Essa é a história de uma família rica cujos personagens não evoluíam, e do blog que não teve escolha a não ser analisar todos eles. É Arrested Development.
Arrested Development foi uma sitcom marcada pelo contraste grande entre uma excelente recepção crítica e chuvas de elogios, com uma audiência mínima. A série ganhou um status de cult e ficou sendo louvada dentro de seu nicho e foi cancelada em três temporadas, sendo renovada recentemente pelo Netflix, depois que lançamentos em DVD e a Internet aumentaram consideravelmente o público e o amor que a série merecia.
Sendo uma série de comédia, o senso de humor se baseia muito em mal-entendidos ocorridos entre personagens, em seu estilo documental com câmera na mão, narração e imagens de arquivo, e no forte e extremamente forte uso de trocadilhos.
Um desses trocadilhos é o título da série.
Arrested Development (Desenvolvimento Preso) inicialmente se refere ao fato de que os protagonistas são membros da família Bluth, que possui as empresas Bluth, uma empresa de desenvolvimento, cujo presidente e patriarca da família, George Bluth Sr, foi preso, deixando muitos projetos da empresa paralisados. Por isso o Desenvolvimento Preso. Porém ao mesmo tempo o título se refere aos personagens e ao fato de que eles em si não conseguem avançar em suas vidas pessoais, tendo o próprio desenvolvimento tão paralisado quanto os projetos da empresa. Eles são personagens complexos, com defeitos e qualidades e ambições de uma vida melhor, porém todos eles têm uma obsessão que os liga a sua relação com a família Bluth em geral. E esse é um defeito do qual eles nunca vão conseguir se livrar e esse defeito faz com que tomem decisões autodestrutivas e não consigam evoluir enquanto seres humanos, e principalmente, mantém eles presos ao contexto de sua família quando a série sempre indica que a liberdade desses personagens está em ir embora desse aglomerado de pessoas egoístas e narcisistas e condenáveis.
E é sobre isso que a série trata, sobre como apesar da vontade de diversos membros da família de alterar o status quo patético em que se encontram, a conexão deles com a família, prende eles e faz com que deem um jeito de manter esse status quo para a própria infelicidade. Afinal os Bluth são uma família desfuncional e quebrada, cujos membros só tiram o pior um do outro.
Na quarta temporada, feita pelo Netflix após o cancelamento, ficamos com a impressão de que alguns personagens superaram alguns de seus defeitos, outros não e outros meramente tiveram uma percepção melhor da prisão em que se encontram. A quarta temporada é toda feita em uma narrativa diferente das três primeiras. Ela foca cada episódio em um personagem e todo episódio conta uma história passada no exato mesmo período de tempo, só que com outra perspectiva. Isso tornou a quarta temporada meio divisiva entre os fãs da série.
Pois a verdade sobre fãs é essa: fãs não prestam. É só mudarem uma coisinha na estrutura que já acham que mudou tudo, não é a mesma coisa, independente do fato de que tendo se passado seis anos com a série em hiatus era impossível voltar e sentir a mesma coisa abstraindo o fato de que a série foi cancelada e renovada por outro estúdio anos depois. A hipótese da série simplesmente começar uma quarta temporada tratando os 6 anos de culto às running gags da mesma maneira que tratariam se nada tivesse acontecido em um formato como se ela nunca tivesse sido cancelada… essa hipótese jamais existiu.
Na verdade a quarta é muito boa, em minha opinião, justamente pois o foco em um único personagem todo episódio permitiu que os personagens se afastassem de sua família por períodos grandes e estabeleceu contraste em como eles são no núcleo familiar e como eles são vivendo suas vidas, o que evidencia bem, exatamente quais sãos os vícios das personalidades deles que impedem que eles prossigam com suas vidas, e é sobre isso que será o post de hoje. Sobre quais aspectos na complexa personalidade de cada membro da família Bluth, impede eles de avançarem e se desenvolverem.
Michael Bluth:
Começando pelo protagonista da série, o filho responsável e o pilar moral dos Bluth, Michael. Michael Bluth é um personagem que guia a série inteira partindo de uma grande contradição que põe o personagem em conflito consigo mesmo a série inteira. Por um lado ele odeia a família, ele considera eles parasitas, auto-destrutivos que vão se destruir e levá-lo junto, e fantasia em ir pra Phoenix, Arizona, tentar a vida independentemente e deixá-los pra se foder. O problema? Que Michael do fundo de seu coração acredita que nada no mundo vale mais do que a família, e que é sua obrigação moral ajudar aquela gente que não merece.
Michael lida com isso se martirizando, esfregando na cara de todos como eles não são dignos dos sacrifícios pessoais que ele faz pela família, e no geral usa suas ações pra reforçar pra si mesmo como ele é uma pessoa muito melhor do que os demais Bluth.
Não que ser o Bluth mais moral seja o mesmo que ser uma pessoa muito moral, ao longo das primeiras temporadas, Michael constantemente dá suas escapulidas de cuzão pra ser egoísta e corrupto tanto quanto os Bluths, mas no geral na comparação é obvio que ele é o cara mais decente da família. O problema foi na quarta temporada, depois dele ter sucesso em se desvincilhar da família, que ficou obvio o quanto sem aquelas pessoas horríveis pra servir de contraste e de motivação pra Michael se martirizar, como ele não é uma pessoa muito melhor do que eles.
Michael se sente a ovelha negra, mas ele está preso a família, por depender dela. Ele não consegue ser a pessoa que ele acha que é, sem precisar provar sua moralidade e sua superioridade pros seus irmãos. Quando ele abandona sua família ele é obrigado a se encarar como um empresário meia-boca com um pé na desonestidade.
Mas essa não é a maior tragédia de Michael, a tragédia está na sua relação com seu filho George Michael. Pois vejam bem, o pai de Michael, George Sr, foi um péssimo pai, e Michael faz questão de lembrá-lo disso a cada oportunidade, porém com George Michael, Michael mantém o ciclo. Ele reforça vários aspectos negativos da própria criação na criação do filho, e faz isso sem nem perceber, o que é o grande sinal do quanto ele é bem mais próximo ao pai do que ele gosta de pensar. Ele adora usar exemplos de sua paternidade para provar que é um bom pai e melhor do que o resto da família, mas a verdade é que ele liga muito pouco pro George Michael, raramente está lá pra ouvir o que ele tem pra ouvir, e foi completamente surdo quanto ao grande conflito pessoal de George Michael que ele tentou dividir com o pai inúmeras vezes na temporada.
Michael precisa ser uma boa pessoa, e ele não é, mas pra se sentir uma, ele precisa estar preso ao grupo de parasitas ingratos que nunca vão lhe retribuir por nada que ele fizer, e enquanto isso ele trata seu filho igual seu pai o tratou. Ele julga sua família por egoismo, mas tudo o que ele faz por eles é pra Michael sustentar o próprio ego e o próprio orgulho. Michael está preso a essa gente eternamente, e qualquer tentativa de sair disso será em vão, pois ele eventualmente retornará a isso e nunca vai genuinamente se desconectar da família, pois seu sucesso pessoal depende deles e no fundo acho que ele já percebeu isso.
Gob Bluth:
Gob é o primogênito dos Bluth e disparadamente a pessoa menos amada da família. George Sr e Lucille tiveram quatro filhos, Gob, Michael, Lindsay e Buster, e é muito obvio que o consenso entre o casal é que Gob é o pior da família, ninguém o ama.
Isso frustra muito Gob, que almeja mais do que tudo receber respeito, o problema é que ele particularmente não quer fazer algo que mereça respeito, só quer receber respeito. Ele tem inveja de todos que recebem o amor de seus pais mais do que ele, e ele quer seu direito de primogênito.
Gob é indiscreto, gosta de se gabar, e ressalta sua posição tratando todos abaixo dele feito lixo, e sempre que alguém se compadece dele e dá a ele uma chance de assumir uma posição de respeito ele estraga tudo sendo um grande escroto a respeito disso.
A verdade é que apesar de ser péssimo com as pessoas, e de ser um péssimo empresário, as verdadeiras ambições de Gob estão em outro aspecto. Ele é um mágico, não um ótimo mágico, mas ele já teve uma carreira de relativo respeito, inclusive sendo o fundador da Aliança dos Mágicos, a maior organização da profissão que existe, e que persegue e impede que consigam trabalhos mágicos que revelem o segredo de seus truques. Mas apesar disso, Gob a família de Gob nunca realmente levou a sério o fato dele ser mágico.
Em uma tentativa de mostrar pro seu pai, por quem ele mais deseja reconhecimento e atenção, o quão ele era bom, ele escondeu seu pai da polícia em sua Tumba Asteca, porém os cães da polícia o encontraram no fundo falso, e o segredo do truque saiu na mídia, jogando toda a carreira de Gob no lixo, em uma tentativa de se provar pro seu pai.
Apesar de Gob nunca ter recebido amor fraternal por parte de nenhum de seus pais, ele já foi fonte de afeto por mais personagens do que qualquer outro membro da família Bluth. Porém constantemente de pessoas cujo afeto o próprio Gob não é capaz de valorizar. Na primeira temporada ele namorava uma garota chamada Marta que era apaixonada por ele, e que ele tratava feito lixo.
Após isso ele, bêbado, acidentalmente se casa com uma vendedora de focas, e ele demora pra se divorciar dela, porém durante todo o período de casado ele fugiu do relacionamento sem nunca conhecer a garota com quem se casou acidentalmente. Depois de vários episódios empurrando com a barriga esse casamento, ele consegue o divórcio sem nunca aprender o nome dela. Ele tem um filho carente chamado Steve Holt que tenta se conectar com o pai, que o ignora e finge que ele não existe, e por fim ele se torna noivo de uma garota chamada Ann, só pra fazer um grande e ambicioso truque de mágica durante o casamento como pretexto pra fugir do casamento.
Gob foge de qualquer um que o ame e dê a ele uma chance de amor, enquanto remói o fato de que seus pais nunca vão amá-lo. Quando Michael oferece alguma chance a Gob de impressionar seus pais, ele aproveita pra humilhá-lo, e assim segue a jornada de Gob rumo a uma solidão que atinge seu auge na quarta temporada.
Na quarta temporada, ele finalmente faz seu primeiro amigo na vida, na figura do seu rival no campo da mágica Tony Wonder, e por nunca ter sentido amizade na vida, acredita que na verdade está apaixonado, Gob e Tony acabam transando após ambos serem manipulados por Ann, porém Gob ainda luta contra qualquer noção de que ele possa ser gay e está em conflitos internos com o incidente.
Gob tem uma personalidade explosiva, sempre quer parecer gigante, épico e o melhor do mundo, e isso esconde uma solidão imensa que ele sente, o problema é que todas as chances que ele tem de suprir essa solidão ele joga fora tentando priorizar sua imagem perante a sociedade, a mídia ou seu pai, fazendo com que o único amor que ele não desista seja justamente o único que ele nunca vai obter.
E tal como com o cíclo do boa-noite-cinderelas que ele toma, a vida de Gob é esse ciclo de solidão, a menos que Tony Wonder consiga quebrar esse ciclo na quinta temporada, mas ela teria que estrear pra sabermos.
Lindsay Fünke:
O da Lindsay é fácil, e assim como com seus irmãos, se volta pra relação dela com seus pais (estão notando um padrão?), no caso só pra relação dela com sua mãe. A mãe de Lindsay, Lucille Bluth é uma mulher horrível e sádica que constantemente prejudica a autoestima da filha em relação a sua aparência, e ela faz questão de fazer isso em todas as interações que as duas têm.
Lindsay odeia a mãe, e em resposta se rebela contra ela constantemente. Ela pode se rebelar de diversas formas, tanto se casando com um homem que Lucille não aprovaria, gerando seu casamento com Tobias Fünke, quanto se envolvendo com causas liberais que são completamente contra a visão de mundo conservadora de sua mãe.
Lindsay passa uma parte considerável do seu tempo lutando por causas que não somente ela não acredita, como sequer conhece o suficiente pra notar que ela contradiz essas causas diariamente sozinha em casa.
Então por que ela se envolve tanto? Ela tem uma necessidade interna de provar que ela não é uma jovem rica fútil e elitista que vive uma vida de aparências e ignora diversos males que seu estilo de vida traz ao mundo em troca de conforto. E o motivo pelo qual ela quer muito provar isso é porque ela é exatamente isso. O problema pra Lindsay é que admitir que ela é exatamente isso seria admitir que ela é igual à sua mãe.
Então ela luta por causas sociais, então ela posa de maior militante liberal que você respeita, mas sem se importar o suficiente com as propostas e nem ter pique o suficiente pra militar por nada, só o mínimo pra atacar a sua mãe. E é nessa contradição em que Lindsay esta presa, em uma vergonha imensa por ser a pessoa que ela é, e um desejo imenso de poder ser uma pessoa que ela não é e acreditar em coisas que ela não acredita.
Lindsay tecnicamente foi adotada pro Lucille com 3 anos, então ela não é uma descendente do clã Bluth no sentido biológico, e talvez seja a falta de sangue Bluth em suas veias que permitiu que ela quebrasse o ciclo no final da quarta temporada, onde após viver um triângulo amoroso entre Mark Bark, um militante anarquista que fazia ela se sentir a rainha da militância, e Herbert Love, um político de direita que fazia ela se sentir feliz, ela escolheu a felicidade e abraçou suas semelhanças com a mãe, se tornando uma política da direita, que é capaz de fazer militância real, agora pelas causas em que ela realmente acredita, como por exemplo colocar um muro entre os EUA e o México (e antes do Trump estourar na mídia) independente do quão semelhante com sua mãe ela soe.
Horrível, porém Lindsay saiu de sua prisão, ela evoluiu como ser humano ao se abraçar como a pessoa horrível que ela era.
Buster Bluth:
Eu acho Buster um personagem muito triste. O irmão caçula de Gob, Michael e Lindsay se diferencia dos demais por sua prisão ser muito mais fechada e pelo quanto sair dela depende pouco dele nessa altura do campeonato.
Buster foi cruelmente criado por Lucille pra ser completamente dependente dela, enquanto que George Sr simplesmente se absteve de criar Buster e o tratava mais como um fardo do que com amor.
Toda a vida social e afetiva de Buster se resumiam a sua mãe na infância e isso seguiu até a fase adulta, onde ele é psicologicamente dependente de sua mãe em todos os sentidos. Se não fosse ruim o bastante, Lucille, como a mulher de aparências que ela é, se divide entre tentar se livrar de Buster sempre que a companhia de seu filho adulto for inconveniente para sua imagem, e nunca realmente se livrar dele e cortar suas asas sempre que ele está perto de adquirir independência.
Por isso não sei se Buster tem psicológico o suficiente pra conseguir buscar sua liberdade da prisão que sua mãe criou em volta dele.
Porém Buster já chegou perto de sair da asa da mãe, por meios de uma namorada, Lucille Austero, uma amiga e rival de sua mãe que tem o mesmo nome dela e que serve como uma figura materna pra Buster, o que dialoga com todo o complexo de Édipo que Buster desenvolveu com o passar dos anos.
Buster não parece ser capaz de separar a noção de ter uma namorada da noção de ter uma figura materna, e isso é um problema para todas as mulheres com quem envolve na série, mas não é o único momento onde a dependência que ele tem pela mãe é presente.
Em um episódio onde pela primeira vez na vida ele desafia a mãe e a desobedece diretamente, ele é punido pelo karma por sua desobediência tendo sua mão direita devorada por uma foca. Deixando uma marca permanente do que acontece quando ele tenta se afastar de Lucille.
Na quarta temporada, Lucille vai a julgamento, e Lucille 2 (o apelido de Lucille Austero, com quem ele já teve um romance em diversas ocasiões) o manipula para que ele não deponha para sua mãe fazendo com que Buster perca seu vínculo com sua mãe por tempo indeterminado. Porém ele não fica com Lucille 2, pois essa não quer ser uma nova mãe de Buster, quer somente um namorado, e Buster quer uma nova mãe.
Buster acaba caindo nos braços de Ophelia Love, esposa de um político influente que adota Buster como figura materna e ao mesmo tempo traí seu marido com Buster. Diferente de como ele fez com Lucille 2, Buster não mistura os dois conceitos e aceita deixar de ser filho de Ophelia, e ser somente seu amante.
Quando o marido de Ophelia descobre tudo, Ophelia expulsa Buster de sua casa, pois não pode mais tê-lo como filho, deixando Buster sem rumo no mundo.
Após isso ele vai se reencontrar com Lucille 2, para lhe dar informações políticas importantes que ele adquiriu durante seu tempo com Ophelia e descobre que ele foi manipulado em ajudar a mandar sua mãe pra cadeia em uma cena em que ele pode ou não ter matado sua ex-namorada em um acesso de raiva. Muito provavelmente ela não morreu, e muito provavelmente quem atacou ela não foi Buster (eu entendi que foi o Michael), mas está não-claro e só saberemos se a quinta temporada sair. Mas o importante é que a polícia acha que foi Buster, e ele foi preso.
Buster está longe da prisão que prendia ele a sua mãe e a sua família e o impedia de avançar com sua vida, mas agora ele está em uma literal prisão. E tal como no dia em que perdeu sua mão, é possível que esse trauma só o aproxime de volta a Lucille.
Tobias Fünke:
O Tobias também é um caso fácil. Tobias tem um sonho, ele sonha com um mundo onde ele é um ator profissional em um relacionamento feliz com sua esposa Lindsay e sua filha Maeby, em uma vida funcional e feliz. O problema? Nossa, tem vários, mas vamos lá, o primeiro é: ele não tem talento nenhum como ator, mas nenhum mesmo. O segundo: Ele não tem conexão nenhuma com Lindsay e o casamento é muito obviamente um casamento de fachada. Mas o mais gritante é o terceiro: ele abrirá mão de absolutamente qualquer oportunidade que cruze seu caminho para insistir nesse sonho impossível.
Antes de querer ser ator Tobias era desempregado, mas antes de ser desempregado ele era um terapeuta. E um bom terapeuta, em diversos momentos da série ele é o único capaz de ver o que Michael realmente sente e fala com ele pra fazê-lo perceber suas próprias ações.
Porém não é um terapeuta que ele quer ser, ele quer ser ator, e Tobias é um homem determinado a correr atrás de seus sonhos, independente do que ele possa abrir mão por conta disso. O quanto seja obvio que o seu sonho não está no campo do que pode ser alcançado, além de ajudar a afastá-lo de Lindsay.
Tobias é um personagem que vive no mundo da fantasia, porém isso é retratado menos com ele sonhando acordado e mais com ele simplesmente se recusando a ver a realidade na sua frente. Ele não percebe que seu casamento está acabado, ele não percebe que ele não é um ator, ele não percebe que 90% do que sai da boca dele pode ser lido com conotação homossexual, e ele muito provavelmente é gay, o que ele também não percebe. Apesar disso ele é bom em perceber o que pessoas sentem e como as ações delas são meios de lidar com seus sentimentos.
Não é só em ser um terapeuta que Tobias é bom. Ele foi um bom assistente para Michael.
E foi uma excelente faxineira para a casa dos Bluth.
Então isso é menos um caso de se focar em ser um terapeuta, pois as vocações dele são estratosféricas, e sim um caso de não se focar em algo que ele não sabe fazer e nunca saberá a longo prazo, pois é o que ele mais faz de auto-destrutivo.
O que foi levado para seu extremo na quarta temporada, quando a obsessão dele em ser o que não é, destrói não só com a própria vida, como com a vida de outros, fazendo sua nova namorada (depois que ele e Lindsay enfim terminam), uma ex-viciada ter uma recaída nas drogas e perder toda sua chance de recuperação na vida.
Tobias não é um Bluth oficialmente, é um mero genro de George Sr e Lucille. Por isso seus hábitos não o prendem a família, meramente o travam de uma maneira bem desfuncional. Inclusive, visto como seu casamento esteve sempre na corda bamba, seus hábitos são o que o afastam da família.
Maeby Fünke:
Maeby é um membro da mais nova geração dos Bluth, que é a geração mais genial, se o primo dela, George Michael é literalmente quem trabalhava para tirar a maior fonte de sustento das Empresas Bluth, Maeby é quem conseguia a maior fonte de renda pra si mesma como uma executiva de Hollywood de sucesso desde os 15 anos.
Maeby, apesar de preguiçosa, de ir mal na escola e de não dominar muito alguns conhecimentos de senso comum, é uma das mentes mais geniais da família, uma pequena golpista muito boa em manipular pessoas, e como é que ela usa seu talento nato pra mentira e enganação? Pra subir na vida? Pra se afastar de uma empresa falida e se fazer no mundo? Não, pra tentar ganhar a atenção dos pais.
Pois é, olha, nesse mundo o número de bebês que nascem por acidente é enorme, e na ficçãolândia é ainda maior, pois gravidez acidental gera mais drama e mais conflito. Porém Maeby é uma exceção. Ela é o extremo oposto de um acidente, ela foi notavelmente planejada. Vejam só, Lindsay e Tobias, os pais de Maeby, tem esse casamento de fachada, onde não existe nem amor, nem sexo vindo do casal. E bem, quando um casal que está em crise afetiva tenta provar pro resto do mundo que eles são um casal sem crise nenhuma, ao mesmo tempo em que querem provar que transam, quando não transam, eles fazem um filho. E no caso, fazem por inseminação artificial e gastam uma fortuna no processo e é assim que Maeby foi concebida e trazida ao mundo.
Obviamente uma vez que eles provaram o que eles tinham que provar, a filha foi completamente negligenciada pela sua vaidosa mãe Lindsay, que não achava que ser mãe combinava com seu estilo de vida de classe. Seu pai estava ocupado demais com sua carreira de médico, que na época ele tinha, pra dar a devida atenção a Maeby e ela se tornou bem independente desde muito cedo. Independente e rebelde.
Maeby se rebelava contra qualquer coisa que sua mãe apoiasse, meramente para ver se conseguia uma resposta de sua mãe, e jamais conseguiu, eternamente ignorada pela própria mãe, mas Maeby insistiu na ideia de chamar a atenção de sua mãe negativamente até o fim, o que culminou na quarta temporada, onde suas conexões com a família Bluth custam a ela sua carreira de sucesso nos ramos de Hollywood e a deixaram sem um emprego. Na quarta temporada, Maeby é literalmente abandonada pelos pais, que se divorciaram e cada um se mudou com um novo parceiro amoroso, deixando-a sozinha para se sustentar, e a resposta dela foi reprovar no colegial 5 vezes seguidas para ver se enfim ela receberia a atenção que ela desejava, mas não recebeu.
Quando seu primo, George Michael, e a escola da vida, simultaneamente a convencem de que independente de ter conseguido ou não a atenção dos pais, era a hora já de concluir o colegial, ela percebe que tem o risco de ser expulsa sem seu diploma por ser velha demais pra estar na escola, e que um garoto com quem ela ficava no colégio sabia seu segredo, então ela transa com esse garoto, esperando que ele ficasse de bico calado, porém ela acaba indo presa por ser uma adulta e transar com um menor de idade. Se tornando incapaz de sair de um ciclo onde ela mesma se enfiou.
E assim a produtora de Hollywood que foi reconhecida como a “Rainha do Terror” pela sua franquia de sucesso “Gangie” (que ela fez inspirada em sua avó), acabou presa como uma pedófila sem nunca conquistar o diploma do colegial, pois insistiu em provar algo para uma mãe que por sua vez nunca a notou, pois estava ocupada demais tentando provar algo para a sua mãe. Não é irônico? Muita coisa em Arrested Development é.
George-Michael Bluth:
Por último, pois George Sr. e Lucille não estão presos como os demais protagonistas, temos George-Michael Bluth, George Michael é parecido e diferente de Maeby. Ele é diferente de sua prima, pois ele é um filho modelo pra Michael e um excelente aluno que nunca negligenciou sua formação, e ele é igual a Maeby, pois ele é brilhante, literalmente, ele trabalha no Quiosque de Bananas da companhia Bluth, onde ele é o Gerente, o caixa, o principal funcionário e literalmente a única pessoa que faz algo pelo Quiosque de Bananas. Coincidentemente o quiosque é a única subdivisão das empresas Bluth que produz lucro, tornando George-Michael o responsável por todo o dinheiro que entra nas empresas Bluth, e isso com 15 anos.
Não só isso, George-Michael é amado. O único membro da família que não tem receio de sacanear com o George-Michael quando está dando suas tradicionais cuzices é o Gob, de resto, os membros da família tem respeito por ele e querem não envolvê-lo nas merdas dos Bluths. Isso se nota quando George Sr aceita ir pra solitária só pra bater em Gob por envolver George-Michael em coisa errada.
Então onde é que esse menino deu errado? Pois bem, a maioria dos membros da família tem a relação com um dos outros membros servindo de pilar para uma série de obstáculos que os impedem de cortar laços com tudo e ir buscar felicidade fora dos Bluth. Como George-Michael tem mais potencial de sucesso, ele tem dois parentes pra derrubar ele. Michael e Maeby.
Comecemos com Michael. George-Michael quer que seu pai tenha orgulho dele e raramente faz qualquer coisa que o afaste de seu pai, pois ele quer ser um bom filho. Ele é tímido, fechado e perdeu a mãe quando era muito jovem, O problema é que Michael não é um bom pai, e frequentemente usa o filho mais como um objeto pra se provar uma pessoa de mais caráter que George Sr, do que como alguém que ele ouve e respeita.
Michael colocou George-Michael pra trabalhar no Quiosque de Bananas, mesmo que ele odiasse o próprio pai por fazê-lo trabalhar no quiosque de bananas. Ele manipulava o filho pra que esse não namorasse uma garota chamada Ann que Michael não aprovava. E o fato é que George-Michael passou as três primeiras temporadas lidando com um conflito interno que consumia ele e que ele tentou dividir com o pai o conflito, mas esse nunca o ouviu. O conflito em si é que ele estava apaixonado por sua prima, Maeby.
Maeby beijou George-Michael no primeiro episódio em uma tentativa de chamar a atenção de sua mãe, pegando o próprio primo, não funcionou, mas conquistou o coração de George-Michael. Pois bem, esse então passou as três temporadas seguintes a isso, tentando ao máximo impressionar Maeby, que era uma rebelde querendo ser polêmica e quebrar regras, coisas que são o oposto do que George-Michael gosta de fazer por conta de sua relação com o pai.
Puxar o saco de Maeby e agradar Michael parecem contradições, e por isso o garoto ficava sempre preso quanto ao que fazer da vida. E quando Michael oficialmente descobre que seu filho se sente atraído pela prima ele explicitamente proíbe o filho de continuar tentando algo, e George-Michael obedece.
Porém na quarta temporada tudo muda. O rapaz vai pra faculdade, onde ele consegue independência e consegue uma viagem de intercâmbio, onde ele tem sua sexualidade aflorada (sem Michael lá pra jogar água fria em qualquer relacionamento dele), e ganha mais auto-estima. Ele está quase se formando em tempo mínimo e está desenvolvimento seu próprio app onde ele pretende trabalhar, e aparentemente, cinco anos completamente afastado de sua família guiou ele a um futuro promissor.
E o que acontece? Ah sim, Michael e Maeby entram na vida dele de novo.
E antes que ele perceba ele se afundou em uma série de mentiras pensadas para simultaneamente não magoar Michael, que estava sendo um péssimo pai pra ele, e seduzir Maeby, que não estava dando bola pra ele, e pronto, ele se pegou em uma rede de mentiras onde ele era o criador de um software revolucionário anti-pirataria chamado Fakeblock e tinha milhares de pessoas investindo seu dinheiro nisso.
Michael e Maeby são duas pessoas que gostam de verdade do George-Michael, afinal toda a família gosta dele, mas eles não realmente correspondem aos sentimentos que George-Michael põe nesses dois. E é assim que o único Bluth que era genuinamente puro e sem maldade, foi corrompido em um Bluth normal, mentiroso e manipulador, ao não conseguir se distanciar o suficiente de Michael e Maeby.
Mas apesar disso, assim como Lindsay, ao se tornar um Bluth em personalidade, George Michael consegue se livrar da prisão que era seu pai e sua prima. Ele se envolve com essa garota chamada Rebel Alley, que segundo o narrador, faz ele superar Maeby completamente. O problema? Ele namora ela sob um nome falso e por conta de sua fama como fundador do Fakeblock, que é uma mentira. Outro problema, Michael namora a exata mesma garota, e ele sabia que estava pegando a namorada do filho e não fez nada a respeito. Ao descobrir esse lado de seu pai, George Michael tem a reação que encerra a série.
Definitivamente cortando sua necessidade de estar sempre na aprovação de seu pai.
Como Wes Anderson diz na tagline de The Royal Tennenbaums, “família não é uma palavra, é uma sentença”(em um trocadilho tão intraduzível quanto metade da série Arrested Development), e no caso é a família que sentencia os personagens de Arrested Development a nunca deixarem o Status Quo. Michael segue preso ao Status Quo, endividado e dependente de favores de sua família. Tobias está igualmente preso ao seu Status Quo vendo seu sonho literalmente afundar. Maeby acabou de cair do castelo de cartas que seus hábitos causaram, enquanto George-Michael está a um passo de cair de um que ele criou mas que o tirou de seu ciclo. Gob está com uma chance real de quebrar seu ciclo e se libertar através de uma relação com seu rival Tony Wonder onde ele pode encontrar a aceitação que ele nunca encontrou em sua família, mas não sabemos se ele vai aceitá-la. Buster está livre do ciclo, tendo cortado completamente o laço com sua mãe, mas está tão perdido e sem nada que não sabemos quanto tempo ele vai durar até retornar ao seu status quo da mesma maneira que Michael sempre volta. E por último Lindsay, que está genuinamente livre de seu Status Quo, se tornando a voz da direita republicana na Califórnia, foi a única a genuinamente se libertar.
Com sorte alguém deve agitar alguma coisa para a 5ª temporada de Arrested Development ser oficialmente confirmada em 2017 pra talvez em 2018 termos alguma coisa, pois essa é uma série fantástica que merece continuar. Não só pra fechar todas as pontas soltas que a Quarta Temporada deixou, mas por sua alta qualidade narrativa mesmo, é uma série cuja existência é necessária nesse mundo.