Harry Potter – Os alunos que o Chapéu Seletor mandou pra casa errada:

H

Enfim chegou a hora de falarmos da maior franquia de livros infanto-juvenis que existe. Uma franquia tão, mas tão poderosa, que o mero lançamento de uma fanfic esse ano foi um grande evento nas livrarias e um fenômeno de vendas absurdo. Naturalmente me refiro à Harry Potter, que faz uns 16 anos revolucionou o mundo e reaproximou os jovens da leitura e deu o pontapé inicial pra toda uma série de livros de fantasia pra jovens adultos que estão rolando até hoje.

cursedchild
Fanfic com carimbo de oficial da autora, mas ainda é fanfic. E fanfic por fanfic eu preferia que Harry Potter and the Methods of Rationality virasse livro no lugar disso aí.

Harry Potter and the Philosopher Stone, foi publicado em 1998, mas foi lá pelos anos 2000 que a febre explodiu. Na minha opinião o sucesso do primeiro livro em particular pode ser atribuído ao fato de que talvez seja um dos livros mais escapistas que eu já li. Se tratava de um garoto de 11 anos, que não era um bom aluno, vivia num ambiente familiar de merda, não tinha amigos, e todo dia na vida dele era um lixo e ele não tinha auto-estima nenhuma. Então em seu aniversário de 11 anos, um bruxo aparece pra ele e revela justamente, que ele é, na verdade, um bruxo, e que ele está vivendo a vida errada pra ele.

diagonalley
Um livro essencialmente sobre substituir uma família abusiva por fama e fortuna.

Então ele descobre que seus pais que morreram, eram bruxos muito ricos que deixaram toda a herança pro Harry, e que eles foram mortos por um grande vilão que Harry derrotou ainda bebê. Então a verdade é que Harry era o tempo todo rico e famoso, e deveria estar vivendo nessa comunidade onde todo mundo puxa o saco dele a qualquer momento, e não com sua família abusiva que não o ama e onde ele tem que ir pra escola sofrer bullying. Essa comunidade era mágica e divertida, então ele vai pra esse colégio onde ele não tem que aprender matemática nem gramática, somente aprender a fazer magia, e lá ele se torna o aluno mais popular da escola inteira, descobre que existe um esporte lá que tem 14 jogadores, mas só 2 são capazes de fazer uma jogada relevante pra vitória e o Harry é um desses dois e se torna o grande atleta da escola, faz amigos e faz a classe dele ganhar a competição da escola, e descobre que ser rico, famoso e popular é muito melhor do que ter uma vida ruim no nosso mundo.

quidditch
“É como se alguém tivesse pegado um esporte de verdade e enfiado esse jogador extra só pra ele poder ser o jogador mais importante do jogo sem realmente ter que se envolver no jogo ou interagir com outros jogadores. Quem foi o primeiro apanhador? O filho do Rei que queria muito ganhar o jogo, mas não conseguia entender as regras?” por Eliezer Yudkowsky.

Tenho certeza de que o leitor de 10 anos não precisava ter um primo bully e dormir embaixo da escada pra ter frustrações no seu dia a dia e que ele ia adorar trocar de vida por uma vida de celebridade rica cheia de privilégios. É a fantasia escapista máxima, tanto que vários leitores fantasiavam em um dia eles receberem a carta de uma coruja indicando que eles deviam mesmo é estudar em Hogwarts. E se não fantasiavam com isso ao menos mentem no facebook que sim.

waiting

Dos sete livros, o primeiro é disparado o mais infantil. É o mais curto, muitos capítulos soam episódicos, e o que lida com menos drama. No final Harry descobre que o bruxo que ele matou quando bebê não morreu e jura vingança, mas derrota ele de novo mesmo assim. Enfim, ainda sim é no primeiro livro que ficaram marcados os grandes rituais de entrada no mundo bruxo que todo mundo que reconta qualquer história no mundo bruxo tem que refazer e que se tornaram parte fundamental do universo do Harry Potter.

oliwanders
Criaram até um parque temático pros fãs poderem simular esses rituais de entrada.

Receber o convite pra Hogwarts por corujas. Ser escolhido por uma varinha no Olivanders, e principalmente, ser selecionado para uma das quatro casas de Hogwarts. 90% dos jogos que já fizeram de Harry Potter chega o momento em que você faz um questionário pra descobrir de qual casa você é. Questionários que podem variar entre os que analisam suas respostas e os que praticamente te sorteiam. Mas aí que está, muitos jogos dão um questionário, pra você dar respostas que serão analisadas em uma casa.

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Inclusive eu fiz o teste do Pottermore, que aparentemente se tornou o teste oficial, e eu fiz duas vezes e nas duas eu saí como um Slytherin.

E é sobre isso o texto de hoje, sobre as quatro casas de Hogwarts que são parte tão fundamental de todo o imaginário que temos do mundo bruxo. O problema, na minha opinião é. As casas são um conceito criado pra dizer muito sobre o personagem, mas o que ela tem a dizer muitas vezes está errado, e sua função na prática acaba se tornando a de colocar os personagens certos no lugar certo pra história andar.

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Vamos lá: todos os alunos da Hogwarts School for Witchcraft and Wizardry são selecionados pelo Chapéu Seletor pra uma das quatro casas onde eles passaram todos os seus sete anos de formação no mundo bruxo e que será parte fundamental da sua formação de identidade na instituição. Essas casas competirão anualmente na Copa das Casas, e no Torneio de Quidditch, e as casas formarão rivalidades entre si que transparecem em rivalidades entre os alunos. Os alunos assistem aula com outros alunos da mesma casa e dividem o dormitório com alunos da mesma casa, garantindo que a maioria das interações dele na escola sejam com alunos da mesma casa. E muitas vezes os alunos são julgados pelos estigmas das casas em que eles estão e isso afeta a identidade dele novamente. Ou seja, em que casa você cai é algo relevante, pois influência em toda a sua vivência como estudante e vai acabar moldando as decisões que você vai tomar na adolescência que vão influenciar a sua vida adulta. E como que o Chapéu Seletor seleciona quem vai ficar em que casa? Pela personalidade.

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Na frente de todos os alunos da escola o Chapéu lê sua mente e decide em qual casa você se encaixa mais.

Sim. A Casa Gryffindor, para onde vão os alunos mais corajosos, os líderes natos, que aceitam qualquer desafio, lidam com pressão e são carismáticos. E temos a Casa Slytherin, para onde vão os alunos ambiciosos e sorrateiros, que usam de sua astúcia e sabem utilizar ao máximo o que eles tem ao seu alcance, e também um senso de autopreservação de sempre se colocar em primeiro lugar. A Casa Ravenclaw é para os alunos que priorizam a inteligência, a sabedoria, o conhecimento e a criatividade, e que aceitam os diversos tipos de inteligência e de aprendizado. E por último temos a Casa Hufflepuff, que enaltece os valores de lealdade, trabalho-duro, paciência, dedicação e justiça.

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Isso tudo na teoria. Na prática, Gryffindor são heróis, pessoas relevantes em batalhar contra as forças das trevas, independente de sua bravura. Slytherins são vilões racistas, pessoas obcecadas com magia das trevas e com pureza racial e simpáticas ao genocídio de todos os impuros. Hufflepuffs são os losers da escola que ninguém respeita, e embora tenhamos um ou outro personagem Ravenclaw, não tem nenhum momento em que vemos os alunos da Ravenclaw como um grupo com uma identidade definida, no geral são os nerds, os loucos e as fraudes. Nossa, se um personagem é um picareta de marca maior, a gente sempre acaba descobrindo que era um Ravenclaw.

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Dois notórios picaretas. Dois Ravenclaws.

Ah sim, e cada casa tem um personagem que não segue o clichê só pra dizer que a regra não é absoluta, mas é isso, um personagem pra gente perceber que não é todo mundo, só a maioria absoluta.

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Temos aqui o único Slytherin a nunca ter se afiliado aos Comensais da Morte, para mostrar que não são todos os Slytherins que são do mal, só 99% mesmo.

Enfim, isso me incomoda um pouco. Ver que a J. K. Rowling tem todo um esforço pra nos explicar que a Slytherin é sobre ambição e não um mero pretexto pra agregar um bando de neonazista, mas o que aquela galera tem de menos é ambição e de mais é neonazismo, e qualquer escola com o mínimo de bom-senso não deixava todos os alunos racistas passarem o dia inteiro só falando entre si sob a vigia de um professor com histórico de participação em genocídio. Enfim, eu acho a ideia das casas uma puta ideia interessante pro worldbuilding, mas eu lamento que o método usado pra definir quem vai pra qual casa tenha sido “quem é protagonista? GRYFFINDOR!” “Quem é antagonista? SLYTHERIN!” “Secundariozão-elenco-de-apoio? UMA DAS OUTRAS DUAS, SEI LÁ, QUEM LIGA? NÃO SÃO ELAS QUE IMPORTAM.”

E vem uns migués super-feios pra tentar justificar a casa, quando na verdade é tudo função de roteiro. O Neville é um notório Hufflepuff na alma, mas ele é do time protagonista e no final ele se torna um líder. Então o Chapéu deixou ele na Gryffindor, pois sabia que no futuro ele ia ser um Gryffindor, mesmo que 5/7 da sua vivência em Hogwarts ele tenha sido a personificação dos valores de outra casa. Seria de boa se por exemplo, o Snape não fosse o oposto, ele na sua vida adulta se moldaria em uma pessoa alinhada aos valores Gryffindor, o próprio Dumbledore nota isso falando “sorteamos cedo demais”, mas com 11 anos ele era um pau no cu e o Chapéu cagou pro potencial que ele teria em outra casa, se fixou no que ele era com 11 anos. Além de que o contato com os semelhantes e pressão dos pares influência notavelmente o futuro, então claro que uma pessoa em seu sétimo ano exibirá melhor os estereótipos da própria casa do que no primeiro. O Snape tinha todo um potencial pra não ter se tornado um comensal da morte, mas todos os colegas de classe com quem ele falava viraram e todo mundo das outras casas cuspia nele, claro que ele eventualmente viraria, colocá-lo em outra casa poderia ter mudado completamente a história

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Se o que ele fazia nas aulas de poções não eram sinais de um Ravenclaw latente que não foi devidamente incentivado então eu não sei o que é.

Afinal todos os rumos da série, e todos mesmo, seriam diferentes se o Snape fosse mandado pra Ravenclaw, o que seria digno uma vez que ele foi um dos alunos mais inteligentes e academicamente brilhantes da história de Hogwarts. A Slytherin incentivou e tirou o pior lado dele, mas a Ravenclaw poderia ter tirado o melhor. Mas enfim, o Snape era de fato um homem muito ambicioso e não era zoado ele estar na Slytherin. Esse texto é pra alunos que de fato deveriam ter sido selecionados pra casas diferentes se o Chapéu Seletor não estivesse ocupado demais definindo quem iam ser os heróis e quem iam ser os vilões na batalha final.

Hermione Granger:

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Vamos começar com a mais óbvia pra tirar ela logo da nossa frente. Hermione é a melhor amiga de Harry Potter, e notável por ser bruxa mais sedenta por méritos acadêmicos que Hogwarts já conheceu. Ela era extremamente inteligente, leu todos os livros, sabia todas as regras, viajava no tempo SÓ pra poder assistir mais aulas do que fisicamente possível. Na real, esse é o grande perfil da Ravenclaw. A pessoa com focos no conhecimento e na inteligência, e essa sempre foi a marca registrada da hermione. Mais do que sua coragem, seu impulso por ir de cabeça nos desafios ou seu carisma. Ela não tem carisma, ela nunca foi popular em Hogwarts.

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Lembram do primeiro livro onde ela foi esquecida chorando no banheiro por não ter amigos quando Harry e Ron vão salvá-la? Ela nunca foi uma garota popular ou carismática pros demais alunos.

Isso é tão escancarado que no próprio livro eles colocam o adendo de que o Chapéu Seletor quase mandou ela pra Ravenclaw, mas enfim decidiu Gryffindor. Por que ele decidiu não é claro, possivelmente porque a Hermione pediu, já que o chapéu tem o histórico de ignorar tudo porque o aluno pediu uma outra casa e ele quebrou esse galho..Agora por que ela teria preferido a Gryffindor é outro mistério, afinal, é dito que os alunos da Gryffindor são os mais dispostos a quebrar as regras e a rebeldia, e a primeira vez que a noção de fazer algo contra as regras passa pela cabeça da Hermione ela já tava no seu quinto ano. Ela não é uma covarde, mas também não tem coragem como sua característica central, ela tem a coragem de uma pessoa normal. Ela não nega as características Gryffindor, mas não tem nenhuma como parte forte de sua personagem. Não comparado com o quanto ela tem de Ravenclaw em grande parte da história.

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Hermione passou com nota máxima em 99% das suas O.W.Ls sempre foi a primeira da classe em todas as matérias e depois de abandonar a escola pra lutar na Guerra ela é a única a voltar só pra fazer as N.E.W.Ts e conquistar mais uns méritos de excelência acadêmica.

Mas nós sabemos. Que a primeira vez que o Harry interagiu com um aluno da Ravenclaw foi no quarto livro, e ela tinha que ser a melhor amiga do Harry desde seu primeiro ano. Então… GRYFFINDOR!!!

Percy Weasley:

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Esse é bom, pois evidencia um grande problema do Chapéu Seletor. Ele leva demais em consideração a tradição familiar de ter todos os membros de uma família sorteados na mesma casa. Então todos os Malfoys são da mesma casa. Todos os Potters são da mesma casa (exceto nessa fanfic recente que quebrou a tradição), e todos os Weasleys são da mesma casa. Claro que tem uma ou outra família secundária aí que ele não seguiu essa norma, mas onde a Rowling põe destaque ele seguiu e com personagens como Percy isso fica evidente em como nem sempre faz sentido.

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Todos Gryffindors cuja maioria se casou com outros Gryffindors e tiveram filhos Gryffindors.

Percy é o irmão mais velho de Ron. O terceiro filho de uma família de sete filhos onde os sete filhos e os pais foram todos pra Gryffindor, então é claro que o chapéu seletor colocou ele lá. Mas ele é um Gryffindor de verdade?

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Os filmes até fizeram a cor principal do seu figurino ser verde, a cor clássica da Slytherin.

Olha vou te falar, se tem um personagem em Harry Potter que realmente personificou a noção do que é ambição, não era o Draco, não era o Snape, não era o Lucius, era o Percy. Percy tinha um desejo latente por títulos e cargos de poder e se colocar o mais alto possível pra elevar sua carreira que quando chegou a hora de dar as costas pra família e sem saber, defender os interesses de Voldemort, ele seguiu. Ele conseguiu se tornar assistente do Ministro da Magia Cornelius Fudge, e quando Fudge começou a brigar com Dumbledore e armar terreno pra facilitar a vida do Vondemort, sem saber que Voldemort estava vivo, Percy ficou ao lado dele, e cortou toda relação com toda sua família. E ele fez isso por uma questão de poder.

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Percy atrás do Ministro da Magia.

Agora como é que um cara faminto por poder, de nariz empinado, arrogante e como ressaltei com Hermione, um amante absoluto das regras, como o Percy pode ser um Gryffindor? O poder do sobrenome Weasley é forte. E também tem altas chances dele ter pedido pro chapéu pra ser um Gryffindor, mas nunca saberemos.

Peter Pettigrew:

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Vamos lá, outro Gryffindor no lugar errado. Mas essas coisas acontecem quando praticamente metade dos personagens vão pra Gryffindor. Agora vamos lá, eu falei da Hermione e do Percy que tinham inteligência e ambição como suas características principais, ao contrário da coragem que devia ser a característica mais notável de um Gryffindor, mas isso não é exatamente excludente da Gryffindor, pois eles podem ainda ter coragem escondida que eles só não tiveram acesso. Agora vamos ao Peter, a característica principal de Peter é a covardia. E pronto, agora os caras já estão zoando.

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Tão covarde que passou 13 anos na forma de um rato só pra se esconder de quem poderia querer matá-lo. Pontos extras pelos animagos não escolherem em que animal se tranformam, então não foi ele que escolheu o rato pra se transformar é a natureza dele mesmo.

Peter é um covarde, que se esconde atrás de figuras poderosas pra ganhar poder na sombra delas. Então em Hogwarts ele se escondia na sombra dos bullies mais poderoso de todo o pátio, James Potter e Sirius Black, dois paus-no-cu que ficavam torturando o Snape no seu tempo livre. Pois bem quando eles cresceram eles entraram no mundo dos adultos onde tinha um bully muito maior que James e Sirius, Lord Voldemort, e como os amigos de Peter lutavam contra a supremacia racial eles lutavam contra Voldemort, e Peter percebeu que estava no time que ia perder a luta. Ele então virou a casaca e foi se aliar a Voldemort. Quando Voldemort foi derrotado, ele fraudou a própria morte pra não ser caçado e foi viver como rato pra ser protegido pelo amigo de Harry Potter Ron Weasley. E é assim que ele vive, procurando pessoas pra protegê-lo e fugindo e se aliando a qualquer um que vá garantir que ele está do lado mais forte.

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E caso fique acuado seu modus operandi é se humilhar, despir se qualquer dignidade e implorar pela vida. Como que isso reforça os valores da Gryffindor?

Como esse merda entrou na Gryffindor? A casa dos heróis valentes que se arriscam? Como? Isso não faz o menor sentido, ele não era Gryffindor com 11 anos e nunca foi até morrer, não tem período no tempo que o Chapéu Seletor possa puxar pra dar seu migué. Será que o Peter pediu pra ser Gryffindor? Por que ele faria isso? O que ele esperava ganhar lá? Mas enfim, o roteiro precisava que James Potter fosse traído por um de seus amigos, e James só era amigo de outros Gryffindors, pois é a casa dos heróis, então Peter teve que ser um Gryffindor pra isso funcionar.

Rubeus Hagrid:

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Olha só, outro Gryffindor. Hagrid foi um aluno que foi bem injustiçado na vida. Hagrid era um aluno na Gryffindor que tinha um amor por criar animais, inclusive os que pareciam perigosos. E ele criava uma aranha gigante devoradora de humanos de estimação. Ok, não era o cara com mais bom-senso do mundo, mas nunca deu merda. Exceto por um dia onde o Voldemort, que na época atendia por Tom Riddle, abriu a câmara secreta e libertou um basilisco pra sair por aí matando os alunos, e o basilisco matou uma garota chamada Myrtle petrificada. Pois bem, Tom se safou botando a culpa na aranha devoradora de homens, pelo petrificamento de Myrtle e todo mundo acreditou que de fato, deve ter sido essa aranha que petrificou a garota e não devorou depois. E com isso Hagrid foi expulso da escola e teve sua varinha quebrada, até ser salvo por Dumbledore e poder viver como guardião dos portões de Hogwarts.

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E mesmo com a fantasma da vítima morando em Hogwarts, demorou 50 anos pra alguém perguntar pra ela se a versão que o Voldemort passou sobre os fatos é a oficial.

Enfim, quais as características mais marcantes de Hagrid. Ele ama animais, e ele é uma pessoa notavelmente amigável, um pouco ingênuo, espera o melhor de seus amigos sempre. Um homem humilde que apesar de ser um bruxo muito talentoso, raramente fala de si mesmo como se fosse grande coisa. E olha, isso tá muito mais pra Hufflepuff do que pra Gryffindor. Amigabilidade, lealdade, humildade, são marcas dos Hufflepuffs, enquanto os Gryffindors costumam ser mais arrogantes. É só ver que a casa é a única que não tem a cor de um metal precioso como cor secundária. Os Hufflepuffs são amarelos primariamente e pretos secundariamente, pois preto é a cor da terra, e os membros da casa tem uma conexão maior com a natureza.

hufflepuff

Os professores que representam a casa Hufflepuff no livro por duas gerações são professores de Herbologia, e no Pottermore se você for sorteado na casa Hufflepuff você será lembrado da conexão da sua casa com a natureza, pois é.

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E o Hagrid é um dos personagens mais conectados com a natureza de toda a franquia, claro que o negócio dele é fauna e não flora, mas olha isso. Inclusive faz sentido essa conexão, pois mexer com natureza requer um monte de valores que a Hufflepuff exige, paciência, dedicação e trabalho duro.

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Hagrid ensinando os alunos a cuidarem de Hipogrifos.

Por último a Hufflepuff é a casa mais inclusiva e a que menos discrimina alunos, enquanto Hagrid é um dos dois personagens relevantes da série que sofre de preconceito por conta de sua espécie, no caso dele, por ser um meio-gigante (o outro é o Lobisomem Lupin), algo que muitos personagens demonstram preconceitos, inclusive alguns dos personagens bons da série, Gryffindors como Ron Weasley.

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Olha como o amarelo cai bem nele.

Enfim, o lugar de um cara leal, humilda, amigável, que quer paz e sossego pra cuidar de seus animais e da natureza de Hogwarts sem ser discriminado devia ser a casa Hufflepuff. Ah é, mas ele é um dos principais aliados do Dumbledore e fez parte das duas formações que já tiveram da Ordem da Fênix? E tem algum Hufflepuff que fez parte das duas formações da Ordem da Fênix? Não que a gente saiba o nome. Ordem da Fênix é a panelinha da Gryffindor com uns gatos pingados de outras casas só pra parecer inclusivo. A Tonks é Hufflepuff e da Ordem, mas ela não lutou na primeira guerra.

Crabbe e Goyle:

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Dois personagens pelo preço de um. É o que acontece quando você é um capanga, você é semi-indistinguível de seus colegas capangas. Pois bem, Crabbe e Goyle são os dois caras troncudos que andam com Draco Malfoy pra cima e pra baixo. Eles seguem Draco, vivem em função de Draco e são lacaios de Draco. Apesar de toda a existência dos personagens ser em função de Draco eles são o extremo oposto de seu líder. O que é problemático, uma vez que Draco é o encaixe perfeito do que um aluno da Slytherin é. Então se Draco é astuto e ardiloso, Crabbe e Goyle são burros feito uma porta. Se Draco é pouco atlético eles são fortes e troncudos. Se Draco é um grande covarde, eles são valentes e não hesitam em ideias arriscadas, como por exemplo, usar uma magia de fogo instável que acabou matando o próprio feiticeiro.

morte

Enfim, é isso, na casa da ambição e da astúcia, duas portas em posição de lacaio estão entre os representantes, pois antes de ambição e astúcia, a Slytherin é a casa dos vilões, e os dois certamente são vilões. No começo do primeiro livro o Hagrid diz que não tem um único bruxo que virou mal que não fosse um Slytherin (o que é na realidade um furo de roteiro, pois o próprio Hagrid acreditava quando disse isso que Sirius Black era um bruxo mal.) então não podíamos ver esses desmiolados quebrando a regra. Enfim, eu dou o braço a torcer de que Crabbe é sim ambicioso e na primeira brecha tetou roubar o status de Draco pra si. Mas vamos ser sinceros, que priorizar ação ao pensamento, e priorizar tomar riscos a fazer cálculos é coisa da Gryffindor. O próprio Snape diz isso pra James Potter para explicar por que ele desejava cair na Slytherin.

Além disso a Slytherin é a casa da auto-preservação, motivo pelo qual atrai tantos covardes, como um cara que usa uma magia que mata a si mesmo pra mostrar bravura tosca pode se encaixar mais numa casa que prega astúcia e auto-preservação do que em uma que prega valentia tola?

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Quando Harry se transforma em Goyle, ele mente pra Draco que os óculos são pra leitura. Draco se surpreende com a ideia de Goyle ler. E na casa do “cérebro antes dos músculos”, gente.

Pior que a Rowling quebrou a regra de “Não tem vilões na Gryffindor” com o Pettigrew, escolheu logo um vilão que não se encaixa na Gryffindor pra quebrar a regra, quando era perfeitamente possível fazer um vilão ao estilo Gryffindor. Triste isso.

Neville Longbottom:

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E encerrando com o mais polêmico. Neville é tão mas tão escancaradamente um Hufflepuff de alma que um fã de Harry Potter não precisa chegar até esse blog pra notar as semelhanças. Porém é fato de que na batalha final do livro final ele dispõe das características dignas de um Gryffindor, principalmente a da liderança, sendo praticamente o líder do Dumbledore’s Army enquanto o trio-protagonista deixou de frequentar Hogwarts. Nessa ocasião ele inclusive puxa a espada de Gryffindor do chapéu seletor, coisa que só poderia ser realizada por um verdadeiro Gryffindor. Ou seja, no seu sétimo ano Neville evoluiu de ser um Hufflepuff pra um Gryffindor. E isso não é aberto a discussão ele de fato encarnou a casa na qual ele foi selecionado em seu último ano em Hogwarts. Eu admito isso.

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Agora, eu não sei se depois que Voldemort foi derrotado ele não voltou a ser um Hufflepuff. E no caso eu não acho que Neville seja a personificação da casa Hufflepuff por ser um loser ou por sofrer Bullying, ele é um loser que vai se tornando foda, mas vai se tornando foda através dos méritos dos Hufflepuffs, junto de Cedric Diggory, provavelmente o melhor exemplo de porque a Hufflepuff é uma casa foda, em um Gryffindor.

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“Os Hufflepuffs, exceto por uma pessoa aceitam o desafio, assim como os Gryffindors. Agora os Gryffindors tem um monte de tolos que só querem se mostrar.É assim que é, sou uma Gryffindor eu posso falar. Sabem, existe coragem e existe ser um metido querendo atenção e as vezes os dois andam lado a lado. Os Hufflepuffs lutaram por um motivo diferente. Eles não queriam impressionar ninguém e eles não foram descuidados. Essa é a essência da casa Hufflepuff.”

Agora vamos lá, pensem comigo. Uma vez que a Gryffindor e a Hufflepuff são as duas únicas que lutaram contra Voldemort em conjunto na batalha final em Hogwarts (enquanto a Slytherin defendeu Voldemort em conjunto e a Ravenclaw não tomou partido em conjunto com alguns membros tomando uma decisão e outros tomando outra), podemos pensar nas duas casas como as casas mais do bem, e qual a diferença central entre elas se as duas são a casa que vai pra luta na hora que importa? A maior diferença entre Gryffindor e Hufflepuff é que Gryffindor gosta de glória e de arrogância e reúne pessoas muito sociáveis que atraem holofotes. Enquanto Hufflepuffs são humildes, discretos, satisfeitos em bancar o suporte. E uma dessas características não tem mais valor do que a outra na hora de lutar contra o mal, pelo contrário, suportes são fundamentais.

Enfim, eu vi sim o Neville puxar a espada do chapéu, e eu vi sim ele evoluir de cara patético que mal sabia fazer uma magia simples a um dos grandes heróis e líderes do Dumbledore’s Army, mas eu acho que seu papel na guerra foi contextual. Ele se tornou o líder do Dumbledore’s Army como quarta opção pois os três outros líderes abandonaram a escola. E ele era genuinamente a pessoa mais próxima do trio junto da Ginny, agora a maneira dele de atacar os Comensais foi o de plantar plantas especiais que atacassem os Comensais da Morte, isso é papel do suporte. Você pode ser um Hufflepuff e se destacar em uma guerra. Agora ele era introvertido, discreto e na dele antes da guerra começar e provavelmente ainda é depois que ela acabou.

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Olha isso, ele sempre foi da panelinha central, sempre, desde o começo, quando metade da panelinha sobe do mapa é obvio que a importância dele sobe.

Depois que a guerra acabou, ele tentou ser um auror, mas largou essa vida de ação para viver uma vida de paz como professor de Herbologia, que está pra Hufflepuff que nem a matéria de Poções está pra Slytherin. Além disso ele se casou com Hannah Abbot, da casa Hufflepuff, formando um dos três casamentos da série entre pessoas de casas diferentes, em contraste com a maioria absoluta de casamentos de pessoas da mesma casa (os outros dois são Tonks e Lupin, e do William com a Fleur, sendo que essa nem foi pra Hogwarts). 

Eu não nego que ele tenha se portado como um verdadeiro Gryffindor no final, ele foi sim um. Então a menção é ele é menos por eu ter achado que ele está na casa errada, mas por eu ficar pensativo se isso não carrega juízo de valor, como se parecer mais um Hufflepuff durante todos os outros seis livros fosse um defeito dele que ele precisava perder. O problema dele é que ele não tinha auto-estima, mas isso não tem nada a ver com Hufflepuff e Gryffindor, ele exibia as qualidades da Hufflepuff e eu não senti que ele perdeu essas qualidades. Migrar de um cara sem auto-estima para um bruxo relevantíssimo na batalha final é uma puta evolução digna de um puta personagem como ele é. Mas não sei se migrar de um Hufflepuff pra um Gryffindor devia ser uma evolução. São pensamentos assim que fazem a galera pensar que Hufflepuffs são losers.

cedricdiggory
A pergunta é: se Cedric estivesse vivo ele seria capaz de encarar o Voldemort da maneira que Neville fez? Se sim, então Neville podia ser um Hufflepuff e fazer todas as coisas fodas que ele fez na Batalha de Hogwarts.

Enfim, isso porque tem um número grande de personagens que a J. K. Rowling nunca revelou de que casa saíram. Eu acho que a ideia das quatro casas muito boas, mas acabaram se perdendo por uma vontade de firmar a Gryffindor como a casa do bem. Se olhar a Ordem da Fênix Original eram 8 Gryffindors um Slytherin arrependido e um bando de gente que não sabemos de que casa vieram. Aí na segunda leva, se juntaram à ordem mais 6 Gryffindors, uma Hufflepuff e mais uns que não tiveram a casa revelada. Isso reforça que só os Gryffindors possam ser de fato heróis e reforça que a única maneira do Neville demonstrar valor no último livro era se mostrando um Gryffindor, como se ele não pudesse ser foda sendo um Hufflepuff. E isso é um desperdício imenso do bom worldbuilding que as três casas aparentavam ser no começo da franquia.

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O Dumbledore’s Army também consiste em 80% de Gryffindors com 3 ravenclaws e um Hufflepuff só pra poder falar que as três casas se juntaram.

Agora em antecipação ao filme Fantastic Beasts and Where to Find Them, um spin-off de Harry Potter que se passa nos EUA, a J. K. Rowling começou a desenvolver o universo bruxo dos Estados Unidos no Pottermore e explicar um pouco sobre a Ilvermorny, a escola de bruxos da America do Norte. Que também divide seus alunos em quatro casas. Eu fiquei ligeiramente desapontado, achei que a divisão por casas era uma exclusividade de Hogwarts, já que em Harry Potter and the Goblet of Fire, Durmstrang não parecia ser dividida em casas, nem Beauxbatons.

pukwudgie
Inclusive eu sou um Pukwudgie, mas como isso não está em nenhum livro ou filme ainda, não tenho nehuma opinião sobre essa casa.

Mas enfim, cada casa seleciona os alunos baseado na personalidade deles também, e eu não sei até que ponto isso pode ser realmente relevante na franquia nova que está pra estrear nos cinemas. Mas caso seja, eu só espero que não seja determinada uma casa de heróis e uma casa de vilões. Pois muita coisa legal saiu de Harry Potter, mas essa pré-determinação de quem é protagonista, quem é antagonista e quem é irrelevante não foi uma delas.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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