A Visão do Vilão – Parte 5: A incompatibilidade entre a Illumination Studios e Dr. Seuss.

A
  1. Em janeiro de 2017, eu fiz uma série de quatro posts circulando a mesma ideia, que era a enorme dificuldade que a mídia mainstream atual tem de encarar a bronca que é fazer o protagonista de uma história ser o vilão, onde cobri a necessidade de sempre fazer o vilão-protagonista enfrentar um vilão maior que a si mesmo, como um vilão-protagonista mal estabelecido pode estragar um filme, como clássicos da literatura com vilões protagonistas lutam para ter adaptações fieis no cinema e na TV, e como uma narrativa muito clássica e padrão pode ter muito a ganhar sendo contada na perspectiva do vilão. Nessa época eu queria ter dedicado um post ao Dr. Seuss, mas só consegui fazer 4 posts pro mês temático. Porém agora aconteceu algo que me fez ressuscitar a ideia do quinto post sobre vilões protagonistas, um gatilho bom pro texto que nunca saiu sair.
E meus desejos nunca morrem. Só precisava de um gancho.

Que foi o Dr. Seuss ter voltado a ser adaptado. Pela Illumination Enterteinment, no filme animado The Grinch que adapta o livro: How the Grinch Stole Christmas.

Então primeiro de tudo tenho que falar da Illumination, para já tirar esse enviesamento do meio do caminho. Eu genuinamente desgosto da Illumination e de seus minions. Despicable Me, sua estreia cinematográfica é um filme que me desagradou horrores, e imediatamente comecei minha relação com o estúdio com o pé esquerdo.

Eu organizo na minha cabeça Despicable Me como o terceiro de três filmes produzidos independentemente um do outro, que tratam da mesma premissa: “vamos falar que a história é contada da perspectiva de um super-vilão, mas na verdade em vez de mostrar ele sendo mal, vamos mostrar como ele na verdade sempre foi bom, e incompreendido e só precisava de amor na sua vida para ser uma boa pessoa.”, antes de Despicable Me, essa mesma premissa veio a tona em Megamind da Dreamworks e em Dr. Horrible Sing-a-long Blog, minissérie musical feita exclusivamente pra internet. E desses três Despicable Me é o pior.

No geral a falta de real maldade do Gru desde o início me irritou. Ele tinha uma mesquinhez anti-social com humor negro e floreada com pistolas de raios e coisas do gênero, mas não tinha maldade, e isso ficava claro no contraste, quando sua mãe e seu chefe são visivelmente pessoas malignas e asquerosas que aquele rapaz tentando realizar o sonho de infância nunca foi. Ele foi vendido como um vilão, e é um herói enrustido desde antes de adotar as meninas, e é no geral filmes desse naipe que me inspiraram a fazer meu mês temático se perguntando: “porque as pessoas tem tanto medo de fazer um vilão-protagonista”?

Isso e aqueles minions malditos foram adotados pela internet. Eu até achei que eles eram a parte mais simpática do filme, mas aí os memes estragaram esses bichos pra mim. Saturou a piada.

Mas isso seria um filme do qual eu esqueceria em pouco tempo se não fossem dois anos depois eles terem resolvido adaptar o clássico de Dr. Seuss: The Lorax. E aí eu notei que na verdade Despicable Me foi o começo de uma lógica que se aplicou a uma obra independente, mas que podia ser aplicada em adaptações. E foi nesse instante que eu comecei a ter um pé atrás com a Illumination. Quando eles começaram a se meter com o Dr. Seuss. 

Então vamos falar um pouco do Dr. Seuss.

Theodor Seuss Geisel, foi um renomado escritor infantil e cartunista político, que escreveu 16 dos 100 livros infantis mais vendidos de todos os tempos. Seus livros, geralmente escritos com versos pequenos rimados como se fossem poemas, eram carismáticos por sua simplicidade, e no geral, pode-se dizer que podem ser lidos a partir de qualquer idade, sendo inclusive usado para alfabetização de crianças.

Apesar disso, a simplicidade e musicidade desse cartunista político trazia consigo um conteúdo denso o bastante para chamar a atenção de todo mundo. Mas o que é mais assustador no Dr. Seuss é sua influência:

 

A batalha de rap entre Dr. Seuss e William Shakespeare é para ser interpretada como uma batalha entre os maiores mestres do idioma inglês.

De Dead Kennedies mencionando seus personagens em música ao Red Hot Chilli Peppers adaptando um de seus poemas em música. A Arrested Development citando trechos palavra por palavra, aos nomes de seus personagens virando adjetivos comuns, Johnny Bravo, South Park, Animaniacs, inúmeros desenhos já tiveram episódios inspirados pelo autor. A obra de Seuss entrou no subconciente de todo americano, e uma vez familiarizados com o autor, é impressionante ver o quanto ele é mencionado nas mais diversas mídias da cultura americana.

Dr. Seuss é um marco no imaginário dos Estados Unidos. Por isso é natural que as obras dele sejam eventualmente adaptadas. No começo ele não queria permitir, mas aos poucos foi liberando os direitos. Até que hoje é aparentemente uma festa da uva imensa, pois a Illumination pode pegar dois livros célebres do doutor e transformar em filmes ruins.

E curiosamente, são dois dos três livros mais famosos do escritor a ter um vilão como protagonista. Então primeiro vamos ver esses livros e porque eles funcionam.

Primeiro o que jamais foi adaptado aos cinemas, embora em tempos atuais seja uma história necessária, por questões políticas é Yertle the Turtle. Que conta a história de Yertle, o rei das tartarugas. Yertle acreditava que ele era o rei de tudo aquilo que ele podia enxergar, e um dia ele decidiu que seu reino era pequeno, pois ele não via longe o bastante, e que por isso que se ele se posicionasse mais no alto de seu lago, os seus domínios aumentariam. Para isso ele começou a empilhar seus súditos em uma pilha de tartarugas, para se posicionar em cima de todas elas e ter uma excelente vista, podendo enxergar bem além de seu laguinho.

Porém quando ele colocou tartarugas demais, a primeira tartaruga de toda essa pirâmide-tartaruguenha tem seu casco quebrado, trazendo a moral de que não importa o quão gigantesco é seu império, ele irá sucumbir se destruir as pessoas que estão em sua base. Ao final, a pirâmide é inteiramente derrubada, quanto a tartaruga embaixo de todas cai, e as tartarugas são livres pra voltar a vida normal longe da tirania de Yertle que de cara na lama, se tornou o rei da lama, pois ela é tudo que ele vê.

Mais que o vilão, Yertle é essencialmente um personagem em uma história de apenas dois personagens, sendo o outro, Mack, a primeira tartaruga, que faz muito pouco além de ter o casco quebrado. O que é outra característica notória de Dr. Seuss, um minimalismo em seu número de personagens.

Então temos The Lorax, que apesar do título, não é um livro protagonizado pelo Lorax, mas sim pelo Onceler. O Onceler, é um homem, retratado com o rosto escondido e apenas suas sinistras luvas verdes sendo visíveis, que descobriu um paraíso natural uma vez em uma floresta de Árvores Truffula. Um dos lugares mais lindos do mundo, e ele começou a usar as Árvores Truffula como matéria-prima para sua grande invenção: o thneed, que era basicamente um suéter multi-uso.

Assim que derruba sua primeira árvore, o Onceler encontra com o Lorax, uma criatura laranja que fala pelas árvores, e representando as árvores da floresta, implorou para que o Onceler nunca mais cortasse uma. Mas o Onceler diz que ele cortou só uma, e ainda existem várias, e que não tem nada demais.

Porém o Onceler segue cortando, construindo uma fábrica na floresta, e cortando árvores, aumenta sua fábrica e corta árvores, polui os rios e corta árvores, polui o ar e corta árvores, sempre visando crescer e crescer seu negócio.

O Lorax insiste em avisar e avisar que não corte, e tentando abrir os olhos para os pássaros e peixes que ele está expulsando da floresta com sua poluição e pro dano que ele faz, mas o Onceler não liga, afinal ele está prosperando.

Um dia o Onceler corta a última árvore da floresta. Quando isso acontece ele sai de sua fábrica pela primeira vez em anos para ver que não existe mais matéria-prima pros seus thneeds e que seu negócio vai acabar. Sem um negócio e uma fonte de lucro ele olha o que lhe restou, o paraíso onde se instalou anos atrás agora é uma área árida, esfumaçada e sem vida. E a única coisa que ainda existia ali era o Lorax, que encara o Onceler com reprovação e sobe aos céus partindo pra sempre.

Restou ao Onceler, a vida de recluso, naquela terra horrível, onde ele guardou a última semente de trúffula do mundo, que ele queria dar a uma pessoa que genuinamente se importasse com as árvores, para que ele pudesse confiar que essa pessoa traria o Lorax de volta ao mundo.

Diferente de Mack, o Lorax faz uma oposição direta ao Onceler, porém uma oposição passiva, ele aconselha-o que pare, e implora que pare, mas não toma nenhuma medida prática para deter o Onceler, além de contar com a consciência de um homem de negócios ganancioso.

Por último temos How the Grinch Stole Christmas, um de seus maiores clássicos, e o único a ter recebido três adaptações audiovisuais. Então vamos lá, a história é sobre o Grinch, que odeia o natal, por nenhum motivo convincente, exceto o de que seu coração era duas vezes menor.

Mas o ponto é que o ódio era genuíno, ele odiava tudo o que era natalino. Odiava a ceia, odiava a árvore, e além de tudo, odiava o barulho, o barulho dos brinquedos sendo brincados, o barulho das pessoas rindo e comendo, e odiava que no fim do natal, todo cidadão ficasse em volta da árvore de natal para cantar.

Por isso ele decidiu que ia roubar o natal. Invadir cada casa e levar cada presente consigo, levar as árvores, a comida, a decoração, tudo mesmo, deixando somente migalhas tão minusculas que até pro rato eram poucas. E após fazer isso com todas as casas ele subiu uma montanha com tudo o que a cidade tinha de natalino para ouvir o povo chorar. Mas o que ele ouviu era o povo cantando, de mãos dadas, em volta de um espaço vazio, celebrando o natal.

Ao ver que pros cidadãos ainda era natal e a celebração poderia acontecer sem nenhum dos itens roubados, o Grinch teve seu cinismo e ódio confrontado com a descoberta de que o natal não era algo palpável que podia ser tomado, mas sim um sentimento belo, e essa descoberta fez o coração do Grinch crescer e o Grinch se redimir. Devolvendo tudo o que roubou e participando das festas.

Apesar de ter mencionado o cachorro Max, que puxou o trenó do Grinch, e a pequena Cindy Lou Who, pra quem o Grinch mente enquanto rouba sua primeira árvore, são participações pequenas e o único personagem relevante da história é o próprio Grinch.

Enfim, o que essas histórias tem em comum? Que é acentuado pela presença de poucos personagens em cada história? Simples, os vilões-protagonistas nunca enfrentam oposição ativa, talvez enfrentem a oposição passiva do Lorax, mas nunca tem ninguém se colocando em seu caminho diretamente. E mesmo assim, ao final os vilões são todos confrontados com o fracasso do que eles queriam. Yertle se tornou rei da lama, o Onceler perdeu seu paraíso e sua empresa, e o Grinch não roubou o natal.

O Dr. Seuss pode se dar ao trabalho de colocar o vilão como protagonista, pois eles não precisam de um herói, suas histórias são sobre o vilão falhando sozinho, pois sua maldade gira em torno de uma ideia falaciosa destinada a dar errado, o que é a deixa pra moral da história, que é justamente expor qual era o erro do vilão.

É tipo ver um curta do Wille E. Coyote, mas com uma moral da história relevante, mas o procesos é o mesmo. E por mais que minha simpatia (e a de todo mundo) esteja com o Coyote, eu vou ser esse cara e classificá-lo como o vilão de seus curtas, pois o Roadrunner (Papa-Léguas) está quieto no canto dele.

Enfim. Um exemplo de contexto pra se colocar um vilão como protagonista e ponto-de-vista de um livro escrito para ser lido por crianças de 4 anos. Fazer uma história não ter a necessidade de um herói. Perfeito! O vilão percebe seus erros pelas consequências de suas próprias ações.

Agora vamos lá. Poemas curtos de no máximo dois personagens ativos, que podem ser lidos em cinco minutos numa boa. Uau, que puta ideia boa, vamos adaptar isso para um longa-metragem. E bem, pra ninguém falar que eu faço dois pesos e duas medidas, nem me dou ao trabalho de ir ver longa nacional adaptado de música de Legião Urbana. Sério, é pedir por tosqueira. Quem tem essas ideias? Você adaptaria “Vou-me embora para Pássargada” em um longa-metragem?

Pois é, mas apesar disso, Dr. Seuss sofreu sua cota de adaptações em longa-metragem. (a maioria de seus livros famosos foram adaptados para curtas animados de 30min nos anos 70, a esses eu não tenho nenhuma crítica, vou falar mal só dos longas).

Mas tudo começou nos anos 2000, quando um brother chamado Ron Howard resolveu enfiar uma tonelada de maquiagem no Jim Carrey pra fazer ele ficar igual o Grinch, e fazer um filme com isso. E eu sei, que vocês devem ter visto esse filme quando eram crianças e ter sido um marco na infância e achado que é portanto muito bom, mas esse filme é uma bosta. Mas o texto não é pra falar mal desse filme não, só menciono ele, pois a caixa de Pandora foi aberta nesse dia, nos anos 2000 e desde então muita abominação invadiu os cinemas.

Em 2003 foi The Cat in the Hat. Em 2008 o surpreendentemente não-ruim-nem-bom Horton Hears a Who, e em 2012, a Illumination resolveu migrar da franquia Despicable Me, para adaptar The Lorax, e é aqui que o ponto que eu quero chegar começa.

Diferente de Dr. Seuss, a empresa responsável por criar os minions e o Gru não tem a menor ideia de como conduzir uma história na perspectiva de seu vilão, tanto não tem que nunca o fez. E resolvem tomar o desafio de adaptar o Onceler, e aquilo foi um fracasso abismal.

A primeira decisão foi a de abandonar a gimmick de nunca dar um rosto ao Onceler, deixando-o mais sorrateiro, misterioso, meio que nem o Sir, o cruel capitalista de A Series of Unfortunate Events, e aqui eles não só dão um rosto.

Eles dão um rosto semelhantíssimo ao rosto do herói do filme, para fazer o Onceler parecer uma versão mais velha do herói do filme.

O Onceler no filme.
Ted, o novo protagonista do filme. e o grande herói que salva as árvores.

Sim, Lorax ganhou um herói que não é o Lorax, mas sim o garotinho-sem-nome que herda a semente de Trúffula no poema, e que é agora um garoto descolado enfrentando o capitalismo pra ver se dá uns pegas na ruiva da cidade que ama árvores.

Mas o ponto é que a repaginada do Onceler foi mais que ganhar um rosto afável. Ele ganhou uma guitarra pra ser descolado, se tornou um cara amado pelos animaizinhos da floresta por ser um espírito livre, e toda sua ganância foi transformada em uma inocência de um homem muito idealista pra perceber o mal que fazia.

A relação dele com o Lorax, em vez de uma inimizade de um homem ignorando as súplicas de outro e lentamente vendo-o quebrar, se tornou uma rivalidade amistosa, em que o Onceler tenta ao máximo atender as exigências do Lorax em respeito a ele até de fato se tornarem incompatíveis com continuar tendo uma fábrica.

Com o Onceler afabilizado para poder protagonizar a história, o filme precisa de novos vilões, com isso a família do Onceler é responsável como sendo um bando de monstro ganancioso que corrompem o pobre guitarrista sonhador. E um vilão extra é adicionado como um vendedor de ar, que tira lucro diretamente da ausência de natureza e vai lutar para que as árvores nunca retornem ao local.

E essa repaginada no personagem removeu tudo o que o personagem tinha de negativo. E vocês subestimam o quão grande foi o fandom que adorou o filme do Lorax por causa do quão sexy o Onceler supostamente era (não entendi o apelo)

Tudo com um grande esforço sendo feito para que tenhamos empatia pelo Onceler, nosso herói. Até mesmo uma cena inclui o Lorax tentando matar o Onceler depois que ele derruba a primeira árvore, tudo para que ele seja colocado numa posição de vítima da história.

Algum de vocês já assistiu um desenho chamado Boondocks? Pois é, o grande empresário cuzão que constantemente sacrifica vidas humanas na série se chamada Mr. Wuncler, mas eles pronunciavam “Onceler” e era claramente de propósito. Pois é um nome que deve remeter ao que o capitalismo tem de mais cruel.

Mas nas mãos da Illumination ele é só um guitarrista sonhador incompreendido. Que nem o P. T. Barnum.

E agora saiu o Grinch, o que me faz pensar que deve ter um terceiro projeto da Illumination adaptando o Dr. Seuss virando a esquina, apesar de nada ter sido anunciado, pois quem faz duas vezes faz três. E bem, o que eu tenho a falar desse Grinch?

Que eu comecei a pensar “porra, o filme com o Jim Carrey não foi tão ruim”, depois de ver o que a Illumination fez.

Assim como o Onceler, um esforço gigantesco foi feito pra tornar o Grinch simpático aos nossos olhos. Sua aparência asquerosa, que no poema devia simbolizar sua vilania, e no live-action foi o motivo pelo bullying que ele recebeu que culminou em sua vilania, aqui é removida, fizeram ele ser adorável, e extremamente abraçável. Um personagem descrito originalmente como “tão abraçável quanto um cactus”, aqui é visivelmente fofo e adorável.

Ao ponto em que ganhou sua própria pelúcia, pra você poder abraçar seu próprio Grinch.

Só mais que fofo e abraçado, o filme se esforça em fazer o Grinch ser identificável como um típico antissocial do século XXI, que come por depressão, não começa o dia sem o café, que se apega fácil a animais porque tem dificuldades com pessoas, ele tem que evitar conhecidos mala na rua, e basicamente faz compras que nem a Eleanor Shellstrap do The Good Place, e independentemente do fato de que a Eleanor merece ir pro inferno em sua morte, isso são aspectos do protagonista relacionável de comédia que descarrega no mundo frustrações que nós temos, para que perdoemos seus defeitos. Falei sobre esse tipo de protagonista no texto sobre Bojack. E o importante é que assim como The Good Place não tem um vilão como protagonista, o Grinch também não tem.

O Grinch é uma criança que se tornou antissocial e reclusa depois de muita frustração e que precisa reaprender como a companhia humana é boa e feliz para poder voltar a valorizar festas de confraternização.

E aqui Cindy Lou Who recebe os créditos como a menina que é tão amistosa e magnífica que mudou o coração do Grinch somente com sua compaixão. Ao ponto em que o Grinch explicitamente fala para a mãe de Cindy Lou “Sua filha mudou meu jeito de ser.”.

Assim como o Gru, o Onceler e o Grinch não foram os vilões que eles prometiam ser. O que mostra uma deficiência enorme na Illumination de vender personagens vilanescos e entregar gente ranzinza e frustrada no lugar. E bem, isso não é tão ruim, quando não está pisando em cima do legado de um dos mais icônicos escritores dos Estados Unidos, com uma leva de clássicos protagonizados por vilões na literatura infantil.

Mas isso volta ao ponto que é o ponto maior dessa série de textos que ganhou seu quinto texto dois anos depois. Porque a Illumination faz isso? E a resposta é: por medo. Por medo de realmente fazer um Grinch asqueroso possa fazer o Grinch ser não-popular com as crianças e com isso faça menos dinheiro. A Illumination é um estúdio de animação muito recente se comparado com a Disney, Pixar ou Dreamworks, e já é um titã no quesito de franquia e fazer dinheiro. Despicable Me é a 15ª franquia mais lucrativa da história do cinema com apenas quatro filmes lançados, e é a franquia de animação mais lucrativa da história do cinema,. E eles tem mais dois filmes pra franquia previstos pros próximos anos. Minions é o terceiro filme de animação de maior bilheteria da história, perdendo para Incredibles 2 e pra Frozen.

E essa máquina de imprimir dinheiro que é a Illumination é organizada por pessoas que entendem muito de apelo com o público. Sério, gente que sabe muito bem transformar personagens em apelo e consequentemente em dinheiro. Só ver os minions, eles estão em todo lugar e estão entre os personagens fictícios mais carismáticos do presente. Tudo na Illumination é intrinsecamente calculado para que venda pelúcia, travesseiro, e seja o mais abraçável possível, para que o mundo ame o que vem do estúdio. E em um mundo que comercializa personagens amáveis, vilões maléficos não tem espaço, só tem espaço pais ranzinzas, guitarristas sonhadores e antissociais depressivos, pessoas que tenhamos identificação o suficiente para torcer por eles ao longo da trama. Pois estúdios de cinema morrem de medo de que vilões não dêem dinheiro.

E é nas mãos de uma empresa com esses ideais que está a obra do Dr. Seuss agora.

Agora mentalizem bem as morais originais de The Lorax e How the Grinch Stole Christmas e veja se combinam com uma empresa que faz filmes sob medida para serem o mais rentáveis possível, pra virem acompanhados de toneladas de produtos e estarem em todas as lojas. Que valoriza a criatividade ao mínimo e transforma todos seus filmes em franquias que se estendem a exaustão (todos seus filmes anunciados pro futuro próximo são sequências). E nessas horas eu revalorizo a Dreamworks.

Lembram que eu acabei de resumir o livro, que é sobre a insustentabilidade do pensamento de expansão capitalista? Agora o Lorax vem virar garoto propaganda de empresas gigantescas e multinacionais para comemorar que elas diminuiram em uma quantia insignificante algum desperdício que elas faziam? Oh, c’mon man! Vocês enfiaram mesmo o bigode do Lorax no McDonalds? É sério essa merda? Vocês acham mesmo que a pegada de carbono da HP é tão pequena que o Lorax pessoalmente promoveria a empresa?

“Chegou sem laços, chegou sem etiquetas, chegou sem embrulhos, caixas ou sacolas. E o Grinch pensou nisso até não conseguir mais pensar, e então pensou em algo que ele nunca havia pensado antes. Talvez o Natal, ele pensou não venha das lojas. Talvez o natal, talvez, signifique algo maior.” a frase icônica do livro, do desenho e do live-action que foi estranhamente omitida da adaptação de 2018. Porque será que tiraram essa citação? Será que é porque ela desmente diretamente a estratégia de marketing do filme?

Porque quando eu vejo Despicable Me e Megamind um seguido do outro, eu ainda sinto um coração em Megamind, um ideal, e a noção de que o roteirista tinha algo pra contar, por mais que eu não seja muito fã da Dreamworks ou do filme. A Dreamworks ainda não me ofende com a ganância e falta de coração do estúdio, muito embora eu seja perfeitamente capaz de vê-la.

Mas enfim, que bom que a Illumination não tem nenhum filme novo do Dr. Seuss anunciado, mas o futuro é sombrio e cheio de incertezas, e nunca sabemos o que pode acontecer.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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