Uma pergunta rápida: Quais são as grandes trilogias da história do cinema?
Quais trilogias serão mencionadas é algo que depende de quem responder, um grande fã de cinema arte pode responder a trilogia das cores, já um fã dos anos 80 pode responder Back to the Future, ou ainda geeks podem brigar entre si comparando Star Wars e Lord of the Rings. A unanimidade vai colocar The Godfather entre as melhores. E tem essa outra trilogia que muitos não mencionarão, mas os que mencionarem vão ganhar na hora um certificado de manjão absoluto, que é a Trilogia Cornetto, dirigida pro Edgar Wright.
A Trilogia Cornetto, ou também chamada de Trilogia do Sangue e do Sorvete. É uma trilogia de filmes de comédia focados na mistura e na desconstrução de gêneros cinematográficos, tendo todos seus filmes protagonizados pela dupla Simon Pegg e Nick Frost.
Os filmes são independentes entre si e não formam uma única história, sendo uma trilogia somente em temática, por isso quero fazer o post dedicado ao ultimo filme da trilogia The World’s End. Que mistura reunião de amigos do colégio se revendo mais velhos e mais maduros, com invasão alienígena.
The World’s End, conta a história de Gary King (O Rei), no colégio, ele e sua turma de amigos eram os reis da zoeira, eram ele, Andy Knightley (O Cavaleiro, braço direito de Gary), Steven Prince (O Príncipe, rival de Gary), Oliver Chamberlain e Peter Page (esses dois últimos não importam tanto o sobrenome). E esses cinco eram os cinco mosqueteiros. Eles avacalhavam, bebiam e eram os maiorais.
-Mas o que é que você quer?
-Ah, eu quero ser livre, livre para fazer o que eu quero. E quero ficar chapado. E quero me divertir.
Com esse dialogo Gary se despediu de Sr. Shepard, o professor do colégio no ultimo dia de aula e partiu para completar a lendária Golden Mile.
12 Pubs na cidade natal deles, Newton Haven, em cada Pub eles tomavam um copo de cerveja e iam para o próximo. 5 Amigos. 12 Pubs. 12 Cervejas. Era para ser a grande noite da vida deles.
Não saiu como o planejado. Oliver e Peter caíram de bêbados no meio do caminho, eles só conseguiram ir até o nono Pub e terminaram os três vendo o por do sol pensando se aquele teria sido o melhor dia da vida deles.
…e para Gary foi mesmo.
20 anos se passaram e Gary está internado em uma clinica de reabilitação falando da sua vida numa roda de grupo sobre como aquele foi o genuíno melhor dia de sua vida. Gary está patético, deprimido, e sua vida adulta é um lixo, e tudo que ele sonha é que ele não tivesse que lidar com a vida adulta e pudesse voltar à época do colégio. Até que um dos caras do grupo faz a pergunta que não devia ser feita: “Mas você se arrepende de não ter chegado ao 12º Pub?” e pronto, a caixa de Pandora foi aberta.
Gary é um cara infantil cuja personalidade não combina com sua idade, ele está preso ao seu hedonismo adolescente e vive querendo resgatar a gloria de sua adolescência e agora ele descobriu como. Ele vai reunir seus quatro velhos amigos, eles vão voltar para Newton Haven, de onde todos saíram já, e eles vão refazer a Golden Mile, mas dessa vez eles vão chegar ao 12º Pub. Começarão pelo First Post, depois o Old Familiar, aí The Famous Cock, The Crossed Hands, The Good Companions, The Trusty Servant, The Two Headed Dog, The Mermaid, The Beehive, The King’s Head, The Hole in the Wall, e terminarão a noite no lendário The World’s End (Ei, esse é o nome do filme).
Recrutar os quatro foi difícil, todos haviam virado adultos, tinham carreiras, tinham família, tinham maturidade e principalmente, não tinham interesse nenhum em repetir suas loucuras de adolescente. Andy foi o mais difícil ainda de convencer. Andy estava puto com Gary e cortou contato com ele faz 16 anos, momento em que também parou de beber. Gary mente que ele queria reviver a turma, pois quer o apoio deles já que a mãe dele acabou de morrer.
Andy se comove com a mentira e aceita ir nessa jornada alcoólatra.
O quatro se encontram na estação de trem e parecem genuinamente interessados em rever um ao outro, e percebem que Gary veio busca-los pilotando A Besta. Era o apelido do carro que eles dirigiam no colégio. Gary manteve esse carro por 20 anos, consertando-o e substituindo a maioria das peças para não se desfazer dele. Gary está trajando um sobretudo preto e óculos escuros iguais os que usava quando era um adolescente. Tingiu o cabelo de preto igual ele fazia quando adolescente. Sinal de que em todos os sentidos, Gary tenta muito fingir que ele ainda é um adolescente e que esses 20 anos que o separam de seu auge não existiram.
Eles entram e viajam ao som de I’m free, to do what I want, in any old time, versão dos Soup Dragons, que representa bem o espirito da ideia fixa de Gary e seu hedonismo de só ver a vida sob o prisma “quero fazer o que der vontade”.
Eles chegam em Newton Haven, e deixam as malas em um hotel e vão de cara pro primeiro Pub. Gary demonstra não só nesse começo como em diversos momentos no futuro o quão longe é sua obsessão em fazer esse dia ser idêntico ao dia original em vários sentidos. A começar por declarar a aventura iniciada tocando a campainha do vizinho e saindo correndo.
O primeiro pub é o First Post, e ao entrar os protagonistas logo notam que ele está diferente do original, está mais padronizado e com menos identidade, efeito que os cinco batizaram de “Starbuckizaram o lugar”, porém para Gary ainda está indistinguível do pub original. Gary ansioso anuncia seu retorno para o barman que não o reconhece. Decepcionado ele meramente pede cinco cervejas e é corrigido por Andy que deveria pedir quatro cervejas e um copo d’água.
Gary fica indignado, ao confirmar o que ele já sabia: que seu antigo melhor amigo agora era abstêmio de qualquer álcool, estando sóbrio há 16 anos. Ele tenta convencer Andy de como aquilo é fraco e algo que o Rei Arthur jamais faria. Andy retruca falando que ele joga Rugby. E para ir após uma partida a um bar cheio de machos durões e violentos com pintura de guerra na cara e pedir água é necessário ter bolas.
Após a discussão, Gary novamente se mostra preso ao passado ao usar uma piada interna do colegial que seus quatro amigos deixaram de reconhecer e parte para o segundo pub, The Old Familiar.
É exatamente igual ao anterior.
Oliver atende o celular e começa a falar com sua irmã Sam, que também voltou pra cidade naquele dia e marca de se encontrarem ali no Old Familiar.
Sam é o alvo de afeições de dois dos personagens do grupo. O primeiro é Steven, que é apaixonado por ela desde a juventude e nunca conseguiu nada com ela. O segundo é Gary, que no dia da Golden Mile transou com ela no banheiro de deficientes do Two-Headed Dog, e orgulha-se desse evento até hoje. Os dois tem uma discussão nostálgica sobre a rivalidade deles em relação a Sam chegando à conclusão de que Gary só começou a gostar dela porque Steven gostava dela. E que Gary tem uma memória seletiva e só se lembra do que convém.
Sam chega ao Pub, cumprimenta todo mundo e vai usar o banheiro, e Gary vai atrás tentar deixar sua Golden Mile idêntica à anterior. Chegando ao banheiro, é obvio que Sam não está interessada. Porra, eles não falam um com o outro faz vinte anos. Ela dá um tapa em Gary, e marca de encontrar a turma mais tarde naquele dia para por o papo em dia.
Hora do terceiro pub, The Famous Cock.
Primeiro pub em que Gary é reconhecido. Ele foi expulso desse pub na ultima Golden Mile e até hoje está banido. Os cinco são expulsos e Gary fica puto por não ter tomado uma cerveja lá.
Os quatro desencanados caminham tranquilamente até o quarto Pub enquanto Gary decadentemente bebe três cervejas que outra pessoa deixou largada numa mesa do lado de fora, para não ficar sem completar sua missão.
O quarto Pub é o Crossed Arms, e é um onde eles ficam por um bom tempo. Primeiro eles reconhecem três garotas sexy de seu colegial em uma mesa próxima, e Gary insiste em eles irem tentar algo com elas, só para ouvir de volta um “Deixe o passado no passado, Gary.” Depois eles são abordados com a típica pergunta “Licença, posso usar essa cadeira?”, porém quem perguntou foi o Shane Hawkins, antigo bully de Peter.
Peter fica devastado de ver como o homem que ele mais temeu na vida, alguém que o torturou tanto e foi tão marcante negativamente na vida dele, vinte anos depois olha nos olhos dele para educadamente perguntar por uma cadeira e não o reconhece. Como se o Peter tivesse sido insignificante na vida dele, como se para ele humilhar e bater no Peter fosse nada. Esse momento triste de reflexão é interrompido por Gary sendo um escroto e chegando à mesa gritando “SHOTS!”
Andy ficou puto agora. Primeiro porque eles não são adolescentes e 12 cervejas já está de ótimo tamanho. Segundo que ele pediu cinco shots, claramente ignorando o fato de que Andy não bebe. E principalmente porque Peter estava falando de algo claramente sério e pessoal e Gary interrompeu e cortou o assunto com merda.
Andy conclui que Gary não reuniu a turma para rever os amigos, pois ele caga para essa amizade, ele queria uma mera desculpa para beber e se recusa a continuar a Golden Mile; ele decide voltar pro hotel para sair da cidade no dia seguinte e os outros decidem ir com ele. Gary fica puto. Fala que ao menos, ao contrário dos quatro, ele ainda é um homem livre para fazer o que quiser quando quiser, e Andy retruca que nesse caso ele devia crescer e se juntar a sociedade.
Ele resolve socar a parede do banheiro, mas se lembra de que já fez isso no passado. No banheiro ele encontra esse adolescente, tenta pagar de fodão pro jovem, é ignorado e ao descontar sua raiva no moleque coisas estranhas acontecem.
Ele descobre que o moleque era uma espécie de robô que sangra tinta azul.
Os quatro amigos vão ao banheiro tirar uma ultima satisfação com Gary, enquanto Gary usava o banheiro a mãe dele ligou e eles descobriram que ela estava viva e que ele mentiu a morte da mãe para obrigar todos a irem pra Golden Mile. Pior ainda, que ele a ignora completamente e não responde telefonemas faz oito meses.
O motivo para isso é claro, é porque Gary estava na clínica de reabilitação, era alguém deprimido e decadente e sua mãe se preocupava. Mas Gary era bostão demais para falar com a própria mãe sobre estar no fundo do poço.
Mas não é hora para isso, pois mais adolescentes-robôs-tinta-azul entram no bar e eles destroem todos na porrada em uma épica luta.
Após a luta os cinco se assustam. Gary conclui que se têm pessoas na cidade que foram substituídas por robôs, então isso explica eles não terem sido reconhecidos. Ele acha que é arriscado sair da cidade agora e revelar para todos os outros robôs que eles descobriram o segredo da cidade. Então eles deviam continuar a Golden Mile para não levantar suspeitas.
E Andy? O que Andy acha disso? Bom, aparentemente espancar robôs no banheiro foi tão fora da realidade de Andy que ele quebrou uma abstinência de 16 anos e bebeu cinco shots seguidos. Isso torna impossível deles voltarem já que o único sóbrio do grupo não está mais sóbrio, Andy concorda com o plano de Gary e eles seguem pro quinto Pub.
Eles vão ao Good Companions, tomam sua cerveja e saem rapidamente achando que não estão levantando suspeitas.
Obvio que eles estão, toda cidade está encarando eles agora.
Agora eles vão para o Trusty Servant, onde reencontram o Reverendo Green, antigo traficante da adolescência deles. Gary o interroga e confirma que boa parte da cidade foi substituída por robôs (ou Blank como o quinteto resolve chamar, já que robô é um termo pejorativo que significa “escravo”). O Reverendo tenta explicar para Gary que os Blanks não estão lá para fazer o mal deles, mas na explicação ele acaba falando demais e é mandado para ser morto pelo sistema.
Ah, e nesse meio tempo, Oliver foi ao banheiro e voltou como um Blank, mas os outros quatro personagens não notaram isso ainda.
O próximo Pub é o Two-Headed Dog, onde eles reencontram Sam de novo. E de novo Gary vai falar com ela, ele a arrasta para o banheiro de deficientes, e ela já fica puta achando que ele quer muito mesmo reviver a transa da Golden Mile original. Mas não, Gary quer falar com ela em particular sobre os robôs cheios de tinta azul invadindo a cidade.
Obvio que Sam não acredita. Dá outo tapa em Gary e volta a falar com suas amigas, as Gêmeas. Ela comenta casualmente a história absurda que ouviu de Gary e as gêmeas temendo que Sam tenha acreditado nele atacam ela. Mas Gary aparece para salvá-las.
Segue outra luta épica contra as gêmeas que são Blanks também, a luta é interrompida quando Steve aparece, vê Gary e Sam juntos e presume que perdeu a amada pro seu rival e declara seu amor a ela abertamente. Sam não tem tempo de responder, pois tá na hora de mais porrada.
Essas cenas de luta seriam realmente inconvenientes, se não fossem tão divertidas de se assistir.
Gary, Sam e Steven voltam a mesa onde os outros estavam, e Gary decide que eles tem que sair do pub o mais rápido possível pois acabou de ter luta, hora de ir para o The Mermaid. Sam fica confusa com Gary querer ir a outro pub depois do ocorrido, e Andy explica a situação para ela.
The Mermaid está tendo uma noite de balada, e eles entram para ver diversos adolescentes dançando e farreando e esbanjando hormônios.
Gary, Peter e Andy são seduzidos por aquelas que eram as mais gatas de sua adolescência, agora com uniformes colegiais, numa tentativa de roubar a saliva dos três e com isso poder fazer Blanks deles.
Steven e Sam salvam os três das Blanks Sedutoras, e agora é hora da abordagem deles com os Blanks ser mais direta. No próximo pub, The Beehive, eles se reúnem com o Blank de seu ex-professor, Sr. Shepard. O professor tenta explicar de maneira coerente porque eles não deviam se opor aos Blanks.
Os Blanks vêm potencial na humanidade e querem se integrar a ela, para moldá-la, ajuda-la a amadurecer, e se integrar a todas as outras civilizações interplanetárias. Mas a humanidade ainda é imatura demais para isso.
Para os que ainda não notaram o paralelo que as duas tramas do filme fazem… a humanidade está para todas as outras civilizações, assim como Gary está para seus amigos. Andy gostaria que Gary deixasse de ser imaturo, infantil e auto-destrutivo e deixasse sua mentalidade de adolescente e se integrasse na sociedade como todo mundo faz. Da mesma maneira a galáxia gostaria que a humanidade deixasse de ser imatura, infantil e auto-destrutiva e se integrasse nessa comunidade como todos os outros povos fizeram. E é isso que os Blanks estão fazendo, substituindo alguns humanos para servirem de bons exemplos para o resto do mundo.
O grupo de amigos se recusa a aceitar isso! Eles finalmente desmascaram que Oliver era um Blank desde o Trusty Servant, e após mais uma grande cena de luta contra Blanks eles fogem.
Importante sempre se lembrar de como Gary é focado e tem uma ideia-fixa sobre a Golden Mile, ao longo da luta inteira ele tenta beber seu copo de cerveja no Beehive, para não falhar em sua missão. E consegue. Eles decidem fugir para a casa de fumo, a mesma onde eles foram na Golden Mile anterior quando eles decidiram desencanar de ir nos três pubs que faltavam. Mas antes Gary tem algo importante pra fazer.
Ele coloca Sam em um carro e a manda sair da cidade. Ela pergunta se eles não deviam encontrar os outros três para saírem juntos, mas Gary fala que está tudo de boa, eles estarão juntos e vai estar tudo bem, mas é importante que Sam fique segura. Eles têm uma ultima conversa em que Sam deixa claro que o que ela curtia com 17 anos não é o que ela curte agora, e que ela não conseguiria ficar com Gary enquanto ele insistisse em ser exatamente a mesma pessoa que era 20 anos atrás. Ele aceita o fato de que seu estilo de vida lhe custou a Sam, e a deixa ir.
No fumódromo os três amigos de Gary duramente o criticam por ter deixado a única sóbria do grupo ir embora sem levar o grupo junto. Gary que não tem a intenção de sair da cidade nem cogitou que mais alguém além de Sam deveria fugir. Eles começam a suspeitar se Gary não é um Blank segurando os três na cidade para serem substituídos, e os quatro provam suas identidades mostrando cicatrizes.
E agora descobrimos porque Andy está tão puto com Gary. Andy teve um acidente grave de carro tentando levar Gary em overdose pro hospital. Mas durante o acidente Gary melhorou da overdose e ficou em condições de voltar pra casa e abandonou o amigo lá a beira da morte para depois de ser salvo pelos médicos ainda ser preso.
Gary era um escroto. Puta merda! Isso ai é mancada grave.
Os quatro convencidos de que são todos originais saem juntos do fumódromo, e Peter novamente encontra seu Bully, Shane. Shane pede desculpas por tudo que fez a Peter, pois como o Sr. Shepard disse, os Blanks são versões melhoradas e mais decentes dos originais. Mas Peter surta, ele aproveita o pacifismo atual de Shane e espanca o Blank, seu ex-bully. Espanca até destruí-lo. Ao fazer isso ele baixa a guarda e é capturado pelos outros Blanks, e seus três amigos não podem fazer nada a não ser ver Peter morrer.
Agora Andy chegou ao seu limite. Está decidido, eles vão achar a Besta, e sair da cidade e foda-se os pubs, a Golden Mile, e principalmente, foda-se a opinião de Gary. E ele confirma que está decidido nocauteando Gary e decidindo levá-lo nas costas para fora da cidade.
Dito isso, vocês conseguem imaginar o quão puto ele ficou quando viu que o único jeito rápido de chegar até a Besta era passando por dentro do décimo pub, o The Kings Head?
Andy e Steven entram. Deixam Gary desmaiado e podre no balcão, atravessam o bar, percebem que a Besta está cercada por Blanks. Voltam para decidir esperar até a barra estar limpa e encontram Gary consciente, de boa se servindo de seu décimo copo de cerveja.
Gary brinda seus amigos mortos. Oliver e Peter. Lamenta o ocorrido, e lamenta que ele vá fechar a noite com só dez pubs. Gary finalmente desiste de convencer seus amigos a terminarem a Golden Mile. Mas ele insiste em terminar sozinho. Ele surta, dá a chave do carro para Steven e sai correndo para terminar o que começou, nem que custe sua vida.
Andy corre atrás de Gary. Não importa o tamanho do rancor, ele não vai deixar Gary morrer na sua obsessão imbecil.
Gary corre em direção ao décimo primeiro pub, The Hole in the Wall, com todos os Blanks da cidade (ou seja, toda a cidade) atrás dele, e com Andy atrás dele implorando para ele parar de ser idiota.
Gary chega ao pub, toma seu copo enquanto Andy impede que Blanks entrem. Os Blanks eventualmente entram, mas eles são salvos por Steven, que veio ao resgate deles com a Besta. Ele perfura a parede e atrai a atenção dos Blanks, mas agora os Blanks capturam Steven e a Besta. A única alternativa de fuga de Gary.
E o que Gary faz? Corre em direção ao World’s End e deixa Steven pra trás!
Andy corre atrás de Gary mais determinado que nunca.
E Gary chega ao World’s End, e lá esperando ele está em cima da mesa, com o número doze na plaquinha. Seu copo final de cerveja, seu sonho de vinte anos atrás, o auge de sua vida prestes a ser realizado. Ele tenta tomar o copo.
E leva uma porrada de Andy que finalmente alcança o amigo.
Andy e Gary finalmente resolvem todas suas diferenças na porrada. Gary grita que Andy não liga pra ele. Andy grita que ele está puto com Gary justamente por se importar com ele. Que não foi o acidente, foi o ato de ter sido abandonado pelo seu maior herói que o magoou. Gary grita que tem inveja da vida de Andy, que Andy é um sucesso, tem emprego, esposa, filhos e tudo é perfeito. Andy grita que não é perfeito, ele está se divorciando, a esposa dele tirou os filhos dele, tá tudo uma merda, mas que ainda sim, ele luta por ela e se recusou a ter a aliança arrancada por um Blank.
Gary grita que ele também luta pelo que é importante pra ele, e Andy questiona como a Golden Mile pode ser tão importante? É porque ela é a única coisa positiva que Gary teve na vida. Na briga Andy vê que Gary tem cicatrizes de uma tentativa de suicídio no pulso.
Gary não suporta a clinica de reabilitação, não suporta ter que ser mandado para cama em hora certa, e grupos de ajuda, ele odeia tudo que aconteceu com ele depois da Golden Mile, aquele foi o ultimo dia bom da vida dele e ele queria revivê-lo uma ultima vez. Era tudo que ele queria. Mas Andy não o deixa tomar seu décimo segundo copo que é literalmente a única motivação dele de existir.
Gary vence Andy. Baixa a alavanca para se servir de seu ultimo copo de cerveja. Para completar seu sonho, e a alavanca o leva até a base secreta dos Blanks. Pois o World’s End, era o quartel-general deles.
Pobre Gary! Jamais realizará seu sonho.
Começa a batalha final!
E como muitas das grandes batalhas finais dos filmes, ela é argumentativa, e não física.
A Rede (como os alienígenas se chamam) saúda “Gary King – Of the Humans” e tentam convencê-lo. Oferecem a ele a ultima tentação. A oportunidade de ser um Blank, em sua forma de 20 anos atrás, de passar o resto da vida sendo o Gary que ele nunca quis deixar de ser, lembrar somente do que gostaria de lembrar, e ter seu legado intocado para sempre.
Nesse ponto, pela primeira vez as duas principais características de Gary se colidem uma com a outra. O filme inteiro ele foi obcecado em continuar sendo um adolescente quando obviamente não era, ele queria reviver exatamente a mesma vida que ele tinha, e imitar a perfeição o dia que foi o auge de sua juventude. Porém ele também queria liberdade! Liberdade para fazer o que quiser, para não seguir regras, para somente se divertir. E ser um Blank é não ter essa liberdade.
Ele toma sua decisão recusa a oferta da Rede.
A Rede se desaponta com “Gary – King of the Humans”, e segue explicando que ele assim como a humanidade é uma criança que precisa ser guiada para atingir seu potencial máximo, que a Rede deu aos homens tecnologia e sem a Rede os humanos não teriam atingido nada. Que eles vão ensinar a humanidade a se livrar de suas imperfeições.
Andy, sendo um advogado, parte em defesa do homem que ele criticou o filme inteiro, e fala que a Rede pode achar Gary um tosco, mas ele é um bom tosco. A Rede completa o argumento de que o ciclo auto-destrutivo de Gary é exatamente o mesmo da humanidade em geral, e que isso vai condenar a galáxia inteira.
Gary e Andy gritam que isso não dá o direito da Rede de invadir o planeta deles ou de julgar a sociedade. A Rede se recusa a aceitar o argumento de dois bêbados para um projeto que está encaminhado há tanto tempo, e então Steven, que sobreviveu, aparece para afirmar que são três bêbados argumentando. Gary e Andy ficam felizes ao ver que o amigo sobreviveu e agora Andy faz a pergunta realmente relevante. “Quantas pessoas precisam ser substituídas para convencer o resto?” e pergunta quantos humanos haviam sobrado na cidade.
Havia três.
Andy usa esse argumento para a Rede entender que a humanidade é mais teimosa e almeja a liberdade muito mais do que a Rede pode lidar pacificamente e que todo o discurso da Rede é bosta! A Rede desiste e pergunta o que é que a humanidade quer afinal, se não vai se moldar aos padrões da galáxia.
-A humanidade quer ser livre! Livre para fazer o que quiser! E ficar chapada! E quer se divertir!
E com isso o paralelo se fecha. A mentalidade auto-destrutiva, infantil e imatura de Gary que só trouxe a ele depressão e tentativas de suicídio, embora não servisse como conselho para ele em particular, serviu como ideais que impediam a humanidade de ser subjugada pelos padrões e ideologias de outros planetas. A frase que destruiu um indivíduo é a mesma que salvou um coletivo inteiro.
A Rede se convence. Ela vai embora, e leva consigo toda a tecnologia que deu aos homens. Todos os Blanks são desligados.
E Newton Haven explode.
Literalmente.
Mas felizmente Sam voltou com o carro para buscar todo mundo, e os quatro escapam.
E assim como a Golden Mile original terminou com Gary nas colinas olhando o nascer de um novo dia, a segunda Golden Mile termina com Gary nas colinas olhando o nascer de uma nova humanidade.
Ele vê a cidade destruída, a tecnologia se indo, nota que a humanidade vai entrar em um estado pós-apocaliptico e pede desculpas para Andy, pela primeira vez na vida arrependido de suas ações.
A humanidade regrediu a um estado medieval. Porém pessoalmente para os amigos de Gary isso foi mais benéfico que maléfico. A crise salvou o casamento de Andy, e permitiu que Steven e Sam ficassem juntos no final. Os Blanks ligaram um dia do nada, completamente livres e independentes e começaram a sofrer preconceito da sociedade, mas os Blanks de Peter e Oliver estão se saindo bem voltando as suas vidas anteriores.
E Gary? O que ele faz da vida na sociedade medieval? Ele anda pela terra acompanhado pelos Blanks das versões adolescentes de seus quatro amigos. Em um mundo em que Blanks são odiados ele entra num pub, The Rising Sun, e pede cinco copos d’água. O bartender diz que não serve os Blanks e pergunta quem ele pensa que é para entrar acompanhado deles. Gary levanta seu chapéu, loiro, pois parou de pintar o cabelo, barbeado e completamente sóbrio ele explica pro bartender, que ele é chamado de “The King”.
FIM!
E a pergunta que o filme deixa é? Então no fim o Gary estava certo? Bom, uma das frases mais repetidas do filme é um “Gary, você nunca está errado.” Que Andy fala com desprezo ao ver que não consegue ganhar dele no argumento. E é isso, ele meio que não estava. O filme traça um paralelo curioso entre o desejo por liberdade de Gary e o desejo por liberdade da raça humana, e em como isso era algo condenável para Gary, mas admirável para a raça humana. Afinal os argumentos de Andy para Gary e da Rede para Andy eram os mesmos. Ao final Gary está mais ajustado, deixou seu passado para trás, e pela primeira vez na sua vida adulta está feliz e sóbrio. Porém ele está feliz, pois ele está vivendo como um herói de fantasia, realizando um desejo infantil de ser o fodão, não está feliz pois virou adulto mentalmente.
World’s End se constrói como uma Coming of Age, para Gary King virar um adulto, e ao final dá a volta e nega essa passagem, fazendo com que sua infantilidade seja o trunfo da humanidade, e ao adotar uma ideologia livre para toda a raça humana ele destrói tudo o que temos, porém ele dá a todos os personagens, felicidade. Dá a todos liberdade para fazerem o que quiserem e se divertirem. Mesmo num estado pós-apocalíptico, Andy, Steven e Sam vivem vidas mais realizadas do que as que eles viviam antes.
E ele para completamente de beber, mostrando que ele não precisa de álcool para escapar da própria vida, pois ele vive bem, curado da depressão que justificava as loucuras que ele cometeu o filme inteiro.
É uma boa moral? Não sei dizer. Gary de fato deixa o passado para trás, e aprende a viver pelo futuro que é uma boa moral, mas não sei dizer se ao final ele ter conseguido moldar um mundo novo nos seus termos foi uma boa mensagem. Mas é, na minha opinião, um final foda e bem elaborado. De fazer a ideologia dele reformar o mundo ao invés dele sucumbir a ideologia do mundo.
The Worlds’s End, é o filme menos popular da trilogia. Baseio-me ao fato de que é o menos popular entre minha roda de conhecidos, e o pior avaliado no Rotten Tomatoes. Mas ainda assim, um grande filme e um desfecho muito digno para uma excelente trilogia.