Little Witch Academia – Estratégias para se manter uma cultura viva

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Esse ano, a Pixar lançou pras plataformas digitais, sem exibição no cinema por conta da pandemia, o filme Onward, que eu vi e é bom o suficiente, apesar de estar abaixo do que eu costumo esperar da Pixar. Mas enfim, o texto não é sobre Onward, só queria chamar a atenção pra algo que me chamou a atenção negativamente no filme.

Logo no começo ele estabelece que no passado existia magia no mundo. Porém o desenvolvimento da tecnologia fez todo mundo se acomodar e desaprender a magia até o momento em que ela se tornou extinta. E eu achei essa premissa uma das ideias mais absurdas do mundo… O que? Porque eu tenho energia elétrica na minha casa eu perdi o interesse em reviver os mortos ou em uma magia que me permite mudar de tamanho? Isso nem faz sentido, claro que as pessoas ainda vão ter esses interesses. O que me lembrou de uma franquia que eu adoro cutucar.

Antes da J. K. Rowling ser uma notória transfóbica, ela era famosa por retconar os personagens de Harry Potter como membros de minorias, depois que a obra estava finalizada sem precisar se dar ao trabalho de escrever representatividade mas ganhar glórias por ela. Mas antes dela começar a fazer isso, ela já dava umas declarações que me incomodavam na construção-de-mundo dos livros. Eu lembro quando eu usei o Pottermore pela primeira vez tinha um comentário dela, sobre como a magia impede que as pessoas no mundo bruxo tenham interesse por tecnologia. Falando que, quem é que teria interesse em e-mails se pode mandar carta por corujas….

….eu teria. Com toda a certeza. O outro lado da moeda é igualmente ilógico. Claro que o mundo bruxo não oferece nada que retire o apelo e a conveniência que é a internet. E porra, anos 1990 e Hogwarts mandando os alunos escrever com pena e pergaminho, ter parado no tempo tem limites, deixa os moleque usar caneta bic, pelo amor de Deus.

Pois bem, existe essa ideia de que um mundo deve ser ou mágico ou tecnológico, mas que os dois não coexistem, pois são essencialmente métodos diferentes pros mesmos fins, então que em algum momento terá que ser feita uma escolha. E eu acho que a rivalidade entre ciência e mágica pode ser interessante na perspectiva dos cientistas e magos, que disputam quem tem mais relevância, mas pra uma sociedade a coexistência dos dois, em prol da conveniência é o caminho mais verossímil, e sempre que tentam me vender que uma sociedade abandonou completamente um dos lados, me soa realmente estúpido.

Eis que eu vejo Little Witch Academia, anime feito pelo estúdio Trigger, que mostrou uma abordagem interessante em relação a essa rivalidade.

O anime é sobre Atsuko Kagari, apelidada de Akko, que após ser conquistada pelo mundo da bruxaria numa apresentação de sua bruxa favorita Shining Chariot, se matricula na escola de magia Luna Nova, que recentemente permitiu que alunas se matriculem mesmo sem ser de uma família de bruxas, como uma maneira de resolver o problema do número cada vez menor de alunas na escola.

Mas o grande conflito do anime não é o fato dela ser uma pessoa num mundo de magia, ou o do conflito das bruxas com pessoas-sem-magia. Digo, esses conflitos aparecem com clareza ao longo da série, mas ele é um sintoma de um conflito maior, que é de que todas as bruxas podem perceber, que a magia no mundo está diminuindo cada vez mais, e falta pouco tempo pra não existirem mais bruxas no mundo.

Na série, no passado existiu uma Era de Ouro da Magia, que começou depois que a caça-as-bruxas acabou, e elas foram aceitas na sociedade publicamente e usavam sua magia em prol da humanidade. Porém após a Revolução Industrial as pessoas foram seduzidas pela praticidade da tecnologia e a magia caiu em um desuso que por consequência diminuiu a quantidade de magia no mundo, pois muitos não acreditavam mais no poder da magia. Essa diminuição de poder mágico no mundo por desuso criou uma geração menos mágica que diminuiu ainda mais a fé, em um círculo vicioso que culminou na geração atual.

A consciência de que a cultura e estilo de vida da qual fazem parte tem seus dias contados, e que a escola já é em partes uma relíquia do passado agindo como se tudo estivesse normal, é algo que pesa no coração de cada personagem na série, assim como o desejo de impedir que isso aconteça, e de poder manter as bruxas no mundo por mais tempo, para isso diferentes personagens têm diferentes ideias de como se portar diante desse fato.

E diferentes estratégias sobre o que elas podem fazer para manter as bruxas vivas. Que é o ponto do anime que eu quero pensar mais a respeito no texto, pois é o que me chamou mais a atenção. São 4 estratégias no caso, encabeçadas pelas quatro personagens mais importantes do anime. Diana, Croix, Chariot e Akko.

Estratégia de Diana.
Apelo à Tradição:

Diana Cavendish é a melhor aluna da escola. Uma aluna brilhante, séria, dedicada, que personifica em muitos aspectos a noção de uma bruxa ideal, com um conhecimento prático e cultural da magia e a capacidade de colocar esse conhecimento em prática.

Primeira cena com Diana no anime estabelece ela como a única na escola capaz de ler um idioma antigo de bruxas.

E o que ajuda Diana a se manter no topo, e a ser essa bruxa ideal e perfeita? A tradição.

Diana não somente entende e aplica os protocolos, costumes, regras e normas das bruxas, como ela se apega a elas, como algo que não pode ser perdido. Ela preserva a história do Clã Cavendish se recusando a se livrar dos itens históricos da família para pagar as contas da família. Ela estuda e é capaz de ler línguas que muitas bruxas já não aprendem mais. Ela valoriza cada ritual de Luna Nova, o que a coloca em conflito direto com Akko, a novata, que não tem conhecimento da maioria deles, e alguns que ela conhece, ela não exatamente respeita.

E tradições são uma maneira importante de se proteger uma cultura, pois é por parte delas que a cultura se manifesta. Se a cultura está gradativamente desaparecendo, então cada hábito que entra em desuso soa como um prego a mais no caixão.

No musical The Fiddler on the Roof, o protagonista Tevye descreve que ser parte de uma religião em um território hostil a ela, como semelhante a tocar violino em um telhado. Você tenta fazer uma melodia agradável de se ouvir enquanto se esforça pra não quebrar o pescoço o processo, e nesse cenário, são as tradições quem mantém o violinista equilibrado.

E não é incomum vermos certos costumes serem fortalecidos em resposta a mudanças rápidas no mundo. Como uma reação forte de grupos que temem perder a importância. Afinal quanto menor a população de seu grupo, mais importante é que você demonstre que pertence a ele.

O Clã Cavendish consegue traçar sua descendência até uma das nove bruxas responsáveis por trazer a Era de Ouro da Magia ao mundo. E apesar de terem sido nove, nós não vemos nove famílias no anime, nós vemos só os Cavendish, e nada passou a impressão de que existem outras alunas com uma família poderosa iguais a de Diana.

Pelo contrário, sendo uma aristocrata e uma cidadã da alta-classe, Diana não cresceu tanto cercada por outras bruxas aristocratas, quanto cercada pelos poderoso que acreditam que a magia no mundo atual é desnecessária, Andrew, amigo da infância de Diana, começa a série como um claro representante da sociedade que perdeu a fé na magia e nas bruxas. E Diana tem pavor de ver sua tia e primas acharem que estar em bons termos com essa elite é mais importante que a história de sua família.

A postura de Diana em relação ao desaparecimento da magia é uma postura de resistência, mas ela não é a única que resiste. A grande maioria do corpo docente de Luna Nova é extremamente averso às quebras de tradições de Akko e a mudar o próprio estilo de vida. Em especial a professora Finneran, marcada como a mais conservadora, e como alguém que representava o conservadorismo da escola quando falava.

Resistir à mudanças que apaguem seu estilo de vida reforçando a importância das tradições e de fazer as coisas da maneira tradicional é contrastada pela ideia de que uma cultura é maleável, adaptável, e capaz de evoluir com o passar dos anos. Falemos sobre isso.

Estratégia de Croix.
Apelo à Modernidade:

Croix é a antagonista principal da série, introduzida na segunda metade como a professora de magia moderna de Luna Nova, que solucionou uma crise em que a escola não tinha mais energia o suficiente pros alunos praticarem magia e pras fadas que trabalham na escola sobreviverem ao mesmo tempo. Croix introduziu um sistema que mistura magia com tecnologia que permitia que a escola tivesse o poder mágico necessário, reaproveitando energia mágica largada no ar e recolhendo-a em uma reserva.

Croix era uma mulher frustrada com o fato de que ela não havia sido escolhida, pelo Cetro Brilhante, para restaurar a magia no mundo desbloqueando as sete palavras, e decidiu que restauraria ela mesma, com ciência, criando um aparelho que conseguia transformar as emoções humanas em um estoque de poder mágico, no processo removendo o poder mágico potencial das pessoas comuns.

Deixando sua vilania e más-intenções de lado. Croix representava uma antítese em relação a todas as outras professoras de Luna Nova, ela era a única que não usava uma roupa de bruxa, sequer o tradicional chapéu de bruxa (que até a professora Pisces usava), e os elementos que ela introduziu no campus na sua chegada eram vistos com desconfiança por parte das demais professoras, em especial o uso de tablet nas aulas.

E Croix se destaca de todas as bruxas da série por sua completa quebra de protocopo quanto as suas roupas, que mesmo assim, não são roupas de pessoa normal, destacando ela dos engravatados também.

E essas mudanças eram necessárias para permitir as alunas compensarem suas limitações e poderem explorar melhor seus estudos. O SSS de fato permitiu a escola funcionar depois da greve das fadas até o fim da série, e o sistema de roteador permitiu que as alunas pudessem usar magia fora do campus, e essas melhorias foram a princípio boas para a escola.

Os tempos mudaram, e diferente de Diana e das demais professoras, Croix não resistiu a mudança, mas a incorporou, pois ela não tinha o desejo de manter as coisas iguais, mas se melhorar, se atualizar e obter um poder que ela não tinha acesso em sua geração.

É até curioso, pois a série pinta Croix e Diana como paralelos geracionais claros, por conta de como a amizade/rivalidade delas com Akko/Chariot se deu por conta do Cetro Brilhante. E elas se parecem em muitas questões, mas nesse ponto elas realmente se posicionaram em lados opostos.

Infelizmente por ser a vilã, a série acabou fazendo a tecnologia dela que ela misturou com mágica ser usada para o mal, mas eu não sinto que a série enquadrou nada parecido com um “modernidade é ruim, antiguidade é bom”, afinal o problema da tecnologia dela, é que roubava as emoções das pessoas, roubava sua magia, e se alimentava de emoções principalmente negativas, o que é um tiro que saiu pela culatra quando você confia seus sonhos em itens que são movidos essencialmente ao ódio alheio.

Mas o sistema SSS não tinha nada disso e não foi criticado. Pelo contrário, ajudou pra cacete.

E no lado das heroínas, tínhamos Constanze que também incorporava tecnologia com sua magia, o que a fazia ser vista como uma encrenqueira na escola. E sem nenhuma das implicações de Croix, pois ela não era a vilã. Então o barco voador dela, nem a sua vassoura equipada nunca roubaram a alma de ninguém. E mostraram claramente que as vezes se adaptar é uma solução. Afinal, é o que permitiu a Constanze ser a única que sobreviveu a trapaça de Sucy na corrida, além de ter destaque na caçada.

Porém misturar ciência e tecnologia com a magia para criar um tipo de magia diferente, mais eficiente e mais adequada aos tempos atuais não é a única forma de se modernizar a bruxaria. Existe uma outra.

Estratégia de Chariot.
Apelo ao espetáculo:

Chariot Du Nord, foi anos atrás uma bruxa de palco que fazia apresentações que deixavam as pessoas felizes, seu público era formado majoritariamente por não-bruxos, e ela ganhou uma má reputação entre as bruxas, por ter transformado a arte da bruxaria em uma palhaçada. Porém na sua plateia estava a jovem Akko que por conta da apresentação de Chariot decidiu que ela ia ser uma bruxa também.

Tecnicamente as apresentações de Chariot não eram exatamente uma tentativa de salvar a magia. Ela fazia o que ela amava, e ela amava o tipo de magia que deixava as pessoas felizes. Mas no processo ela achou uma outra maneira de modernizar a magia, não usando a tecnologia para compensar as limitações da magia enfraquecida da atualidade, mas pegando uma magia que não tinha mais apelo funcional, e dando um apelo estético, para reconectar a magia a elas através do fascínio.

Que foi essa exata perda da conexão da magia com a sociedade em geral que diminuiu o poder mágico no mundo, e se ela não podia ser restaurada por uma questão prática, uma vez que as pessoas de fato preferiam resolver suas inconveniências com um a internet do que chamando uma bruxa, elas ainda poderiam apreciar a magia pela magia, enquanto um espetáculo e um entretenimento.

Por um lado funcionou, pois o espetáculo de Chariot de fato encantava as pessoas mais variadas para a magia. A Akko que não está em sintonia com a cultura das bruxas e não faz muita questão de mudar isso, decidiu que queria ser um bruxa igual a Chariot que usava sua magia para fazer as pessoas felizes. E Diana, a bruxa-modelo com alto respeito pelas tradições e pela maneira correta de se fazer, e que tem muito orgulho de sua linhagem, também se inspirou na infância pela Chariot, e teve no espetáculo seu interesse pela magia aflorado. O show dela tinha esse poder, o de fazer quem não conhecia magia se interessar, e quem conhecia, se reconectar e se motivar a seguir nesse mundo.

Infelizmente, o efeito de Chariot foi o oposto, pois o show dela na verdade roubava o poder mágico da audiência e portanto diminuía as chances de sua audiência poder colocar sua recém-adquirida admiração em se dedicarem a estudar magia por exemplo. Tanto Akko quando Diana sofreram obstáculos em sua busca por virar bruxas por terem tido seu poder roubado por Chariot. O que Chariot não sabia que estava fazendo.

Mas isso, apesar de inicialmente eficiente, o método de Chariot fez ela experimentar o pior dos dois mundos. Quando ela parou de usar uma magia que pudesse roubar o poder de seu público, o nível das magias diminuiu por consequência e ela foi abandonada por seu público desinteressado. E sua reputação entre as bruxas foi a de alguém que banalizou a magia e tirou o significado dela, dando a ela uma má reputação entre bruxas e pessoas normais, que culminaram no seu desaparecimento. Mesmo Diana, que foi inspirada por Chariot a ser uma grande bruxa, foi aprendendo a negar Chariot em prol de ser a bruxa tradicional que ela aspirava ser.

No debate de estratégias alternativas para restaurar a magia no mundo, não era a estratégia central de Chariot pra preservar o mundo das bruxas ao qual ela era apegada. Ela tinha outra estratégia, que não conseguiu concretizar, a de reunir as sete palavras. E ela compensou se tornando uma mentora de Akko para que ela fizesse o que Chariot não fez e juntasse as palavras, então é a vez de falarmos de Akko.

Estratégia de Akko.
Reconstrução da Magia:

Akko é a protagonista do anime. Uma menina impaciente, não-talentosa, imprudente, irresponsável, avoada, teimosa, otimista, e mais uma outra gama de traços de personalidade que fazem dela uma má aluna, e alguém que não tem uma reputação positiva em Luna Nova.

Mas ao final do anime, é ela quem dá a contribuição mas significativa para restaurar a magia no mundo. Pois o anime é dela, e o que foi que ela fez? Essa aqui é a parte interessante.

Em seu primeiro dia de aula ela encontra numa floresta o bastão apelidado de Cetro Brilhante, que ela reconheceu como tendo pertencido à Chariot no passado. O Cetro escolhe Akko para ser sua portadora, pois ela é a heroína, e na metade da série ela descobre que se ela usasse o cetro para desbloquear sete magias perdidas (simbolizadas por sete palavras em uma língua antiga, cujo aprender de qual é a palavra e qual seu real significados simbolizariam sete lições importantes sobre ser bruxa que ela aprendeu), ela poderia devolver a magia pro mundo.

Que inclusive as três personagens descritas nas sessões anteriores desse texto, todas tem relação com o cetro por estarem cientes desse poder. Chariot foi a portadora anterior do cetro, Croix se frustrou por não ser, e criou seu próprio cetro com ciência, e Diana tinha expectativas de ser a portadora do cetro e não foi, o que ajudou a pautar uma má relação com Akko inicialmente, uma vez que Diana descobre sobre o cetro logo no segundo episódio e imediatamente o desdenha.

Enfim, assim como o Cetro não é exatamente o que guiou os ideais de como impedir o desaparecimento da magia das outras três personagens, não é o que guiou Akko também, até porque justamente, o cetro não exatamente restaurou a magia quando Akko liberou a sétima palavra. A magia liberada criou um galho que gerou umas flores e foi isso. Bonito, mas a magia no mundo ainda era fraca. Pro cetro realmente restaurar a magia precisava outra coisa acontecer.

Porém séculos no passado, uma crise semelhante de magia foi resolvida pelas Nove Bruxas, um grupo que além de serem as fundadoras de Luna Nova, de uma das nove ter sido a portadora original do Cetro Brilhante, e de terem sido quem selou a mágica de alteração do mundo que precisava ser desbloqueado com as sete palavras, além disso, elas realizavam milagres que ajudavam e guiavam pessoas.

Foram figuras influentes cuja enorme influência mantém as bases da cultura das bruxas até hoje, afinal como já mencionado, a ancestral de Diana era uma das nove, e isso tem relação com o quão tradicional Diana é.

Pois bem, o que Akko realmente fez, foi junto das outras oito bruxas que estavam ao seu lado quando ela libertou a sétima palavra, ela declarou elas como as Nova Nove Bruxas, e armou um plano para elas unidas salvarem o país de um míssil que a magia de Croix havia lançado.

Em uma ação pública, as bruxas juntaram suas vassouras todas e realizaram um milagre, voaram até alcançar um míssil e o derrotaram com sua magia, com Akko e Diana lutando lado a lado, e ver essas garotas salvarem o mundo ao vivo restaurou a fé das testemunhas na magia. Literalmente, pois com medo do míssil, eles não tinham nada com o que contar, até verem as bruxas e ganharem esperança.

O que Akko fez foi reinventar o sentimento que permitiu que a magia tenha tido o impacto que teve no passado em primeiro lugar. Não remeter a sua memória, mas recriar meio que do zero. Ela não estava fazendo as pessoas normais lembrarem das nove bruxas, mas estava personificando o tipo de ação que fez as nove ganharem a influência que ganharam em primeiro lugar um milagre.

E o principal, estava fazendo as demais três bruxas citadas, usarem seus talentos e perspectivas em prol desse milagre. Afinal as três entraram nesse timinho de as Novas Nove Bruxas. O tipo de magia delas e de ideais delas não foi excluído na batalha final, foi agregado.

Com Diana a mais talentosa e dedicada bruxa do grupo, liderando a missão.

Em uma vassoura que são na verdade sete vassourar fundidas em uma só, algo só possível com o uso da tecnologia da Croix (e Constanze).

E com um discurso inspirador de Chariot que usou seu carisma para narrar uma narrativa que fizesse todas as pessoas depositarem sua fé naquelas meninas.

E com isso elas fizeram o que as bruxas não fizeram por séculos, se reconectaram com as pessoas normais, e fizeram todo mundo entender que elas talvez não sejam a presença mais essencial do mundo, mas elas são importantes. E eles podem não precisar de uma bruxa todo dia, mas quando precisarem, elas estão lá, para ajudar e inspirar, que nem elas estiveram antes da Revolução Indústrial, realizando milagres.

E essa fé de todo mundo, recriou a Yggdrasil que restaurou a magia no mundo.

Menos do que engajar no debate de se a magia deve se assemelhar com o jeito antigo ou novo de se fazer magia, Akko fez a magia se conectar com as pessoas, o que é uma extensão de como ela só entrou nesse mundo depois que a magia de Chariot se conectou com ela, mas também do quanto a rivalidade-que-virou-amizade com Diana e a inspiração-que-virou-traição de Croix a afetaram, pois no fundo, o anime não verdadeiramente toma partido na questão da tradição versus modernidade. Ambos tinham espaço, e ambos tinham motivos muito válidos em serem defendidos. Mesmo Croix sendo a antagonista, não vou nem entrar no ponto dela ter vindo pro lado do bem no último episódio, pois acho mais interessante ver, que o monstro que ela criou era perigoso por ser feito de emoções negativas, mas não por ser feito de tecnologia. Então a criação do monstro não vilaniza a noção da implantação da tecnologia na magia.

Isso não foi muito Black Mirror, meu.

Acho que se tem algum lado que ganha qualquer batalha é o do recomeço. Pois é o que Akko representava no fim das contas. Akko se destacava em Luna Nova por sua completa não-familiaridade com vários elementos do mundo das bruxas, e por isso ela não agia em função a como as coisas funcionavam desde sempre. Nem afirmando elas, nem negando elas, nem reinterpretando elas. Akko as ignorava, ela seguia o que ela achava o correto independente de ser ou não a tradição. E com isso ela trouxe uma perspectiva completamente nova pro mundo das bruxas que acabou sendo o que era necessário.

Afinal, ela conseguiu convencer Andrew a respeitar a magia, não executando uma magia nem muito igual nem muito diferente do que Andrew esperava ver de uma bruxa de Luna Nova, mas sendo meramente espontânea e ela mesma, de maneira que Andrew pudesse ver a conexão que ela tem com a magia e como isso faz parte de tudo o que ela faz, inclusive as coisas boas.

O que volta no começo do texto. Existe um conflito entre alunos que vem de linhagens mágicas renomadas, e alunos que caíram de para-quedas sem muita noção daquele mundo. Mas diferente de como isso é tratado em Harry Potter, que veio antes, ou em releituras mais recentes da escola de magia como a animação Owl House ou o mangá Mashle, esse conflito que ocorreu com Akko era um sintomia desse conflito maior, Akko representava uma perspectiva moderna e distanciada em cima de um estilo de vida que se preserva desde a idade média, e isso refletia no conflito dela com Diana, não por linhagem, ou sistema de castas, mas por ser parte da dicotomia entre tradição e modernidade.

Embora luta de classes tenha sido um assunto levantado também no conflito entre Akko e Diana, pois afinal Akko é um dos maiores ícones comunistas da história dos animes.

Mas é isso, vi esse anime com expectativas bem baixas, e não achei ele nem o mais complexo nem o roteiro mais inovador do mundo, é bonitinho, se encaixa bem, mas eu achei que foi até agora a abordagem mais legal e interessante que eu vi de uma Escola de Magias, nem uma cópia de Hogwarts, nem uma sátira de Hogwarts…. Somente uma escola de magia bem-feita.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
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