O ano de 2014 foi marcado por um evento extremamente significativo no meio da animação. Um evento inédito, sem precedentes, e que não vai mudar nada no mundo da animação, mas foi legal e curioso. O evento em questão é que o Walt Disney Animation Studios ganhou o seu primeiro Prêmio da Academia (vulgo: Oscar), pelo prêmio de Melhor Filme Animado. Sim, a Disney nunca na vida ganhou um Oscar de melhor animação. Alias nunca ganhou Oscar nenhum além de Melhor Canção Original e de um honorário pela Branca de Neve.
Claro que dependendo da pessoa, sempre se pode ouvir o comentário “Nada a ver, ganhou por Finding Nemo, por The Incredibles, por Ratatouille, por Wall-E, por Up, por Toy Story 3 e por Brave”. E sem querer entrar na linha tênue que separa a Disney da Pixar, ainda mais em uma época em que ambos os estúdios estão sob os cuidados de John Lasseter, e vou dizer que quando eu digo Disney eu me refiro aos 54 filmes do Walt Disney Animation Studios que tiveram lançamento no cinema e que formam o que é chamado de Disney animated features canon, que é um jeito de dizer que esses filmes tem valor maior do que qualquer continuação imbecil que tenha sido lançada direto pra vhs/dvd, e também valem mais do que alguns obscuros geniais também lançados direto pra vhs como A Goofy Movie, que é muito bom.
Em defesa do Oscar, o prêmio de Melhor Filme Animado passou a existir em 2001, pouco depois da Renascença da Animação acabar, e dos filmes da Disney saírem da época que foi seu auge. Do contrário The Lion King certamente teria um Oscar, mas o ponto não é esse.
O ponto é. Frozen conseguiu o que seus 52 antecessores não conseguiram. E Frozen também tem chamado muita a atenção. Muitos críticos na internet falam que Frozen representa o retorno da Disney a sua glória dos anos 90, e que é o melhor Disney desde The Lion King, comentários que eu não vejo ninguém falar da Disney desde… Tangled. Lembram? 2010, adaptação do conto de fadas da Rapunzel, e tal. Perdeu o Oscar pra Toy Story 3… Tanto Tangled quando Frozen são tentativas do estúdio de retornar a sua glória dos anos 90 sim, mais especificamente a gloria de ter as mais icônicas adaptações de contos de fadas, e a gloria de sua lucrativa franquia de princesas que vai aumentar o potencial de bonecas e mochilas e estojos rosas com as princesas estampadas.
Pois não tem santo na Disney. Ninguém lá está pensando só em dar o melhor do entretenimento ao jovem, o dinheiro é importante.
Mas antes de Frozen e de Tangled, existiu outra tentativa de voltar a glória dos anos 90. Só que essa foi muito mais discreta, muita gente elogiou, mas não causou a comoção nos fãs que Tangled ou Frozen causaram. E no final a maior marca do filme foi o fato dele ter mostrado a primeira princesa negra da franquia. Manjões já notaram que estou falando de The Princess and the Frog.
The Princess and the Frog é o filme que fez a Disney voltar a trabalhar com animação tradicional depois de fechar o estúdio oficialmente por causa da BOMBA que foi Home on the Range (Nem que a Vaca Tussa no Brasil, pois eu não espero que esses filmes de baixo escalão sejam identificados pelo nome original). O estúdio desde então passou a trabalhar só com animação 3D, mas resolveu voltar ao tradicional pra fazer The Princess and the Frog, e depois para fazer outro filme do Winnie the Pooh, e depois só fizeram filmes em 3D de novo. Me pergunto se eles farão mais algo em animação tradicional no futuro. Somente o tempo dirá.
Mas o retorno à animação tradicional era para ser um retorno às origens do estúdio. O maior sinal disso é que a partir desse filme, antes de cada filme começar, além da vinheta onde vemos o brilho da Evening Star, fogos de artificio no castelo mágico ao som de When you wish upon a star, também temos a vinheta do Walt Disney Animation Studios, vinheta essa que é a cena mais famosa de Steamboat Wllie, aquela cena do Mickey assobiando enquanto mexe no timão do barco. Se isso não é símbolo de um retorno as origens, então nada mais é. Essa vinheta foi usada pela primeira vez em The Princess and the Frog e a partir dai foi usada em todos os filmes do estúdio.
Parando de falar de backgrounds e falando sobre o filme. Muita gente teve a atenção chamada por Frozen por ser um filme que introduziu duas princesas Disney ao invés de uma só. Saindo da tecnicalidade de uma delas virar rainha logo no começo do filme, meu contra-argumento, é que anos antes The Princess and the Frog foi o filme que possuía duas princesas. Claro somente a Tiana foi para as mochilas e roupas, e virou boneca, mas ainda sim são duas princesas, e é justamente esse um dos temas do filme. The Princess and the Frog, é sobre a guerra entre a velha e tradicional princesa, e ao ideal da mulher moderna trabalhadora e de atitude que não se prende aos papeis de gênero. Cada uma personificada em um personagem, quando esses ideais encontram seu meio-termo, a Disney consegue formar a idealização de como serão as princesas do século XXI. Idealização essa que depois de moldada pela princesa e o sapo pôde ser usada com Rapunzel, Mérida, Anna e Elsa.
O FILME EM SI:
O filme abre com uma imagem da Evening Star, que como todos que já viram o filme sabem, se chama Evangeline, e como eu não sei o nome em português da estrela mais brilhante do começo da noite, exceto Vênus, já que ela tecnicamente é o brilho do planeta, vou chamar de Evangeline mesmo. Cercando Evangeline estão alguns vagalumes, que podem perfeitamente ser confundidos com estelas, por estarem brilhando nos céus, mas eles começam a voar e vemos que eles são meros vagalumes. E da luz de Evangeline e dos vagalumes, espiamos por uma janela de uma enorme e luxuosa casa em New Orleans, e encontramos quem? Nossas duas princesas ainda crianças.
Tiana e Charlotte estão ouvindo a mãe de Tiana contar uma história do conto de fadas, The Frog Prince, onde um príncipe transformado em sapo volta a sua forma humana após uma princesa, beijá-lo, apesar do nojo que ela sentia. Supostamente esse filme é baseado nesse conto de fada. Mas com algumas reviravoltas a mais. As duas garotas tem reações contrárias à história. Tiana achou nojento a ideia da princesa beijar o sapo, e afirmou que é algo que ela jamais faria. Já Charlotte ficou fascinada com o fato dela casar com o príncipe e afirmou que ela beijaria o sapo mil vezes para casar com o príncipe.
Nesse momento as duas meninas não são princesas oficialmente. Mas estão vestidas como princesas. Charlotte está com um lindo vestido de princesa que a mãe de Tiana fez pra ela. Mas Tiana que é pobre, está com um vestido normal e uma coroa. Essa história passa na década de 1920, e parte da premissa básica de que a filha do homem mais rico da cidade, branca, poderia ser melhor amiga da filha da costureira, negra, e que nenhuma implicação social ou racial sairia dessa amizade, pois os pais e as pessoas ao redor iam achar tudo isso normal.
Charlotte acha que ser princesa é a coisa mais legal do mundo. E basicamente o papel da mãe de Tiana, como costureira é fazer dezenas e dezenas de vestidos de princesa pra Charlotte. O que ela faz com prazer para a mais leal cliente. Charlotte é mimada e tem tudo o que quer.
E Tiana volta pra sua casa onde seu pai está lhe ensinando a cozinhar. O segredo de cozinha da família inteira aparentemente é “taca pimenta que fica bom”, o pai de Tiana explica pra filha que a comida boa e bem cozinhada une as pessoas de diferentes origens e de diferentes classes. E que o sonho dele é construir um restaurante onde todo mundo coma, pois isso vai unir os pobres e os ricos.
Esse filme é surpreendentemente otimista em relação a como eliminar o preconceito e conflitos sociais.
Enfim, Tiana sonha em crescer e em ajudar seu pai nesse restaurante, e por isso ao ir pra cama ela vê Evangeline. A estrela que realiza os pedidos. Afinal realizou o de Gepeto no passado, não foi? Ela faz seu desejo pra estrela, e o sábio pai de Tiana explica pra filha que a estrela só realiza uma parte do desejo, e a outra parte é você quem tem que lutar duro, com suor e esforço pra realizar. O extremo oposto de todas as princesas do passado cuja solução pros problemas surgiu do nada por magia.
E nem venham me falar na Mulan, pois ela só sobreviveu ao treino militar, pois estava sob a proteção de um dragão mágico. Não teria durado 3 minutos naquele exercito sem o Mushu.
Como já deu pra notar, Charlotte representa a princesa tradicional que eles vinham usando desde então. Sempre sob os cuidados e mimos de seu pai, sempre esperançosa por possuir mais do mundo. Já Tiana é uma garota com o pé no chão, realista, trabalhadora, com um sonho especifico e alcançável, com esforço e dedicação, a mulher moderna.
Os anos passam e Tiana e Charlotte são duas jovens de 19 anos. Charlotte continua rica, continua mimada, continua patricinha, e continua agindo como se fosse uma menininha e querendo ser uma princesa. E a Tiana se tornou uma garçonete que trabalha em dois restaurantes ao mesmo tempo, para ter dinheiro. E as duas ainda são melhores amigas. No sul dos Estados Unidos. No começo do século XX. Sério, alguém vá assistir ao The Help (Histórias Cruzadas em português), e depois me falem que a personagem da Charlotte é realista.
Tiana tem trocentas latinhas de café com moedas das gorjetas, que ela está economizando para comprar seu próprio restaurante. Como ela sonhou com seu pai. Alias pra fins de curiosidade, o pai de Tiana morreu offscreen enquanto ela crescia. Aparentemente na Primeira Guerra Mundial. O que torna Tiana uma mulher que foi criada somente pela mãe biológica.
A única princesa Disney criada pela mãe biológica.
Vamos lá! Branca de Neve, os dois pais morreram, foi criada pela madrasta. Cinderella, os dois pais morreram, foi criada pela madrasta. Aurora, separada dos pais ainda bebê, criada pelas fadas madrinhas. Ariel, mãe nunca foi mencionada, criada pelo pai. Belle, mãe nunca foi mencionada, criada pelo pai. Jasmine, mãe nunca foi mencionada, criada pelo pai. Pocahontas, mãe morreu, fica implícito que ela é o espirito do vento que guia a Pocahontas, criada pelo pai. Mulan, ela não é princesa, por isso que ela sempre é a exceção. Rapunzel, separada dos pais, criada pela mãe adotiva. Anna e Elsa, os dois pais morreram, criadas pelos criados do castelo. Merida, criada pela mãe biológica, mas porra, é Brave é da Pixar. E veio depois da Tiana.
Ou seja, com exceção de Merida e Mulan, as princesas são criadas ou pelo pai, ou por alguém mais, mas nunca pela mãe. O pai em questão é sempre o principal alvo dos vilões para foder tudo. Ursula queria matar o tritão. Gaston ameaçou o pai de Belle para ela casar com ele. Jafar queria usurpar o poder do Sultão. Ratcliff tenta pessoalmente matar o pai da Pocahontas quando viu que ninguém mais queria atacar os índios. A mãe é sempre uma figura ausente e o pai um alvo. Naturalmente, a Charlotte não tem mãe, somente o pai. E a Tiana somente uma mãe e um pai morto.
A propósito o pai de Charlotte será o alvo principal do vilão desse filme, mantendo a tradição dos principais clichês irem em direção a Charlotte e não a Tiana.
Voltando a história. Charlotte vai até o trabalho de Tiana para falar uma notícia para a amiga. Que o Príncipe Naveen, da Maldonia, irá visitar New Orleans, festejar no baile que Charlotte dará na mansão e se hospedará na casa de Charlotte, pois o pai dela é rico e poderoso e mexeu os pauzinhos. Ou seja, ela está a alguns copos de bebidas de terminar a noite dando uns amassos em um príncipe, ser pedida em casamento e virar uma princesa. E a estratégia dela é que a comida da festa seja da maior excelência, por isso ela está contratando Tiana para ser a cozinheira da festa, pagando uma quantia absurda de dinheiro para Tiana em troca, o suficiente para ela conseguir comprar o tal do restaurante.
Não é magico? 10 minutos de filme, e as duas já estão a meros centímetros de realizar seus respectivos sonhos de vida. Tiana vai imediatamente comprar o prédio que vai virar seu restaurante, e tudo está pronto, só falta assinar os papeis para ficar oficial. Que bom pra ela, seu trabalho duro gerando recompensas, pois tudo dá certo pra quem se esforça.
Na festa, Charlotte está super elegante, naturalmente com um vestido de princesa iguais aos que vestia enquanto criança, esperando impaciente pelo príncipe. E Tiana está servindo comida na festa, uniformizada, pois ela está trabalhando e não festejando. O príncipe Naveen demora e demora muito pra chegar, e Charlotte começa a suspeitar que seu príncipe não virá, e que portanto sua vida é um fracasso e nada que ela quer ela consegue. O que nesse filme é mostrado como um chilique de menininha mimada, mas no fundo a crítica da Ariel pro pai é mais ou menos a mesma, de que todos os mimos que ela recebia eram irrelevante se ela não estiver com o príncipe Eric. Charlotte desesperada vê Evangeline nos céus e deseja pra estrela que seu príncipe venha. Tiana como a mulher realista que ela é, explica para Charlotte que desejar para uma estrela não vai fazer o príncipe aparecer, porém é exatamente o que acontece, o príncipe aparece nesse exato momento, tira Charlotte pra dançar, e os dois valsam enquanto o baile para e assiste aos dois dançando, como se fosse em Cinderella.
Enquanto vê sua melhor amiga descolar um príncipe, ela encontra os dois irmãos que venderam o prédio do restaurante pra ela. Eles falam que alguém deu uma oferta maior e que ela tem uma semana para cobrir essa oferta ou eles não vão dar os papeis pra ela assinar. Enquanto dão essa noticia, um dos caras sutilmente fala que uma mulher negra (a woman of your…“background”) não teria condições de administrar um negócio de sucesso de qualquer jeito. E eles deixam Tiana com a percepção de que todo seu esforço resultou em nada e ela voltou à estaca zero. Enquanto ela debate com os irmãos cuzões que empacaram o sonho da vida dela, ela cai na própria mesa onde ela estava servindo comida, e tudo cai em cima dela e ela fica suja e chorando e em uma condição horrível. Charlotte percebe que a amiga está em um mal dia, e pede para o Príncipe Naveen espera-la por alguns minutos, e leva Tiana para seu quarto.
No quarto de Charlotte, Tiana tira suas roupas de cozinheira, sujas, e coloca um vestido de princesa, pois aparentemente Charlotte só tem esse tipo de vestido em seu quarto para emprestar para a amiga. Novamente ambas as amigas estão vestidas de princesa. Charlotte comenta que ela tem certeza de que Naveen vai pedi-la em casamento e que ela vai virar uma princesa. Mas Tiana nem consegue escutar, ela está muito deprimida porque não vai conseguir juntar dinheiro para realizar seu sonho. E que tudo foi em vão.
Depois que se arruma novamente, e deixa Tiana em boas condições, ela volta para o príncipe, enquanto Tiana fica na sacada. Ela olha para Evangeline, e luta contra seu orgulho, mas está tão desesperada que faz o desejo pra estrela, ela deseja conseguir seu restaurante, e o que aparece na sacada ao lado dela é um sapo. A estrela deu um príncipe pra Charlotte e um sapo pra Tiana… E é assim que a vida funciona. Ela se lembra do conto de fada que leu com Charlotte e ironicamente pergunta ao sapo se ele quer um beijo… só que ai o sapo responde e ele entra em pânico com o sapo falante.
O sapo explica que ele sim é o Príncipe Naveen, e que ele foi transformado em sapo por um feitiço, e que precisa do beijo de Tiana para curá-lo do feitiço. Tiana se recusa, ela se sente mal pela condição de Naveen, se sente confusa em relação a com quem Charlotte estaria dançando caso o sapo fosse mesmo Naveen, mas o nojo dela era maior, e ela jamais beijaria um sapo.
Ou seja… as duas receberam Naveen como resposta para seu apelo desesperado para Evangeline. Só que Tiana recebeu o Naveen real e Charlotte um impostor com a aparência de Naveen. O paralelo entre as duas nunca para.
Naveen menciona que sendo um príncipe, ele possui dois pais muito ricos, e que eles podem fazer qualquer favor para Tiana como recompensa por ter ajudado. Tiana se lembra que ela precisa urgentemente de dinheiro para comprar seu restaurante e beija Naveen mesmo com todo seu nojo pelo sapo.
Sim, ela beijou um homem em troca de dinheiro! É exatamente isso que vocês leram. Sendo que beijo é o maior ato sexual que uma personagem Disney é capaz de realizar em um filme e é na lógica Disney o nível máximo de intimidade que um homem e uma mulher podem chegar.
Em troca de dinheiro. Mas eu não julgo a Tiana, ela estava visivelmente desesperada.
Só que ai vem o twist. Não é só o obvio fato de que Naveen não se destransformou. Isso qualquer um notaria tendo em vista que só se passaram 15 minutos de filme. É o fato de que Tiana virou um sapo também. Agora ela é pequena, e verde, e solta muco. Tiana está morrendo de nojo de sua condição e Naveen tenta consolá-la. Eles discutem, brigam, caem do quarto de Charlotte no meio da festa, são perseguidos por um cachorro e escapam até os pântanos. Nesse meio do caminho Naveen descobre que Tiana não era uma princesa, estava meramente vestida como uma, e por isso o beijo deu errado. Enquanto Tiana descobre que Naveen não tem um tostão furado.
Na verdade, o Naveen é um príncipe preguiçoso e boêmio que nunca mexeu uma palha por ninguém na vida e só quer ficar pegando mulher e ouvindo jazz. E por isso seus pais, o Rei e a Rainha, cortaram ele do círculo familiar, e ele perdeu acesso ao dinheiro dos pais. Motivo pelo qual ele foi pra New Orleans, pedir Charlotte em casamento e poder torrar o dinheiro de Charlotte ao invés do dinheiro dos pais.
Ou seja, Charlotte tinha razão, ela estava de fato a um passo de casar com o príncipe. Só que o que está com ela é um impostor se passando por Naveen para pedi-la em casamento. Naveen ao chegar em New Orleans foi enganado por um golpista chamado Dr. Facilier (mas que eu vou chamar de Homem das Sombras, pois é assim que Tiana chama ele), que o transformou em sapo, para fazer o mordomo de Naveen, cansado de tanto abuso e humilhação, tomasse a forma de Naveen e se casasse com Charlotte. Assim, o Homem das Sombras mataria o pai de Charlotte (o alvo é sempre o pai da princesa, lembrando), e o falso-Naveen herdaria toda sua fortuna e influência, o que significa que o Homem das Sombras herdaria essa fortuna e influência, já que o falso-Naveen é só uma marionete dele. E essa marionete pede Charlotte em casamento de acordo com o plano, e é claro que Charlotte aceita se tornar princesa, pois ela é um disco riscado infernal.
Ela decide que eles farão a cerimônia no Mardi-Grass, pois tudo relevante que já aconteceu em New Orleans aconteceu durante o Mardi-Grass. Porém vamos voltar para Tiana e Naveen que não tem a menor ideia do plano do Homem das Sombras nem do casamento de Charlotte.
No pântano, Naveen e Tiana decidem ir atrás de Mama Odie, uma feiticeira voodoo que supostamente teria conhecimento o suficiente para desfazer o voodoo do Homem das Sombras e transformá-los em humanos novamente. E se aliam a eles Louis, um alívio cômico sem importância, e Ray, um vagalume romântico que se apaixonou pela Evening Star sem saber que ela é uma estrela e não um vagalume. Ray acha que o nome dela é Evangeline e que eles estão namorando. Por isso que eu só chamo essa estrela de Evangeline desde o começo do texto. Tiana e Naveen se comovem com o amor que Ray tem por uma estrela, e não contam pra ele que Evangeline não realmente existe, que é só o planeta Vênus.
Sempre lembrando que Vênus é o planeta batizado com o nome da deusa romana do amor. Eu amo essas sutilezas no filme. E o planeta pelo qual o vaga-lume se apaixonou.
Nesse caminho, Tiana e Naveen colocam suas diferenças em pauta. Eles brigam constantemente sobre o jeito chato e mandão de Tiana e a folga e falta de responsabilidade de Naveen. Mas após sobreviverem a um grupo de caçadores de sapo, Tiana ensina Naveen a trabalhar (cortar cogumelos), e Naveen ensina Tiana a dançar, algo que ela nunca fez na vida, já que nunca achou tempo para fazer algo além de trabalhar.
Eles eventualmente chegam até Mama Odie. E os dois pedem para que ela transforme eles em humanos e a velha informa que ela não fará isso. Embora seja obvio que ela possa desfazer o voodoo, ela não quer. Ela acha que eles estão preocupados demais em voltar a ser humanos e preocupados de menos em melhorar enquanto pessoas. Naveen está preso a sua vontade de ser rico de novo e não nota que a vida dele era patética quando ele era rico, e voltará a ser patética quando ele voltar a ser rico. Já Tiana está presa na memória honesta e trabalhadora do pai, e é tão centrada em trabalhar e responsabilidade que jamais abriu espaço para mais nada em sua vida.
Há! Uma senhora mágica com poder de restaurar a vida da protagonista em um estalar de dedo, mas que ao invés disso manda ela cair na real e restaurar a própria vida sozinha… é o extremo oposto da tradicional fada madrinha. Tiana novamente se mostra quebrando as tradicionais princesas, com sua fada madrinha se recusando a usar sua magia por qualquer coisa. Chupa essa Cinderella.
Tiana era orgulhosa demais de seu estilo de vida para escutar o conselho de Mama Odie, mas as palavras dela abriram os olhos de Naveen, que pela primeira vez, percebeu que ele gostava da Tiana, e que não tinha mais a intenção de casar com a Charlotte por causa disso, mesmo que a Charlotte fosse torna-lo rico de novo, a Tiana ajudava ele a criar caráter.
Mas agora que ela já deu seus pitacos sobre a vida deles, ela fala que eles ainda podem quebrar o feitiço. Tudo que precisa ser feito, é Naveen receber o beijo de uma princesa, e na hora os dois voltarão ao normal. Mama Odie informa que a princesa mais próxima deles no momento é… Charlotte! Quem mais? Pela tecnicalidade de que durante o Mardi-Grass que ocorrerá naquela noite, o pai de Charlotte será o rei, então a magia reconhece Charlotte como uma princesa. Porém isso só funciona durante o Mardi-Grass, portanto a meia noite (existe outro horário relevante em um conto de fadas?), Charlotte deixará de ser uma princesa e não poderá mais quebrar a maldição.
Só que agora Naveen não quer mais casar com Charlotte, e sim com Tiana, e quer se declarar pra garota antes deles voltarem a ser humanos e seguirem destinos separados. Ele começa a conversar com Evangeline, que obviamente não responde, mas Ray ouve a conversa e dá umas dicas para Naveen, decide que vai ajudar os dois a ficarem juntos não importa o quê.
No barco que os levaria de volta a New Orleans a tempo pro Mardi-Grass, Naveen planeja se declarar pra Tiana. Mas como todo típico romance exige, a declaração é interrompida. No caso Tiana interrompe, pois o navio passa em frente ao prédio que ela quer comprar para ser o restaurante. Ela fala pra Naveen tudo que aquele restaurante significa pra ela, e como é um sonho que ela herdou do pai, e como ela tem pouquíssimo tempo para juntar o dinheiro que ela precisa. Naveen percebe como a felicidade da sua amada depende dele ficar rico novamente e bancar as contas do restaurante como prometeu que faria antes de enfiá-la na maior roubada do mundo. E assim ele desiste de se declarar, ele entende que ele precisa de fato se casar com Charlotte e ser rico para ajudar Tiana a ser feliz. Naveen vai embora, e Tiana começa a falar com Evangeline, que igualmente não responde, sobre como ela já não tem mais certeza se o restaurante é tudo o que ela mais quer, e que talvez ela esteja criando sentimentos por Naveen.
Logo após isso Naveen é sequestrado pelo Homem das Sombras. Sim, pois para o Lawrence (o mordomo de Naveen) poder se passar por Naveen, ele precisa de um estoque de sangue do próprio. Pois o voodoo do Homem das Sombras funciona a base de sangue. Mas esse estoque acabou e o Homem das Sombras precisa de mais. Mas agora que ele está capturado, Lawrence pode assumir a forma de Naveen novamente, e se casar com Charlotte.
O barco chega em New Orleans no meio da cerimônia, e Tiana e Ray estão procurando por Naveen, sem saber que ele está raptado. Ray conta pra Tiana que Naveen tinha a intenção de pedi-la em casamento, o que deixa Tiana genuinamente feliz, e ela começa a procurar por Naveen pela cidade, porém ela o encontra em um carro alegórico, humano, se casando com Charlotte (era o impostor). Ray percebe que se Naveen tivesse de fato voltado a ser humano, Tiana voltaria também, e portanto só pode ser um engano. Mas Tiana está com o coração partido demais para notar.
Ray vai consolar sua amiga, mas ela está muito chateada. Ray tenta dar esperança pra ele, mas ela explica que sonhos se realizando, estrelas como conselheiras são besteiras nas quais ela não devia ter acreditado, e esfrega na cara dele que Evangeline não é um vagalume, e não é nada além de uma mera bola de gás que explodiu a milhares de quilômetros dali sem absolutamente nada de especial. Não julguem ela por ter sido tão cruel com o pobre Ray, ela estava de coração partido.
Uma curiosidade boa, é que o debate se as estrelas são vagalumes ou bolas de gás que explodiram a milhares de quilômetros dali, é um debate feito em The Lion King entre Timon e Pumba. Esse é certamente o filme da Disney que mais dialoga com seus antecessores.
Ray não se magoa com o cinismo de Tiana, ele decide provar que Naveen e ela podiam ficar juntos, e descobre o verdadeiro, e na forma de sapo, Naveen, preso numa caixa no carro alegórico. Solta seu amigo, e retira o amuleto voodoo de Lawrence, para este voltar a sua forma de mordomo gordo. Ray entrega o amuleto pra Tiana, e explica pra ela o plano do Homem das Sombras, e que aquele Naveen era um impostor. Os minions do Homem das Sombras chegam até Tiana querendo o amuleto de volta, mas Ray a manda fugir que ele ficará pra trás para protege-la. Pobre Ray, no final ele era só um vagalume, o Homem das Sombras derruba ele, e pisa nele como o inseto que ele é. Gosto de como para o espectador Ray era um personagem todo especial, mas para a perspectiva do Homem das Sombras que não interagiu com o personagem até então, ele era um mero inseto e foi esmagado como se não fosse nada.
Um minuto de silêncio para Ray, o melhor, mais corajoso e mais romântico vagalume que eu já conheci.
Tiana ainda está fugindo com o amuleto, até que o Homem das Sombras aborda ela diretamente. E ao invés de tentar tomar o amuleto a força, ele tenta manipular Tiana. Afinal a garota poderia quebrar o amuleto e destruir tudo o que o Homem das Sombras valorizava, ela estava no poder. O vilão transforma Tiana em uma humana novamente, e ao redor dela, faz uma ilusão do seu restaurante construído, aberto, funcionando, cheio, lindo. Tiana fica impressionada com a ilusão. Ele nota que tem um musico no restaurante tocando musica ao vivo, e o confunde com Naveen, mas era outra pessoa. Naveen não estava nesse restaurante.
O Homem das Sombras propõe pra Tiana uma troca. A forma humana e o restaurante e o sucesso, tudo isso em troca do amuleto com o sangue de Naveen. Ele é um golpista, um homem de lábia, e lembra Tiana da importância do restaurante. Lembra a garota de tudo o que ela sacrificou. Lembra a garota dos irmãos cuzões que não acreditaram que uma mulher negra podia prosperar. E lembra-a de seu pobre pai. Que manteve três empregos ao mesmo tempo, era um homem cansado e trabalhador, mas jamais realizou o sonho, que Tiana agora pode realizar por ele.
Citar o pai foi a ultima gota. E Tiana entendeu o que Mama Odie e Naveen queriam que ela visse. Ela viu que seu pai era um homem amoroso que viveu feliz cercado de família e de amigos, e que ela foge de qualquer relação com outra pessoa, para viver em função do restaurante. O pai de Tiana nunca perdeu a noção do que realmente importa, nunca foi cegado por sua obsessão e ela decide seguir o exemplo do seu pai, e por isso ela nunca irá trocar Naveen pelo restaurante. Ela arremessa o amuleto no chão para quebra-lo, mas falha. O Homem das Sombras pega o amuleto antes de cair no chão, desfaz a ilusão do restaurante, e transforma Tiana em um sapo de novo.
Que cena foda! Dr. Facilier tem lugar de honra entre os maiores vilões da Disney. O filme nunca explica como que ele só de bater o olho sabe tanto sobre a vida dos personagens, mas ele é o homem do voodoo então não precisamos saber porque. Mas é ótimo ver como ele manipula o sentimento deles. Ele tenta vencer os heróis em suas duas investidas, dando a eles, exatamente o que eles querem. Fazendo eles se renderem, oferecendo em troca a realização de um sonho. A cilada é que tanto Tiana quanto Naveen tinham que perceber que o que eles queriam cegamente, não necessariamente iria fazê-los felizes, e Tiana precisou rever como o pai era feliz e amava a própria família para entender que a vida não se resumia a abrir o restaurante. Fantástico, está entre minhas batalhas herói vs vilão favorita da Disney. Mesmo que seja uma batalha de argumentos e não física.
Enfim, ela voltou a sua inútil forma de sapo, porém na forma de sapo, ela consegue usar sua longa língua para destruir o amuleto, e com isso ela destrói também o Homem das Sombras (que é arrastado pro inferno pelos seus Amigos do Outro Lado, que lhe deram o amuleto em primeiro lugar, uma morte bem horrível para um vilão Disney) o que torna essa a primeira princesa a salvar a vida de seu príncipe. E a segunda heroína a destruir pessoalmente o vilão (a primeira é naturalmente a Mulan que aparentemente é uma exceção para tudo que diz respeito a princesas).
O Homem das Sombras está morto, e Naveen não está em perigo. Mas eles ainda são sapos e são quinze pra meia noite. Ela tem que libertar Naveen e achar Charlotte o quanto antes. Charlotte estava nesse momento desmarcarando Lawrence pelo mordomo careca velho e nanico que ele era, e acidentalmente libertando o verdadeiro Naveen e descobrindo que ele é um sapo.
Naveen conta a história inteira para Charlotte. E fala pra ela que após o beijo, ele se casará com ela e a tornará uma princesa, mas que ela deve bancar o restaurante de Tiana em troca. Pois Tiana é a sua Evangeline (palavras dele). Charlotte aceita os termos, mas quando estava prestes a beijar Naveen, Tiana encontra os dois, e os interrompe. Novamente as duas princesas estão cara a cara. Ambas querendo casar com o mesmo príncipe, ambas querendo se tornar princesas de verdade, só que uma por amor, e outra por ser princesa.
Essa é a segunda vez que Charlotte aceita dar todo o dinheiro do restaurante para aTiana sem hesitar, o que me faz pensar que ela só não pagou pelo restaurante ainda porque Tiana era orgulhosa demais para pedir um favor pra sua melhor amiga. Talvez Tiana, esperta como é, também tenha subestimado uma amizade entre uma sulista branca rica e a garçonete negra da periferia em um país famoso pelos seus conflitos raciais.
Tiana pede pra Naveen não casar com Charlotte, e explica que o sonho do restaurante não vale a pena, se ela tiver que sacrificar Naveen por esse sonho. Os dois decidem ficar juntos e Charlotte se emociona ao ver como o amor dos dois era genuíno. Por isso ela admite a derrota e decide beijar Naveen para os dois voltarem a ser humanos, mas que não faz questão de casar com ele e roubar o amor da melhor amiga. E dá a benção para a Tiana virar uma princesa antes dela.
Mas é tarde demais. Pois eles ficaram todos os quinze minutos debatendo essas questões e agora passou da meia noite, e o beijo da Charlotte não vale nada (obvio que não, ela sacrificou seu sonho de ser uma princesa, lógico que o filme não vai mais considera-la uma).
A ex-aspirante a princesa se desculpa por não poder ajudar o casal, e os dois se conformam. Até porque algo mais importante aparece. Louis encontra os dois amigos com um Ray moribundo em suas mãos. Eles descobrem que o Homem das Sombras pisou nele e que Ray vai morrer.
Ray, às portas da morte, pergunta porque Tiana e Naveen ainda são sapos, e os dois respondem que eles vão continuar sendo sapos, mas que vão ficar juntos. E Ray sorri de saber que os dois vão ficar juntos. Ele diz que Evangeline ficou feliz com a noticia também e morre sorrindo.
Morre.
A Disney matou um aliado dos heróis, de verdade! Sem precedentes antes. Eles não tiveram coragem de matar o Baloo em Jungle Book. Matar o Ray é tipo…. matar o Timon e o Pumba.
Para os que ainda estava tentando processar o fato de um secundário tão carismático e gente boa ter morrido esmagado pelo pé do vilão, e acham que ele vai levantar que nem o Vagabundo se levantou. Ou que será revivido que nem Megara foi revivida. A próxima cena é o funeral de Ray. Morreu mesmo. E que funeral! Todos estão tristes, e melancólicos, mas no meio do funeral o céu começa a brilhar. Todos olham pra cima e vêm que ao lado de Evangeline nasceu outra estrela tão brilhante quanto. E os brilhos das duas estrelas se encostam como se estivessem de mãos dadas. Evangeline era muito mais do que somente o brilho de Vênus. E agora Ray vai poder passar a eternidade do lado de sua amada.
Alias vamos sempre lembrar que a estrela mais brilhante próxima da Evening Star, é a estrela que você segue para chegar na Terra do Nunca. Novamente Disney dialogando com seus filmes antigos.
Agora Tiana pode concluir seu desenvolvimento. Desde que virou um sapo ela aprendeu a dançar, ela aprendeu a acreditar no amor, ela aprendeu a valorizar o amor, e ela aprendeu a confiar nas estrelas. E a não vê-las como meras bolas de gás. Todas essas características típicas de princesas que Tiana não tinha no começo do filme, visto que ela começou como a antítese de uma princesa. Mas agora ela já não é a antítese completa de uma, ela é o meio termo, ela absorveu o que era mais importante nas princesas iguais a Charlotte mantendo sua personalidade forte e seus ideais de mulher moderna.
E agora que ela é a princesa do século XXI em tudo exceto em título, tá na hora de acontecer o quê? De casar com a porra do príncipe. Imediatamente depois de presenciar Ray e Evangeline ficarem juntos e comprovar o significado maior de Evangeline. O filme não é nada sutil com seu timing.
Mesmo sendo dois sapos, Mama Odie faz uma cerimônia de casamento para Naveen e Tiana. Os dois são declarados pela “Fada Madrinha”, Sapo e Esposa, e o noivo pode beijar a noiva. E agora sim, o momento que todos esperavam o filme inteiro. Enquanto eles se beijam os dois viram humanos novamente (e vestidos de maneira bem elegante. Nem fodendo que a Tiana podia pagar pelo vestido que ela estava usando quando voltou a forma humana. Magia conveniente essa). O que aconteceu, é que quando Tiana aceitou se casar com Naveen, ela virou uma princesa, e ao beijarem-se na condição de marido e mulher, Naveen beijou uma princesa, e quebrou o feitiço.
Em resumo, funcionaria com a Charlotte se ela aceitasse se casar com Naveen e não tivesse desistido de seu sonho.
Com o feitiço quebrado, o casal se casa de verdade, pois a cerimônia de uma velha do voodoo no meio do pântano não é reconhecida em cartório, vai até os dois irmãos cuzões e aproveitam o fato de que são amigos de um jacaré para convencê-los a aceitar a oferta inicial de Tiana. Eles trabalham duro para fazer o restaurante abrir e quando abre, é um sucesso. Tiana cresceu enquanto pessoa pelo convívio com Naveen e Ray. Naveen cresceu enquanto pessoa pelo convívio com Tiana e Ray. E o sonho de Tiana foi realizado, eles viverão felizes para sempre.
Na verdade eles viverão felizes por no máximo 9 anos. Pois ai terá a quebra da bolsa de 1929, e o restaurantezinho administrado pela mulher negra da periferia vai falir em dois tempos.
…mas…. e a Charlotte? Ela terminou se fodendo?
Na verdade não. Aparentemente o Naveen tinha um irmão mais novo, então ela ainda tem a chance de ser uma princesa no fim das contas. Só que o irmãozinho tem seis anos e meio, então Charlotte vai ter que esperar um tempo para isso acontecer. Mas ela disse que espera. Então tudo está bem quando acaba bem.
E não venham dizer que tem algo de errado com uma mulher de 19 anos decidindo se noivar a um pirralho de 6 em troca de status social. Ela é a mulher mais poderosa da cidade e pode fazer o que ela quiser.
VOLTANDO A DISNEY ATUAL:
Falando sério. Quando a Disney resolveu que ressuscitar o gênero das princesas com uma princesa negra eles falaram sério. Não só ela é realmente negra, como eles realmente ressuscitaram um gênero morto. E quando eu digo morto, eu me refiro a um gênero com a formula tão transparente, que qualquer estúdio podia replicar essa formula a perfeição que os mais alienados nem notariam que não viram um filme Disney. Sério, quem nunca conheceu alguém que jura que Anastasia é da Disney? O gênero vivia de parodias de si mesmo, o que foi extremamente ridicularizado pelos seus rivais da Warner quando os Animaniacs escancaravam o quão repetitivos os filmes eram, Shrek explorou todos os clichês existentes no gênero e chegou ao ponto em que a própria Disney tirava sarro disso com Enchanted.
A Disney pegou tudo o que foi desmontado, explorado e analisado no gênero e montou tudo de novo, e fez voltar a funcionar. A consequência de ter sido remontada depois de desconstruída, é que Tiana acabou sendo a mais não-convencional princesa da franquia.
Não por ser negra. Isso é o de menos. Ela é batalhadora, realista, pé no chão. Ganha o pão de cada dia com o suor de dois empregos simultâneos. Ela foi criada pela mãe. Ela não acredita na magia das estrelas. Ela é independente, forte e segura. O que é tudo o que as princesas não eram no passado (exceto a Mulan). E é obvio que isso foi feito de propósito uma vez que a personagem da Charlotte existia para ser o exemplo clássico de princesa. Embora seja obvio que Naveen e Tiana iam ficar juntos desde o ínicio, o filme mesmo assim trabalha sempre com a possibilidade de Naveen casar com qualquer uma das duas e qualquer uma delas virar uma princesa de verdade. Tiana teve que vencer o modelo clássico de princesa e se tornar o novo modelo, e isso simbolizava o que ocorreria com o modelo de princesas no futuro.
Ao mesmo tempo, Tiana não podia ser completamente subversiva. Então embora ela começe o filme sendo o ideal da anti-princesa. Ela tem que crescer e evoluir ao longo do filme para poder se tornar uma princesa de alma. A primeira é aprender a deixar o amor entrar em sua vida, e a segunda é acreditar nas estrelas.
Por isso que Evangeline tem um papel fundamental na história. Após Evangeline provar pra Tiana que ela é genuinamente mais do que o brilho de vênus, imediatamente depois Tiana vira uma princesa. Ela absolutamente não poderia virar uma enquanto se recusasse a desejar pras estrelas.
Analisando os filmes que sucederam The Princess and the Frog, temos Tangled e Frozen, introduzindo três novas princesas, Rapunzel, Anna e Elsa.
Eu adoro as três. As três são mulheres fortes e decididas, e as três seguem a linha de questionar a formula da princesa (a Anna mais que as outras duas, porém o fato da Elsa não ter par romântico deve ser ressaltado). Mas ainda sim eu sinto que elas fazem isso de maneira bem mais leve que a Tiana. As três meio que passam a vida inteira esperando a oportunidade de serem livres surgir. Rapunzel e Anna, são bem mais descontraídas que Tiana, menos responsáveis, amigas dos animais por natureza e inclináveis a acreditar na magia.
Talvez a personalidade de Tiana torne ela uma das princesas mais discretas, e talvez os limites que The Princess and the Frog tenha cruzado e o fato de terem ido além da curva, tenham sido os responsáveis para o filme ter feito tão menos sucesso. Ele fez metade da bilheteria de Tangled e nem vamos comparar com a de Frozen. Mas de uma coisa eu não tenho dúvida. Toda personalidade forte, determinação e igual importante aos seus pares românticos ao longo do filme, tudo isso é resultado de um experimento para dar uma nova cara para as princesas, e esse experimento sem duvidas começou em The Princess and the Frog.
Eu acho até hoje um dos melhores e mais inteligentes filmes Disney. Um dos mais divertidos e com as melhores músicas. Uma pena que não tenha funcionado tanto para a audiência, mas fico feliz de vê-lo influenciar os filmes futuros.
Fecho a analise do filme com uma curiosidade. O motivo pelo qual Tangled não ganhou o título de Rapunzel, e Frozen não ganhou o título de The Snow Queen, é porque o departamento de marketing da Disney culpou o título de The Princess and the Frog, evidenciando se tratar de um conto de fadas, parte do motivo pelo qual afundou na bilheteria. E eu meio que concordo, e acho uma pena. Prefiro muito mais os títulos que evidenciam o fato de ser um conto de fadas. Da mesma maneira Brave da Pixar ia se chamar originalmente The Bear and the Bow, não tenho certeza de porque mudaram, mas acho o nome original muito superior. Com isso The Princess and the Frog, foi o ultimo filme de princesa cujo título não é um adjetivo solto. Eu torço para essa moda parar, mesmo que eles não queiram dar um título muito “uhulll princesas”, dêm uns títulos melhores que esses adjetivos de uma palavra só, perdeu a graça.