Teen Titans Go: O que é esse desenho?

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Sabem de um desenho animado que me intriga? Teen Titans Go, mas falando sério, é um desenho que simplesmente me intriga, certamente é um desenho que é conhecido por uma hate-base mais do que por sua fanbase, e acho que era o desenho mais xingado da internet, até os remakes de Thundercats e She-Ha surgirem. E mesmo assim a popularidade desse desenho é astronômica, e estamos agora às vésperas do filme desse desenho estrear nos cinemas brasileiros.

Sabem quando foi a última vez que um desenho exibido no cartoon teve o próprio filme exibido nos cinemas? Powerpuff Girls lá em 2002. Sim, o épico filme de Regular Show não foi pros cinemas, nem o series finale de Ed, Edd & Eddy, nem nenhum filme do Ben 10. Mas Teen Titans Go conseguiu entrar no privilegiado hall de desenhos do Cartoon que foram para os cinemas. E eu fico genuinamente cabreiro tentando entender o fenômeno que é essa série, justamente por não ser realmente um fenômeno.

Diferente de Adventure Time, Steven Universe, Amazing World of Gumball, Gravity Falls, entre outros, não é um desenho ao qual eu sou constantemente exposto aos produtos e marketing do show. E eu sei que as crianças amam muito o desenho, mas sendo sinceros, e com todo o respeito às crianças, mas tem alguma coisa passando no Cartoon Network atual que elas não amem? Não é como se fosse o desenho mais popular do canal, nem de longe. Mas descolou um crossover com o remake de Powerpuff Girls. 

Enfim, eu tenho muito a falar desse desenho, então vamos começar falando do mito de sua popularidade. Sim, o desenho é sempre listado como um dos mais populares do Cartoon Network e líder de audiência do canal, como justificativa para o Cartoon Network seguir investindo em mais Teen Titans Go, e em crossovers, e em filmes, e etc… Usando dados como esse.

Como vemos aqui, Teen Titans Go só não foi mais assistido que Regular Show que em 2017 estava exibindo seu Series Finale épico, então tinha um evento para dar boost na popularidade.

Mas se formos por exemplo ver a quantidade de buscas pelos termos de busca associados aos desenhos animados, vemos que Teen Titans Go na verdade é o desenho do Cartoon Network que desperta menos a curiosidade do público, sendo historicamente o menos procurado do Google, e com o único histórico de aumento no interesse tendo acontecido nos últimos dois meses, por conta do filme.

Deixando a dúvida, porque a criança e o público de desenhos assiste o muito mais Teen Titans Go? Mas depois vai procurar vídeo no youtube, imagens e coisas legais de se saber de Adventure Time?

Bom, eu não vou ficar explicando em detalhes a alta audiência do desenho aqui, até porque, honestamente minha teoria não vale um texto. Os produtores amam o desenho mais que o público, é um dos desenhos que o Cartoon Network Americano mais transmite em sua grade horária que em 2014 chegou ser 50% do que o canal transmitia. E para ver um registro prático da quantidade excessiva que o desenho recebe podem ver aqui. Mas enfim, com isso, e com crossovers para ajudar a promover um desenho que nem era pra existir se não fosse a vontade dos produtores de forçar a barra, dá pra ver que os produtores adoram insistir para que esse desenho seja assistido o máximo possível, o que explica esse filme estar indo aos cinemas quando raramente um filme desse porte iria, e também os números, afinal algo que é tão superexposto vai eventualmente gerar bons números.

Aqui um filme que não chegou nem perto dos cinemas.

Longe de dizer que não é popular, porque muita gente gosta de verdade, eu inclusive, é só que, se uma música é 50% do que toca no rádio o dia todo, a chance dela ir parar entre uma lista de “as mais ouvidas” é significantemente maior, e não é um reflexo do quanto ela é “preferida em relação as músicas que mal tocam nas rádios.”. Em especial com o series finale de Adventure Time sendo transmitido mais de um ano depois de ser gravado e os constantes hiatus de Steven Universe.

Enfim, eu não vim aqui acusar o favoritismo dos executivos de forçar a popularidade desse desenho. Embora seja exatamente o que eu estou fazendo, eu vim aqui para descrever o que é o que desenho fez com esse favoritismo. Como ele usa esse enorme favoritismo para testar suas liberdades, e porque esse caminho seguido fez Teen Titans Go se tornar na minha opinião um dos desenhos mais fascinantes que estreou nessa década.

Primeiro temos que entender uma coisa. Existe uma comunidade inteira na internet que odeia esse desenho com todas as forças, e honestamente quando o desenho estreou eu fiz parte dela, acho que era meio inevitável. Afinal existiu um desenho chamado Teen Titans que foi exibido entre 2003 e 2006. Foi a primeira encarnação do time de heróis adolescentes da DC no audiovisual, e trouxe uma popularidade ao time tão grande que além de Teen Titans Go, temos dois filmes animados da DC com os heróis, a série Young Justice, e a série Titans que estreará no DC Universe esse ano. O desenho, como muitos outros desenhos, foi notório por sua falta de final. Ficou no ar uma sexta temporada que deveria no imaginário do fã, ser a temporada da jornada pessoal da Starfire, a única que não teve a própria saga, fechar a ponta solta da ressureição de Slade, e explicar o que houve com a Terra, depois da resolução do último episódio, que apesar de ser um dos melhores episódios da série, não é um final de série, é uma ponta solta. 

Episódio lindão, pena que o prazer que é vê-lo isoladamente é anulado pelo fato dele ser um series finale completamente descolado de tudo que a série foi.

Enfim, com esse mal gosto na boca, que a DC anuncia estar refazendo o desenho dos Teen Titans com todo o elenco original de volta para passar um bloco do Cartoon Network chamado DC Nation, só para séries da televisão. O desenho que estreou foi Teen Titans Go, que não só, eram uma coisa que NINGUÉM pediu, não tinha um só fã falando “nossa, queria que aquele desenho voltasse na versão paródia.”, como não era o que havia ficado implícito quando anunciaram o retorno dos personagens, deixando o ar de tapeação, e principalmente, entrou no lugar antes ocupado por Young Justice na grade horária, uma semana após seu cancelamento, um desenho cancelado por motivos fúteis.

A noção de que a proposta do desenho nunca foi ser comparado ao original é pífia perante como o desenho foi anunciado sempre colocando muita ênfase na palavra “retorno”, falando que era algo feito para poder trazer o desenho antigo de volta. Decisões como a de manter o time com os exatos mesmos personagens com mudanças meramente simbólicas em seus designs (diferente de como foi feito em literalmente toda outra encarnação audiovisual do time), e de trazer todo o elenco original de volta, mantendo as vozes, o elenco como propaganda pra série, são sinais claros de que não havia um pingo de intenção de tentar se distanciar dos fãs da série original nem de recomeçar do zero. Além disso o nome da série é derivado do nome das HQs Teen Titans Go, que eram uma continuação da série no mesmo estilo de desenho, chamada “Go” para não ser confundida com as HQs normais do time. Então até o nome remetia a algo que deveria ser uma continuação.

A noção de “a ideia do desenho não era ser sério” era pífia perante um monte de fã que queria algo sério, em um bloco de programação que era um bloco sério (o outro desenho do bloco era o péssimo-porém-sério Beware the Batman), e em substituição de um dos melhores desenhos de herói sérios da história. Obviamente todo mundo que teve o biscoito retirado da mão ficou muito puto.

Green Lantern the Animated Series e Young Justice eram as duas únicas séries exibidas no bloco e eram duas séries com foco em ação, e história. O espaço era um espaço que todo o público que o consumia esperava mais séries nesses padrões, mas enfim, todos sabemos que o DC Nation deixou de existir e Teen Titans Go não deixou.

E esse foi o nascimento de uma comunidade que tem como objetivo primário ficar indignado com cada episódio novo que esse desenho estreia sem ser cancelado. E nossa, o que essa galera é vocal na internet, meu Deus.

Tanto que chamar de “o pior do Cartoon Network” já virou chutar cachorro morto.

Enfim, e como o desenho respondeu? Ele ignorou seus haters e só seguiu tentando ser o melhor desenho possível dentro de seu gênero de comédia? Ele tentou melhorar e ouvir diversas demandas para conseguir o maior público possível? Ele fez um episódio tentando justificar que seu estilo é um estilo válido e pedindo para que quem não gosta simplesmente não assista? Nossa, não, nada disso, se fosse isso esse texto não sairia.

Teen Titans Go comprou o hate, eles abraçaram sua comunidade hater e criaram uma grande relação de rivalidade e inimizade com essa parcela de sua audiência. Como se eles soubessem que tem uma galera que odeia que eles sejam exibidos, e por isso fazem questão de se gabar do fato de que eles estão sendo exibidos.

E é aí que entra o que eu mencionei. Uma postura que só é possível, pois eles têm o favoritismo dos empresários por trás, que garante que não importa o que vá ao ar ou a recepção de um episódio, que a chance do desenho ser cancelado é de 0%.

 

 

A maioria dos desenhos possuem um ou outro episódio que são um diálogo direto com as críticas feitas pelos fãs na internet, geralmente zoando o fã e rindo com o fã a respeito delas…. Teen Titans Go possui dois episódios assim em sua segunda temporada, seguidos de seis episódios com o tema na terceira temporada.. E nesses episódios não foi o estilo “rir junto dos fãs” e sim um dedo do meio pros haters, uma explicita recusa de se desculpar por não ser o que os haters querem ver, e um canto da vitória de quem sabe que tem boas chances de ganhar uma sexta temporada e o desenho original não ganhou.

Eles fizeram um episódio só para zombar do conceito de que desenhos de super-heróis devem ser sérios, fazendo o time ficar obcecado em ganhar seriedade ao ponto de destruírem a si mesmos.
Enquanto mantém Easter Eggs nos lembrando de que Young Justice foi cancelado e são eles que o Cartoon Network colocou no lugar.

E foi nessa hora que eu larguei os haters, tirei o chapéu e pensei “not even mad.”, o deboche é tão certeiro, que eu tive que me render a apreciar esse desenho pelo que ele é, um enorme deboche, o maior exemplo de shitposting que tem na televisão atual, e que se diverte sozinho com o quão absurdo ele é. E na minha opinião esse tipo de trashtalk direto pros fãs de animação é extremamente bem-vindo.

Como por exemplo, o episódio “The Return of Slade”, que reparem é o mesmo exato título daquela história em HQ que continuaria a história da série original que eu coloquei mais acima. Pois é, não é um episódio sobre o arqui-inimigo dos Titãs.
É um episódio sobre adulto idiota que não aceita que palhaços são entretenimento infantil e querem deixar palhaços violentos e sombrios só pra poderem gostar de palhaços.

Mas enfim, tem uma coisa que precisamos definir aqui que é importantíssima que é: o que o desenho não é.

Porque quando se fala sobre Teen Titans Go temos muito achismo sobre qual a intenção dos criadores, que o conteúdo do desenho não exatamente sustenta.

Por exemplo, alguém pode falar: “Mas esse desenho não é feito para adultos que gostam de desenhos e que gostam de Cartoon Network. Isso não é Steven Universe ou Adventure Time, esse desenho foi feito inteiramente pra crianças, e você se irritar com piadas de peido só mostra que você não é o público-alvo.” o que faz sentido, e isso é muito dito para desarmar aqueles que acham que o humor da série é mais bobão do que deveria ser. O próprio desenho apresenta literalmente esse argumento no episódio-sátira-de-hater de onde eu tirei as duas últimas imagens (vai que você não lê as legendas, melhor explicar).

No episódio a galera do “as coisas infantis deveriam ser dark e maduras para adultos assistirem” chega ao nível de estragar My Little Pony com seu conteúdo sombrio e violento.

Porém esse argumento cai por água quando vemos que é o desenho do Cartoon Network que mais investe em piada de sexo e sacanagem atualmente. O tempo todo: com a Raven fantasiando com a bunda do Aqualad depois que eles começam a namorar, com Robin babando com a Starfire usando uma roupa excessivamente justa, ou o Cyborg e Robin debatendo se a saia de estelar ser excessivamente curta era amoral (opinião do Cyborg) ou ótimo (opinião do Robin). Obviamente piadas que não tem espaço em programas que são feitos para agradar crianças e sem preocupação em agradar um público mais velho, pois são piadas que elas não entendem.

Pra ninguém falar que tirei do contexto, vou por no contexto. A piada é que a Raven é uma ranzinza que nunca gosta das coisas boas da vida, como hidromassagem, comida boa e o Beast Boy seminu na cama dela.
Esse é a Starfire justificando porque ela é apaixonada pelo Kid Flash
E essa é a reação do Robin ao ver que o collant que a Starfire usa é tão justo que ela nem consegue tirar.
Esse garoto vermelho e suando de ver a Raven rebolar, o Wally T, supostamente está aí como um representante do “verdadeiro fã” de Teen Titans Go! em oposição aos haters.

Em outra vertente, o programa faz várias piadas de vida adulta real, não de sacanagem e de “vamos babar nas coxas das garotas”, mas piada com boleto, imposto, sistema eleitoral norte-americano e economia. Inclusive um episódio dedicado ao Beast Boy ficando rico em esquemas de pirâmide, e o Robin tentando explicar os princípios econômicos pelos quais o Beast Boy devia sair do esquema de pirâmides. Esse é realmente o tipo de episódio que você vê em um programa em que “maiores de 13 anos eram nem para estarem assistindo, nada aqui é direcionado a eles?”.

Temos por exemplo um episódio só questionando a arbitrariedade de se usar papel como dinheiro, com Mutano provando que dinheiro não tem valor, passando a usar abelhas como moeda corrente, até a abelha ser adotada em todos os Estados Unidos e tornar o dólar irrelevante…
Ou um episódio sobre as vantagens de se entrar em um esquema de pirâmide.
E um episódio sobre como trabalhar em escritórios sob a pressão de prover para a família, quebra a alma dos adultos.

Em resumo. Apesar de alegar ser infantil como justificativa para seu senso de humor, o que a série mais faz, é usar seu humor pra falar: “Life ain’t nothing but bitches and money!”

Além disso, para um show que se afirma “não ser feito para o público do desenho original.” existe muito episódio dedicado a parodiar elementos do desenho original que um público não familiarizado sequer conhece. Como o episódio em que Robin volta a usar o uniforme do Red X, vilão exclusivo do desenho original. Ou o episódio em que Más y Menos aparecem, personagens também exclusivos do desenho original. No episódio em que eles ficam excessivamente sérios e destroem a harmonia do time pra serem complexos e conflituosos (uma clara paródia dos fãs reclamando do tom cômico), Robin começa a falar citações do desenho original como marca do “tom errado de seriedade”. A série claramente sustenta muitos de seus episódios no reconhecimento do público de elementos da série clássica como a abertura, os shippings favoritos dos fãs, os personagens exclusivos da série, e mesmo as propagandas que o desenho original sofria, tem um episódio inteiro dedicado a zoar o lema que o Cartoon atribua ao desenho original nas propagandas (que era: “Lutando por Verdade, Justiça e Pizza”, tem um episódio inteiro deles questionando esse lema) sendo claramente uma série que dialoga com esse público tanto quanto as crianças.

No episódio “Truth, Justice and What”, descobrimos que Robin roubou o lema das Teenage Mutant Ninja Turtles, que em troca roubam toda Pizza do mundo pros Titãs ficarem sem.

“Então você está dizendo que os fãs do desenho original que estão espumando de raiva na internet são sim o público da série?”

Sim, isso é definitivamente o que eu estou dizendo. Junto das crianças e dos tiozões também, claro. Mas eles definitivamente estão entre as pessoas que os roteiristas esperam que vejam esse episódio. E se é assim, porque mostrar o dedo do meio pra quem fala mal desse jeito? Porque esse é o objetivo. Porque essa série se diverte fazendo um trashtalk muito genuíno com sua audiência. E trashtalk só é divertido se o alvo escuta. Se vocês tem algum amigo em que a grande da dinâmica é vocês falarem mal um do outro o tempo todo, então vocês sabem exatamente como essa série funciona, a série é o nosso amigo que toca na nossa ferida sempre que pode.

Ou resumindo tudo em uma só imagem….

Eles não pensam em deixar os haters sem resposta, pelo contrário, eles fazem questão de provocar ainda mais. Se nas primeiras temporadas, muitos reclamaram do quanto eles forçaram o estilo de fala da Starfire a incluir demais a palavra “the” em contextos que podia ser omitida (por exemplo na frase: “I like when the Raven uses the magic.” em vez de “I like Raven’s magic”, perdão a quem não fala inglês, mas esse aspecto da maneira de falar da personagem não tem um equivalente simétrico em português, pois a gente já enfia artigo em tudo), pois é, houve reclamação disso. Se olharem um episódio da temporada recente, verão que o uso de “the” da personagem triplicou, no melhor estilo “ahh, vocês não gostam, agora é que vai ter.” o mesmo vale para a incapacidade do Beast Boy de conjugar os verbos no tempo certo. Esses ataques não fariam sentido se o alvo dos ataques não assistisse, e eles contam que esteja.

Mas não é só com os haters que eles são agressivos. É com a própria instituição da televisão, com vários episódios quebrando a quarta parede para questionar a questão de que o desenho deva transmitir valores, quando é muito mais divertido transmitir coisa errada. E vários episódios terminam com os defeitos dos Titãs, como o fato de serem mesquinhos, egoístas, mau-perdedores, violentos, e desprovidos de empatia como a chave para eles triunfarem seus objetivos e um incentivo para eles demonstrarem seus defeitos mais vezes. Quando tem duas opções para ser tomadas, não é incomum que os protagonistas tomem a mais anti-ética possível, só pra zoar com a essência do desenho-que-transmite-valores.

Lembram do episódio que eles resolvem espancar o Robin para testar os limites em que a violência na televisão é aceitável?

A quebra da quarta-parede ocorre também quando eles enfatizam estereótipos que devem ser seguidos para manter a televisão funcionando. Em vários episódios os personagens são inseridos em um gênero televisivo novo, e a mudança de gênero vem junto de arquétipos nos quais eles passam a se encaixar para manter a mudança de gênero funcionando, e eles definitivamente enfatizam o quanto os arquétipos não tem nada a ver com eles. Além de fazer piadas com todo tipo de formato que eles possam ter, como o episódio em que eles se rebootam, o episódio que eles fazem o episódio da garrafa, ou a mini-série em que eles ficam presos em uma ilha, exploram todas as forçadas de roteiro que proíbem eles se saírem da ilha, e depois admitem que só foram para a ilha por tantos episódios porque estavam cansados de ter o mesmo cenário todo episódio. A série constantemente debocha das convenções que mantém qualquer série funcionando.

No episódio em que eles vão para o colegial, Robin insiste que todos eles sigam a risca seus estereótipos, que por coincidência, eram os mesmos do quinteto de Breakfast Club
No episódio em que Robin se infiltra disfarçado no time de vilões, ele insiste precisaria se provar digno espancando o membro mais forte do time, embora todos os vilões tenham dito que ele não precisava se provar nada, era só entrar mesmo.

A série também debocha de diversos ícones da cultura pop que eles consigam. Eles debocham constantemente no universo DC, seja dos alvos fáceis como o Aquaman ou os Wonder-Twins, até personagens menos conhecidos como a Vixen, além de mencionarem a Marvel o tempo todo, muitas vezes com tom de superioridade (como no filme onde eles claramente preferem o Deadpool ao Deathstroke). Mas também debocham de vários outros desenhos cuja propriedade intelectual eles não possuem, como Teenage Mutant Ninja Turtles, ou Ducktales.

Mas o segredo é o tom. Não importa quem eles estão zoando, o fã, outro desenho, eles mesmos, o tom é sempre de deboche, de puro shitposting, de apontar pra alguém e gargalhar porque o cara está na merda. Nunca com classe, e esse é o segredo do carisma da série.

No fundo, o desenho é a combinação do segredo do sucesso de três desenhos animados, misturados perfeitamente.

Primeiro, o desenho pega de Regular Show todo o seu surrealismo, com plots em que atitudes banais do dia a dia são revelados com revelações de que nossa rotina tem subtextos sobrenaturais que são libertados se não feitos da maneira apropriada. O episódio em que o Beast Boy não tem o aniversário comemorado e portanto o universo não sabe que idade ele tem e ele começa a variar entre várias idades forçando só Titãs a irem pro centro do universo pra fazerem ele voltar ao normal comemorando seu aniversário. O episódio que mostra que os “jogos-de-dia-de-chuva” existem para alegrar as nuvens e fazê-las parar de chorar e portanto parar de chover, e portanto são uma tradição fundamental. Esses são dois episódios que podiam facilmente ser um episódio e Regular Show, pois é o exato mesmo estilo de surrealismo. Uma justificativa mística para nossos atos banais, que quando quebradas trazem consequências cósmicas. Também é o tipo de coisa que The Amazing World of Gumball faria, mas entre os dois o tom parece mais com o usado por Regular Show. Aliás, fique registrado que Teen Titans GoRegular Show são os dois únicos desenhos do Cartoon Network que fazem menção explícita a “Happy Birthday to You” ter ganhado direitos autorais e custar caro cantar a música na televisão, e os dois shows que fazem um evento de seus episódios de “Boys/Girls Night Out

Em Teen Titans Go, Raven é chamada para julgamento do Deus da Mágica por criticar o show de mágica de Robin. Em Regular Show, Mordecai é chamado para julgamento pelos Guardiões da Mensagem, por querer apagar uma mensagem de voz que mandou pra crush dele…. é o mesmo tipo de piada e surrealismo, de transformar o slice-of-life em místico.

O segundo desenho é Family Guy, que é de onde o show tira toda a sua zoeira tanto com cultura pop, com paródias de tudo o que existe, e nenhuma preocupação em relação a quais direitos autorais eles possuem ou não. Piadas como o Robin tentando ensinar o velociraptor a abrir portas, ou a constante paródia de My Little Pony e do público brony através de Raven, ou debochando do final de Breakfast Club ou eles recontando a história da Chapeuzinho Vermelho em que ela tem que adotar os filhos do lobo que ela matou e assumir responsabilidade por seus atos, ou o episódio que debocha da loucura que gira em torno da Black Friday. Não só o humor de referência lembra Family Guy, mas principalmente o tom debochado a respeito de tudo, o foco em fazer os cinco protagonistas serem o mais cuzões possíveis em suas interações entre si, e mesmo o estilo “irritante lalala” da série. Sabem a piada do Peter Griffin enfiando The Bird is the World goela abaixo de todo mundo? Nossa, isso é essencialmente metade do que o Cyborg faz na série.

Episódio em que Starfire afirma não gostar da Black Friday, o que a faz ser visitada pelos três fantasmas da Black Friday para fazê-la aprender a valorizar o dia como o mais feliz feriado do mundo.
Aliás se falassem “em qual série animada temos bullying contra mendigo como piada recorrente.” qual seria a primeira que vocês chutariam? Sinceramente? Se não for Family Guy é South Park.
O episódio em que Cyborg e Beast Boy passam o episódio inteiro falando Waffles lado a lado com The Bird is the World.

O terceiro desenho, é Animaniacs, que também por coincidência é meu desenho favorito de todos, e eu notei essa semelhança justamente quando eu estava fazendo o meu texto sobre Animaniacs, e notei e enfatizei o tom anárquico do desenho. Enquanto eu pensava na anarquia de Animaniacs, naquela época mesmo, eu não pude deixar de notar que os únicos desenhos atuais que mantinham essa anarquia na animação presente eram The Amazing World of Gumball e Teen Titans Go. Mas enfim, todos os pontos que levantei até então sobre a “rebeldia” do desenho são pontos que Animaniacs trabalhou em seu tempo. Da metalinguagem excessiva, a piadas de sexo só para se divertirem com um humor de 5ª série no espaço inapropriado, a testar os limites da violência em desenho infantil, a propositalmente passar mensagens negativas para crianças como uma paródia de shows educativos. Além dos não mencionados até agora episódios de culto-ao-dinheiro que ambas as séries fazem, e episódios de paródias de figuras históricas americanas.

Teen Titans Go não tinha opção a não ser anárquicos, afinal era um desenho que ninguém queria que existisse, e em nenhum momento foram bem-vindos pela audiência do bloco em que estrearam (lembrando que o desenho estreou primeiro como parte do DC Nation que até a chegada de Teen Titans Go era um bloco focado em desenhos de ação, depois que o bloco morreu que eles foram pra grade de comédia do Cartoon Network). A resposta em ser criticado por ser tosco, foi um enorme orgulho em ser tosco, e uma luta pelo direito de existir. O que culminou inclusive em um enorme anti-intelectualismo em que vários episódios mostram que pessoas que vêm conteúdo em histórias são entediantes e que a estupidez é sempre preferível para ser uma pessoa querida.

Um gráfico que mostra que a Ravena é a pessoa mais desagradável dos time, por ser a mais inteligente, no mesmo episódio outros gráficos provam que Beast Boy e Cyborg só são pessoas queridas por serem burros, e que Robin oscila entre uma boa e uma péssima pessoa, pois ele é mais-ou-menos inteligente. Os personagens imploram que Starfire nunca se torne inteligente pra ela não virar uma pessoa horrível.

Teen Titans Go parece em vários episódios querer mostrar que ninguém diz pra eles o que eles podem ou não exibir na televisão, o que culmina na sua absoluta recusa de não só passarem lições, como questionarem a existência das mesmas na televisão. Conforme foi mostrado que eles tinham a armadura do favoritismo dos executivos do Cartoon para protegê-los de qualquer cancelamento, aí virou oficial. Eles podem fazer um episódio sobre absolutamente qualquer coisa, e vão esfregar na sua cara o seu direito de fazê-lo.

E como dito, tudo é referência pra eles. Informações do lore da DC? Fonte de piada.

Cultura Pop? Fonte de piada.

A série original? Fonte de piada.

O mercado imobiliário nos EUA dos anos 2010? Fonte de piada.

A série é odiada pelos órfãos de Teen Titans e Young Justice? Fonte de piada.

Normas da produção de séries televisivas? Fonte de piada.

História dos Estados Unidos? Fonte de piada.

Starfire tem um parasita dentro da barriga dela, que é um risco a sua saúde, mas ela quer ficar amiga dele, pois é um ser vivo, e os Titãs ficam todos amigos do parasita? Fonte de piada.

O protagonista tem nome de passarinho? Fonte de piada.

Não tem nada que eles pensem “pô, mas isso aí não tem nada a ver com a série.”, pois não existem regras, e isso permite que o humor da série vá descobrindo os limites das séries animadas infantis, e experimentando.

No fundo, no fundo, o próprio desenho falou com todas as letras “Isso é feito pra crianças.”, enquanto que eu disse aqui que não, que isso é feito pros haters em um enorme trashtalk. Mas não é nenhuma das duas opções. Teen Titans Go, é feito exclusivamente para seus roteiristas, é um amontoado de piadas internas de naturezas extremamente diversas, e que ficam cada vez mais internas conforme a série se estabelece mais. No fundo essa galera escreve algo que eles querem ver. Talvez por isso os executivos do Cartoon achem tudo tão hilário, devem pegar umas cinco piadas por episódio que nós não pegamos.

No 200º episódio os Teen Titans encontram toda sua equipe de produção, nessa cena em questão estão vendo seus animadores. Alguém tem alguma dúvida de que esse pessoal todo existe de verdade e está tudo cheio de piada interna?

Agora, é ruim um roteirista não se padronizar para nenhum público específico, e em vez isso fazer uma série para si mesmo e deixar a aleatoriedade dos temas eventualmente filtrar um público? Bem, ruim não é. Afinal era o segredo dos já mencionados Animaniacs, mas também dos Looney Tunes antigos, Bugs Bunny e Daffy Duck (Pernalonga e Patolino), essa galera aí não fazia os desenhos deles pra crianças, nem pra ninguém, você acha várias entrevistas do Chuck Jones falando “Eu faço isso pra mim. Se é engraçado eu ponho.” (não com essas palavras, mas com esse espírito, isso não foi um quote direto).

No fim eu acho que Teen Titans Go acabou acidentalmente se tornando um dos produtos mais interessantes de animação que estreou nessa década. Combinou uma hostilidade inicial da internet, com um escudo anti-cancelamento dos executivos, em uma combinação que ninguém poderia planejar, e viu a deixa para fazer uma série de humor que declarou guerra contra parte de sua suposta audiência, e usou de mesquinhez e deboche para constantemente declarar que venceu a guerra. Que concentra um humor baseado em todos os personagens serem o mais arrombados possíveis o tempo todo. É mais humor negro e mais humor ácido do que você encontra em metade das animações adultas hoje em dia. E o mais intrigante é que funcionou. A série achou um nicho nisso tudo, e eu honestamente não consigo evitar de rir a beça em um monte de episódios.

E agora eles vão ao cinema. Uma conquista tão grande para um desenho dessa natureza, que eles fazem questão de se gabar de terem conseguido enfiando no título que eles vão ao cinema. Por que é isso que eles fazem, debocham e se gabam.

Agora, minha internet está cheia de boatos de que a Sexta Temporada da série original foi enfim anunciada, e vou ser honesto, minhas fontes estão ambíguas e eu estou confuso quanto a veracidade do boato. Caí em muito boato maligno a respeito de Young Justice até voltar mesmo. Aparentemente tal informação tem a ver com uma cena do filme, e ainda não vi o filme, estou genuinamente esperando pra ver nos cinemas, oportunidade rara poder ver um filme-de-desenho-do-cartoon no cinema. Mas se for o caso, e a série estiver mesmo voltando em 2019, acho que o momento em que Teen Titans e Teen Titans Go exibirem suas sextas temporadas simultaneamente vai ser a melhor meta-piada da história do Cartoon Network.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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