Retrospectiva: As grandes animações da década 2010 parte 2

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Previously, on Dentro da Chaminé…

Passei impressões gerais sobre 16 animações que eu considerei importante para entendermos o que fez da década de 2010, a melhor década para a animação, e que me dão esperanças, de que por estarmos em uma crescente de bom conteúdo animado, que a década de 2020 seja ainda melhor.

Pois bem, ainda tem 12 desenhos dos quais eu gostaria de falar, e fazer uma retrospectiva que ficaram de fora do texto passado, então não vou enrolar não, vamos continuar a lista.

Nº16 – Burka Avenger (Julho de 2013).

Nos anos 2010, a questão de gênero tomou conta das animações de maneira sem precedentes, e por mim que continue. É um assunto necessário. E um dos pontos mais interessantes do debate, foi na criação da super-heroína paquistanesa Burka Avenger.

A animação não saiu com tanta força em nenhum país da América, mas seu sucesso por conta de todo o Oriente Médio e Sul da Ásia é um feito relevante, e notável.

Criada pelo ativista social (e músico) paquistanês Haroom, a história é sobre Jiya, uma professora de um colégio de garotas, que em segredo, é a heroína Burka Avenger, que escondendo sua identidade sob uma burka, ataca e combate, políticos corruptos, fanáticos religiosos e mercenários que queiram fechar a escola, ou diminuir o acesso para educação para meninas. Ela faz isso com uma arte marcial que essencialmente usa livros e canetas como arma.

Da reapropriação da Burka como um elemento para a mulher se defender do patriarcado no anonimato (ao mesmo tempo que Jiya em sua vida civil, não usa sequer um Hijab nem nada semelhante), a grande denúncia de grupos políticos e religiosos reais que faziam atentados em escolas para garotas no Oriente Médio, como o Taliban, o desenho para crianças jovens explodiu em relevância política local, e em ser uma super-heroína local que pudesse ser admirada e explodiu. Ganhou prêmios internacionais, foi dublada em várias línguas incluindo, Turco, Árabe e Persa, foi o programa infantil mais assistido do Afeganistão e o mais assistido da Indonésia.

E apesar de ser um programa local, retratando uma luta local, acho um desperdício um desenho que foi genuinamente relevante (Burka Avenger foi considerada uma das 11 personagens fictícias mais influentes de 2013), não tenha vindo para o ocidente, nem que seja por pura divulgação de que tem coisa foda sendo produzida fora dos EUA.

Um episódio em particular é sobre os vilões raptando médicos que cuidam de pólio e impedindo as crianças de serem vacinadas, que vamos combinar, é uma pauta tão relevante no Brasil quanto é no Paquistão.

Em especial por ser uma super-heroína sabem? Super-heróis estão mais fortes na mídia do que já estiveram, e tirar a centralização americana do conceito de heroísmo é importante, desassociar o super-herói como algo que vem dos EUA. O Paquistão criou sua própria super-heroína, e ela é genuinamente interessante, em termos de simbolismo político, mas também em carisma.

Nº17 – Rick and Morty (Dezembro de 2013):

Sim, esse mesmo aquele desenho que apesar de ser bom pra caralho, os nerds pretensiosos, arrogantes da internet te fazem odiar e não admitir.

Cínico, niilista e cheio de humor negro, essa série encantou a área pretensiosa da internet, mas não é sem méritos, como já falei aqui em um texto sobre a relação entre Rick, Beth e os Ricks da Cidadela.

Além da maneira como desconstrói a redenção da unidade familiar tão comum em Sitcons, como um vídeo do The Take ilustrou perfeitamente, a série também é um sinal do quanto seu co-criador Dan Harmon é um dos homens na indústria que melhor entende como criar uma narrativa usando de expectativa.

Não a toa, Dan Harmon genuinamente estuda estruturas narrativas, e desenvolveu a releitura do Monomito em um círculo que supostamente pode ser usado para estruturar qualquer narrativa de maneira coesa.

Rick e Morty constantemente usa aquilo que não sabemos, misturado com convenções da linguagem audiovisual para nos fazer presumir algo que ninguém nos disse. E depois nos surpreender nos fazendo ver que aquilo que acreditávamos, mesmo sem motivo para acreditar era uma mentira.

Como por exemplo quando a série nos induz a acreditar que Rick solucionou o problema dos Cronenbergs offscreen, para então nos revelar que aquele Rick era de outra dimensão. Nesse momento, Dan Harmon primeiro fez os personagens conversarem sobre terem resolvido o problema dos Cronenbergs completamente offscreen, o que nos soa como uma piada. É engraçado que eles tenham simplesmente nos negado a solução do problema e escancarem a manutenção do status quo na nossa cara, soa uma tirada esperta, algo auto-consciente, que nos faz rir, e como rimos, achamos que vimos o proposito da cena e nos desarmamos. Depois o Rick pede a chave de fenda que ele pediu no começo do episódio e foi negado, isso causa a sensação de “voltamos ao começo” e “conclusão”, e também nos desarma, e aí vem a bomba quando estamos mais vulneráveis, por acharmos que entendemos como o episódio se estruturou.

Ou quando nos revelam durante o ataque de esquilos, que durante a terceira temporada Rick e Morty não estavam mais vivendo na mesma dimensão pra qual se mudaram para fugir de cronembergs.. E não sabemos desde quando eles vivem com outras versões de suas famílias.

Rick Sanchez é um personagem meta, mas para além dele, a série é um genuíno teste para ver como os twists na verdade não o mero efeito da série ter te induzido a partir de uma falsa premissa, que não necessariamente deveríamos ter partido. Como quando a série nos induz a acreditar que Mr. Poopybutthole era um parasita, por pura convenção, ele não havia feito nada de errado.

Dan Harmon, de Community e do obscuro, mas genial Harmonquest, é um dos grandes gênios de roteiro atual, por saber usar presunção do expectador e expectativa como armas como ninguém. E honestamente, Rick and Morty é o melhor trabalho com o qual ele se envolveu.

E porra, deu uma revitalizada do caralho em desenhos adultos, embora não tenha sido a melhor delas, dessa eu falo daqui a pouco.

Nº18 – Bojack Horseman (Agosto de 2014):

E com daqui a pouco eu quis dizer…. Agora.

Bojack Horseman, é o desenho que achávamos que ia trazer o furry para o mainstream, mas trouxe o debate levado a sério sobre depressão para a televisão.

Tão engraçado e galhofento quanto qualquer animação adulta, Bojack é disparada a mais pesada delas, pois a mão que te fez cócegas o episódio inteiro estava esperando somente o final para te dar um murro no estômago. Já rendeu um texto no blog sobre como seu protagonista desconstrói o arquétipo do protagonista canalha de sitcon adulta, e sobre como a série usa o ato de correr em sua narrativa.

Eu acho de verdade é que o grande trunfo de Bojack que permite a série abordar temas sérios como depressão, e a maneira como herdamos os traumas de nossas famílias, e que mostrou a toxicidade das pessoas com os impactos danosos que precisam ser mostrados, esse trunfo é: sua maturidade.

Bojack é uma série tão madura, mas tão madura, que apesar de 80% de cada episódio ser só piada, é normal esquecermos que é uma comédia. E que apesar de termos cenas claras de uma mulher humana transando com um cachorro, ela não atiça os lados mais estranhos na internet aparecendo nos seus fóruns de discussão.

A série é notável pelo seu auto-pudor. Ela é da Netflix, um meio de animação muito liberal e sem censura. Onde essencialmente tá liberado tudo, o que é bom, pois as vezes certas obras, precisam que conceitos como nu frontal, e a mais vulgar das linguagens sem censura passem, para a mensagem passar também. Dito isso, Bojack não faz uso de nada disso.

Não existe uma única cena em que o corpo nu de uma mulher é exposta na série. Mesmo a Netflix obviamente permitindo, e mesmo quando dentro do show, eles estão gravando um programa que obviamente está fazendo uso apelativo do corpo de uma das atrizes. Essa noção não vem de cima, vem do criador da série.

As mulheres de Bojack não são sexualizadas, a nudez em Bojack é completamente dosada ao mínimo. E a série faz um ponto de apesar de palavrões aparecerem o tempo todo, com shits, e assholedamn, a palavra “fuck” em particular deve ser usada somente uma vez por temporada, em uma cena que por ser a única da temporada que trouxe a palavra a tona, ganha impacto dramático.

Não é a Netflix que fez essa imposição. Foi a própria série que se limita assim, por, reforço, maturidade. Saber que não é porque você quer se vender como animação adulta, e pode fazer o que quiser, que você deve. Que as coisas tem peso quando dadas na medida certa.

O que é um bom contraste com outras animações da Netflix como F is for Family, que quis mostrar que sabia animar o balanço de um saco escrotal durante o ato sexual com muita fluidez…. infelizmente.

Um exemplo positivo pra todas as animações adultas do futuro.

Nº19 Irmão do Jorel (Setembro de 2014):

O maior trunfo da TV Quase, até o Choque de Cultura se tornar incrivelmente popular. Um grande orgulho para todos que querem ver o Brasil ser bem representado na área de animação. E porra, um dos melhores desenhos do Cartoon Network.

Irmão do Jorel é maravilhoso, especialmente por ser um desenho extremamente brasileiro, mas de uma maneira que só pelo jeito de falar, e se expressar dos personagens, você sente que o humor e a alma do desenho estão em causar ao publico brasileiro uma familiaridade impossível de um desenho americano de replicar. O que é uma maneira muito diferente de tornar um desenho brasileiro do que só fazer os personagens encontrarem umas araras e uns sacis.

Não é pra ser lido como uma crítica. É importante sim, filmes que falem de nossa fauna. Mas ao mesmo tempo, o apelo da abordagem brasileira de Irmão do Jorel é mais rara e mais interessante.

E aí entra o mérito na galera da Tv Quase, esse natal mesmo, almoçando com a família e eu estava tentando vender essa galera como os maiores comediantes do Brasil atual, e eu acho isso mesmo. E nem é pra puxar o saco do Choque de Cultura não. Considerando que eu odeio o conceito de futebol com todas as minhas forças, e em época em “jogo que para o Brasil” eu fico mais rabugento do que o Scrooge no natal, é um pequeno milagre que eu consiga gostar e rir do Falha de Cobertura e isso é um sinal de gente que sabe fazer humor, tomando as rédeas das animações nacionais.

E eu espero que Irmão do Jorel seja um incentivo grande para essa área crescer no Brasil, espero por anos.

Nº20 Over the Garden Wall (Novembro de 2014):

O xodó dos xodós. Nenhuma animação dessa década foi mais elogiada que Over the Garden Wall, e nem tinha como não ser. Esteticamente lindo, tematicamente tocante, personagens carismáticos, e uma atmosfera única de mistura de infantilidade com temáticas densas sobre o medo do desconhecido. E o melhor de tudo, curto, direto ao ponto que não tentou se estender para além de sua história por um segundo, sem fillers, o autor queria contar uma história, contou e se foi.

Esse é o desenho pro Cartoon Network falar que produziu arte já, pensando pouco em comércio, e mais em arte. Investiu pesado em valor de produção e colheu prestígio que vai durar pra sempre.

E quer saber? Valeu a pena. Estamos precisando de mais minisséries na indústria.

Um conto de fadas moderno em vários sentidos! É pra isso que essa mídia existe.

Nº21 Star vs the Forces of Evil (Janeiro de 2015):

Como os grandes caíram. Outrora um dos desenhos que eu mais poderia estar usando esse espaço para falar bem, mas aquele final deixou um gosto ruim na minha boca que não saiu até hoje.

Star vs the Forces of Evil, foi uma jornada fascinante, sobre o diálogo cultural entre Mewni, um mundo fantástico metade medieval e metade mágico, e os Estados Unidos, simbolizado pela amizade improvável entre Star Butterfly, a princesa de Mewni e Marco Diaz um moleque dos Estados Unidos.

Star faz um programa e intercâmbio na Terra, e depois Marco vai morar em Mewni por um tempo, e os dois desenvolvem o que eu juro, é a amizade entre homem e mulher mais orgânica e natural que eu já vi em um desenho. Um dos melhores exemplos de que homens não são de marte, mulheres não são de vênus, e que aproximações entre pessoas de sexos opostos não precisam ser românticas.

…e é claro que eles fizeram ser romântica.

Mas hey, hey, hey, eu mantive por muito tempo conversando com meus amigos, a interpretação de que o romance era uma faca de dois gumes, por ser uma maldição. E que era questão de tempo até a série forçar os dois a quebrar essa maldição, e não serem apaixonados mais entre si, e valorizar a amizade foda que eles tem… e eu falava isso mais porque eu não queria admitir que não queria ver essa amizade foda virar um mero romance. E pra minha surpresa, teve um episódio em que isso rola mesmo, e eles quebram a maldição.

e aí retomam o romance sem maldição mesmo. Droga, eu devia ter previsto isso.

Mas hey, a série tem altos conceitos complexos de relacionamentos que não são comuns de serem introduzidos para crianças.

Como Marco e Kelly sendo temporariamente “amigos de beijo”, nome floreado para ficantes.

E o trisal implícito que foi Marco, Tom e Star durante metade da série, porque nossa, a tensão sexual entre Marco e Tom foi latejante.

Mas não foi só sobre casal esse desenho. Ele foi político. Ele foi politicamente relevante, em nos mostrar a importância de se entender a nossa história, e o quanto ela foi escrita por vencedores. E também criou a melhor paródia já feita sobre como o anti-petismo funciona no Brasil. Nossa, o Porta dos Fundos não faria tão na mosca se deixasse.

Mas era um “gente, vocês tão dando poder pra essa racista psicótica juntar um exército e impor valores retrógrados e danosos para a sociedade e legitimar um genocídio imenso, só porque vocês odeiam monstros?” e a resposta era sempre: “ah é? E a Eclipsa? Dela você não fala mal.”

Apesar de permitir muito meme de política brasileira, a solução da batalha final contra Mina deixou a desejar. E principalmente, a decisão final do destino das dimensões. Vários plots não foram para lugar nenhum, e a série foi claramente cancelada devendo uns 5 episódios pra gente.

Foi rushado, foi imperfeito, foi estranho, e eu não me senti recompensado pelo tempo que eu investi. Mas eu mantenho, quando estava bom, estava bom demais, e acima de tudo, estava relevante.

Nº22 F is For Family:

Ok, Eu citei esse desenho lá atrás como o desenho que colocou um foco muito grande em animar o saco escrotal do protagonista Frank Murphy, e a maneira como ele balança quando ele transa com sua esposa Sue Murphy.

E bem, essa cena diz muito sobre o que eu acho desse desenho.

Eu já vi muita animação adulta na minha vida, e eu entendo que a maioria não quer ser Bojack Horseman. A maioria que ser chamativa. E competir pra ver quem cruza mais linhas e impressiona mais a audiência com o quão longe eles chegam. E quanta coisa imprópria escapa. Para no fim redimir toda a violência, profanidade, e conteúdo sexual nos reforçando que os personagens se redimem por serem uma família amorosa e bons americanos.

E nessa perspectiva, F is for Family é agressivo.

Eu não estou brincando, a estratégia básica de humor dessa série é gente sendo verbalmente violenta entre si. É coisa de louco, todos os personagens tem tanto ódio dentro de si. E descontam tão gratuitamente entre si. É só gente descontando ódio.

O jargão de Frank que ele repete todo episódio é “Eu vou enfiar tua cara na parede” que ele fala frequentemente pros seus filhos.

F is for Family é uma série sutilmente subversiva. E tão sutilmente que eu demorei três anos para reparar. Mas o segredo está em três elementos. O já mencionado balançar dos testículos de Frank. O já mencionado jargão do pai ameaçando enfiar a cara dos filhos na parede diariamente. E o ainda não mencionado fato de que a série se passa nos anos 70. Sem nenhum grande motivo pra isso.

Isso não é muito material para humor, como seria em That 70’s Show, e nem faz parte tão forte da identidade da série, como fez em That 70’s Show. Mas é um elemento, principalmente visual constante na série.

E juntando esses elementos, vemos que essa série é sobre a corrupção das crianças. As três crianças Murphy, Kevin, Bill e Maureen, são eternamente expostos a todo o número de coisas ao qual uma criança nunca deveria ser exposta.

Como por exemplo Bill vendo os pais transarem na frente dele. Uma cena que enfatiza o quão desconfortável foi pra Bill, deixando-a igualmente desconfortável pra gente.

Bill Murphy constantemente tem que ver coisas que uma criança não devia ver. Do balançar genital de seu pai, à pessoas explodindo em sua frente. De mictórios imundos que ele usa desacompanhado por negligência parental, a outras crianças em condições pior que a dele. A vida de Bill é uma merda em todos os sentidos. E ninguém faz nada a respeito disso, exceto mandar ele endurecer e virar homem.

Todo o mundo adulto de F is For Family é tóxico de uma maneira cíclica. Os chefes de Frank são tóxicos com ele, que em retorno e tóxico com sua família. E os filhos dos Murphys se tornam tóxicos com seus amigos e o ciclo não para.

E essas crianças hoje tem 50/60 anos.

E essa é a sutil subversão. A série usa seu excesso de agressão e toxicidade, não só para humor, mas principalmente para mostrar o pior lado do passado dos EUA. Mostrar o quão problemático e nojento foi a mentalidade pela qual as crianças Baby Boomers cresceram e que tipo de valores foram inseridos neles. Mostrar que o “Quando eu era criança ninguém protegia as crianças, e eu cresci ótimo” não cresceram ótimos.

Bill Murphy é um caco de criança, e ele vai se tornar um adulto horrível. E a culpa é de sua família. O amor familiar não faz nada ficar ok aquilo ali é zoado demais pra consertar.

E quantos adultos horríveis hoje não foram o Bill Murphy do passado?

Nº23 Ducktales (Setembro de 2017):

Uma lição prática de como se reboota uma obra.

No texto um eu falei sobre Scooby Doo Mystery Inc. ser um reboot inclusivo. Bom, foi só um foreshadowing para eu cair nessa belezura aqui.

Ducktales. Vamos pegar um dos mais aclamados e nostálgicos desenhos da história e fazer a seguinte pergunta: dá pra melhorar? Nos atrevemos a tocar no intocável?

Sim, nos atrevemos, e nos atrevemos pra cacete.

Ducktales é um exercício antropofágico que absorve tudo o que a Disney fez de melhor, soma ao que a Disney nunca fez, e solta no ar.

Então ele pega a premissa básica da série original. Huey, Dewey e Louie (Huguinho, Zézinho e Luizinho), vão morar com seu Tio Scrooge (Patinhas), e tirar muito da dinâmica do idoso rabugento com seus sobrinho-netos em diversas aventuras. Acompanhados pelo piloto Launchpad McQuack (Capitão Boing) e pela patinha Webby (Patrícia). Essa é a turma básica. E a essência da série original, colocar esses 4 personagens juntos (pois no desenho original os três patinhos eram um único personagem em três corpos), e fazer eles explorarem reinos perdidos, escaparem de armadilhas e enfrentarem bandidos.

E esse desenho é nostálgico, e eu gosto até hoje, mas é datado, ele não funcionaria mais hoje em dia, faltava algo, e onde foram buscar esse algo? Nos maiores especialistas em Scrooge McDuck que já viveram entre os homens: Carl Barks e Don Rosa.

O reboot se inspira fortemente nos quadrinhos de Scrooge, não para fazer a backstory dele ser exatamente a mesma que é nos quadrinhos, pois não é, mas principalmente do fato de que existe uma, e ela é importante. Vemos Scrooge dialogar com os elementos do seu passado e com como ele se tornou rico constantemente. A história da primeira moeda dele ficou idêntica ao quadrinho. A noção de Donald e Scrooge serem reconhecidos como aventureiros famosos é sempre mencionada. Ah, e Donald eternamente presente nas HQs, mas deixado de lado na série original, aparece no reboot em toda sua glória.

E a identidade visual da série nos convida muito a nos lembrar que esses personagens são célebres personagens de HQs, e isso se nota logo na abertura.

Então aplicando o espírito de Carl Barks na premissa da série original, o que mais falta? Falta o universo Disney. Ducktales usa em vergonha todos os personagens que eles tem direito de usar, eles não querem um universo preso ao Scrooge, eles querem explorar tudo o que estiver ao seu alcance no que se referir a essa área da Disney.

Os Três Caballeros aparecem? Definitivamente. Gladstone (Gastão), o primo sortudo de Donald? Definitivamente. Feathry (Peninha), o primo avoado do Donald que só tem presença real nas HQs Brasileiras e Italianas? Ele tá na série também. Até a Roxanne, do A Goofy Movie é reaproveitada como uma figurante. E sabemos que no futuro virão Chip and Dale(Tico e Teco), e o próprio Goofy(Pateta) vão dar as caras.

O que mais? Ah sim, mas não só de personagem e HQs vive a Disney. A série se esforça muito para ser uma sucessora espiritual de Gravity Falls. O que está certo, pois a série foi ótima. E a série claramente mantém a dinâmica do elenco… e tenta fazer a química entre os personagens se lembrar da química de Gravity Falls, o que encaixou como uma luva: Scrooge é o Tio Stan. Launchpad é o Soos. Webby foi totalmente repaginada para ser a Webby (o que funcionou muito bem), e os trigêmios então seriam o Dipper?

Não. Somente o Dewey (Zézinho).

Sim, os trigêmeos agora são três personagens diferentes. Huey (Huguinho) é essencialmente quem todos os patinho eram. Ele é o escoteiro mirim, o cara com planos, e o certinho. Ele herdou a inteligência de Scrooge, e seu talento em ser mais esperto que os espertos.

Louie (Luizinho), é o gêmeo mal, como foi descrito no primeiro episódio. Ele representa os defeitos da juventude atual. Preguiçoso, pouco inspirado, seduzido pela internet como um meio de atingir glória fácil sem esforço. Mas ele é ganancioso, ele entende o valor do dinheiro, e quer consegui-lo. Ele herdou a ganância do tio.

Dewey (Zézinho) é o Dipper de Gravity Falls. Ele é curioso, valente e o aventureiro. Ele quer saber a verdade sobre sua família, e quer entender a história da sua mãe. Ele herdou a coragem de seu tio, e o desejo de desbravar.

Individualmente, eles são incompletos, mas juntos eles reúnem tudo o que marcou o sucesso de Scrooge, e a série trabalha isso bem!

Ah, e eu falei da mãe deles? A série enfim, quebra o tabu de abertamente, sem medo, falar sobre Della Duck, a mãe dos patinhos, colocando em seu passado, uma carga significativa da trama, e emocional também. Por anos sendo meramente mencionada nos quadrinhos, a série teve coragem de transformá-la em um personagem.

A série tem tudo que ela devia ter. E o resultado foi magnífico. É ótimo ver tanto zelo sendo dado para os patos de Ducksburg iluminarem uma nova geração.

Nº24 Big Mouth (Setembro de 2017):

YOU MANIACS! You blew it up! God Dammit! God damn you all to hell!

Olha, eu só estou inserindo essa série na lista, pois eu sei que ela é popular e quis me poupar dos comentários perguntando porque a série não está na lista. Por que ela é ruim.

Sabe a maturidade que eu elogiei em Bojack Horseman, ela não existe. A série sustenta seu humor inteiramente em escatologia, e na parte mais… vamos dizer “nojenta da puberdade.”

Eu não sei, talvez eu tenha tido uma puberdade muito discreta, e uma adolescência desinteressante, mas eu achei a série mais que apelativa…. Eu achei ela notoriamente infantil, ao mesmo tempo em que ela celebra a completa falta de limites que a Netflix passa.

Demônios estuprando cabeças, para representar a libido. Travesseiros engravidando. Vaginas falantes e absorventes antropomórficos para passar a mensagem de que a puberdade é uma época difícil, mas me soa, essencialmente como o Beavis e o Butthead pensam a puberdade do que qualquer coisa.

A série fala algumas coisas que infelizmente precisam ser ditas, mas não deixam de soar o mínimo. Lições como: empurrar a cabeça de uma mulher para forçar um boquete é coisa de canalha. Ou toda mulher menstrua e isso não é motivo para vergonha, ou tudo bem ser gay, não me soam como mensagens que deviam ser vistas com a relevância que foi dada em pleno 2017. Mas tem, essas mensagens tem relevância, e isso não é culpa da série, é culpa das pessoas do mundo real.

Mas eu sinto que ela deixa a desejar, tanto no sentido do humor, quanto em ter algo importante a falar. Ela é só rasa, rasa e apelativa.

O que é estranho é que Big Mouth entende que o mundo não devia ser assim. Em um episódio, os meninos não entendem porque as meninas são tão fascinadas por um livro que supostamente faz elas pensarem muito em sexo, quando não tem nenhum no livro. (é o episódio que ensina a lição: “mulheres gostam de sexo também”… eu juro, acho que é culpa da minha bolha social, mas eu acho isso muito o básico). Pois bem, a série constantemente explica que o livro não só não precisa ter sexo, como é melhor que não tenha. Pois a idéia do ato, é muito mais sugestivo que o ato em si.

A série entende e usa como tema de um episódio como menos é mais. Mas ela sempre age como se mais fosse mais.

Isso me frustra pois uma das criadoras da série é Jennifer Flacket, que também é roteirista de Little Manhattan, um filme que eu gosto muito, justamente porque faz um esforço bem grande em ser didático e apresentar o quão bagunçado e zoado é o mundo dos adultos para as crianças, ao acompanhar um menino de onze anos se apaixonando pela primeira vez.

É um filme maduro.

E a palavra para Big Mouth é…. imatura. A série está rindo de piada de peido, e me frustra demais que isso seja considerado revolucionário em uma década tão boa. Mas, aparentemente as pessoas gostam muito, e estão achando relevante, então eu acho que as lições realmente não estavam sendo passadas o suficiente, o que é triste de certa maneira.

Nº25 DC Super Hero Girls (Março de 2019):

Esse é o remake na verdade de um desenho de um desenho de 2017 (Um remake de um desenho de dois anos antes…. Essa é a Era do Reboot minha gente), que eu não mencionei nessa lista, pois ele era uma bosta e um desserviço para a humanidade, mas eu desci o pau nele ainda em 2017, e o link pro texto está aqui.

Mas foi só dois anos até ele precisar ser refeito.

Pois aparentemente um desenho associando garotas às heroinas da DC tinha que existir, se sua ideia falhou, temos que tentar de novo. A Marvel está devorando o amor das criancinhas e o único lugar em que a DC pode tentar se estabelecer é a TV. E qual o único trunfo, apostar em empoderamento, pois mulheres só vão ter seu próprio filme no MCU em 2019, então temos que investir agora.

Eu não entendo porque eles queriam tanto fazer DC Super Hero Girls funcionar depois de obviamente não ter funcionado. Mas eles queriam, e o que eles fizeram?

Eles obviamente viram que não entendem uma merda de indústria do entretenimento e acessaram o renomado blog Dentro da Chaminé para ver onde erraram e aí descobriram que eu apontei Lauren Faust, a criadora de My Little Pony como um exemplo de quem tava fazendo um trabalho bem menos cretino com super-heroínas.

Então percebendo que eu tenho razão em tudo, eles rebootaram a série com a Lauren Faust por trás do projeto. E aí me ligaram para avisar que isso é tudo verdade e que eu tenho permissão de contar essa história real no meu blog.

Ok. Eu puxei muito o saco da Lauren Faust na parte 1. Vamos puxar de novo então, porque porra, ela acertou duas vezes seguidas nessa década, não tem ninguém mais que eu vou citar duas vezes aqui nessa lista.

Vamos lá, o que ela fez com a série na prática? Transformou em My Little Pony, com humanas e as humanas sendo heroínas… provando de uma vez por todas, que se ela estivesse envolvida, Equestria Girls não seria um lixo.

A história e sobre Barbara “Babs” Gordon, sendo obrigada pelo pai a se mudar de Gotham para Metropolis. Ela quer aproveitar a mudança de cidade para formar enfim um time de super-heróis que ela não conseguiu montar em Gotham. E logo no primeiro dia de aula descobre que na sua escola estão 5 garotas com potencial para serem super-heroínas, e tenta convencê-las a se tornarem seu time.

O segredo é o mesmo que eu apontei em My Little Pony, trabalhar ao máximo as personalidades das seis, em uma dinâmica em que qualquer dupla que você tirar trabalha a personalidade.

Apesar de serem personagens conhecidas da DC, as personalidades das seis forma repaginadas do zero. Digo, Diana, a Mulher Maravilha é exatamente o que se espera. Ela é o Thor do primeiro filme. Um peixe fora da água. Ela foi criada em uma cultura em que heroismo é uma questão de glória e honra e dever e está entendendo como funciona o mundo fora de sua ilha.

Bárbara, a Batgirl, é uma fangirl de super-heróis. Cresceu querendo ser o Batman, e quer ser igual seu ídolo. E fora essas duas as outras não tem real interesse em serem heroínas. Jéssica, a Green Lantern (que inclusive, grande personagem dos quadrinhos, feliz em vê-la ser adaptada para a animação), é a típica garota de consciência ambiental, vegetariana, que faz protestos e tal. As outras três podem ser resumidas às suas contrapartes pôneis. Supergirl é a garota da ação igual a Rainbow Dash, Bumblebee é a garota tímida igual a Fluttershy e Zatanna é a orgulhosa prepotente igual a Rarity.

Uma coisa que eu acho muito boa de se comparar, é se colocar os designs dessa série lado a lado de Equestria Girls e ver como as garotas de DC Super Hero Girls todas tem tipos de corpo diferentes entre si, dando variedade de design, e deixando-as mais reconhecíveis, além de transmitir toda sua personalidade em seu desenho. Diferente de Equestria Girls em que todas tem o mesmo molde, mudando só cabelo roupa e cor.

Mas o mais importante do desenho é que ele é igualmente heroico e engraçado. As heroínas lutam contra o crime de Metropolis, ao mesmo tempo que a série trata isso com um tom mais casual e humorístico e as piadas são ótimas.

E eu acho importante colocar essas personagens em posições pra ganharem mais popularidade. Pois são ótimas.

Nº26 Green Eggs and Ham (Novembro de 2019):

Mas gente, que bruxaria foi essa? Em que deram um jeito de fazer uma boa série animada de Green Eggs and Ham? Isso é vida real ou é só fantasia?

Criado por Jared Stern, um dos roteiristas do fenomenal Lego Batman… do qual eu já devia ter feito um texto falando… meu deus, é muito texto que eu estou devendo, eu juro que dou meu melhor, gente. Enfim, criado pelo roteirista de um filme muito mais genial que eu dei o mérito, vem uma série animada de um livro do Dr. Seuss que eu honestamente, não botaria fé nem se fosse para um filme.

O que é Green Eggs and Ham? É um livro de Dr. Seuss, que ao contrário dos meus livros favoritos do Dr. Seuss, não uma mensagem ulta-relevante, é uma mensagem normal, básica, importante pois é sempre importante, mas um nível abaixo de uma crítica ao fascismo. A mensagem é: Experimente coisas novas antes de decidir do que gosta ou não gosta.

O livro curtíssimo, é sobre um personagem chamado Sam-I-Am tentando fazer um personagem não-nomeado experimentar seu prato favorito: Ovos Verdes com Presunto.

E a fórmula é essencialmente, o cara fala “não!” e Sam responde: “Nem numa caixa? Nem com uma raposa?”(mas no idioma inglês onde isso tem uma rima e uma métrica cativantes). Ele mantém seu não, e Sam segue: “nem no trem? Nem com um bode? Nem no escuro?” e a vida segue até que no fim o cara cede, prova e adora. Fim da história.

É esse nível de simplicidade, e isso não é uma crítica! Eu amo Green Eggs and Ham e eu amo o Dr. Seuss. É uma poesia bacaninha de decorar e recitar, relaxa, e é bem criativo. É uma poesia tão constantemente parodiada e referenciada em desenhos animados, justamente pela sua simplicidade, acessibilidade e acima de tudo, carisma.

Mas qualé, isso não rende um curta metragem. Vai render uma série?

E oh boy….

Adaptações do Dr. Seuss costumam precisar encher linguiça, mas nesse caso eles tiveram que fazer uma coisa tão do semi-zero que é assustador, que tenha funcionado. Mas funcionou.

Green Eggs And Ham conta a história de uma road-trip, entre um rapaz otimista chamado Sam-I-Am e nosso outro personagem agora ganhou o nome Guy-Am-I pra contrastar.

Sam acabou de roubar um…. Frango-Girafa(?) do zoológico. E quer levá-lo para a cidade de Meepville, onde pretende criar ele como o belo animal livre que ele é.

Guy é um inventor fracassado que acabou de desistir oficialmente de qualquer sonho e se conformar com um emprego de “observador de tinta secando” em Meepville.

Essas figuras de personalidades opostas acabam por circunstâncias se vendo na mesma viagem, uma viagem em que eles constantemente trocam de veículos e situação para prosseguir, mas prosseguem igualmente.

Então eles pegam um carro, um trem, um barco, juntos….

E uma vez por episódio… Sam vai oferecer para Guy seu prato favorito… Ovos Verdes com Presunto, como um gesto de amizade, que será recusado pelo ranzinza Guy…

E é assim que eles adaptam o plot para literalmente achar uma história que justifique Sam oferecer os benditos ovos, no carro, no trem, com a raposa, etc…

Te juro. Eu estou mais surpreso que qualquer outra coisa.

A série é bem-feita, bem-humorada, possui uma inocência que é apreciada que ainda seja cultivada entre crianças em épocas de Teen Titans Go e Gumball (temos espaço pra coexistência), e surpreendentemente passa bem a mensagem, não só de experimentar coisas novas, mas de ter a mente sempre aberta, e não permitir que o pessimismo ao seu redor quebre seu espírito.

Foi a maior surpresa de 2019. Mas isso é fácil. Pois o desenho seguinte não foi uma surpresa, no primeiro trailer eu já tinha entendido que ia ser foda.

Nº27 Harley Quinn (Novembro de 2019):

Gente, cês não sabem o quanto eu amo essa série. Que alegria foi ver ela estrear.

A maior personagem criada para um desenho animado da DC, 28 anos depois de sua estreia, ganhando o protagonismo da própria série de televisão depois de adotada pelos quadrinhos, no auge de sua glória.

Essa série faz um contraste fascinante se pensarmos nela lado a lado com o prestes-a-estrear filme das Birds of Prey. Ambas as séries tratam sobre supostamente os mesmos assuntos. O término da Harley Quinn com o Joker. O fim do status dela como o símbolo de um relacionamentos abusivo e sua emancipação.

Porém enquanto o filme faz isso, retratando ela se convertendo em heroína como parte do processo, fazendo ela ser parte do maior time de super-heroínas da DC, a série faz isso com ela prometendo se vingar do Joker… se tornando a maior criminosa de Gotham. Sendo uma vilã maior que ele, e roubando seu prestígio.

Mas claro que, o mundo da vilania é um mundo machista, e as portas para uma mulher tentando entrar pro mundo do crime não abrem tão fortemente quanto para um homem.

Vemos Harley avançar pouco a pouco, montando um bando com capangas….

Conseguindo uma base…

Enfrentando o Batman…

Tudo para entrar na Legion of Doom e ser vista em pé de igualdade com os maiores vilões do mundo.

A série apesar de ser do DC Universe, pega o humor do Adult Swim em seu auge. Aquela mistura certa de extrema violência, com uma dose de bobeira, que os materiais profissionais descreveram como uma herança do Deadpool, mas que lembra pra mim muito mais uma herança de Harvey Birdman e principalmente Venture Bros. Inclusive a série tratando vilania como profissão é uma rima clara com Venture Bros.

A série também apesar do nome não se sustenta somente na protagonista, como todo bom show da DC, ele se sustenta em um cast variado de personagens carismáticos, aqui representados pela obrigatória e ótima Poison Ivy, como voz a razão. Dr. Psycho, Queen of Fables e Kite Man, os três altamente carismáticos e fazendo sua estreia no mundo fora dos quadrinhos. E o melhor Damien Wayne que eu já vi em um desenho, com uma voz de criança que deixa tão claro o pivete que ele é, que ofusca seu passado como assassino. Magnífico.

Departamento de animação da DC é gigante e eu desejo do fundo do coração que o DC Universe siga dando esses frutos fascinantes, mesmo se o preço for termos que aguentar mais uma temporada de Titans.

E por último… mas certamente não menos importante:

Nº28 Infinity Train (Agosto de 2019):

Ok, quebrei a ordem cronológica aqui, mas eu queria realmente deixar essa por último.

A culminação de tudo o que foi esses dez anos.

Uma mini-série conceituada. Que nem Over the Garden Wall, com um setting incrivelmente semelhante a Adventure Time, criado por Owen Dennis, que trabalhou em Regular Show. Com uma protagonista feminina, o que está gradativamente deixando de ser raro, e mensagens densas de verdade sobre maturidade, coming-of-age. Esse desenho fez a lição de casa de tudo o que falamos esse ano para apresentar uma pequena obra-prima.

A primeira temporada focou em Tulip Olsen, uma garota que está com grande dificuldade de aceitar o divórcio dos pais, e com muitos sentimentos mal resolvidos em si por isso, que se encontra presa em um trem, onde cada vagão é um quebra-cabeças que ela precisa resolver para chegar no próximo vagão.

O trem se torna um espaço para ela descobrir a si mesma, e repensar seus próprios problemas, e um espaço também onde ela pode encontrar pessoas que não resolveram seus próprios problemas e ajudar uns aos outros.

A série pretende ser uma antologia, com sua segunda temporada focando em novos personagens usando o trem misterioso como espaço para trabalharem suas dificuldades pessoais.

E honestamente? Eu não achei foda no nível que Adventure Time, Steven Universe, Over the Garden Wall ou Gravity Falls são fodas. De verdade, achei o pior da leva…. E isso é ótimo.

Pois mostra o quanto o nível cresceu. 11 anos atrás, esse seria disparado um dos melhores desenhos da década, quiçá da história, e ele é excelente sim, e ver a maneira como ele enfeita a grade do Cartoon hoje em dia, mostrando o alto nível que uma animação normal demonstra… o nível subiu, o nível subiu pra cacete.

THE BAR HAS BEEN RAISED.

Foi o último desse time a estrear, fez um excelente trabalho, e como todas essas séries já acabaram ou acaba esse ano, é nas costas de Infinity Train que 2020 começa no Cartoon Network, e não poderia estar em costas melhores.

Eu sinto que 1990 foi sobre o resgate da autoralidade em uma mídia que tinha perdido completamente a noção do autor tendo algo a dizer. E isso depois de recuperado nunca foi embora. Os anos 2000 foram sobre uma tentativa de achar um novo formato depois que o formato pautado em nostalgia dos anos 1990 começou a murchar, e na tentativa e erro, ele gerou bons potenciais. Os anos 2010 foi sobre a quebra de barreira.

A barreira do medo da feminilidade destruindo a aceitação de um desenho foi embora.

A barreira do tabu da inclusão LGBT e debater relações humanas com maturidade, foi embora.

A barreira do adulto pronto a repensar assuntos sérios como depressão, e ver na animação adulta um ponto não de extravasar seu lado mais tóxico, mas de repensar o motivo de sua existência, foi embora.

A barreira da menina capaz de ser a heroína da própria aventura, em pé de igualdade dos personagens masculinos foi quebrada.

A barreira do desenvolvimento de personagem, continuidade em histórias, e confiar no público infantil para responder com inteligência, quando o convidamos a pensar com inteligência ao que veem, foi quebrada também.

E honestamente, agora que elas estão caindo, eu não acho que elas vão ser reconstruídas, pois deu certo. Assim como a autoralidade não foi mais embora. Claro, não basta quebrar, tem que trabalhar, e polir esses novos territórios até atingir a perfeição.

Mas eu sinto que daqui pra frente é ladeira acima.

Otimismo, que eu acho que temos muitos tempos difíceis pelos próximos dez anos, mas um sintoma de tempos difíceis é que eles costumam ser respondidos com obras de arte de qualidade significativa, que cada vez mais nos ajudam a lidar.

Que venha 2020.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Por Izzombie

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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