazer os Looney Tunes agirem feito eles mesmos pareceu mais um fardo do filme, que ele tinha que realizar para justificar sua premissa. A maioria dos personagens estava lá só para ocupar espaço, não tendo nada a contribuir ao filme e, os que contribuíram, contribuem reproduzindo as piadas clássicas mais famosas que não ressaltam a personalidade deles.

Por que o Bugs tá fazendo a piada do túnel? Essa piada não é dele. E esse tipo de coisa não é o que ele faz.

Aliás, esse texto é sobre os Looney Tunes e quero desde já pedir minhas mais sinceras desculpas, mas eu vou me referir a todos eles pelos seus nomes originais e não pelos seus nomes em português. Especialmente porque eu menciono uns aqui que literalmente sequer ganharam nome em português. Esse post não é pra celebrar a sua infância, é pra celebrar a história deles. Dito isso, os que têm nomes em português terão ele apresentado entre parênteses.

Com isso fora do caminho, eu estava falando sobre Space Jam não parecer querer explorar as personalidades e dinâmicas dos personagens…. sabem, não é só gritar Rabbit Season/Duck Season sem contexto que você reproduz o motivo para esses personagens serem um sucesso. Os personagens não param em ser veículos para repetirmos as mesmas piadas de 70 anos atrás como o túnel pintado ou bigornas caindo. As piadas funcionam porque elas são extensões de suas dinâmicas e personalidades.

Aqui Daffy queria comprar briga com o motorista de um carro pequeno, mas quando o motorista se revelou um gigante, Daffy começou a agir como o cachorrinho dele. A piada visual do cara gigante no carro pequeno ajuda, mas o cerne da cena é a personalidade de Daffy, que é agressivo com quem é menor que ele e manso com quem é maior.

Mas esse já era o problema do primeiro filme. Em que a única dinâmica que existia era a deles como um coletivo de personagens esquisitos contrastando com o Michael Jordan, uma pessoa normal.

Aqui todos eles cospem pra limpar o chão do ginásio. Nem todo mundo aí tem uma personalidade que justifique limpar com cuspe, mas o propósito da cena era enfatizar que todos eram loucos, menos o MIchael Jordan.

No segundo filme eles reforçaram ainda mais o status dos Looney Tunes como marca do que como personagens. Se no primeiro Space Jam o Michael Jordan assiste os desenhos do Road Runner (Papa-Léguas) e por isso já tinha uma conexão com eles, aqui o LeBron usa uma mochila do Bugs Bunny (Pernalonga) e joga um jogo do Bugs Bunny. Nem a mochila nem o game passam a essência do personagem. Mas eles passam o que o filme considera importante sobre seu personagem: poder estampar mochila de criança.

Além de que enquanto no primeiro filme os Looney Tunes são desafiados, pois o sucesso e carisma deles é desejado pelos aliens, no segundo filme o vilão, tendo acesso a toda a cultura pop da Warner, despreza os Looney Tunes e genuinamente quer apagá-los da existência. Dando a entender que os próprios produtores de Space Jam: A New Legacy não valorizam mais o poder dos Looney Tunes em chamar o público. Motivo pelo qual todos os cameos que eles fizeram nos filmes da Warner foi menos sobre eles e mais sobre o cameo.

O Cameo de Elmer não diz nada sobre ele, somente sobre sua aparência.

E eles reduzem os Looney Tunes. Todas as dezenas e dezenas de personagens acumulados durante quase um século de presença midiática foram reduzidos a somente os 15 mais famosos. Que são literalmente tratados como “todos os personagens.”. A dimensão dos Looney Tunes estava deserta quanto LeBron chegou, e Bugs Bunny queria recuperar esses 14 amigos para ela não estar mais deserta.

E são só esses mesmo. Se eles tivessem que encher a tela de Looney Tunes esses 15 começariam a repetir para ninguém novo aparecer.

Todo mundo chorando que não tem o Pepe Le Pew, mas ninguém tá chorando pela multidão quilométrica de personagens que ficaram de fora além dele.

Essa imagem contém 19 personagens que ficaram de fora do filme.

Somente os famosos existem. Os Looney Tunes secundários são insignificantes. Com um ligeiro dedo do meio sendo apontado pra Marvin que aparece no filme, mas é retratado como alguém que não pertence à dimensão dos Looney Tunes e não foi convidado para o jogo. Um pouco semelhante à maneira como no primeiro filme Marvin é o juiz e não um membro do time… mas no primeiro filme fazia sentido, ele era um membro dos Looney Tunes e um alien ao mesmo tempo, e portanto era neutro.

Eu não entendo porque eles cagaram no Marvin desse jeito no segundo filme.

Mas enfim, Space Jam sempre é muito estranho com a maneira como trata os Looney Tunes. Acho fascinante como apesar do grande tema dos desenhos sempre ser o fracote triunfante sobre o grandalhão sem se intimidar, os filmes sempre fazem os Looney Tunes morrerem de medo do time adversário, baseado no fato dos adversários serem grandes e fortes.

Mas pra mim o lance mesmo é nunca explorar a personalidade dos personagens, somente suas gimmicks.

Então antes de começar o ponto central do texto quero falar de um curta-metragem do Daffy Duck (Patolino) de 1953, dirigido pelo Chuck Jones chamado Duck Amuck. Eleito em 1994 o segundo lugar na lista de “Os 50 melhores curtas-animados da história”, votado por 1000 profissionais da animação.

Em Duck Amuck o Daffy está sendo azucrinado pelo seu desenhista, que a princípio constantemente muda o cenário da história não deixando Daffy se habituar ao ambiente. Após isso ele muda a aparência, tamanho, voz, e interfere em tudo o que ele pode interferir com Daffy que fica puto pois só quer começar a história. Após muita azucrinação por parte do animador, é revelado que quem estava animando era o Bugs Bunny.

A ideia por trás do curta era a de explorar a essência do personagem do Daffy. Ou mais especificamente: O que tornava o Daffy o Daffy? Se em uma história ele era fazendeiro, na outra, astronauta e na outra, mosqueteiro? Era a aparência dele? Mas se ele não fosse mais um pato preto, ele continuaria sendo o Daffy? Ele continuaria sendo o Daffy se fosse mudo? E se ele fosse um pontinho no cenário?

Não importa o que o animador faça e mude e altere, o Daffy continua sendo o Daffy enquanto ele continuar se portando como o Daffy. A postura, personalidade e atitude do Daffy são o que ele tem de mais importante e se ele tiver isso, ele pode vir em qualquer formato. E esse era o ponto que Chuck Jones queria passar.

Esse mesmo diretor, o único dos principais diretores dos Looney Tunes que viveu pra ver Space Jam era também um grande crítico de Space Jam, pela maneira como o filme tratava os personagens aos quais ele dedicou mais de 30 anos de vida. Chamando a atenção pros personagens não estarem agindo como agiriam.

Pois isso é algo importante que vale pra todos os Looney Tunes.

Por isso é meio patético que alguns fãs não vejam o Yosemite Sam (Eufrazino) como mais do que um cara com uma pistola. E estejam chorando que o personagem nunca mais faz sentido se ele não der literais tiros no Bugs.

Quando a verdade é que não importa o que os nerdola digam, o Yosemite Sam segue sendo ele mesmo com ou sem revólver. O que ele precisa ser é estourado e ter sua personalidade de sempre. E esse é o principal motivo pelo qual dá para tirar as armas de fogo, mas o Pepe Le Pew teve que cair completamente. Pois o Pepe é a personalidade dele, ele precisaria ser repaginado do zero ao ponto de criar outro personagem, pois ele não existe sem sua atitude e sua dinâmica com Penelope.

E é por isso que eu resolvi fazer esse texto. Para celebrar esses personagens pelo que eles são: Personagens. Os Looney Tunes sempre tiveram a tradição de serem tratados como atores animados, como se eles fossem seres animados que vivem dentro da tela, e fazemos isso tem oito décadas, pois é assim que eles soam. O Bugs pode interpretar qualquer coisa, ele sempre será o Bugs.

E é isso que torna esses personagens fortes.

Por isso eu resolvi aqui falar sobre os meus 18 personagens favoritos dos Looney Tunes. Para prestigiá-los, comemorar sua existência, e lembrar que, independente de aparecerem ou não em Space Jam: A New Legacy, eles são gigantes, e não dependem de um crossover com astro da NBA para inspirarem gerações de novos animadores e serem referência em comédia animada até hoje.

Começando com regras:

1-) Estou considerando como um Looney Tunes qualquer personagem animado que apareça em uma série ou filme dos Looney Tunes, seja o The Looney Tunes Show, seja os curtas novos, seja o Sylvester and Tweety Mysteries seja o Baby Looney Tunes, seja o Duck Dodgers ou o Taz-Mania, vale tudo.

2-) Estou contando até mesmo os Tiny Toons também, pois eles são os aprendizes e sucessores do legado dos Looney Tunes. Mas não os Animaniacs, pois eles tentavam montar uma turma completamente nova.

3-) Tecnicamente estou contando até os Loonatics Unleashed, mas não vai aparecer nada deles porque… fodam-se eles.

Com isso estabelecido, vamos começar pois são 18, isso vai ser grande:

18º Lugar: Hippity Hopper:

Criado por: Robert McKimson em 1948.

Começando já com um gigante para mostrar que aqui é só o mais alto nível. E aqui a palavra gigante se aplica quase-que-literalmente, pois o princípio do personagem é que apesar de Hippity Hopper ser um bebê canguru, o gato Sylvester (Frajola) confunde ele com um rato gigante e sente seu orgulho de gato desafiado pela presença de um rato tão grande. Porém Hippity Hopper é só um bebê, e com inocência e entusiasmo ele acha que Sylvester só quer brincar de luta.

Ele dá cada cacete no Sylvester, sempre com o sorriso bobo da inocência. E o moleque destrói no boxe, se ele achar uma luva de boxe aí já era, esse gato tá fodido.

Hippity Hopper contrasta o orgulho e tentativa de mostrar que é um gato poderoso de Sylvester com inocência e infantilidade, o que funciona pois, na maioria dos curtas, Sylvester tem um filho que ele quer impressionar. Então vencer Hippity é visto como um ritual adulto, e que Hippity vença se portando feito uma criança deixa a ironia mais poderosa nos nossos olhos. É uma dinâmica brilhante a deles.

Hippity estrelou 13 curtas-metragem ao lado de Sylvester, e após o fim dos curtas animados ele seguiu fazendo cameos. Aparecendo em Sylvester and Tweety Mysteries. E nos filmes Tweety High-Flying Adventure e Bah Humduck! A Looney Tunes Christmas.

Inclusive é notável como o único problema dele é não ser marketeável o suficiente para estar em copos, mochilas e brindes do McLanche Feliz. Pois sejamos sinceros, ele é disparado o membro da turma mais qualificado pra jogar basquete. Mas ele não foi chamado pro time em nenhum dos dois Space Jams. No segundo filme ele literalmente nem existe. Eu juro, ele é literalmente o Looney Tune mais atlético. E nenhum projeto com os personagens que seja de respeito esqueceu dele. Olha ele aí, no plano de fundo do The Looney Tunes Show. Tá pequeno, mas não esquecido.

17º Lugar: Shirley McLoon (Leiloca Pataquada):

Criada por: Tom Ruegger em 1990.

De todos os personagens de Tiny Toons Adventures ela era a mais original de todas. Pois ela é a única aluna importante de Acme Looniversity que não tem um mentor.

Feita para debochar da atriz Shirley McLane, e tendo seu design inspirado na Melissa Duck, Shirley era uma garota que falava igual uma patricinha e era obcecada por espiritualidade, astrologia, cristais e tudo o que o jovem místico gosta.

Eu aprecio a dinâmica que ela trouxe para os demais personagens. Variando entre ser a mais avoada ou a mais sábia do grupo, mas ela tinha uma química de ouro com os demais personagens. Em especial o Plucky. O que significa que uma versão adulta dela teria uma boa dinâmica com o Daffy. Eu particularmente gosto de todo o conceito de que quando alguém consegue tirar ela do sério, a aura dela sai do corpo para dar porrada em quem a perturba.

Ela serve tanto como alguém que está quieta e vem ser perturbada, como alguém que pode interferir no conflito dos outros e colocá-los em situações que não estejam confortáveis, e ela sempre brilha dessas horas.

Os Looney Tunes se caracterizam pela dinâmica que eles trazem quando dois deles se reúnem. O que um tira do outro. E eu acho que Shirley tem muitas facetas e interações boas para tirar com a turma. Impedindo Dizzy de matar insetos, ensinando meditação pro Hampton (Presuntinho) ou sendo incomodada pelo falatório de Fowlmouth (Fanhinho). E com o projeto dos Tiny Toons meio-morto (já que esse reboot que está chegando é uma péssima ideia), eu não ligaria de ver ela interagindo com os Looney Tunes adultos, acho que ela teria muito humor pra fazer com eles. Tragam ela pra turma de verdade, eu acho que ela merece.

16º Lugar: Beaky Buzzard:

Criado por: Bob Clampett em 1942.

O primeiro e mais clássico antagonista de Bugs Bunny é o caçador Elmer Fudd (Hortelino). Um cara careca, bobo que troca as letras, e uma vez que eles começaram a procurar novos rivais pro Bugs, sempre houve uma tentativa de trazer gente que representasse ameaças maiores que o Elmer. Personagens menos notáveis por serem toscos e mais por colocarem Bugs em perigo real. Seja o pistoleiro estourado Yosemite Sam, o frio e calculista Marvin the Martian, e mesmo Wile E. Coyote é retconado para um super-gênio quando combate Bugs.

Por isso que eu acho fascinante a criação de Beaky Buzzard que vai na direção oposta, conseguiram fazer um personagem mais otário ainda que o Elmer. Ele não é só burro, ele é bobo, tímido, um filhinho da mamãe que ri do nada e desvia o olhar, o maior panaca que já enfrentou Bugs Bunny. Eternamente na missão de trazer um coelho pra sua mãezinha fazer um ensopado.

Eu sou grande fã da maneira besta como ele sempre ri e desvia o olhar e se torna um alvo fácil para Bugs por sua extrema ingenuidade. Tem vezes que Bugs só está se defendendo, e aqui é o caso, pois ele quer capturar Bugs, mas ele também só está sendo maldoso e eu aprecio a maldade.

Mesmo não tendo tantas aparições nos curtas originais, ele foi memorável o suficiente para ter um discípulo em Tiny Toon Adventures que é o Concord Condor. Além de fazer suas aparições especiais aqui e ali, e até hoje ele aparece nos curtas animados do HBO Max. Só não serviu pro Space Jam aparentemente, mas ok, faz parte.

15º Lugar: Foghorn Leghorn (Frangolino):

Criado por: Robert McKimson em 1946.

O Foghorn é um personagem indiscreto. Um galo que é grande, alto, fala alto e fala forte. Tudo nele é expansivo e ocupa o espaço, e por isso não é surpreendente que ele tenha se tornado um personagem mais popular e memorável do que o seu rival Henery Hawk (Chiquinho Gavião), que foi pensado para ser o protagonista de seus curtas, mas hoje em dia parece mais um personagem menor.

O que eu gosto em Foghorn é que ele é um escroto. Geralmente as dinâmicas dos Looney Tunes se baseiam em rivalidades, um personagem que ataca que é ou um predador faminto, ou um vilão com intenções cruéis, e um personagem que se defende que é um trollão que faz da vida do agressor um inferno, sendo sacana e se divertindo com isso. Mas o Foghorn inverte essa justiça pois ele é o agressor, mas ele também é sacana. Ele vai lá dar paulada na bunda do cachorro só pra dar risada da cara dele. Só na babaquice.

Eu aprecio a rivalidade de Foghorn com Barnyard Dog por isso também. Pois é um conflito equilibrado. Às vezes Foghorn leva a melhor. Às vezes Barnyard leva a melhor. Não tem uma regra de quem deve vencer. O que sempre tornou a rivalidade dos dois uma das mais divertidas.

Sou grande fã desse galo babaca!

14º Lugar: Marvin o Marciano

Criado por: Chuck Jones em 1948.

Alguns vilões dos Looney Tunes, como Sylvester ou Wile E. Coyote, são meros predadores querendo comer suas vítimas. Pepe Le Pew é outro tipo de predador querendo comer suas vítimas em outros termos. Elmer quer caçar, e Yosemite Sam quer roubar e enriquecer, e esse é mais ou menos o teto de até onde a maldade de um antagonista costuma chegar… e aí vem o Marvin. O Marvin quer explodir a Terra. E eu aprecio a maneira como ele eleva o nível do bagulho.

Acho tudo no Marvin charmoso, a maneira dele calma e precisa de falar, conforme dita o estereótipo do alienígena. O jeito dele andar rápido mexendo rapidamente as pernas e os trajes romanos.

A dinâmica dele com Bugs é boa, pois os dois são muito calmos e inteligentes e se enfrentam em pé de igualdade. Mas opostos se batem melhor, então a melhor performance dele é retirada quando ele enfrenta Daffy, que é energético e pouco inteligente contra o calmo Marvin. Por isso Duck Dodgers from the 24½ Century é na minha opinião o personagem em seu auge.

Mas o melhor dele são suas armas.

De aliens que se plantam no chão a várias pistolas de raios, o arsenal de Marvin sempre trás uns bons desafios. Mas o melhor é que apesar de ter sempre um canhão, uma nave e um raio, ele quer explodir a Terra com aquela dinamitezinha.

Falei lá em cima e reforço aqui, um absurdo que Space Jam: A New Legacy tenha tratado ele como se ele não fosse parte da turma. Pois logo ele é um dos mais carismáticos. Ele como um dos principais Looney Tunes já apareceu em praticamente toda outra reunião da turma, como Baby Looney Tunes, Tiny Toon Adventures, The Looney Tunes Show e Loonatics Unleashed, mas ele é notável por ter sido o antagonista principal de Duck Dodgers, realmente tendo uma série onde ele era uma das presenças mais notáveis. E isso não é pouca coisa assim, para ele ser cuspido em cima quando o assunto é basquete.

13º Lugar: Elmyra Duff (Felícia):

Criada por: Tom Ruegger em 1990.

O maior terror dos animais é o ser humano e isso está muito claro para mim. Quando o ser humano tem a pior das intenções ele quer caçar animais, por esporte, e empalhá-los. Quando ele é neutro, ele quer comer o animal. E quando ele tem a melhor das intenções, ele é a Elmyra.

Elmyra ama animais mais do que tudo. E tudo o que ela quer é cuidar e amar e brincar com animaizinhos. Porém sua natureza hiperativa, negligente e descuidada torna ela tão letal quanto o seu mentor, o caçador Elmer Fudd. E ela sufoca e machuca os animais que ela tanto ama.

Elmyra tem uma jornada curiosa, em que ela foi disparada uma das personagens mais populares de Tiny Toon Adventures, e por conta de sua popularidade ela parecia ser a única com a capacidade de furar a bolha dos Tiny Toons e se aventurar em outras séries da Warner. Ela teve um episódio dela em Animaniacs, e por insistência dos executivos, teve a própria série de crossover com Pinky and the Brain, chamada Pinky, Elmyra and the Brain.

Porém, como a série crossover foi um fracasso colossal, eles colocaram a Elmyra na geladeira pra sempre. E ela migrou rapidamente de personagem mais popular de Tiny Toons Adventures para uma personagem que já confirmaram que não vai voltar pro reboot. O que é uma infelicidade, pois não é culpa dela que os executivos não sabem propor crossover. Ela merecia esse destaque, pois ela era de fato uma personagem boa e cheia de carisma.

A explosão de amor letal era uma dinâmica fascinante, ela só quer amar suas vítimas, mas o seu amor destrói elas. Isso renderia uns bons curtas animados até hoje. Mas enfim, perdemos ela por más decisões executivas, uma grande perda.

12º Lugar: Lola Bunny:

Criada por: Leo Benvenuti e Steve Rudnick em 1996.

Eu hesitei em sequer colocar a Lola nessa lista, pois essa lista não prestigia Space Jam, pelo contrário. E a Lola é um dos maiores problemas de Space Jam. Um raio cisheteronormativo em forma de personagem para deixar o Bugs mais masculino e menos ícone drag queen. Além de ser uma maneira de aumentar a presença feminina nos Looney Tunes sem precisar reinventar personagens já existentes como Penelope Pussycat ou Miss Prissy, pois essas personagens não eram sexies, e aumentar a presença feminina só valia a pena se fosse com uma grande gostosa.

Lola passou muito tempo sendo uma mera gostosa com o objetivo de trazer sex-appeal e heteronormatividade, porém nenhum humor para o universo de Looney Tunes e isso não sentou bem comigo. Mas a personagem eventualmente me ganhou quando em 2011 ela foi completamente reinventada para sua aparição em The Looney Tunes Show, e é somente essa Lola que eu estou prestigiando. A do The Looney Tunes Show.

Essa Lola é hilária. É curioso ver um personagem que não esteja antagonizando Bugs tirar ele completamente da zona de conforto com sua maluquice e espontaneidade. É quase como se ela fosse uma versão disfuncional da manic pixie dream girl, no sentido de que as quirks e o espírito livre estão literalmente atrapalhando a vida do protagonista, que não está realmente precisando se soltar.

E essa reforma da personalidade da Lola em uma personalidade mais engraçada e que tenha real dinâmica de interação com o Bugs foi bem aceita e migrou para outros shows como The New Looney Tunes ou o filme Rabbits Run.

Porém ela ainda até hoje está esperando ser agraciada com um curta animado. Não fizeram um pra ela quando ela estreou e ela ainda está esperando pra fazer sua primeira aparição nos curtas da HBO. Quem sabe no futuro? Vamos torcer pra Space Jam: A New Legacy não resetar o progresso que ela fez no imaginário coletivo.

11º Lugar: Tweety Bird (Piu-piu):

Criado por: Bob Clampett em 1942:

A maioria dos confrontos entre dois Looney Tunes tem uma dinâmica estabelecida. Em que um antagonista tenta se dar bem em cima do herói e leva o troco. E esse conflito é melhor ilustrado quando o antagonista é maior e mais forte que seu alvo. E, nessa lógica, nenhum personagem supera o Tweety no que diz respeito ao fraco triunfando sobre o forte.

Tweety não só é um dos menorzinhos Looney Tunes, como é um dos mais jovens, sendo às vezes retratado como um bebê canário (nas primeiras aparições ele sequer tinha penas).

Ele é doce e inocente. Por isso quando ele dá umas porradas do Sylvester é sempre maravilhoso.

Tweety tanto é o rei da dinâmica do fraco enfrentando e superando o forte que esse é o motivo dele ser um dos maiores ícones dos Looney Tunes. Digo, ele é protagonista do próprio longa-metragem Tweety High-Flying Adventure, teve o próprio spin-off de detetives, ele não aparece pra fazer cameo, ele aparece pra ter holofote, ele é o rei. Teve até uma época em que o programa de televisão que passava os curtas animados se chamava The Bugs & Tweety Show, mesmo ele não tendo o hábito de interagir com Bugs Bunny.

Mas não tem como, a inocência superando a selvageria do predador é uma coisa linda de se ver. Uma pena que sua maior contribuição em Space Jam: A New Legacy tenha sido uma piada que é o extremo oposto dessa dinâmica.

10º Lugar: Elmer Fudd (Hortelino Trocaletras):

Criado por: Chuck Jones em 1940

O arqui-inimigo de Bugs Bunny. Seu primeiro e mais tradicional adversário. Se Bugs Bunny sempre foi um personagem sacana, que usa sua esperteza e malícia pra ludibriar seus adversários, Elmer é o encaixe perfeito para ele, pois ele é o personagem mais ludibriável do mundo.

Imortalizado pelos papéis de caçador em que ele quer caçar Bugs por esporte, Elmer também é o personagem que mais cumpre o papel do “homem comum” dentro dos Looney Tunes. Um homem branco adulto da classe média que por ser meio bobo e assustado é feito de capacho por tudo o que existe.

E isso é o que marca Elmer. Ele é o antagonista, mas ele é um homem bom com um hobby problemático. Ele não é vilanesco ou malicioso, ele tem um coração mole, inclusive tendo chorado quando enfim derrotou Bugs. Ele é um homem bom, estando errado, sendo vítima de um extremo cuzão, que está só se defendendo. Essa é a receita, e ela funciona com tudo.

Funciona com o Daffy, funciona com ele ocupando papéis que não sejam de caçador. Coloquem ele na presença de alguém mal intencionado e você tem a definição de comédia. É uma delícia ver ele ser feito de bobo.

9º Lugar: Sam Sheepdog:

Criado por: Chuck Jones em 1953.

Sam Sheepdog e Ralph Wolf são eternamente lembrados pela maravilhosa piada que depois de um dia de muita briga entre eles, eles batem o cartão e conversam normalmente, pois serem inimigos mortais é o trabalho deles e quando eles estão de folga eles não têm nada contra o outro.

E é um bom motivo para se lembrar de Sam, mas não é por isso que eu lembro dele. Eu lembro de Sam pelo motivo de que ele está sempre parado. Os curtas dele se destacam dos demais curtas por não ter um elemento grande de fuga ou de perseguição, o adversário de Ralph é um guarda que nunca deixa seu posto e nunca perde de vista o que deve proteger. E o objetivo de Ralph é achar um ponto cego em um guarda tão eficiente.

Speedy (Ligeirinho) e Road Runner (Papa-Léguas) podem superar seus rivais sendo rápidos e móveis, mas Sam é uma montanha que não pode ser movida. E não importa o que Ralph faça, ele e as ovelhas vão continuar onde estão.

Também aprecio a brutalidade de somente encher o Ralph de porrada. É um murro na cara tão simples, não tem arma, não tem firula. Às vezes o que a gente precisa ver é um socão.

8º Lugar: Tina Russo:

Criada por: Spike Brandt e Tony Cervone em 2011:

A namorada de Daffy criada para o The Looney Tunes Show foi escolhida como uma mulher brava e com os pés no chão, que desafiava a imaturidade de Daffy e o forçava a se portar como um ser humano. Para isso ela era sarcástica, pouco paciente e muito assertiva. Para dialogar com a maneira como Daffy parecia estar sempre dentro do próprio mundinho.

O que me pega na Tina é que a personagem é a atendente de uma copiadora, e, como alguém que passou anos sendo atendente de uma videolocadora, eu acredito que existe uma raiva e uma impaciência que cresce no coração de todo mundo que lida com clientes diariamente que me faz simpatizar muito com a maneira como Tina somente quer que o mundo pare de ser estúpido. Eu consigo entender a frustração com tudo que ela sente.

O que é um sentimento que eu acho que seria muito bem-vindo em curtas tradicionais. A de uma personagem que luta (e fracassa) para que o mundo ao seu redor seja menos louco para o cérebro poder descansar.

Tina nunca existiu fora do The Looney Tunes Show e nunca existirá, mas ela seria muito bem-vinda na minha opinião, pois tem muito a agregar.

7º Lugar: Sylvester Pussycat (Frajola):

Criado por: Friz Freleng em 1945:

Ok, vou direto ao ponto. Sylvester carrega os Looney Tunes nas costas. Ele é o quarto personagem com mais aparições em curtas-metragens, perdendo somente pra trinidade Bugs (Pernalonga), Daffy (Patolino) e Porky (Gaguinho). Mas eles raramente são considerados um quarteto de sucesso. Além disso, Sylvester é recordista em indicações ao Oscar e em vitórias ao Oscar, protagonizando 3 dos 5 curtas animados que foram premiados.

Além de ser um dos mais versáteis personagens e com mais facetas. Ele é o vilão primário de dois personagens clássicos: Tweety Bird (Piu-piu) e Speedy Gonzales (Ligeirinho). Mas quando está com Porky Pig ele é um gato medroso. Ele tem seu filho Sylvester Junior, para quem ele quer dar um exemplo e ser um pai valoroso. Ele pode ser o personagem com pé-no-chão para contrastar o seu apoio cômico, ou não, dependendo da sua dupla.

E Sylvester já fez parceria com todo mundo, até com Foghorn ele já interagiu.

Talvez por ter sido testado com todo mundo é que ele conseguiu enfim achar o parceiro que formou a maior dupla de todo o estúdio com Tweety. Sylvester é sinônimo de Tweety e Tweety é sinônimo de Sylvester, e mesmo os dois tendo sido criados em anos diferentes por artistas diferentes para desenhos diferentes e demorado anos para se encontrarem, os dois parecem meticulosamente feitos um pro outro. Sylvester, o predador cruel, e Tweety, a presa inocente que triunfa apesar de seu tamanho.

Eu aprecio como essa dinâmica foi um sucesso tão grande que o crescimento em volta dela foi tão natural. A maneira como a Vovó e o Hector foram introduzidos na dinâmica familiar soa tudo muito plausível. Temos uma senhora que cuida de muitos animais. Todos esses animais tentam coexistir juntos pelo bem da senhora que cuida deles, menos o gato, que é esse escroto, que insiste em perseguir o passarinho e apanha de todo mundo.

É tanto sucesso que ele teve a própria série deles resolvendo crimes. Eles conseguem sustentar uma narrativa em qualquer gênero, somente sendo eles mesmos. Em The Looney Tunes Show os personagens todos foram repensados em como eles seriam em um subúrbio, mas Sylvester e Tweety não. Eles ainda eram os animais de estimação da Vovó, fazendo o que sempre fizeram.

Quando você tenta de tudo é que você sabe quando você atingiu o encaixe perfeito, e pode ser confiante que você pode fazer isso pra sempre.

6º Lugar: Michigan J. Frog

Criado por: Chuck Jones em 1955.

Eu acho com sinceridade que esse sapo protagonizou o maior curta animado de todos os tempos quando protagonizou A Froggy Evening, e o único motivo de ele estar fora do Top5 sendo o protagonista do maior de todos os tempos é a sua falta de história. É isso. Ele atingiu o topo do topo e não fez mais nada.

Digo, fez um cameo aqui e ali. Mas nunca foi explorado, nunca foi testado para ver como ele pode ser trabalhado com outros personagens. Digo, ele tem um segundo curta onde ele interage com o Marvin, mas desse eu não gosto tanto.

Eu racho o bico com A Froggy Evening, obra-prima demais! Mas é isso, a vida dele após esse curta é pouco notável e isso perde alguns pontos.

5º Lugar: Daffy Duck (Patolino):

Criado por: Tex Avery em 1937.

Existem dois Daffy Ducks nesse mundo. O personagem foi criado por Tex Avery como um arquétipo que na época se chamava screwball, um personagem porra louca, explosivo, energético e caótico. Mas com o passar dos anos ele foi polido por Bob Clampett para um narcisista, maluco, elétrico e autocentrado que zoa com as pessoas só por zoar. E esse personagem era o personagem mais popular da Warner… até não ser mais.

Quando Bugs Bunny se tornou o personagem mais popular do estúdio, Chuck Jones reinventou o personagem em um rival fracassado do coelho. Que morre de inveja das vantagens que ele usufrui e quer roubar sua glória. O Daffy de Chuck Jones é mais estressado, mal-humorado e menos elétrico que o de Bob Clampett.

E até hoje o personagem alterna entre essas duas caracterizações a tal ponto que muitas pessoas, incluindo profissionais da animação, acreditam que essas caracterizações são contraditórias. Quando eu não acho que sejam.

Eu acho que é porque ele consegue se safar zoando qualquer um que ele se dói com o seu status de segundo lugar. Bugs é a pedra no sapato dele que faz com que não importe o que ele faça com Porky ou com Elmer, Bugs o colocará em seu devido lugar. A frustração de que não importa quantos ele avacalha, ele nunca terá o topo.

Por isso ele se torna uma pessoa diferente com Bugs. Pois ele experimenta os dois sentimentos, ele sabe o que é vitória e sabe o que é derrota.

Eu pessoalmente gosto do Daffy de Chuck Jones. O eterno ressentido. O lembrete do fracasso. O Chuck Jones falava que pra ele o Bugs era quem queríamos ser, e o Daffy era quem realmente éramos. Eu aprecio o sentimento.

4º Lugar: Penelope Pussycat

Criada por: Chuck Jones em 1949.

Eu gosto tanto da Penelope, mas tanto mesmo. Que ela tem o seu próprio texto dentro dessa chaminé. Não tenho nada pra dizer que eu já não tenha dito.

Mas reforço. Eu quero curtas solo dela! Acho ela um potencial desperdiçado, que pode perfeitamente ser resgatado sem o arrombado do Pepe Le Pew.

3º Lugar: Cecil Turtle:

Criado por: Tex Avery em 1941:

Cecil Turtle conseguiu o impossível.

Ele derrotou Bugs Bunny. Não uma, mas em todas as suas três aparições nos curtas animados da Era de Ouro da Animação. Três rounds, e três vitórias. O único personagem que na sua relação de poder com Bugs sai vitorioso.

Cecil é um personagem calmo e tranquilo. Ele anda devagar, fala devagar e nunca parece estressado. E isso contrasta com o quanto ele tira os outros do sério. Quando Tex Avery saiu da Warner ele não conseguiu levar Cecil com ele, pois os personagens são do estúdio, então ele foi pra MGM e criou outro personagem baseado em Cecil Turtle, que é Droopy Dog, que eu nunca contei pra vocês, mas é, na minha opinião, o melhor personagem animado da história.

Mas Cecil não é o Droopy, é só sua inspiração. Porém mesmo assim, os banhos que ele deu no Bugs Bunny foram todos deliciosos de se ver. Mas apesar disso o personagem ficou em bastante desuso, provavelmente porque ninguém queria ver o Bugs ser derrotado nos desenhos. Ele fez cameo pequeno aqui e ali, mas nunca teve discípulo em Tiny Toons, descendente em Loonatics Unleashed, ele sequer é um personagem de Looney Tunes World of Mayhem, o jogo gacha dos Looney Tunes.

Ele retorna em uma participação real em The Looney Tunes Show, onde Bugs se vinga dele duas vezes ao final do episódio depois de passar o episódio inteiro sendo feito de panaca. E então retornou nos curtas da HBO para disputar sua quarta corrida com Bugs e quarta vitória.

Cecil é um eterno lembrete de que sempre existe um peixe maior. E um personagem altamente qualificado para ensinar essa lição pros vilões dos dois Space Jam, mas, como estabelecido, ele só foi realmente resgatado recentemente.

2º Lugar: Bugs Bunny (Pernalonga):

Criado por: Tex Avery em 1940.

O rei da porra toda! O que, independente do que o algoritmo interpretado pelo Don Cheadle diga, é a propriedade intelectual mais valiosa da Warner.

Bugs Bunny é a personificação de justiça cármica, marcada pela sua catchphrase roubada de Groucho Marx “Claro que você percebe que isso significa guerra.”, Bugs nunca mexe com quem não mexeu com ele antes… e uma vez que ele te marca como alvo, ele não vai parar até a sua completa humilhação.

Um tremendo filho da puta enviado para transformar em um inferno a vida de todo mundo que mexeu com ele.

Eu gosto de como em todo conflito Bugs ganha fazendo todo mundo dançar a dança no ritmo dele. Se ele põe um vestido ele faz os outros se apaixonarem por ele. Se ele pega um galho ele faz os outros se portarem feito cachorro. Se ele está em um argumento ele faz a pessoa mudar o lado que defende.

E se ele tem um violino ele literalmente faz os caipiras dançarem em direção a sua tragédia.

 

Todo mundo tem duas facetas, quem eles são e quem o Bugs faz eles serem com sua esperteza e manipulação. Pois os desenhos são sempre isso. Ele manipulando os inimigos para fazerem algo que não fariam.

Todo mundo é um pateta diante do rei. Por isso ele não teme a ninguém. A sua maior catchphrasewhat’s up doc?” é icônica pois ele diz isso quando está em perigo. E o efeito cômico dele ter dado um cumprimento casual diante da ameaça de morte fez as plateias do cinema vibrarem. Ele não se intimida, por que se intimidaria? Esse caçador só vai puxar o gatilho se ele deixar.

Eu só reconheço três personagens acima de Bugs Bunny. Goofy (Pateta) da Disney. Droopy Dog dos estúdios MGM. E o primeiro lugar dessa lista….

1º Lugar: Wile E. Coyote.

Criado por: Chuck Jones em 1949.

Se Bugs Bunny é o rei, o maioral, o campeão e o fodelão. Então Wile é o coitadão, o perdedor, aquele que ninguém ama. Quando o Bugs nasceu, Deus deu um beijo na boca dele, e quando Wile nasceu Deus deu um chute no saco dele e falou “se fode aí.”

O que a perseguição de Wile pelo Road Runner (Papa-Léguas) tem de mais icônico é que o Road Runner não luta de volta. Ele tal qual seu nome indica, somente corre na estrada, ele não ataca o Coyote em nenhum momento. Então quando o Coyote perde ele perde pra si mesmo, para as empresas ACME, ou ainda mesmo, para Deus.

Porque eu vou falar da piada do túnel aqui. Uma clássica. Todo mundo ama a piada do túnel.

Quando Wile desenha um túnel falso, esse túnel está em dois estados ao mesmo tempo. Ele é um túnel real para o Road Runner e um falso para Wile. Por quê? Porque as regras mudam. Os dois não estão vivendo sob as mesmas leis da física. Foi o Road Runner que fez o túnel magicamente ficar real? Foi Deus, o pássaro tá só nos corre dele (literalmente). Mas ele usufrui do que lhe foi dado e isso torna a competição com o seu rival injusta. Pois sempre que Wile compensa ele ser naturalmente mais lento que o Road Runner e equilibra a competição, forças externas do mundo mudam as regras para ele continuar perdendo.

De verdade eu acho que dá para usar o Wile E. Coyote e o Road Runner para explicar como privilégio funciona na sociedade. Pois na sociedade não tem Deus, mas tem as instituições liberando os túneis pros Road Runners da vida. Por isso pau no cu desse pássaro que não fez nada e ficou com tudo.

E esse é o ponto importante. Pois em qualquer disputa de dois Looney Tunes, a gente tende a ficar do lado de quem tá revidando. Nos curtas do Tweety e do Sylvester a plateia deve torcer pelo Tweety. Nos do Bugs, o Bugs está se defendendo e ficamos do lado dele. E a gente quer ver Foghorn pagar pela sua trollagem. Mas aqui não, os curtas são feitos para ficarmos sempre do lado do Coyote. A vitória dele é nossa vitória.

Mas a vitória dele nunca vem.

Mas nós seguimos por décadas vendo esse coitado faminto no deserto, só esperando o dia em que ele vai mostrar pra essa ave.

 

Mas pera, é isso? E cadê o Taz? Cadê o Yosemite Sam (Eufrazino)? Cadê o Porky Pig (Gaguinho)? Cadê o Homenzinho da Junta do Recrutamento?

Esse personagem é maravilhoso, mas em algum momento eu tinha que parar a lista.

Pois é, essas são as famosas menções honrosas.

Porque se eu quiser eu fico aqui mencionando pra sempre. Henery Hawk (Chiquinho Gavião) agindo como se tivesse dez vezes o tamanho que tem. Ou a interação acalentadora que é o carinho que Marc Anthony tem por Pussyfoot. Mas é isso, os Looney Tunes se concentraram em criar personagens memoráveis.

E o que tornava eles memoráveis não se resumia às piadas num vácuo, se resumia a quem eles eram e o que eles faziam. Inclusive esses curtas eram cheios de piadas recicladas, mas o que eles provavam é que algumas funcionam melhor com alguns personagens que outros, pois eles têm presença.

E o que dá presença a eles é a sua caracterização, e no caso não somente sua personalidade isolada, mas sua química, o que eles oferecem aos demais Looney Tunes e o que eles tiram deles. Cada dupla de Looney Tunes é diferente e traz interações diferentes. Bugs não é o mesmo coelho com Daffy que ele é com Taz e não é com Taz quem ele é com Cecil. Daffy é um pato com Porky e outro pato quando enfrenta Speedy. Cada dupla tem sua própria dinâmica e enquanto alguns como Wile E. Coyote têm um parceiro para toda vida, Bugs pode desfrutar de uma lista de antagonistas enorme para explorar várias facetas.

E esse explorar é o que marca eles e permite que eles possam ser colocados em qualquer situação. Do subúrbio californiano até no futuro combatendo vilões. Resolvendo mistérios ou indo pro espaço… mas mesmo assim, parece existir uma dificuldade em colocá-los em uma quadra de basquete.

Nos dois Space Jams a caracterização individual de cada um deles decaiu por uma noção de que eles eram coletivamente os Looney Tunes e deveriam estar sempre fazendo a mesma coisa. A piada era sempre o que todos eles tinham em comum para contratá-los com a normalidade e carne e osso do astro da NBA de seu respectivo filme, mas nunca o que cada um deles tirava individualmente de seu astro. Ou um do outro. Nos dois filmes o papel deles é sempre “fazer doidera na quadra” e no A New Legacy o arco de Bugs é aprender a parar de fazer doidera e a ser um herói sendo normal.

É como se o filme não tivesse o menor interesse nos personagens. O que faz Space Jam entrar em contraste grande até mesmo com adaptações ruins dos Looney Tunes. Eu não gosto de Back in Action, mas eles definitivamente estavam livres pra serem eles mesmos ali. Assim como na maioria das suas adaptações.

Mas Space Jam nunca foi sobre eles. Foi sobre vender Air Jordan, ou sobre vender assinatura da HBO Max. E os outros filmes têm interesse comercial, mas ainda era sobre vender os personagens do filme, aqui eles são só escada para levantar uma outra marca que é o foco da propaganda.

E é por isso que a Lola não decola nesses filmes. Como ela vai ter personalidade se nem mesmo os Looney Tunes estabelecidos têm?

Pelo amor de Deus, por que o Porky canta rap? O que isso tem a ver com ele? O que isso passa da personalidade dele pra frente?

Felizmente, esse tipo de coisa não vai se repetir até Space Jam 3 vir à tona, e nesses 25 anos de espera pro sucessor do LeBron surgir, a certeza é que os Looney Tunes vão seguir fortes, com seus curtas animados e eventuais releituras sempre crescendo. Pois eu fiz questão de colocar ano e nome do criador de cara personagem para reforçar justamente: os Looney Tunes não foram todos criados juntos pelo mesmo cara, eles são um esforço coletivo. Cada pessoa que passou pelos personagens deixou uma coisa ali e cada um veio em um ano. Eles foram construídos aos poucos para ser a turma gigante que é hoje e vão continuar sendo trabalhados.

Pois até hoje eles são constantemente homenageados pelas dinâmicas que eles tinham entre si. É famosa a referência direta que o filme Monsters Inc da pixar fez ao curta Feed the Kitty, em que a relação e preocupação de Sully com Boo foi feita para lembrar a de Marc Anthony com Pussyfoot.

E os personagens de South Park Nathan e Mimsy, que se tornaram populares imitando a dinâmica de Rocky e Mugsy na cara dura mesmo muitos anos depois, mostrando que esse tipo de dinâmica funciona, mesmo que as gags de South Park sejam bem mais pesadas que as dos Looney Tunes.

É por isso que Pinkie Pie, ao ensinar Fluttershy a se tornar assertiva e não ser feita de besta, ensina ela a agir feito Bugs Bunny, pois é uma postura o que os personagens tiram dele, não uma catchphrase.

E isso vale pra qualquer animador que se preze, pois o que você não cansa de encontrar é homenagem aos Looney Tunes em desenhos modernos, que vêm em todos os formatos.

E é isso que esse texto prestigia. O poder desses personagens, dessas dinâmicas e do esforço coletivo para deixá-los onde estão hoje.

THAT’S ALL FOLKS!

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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