Qual é a fórmula de Dragon Ball? E o Super deveria seguir ela?

Q

Vamos falar de uma coisa muito feia. De fórmulas narrativas. Sabem? Aquelas receitas de bolo que toda história serializada têm, mas que pode ser muito prejudicial se o fã descobrir a fórmula, pois decodificá-la torna os futuros lançamentos previsíveis. Mas ainda sim, é muito difícil não ter o mínimo de uma estrutura que se repete, independente da mídia, pode ser a mesma estrutura todo arco, ou toda temporada, ou todo livro. O importante é, nós associamos fórmulas a coisas muito ruins, e só usamos essa palavra quando queremos falar mal de algo.

house
Um exemplo de uma série que tinha uma fórmula muito clara. Muitos dos que não gostam da série fazem questão de mencionar a fórmula como um defeito.

Pois bem, nesse texto vamos falar bem. Pois vamos falar de Dragon Ball, e nesse blog não se fala mal de Dragon Ball… nesse blog nós fazemos textos de Dragon Ball pra falar bem, isso é, exceto pelas abominações que são Dragon Ball GT e Dragon Ball Super.

dbsuperposter
Eu tinha tanta fé que isso ia ser bom, e é um lixo.

Eu quero usar esse espaço na verdade para defender as fórmulas do ódio que elas podem gerar quando descobertas. Eu posso falar “todo arco de One Piece é igual. Pois eles chegam em uma ilha, acham um vilão que é mais pica das galáxias que o Luffy, mas o Luffy faz amizade com os locais, descobre que o vilão criou um conflito interno enorme naquela ilha, mas o conflito é resolvido no segundo em que Luffy espanca o cuzão. E de quebra ele vai ter um capanga espadachim pra brigar com o Zoro, e um capanga que luta alguma arte-marcial pra brigar com o Sanji. Em resumo, todo arco é igual.” e a resposta imediata a esse comentário seria uma lista de exemplos provando que eu estou errado e que todo arco não é todo igual, pois cada um tem sua singularidade e que One Piece é sim uma leitura original que se renova a cada capítulo sem seguir padrões. Pois é isso que um fã faz quando alguém critica que a obra é formulática.

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Temos também uma vez por arco a cena em que o Luffy obriga a vítima do vilão a pedir diretamente sua ajuda pra ele enfim ir pra cima do vilão.

E sem entrar no mérito de ter ou não uma fórmula, meu ponto é que mesmo se fosse tudo igual no mangá e cada arco fosse uma repetição, ele ainda poderia ser bom, pois pode ser formulático e bom ao mesmo tempo. Em uma história ideal, nós nem sempre percebemos que notamos a fórmula, mas ela serve pra trabalhar nossa expectativa. Fazer algo que se repete constantemente em uma série é muito efetivo se em um determinado ponto-chave você quer fazer o oposto acontecer. Pois o susto é maior.

Vamos tomar Harry Potter como exemplo. Todo livro o Harry suspeita que o Snape está em parceria com o vilão, e em todo livro ele descobre que ele estava errado e que o Snape estava na real leal ao Dumbledore o livro todo. Isso acontece em todo livro, até que chega o sexto livro e o Snape faz uma coisa que eu não vou falar o que é, pois quem abriu esse link só está preparado pra tomar spoilers de Dragon Ball, mas que confirma as suspeitas de Harry. E mesmo pro leitor que nem se tocou que todo livro o Snape é uma pista-falsa-de-vilão, inconscientemente se acostumou a nunca realmente acreditar que o Snape vai dar uma maldade e o choque é maior do que o que seria se por exemplo em alguns livros o Snape fosse um cuzão.

snape
Eu nem preciso falar o Spoiler, vocês todos sabem o que ele fez.

O mesmo vale pra One Piece e sua mania de nunca matar nenhum personagem o que faz com que realmente nos surpreendamos quando dois personagens morrem no meio da história em um evento épico. Naturalmente não vou falar quais.

Enfim, não só isso, como fórmulas ajudam a ditar o ritmo de uma história seriada, se ela é dividida em arcos, a fórmula ajuda a ditar o pacing da obra, nos ajuda a ter uma noção se o arco está indo pra sua reta final, o que permita que nos preparemos psicologicamente pro climax, ou seja, criemos hype. Hype é ótimo pra apreciação de uma obra. Entender a fórmula é a base pra criação de teorias, e também para entender quais são os elementos que se repetem nas obras e poder entender melhor quais temas ela pode trabalhar.

E isso é metade do que eu faço nesse blog.

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Em contraste ao House que mencionei no começo, Phineas and Ferb sustenta seus fãs justamente por ser uma série assumidamente formulática e que sabe explorar a repetição de seus episódios pra trabalhar a expectativa de seu público ao máximo.

E o mais importante, na ficção metade do que se faz é notável por contrastes, então manter elementos que são os mesmos durante todo o decorrer da trama ajuda muito a enfatizar elementos que variam muito ao decorrer da trama. Por exemplo, se o perfil dos personagens de uma série forem sempre parecidos, como por exemplo, se a série tiver uma caralhada de princesas, isso pode ser um fator pra chamar a atenção pro fato de cada reino ser visualmente muito diferente um do outro, pois as princesas teriam que ser diferentes uma da outra pra compensar o fato de serem princesas.

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Duas princesas, humanoides, e interesses amorosos do protagonista. O quão opostas elas são se nota justamente pelo alto número de contextos que elas tem em comum.

Enfim. Enfatizando que ser uma série formulada não só é bom como a maioria delas são de alguma maneira, eu quero falar sobre Dragon Ball, um mangá que segue uma fórmula durante boa parte de sua duração. E sobre Dragon Ball Super um anime que foi criado pra continuar a história de onde o mangá parou, e que não segue a fórmula de seu antecessor.

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Pois bem, Dragon Ball apesar de ser facilmente subestimado tem uma história e um roteiro sólidos que se sustenta com furos mínimos até o final, e Dragon Ball Super é um pedaço de lixo sem carisma nenhum. Inclusive a maneira mais fácil de gostar de Dragon Ball Super é não achando que o original era grande coisa em primeiro lugar.

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O Arco do Goku Black que é supostamente o melhor de Dragon Ball Super já é mais furado que a série original inteira.

E eu honestamente acho que se o Super tivesse pegado a receita de bolo que o Toriyama deixou e seguido ela, era possível de se fazer uma história muito mais sólida. Pois vou ser sincero, Dragon Ball Super já fez 63 episódios, e ainda não criou ¼ dos elementos icônicos que Dragon Ball GT criou pra franquia, e olha que Dragon Ball GT acabou no episódio 64. E isso por que Dragon Ball GT é ruim, mas eu considero que o Dragon Ball Super é ainda pior. Então eis alguns pontos de qual era a receita pra Dragon Ball original funcionar que o Super podia estar seguindo pra ver se o nível sobe.

Personagens morrendo em todo arco.

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Vamos lá, não é segredo pra ninguém que no mundo de Dragon Ball a morte é barata, ela é mais uma grande inconveniência do que uma tragédia uma vez que você pode não só ser ressuscitado com relativa facilidade, como ainda pode usar o pós-vida pra ficar parça do panteão todo e criar boas relações com as divindades.

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Aproveitando a morte pra colar com o guardião do universo e trocar uma ideia.

E que efeito isso gera? É mais fácil as lutas de Dragon Ball terem desfechos letais.

Sim, porque se eu não estou realmente tirando o personagem da série com a morte e os riscos diminuem, então eu posso matar a vontade. É isso que o Toriyama devia pensar. E isso tem peso sim na hora do climax, pois embora a gente saiba que depois que o vilão for derrotado o Goku vá ressuscitar todos os aliados mortos, ainda é um fato de que entre agora e o vilão ser derrotado, o vilão precisa ser derrotado e cada aliado que Goku perde o dificulta a derrota do inimigo.

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Se o Yajirobe tivesse sido morto pelo Vegeta antes disso, ainda daria pra Vegeta ser derrotado? Sim, pois ele é o vilão, mas daria o dobro do trabalho.

Pois ao contrário do que parece na nossa memória. Em Dragon Ball as lutas eram bem menos no mano-a-mano do que a maioria dos mangás inspirados em Dragon Ball começaram a fazer. Ah sim, os nossos protagonistas odeiam 1×1, quem gostava de fazer o “dois homens entram só um sai” eram os vilões.

Lembram? O Nappa queria pegar a galera um por um, mas eles preferiam lutar em grupo. Na hora de bater no Vegeta foi 4×1. No Freeza o Kuririn, Gohan e Piccolo ajudaram na luta o quanto puderam até o Goku ser abandonado sozinho com o ditador em Namek. Os guerreiros Z foram pegar o androides de galera, mas o 17 obrigou todos a deixarem Vegeta x 18 ser um 1×1. O Cell organizou um torneio pra garantir o 1×1, mas no fim do torneio todos tacaram o foda-se e foram pra cima do Cell ajudar o Gohan, e inclusive sem o Vegeta atacando Cell por trás, Gohan nunca teria vencido.

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17 espanca Tenshinhan, Piccolo e Trunks ao mesmo tempo.

Enfim, como os vilões estão sempre lutando com os guerreiros Z em grupo, em vários contra um, é natural que mesmo com a perspectiva da ressureição, a cada guerreiro que o Nappa matava, mais distante a derrota do Nappa parecia pros heróis.

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Mas se a gente pegar o Super, ninguém morre nunca. Ou pior, quando morre a gente acaba descobrindo que só tava desmaiado, mas que ainda tá vivo. O que na moral, é pior do que ressuscitar.

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Ela tá bem. Relaxem.

Em GT o pessoal morria pouco, mas ainda sim, Piccolo fez um sacrifício final pra fechar o próprio arco de personagem e Kuririn teve uma última morte nas mãos do Super 17 que engatilhou a fúria da 18 além de criar o gancho pro arco final dos Super Dragões.

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Isso foi impactante.

Em Super tivemos até agora uma única morte, a do Piccolo, que não engatilhou nada narrativamente, e ainda por cima ele foi ressuscitado offscreen no auge do desrespeito à morte.

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Isso foi broxante.

Gente, cês tem esferas do Dragão, então mostra o quanto o Zamasu é cruel, fazendo ele matar alguém. O personagem volta? Sim, mas isso causa dor nos que estão vivos, aumenta os obstáculo, aumenta a tensão. Foda-se que a gente sabia que ele era ressuscitável, quando o Vegeta se explode contra o Boo foi foda, e quando o Boo dizimou todos aliados de Goku enquanto Goten e Trunks estavam presos na sala do tempo, a tensão aumentou. Então Super devia perder a vergonha e deixar os vilões fazerem as vilanias deles com mais liberdade.

A espera por Goku:

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Outro ponto importante pra entender o que fazia Dragon Ball funcionar. O Goku é muito forte, ele é muito mais forte que seus aliados. O que significa que quando o Goku entra em campo o jogo começa a virar consideravelmente pro lado dos nossos heróis. Como a gente lida com isso, simples, adiamos ao máximo a entrada do Goku em campo. Uma parte considerável do arco deve ser os outros guerreiros tentando ao máximo segurar a barra enquanto o Goku não chega.

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E isso rola desde que o Goku era criança.

E é nesse período de tempo em que o vilão ganha tempo pra se fortalecer e ir eliminando sistematicamente os aliados de Goku que seriam uteis na batalha. Enquanto Goku estava moribundo na Torre Karin, Piccolo matou o Mestre Kame, o único que sabia a técnica de selar o Piccolo pra sempre. E enquanto Goku não chegava, Tenshinhan segurava o vilão com todas as forças. Da mesma forma, enquanto Goku corria de volta o caminho da serpente, Nappa matou Piccolo, Tenshinhan, Chaotzu e Yamcha, eliminando as esferas do dragão no processo e gerando o gancho pra viagem à Namek. Em Namek o pessoal precisou esperar Goku chegar já que a nave dele saiu depois, restando a Gohan, Kuririn e Vegeta estrategicamente irem diminuindo as forças de Freeza e lidando como podiam até a chegada do protagonista. Na Saga de Cell, Cell, Goku lutou contra sua doença cardíaca enquanto os seus amigos seguravam os androides como podiam, e Cell aproveitou justamente a hora de Goku entrar na Sala do Espirito e do Tempo pra absorver a 18 e ficar perfeito. Gerando momentos de tensão como o Tenshinhan segurando ele com o Kikoho. E com o Boo, Goku e Vegeta passaram dois terços do arco mortos, deixando pro Gohan, Trunks e Goten a bronca de lidar com Boo como podiam.

kikoho
Um dos momentos mais épicos de Tenshinhan foi enquanto ele esperava o Goku chegar.

Essas cenas do pessoal se virando sem o Goku não só são importantes pro vilão ter tempo de causar danos, como geram momentos marcantes da série, e momentos pros secundários brilharem. A gente sabe que depois que o Goku chega, não tem mais Piccolo e Tenshinhan que se destaque, então é esse período o momento dessa galera brilhar. É o fato de sempre existirem esperas pelo Goku que o Kuririn conseguiu se manter no jogo até o arco Cell mesmo tendo sido ultrapassado em força por todo mundo.

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“Um conselho, Príncipe, pro futuro: Por que da próxima vez, você não lembra o seu lugar como o resto do pessoal, e espera o Goku?” quote do Cell de Dragon Ball Abridged que é muito mais respeitoso à franquia do que Dragon Ball Super.

No Super, o Goku tá na linha de frente de todos os confrontos com o Zamasu. Aliás, em Super todo conflito é só Goku e Vegeta, só os dois. No máximo o Trunks do futuro. No começo ainda tivemos um momento de “espera o Goku” que eu achei da hora, no arco do Bills, mas nós sabemos que ele foi adaptado do magnifico filme Battle of Gods, então não conta. Mesmo quando fizeram um torneio em que um time de 5 tinha que lutar, eles deram um jeito desse time na prática ser só o Goku e o Vegeta.

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Vejamos, o Monaka é uma fraude e não um lutador de verdade, o Boo não passou no teste escrito pra poder ser um lutador (sério) e o Piccolo entregou a luta pra dar a vez ao Vegeta, então é isso, só Goku e Vegeta estava genuinamente no torneio.

O momento de todo mundo indo pra cima do Bills pois o Goku não tá lá é foda. E o momento deles segurando a barra pro Freeza também é bom. Mas esses arcos são inspirados em filmes, no Black Goku que é onde Dragon Ball Super está criando uma história nova mesmo, cadê o povo?

Mesmo em GT, eles colocaram o Goku preso no inferno pra permitir que o Super 17 tivesse uma luta com a 18. E é isso que Super devia ter feito. Ao invés de fazer o Goku perder 3 fucking lutas com o Black, eles deviam estar ocupando o Goku com alguma coisa que o fortaleça, enquanto o Majin Boo, o Gotenks, o Piccolo e a 18 tentam lutar com o Black. Aliás, já que estou citando essa galera.

Novos vilões agora são novos aliados no futuro:

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Dragon Ball tem uma técnica muito simples de aumentar seu elenco. No fim de cada arco, um dos vilões troca de lado e passa a lutar ao lado de Goku. Isso é uma técnica tão recorrente que a maioria absoluta da turma com quem Goku anda são formado por pessoas que já quiseram matá-lo por maldade.

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Goku, seu filho, seu melhor amigo e quatro ex-vilões redimidos.

Podemos contar. Em ordem são Oolong, Yamcha, Pual, Launch Loira, Tenshinhan, Chaotzu, Piccolo, Vegeta, Androide Nº18, Majin Boo. São muitos. E isso costuma acontecer por que um vilão ainda mais perigoso forçou Goku a fazer as pazes com seu inimigo antes de resolver a luta de uma vez por todas.

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A prática é tão comum que quando Ginyu rouba o corpo de Goku, Kuririn simplesmente presume que Jeice virou a casaca e virou um aliado.

Isso é a maneira de organicamente aumentar a turma. E fazer que a cada arco novo, sempre tenha um guerreiro a mais pra fazer número na batalha contra o vilão. Mas não é o caso de Super.

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A turma completa no final do mangá.
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A turma completa em Dragon Ball Super. Não dá pra ver direito atrás do brilho de Goku e Vegeta? Pois é.

Exceto por Bills, que é exceção pra tudo, uma vez que ele veio de Battle of Gods e Battle of Gods é bom, nenhum outro adversário de Goku se juntou à Turma, nem mesmo Hit, que lutou com Goku no torneio do Universo 6 e se tornou seu amigo, se juntou. A única adição à turma feita em Dragon Ball Super foi o Jaco, que não só não era um antigo rival de Goku, como foi tirado do cu de maneira não-orgânica.

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Se depois do torneio contra o povo do Universo 6, pudéssemos ver Hit visitar Goku e ir brigar com o Zamasu, para por exemplo, segurar o Zamasu enquanto o Goku treina pra luta, seria um acontecimento interessante. Mas nada disso está ocorrendo.

Dragon Ball se apoia muito no conceito do Goku ser uma alma pura, mas tão pura, que pela companhia ele purifica a alma de quem se envolve com ele, e por isso as pessoas pela convivência com o Goku tendem a se tornar pessoas melhores. Mesmo o Kuririn que nunca foi um vilão ou inimigo do Goku, ainda sim era um grande canalha antes de conhecê-lo. E a constante virada de casaca dos vilões era um sinal disso.

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O bom coração do Goku tirou o melhor de todos com quem ele interagiu, incluindo os que não eram vilões, mas eram completos babacas como o Kuririn.

Fora que no caso de Tenshinhan, Piccolo e Vegeta o processo de troca de lado permitiu trabalho de personagem, evolução de personagem e ver o desenvolvimento de um arco pessoal pro personagem. Nenhum personagem de Super tem nada próximo disso. Mas ver Vegeta se estabelecendo na Terra e aos poucos se tornar uma pessoa melhor foi uma das melhores partes de se acompanhar em Dragon Ball.

Mas isso leva tempo, e por falar em tempo…

Time-Skip entre os arcos.

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Dragon Ball é um mangá que abrange uma longa vida do Goku, o mangá começa quando ele tem 12 anos, e termina quando ele tem 47 anos (em um corpo de 40), sendo avô pela primeira vez, sendo assim um intervalo de 35 anos que os eventos do mangá percorrem. Isso se deve ao fato de que após cada vilão ser derrotado, a Terra passar por alguns anos de paz até a próxima ameaça pintar. Cada saga de Dragon Ball, acontece em um ano diferente com um tempo de distância entre a batalha anterior. E ter mais do que 4 time-skips não só é um dos grandes diferenciais de Dragon Ball, como é um de seus fatores mais interessantes.

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A principal função dos time-skips é nos servir de lembrete de que existe mais na vida daqueles personagens do que lutas. Afinal Dragon Ball não é um mangá que tenha um tema pré-definido conectando seus personagens. Se em One Piece todos são piratas, ou em Naruto todos são ninjas ou em Fairy Tail todos são magos em Dragon Ball todos são membros da mesma turma de amigos que de vez em quando faz um churrasco firmeza na casa da Bulma e que quando tem uma ameaça à Terra eles lutam pelo planeta, mas quando não tem eles vivem a própria vida.

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Aí os vacilão não foca nos indícios de vida pessoal que os personagens demonstram entre as lutas e acham estranho o Gohan ter virado um acadêmico e abandonado as lutas quando adulto.

Obviamente pro leitor que quer porrada é mais interessante acompanhar as lutas pela Terra do que a vida pessoal deles, mas exceto o Goku e o Vegeta que são dois Sayajins que só pensam numa coisa, todos os outros tem vidas pessoais. E o Time-Skip ajuda a desenvolver essas vidas e com isso, trabalhar seus personagens, afinal, Dragon Ball investe seu roteiro trabalhando os personagens mais que a trama.

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Isso tudo vale mais pro mangá, pois o anime, em busca de material pra filler as vezes procurava colocar os personagens em situações comuns. O melhor exemplo é o clássico e excelente episódio do Goku e Piccolo aprendendo a dirigir.

Isso se nota principalmente com os vilões redimidos que investem o tempo offscreen em que rolou um time-skip pra poder formar laços com os heróis e firmar sua redenção de uma maneira que não soaria natural se os dois arcos rolassem todos na mesma semana. O Piccolo se tornando o “pai” do Gohan, Vegeta desenvolvendo um romance com Bulma, Nº18 desenvolvendo um romance com Kuririn, metade do que rolou não foi mostrado, mas ficou implícito e são informações importantes pra entendermos porque esses personagens evoluíram. Saindo do foco nos vilões isso se aplica pro Gohan priorizando os estudos as lutas.

Em Super, tivemos 4 batalhas que definiram o destino da Terra e todas elas rolaram no mesmo ano, e em todas elas os personagens estão exatamente no mesmo pé em que estavam no último episódio de Dragon Ball Z, nenhum deles está evoluindo. Alguns inclusive estão regredindo, como o Vegeta que largou mão de sua admissão de superioridade do Goku que ele fez na luta contra o Boo pra ficar mais próximo do Vegeta clássico que os fãs reconheceriam.

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Quando Goku lutou contra um clone-do-vegeta, que tentou matar o Trunks, Vegeta torceu pro clone, pois não suportava a ideia de perder pra Goku. Dado o contexto é bem fora do personagem, após toda a evolução que ele teve na Saga Boo.

Isso se deve porque Dragon Ball Super resolveu que a luta contra o Oob continuaria sendo o final oficial da série, e por isso todos os acontecimentos do anime devem ocorrer entre o final da Saga Boo e a luta contra Oob. E isso é bosta. Dragon Ball GT foi muito mais corajoso resolvendo continuar a história com eventos após a luta contra Oob e isso abriria um leque maior de possibilidades, como por exemplo a inserção de personagens novos no elenco como Oob e Pan.

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E além da Pan, da Bra e do Oob tem o Gill pra preencher a cota de ex-vilão-redimido na turma de GT.

E esse é o lance com Dragon Ball Super, ele se disfarça de Dragon Ball, sem nunca entender o que é que fazia Dragon Ball ser Dragon Ball. É um anime que só sabe fazer o Goku e o Vegeta lutar e não sabe amarrar isso em nada significativo. GT era uma merda, mas fez apostas interessantes com resultados lamentáveis. Super nem ao menos se atreve a apostar, é só Goku e Vegeta lutando.

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E vamos combinar que a forma do Super Sauajin 4 é muito mais estilosa e criativa do que aquele lixo do Super Sayajin Blue.

O efeito disso mais notável é que somando a uma falsa complexidade que o arco atual do Goku Black aparenta ter, é atrair expectadores que achavam que o mangá original não tinha muito conteúdo em primeiro lugar e celebrar o passo pra frente. E isso é um problema, pois se você quer homenagear uma obra e acaba conquistando as pessoas que não gostavam muito da obra em primeiro lugar, então sua homenagem foi um lixo.

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Ver esses dois fazem eu sentir falta dos Dragões Malignos, de verdade.

O primeiro passo pra se adaptar Dragon Ball é entender Dragon Ball. GT entendeu, mas não vingou, pois tomou péssimas decisões, mas isso é porque entender Dragon Ball não é o único passo. Mas ainda sim, é o primeiro. Super não entende Dragon Ball, e é nesse ponto em que Super conseguiu o que ninguém achou que seria possível, fez uma continuação de Dragon Ball que é pior que Dragon Ball GT.

São tempos muito tristes pro legado de Son Goku.

Sobre o autor

Izzombie

Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

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Sou um cara chato que não consegue ver um filme sossegado sem querer interpretar tudo e ficar encontrando simbolismos e mensagens. Gosto de questionar a suposta linha que separa arte de filmes comerciais, e no meu tempo livre pesquiso sobre a história da animação.

Alertas

  • – Todos os posts desse blog contém SPOILERS de seus respectivos assuntos, sem exceção. Leia com medo de perder toda a experiência.
  • – Todos os textos desse blog contém palavras de baixo calão, independente da obra analisada ser ou não ao público infantil. Mesmo ao analisar uma obra pra crianças a analise ainda é destinada para adultos e pode tocar e temas como sexo e violência.

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